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quarta-feira, 21 de agosto de 2024

A INDIFERENÇA NA ORIGEM DA ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA

É muito difícil guardares um otimismo fundamental, perante uma realidade que, em tudo, contradiz os teus valores e perante a qual não vês saída. Quando a generalidade das pessoas encolhe os ombros, ou desvia o olhar, ou até se põe a defender posições abjetas, em resultado da lavagem cerebral dos media ao serviço do poder.  

É inútil esbanjar a tua energia, se em teu redor as pessoas têm as «cabeças enterradas na areia», como é - supostamente - o caso das avestruzes, perante o perigo. Creio que os humanos são piores que as «avestruzes míticas»; os humanos são «animais racionais», mas que «teimam em não ver uma realidade, se ela lhes pode trazer dissabores no emprego», parafraseando Upton Sinclair

Enfim, de nada serve apontar as injustiças, perante pessoas que nunca levantaram a cabeça para ver além dos limites de sua vida monótona. Mas, é particularmente difícil conceber que, em grande parte da juventude, não se manifeste um impulso generoso, um desejo de utopia ou de emancipação da sociedade escravizante. Esta juventude foi domesticada, tornada dócil, pela combinação «do bastão e da cenoura». Foi mantida num estado de infantilismo na idade adulta, que se traduz por individualismo exacerbado, situação muito favorável aos patrões e seus capatazes, que podem assim fazer dela o que quiserem. 

Os instintos gregários, junto com o medo indefinido, mas avassalador,  tornam possível que as pessoas se deixem hipnotizar, perante um discurso obsessivo, falso, obviamente falso. Mas isso é óbvio somente para pessoas que não ficaram hipnotizadas. 

O contexto social é tudo. O comum dos mortais não examina as narrativas antes de lhes dar crédito. Tais narrativas são aceites, ou não, consoante sejam propaladas pelos media de grande difusão, ou não. Elas podem ser muito desfavoráveis para a vida das pessoas, mas ninguém (ou quase) se ergue para dizer «isso não é bem assim!». Os poucos que o fazem, são calados pela polícia política dos «fact-checkers», que varre em permanência a Internet à procura de «crimes de pensamento». Cedo ou tarde, são acossados com processos levantados por uma «justiça» ao serviço do poder político.

Alguns países como o Reino Unido,  Alemanha, etc, dotaram-se recentemente dum aparato especial de leis e decretos que criminalizam a dissidência. Os EUA já tinham isso desde 2001, com o «Patriot Act», embora recentemente tenham reforçado a mordaça à expressão do pensamento. 

De pouco serve estudar o passado, se não podemos aprender alguma coisa com ele. Uma coisa eu aprendi:

- No decurso da História, foram as lutas tremendas e os sacrifícios de várias gerações, que permitiram alargar os espaços de liberdade, o reconhecimento dos direitos básicos, o respeito pela opinião das minorias, etc. Mas, passado algum tempo, foi rápida a perda parcial ou total das liberdades e direitos. Bastou a desatenção das pessoas comuns, para que as democracias se convertessem em regimes autoritários e anulassem as referidas liberdades.

quinta-feira, 13 de junho de 2024

Quando a metáfora de " David contra Golias" já não é apropriada

                             Einstein, um defensor convicto do socialismo

Esta metáfora é usada, habitualmente, para designar uma situação de confronto em que existe uma disparidade manifesta nas forças em presença. Teve a sua razão de ser nos séculos passados e ainda se aplica hoje em dia em situações de "guerra assimétrica": Os Houthis contra as esquadras dos EUA e aliados; O Hamas contra o exército de Israel; inúmeras situações de guerrilha, no passado e no presente, quando umas escassas dezenas de guerrilheiros põem histéricos os poderosos exércitos e os governos .

Mas, infelizmente, a proporção das guerras assimétricas acima nomeadas não tem analogia com a sociedade de controle, onde os media gigantescos e o sistema escolar, dos quais ninguém escapa, são capazes de moldar a perceção do Mundo e das consciências de milhões de pessoas. Obviamente, elas não se apercebem, não têm consciência de serem manipuladas. Porém, alguém que desperta para a realidade tentacular destas autênticas prisões da consciência (como em «Matrix») vai quebrar «o encantamento», vai progressivamente aperceber-se que o que tem assimilado, desde criança e ao longo da sua vida, não é mais do que condicionamento massivo, originado pelos detentores do poder, em particular, pelos que o exercem através da media.

Com efeito, as agências de «inteligência» de diversos países, em particular os mais poderosos, vigiam cuidadosamente os media do seu país e de todos os outros. Estes instrumentos do Estado, discretamente, através de pessoas compradas por eles nos vários media, «sugerem» que se publique tal ou tal «informação», que pode muito bem ser desinformação; os chefes de redação e outros responsáveis por esses media, sabem perfeitamente do que se trata, quase nunca declinando satisfazer o pedido dos ditos serviços. Mas, além disso, os media mainstream, em qualquer país, vão examinar ao pormenor o curriculum de um/a candidato/a a jornalista, na sua instituição: Se o/ candidato/a se afasta da corrente dominante, é logo posto/a de lado, não importa qual o grau de qualificações, o talento, ou a experiência que exibe. A composição dos grandes media, que nós podemos comprar num quiosque ou obter por via digital, é sempre, invariavelmente selecionada pela enorme subserviência ao poder do dinheiro, em particular, que lhes paga a subsistência, através de anúncios, de doações, além de serem multimilionários, os proprietários ou acionistas principais desses media. Também, no dia-a-dia, os grandes media possuem laços privilegiados com determinadas personagens políticas, as quais lhes fornecem informações, que eles podem depois propagar como vindas de fontes anónimas. Há uma espécie de simbiose do jornalismo com políticos do poder e com os capitalistas.

Se a proverbial relação David contra Golias se aplica ainda no terreno da guerra assimétrica, creio que não se aplica já no caso da influência exercida sobre as massas de público pelos media corporativos (os Golias), em comparação com jornalistas não vinculados ao sistema (uma «molécula» do corpo de David).
Neste caso, por mais talentosos e corajosos que sejam (pois vão buscar a notícia onde as coisas se passam), dificilmente conseguem sobreviver economicamente, na generalidade dos casos, se eles efetivamente mantiverem a independência. Além do aspeto «alimentar», existe a questão do alcance das armas (os media alternativos para onde escrevem, ou filmam, etc.), da impossibilidade de alcançarem um público da mesma ordem de grandeza que o dos «mamutes dos media».
Por outras palavras: se a desproporção de meios e forças é demasiado grande, não existe já possibilidade efetiva de triunfo, sendo o combate demasiado «assimétrico». Estamos, globalmente, perante uma monstruosa e inédita ditadura, que nos escraviza os corpos e as mentes.

Caitlin Johnstone é uma jornalista australiana «ferozmente independente». Ela demonstra como, para além do controlo que os grandes partidos e seus «sponsors» possam ter sobre os mecanismos da votação, da escolha dos candidatos dentro dos partidos, ou da manipulação pelas doações chorudas que os capitalistas fazem com vista a favorecer determinados candidatos, para além de tudo isso, o fator decisivo é a média corporativa ao mando da oligarquia, que molda, ano após ano, decénio após decénio, a consciência do eleitor e a distorção da realidade que ele recebe como «informação», mas que é somente propaganda política disfarçada. Nestas circunstâncias, diz Johnstone, o eleitor vai votar de acordo com uma consciência alienada, não com a visão bem informada, objetiva da situação. Este fator, por si só, é mais potente que todas as outras corrupções juntas, mencionadas no início deste parágrafo.

Podemos dizer que nada disto é muito novo, apesar dos meios de difusão e receção da informação terem sofrido grandes transformações tecnológicas. Já Einstein, em 1949, alertava para a extrema gravidade do controlo dos media para os processos democráticos (ele tinha os EUA à frente dos olhos...).
No seu ensaio “Why Socialism?”, Einstein escreveu o seguinte para a National Review : 

“The result of these developments is an oligarchy of private capital the enormous power of which cannot be effectively checked even by a democratically organized political society. This is true since the members of legislative bodies are selected by political parties, largely financed or otherwise influenced by private capitalists who, for all practical purposes, separate the electorate from the legislature. The consequence is that the representatives of the people do not in fact sufficiently protect the interests of the underprivileged sections of the population. Moreover, under existing conditions, private capitalists inevitably control, directly or indirectly, the main sources of information (press, radio, education). It is thus extremely difficult, and indeed in most cases quite impossible, for the individual citizen to come to objective conclusions and to make intelligent use of his political rights."

Isto era verdade há 75 anos, quando Einstein o escreveu e permanece verdadeiro, hoje em dia.

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

OS «TRAIDORES» SÃO AQUELES QUE DIZEM A VERDADE AO POVO!


 Na linguagem orwelliana dos fascistas-globais pode-se ouvir todos os insultos e acusações (falsas) retomadas e amplificadas pela media corporativa. Mas, se não perdeste a dignidade de ser humano, seja qual for a tua posição ideológica, queres saber (e tens o direito de saber) o que dizem realmente Edward Snowden e outros «whistleblowers» (dadores de alerta). 
Para os autoritários que detêm o poder, o perigo és tu; é saberes «demais» sobre intrigas do poder; é saberes os crimes que eles procuram ocultar com um manto de silêncio ou de palavras falsas.
A vigilância global e um sistema desenhado para isso, é esse o perigo que Snowden nos alerta.

terça-feira, 5 de setembro de 2023

MENTALIDADE DE GUERRA ESTÁ A EMPURRAR UCRÂNIA E EUROPA PARA O SUICÍDIO [Pascal Lottaz]


 Não é difícil definir o campo da justiça e da lealdade para com todos os povos: A justiça e a consideração por todos os povos, em especial os que sofrem de uma guerra cruenta (e nunca por sua culpa, ao contrário dos chefes respetivos) obrigam a que se exija o cessar-fogo imediato, seguido de verdadeiras conversações de paz, com todos os intervenientes diretos e indiretos desta guerra. Esta foi a minha posição desde o início da invasão russa e mantenho-a. A destruição física e moral desta guerra só tem paralelo com as duas últimas guerras mundiais. Na verdade, trata-se também de uma guerra mundial, pois ocorre no plano da economia mundial (sanções, boicotes) e também na media global, sendo totalmente acertada a frase de que «numa guerra, a primeira baixa é a verdade». 

 Iniciativas para a paz nunca são demasiado cedo ou demasiado tarde. Elas são bem-vindas, pois evitarão o sofrimento pelas vidas que se perdem, ou pelos que ficam estropiados para sempre. 

terça-feira, 18 de julho de 2023

DEMOCRACIA É IMPOSSÍVEL NA AUSÊNCIA DE LIVRE ACESSO À INFORMAÇÃO

 Num artigo recente, Caitlin Johnstone recorda um vídeo de 2010 de Julian Assange, da maior importância para compreendermos os imensos obstáculos que encontramos em exercer coletivamente a cidadania, termos voz nos assuntos públicos. É que se vive na opacidade total, devido à ocultação intencional e à propaganda enganadora dos que governam e seus agentes mediáticos. 

É sobre esta ausência de dados concretos e credíveis, sobre o funcionamento das instituições, de que Julian Assange fala.



Citação:

“Podemos escrever sobre os nossos problemas políticos, podemos - todos nós- fazer campanhas por qualquer coisa na qual acreditemos, podemos adotar as etiquetas políticas que quisermos, mas eu digo-vos que isto realmente está totalmente falido,” disse Assange.

“E a razão disto, de que está tudo falido e de que todas as correntes políticas atuais estão falidas e também as suas linhas próprias de pensamento político, deve-se ao facto não fazermos ideia do que se passa. Apenas quando conhecermos as estruturas básicas das nossas instituições, como elas operam na prática, estas organizações gigantescas, como se comportam internamente, não apenas através de histórias contadas, mas através de numerosos documentos internos - até sabermos isso, como poderemos nós eventualmente efetuar um diagnóstico? Como poderemos decidir em que direção seguir, enquanto não soubermos onde estamos? Nem sequer temos um mapa do sítio onde estamos. Portanto, a nossa primeira tarefa é de construir uma espécie de herança intelectual, que descreva onde estamos. E quando soubermos onde estamos, podemos esperar que vamos conseguir determinar uma nova direção. Mas, até lá, penso que todas as teorias políticas - claro, em grau maior ou menor - estão falidas.”


Veja o documentário «Guerra Contra o Jornalismo»

 

quinta-feira, 8 de junho de 2023

O PROBLEMA DA CENSURA E PERSEGUIÇÃO DAS VOZES DISSIDENTES

 Muitas pessoas estarão de acordo em considerar a liberdade de opinião como pilar essencial das nossas sociedades ocidentais. Neste momento, desenvolve-se uma cruel e seletiva caça à dissidência, que tem como vítimas jornalistas, escritores e outras figuras públicas conhecidas, respeitadas e apreciadas. Perante isto, nota-se uma indiferença da cidadania e um olhar para o lado de pessoas metidas na luta política (leia-se política = meios de alcançar o poder). Não só são passivos perante esses crimes, como perante os  crimes que justamente foram denunciados pelos dadores de alerta (Assange, Snowden, etc, etc). Dessa forma, estão a dar cobertura aos senhores do poder, que irão «tratar-lhes da saúde», assim que tiverem a situação inteiramente sob controlo.

 Parece que muitos dos intelectuais dos países ocidentais ignoram os escritos de Hannah Arendt, e de muitos outros autores importantes, sobre a ascensão dos totalitarismos. Para mim, não é surpresa que os neoliberais os ignorem, quer no sentido de nunca os terem lido, ou de terem esquecido por conveniência (oportunismo) esses escritos fundamentais de reflexão em filosofia política. Mas, choca-me ainda mais que pessoas com elevadas credenciais académicas e culturais se comportem «como se» ignorassem tudo sobre a natureza dos sistemas totalitários, as suas manhas para subverter por dentro as democracias, etc. Será possível que esqueçam os contributos de Hanna Arendt, de Bertolt Brecht ou de Soljenitsin e de muitos outros, que seria demasiado longo citar?

O problema não é ter-se mais ou menos conhecimento: é muito mais central e premente. Tem relação com a dignidade e a coragem do ser humano; dizer-se «não colaboro, a minha consciência não mo permite»; ou «já não posso continuar sem fazer nada, como se nada houvesse, ou como se isso nada tivesse que ver comigo e com a sociedade em que vivo».

Eu compreendo melhor, agora, o desespero de Stefan Zweig, que o levou ao suicídio quando pensou que os nazis iriam vencer a II Guerra Mundial. Ele não queria viver num mundo assim. Também o existencialismo de Albert Camus, que teve a coragem de contribuir ativamente para a Resistência francesa durante a IIª Guerra Mundial.  Não cito aqui muitos outros, que merecem a nossa homenagem e são exemplos de dignidade humana e de elevado valor moral. 

A minha postura pode ser considerada estranha, face ao tempo em que vivemos. Pois eu sou testemunha, mas não participo nesta cultura hedónica, materialista (no sentido de procura dos bens materiais), de adoração do poder, do dinheiro, do «estrelato»... que é hoje o substrato cultural da maioria das pessoas.

 Mas, isto não acontece por acaso. Note-se que - por enquanto - o ensino nos países ocidentais não veicula estas ideologias - pelo menos, de um modo explícito. As religiões correntes nestas paragens (a cristã, mas também as outras), não encorajam, até condenam explicitamente, esta adoração do vitelo de ouro. 

Penso que a influência da comunicação social de massas é avassaladora e impregna, ao nível subconsciente, quase todas as pessoas: isto inclui, obviamente, pessoas inteligentes e de elevado nível cultural. Por isso, os verdadeiros donos deste mundo querem ter o controlo da media, sobretudo das redes sociais, como temos visto nos casos de Elon Musk, Marc Zuckerberg, etc.

A cultura das pessoas em Portugal tornou-se quase uniformemente ocidentalizada, assimilando a cultura anglófona, em particular a dos EUA, sob todos os aspetos; desde a música pop-rock, às modas de linguagem - a utilização do inglês no comércio e publicidade - aos valores ideológicos e aos modelos comportamentais das «stars». 

Por contraste, vai aumentando a ignorância do que seja português, ibérico, e de tudo o resto que não seja anglo-saxónico, mas europeu ou extraeuropeu. Isso faz com que tenham «uma vaga ideia», no melhor dos casos, das produções e personalidades que marcaram as outras culturas. 

 Não sou parcial, não tenho qualquer ódio e raiva aos americanos e ingleses, nem à maioria dos intelectuais, homens e mulheres com elevado padrão moral, além de talento. Eu aprecio a coragem de alguns jornalistas, ensaístas e políticos, dos EUA, como Chris Hedges ou como Paul Craig Roberts (e muitos outros). 

Criticar o imperialismo e a repressão aos «de baixo», não me afasta (ideológica e eticamente) deles; pelo contrário, isso aproxima-nos. O que há de bom na cultura anglo-saxónica, é por mim reconhecido, tanto em relação ao passado, como ao presente. De facto, o combate pela liberdade atravessa fronteiras geográficas ou físicas, mas também de cultura e ideológicas. 

A censura não é um «problema de intelectuais», porque o próprio âmago da liberdade está aqui em causa, a liberdade de todos; sejam de esquerda, ou direita; radicais ou conservadores; crentes ou ateus, etc...

     O autor, dramaturgo esquerdista, é acusado por tribunal de Berlim de «propaganda nazi»!

Se alguns são amordaçados por causa das suas ideias, daquilo que pensam e escrevem, então, qualquer um de nós pode também ser, de um momento para o outro. Estamos todos ameaçados. Estou convicto disso: a realidade tem trazido, ultimamente, imensas provas em apoio desta convicção.

sábado, 11 de março de 2023

NÃO É AQUILO QUE SE DIZ, QUE CONTA

... É aquilo que as palavras ocultam, ou seja , a verdadeira lógica da discursividade reside no que não é aparente. É o que se faz, no mundo REAL e que é recoberto por discursos. A utilização das palavras para induzir os ouvintes na ilusão do que eles mais desejam está a ser-lhes proporcionado, deve ser tão antiga como a mais antiga civilização. O engano deste tipo é deveras «humano», não é possível, nem concebível, ser efetuado por outras espécies animais. É realmente curioso que se  atribua tanta importância à palavras, no nosso século. É curioso que se tenha desenvolvido uma «polícia» das palavras (e das ideias) que supostamente teria como função «proteger-nos» de agressões verbais. Mas em nome de quê ou de quem? É verdade que podemos ficar ofendidos com determinadas palavras ou expressões. E daí? Costumo dizer que aquele que insulta é como o que atira um escarro para o ar: pode cair-lhe em cima da cara! A ofensa só é ofensa porque o ofendido se deixou afetar pelo insulto. Mas, a real razão de ser de todos esses batalhões de virtude verbal (e virtual), será a preocupação de que os nossos olhos ou ouvidos não sejam «ofendidos» !?

- Não, é antes o pretexto idiota para a instalação de uma censura que vai castigar os dissidentes... sob pretexto de discurso racista, ou indecente, ou homófobo, ou sei lá o quê! 

Há um certo tempo atrás, um indivíduo que se sentisse ofendido, insultado, recorreria a um tribunal e, se a queixa fosse considerada procedente, o ofendido podia reclamar uma indemnização pelos «danos morais e materiais» sofridos.  O autor do crime não só tinha de pagar ao ofendido, como também tinha de pagar as custas do processo. Mas este método de dissuadir o insulto, não servia os fins dos detentores dos poderes. Tiveram então a «genial» ideia de instaurar a censura na Internet, agora com extensão a toda a média e aos próprios livros, sob pretexto de ofensas às criancinhas inocentes, ou de fazer propaganda dos malvados terroristas, etc. 

Mas à indústria da pornografia usando as crianças, quase toda veiculada pela Internet, a esta não lhe acontece nada. Neste mundo falsamente virtuoso, as leis e regulamentos aplicam-se ou não, segundo a conveniência dos poderosos. É fatal que, com o poder de que disfrutam governos e seus agentes judiciais, eles pudessem (se quisessem) perseguir a indústria de pornografia que usa as crianças ou menores. Mas, isso seria atentar contra uma rentável indústria, na qual não poucos manda-chuva dos negócios e da política, têm interesse material. Para além do interesse material, que possam ter, também lhes convém como instrumento suplementar de desviar a atenção do público das obscenas e pornográficas traficâncias em que consiste a parte menos «oficial» do seu desempenho.

Quanto aos «malvados terroristas» é quase o mesmo: Quando as pessoas começaram a ficar fartas da propaganda «antiterrorista», sobretudo quando começaram a ver por detrás da cortina, que os tais grupos terroristas eram uma construção e um instrumento de política dos poderes, desapareceram os tais «terroristas». Muito depressa, passou a haver a tal epidemia terrível, sendo então instaurada uma censura férrea, que não acabou, sobre tudo o que cheirasse a abordagem não totalmente ortodoxa, sobre a origem, a propagação, o tratamento e a «vacina», do tal vírus. 

Depois disso, como sabemos, o vírus deixou de fazer as primeiras páginas dos jornais e telejornais, porque entretanto conseguiram fazer uma «guerra a sério» lá para as fronteiras da Rússia, envolvendo todos os membros da OTAN no esforço de guerra, em defesa dum regime considerado somente o mais corrupto de toda a Europa e talvez do Mundo. 

Isso envolveu centenas de milhares de mortes, tanto ucranianos, como russos, mas os poderes  não estão preocupados com isso. O que os preocupa é que, apesar de todo o controlo que exercem sobre este país dilacerado, haja capacidade de um certo número de entidades civis e militares começarem a negociar a paz com os russos. Isto é uma obscenidade sem nome; um país ser obrigado a sofrer uma derrota (que à partida estava garantida, pela desproporção das forças em presença) e de, ainda por cima, lutar sem proveito próprio para abrir caminho para os negócios com a terra (agronegócio) e com todo o remanescente industrial, após a destruição da guerra. 

Quando acabar a guerra e a Ucrânia for mais um Estado falido, como a Líbia e outros, vão fingir que a reconstroem, exatamente como fizeram durante 20 anos no Afeganistão, sem dúvida com a mesma eficácia!

Mas isso é «propaganda a favor de Putin», logo não pode ser dito e comentado nos grandes media, que mais parecem os jornais de propaganda nos regimes totalitários que conhecemos no século XX.

Agora o novo totalitarismo é mais «subtil», embora não menos eficaz, no sentido de calar a oposição e criminalizá-la, mas sempre invocando virtudes que o público ingénuo toma « como palavra de Evangelho». Assim, às pessoas vão lhes sendo retiradas, de forma «deslizante», todas as liberdades e garantias, sob os mais diversos pretextos, sempre a bem da sua segurança e  da «democracia»!

domingo, 5 de março de 2023

A SITUAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

Serão precisos muitos mortos e feridos numa guerra, para a cidadania europeia acordar e exigir Paz aos seus dirigentes? Creio que sim, creio que - infelizmente - as pessoas ficaram dessensibilizadas da guerra por múltiplas técnicas de supressão dos sentimentos (pelo medo e pelo horror), suprimiram a solidariedade humana, que uma guerra deveria suscitar.




Da parte dos poderes, da OTAN e dos seus chefes, dos parlamentares, dos primeiros ministros europeus, dos seus governos, em relação à Ucrânia, assistimos a mais de oito anos de manipulação dos sentimentos, de mentira institucionalizada e o militarismo descarado, que vai até à recusa de negociar. Assistimos a tudo isso - nós - da cidadania europeia. Mas, a cidadania manteve-se numa letargia inquietante da qual está, apenas agora, a despertar.
Não sei sobre o assunto, senão consultando fontes diversas, não apenas da media «mainstream», como também opiniões críticas, de pessoas que têm um conhecimento aprofundado e - nalguns casos - direto do que se está a passar nesta guerra do «Ocidente» contra a Rússia, em solo ucraniano e usando o povo ucraniano como «carne para canhão».
A eficácia da neutralização dos sentimentos pelo aparelho ideológico - da media e governos fusionados- experimentou-se durante a crise do SARS-Cov-2. Esta pseudo- pandemia continua a fazer vítimas. As das injeções de «vacina», que apenas serviram para aumentar os lucros da Pfizer e doutros gigantes da indústria farmacêutica. Mas, também são vítimas, as corajosas pessoas que se ergueram contra a monstruosidade e perderam o emprego, não receberam indemnização nenhuma, nem será feita justiça, pelo andar das coisas.
Juntaram as duas coisas: A psicose coletiva do COVID e a crença na propaganda de guerra do Ocidente sobre as sua própria população. Estes mecanismos implicaram a supressão ou inversão dos sentimentos das pessoas «normais» que receberam constantes mensagens de propaganda, como avisos assustadores, falsas informações, descrevendo o inimigo como inumano, tranquilizando a má consciência que grande parte poderia ter, através de respostas ilusórias, tais como:
«O vírus é muito mau e muito mortífero, mas nós sabemos resolver o assunto, que se resume a que te submetas e te vacines, não prestando atenção a avisos vindos de pessoas maldosas, pois a única cura é uma vacinação maciça de todos, incluindo idosos, grávidas e crianças...»
ou
«O Putin é o novo Hitler, a Rússia é o reino do Mal, mas nós vamos apoiar sem desfalecer, de todos os modos, a valente e democrática Ucrânia. Não há dúvida que os maus dos russos vão sofrer uma derrota, face às sanções impostas pelo Ocidente e ao seu apoio em armamento, peritos, mercenários, biliões e mais biliões de dólares».
Note-se que, até pouco tempo antes da invasão russa, o perigo de milícias ucranianas de extrema-direita, integradas nas forças armadas desse país, foi assinalado pela própria media mainstream. Depois, esses elementos de extrema direita desapareceram do «écran mediático» e passaram a ser «heróis». Estas mentiras cosidas com um fio bem visível não apoquentam as pessoas, mesmo depois delas perceberem que, afinal, foram enganadas. Isto só é possível com a ilusão continuada de que as «democracias» ocidentais têm eleições ditas «livres».
Os partidos autorizados pertencem ao espectro de «admissibilidade» dos donos do sistema. De qualquer maneira, só têm hipótese de vencer, quando forem partidos bem financiados, o que implica grandes donativos de grandes multimilionários e das suas empresas. Na comunicação social, a janela de Overton ainda é mais estreita, com seus «fazedores de opinião» nos diversos canais televisivos. Partidos ou candidatos que saem fora do «script» de antemão decidido, são logo calados ou difamados. Ficarão com sua imagem associada àquilo que o eleitor típico mais detesta. Os partidos ou candidatos atacados não têm meios para desfazer as calúnias e repor a verdade. E as coisas estão feitas exatamente para funcionar deste modo.
Qualquer pessoa que use o seu cérebro, que não vá atrás de qualquer propaganda e que conheça algo da história do século vinte, não através das «histórias míticas» mas através de bons autores, que analisam em profundidade os regimes totalitários do passado, irá reconhecer que ou estamos já num totalitarismo, ou para lá caminhamos.
Os que apontam o dedo a regimes «comunistas», dizendo que esses é que são os «verdadeiros» totalitários, são pessoas imbuídas da ideologia neoliberal, ou seus propagadores. Com efeito, é um facto que vários regimes, ditos «comunistas», são capitalismos de Estado com pouca preocupação pela liberdade dos cidadãos.
Mas no «Ocidente» estamos em capitalismo de grandes monopólios (multinacionais), que capturaram o Estado; são outra modalidade de capitalismo de Estado. Os cidadãos não são ouvidos ou respeitados: São antes enganados, manipulados, nutridos de falsidades, de propaganda, como «manada de gado» para fazer exatamente o que a oligarquia quer. Não há qualquer respeito pelos indivíduos, pelos seus direitos cívicos e humanos.
Em que é que uns e outros diferem? No modo como agem e se posicionam, mas ambos os sistemas estão basicamente a fazer a mesma coisa, ou seja,  manterem-se no poder, alargando o controlo a todas as esferas; suprimindo a verdadeira concorrência, tanto no plano económico (com as "rendas de monopólio", presentes em ambos os sistemas), como no plano político, anulando os direitos individuais, coletivos e sociais (suprimem-nos na prática, embora os mantenham nas suas constituições).
Só com imenso trabalho de educação (auto- educação) e de abertura crítica, podemos sair da redoma mental (a Matrix verdadeira) que nos encerra a todos, com o resultado de ficarmos impotentes: Não sabendo «ler» a realidade, não são somente os bons sentimentos que nos permitem combater esta situação. É também necessária uma inteligência de como funcionam os sistemas, para se conseguir mudar algo.
Isso não é dado pela educação formal. Nem vale a pena explicar porquê: Se houvesse uma aprendizagem de pensamento crítico, a cidadania despertaria e nunca permitiria que a acorrentassem, como o têm feito as «elites» políticas e económicas deste mundo.


terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

ECOLOGIA: MITOS E REALIDADES

 Tenho estado a acompanhar os desenvolvimentos tecnológicos da chamada «revolução verde» embora não tenha muitas vezes escrito sobre o assunto, mas hoje farei um esforço:

Devo dizer que sou profundamente ecologista, no sentido de preservar a biodiversidade, de permitir a integração dos povos e culturas num modo de vida não destruidor e aceito que a civilização tecnológica que temos não é resposta, pois ela está na base de inúmeras agressões, tanto a seres humanos (que muitos «ignoram», porque ocorrem no «Terceiro Mundo»), como ao ambiente.

As derivas do capitalismo «verde» são baseadas nas ilusões de que se pode obter energia «limpa», em quantidade suficiente para as pessoas (pelo menos no Mundo dito desenvolvido, afluente) continuarem a viver num nível de conforto semelhante ao de hoje. Estas ilusões propaladas, são mentiras intencionais: Quem as propala, incluindo indivíduos com prestigiosas carreiras e títulos académicos elevados, estão conscientes de que estão a relatar as questões de modo enviesado, isto é, a fazer propaganda. São pessoas que mascaram a preocupação com seu próprio emprego, com uma preocupação fictícia com o ambiente.

A questão da emissão humana do CO2 para a atmosfera já foi tratada neste blog em vários artigos. Eu irei apenas aqui sublinhar que tudo está errado, nos que advogam como causa fundamental do aquecimento ou efeito de estufa, o factor antropogénico. 

Pois esse tal efeito existiu desde os primeiros tempos da Terra, há biliões de anos, sendo que os períodos onde o CO2 atmosférico era mais elevado, também são os da maior produção de biomassa total. Por isso, esse excedente de biomassa das florestas do Carbonífero, passados muitos milhões de anos, fornece-nos grande parte do carvão e petróleo que é explorado, hoje em dia.  

Segundo, as medições do CO2, a partir de métodos e de aparelhos com uma sensibilidade e fiabilidade mínimas, só ocorreram a partir da segunda metade do século XIX (cerca de 1880). Os que defendem um aumento do CO2 paralelo ao aumento do efeito de estufa, fazem-no a partir duma janela de observação e registos demasiado estreita para abarcar os fenómenos à escala geológica (centenas de milhares de anos ou mesmo milhões de anos). Pelo contrário, existem métodos, hoje bem desenvolvidos, que são muito fiáveis dentro de determinada janela temporal, desde que os registos sejam corretamente efetuados e acompanhados por rigorosa calibração: 

- Na janela temporal de séculos, temos a espessura dos anéis de crescimento das árvores. Pode dar-nos a ideia de estresses que, num momento, essas árvores tiveram; se houve um período de arrefecimento, a acumulação de nova biomassa pelas plantas será menor e isso reflete-se na menor espessura dos anéis de crescimento. 

- Na escala dos milhares de anos, temos vários métodos usando isótopos radioactivos, 14C, ou não radioactivos, como o 13C e outros elementos, que se têm mostrado muito úteis. 

- Temos os estudos dos paleontólogos, com fósseis  das faunas e floras dos períodos anteriores ao Holocénico (o período geológico mais recente, que nos inclui enquanto espécie), que nos revelam quais as condições gerais e particulares dos ambientes em que viveram estes seres vivos (cobrindo cerca de 500 milhões de anos), permitindo inferir os intervalos de temperaturas a que esses animais e plantas estavam adaptados. 

- A astronomia reconhece os ciclos de Milankovitch, que estão relacionados com as Glaciações, onde cada ciclo dura em média cerca de 40 mil anos. 

Todas estas metodologias, utilizadas pelos cientistas climáticos, permitem extrair dados concretos. Estes têm sempre de ser trabalhados, calibrados, mas são imprescindíveis. Estas investigações sérias e multidisciplinares, dos climatologistas e de outros cientistas associados, apontam para fatores múltiplos, de ponderação difícil - não para uma «linearidade» - para dar conta de fenómenos de aquecimento ou de arrefecimento globais. Não tem qualquer cientificidade afirmar-se que aumentos de dióxido de carbono na atmosfera, são «o fator mais importante» do «aquecimento global». Mas, os «cientistas da treta» costumam ocultar o que não lhes convém, ou chegam a dar uma interpretação falsa de qualquer fenómeno que venha contradizer a sua teoria. 

O mais vulgar é passarem sob silêncio aquilo que eles não podem explicar; como, por exemplo, o registo por organismos científicos australianos do aumento dos recifes de corais, que deveriam exatamente ter o comportamento oposto, caso as teses desses ideólogos falsamente científicos fossem comprovadas. 

Apenas quis dar, acima,  uma pequena amostra. A media mainstream tem sido responsável de muito alarido, pois ela «vende notícias» e as notícias alarmistas são as que despertam mais curiosidade no leitor (quantos mais leitores, mais publicidade paga o jornal ou o site terá e poderá cobrar mais por ela).

A terrível estupidez que significa estarmos na orla de grandes catástrofes humanas, ou causadas pelos humanos, é adensada pela estupidez suplementar das pessoas responsáveis, com visibilidade mediática, estarem a embarcar numa campanha sem sentido, pelo abandono das outras formas de energia, que não sejam as chamadas energias «renováveis», quando se sabe que a capacidade total de armazenamento de energia nas baterias de lítio que são produzidas, é muito limitada; e sabendo que estas baterias precisam de energia fóssil para serem construídas e recarregadas. Pelo menos, no presente e no futuro próximo, as soluções propostas não estarão à altura das necessidades.

Além do mais, os chamados recursos «renováveis», não o são, segundo a ótica global do custo total energético e no aspeto da salvaguarda do ambiente (que é fundamental). Com efeito, esta salvaguarda implicaria serem inteiramente recicláveis os seus componentes: Na verdade, tanto os painéis solares fotovoltaicos estragados, como as paletes de eólicas em desuso, são deixados a apodrecer em «cemitérios» . Os componentes não são reciclados, porque as operações de reciclagem não são rentáveis. Mas, não há problema; estes lixos causam danos ambientais nada desprezíveis, mas estão longe da vista das pessoas!

Tristemente, as pessoas responsáveis pelas consequências catastróficas de tais decisões «verdes» não serão chamadas à responsabilidade, em tribunal. Tal é o mecanismo da alienação e corrupção nas sociedades ditas «evoluídas», que são apenas evoluídas na hipocrisia. Basta pensar que Julian Assange*... Ele é mantido sob prisão arbitrária, sem ter feito qualquer crime, mas porque reportou o que o Império tem feito, com as suas tropas e seus torturadores, nos países que ocupou; no  Afeganistão e no Iraque, principalmente.

Outro exemplo: a crise global de segurança e o risco de alargamento da guerra não alarmam a chefe da diplomacia alemã, Annalena Baerbock, dirigente do partido ecologista: Mas, a crise ecológica é decuplicada em qualquer cenário de guerra, mesmo nas guerras «confinadas». A guerra é a situação mais desfavorável, em termos ambientais: Provoca a rutura nas vidas humanas, a desarticulação da sociedade, o agravamento dos problemas ambientais, que podem ir até à destruição completa e irreversível de habitats naturais. Isto, para não falarmos da guerra generalizada, que se tornaria nuclear e potencialmente causando a extinção de todas as formas de vida (e da nossa espécie, obviamente). Pois esta ministra alemã é o mais pró-guerra que se possa conceber!

Conclusão: Eu poderia continuar, traçando um panorama mais completo. Há imensas situações onde aparecem flagrantes contradições entre o discurso do poder e sua prática real, em defesa do ambiente. Mas isso está para além das minhas capacidades. De qualquer maneira, vários autores têm feito essas críticas. Mas, como existe a barreira da censura/autocensura nos grandes media, tem sido torpedeado de todas as maneiras levar este debate ao grande público. 

É assim que os «grandes» ganham; eliminam à partida - da praça pública, que hoje em dia são os grandes media -  todos aqueles que tenham capacidade e vontade de pôr em causa as suas políticas. Na verdade, estamos num novo tipo de totalitarismo, em que as pessoas «comuns» pensam que estamos em «democracia», mas em que apenas resta a imagem mais superficial, a mera aparência, não a substância. Para que esta situação mude, é necessário que o povo deixe de confiar automaticamente em tudo o que lhe dizem, deixe de se comportar de forma passiva em relação à informação. Existem exceções, às quais os leitores deste blog provavelmente pertencem, mas insuficientes para obrigar à transformação qualitativa do modo como circula a informação e sobre o acesso ao debate por parte daqueles cujos pontos de vista são não conformes aos do poder.

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*Veja AQUI sobre luta para desmascarar a «justiça»  do R-U. , Suécia e EUA, no que toca a extradição de Assange para os EUA.



quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

UMA DAS PIORES ARMAS DE DESTRUIÇÃO MASSIVA [PROPAGANDA 21, nº17]


 A foto no canto superior esquerdo mostra soldados feridos e amputados na 1ª Guerra Mundial; do lado direito, vê-se uma fila de soldados da mesma guerra, que ficaram invisuais em resultado da exposição a gazes.

Esta ilustração do blog de John Helmer, está inserida numa reflexão irónica e de humor negro sobre a «bomba castrante». Eu reconheço muito bem os efeitos dessa bomba. Vejo cada vez mais pessoas no meu país, e além dele, que têm a capacidade de andar normalmente, veem sem problemas, ouvem, falam... mas ficaram incapazes de pensar, de ter ideias críticas em relação à propaganda constante e venenosa dos media e dos governos: 

- O agente ativo desta bomba destruidora do pensamento crítico, não é, creio, um agente químico, como o «novichok », pois este faria um dano irreversível a vários aparelhos e órgãos corporais das vítimas. Ou, pelo menos, caso o agente seja químico, então será como um anestésico, que temporariamente adormece a capacidade racional dos indivíduos.   

http://johnhelmer.net/


PS1: Para teres uma ideia das guerras de propaganda em torno de redes sociais, Tik-Tok, Facebook, Google, etc., consulta o artigo de Glenn Greenwald, aqui:

https://greenwald.substack.com/p/reflecting-new-us-control-of-tiktoks?utm_source=substack&utm_medium=email

PS2: Os aparelhos de propaganda servem-se que quaisquer ideologias para chegarem aos seus fins (a dominação global).

https://caitlinjohnstone.com/2022/12/28/propaganda-isnt-something-that-only-happens-to-others-notes-from-the-edge-of-the-narrative-matrix/

sábado, 29 de outubro de 2022

[Glenn Greenwald] O CONSÓRCIO QUE IMPÕE A CENSURA É FORMADO PELO ESTADO E CORPORAÇÕES



[Citação da Newsletter de Glenn Greenwald: 

Glenn Greenwald greenwald@substack.com]

 Tem havido alguma notícia - por  mim e por outros — sobre a nova e francamente fraudulenta indústria de «desinformação». Esta auto- proclamada peritagem, baseada em pouco mais do que uma ideologia política simplista,  reivindica o direito de ser oficialmente quem decreta o que é «verdadeiro» e «falso», para, entre outras coisas, justificar a censura feita pelo Estado e as corporações, exercida pelos «peritos»  que são quem decreta aquilo que é «desinformação». Estes grupos são financiados por um consórcio de um pequeno grupo de bilionários neoliberais (George Soros e Pierre Omidyar) junto com as agências de serviços secretos dos EUA, Reino Unido e U.E. Tais grupos, financiados pelos bilionários e governos, estão quase sempre disfarçados sob nomes com conotações inócuas, tais como: 

The Institute for Strategic DialogueThe Atlantic Council's Digital Forensics Research LabBellingcatthe Organized Crime and Corruption Reporting Project

Estes, estão desenhados para darem uma aparência de serem grupos de estudiosos apolíticos. No entanto, sua finalidade real é a de fornecer o enquadramento justificativo de campanhas para estigmatizar, reprimir e censurar quaisquer pensamentos, opiniões e ideias, em dissidência com a ortodoxia neoliberal dos poderes. Eles existem, por outras palavras, para dar a impressão de que a censura  e outras formas de repressão, têm fundamento científico, em vez de ideológico.

Leia a continuação (em inglês) no link seguinte:

https://greenwald.substack.com/p/the-consortium-imposing-the-growing?utm_source=substack&utm_medium=email


PS1: Greenwald refere o trabalho de Udo Ulfkotte, falecido jornalista alemão. Escreveu um livro, confessando como ele e outros se tornaram «prostitutas» da CIA.


segunda-feira, 3 de outubro de 2022

POR QUE RAZÃO A MEDIA NÃO REPORTA AS DECLARAÇÕES DE PUTIN E XI JIN PIN?

 «In his Moscow address, he said: “They do not wish us freedom, but they want to see us as a colony. They want not equal cooperation, but robbery. They want to see us not as a free society, but as a crowd of soulless slaves.”»

https://consortiumnews.com/2022/10/03/patrick-lawrence-the-strong-and-the-merely-powerful/

Temos de compreender, não estamos numa «guerra leal», em que o «inimigo» é visto simplesmente como alguma nação ou conjunto de nações, que se opõe ao nosso campo. O que caracteriza esta guerra, esta IIIª Guerra Mundial, é que se trata duma guerra total e híbrida. Híbrida, porque usa meios como sanções económicas, a guerra psicológica com as táticas de ocultação, distorção e fabricação de notícias, a propaganda, o matraquear ideológico, etc. Estes meios são usados em permanência, além dos propriamente militares. É uma guerra total porque os hegemónicos EUA não admitem outra solução senão um domínio, sem partilha, do sistema internacional, feito de acordo com as suas conveniências e não numa qualquer «ordem mundial», mas na mais completa desordem. Eles pretendem assim assegurar a predação e a rapina das riquezas dos povos e seus recursos naturais. Este super-imperialismo ( M. Hudson) pode ser disfarçado de muitas maneiras perante os seus próprios cidadãos; tentam o mesmo em países submetidos à sua órbita. Trata-se de pôr em jogo o que chamam de «soft power». Este é o poder de influenciar, condicionar, atrair as pessoas doutras nações e civilizações, a se submeterem perante o fascínio da máquina produtora de ilusões, da cinematografia de Hollywood, da música rock, de milhões e milhões de horas de séries televisivas apresentando o «american way of life» (totalmente falso) como sendo o modelo que quaisquer pessoas sensatas deveriam adotar. Evidentemente, a propaganda antissocialista e anticomunista, também emanou dos mesmos centros, durante mais de 70 anos, apresentando a imagem mais negativa destes regimes e das forças que defendiam soluções anticapitalistas. Os cidadãos são sujeitos a esta lavagem ao cérebro durante gerações.
A guerra psicológica esteve sempre presente, durante mais de um século, sobretudo desde que surgiu a URSS e houve um apelo para os setores revolucionários da classe operária se libertarem do jugo do capitalismo e instaurar o socialismo. Tais forças, em muitas sociedades não tinham força suficiente para porem em risco as «democracias», mas amedrontaram as burguesias. Por isso, elas criaram, financiaram e apoiaram os partidos fascistas. Estes, acabaram por tomar o poder, primeiro em Itália (onde tinha havido o «biénio vermelho»), em Portugal (onde o regime democrático não reprimia com «suficiente vigor» o operariado revolucionário), na Espanha (onde Franco e outros generais se sublevaram contra a república), para se alastrar na Alemanha, Áustria, Hungria, Roménia. Houve tentativas de golpes fascistas em França e noutras democracias «liberais».
A guerra psicológica, hoje em dia, é aplicada «cientificamente» e parte significativa da «intelectualidade» ou das profissões «intelectuais», está disposta a «fazer a sua parte», neste condicionamento de massas. Não é por acaso, que os meios de comunicação social e da Internet, nas mãos de grandes empresas capitalistas, têm tanto poder, ao ponto de nulificarem qualquer real possibilidade de expressão livre e independente dos poderes. Logo que algo desagrade aos poderes, isso é retirado, através de mecanismos de censura que os regimes fascistas do passado nunca  conseguiram implementar com tanta eficácia. Os meios disponíveis permitem anular todo o «perigo» de meus escritos terem uma difusão significativa. Assim, contrariamente à censura do tempo da Inquisição ou dos regimes ditatoriais do século XX, o processo de orientação da informação nas massas, opera sobretudo pelo mecanismo da saturação de «memes». Se algo é dito e redito com intensidade suficiente e dando a ideia de «diversidade», a massa irá acreditar piamente, um número bastante menor - mas consistente - irá fingir que acredita, só para não ser incomodado, uma pequena minoria irá tentar desmascarar esta construção da «verdade», através de contrainformação, mas sem sucesso, pelo menos, junto da grande maioria. Viu-se e vê-se ainda, com a campanha de condicionamento a propósito do coronavírus, propulsionado ao nível de «pandemia» e que serviu para testar (como se os humanos fossem cobaias) o arsenal de guerra «informativa», ou seja de condicionamento de massas, pelos governos e pelos interesses capitalistas mais poderosos.

A guerra mundial que está em curso, iniciada com o ataque bárbaro e criminoso das forças da OTAN contra a Jugoslávia em 1999 (há 23 anos!), vai durar enquanto não houver mudança da estrutura de poder mundial. Até lá, os países mais poderosos vão fazer a guerra (híbrida), que terá como causa e razão de ser a repartição das áreas de influência. Essa guerra híbrida será também, tanto quanto puderem, uma guerra através de terceiros (by proxi) e isto porque eles sabem que a sua estabilidade doméstica fica posta em causa - no longo prazo - se o seu povo for obrigado a suportar uma guerra. Por isso as forças da NATO estão a impor uma guerra à Rússia através da Ucrânia. Lembremos que as guerras de atrição são (quase sempre) ganhas pelos que têm menos a perder (os Vietnamitas, os Afegãos, etc), enquanto os que têm mais meios técnicos e económicos para fazer a guerra, também têm uma população «amolecida» que não aceita sacrificar o seu conforto e por isso deixa de apoiar o seu governo. Foi o que aconteceu, nomeadamente, com a Guerra do Vietname e com a contestação generalizada que causou no povo e juventude americanos.


A media atual, no Ocidente, é literalmente uma arma poderosa que, não apenas anestesia a opinião pública de seus próprios países, também a intoxica e a fanatiza com relatos mentirosos e cruéis. Desumaniza os «do outro lado», permitindo assim que as oligarquias continuem com a barbárie da guerra. Por isso, é claro que o que dizem do outro lado tem de ser completamente falseado, distorcido, porque nada pode contradizer a imagem de maldade absoluta que é pintada permanentemente dos povos e dos dirigentes das potências opostas. Só quando os povos deixarem de «acreditar» na propaganda de guerra disfarçada de informação, os poderes se sentirão obrigados a moderar seus ímpetos. Porque no passado, não muito longínquo, o rei ou o chefe militar, tinha de ir com as tropas enfrentar o inimigo no campo de batalha; se não o fizesse, o seu exército iria fraquejar e seria derrotado. O elemento psicológico funcionava, mas a lealdade ao chefe implicava que este se mostrasse intrépido, corajoso, pronto a morrer pelo seu povo, mesmo que isto não fosse exatamente assim. Hoje, o elemento psicológico tem a ver com a distorção intencional e repetida do campo adversário, como se «aquilo que parece, acabasse por existir, na realidade». Até certo ponto, esta falácia tem funcionado, porque permite manter as pessoas na ilusão. Devido a este engano, elas acabam por tomar como verdadeiro aquilo que - provavelmente - nunca aceitariam, se tivessem um retrato realista, não partidário, das situações. Porém, no longo prazo, a população acaba por ser massacrada pela sua própria «elite», no altar fantasmagórico da «pátria»... A descida ao mundo real, quanto mais tardia for, mais dura será

domingo, 14 de agosto de 2022

CONSCIÊNCIA

 Grande parte daquilo que tomamos por informação, no nosso mundo contemporâneo, não o é. Pode ser propaganda, pode ser uma afirmação narcísica de escritores, ensaístas ou filósofos, que estejam mais virados para se apresentarem nos fogos da ribalta, do que para debater seriamente as questões. 

Verifica-se um paradoxo relativo à informação, na época em que estamos: quanto mais fácil o acesso, quanto menos esforço é necessário para adquirir e propagar informação, mais as pessoas são inundadas de lixo, o que lhes dá rapidamente uma sensação de «over-flow» e se refugiam num certo número de táticas de sobrevivência. Acabam por só serem alimentadas mentalmente com nutrientes que elas aprioristicamente consideram adequados ao seu metabolismo psíquico, com exclusão doutras correntes e autores, que se afastem do que elas consideram  ser a verdade. É um efeito paradoxal, sem dúvida, creio que Marshall Mc Luhan não o equacionou, porque ele viveu em época anterior à revolução da Internet. Mas, no entanto, enfatizou a importância do veículo, do medium, do suporte da informação. Ora, hoje em dia, a «inenarrável» leveza do ser, parafraseando Milán Kundera, leva-nos a pensar que temos todo o conhecimento na ponta do nosso smartphone. 

Na verdade, a capacidade cognitiva não é uma função linear, nem nunca o foi. Os estudantes da universidade onde estudou Lutero, em Wittenberg, nos princípios do século XVI, tinham à sua disposição na biblioteca da Universidade apenas vinte volumes amarrados às mesas de leitura para não serem roubados! Uns eram manuscritos, outros eram impressos (já se estava na «era Gutenberg»!) pois os livros, nessa altura, eram caros e raros. Mas, seriam eles uns ignaros, os estudantes desse tempo? Não, o ensino era essencialmente oral e quer nas aulas magistrais, quer nos diálogos com discípulos, os mestres não se limitavam a transmitir, mas também orientavam os estudantes. Eles tinham de aprender a raciocinar e a discorrer, de forma adequada. Estou convencido de que um aluno de universidades do início do século XVI, estava muito acima de doutores da treta que se pavoneiam nas nossas televisões ou noutras montras virtuais.

A incapacidade das pessoas em compreender a realidade, primeiro espantou-me; agora, assusta-me. Por exemplo, num assunto gravíssimo como a guerra e a paz, a maior parte das pessoas arrota sentenças sem verdadeiro conhecimento da História, seu discurso é feito de chavões, não sabe positivamente nada sobre povos, nações e civilizações «longínquos». Porém, já não existe «longínquo» em distância; esta foi anulada de várias maneiras. A distância existiu nos séculos passados, mas as pessoas tinham natural curiosidade pelo «outro». Hoje, a distância já não é física, mas simbólica, mental. 

A sociedade contemporânea está inundada por autómatos e zombies mentais, incapazes de equacionar de forma satisfatória um problema um pouco complexo, com várias variáveis, com várias incógnitas. São totalmente incapazes de se colocarem na pele do outro, de conceber como será o universo mental desse outro, aquele que vive noutra cultura, noutro contexto, diferente do deles. 

Não há pior ignorante do que aquele que não quer aprender e julga que já «sabe muito», ou que pode aprender em três tempos «tudo» sobre um assunto com uma consulta à Wikipédia, ou algo semelhante. É realmente triste, a situação de incultura galopante, de analfabetismo funcional, em que a sociedade mergulhou.

Por isso, defendo que sejamos como monges e freiras (mas em termos laicos, claro), que na Idade das Trevas mantiveram comunidades autónomas, autossuficientes e capazes de preservar a cultura. Na realidade, o que eles fizeram ao recopiar os escritos da antiguidade, incluindo de filósofos que nada tinham de cristão, foi fundamental para o Renascimento. Sem este trabalho paciente de copistas, o saber acumulado na antiguidade teria sido perdido definitivamente. 


Existe um tempo imediato, o instante, que «fagocita» o tempo longo, o tempo geracional, secular. Isto é devido à pressão enorme sobre os indivíduos em serem produtivos, mas não no sentido de produzirem verdadeiro valor. De facto são condicionados a tomarem como valor, o contrário de valor,
 «dinheiro», um não-valor, um mero símbolo fantasmagórico da mercadoria. Este culto pagão (alguns dirão satânico) ao dinheiro, faz com que as pessoas tenham ancorado no seu subconsciente que o dinheiro é algo «concreto», que é lícito fazer tudo - seja o que for - por algo «tão concreto como o dinheiro». Tal inversão de valores, no cerne do pensamento dos indivíduos, é o triunfo das forças dominantes e mesmo hegemónicas na sociedadeElas conseguiram colocar os indivíduos em posição de servidão voluntária e já não somente em relação ao «monarca» (o poder político), como no tempo de Étienne de La Boétie.

Resta-me esperar que o triunfo dessas forças, seja uma vitória de Pirro, pois quem está completamente dominado pela religião do dinheiro não compreende o mundo da moral, da ética, dos valores verdadeiros, da elevação da alma. Para os voluntariamente escravos, existe toda uma literatura que os enaltece, que se reveste dos ouropéis da modernidade e sobretudo, da pós-modernidade, em que não existe mais nada senão [ prazer- poder- dinheiro] , num ciclo fechado. Elas estão intoxicadas pelo seu ego, funcionando por impulsos, num niilismo que se traduz em comportamentos hedónicos. A droga egolátrica é a droga mais potente que se possa conceber, pois mantém os adictos na ilusão de realidade, na ilusão de potência, de plenitude. 

Este estado de coisas convém aos senhores que dominam a população escravizada. Mas mulheres e homens livres têm muito maior potencial e capacidade de construir no longo prazo. Porque, se estiverem associados com base nas necessidades reais da vida e de como as satisfazer, aqui e agora, com trabalho e com dignidade, com esforço e com recompensa merecida, então estão muito mais capazes de manter e propagar sua cultura (e também os seus genes), do que os zombies  teleguiados pela manipulação da «realidade virtual» na qual habitam.