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sexta-feira, 10 de maio de 2024

DISSIDÊNCIA

 Quero fazer uma distinção entre várias posturas, pelo menos em termos práticos: O que é a dissidência? O que é o indiferentismo? O que é o militantismo/ativismo? 

Refletindo em numerosas ocasiões sobre estes temas, chego à conclusão de que não se pode fazer uma abordagem quantitativa, mas apenas qualitativa. Ou seja, não serve de nada tentar medir o «grau de dissidência», etc. 

A razão disto, é fácil de compreender se virmos que a atitude interior é que é o fator decisivo em relação à dissidência verdadeira: Trata-se de ter uma visão da realidade que nos cerca, uma «leitura» totalmente diferente da que nos pretende impor o poder dominante. Sabemos que o faz de maneira disfarçada: Mais do que por meios de coerção, sobretudo por meios de sedução.

Ora, estar em dissidência não significa - de modo nenhum - estar «alheado» da realidade. Quem está efetivamente alheado permanece passivo, aceitando a imagem do mundo que a educação, os media, o entorno social, querem que a pessoa adote: o indiferente não constrói outra visão da realidade. Ele deixa-se arrastar pela corrente, sem convicção mas, também, sem vontade própria.

O ativismo ou militantismo, são modos diferentes de comportamento exterior em relação ao «normal». Não se trata de «anormal», em termos psicossociológicos: Mas trata-se de exibir um dado comportamento, com frequência ou mesmo constante. O de alguém que é empurrado, por forças externas e internas, a exibir um certo comportamento. Trata-se de se mostrar, de colocar-se num palco imaginário, fantasiando que sua intervenção vai mudar o mundo, a sociedade, etc.

Se o indiferente não tem desejo, nem faz nada para elevar seu grau de consciência, o ativista (ou militante) faz ocultação - deliberada ou inconsciente - do seu vazio, da ausência de reflexão interior, o que o exclui, desde logo, da categoria da dissidência. Obedecer a algum chefe, mostrar fidelidade a um grupo, a uma ideologia, afirmar esta submissão de mentalmente escravizado, são as reais motivações de certos ativismos. 

Por contraste, o dissidente pode renunciar, num determinado contexto preciso, a fazer algo sem - por isso - se ter transformado em indiferente: pode muito bem estar a aguardar o melhor momento, a juntar forças para que a ação seja realmente eficaz, etc. 

O dissidente pode participar em ações de rua, em comícios, em greves, ou seja lá no que for: Não é o que ele faz, mas a motivação interior com que o faz que o distingue. Se o fizer, é porque está profundamente convicto de que isso corresponde ao que interiormente assume. 

Não lhe interessa a ação pela ação, mas sim que, ao agir, o faça por motivos que assume como legítimos, necessários, eticamente imperativos. Além disso, agir não significa fazer uma coisa qualquer, de qualquer maneira: numa guerra global, como é também a guerra de classes, não esqueçamos que existe uma assimetria muito grande entre as forças materiais em presença. O que não significa que os mais fracos, os oprimidos, desbaratem suas escassas forças, antes pelo contrário! Então, o dissidente sabe reconhecer e distinguir, com toda a clareza, a ação fútil, da ação útil e mesmo, esta ação útil, da ação absolutamente necessária.

Sem querer simplificar demasiado as coisas, vemos que existem três categorias diferentes de atitudes interiores com a sua correspondência em comportamentos exteriores. Mas, não devemos esquecer-nos que qualquer pessoa pode ter passado de um tipo para outro (e vice-versa). A natureza não é estática e muito menos a natureza complexa e contraditória dos humanos. 

O que nos faz únicos, o que nos faz imprevisíveis ou indeterminados, é a capacidade potencial de fazer, no sentido mais profundo do termo. Fazer algo com peso, com sentido, com estratégia: essa deveria ser a preocupação das pessoas realmente desejosas de transformação social. 


sábado, 22 de julho de 2023

Richard Vobes: «Estamos a ser envenenados; mas não queremos saber!»


 Se o humor é a expressão dos desesperados, a ironia é a dos desesperados inteligentes. Tudo o que ele diz, quer nós já saibamos ou não, deveria nos pôr os cabelos em pé; mas não queremos saber! Os humanos são coletivamente responsáveis. Porém, a responsabilidade de cada um - a minha, a tua... - não se dilui por sermos oitocentos mil milhões à superfície do Globo, antes pelo contrário. 

De todas modalidades de poluição enumeradas há uma pior que as outras, a poluição mental.

 Ela diz assim: «Ai sim? Então que se lixe...» 

sexta-feira, 23 de abril de 2021

AMEAÇA DE GUERRA NUCLEAR É O ASSUNTO MAIS URGENTE NO MUNDO

        Por Caitlin Johnstone 

              

              Míssil «Titã», foto de https://www.rt.com/op-ed/521740-threat-nuclear-war-urgent/

Não existe assunto mais urgente no mundo que o da iminente possibilidade de que toda a gente possa morrer numa guerra nuclear. É loucura não estarmos a falar sobre isso todo o tempo.

O Comando Estratégico dos EUA, o ramo das forças armadas dos EUA responsável pelo arsenal nuclear, tweetou o seguinte na Terça-feira passada:

“O espectro de conflitualidade hoje, não é linear, nem previsível. Devemos ter em conta a possibilidade de um conflito conduzindo a situações, nas quais um adversário colocasse a opção de utilização de armas nucleares como a sua opção menos má.”

Esta declaração, que o STRATCOM designou como fazendo parte dum «rascunho» da Declaração de Posição ( Posture Statement) que submete todos os anos ao Congresso dos EUA, estava um bocado intensa para aparecer no Twitter.

Ela desencadeou uma série de respostas assustadas. Este susto era devido, não a qualquer inexactidão da  afirmação da STRATCOM, que era franca, mas à estranha situação de que o risco nuclear crescente  no nosso planeta quase não aparece à superfície, no discurso «mainstream».

Ler a continuação deste artigo de Caitlin Johnstone no seu site AQUI