Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

COLAPSO PROGRAMADO

A maior parte das pessoas concebe o governo do seu país e suas instituições públicas como dedicando-se ao bem público, a fazerem os possíveis para manter a economia em funcionamento, protegendo os cidadãos - tanto quanto possível - das tempestades vindas do exterior. Esta visão ingénua é que permite aos governos fazer suas manobras contra os interesses da generalidade das pessoas, em favor de uma pequena minoria. Esta pequena minoria não está sentada à roda de uma mesa, a congeminar criminosas conjuras, para extrair o máximo de vantagens dos seus respetivos países, causando a desgraça dos seus cidadãos. Não, esta pequena minoria de multimilionários tem as mãos «limpas» na aparência, pode até dar-se ao luxo de se apresentar com a cara da filantropia. Na realidade, ela tem os seus mais fieis servidores na classe política, mais precisamente, naqueles indivíduos desta casta, que não têm nenhum limite para satisfazer a sua ambição de «subir» aos postos de poder. São sociopatas, que apenas disfarçam com habilidosas mentiras, o papel que desempenham. Esta simulação é indispensável para justamente poderem levar a cabo esse papel de que estão incumbidos.




Aquilo que os mais poderosos bancos centrais têm estado a fazer, coordenadamente, também é conducente a um colapso. A impressão (eletrónica) non-stop de divisas, para suprir as situações criadas pelos governos, é um exemplo nítido. Estão a fazer em simultâneo, aquilo que seria contraditório, em teoria, com a impressão monetária (fator inflacionário): A subida das taxas de juro, pelos bancos centrais (efeito deflacionário) vai provocar a contração brutal da economia real. Esta, já tinha sido muito afetada pelos «lockdown» e pelas outras restrições aquando da «pandemia do século» e, logo de seguida, pela guerra Russo-Ucraniana. Como sabemos, esta foi instigada e alimentada com um fluxo constante de armamentos para a Ucrânia. Na realidade, para irem parar em 90%, ao mercado negro, sendo o seu destino final mais provável, os grupos terroristas internacionais. Mas a «generosidade» do Ocidente não se limita ao envio de armamento. Tem enviado biliões e biliões de dólares e de euros que - numa grande parte - vão parar às contas no estrangeiro de Zelensky e dos neonazis do seu governo e de  plutocratas como Kolomoyskyi. Este «apoio» à Ucrânia, é como despejar o dinheiro dos nossos países ocidentais «na sargeta», e eles - os «nossos» governantes - sabem-no melhor que ninguém.
Como classificar, senão como assassinato premeditado, o que o governo alemão e outros governos ocidentais têm feito, em relação à energia dos seus próprios países? Eis o facto ocultado aos cidadãos (a verdade é a primeira baixa de uma guerra): Não foi Putin que decidiu cortar o fornecimento de gás aos seus clientes ocidentais. Foram os próprios a inviabilizar a continuidade do envio de gás pelos gasodutos, recusando fazer a manutenção e reparação dos aparelhos de bombeamento, como estava contratualmente fixado. Além disso, é absurdo pensar que os russos desejassem interromper o fornecimento de combustíveis à Europa ocidental, dado que continuaram a fornecer gás, até há bem pouco tempo: Se fosse essa a intenção do governo russo, teria logo cortado o gás, em Fevereiro ou Março deste ano, como retorsão às sanções selvagens feitas pelos países da NATO contra a Rússia. Só uma propaganda desenfreada da media pode ter afirmado o oposto. Com efeito, não foi a Europa Ocidental que decretou um embargo a toda a importação de energia da Rússia??
E, quanto a fertilizantes químicos, a situação é trágica e grotesca: Grande parte dos fertilizantes químicos usados no Ocidente, é importada da Rússia. Quanto ao fertilizante fabricado localmente, é feito a partir do gás natural russo. O corte drástico (pelas sanções da UE) da importação de fertilizante, conduz à baixa drástica da fertilidade dos solos. Vai cair-se numa situação análoga à do Sri Lanka*, em países ditos «mais desenvolvidos». Estes mesmos, acabaram por ficar com mais de 90% dos cereais, provenientes da Ucrânia e destinados, em princípio, a evitar situações de carência alimentar em África e noutras partes do Terceiro Mundo. Lembremos que, para desobstruir a exportação de cereais ucranianos, houve uma negociação, em que o Secretário-Geral da ONU, Guterres, desempenhou um papel de relevo.
Os multimilionários têm os seus homens e mulheres de mão, quer nos governos, quer em órgãos de «governança» internacional (Comissão Europeia, ONU, FMI, etc). Eles tiveram a surpresa de um cenário imprevisto, de resiliência da economia russa. Hoje, é claro que as sanções brutais contra ela, tiveram o efeito oposto.
Outros aspetos importantes da estratégia ocidental também foram um fiasco: a ausência do pretendido isolamento internacional da Rússia, a não caída da China na armadilha da ida de N. Pelosi a Taiwan, o acelerar da construção dos BRICS, da Organização de Segurança de Xangai, o fortalecimento dos laços russo-chinês, etc. Por fim, não se pode exagerar a importância da construção da nova moeda de reserva mundial, fazendo com que o mundo não esteja mais sujeito à hegemonia do dólar.
Perante este panorama, o Império tinha de reagir. Houve uma clara subida de tom e conteúdo agressivo nos discursos de Joe Biden, ameaçando a Rússia e a China. 
Também se conhece a conversa telefónica entre Scholz e Putin, em que o primeiro aconselhou o presidente russo a procurar a paz, devolvendo todos os territórios conquistados, não apenas os territórios do Donbass, as repúblicas autoproclamadas, como até mesmo a Crimeia, integrada na Federação Russa desde 2014 por referendo. «Aconselhar» isto a alguém que não tem nenhuma intenção de ceder neste ponto e que está - de facto - em condição de defender eficazmente esses territórios de população russófona, pode ser interpretado como «fútil», ou como provocação. Poderá mesmo ter acelerado a decisão de efetuar referendos (para integração na Federação Russa) nas referidas regiões.
A situação tem piorado tanto, que estamos agora numa prática ausência de diálogo entre grandes potências. Esta situação é inédita, pois no tempo da URSS, houve sempre muita prudência, de parte a parte, para não quebrar o contacto, mesmo em situações de agravamento das tensões (por ex. : crise dos mísseis em Cuba).
Parece inegável que a maioria dos que votaram nos presidentes e governos dos países da NATO não deseja a guerra. Aliás, é provável que o mesmo se passe com muitos cidadãos russos. Então, porque motivo tudo conduz à continuação da guerra? Porque razão há clara ameaça dela se intensificar, se alargar e se tornar nuclear?
- Não acredito que o «Estado Profundo» nos EUA, os grupos de neocons incrustados nos vários departamentos do governo e em agências como a CIA, sejam poderosos ao ponto de ditar a orientação da Administração Biden. Quanto muito, eles poderão exacerbar algo que é instilado da «retaguarda» pelos interesses corporativos (por ex.: indústrias de defesa e outras).
Provavelmente «think tanks» como a RAND (e outros) têm influenciado a Casa Branca a adotar uma estratégia para enfraquecer a UE. Do ponto de vista da hegemonia americana, a Europa representa uma «concorrente amiga»; caso continuasse a receber o gás e o petróleo russos baratos, poderia ultrapassar economicamente os EUA. Ela também é vista como concorrente devido ao seu elevado nível tecnológico.
Ora, segundo a doutrina seguida nos últimos 30 anos (ver PNAC, Wolfovitz e Brzezinski ), os EUA não devem permitir que um poder fique ao nível de concorrer diretamente com o poderio americano, não só em termos militares, como de economia. Faz todo o sentido que a NATO, dominada pelos americanos, tenha forçado a rutura com os russos. Em finais de 2021 a diplomacia russa tentava negociar um arranjo que satisfizesse todas as partes. Este esforço diplomático foi completamente sabotado pelos EUA e por outros países da NATO.
Assim, os europeus foram fazer mais uma guerra «por procuração» em benefício do Império americano, sendo os ucranianos a carne para canhão (no sentido literal). As populações da Europa ocidental foram sujeitas a uma campanha terrorista de condicionamento psicológico, o que permitiu às «elites» desencadear as medidas agressivas contra a Rússia e seus aliados, assim como o apoio sem restrições ao regime ultra-direitista de Zelensky. Isto permite-lhe, a esta «elite» governamental, impor uma austeridade inédita aos seus povos, não motivada pela necessidade, mas porque as sanções contra a Rússia, segundo eles, «irão, no longo prazo, ter efeito»!


A lógica profunda disto tudo, é que se está a acelerar a imposição da Nova Ordem Mundial, mas não a dos sonhos ingénuos da «globalização feliz». Será - como eu previ, desde Fevereiro passado - uma nova Guerra Fria: Os dois blocos irão repartir o Mundo (e a Europa será partida a meio) entre o eixo Euroasiático, aos quais se associarão certos países do Terceiro Mundo, enquanto o Eixo Atlântico (também envolvendo potências como Japão, Coreia do Sul, Austrália, Nova Zelândia), terá uma NATO alargada para lá da Europa e América do Norte.

PS1: Confirma-se plenamente o que eu escrevi no início de Agosto: «Os supostos erros destes últimos anos, acima referidos, não são erros, são estratégias para conduzir as populações a aceitarem passivamente a imposição da Nova Ordem Mundial. Este é um projeto de fundo das classes dominantes dos países «Ocidentais». »

PS2: Os empresários europeus estão já a pensar transferir as indústrias sediadas na UE para os EUA, devido à subida exponencial dos custos energéticos. Assim, a desindustrialização da Europa acentua-se e os EUA são de novo industrializados... Leia:


PS3: Desenganem-se os que pensam que o dólar está «forte» porque sobe relativamente a outras divisas (libra, euro, yen) ocidentais. Não será isso uma «vitória pírrica»? A descapitalização súbita nestes aliados dos EUA, vai provocar um agravamento da crise económica.  Neste mundo interconectado, a fragilidade num ponto, transmite-se instantaneamente aos outros. O próprio dólar, no médio/longo prazo,  tem-se desvalorizado muito em relação ao ouro: desvalorizou-se de 92%  desde que em 1971 Nixon retirou o dólar da relação fixa ao ouro, resultante dos acordos em BrettonWoods. 

PS4: Na Alemanha, os preços da lenha subiram, numa base anual, de 87%, enquanto o aumento geral dos preços foi de 7,9%:

PS5: Piepenburg defende que a FED irá destruir a economia mundial com a sua insistência nos aumentos da taxa de juros. Leia o porquê, neste artigo : https://goldswitzerland.com/the-feds-strong-usd-policy-a-recipe-for-systemic-implosion/

 
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* O Sri Lanka passou de país autossuficiente em géneros alimentares, a um estado de grave deficiência, porque o seu governo (corrupto) decidiu a conselho de «peritos» ocidentais passar sem transição para uma agricultura «biológica» (sem fertilizantes químicos). Resultado: Queda brutal da produtividade e fome, que resultou em revolta.

9 comentários:

Manuel Baptista disse...

Os países africanos há muito que se querem livrar dos poderes que os consideram como neocolónias. Leia: https://thesaker.is/the-real-us-agenda-in-africa-is-hegemony/

Manuel Baptista disse...

Este curto vídeo explicita muitas das loucuras que têm feito os dirigentes dos países da U. Europeia e suas consequências para suas economias e povos:
https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=jM-lUBLR-SQ

Manuel Baptista disse...

As sanções contra Rússia são totalmente absurdas, inclusive do ponto de vista ambiental; os barcos que transportam LNG em longas distâncias para a Europa gastam combustível poluente nas viagens. Além disso, a Europa ocidental está a comprar LNG à China, a qual revende aos europeus o LNG que comprou à Rússia!
https://www.zerohedge.com/markets/sanctions-russia-lead-more-ship-emissions-says-cargill

Manuel Baptista disse...

Os protestos contra o reforço das forças armadas russas não foram a onda de indignação popular que a media ocidental quer nos fazer crer: https://rumble.com/v1l3uj3-russia-reaches-bakhmut-centre-prepares-major-winter-offensive-defends-liman.html

Manuel Baptista disse...

Crítica da acrítica aceitação da «Nova Ordem Mundial Multipolar», por oposição à «Ordem unipolar»:

https://off-guardian.org/2022/09/22/multipolar-world-order-part-1/

Manuel Baptista disse...

Craig Roberts aponta o dedo à FED: https://www.paulcraigroberts.org/2022/09/21/why-is-the-federal-reserve-collapsing-the-economy/

Manuel Baptista disse...

William Banzai mostra-nos a face escondida do show:
https://www.zerohedge.com/news/2022-09-26/ursula-she-wolf-wef

Manuel Baptista disse...

A sabotagem dos gasodutos sob o Báltico foi obra dos americanos e/ou de alguém que tenha feito o trabalho por encomenda deles. Leia:
https://www.moonofalabama.org/2022/09/the-war-on-germany-just-entered-its-hot-phase.html#more

Manuel Baptista disse...

Para quem tenha dúvidas de que estejamos a caminhar aceleradamente para uma nova Idade das Trevas:
https://www.zerohedge.com/geopolitical/great-reset-perfect-storm