Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.
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terça-feira, 7 de janeiro de 2020

O QUE ESTÁ POR DETRÁS DO ASSASSINATO DO GENERAL SOLEIMANI

                             

Para além da decisão táctica de Trump e do Pentágono de eliminar Soleimani, o que está em jogo é o controlo da região mais rica em petróleo e decisiva para o abastecimento internacional. 

Até agora, os americanos contentaram-se em obter acordos de «protecção» dos reinos petrolíferos a troco da exclusividade da venda do petróleo em dólares. Lembre-se que as transacções em US$ são rastreadas pelos bancos dos EUA, e podem ser eficazmente embargadas por ordem de Washington. 
Lembremos também o papel decisivo dos petro-dólares na compensação do défice crónico e monstruoso do orçamento dos EUA. O défice é colmatado graças à compra de obrigações do tesouro dos EUA por parte das petro-monarquias. Além disso, com os dólares obtidos, a Arábia Saudita e outros, compram armamento sofisticado e sua manutenção à indústria bélica americana (o maior exportador de armamento mundial).

Se decidiram assassinar Soleimani, não foi certamente pelas razões invocadas. Mas antes, porque estão desesperados por não conseguir mais fazer funcionar o sistema do petro-dólar, pois demasiados actores estão a rebelar-se ou a - discretamente - virar a casaca, para garantirem protecção dos poderosos aliados Rússia e China. Esta é a realidade estratégica global a que os EUA estão confrontados. 

A resposta a esta situação foi - com certeza - cozinhada pelas forças que controlam Washington e que têm Trump na mão (chame-se complexo militar industrial, Estado profundo, militaristas do Pentágono...): Para eles, a solução longamente planeada era o confronto directo com o Irão, única forma que encaravam para contrariar a deserção de uma série de aliados na região e portanto, a perda de hegemonia e o fim do sistema do petro-dólar. Eis a lógica intrínseca deles: Como não conseguem mais obter, como dantes, a submissão dos seus aliados-vassalos no Médio-Oriente, têm de fomentar uma guerra. Assim, poderão obter o alinhamento forçado destes contra o Irão. 
Eventualmente, conseguirão - em caso de vitória - o controlo directo dos poços de petróleo iraquianos, o que revela sua ambição totalitária de domínio mundial. Esta ambição de guerra já existia há muito tempo, manifestou-se múltiplas vezes, mas muitas pessoas não conseguiam compreender a natureza verdadeira do jogo. 
Agora, com a pretensão de Trump de se apropriar (roubar) o petróleo, não só da Síria, como do Iraque, está-se perante uma afirmação clara e descarada de apropriar o petróleo do Médio-Oriente, como despojo de guerra. 

Claro que, tanto os inimigos como os amigos dos EUA, vêm isto tudo e estão a posicionar-se em conformidade.

domingo, 5 de janeiro de 2020

No imediato, SAÍDA DO IRAQUE. Depois, DERROTA TOTAL

A «hubris» é o termo grego que designa a embriaguez do poder absoluto, a sua arrogância e incapacidade para se dar conta da realidade. Tudo isso, e a ausência total de moral, desencadeiam a fúria dos deuses, que lançam decretos fatais para castigar a personagem e todos aqueles que a seguem.

                              General Qassem Soleimani 440f3

É portanto o momento da viragem, este 2 de Janeiro, em que Trump decide assassinar o general Qasem Soleimani, o militar de mais alta patente do Irão, em visita ao Iraque. Este ataque brutal, que matou outros destacados membros da comitiva assim como das milícias xiitas iraquianas, tem o cunho de uma hubris, de uma loucura sem qualquer justificação ética, ou até, meramente de oportunidade. 
Agora, o destino dos EUA na região está traçado. As condições de sua permanência vão ser tão gravosas em termos militares e diplomáticos, que terá de «aviar as malas» e abandonar esses países, que tem ocupado e martirizado ao longo das duas primeiras décadas do século XXI.
O papel de criador, fornecedor secreto e protector do ISIS por parte dos EUA e de seus serviços secretos, está agora mais patente do que nunca, sabendo-se que Soleimani foi o mais destacado inimigo dessa organização terrorista, tendo as forças iranianas por ele comandadas desempenhado um papel fundamental na derrota do «Estado Islâmico» no Iraque e depois na Síria. 
Fica também tristemente patente a relação de Trump à expressão mais brutal e descarada de «nazi-sionismo», do primeiro-ministro Natanyahu: «o que o primeiro-ministro de Israel deseja, o presidente dos EUA faz».
A guerra de genocídio no Iémene pelos Sauditas e Emiratos, apoiada pelos EUA e pelos seus lacaios, França e Reino Unido, vai tomar uma viragem muito significativa.
O Médio Oriente todo vai entrar numa fase de intensificação dos conflitos, aos quais os regimes clientes dos imperialistas não poderão responder, pois serão os próprios povos a entrar em guerra insurreccional contra os seus governos. 
Muito deste fervor é causado por sentimentos religiosos ou nacionalistas. Mas, na base  estão sentimentos de injustiça, de indignação, perfeitamente compreensíveis por quaisquer humanos. 
Embora o sofrimento de povos inteiros, sujeitos a odiosas campanhas de supressão e mesmo de genocídio, tenha até agora deixado indiferentes as massas ocidentais (Europa e América do Norte), perfeitamente anestesiadas no seu conforto egoísta, este sofrimento não pode deixar de se repercutir na perda total de imagem do Império, visto como aquilo que é, uma besta sanguinária, que nem sequer sabe cuidar dos seus próprios interesses. 
Com efeito, os EUA são a nação excepcional, no sentido de que não têm a mínima preocupação com leis, tratados, acordos internacionais, dos quais são - eles próprios - signatários. 
Julgam-se invencíveis, usando a ameaça da força e a força bruta militar, sempre que acham conveniente e sem dar conta das consequências dos seus actos. 
Destaca-se também como país excepcional, pela indiferença em relação aos seus pobres, aos fracos, até mesmo, no modo como trata os veteranos das suas guerras. 
São um país sem uma diplomacia digna desse nome, por isso mesmo, tido como não credível pelos outros. 
Conforma-se em tudo com a definição de «Estado pária» (rogue State), termo que seus dirigentes inventaram para descrever regimes (como o Iraque de Saddam Husein, a Coreia do Norte,  o Irão, ou outros), que eles derrubaram, ou tentaram derrubar. 
O facto mais importante nesta situação é que o Estado-pária EUA não pode apontar uma arma à cabeça dos regimes Iraniano, Sírio, ou Iraquiano ... Porque agora estes têm meios para resistir e têm o apoio, na retaguarda, da Rússia e da China. 
Estas duas grandes potências vão ganhando terreno em todos os planos: 
- financeiro: o dólar como moeda de reserva está sendo destronado, como se pode ver pela generalizada corrida ao ouro
- diplomático: China e Rússia estão  de boas relações com muitos países, incluindo os da órbita dos EUA e ganham maior simpatia internacional e firmam acordos importantes económica e estrategicamente , cada dia que passa, pela sua política de não ingerência nos assuntos internos dos outros países;
-militar: têm desenvolvido armas com um enorme alcance e não detectáveis pelos dispositivos dos EUA, o que torna os sistemas de armamento dos EUA obsoletos;
- económico: têm crescido em termos de PIB, de exportações e de auto-suficiência e isto tudo, apesar das sanções ilegais e unilaterais a que os EUA os têm sujeitado;
- geo-político: os EUA estão numa postura defensiva (especialmente, depois do assassínio do General Soleimani) enquanto o eixo Russo-Chinês, tem vindo a agregar potências da Ásia Central, na Organização de Cooperação de Xangai.

Como tenho dito noutros artigos neste blog, a besta ferida pode ainda causar muitas mortes, muita devastação, mas já não pode vencer. 
Quando uma grande potência chega ao ponto de cometer actos completamente estúpidos, com efeitos inteiramente negativos para o seu jogo, é sinal de que o fim está próximo.
  

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

ESTÃO EM CRISE DUAS MOEDAS COM PARIDADE CAMBIAL COM O DÓLAR

                                
Chamo a atenção para o artigo de Tom Luongo, que analisa em pormenor a crise de legitimidade no governo de Hong Kong e a desestabilização desta «praça-forte» da finança internacional na Ásia e que possui desde há longos anos uma moeda local, o dólar de Hong Kong (HKD) em paridade cambial com o dólar US , por um lado...  
...Por outro lado, lembra-nos Luongo, existe outra moeda em paridade cambial com o dólar, o Riyal da Arábia Saudita (SAR). Ora,  o desastre que tem sido ultimamente a guerra do reino da Arábia Saudita com os Houthi do Iémene, poderá precipitar uma mudança estratégica  na região.

                                  
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Analisemos historicamente o papel que desempenharam ambas as paridades cambiais com o dólar US, o qual tem sido a moeda de reserva internacional, desde o fim da II Guerra Mundial. 


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No lado chinês, durante os anos de isolamento do regime comunista da China em relação ao «ocidente», a praça financeira de Hong Kong, colónia britânica até 1997, desempenhou um papel insubstituível para a China continental, de porta de entrada e saída de mercadorias e de fluxos de capitais. A partir da grande viragem protagonizada pela política de Deng Xiao Ping, este papel foi reforçado. Nos últimos vinte anos, de crescimento exponencial, a China utilizou Hong Kong de modo intensivo para atrair os fluxos de capitais para investimento no território da RPC. Do ponto de vista dos capitalistas interessados em investir na RPC, era muito mais tranquilizador estar baseado em Hong Kong, que tinha e tem um conjunto de garantias relativas aos capitais estrangeiros, devido aos acordos de devolução válidos até 2047, do que a alternativa de Xangai, onde se aplica em pleno a legislação da RPC. 
Para atrair os investimentos via Hong Kong, a paridade do dólar de Hong Kong (HKD) com o dólar US, é estratégica. Com efeito, o governo da China tem vindo a desvalorizar sua moeda nacional, o Yuan, como forma de manter a competitividade dos produtos «made in China». Ultimamente, ainda se fala mais da desvalorização da divisa chinesa, uma guerra cambial no seguimento da guerra comercial, inaugurada por Trump. 
Tornando-se instável a situação de Hong Kong, havendo tendência para fuga de capitais, ou diminuição acentuada da entrada de capitais frescos para fazer negócios com a China, é provável que o dólar de Hong Kong não consiga manter paridade cambial com o dólar US. A certa altura, o dispêndio de dólares US - nas reservas do banco central de Hong Kong - para sustentar o dólar de Hong Kong, pode ser excessivo e haver o desligar da paridade cambial.
Há fortes indícios duma «mãozinha ocidental» na desestabilização política de Hong Kong: mesmo que não tenha sido iniciada mas apenas aproveitada pelos EUA, esta é uma arma que eles estão a usar, para forçar a China a ceder em certos aspectos fundamentais desta guerra, dita «comercial». 
O que nos é vendido como «guerra comercial», é - na realidade - o redesenhar das esferas de influência mundiais, ou seja, como é que as duas super-potências (China e EUA) vão partilhar o mercado global e que tipo de relacionamento se vai estabelecer entre elas.

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A paridade do dólar US com o Riyal (SAR), está intimamente relacionada ao acordo dos EUA com os sauditas, negociado em 1973, na origem do chamado petro-dólar. 
Recordemos que Kissinger conseguiu obter que os barris de petróleo só pudessem ser cotados e vendidos em dólares US, em troca de uma protecção total do Reino, então o maior produtor de petróleo da OPEP. 
Toda a política dos EUA no Médio Oriente tem estado orientada para manter esta exclusividade da venda do petróleo em dólares, mais importante ainda do que o acesso directo dos EUA ao crude. 
Com efeito, enquanto houver necessidade de dólares US para comprar crude no mercado internacional, a moeda nacional dos EUA poderá continuar a ser a principal moeda de reserva mundial. 
A paridade cambial do riyal (SAR) com o dólar US facilita o afluxo de capitais, não apenas para investimento no reino saudita, como também para todos os sultanatos em redor. Vai permitir que os investidores internacionais estejam mais seguros, quanto ao retorno sobre seus investimentos. 
A garantia cambial é muito importante para os negócios. Com efeito, sem tal garantia cambial, o investimento num país com moeda instável e com tendência para desvalorização periódica, pode anular qualquer rentabilidade dos capitais investidos. Esta é uma das razões principais por que o volume do investimento estrangeiro fica abaixo do seu potencial, em muitos países ditos «em desenvolvimento».   

No momento em que ocorre uma mudança tectónica nas relações económicas, financeiras e geopolíticas ao nível mundial, não é coincidência que duas moedas com paridade cambial com o dólar US, estejam sob «ataque». Note-se que num caso (Hong Kong), a desestabilização joga a favor do «reino do dólar US», enquanto no outro caso (Arábia Saudita), é precisamente o contrário.
- Desestabilização em Hong Kong, cria uma situação de escassez de investimento estrangeiro na China, no momento em que esta necessita de ainda mais capital do exterior, para consolidar a sua economia, no momento em que está a realizar a grande viragem duma economia de exportação, para uma economia mais vocacionada para satisfazer o consumo interno. 
- Desestabilização na Arábia Saudita, fragiliza o principal aliado dos EUA no Médio Oriente, ao ponto de se equacionar o afastamento do príncipe herdeiro e responsável da guerra no Iémene, perante a situação de derrota estrondosa do seu exércitoface aos Huthis. 
Embora a Arábia Saudita tenha sido compradora de muito armamento sofisticado aos EUA, Reino Unido, França... observa-se, recentemente, uma mudança «deslizante» de suas alianças, com a China a substituir-se paulatinamente aos EUA, propondo a compra de petróleo saudita utilizando o yuan (em troca da entrada de capitais chineses na Aramco) e a Rússia a oferecer-se como garante da defesa e fornecedora de armamentos de ponta à monarquia saudita.

São demasiado complexas as jogadas envolvidas. Nada do que se passa no Médio Oriente (vejam-se os últimos desenvolvimentos na situação da fronteira Síria-Turquia) nos é explicado de forma cabal. 
A media limita-se a reproduzir o discurso de propaganda dum ou doutro governo. Nunca equaciona - nas suas pseudo-análises - a agenda globalista, a Nova Ordem Mundial
No entanto, embora eu não tenha ideia precisa dos pontos em negociação, tenho a certeza de que esta agenda globalista está sendo negociada agora, discretamente.


terça-feira, 1 de outubro de 2019

VIRAGEM NA GUERRA DO IÉMENE, NÃO FAVORÁVEL À ARÁBIA SAUDITA

*Notícia de última hora - SAUDITAS CAPITULAM, VEJAM:




Muita gente pode ter sido levada a acreditar que os houthis são uma milícia tribal que não possui qualquer sofisticação.  
No Sábado 28 de Setembro, os houthis cancelaram qualquer especulação nesse sentido, ao confirmar aquilo que as pessoas bem informadas já sabiam desde há meses: as tácticas da guerra assimétrica dos houthis conjugadas com as capacidades convencionais do exército iemenita, eram capazes de colocar de joelhos o reino saudita.
Elementos simpatizantes dos huthis dentro da Arábia Saudita – uma importante minoria xiita – desempenharam um papel de reconhecimento e de fornecimento de informações que permitiram que o exército iemenita levasse a cabo complexos ataques com mísseis e com drones. Os golpes certeiros fizeram com que a produção petrolífera do Reino ficasse reduzida a metade, com a ameaça de continuar, alcançando outros alvos, se os sauditas não parassem com o genocídio de população do Iémen.

                      

No Sábado 28, os houthis e o exército iemenita levaram a cabo uma manobra audaciosa, de ataque terrestre, atravessando a fronteira iemenita- saudita. Esta operação envolveu, certamente, elementos complexos, quer de recolha de informação por espionagem, quer de planeamento operacional. Foi muito mais sofisticada do que o ataque à refinaria da Aramco. As reportagens iniciais indicam que as forças sauditas foram atraídas para uma ratoeira, ficando em posições vulneráveis, sendo depois envolvidas por um movimento rápido dentro do território saudita. Os houthis cercaram a vila de Najran e capturaram a maior parte de três brigadas, com milhares de soldados e dúzias de oficiais superiores, assim como numerosos veículos de combate.
A operação em larga escala foi antecedida por uma barragem de tiros de artilharia pelos iemenitas contra o  Aeroporto de Jizan, onde 10 mísseis paralisaram todos os movimentos de partidas e chegadas. Isto fez com que o apoio aéreo às tropas cercadas em Najran fosse impossível.  Os houthis também atingiram o aeroporto internacional de Riade, numa operação que obrigou os helicópteros Apache aí estacionados a fugir da área. As bases vizinhas também foram atingidas, de forma a cortar a possibilidade de reforços e interrompendo a cadeia de comando. Isto levou a uma fuga desorganizada das forças sauditas.
Imagens captadas e exibidas pelos houthis mostram dúzias de veículos tentando fugir e a serem atacados, de ambos os lados da estrada. Este desastre para as forças sauditas, pode ser confirmado pelo número elevado de baixas e pelo número de prisioneiros que foram feitos.  

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A visão de prisioneiros sauditas escoltados por soldados iemenitas para campos de prisioneiros é qualquer coisa que desafia a imaginação. Porém, isto aconteceu e mostra como é frágil um exército muito bem equipado (os sauditas têm o 3º lugar mundial no que toca a despesas de armamento, com 90 biliões de dólares por ano, de orçamento militar) mas confiando apenas nessa suposta superioridade tecnológica.  Os houthis, além de todos acontecimentos acima relatados, conseguiram manter sob controlo mais de 350 quilómetros de território saudita.
As forças houthis usaram drones, mísseis, sistemas anti-aéreos e dispositivos electrónicos capazes de prevenir que os sauditas apoiassem as suas tropas cercadas com aviação ou por outros meios. Os testemunhos de soldados sauditas dão a entender que as tentativas feitas para os socorrer foram feitas sem grande convicção e tiveram pouco efeito. Os prisioneiros de guerra sauditas acusam as chefias militares de terem-nos deixado à mercê dos seus adversários.
Ver também:


segunda-feira, 30 de setembro de 2019

A DESDOLARIZAÇÃO JÁ TEM EFEITOS TANGÍVEIS

                


Que relação poderá existir entre:
- a recente crise de liquidez no mercado «ovenight» ou REPO* que obrigou a intervenção da FED, acorrendo com centenas de biliões, para garantir que este mercado se mantinha líquido,
- a intensa venda de treasuries (obrigações do tesouro americano) por parte de competidores mundiais dos EUA, como Rússia e China, 
- a aceitação de moedas outras que não o dólar em pagamento do petróleo, por vários países, incluindo certos emiratos do Golfo
-  a existência de uma indústria do petróleo e gás de xisto nos EUA, cuja produção actual ultrapassa a da Arábia Saudita, mas que tem um défice estrutural, pois a obtenção de cada litro desse petróleo faz-se com prejuízo em dólares, apenas colmatado com o constante bombear de dinheiro por Wall Street

Bem, tudo o que está descrito acima tem-se verificado, significando que o petro-dólar está nas suas últimas. Significa também que não tardará o dia em que os produtores de matérias-primas e de produtos industriais torcerão o nariz a pagamentos em dólares e dirão «não aceitamos pagamento com dólares US».
Para que funcione o sistema do petro-dólar, o qual é o fundamento do domínio financeiro dos EUA sobre o mundo, é necessário que haja uma constante demanda de dólares nos mercados. É assim que o dólar mantém a sua cotação, é assim que existem compradores para as obrigações do tesouro denominadas em dólares, etc. 
O sistema do petro-dólar tem funcionado, visto que há uma demanda constante no comércio internacional, nomeadamente por causa da exclusividade de cotação em dólares do petróleo (acordo de 1973 entre Nixon/Kissinger e Arábia Saudita, depois alargado a toda a OPEP).
Mas, ultimamente,  vimos a Rússia desfazer-se das suas reservas, sob forma de «treasuries» (obrigações do tesouro USA), vimos alguns produtores importantes de petróleo como o Irão, a Venezuela e a Rússia a aceitarem outras divisas - que não o dólar - em pagamento do seu «crude». 
Vemos também que a desconfiança de muitos investidores, incluindo gestores de fundos bilionários, em relação ao sistema do dólar tem aumentado e se exprime na compra (publicitada) de ouro e metais preciosos, com o objectivo de salvaguardar valor do capital, em face da crise sistémica vindoura, anunciada por muitos.
Por outro lado, a grande banca, sobretudo nos EUA, está realmente em grandes dificuldades, pois não consegue já ocultar que a sua rentabilidade mergulhou, que está cada vez mais exposta a investimentos tóxicos, nos quais se incluem os derivados, assim como outros investimentos não rentáveis. 
Entre estes, encontra-se a indústria do «fracking». Desde o primeiro dia desta indústria, o seu funcionamento e viabilidade dependia, não tanto da cotação do barril de petróleo ao nível internacional, como da capacidade dos bancos e entidades financeiras, atraírem dinheiro para a financiar. 
Assim, os pequenos investidores e os investidores institucionais (como seguradoras, fundos de pensões, etc...) foram atraídos a investirem numa indústria que nunca foi rentável, que acumulou sempre perdas. No final, os pequenos vão ficar «depenados», salvando-se os grandes magnates...  
Se a FED e o Tesouro (através do seu fundo financeiro de intervenção) precisam de intervir, baixando as taxas de juro, «imprimindo» dólares, comprando «treasuries», isto vai, obviamente, no sentido de aumentar a quantidade de dólares em circulação. Estes dólares não causam inflação, porque são «enterrados» em dois grandes «poços de dinheiro»: 
- as indústrias bélicas e as guerras, directamente ou por intermediários, pelo mundo fora.
- a indústria do fracking nos EUA, que dá a ilusão de uma grande autonomia energética, mas é sustentada de forma artificial pelo constante colectar de «capital fresco», junto dos investidores que procuram uma maior rendibilidade, a todo o custo**.

Por um lado, o dólar não pode estar em excesso nos mercados mundiais, senão ele vai perder cotação, face a outras moedas e face ao ouro.  
Mas, por outro lado, não podem os bancos (nomeadamente os grandes, que estão no centro do mercado REPO ou «overnight») ficar com falta de liquidez. 
A subida dos juros do «overnight» (nalguns casos, atingiu os 10%, quando o valor «normal» era em torno dos 2%) assinala ao mundo que é difícil obter financiamento, que há falta de liquidez (como aconteceu no desencadear da crise de 2007/2008). 
Daí a injecção de centenas de biliões nesse mercado, por parte da FED. Agora, a FED quer servir-se do pretexto de assegurar a liquidez no mercado REPO, para fazer novo QE (Quantative easing) envergonhado.

Esta «engenharia financeira» global, apenas pode funcionar por algum tempo. 
Assim que existam alternativas viáveis ao dólar, tais como as notas de crédito para pagamento de combustíveis em Yuan, é só uma questão de tempo até o mundo reconhecer que o sistema do dólar já não oferece nenhuma garantia, porque seu valor é mantido artificialmente. 
A força bruta, o poder militar, não podem estar em todo o lado, simultaneamente e em força. 
Não pode o Império do Dólar coagir tudo e todos a usarem a sua moeda, quase em exclusivo, nas relações comerciais e financeiras internacionais, como aconteceu no passado, durante largas décadas, nem manter uma hiper-valorização artificial dos «bonds» americanos, com rentabilidade bem acima das dos bonds de  muitos países, cujas obrigações soberanas oferecem um juro menor e, portanto, são menos atraentes para os investidores.
É só uma questão de tempo, até o império do dólar se desmoronar**. 
Pode ser uma experiência muito dolorosa para o mundo, pois os EUA têm tido a habilidade de «exportar» a sua crise para outros parceiros, nomeadamente, o Japão e a UE. 
Outros países, ditos em desenvolvimento, poderão ficar com as suas economias seriamente afectadas. Por exemplo, muitos países endividaram-se em dólares quando o juro dessa dívida era mais atraente e sobretudo  quando o dólar estava «barato» em relação a outras divisas. Depois, o dólar subiu e manteve-se alto, o que obrigou esses países a fazer um esforço maior no pagamento dos juros e do capital em dívida. 

Penso que os bancos centrais de muitas regiões do mundo, não apenas das «super-potências competidoras» China e Rússia, mas também de muitos outros países, incluindo aliados dos EUA, estão a tomar precauções face a uma enorme crise financeira, que está à vista. 
Não é por acaso que os bancos centrais de vários países  alinhados com os EUA e membros da NATO, como a Turquia ou a Polónia, estão a comprar grandes quantidades de ouro; é porque vêem «o que está escrito na parede»...
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Notas:

* O «REPO» é um mercado de empréstimo dos bancos entre si, de curta duração (por isso o termo overnight): um banco pode precisar de liquidez momentaneamente, sendo normalmente oferecido (a juro baixo) o empréstimo necessário, mediante colateral. Este normalmente, o colateral é sob forma de algo com cotação «triplo A» como obrigações do tesouro dos EUA ou equivalente...

**Ler W. Engdahl «The New American Oil Empire Built on Sand» em: 

*** Para maior esclarecimento, pode-se consultar o recente vídeo de entrevista de Greg Hunter a Rob Kirby: 
https://www.youtube.com/watch?v=xAF6_9_WS8g&t=1227s

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

A FRAGILIDADE DO SISTEMA FICOU EXPOSTA


Uma perturbação numa refinaria, por mais importante que seja, não vai causar uma carência de petróleo ao nível do mercado global. Os sauditas garantem que o nível de produção voltará ao normal até ao fim do mês. Mesmo que a afirmação seja um bocado optimista, não é nada que tenha uma repercussão planetária no mercado do crude ou do petróleo refinado. 
Então, por que razão os mercados, não apenas dos combustíveis, mas também os mercados financeiros estão em estado pré-comatoso?
Por que razão há um quase congelamento do mercado «overnight» de empréstimo entre os bancos, que causa a intervenção do banco central dos EUA (a FED)? 
- Sabe-se que a FED despejou nos bancos (através de um «bail-out» que não se confessa como tal) em 3 dias sucessivos, muitos biliões de dólares para fornecer liquidez ao mercado de empréstimo interbancário...

Isto revela a gravidade da situação: Porque é muito anómalo o comportamento da FED.  
A explicação que encontro para este pânico interno (ignorado do «grande público», pois a media corporativa faz bem o seu miserável papel de DESinformar as massas), é o seguinte:

- Os bancos encontram-se quase insolventes em circunstâncias normais e podem rapidamente passar a estar mesmo insolventes, ao contrário do que o público é informado e do que os responsáveis dão a entender. 
Mas, se um «cisne negro» atingir o sistema financeiro global, estes bancos ficam em apuros. 
O sistema está, neste momento, em apuros porque o petróleo subiu em flecha, muito para lá das expectativas de muitos investidores e especuladores, inclusive dos peritos que trabalham nos bancos sistémicos
Ora, a quantidade (nos EUA e internacional) de empréstimos e de alavancagem sobre esses mesmos empréstimos, à indústria do petróleo de xisto é avassaladora
O processo de extracção de petróleo do xisto é intrinsecamente um processo não rentável; são necessárias mais unidades de energia para extrair gás ou petróleo de xisto do que as quantidades respectivas obtidas são capazes de fornecer. A rentabilidade aparente resulta de operações financeiras, que consistem em fazer o público, em última instância, financiar os projectos, através de obrigações. 
Estas são negociadas nos mercados e usadas para originar complexos produtos derivados. Uma engenharia financeira dos bancos, tendo rentabilidade somente para eles e para os poucos negócios de exploração de petróleo de xisto que não fizeram falência.  
Para que esta indústria do petróleo de xisto seja financiada, uma montanha de empréstimos tem de ser colocada nos mercados: o juro dos empréstimos é que vai variar, ao sabor dos mais diversos acontecimentos no mundo, incluindo as guerras. 
Ora, se um «cisne negro» surge, como foi o caso há dias, abrindo-se a possibilidade de uma guerra contra o Irão, todas as «apostas» (que são, afinal de contas, os derivados) vão estar completamente desequilibradas:  É como se num jogo Benfica -  Belenenses, este segundo clube tivesse a vitória. Seria algo tão inesperado, que somente alguns adeptos mais fiéis do clube de Belém teriam apostado nele.
Portanto, muitas apostas terão sido perdidas  (neste caso, devido ao aumento súbito do petróleo) causando uma enorme drenagem de liquidez no sistema (para pagar as tais apostas, muitos activos financeiros terão sido vendidos).     

A fragilidade do sistema financeiro é enorme, o que equivale a dizer a fragilidade do capitalismo dos nossos dias. Sim, o sistema está à mercê de um grupo de guerrilheiros suficientemente determinado para atingir um órgão vital (a refinaria saudita, a maior refinaria do mundo) ou uma artéria principal (o estreito de Ormuz). 

             

Hoje, são os Houthis, amanhã, quem sabe?

Esta é a realidade: aquilo que a «filtragem» da media corporativa não permite que o público  perceba, neste imbróglio. 

Quer isto dizer que os EUA vão para a guerra ou vão recuar e não atacarão o Irão? 
-Não faço a menor ideia, agora. 
Porém, sei que é muito fácil desencadear uma guerra... mas, os que a desencadeiam não sabem qual será o seu desfecho.  

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

O «CISNE NEGRO»: Ataque com drones a instalações petrolíferas da Arábia Saudita

   «Foram noticiadas explosões enormes em duas instalações de petróleo da Aramco a empresa exploradora de petróleo da Arábia Saudita. Embora, no imediato, as autoridades sauditas tenham recusado designar os culpados, a média, incluindo a BBC começou imediatamente a insinuar que ou os Houthis do Iémene ou o Irão eram os responsáveis.» (Retirado de artigo de Tony Cartalucci, em Global Research)

     

O problema com estas atribuições é que apenas reforçam um dos lados, como sendo o «agredido»: Neste caso, a Arábia saudita. Se os Houthis são considerados agentes do Irão (quer isso seja exagerado, ou não), automaticamente estão a dar pretexto para uma retaliação, um contra-ataque. Estão a legitimar a transformação de uma guerra local, a agressão da Arábia saudita, dos Emirados Árabes Unidos e dos seus aliados ocidentais, Americanos, Australianos, Britânicos (que se sabe terem mercenários no Iémene), numa guerra «defensiva» contra a suposta «agressão» do Irão. De facto, a media ocidental, parece ser mais o porta-voz dos governos, do que meios independentes noticiosos, que informem com objectividade o que se está passando. Desde há quase cinco anos, está em curso uma guerra brutal contra os grupos Houthis, que derrubaram, no Iémene um governo que tinha o apoio dos sauditas.





Por muito que aleguem, a luta dos Houthis é um problema interno ao Iémene, os sauditas não têm legitimidade para se imiscuírem e, muito menos, pretenderem reinstalar pela força um governo totalmente desacreditado. Mas esse é o pretexto, pois a verdadeira razão é ainda e sempre o petróleo. Com efeito, as reservas de petróleo sauditas são muito menores -na realidade- que as que apregoam. Para conseguir bombear um litro de petróleo para fora dos poços, têm de bombear muitos litros de água (salgada, retirada do mar, e canalizada para os poços petrolíferos). Pelo contrário, a fronteira norte do Iémene tem grandes reservas de petróleo intactas, as quais seriam exploradas pelos sauditas em condições favoráveis, caso dispusessem de um governo «dócil», do outro lado da fronteira.




É esta a verdadeira razão da guerra de genocídio, em que a ONU - repetidas vezes - apelou a que levantassem o bloqueio que estava a causar uma mortandade, por fome e por epidemias não tratadas, à população civil iemenita. Os sauditas têm cobertura plena ocidental, com fornecimento de material de guerra e de vigilância, pelos sofisticados satélites espiões americanos e outros meios guiando e aumentando a eficácia dos ataques aéreos sauditas e dos emirados.


Se tivessem um mínimo de decência, as potências ocidentais já teriam feito parar esta criminosa guerra. Mas ela ocorre longe, sobretudo longe dos olhares dos «virtuosos zeladores» dos direitos humanos…
É evidente que uma agressão constante como a que o povo iemenita tem sofrido, vai desencadear uma resposta forte, face a um poder que não recua perante nenhuma atrocidade.
Que os drones tivessem incorporada tecnologia do Irão, parece-me absolutamente verosímil, mas isso não pode legitimar um ataque contra o Irão, da mesma maneira que -hipoteticamente – o ataque dum grupo de guerrilha na Síria, só pelo facto de utilizar armamento americano contra instalações russas, não poderia legitimar um ataque russo contra os EUA!

Drones dos Huthis

Este ataque com drones assinala uma viragem na situação estratégica mundial, pela simples razão de que uma força como a dos Houthis, com capacidade técnica para operar drones, pode causar danos sérios num gigante, quer em termos militares, quer económicos.
Note-se que estes drones estão (em alguns mercados, pelo menos) acessíveis ao público em geral, por somas da ordem de 1500 dólares. Ora, isso corresponde a um efeito multiplicador da ordem de mil, um milhão, ou mais ainda, pelos prejuízos directos que um atentado destes pode trazer – como foi o caso – a uma instalação ultra-sensível, quer em termos de economia dum país, quer mesmo mundial.

Não existe maneira absolutamente segura de proteger instalações gigantes de refinação de petróleo ou outras, de outro tipo, que existam noutros pontos do globo. É impossível sequer imaginar uma protecção eficaz dos múltiplos oleodutos e gasodutos que percorrem milhares de quilómetros nesta e noutras regiões do globo.

É, portanto, uma viragem no que se poderá chamar de guerra assimétrica; pode significar uma viragem também na forma como os poderes encaram as situações de conflito, se tiverem o mínimo de bom-senso. Torna-se impossível uma guerra convencional ser ganha, nestas circunstâncias. 
Não existe maior fragilidade do que a das civilizações tecnologicamente avançadas, dependentes de redes cibernéticas e de aprovisionamento de energia, sob formas diversas (petrolífera, eléctrica). Mesmo as redes de abastecimento de água e alimentos, estão completamente fragilizadas. 
Um grupo guerrilheiro com uma logística bastante leve pode, em qualquer momento, causar um enorme caos, uma paralisia completa do adversário.

A guerra com armas nucleares é uma loucura, pois não há dúvida que acabará por destruir as próprias condições de habitabilidade do Planeta, numa escalada bélica inevitável.
Mas a guerra com armas convencionais nunca poderá realmente desembocar numa vitória completa sobre os adversários, pois pequenos grupos serão capazes de actos de sabotagem eficazes e com efeitos catastróficos, devido à fragilidade do próprio tecido que sustenta as nossas comunicações, as redes energéticas, os circuitos de abastecimento de víveres…
Se houvesse bom-senso, as grandes potências militares tratariam de encontrar meios não militares, mas antes diplomáticos, de resolver os seus conflitos.

Quantos milhões de mortos e de vítimas da brutalidade da guerra tecnológica haverá no Iémene e em muitos outros pontos do Globo, até que esta simples e clara evidência de estratégia seja compreendida pelos responsáveis políticos e militares: 
Não há possibilidade de vitória militar. O único meio de resolver os diferendos é por via diplomática.


sexta-feira, 14 de junho de 2019

OS ATAQUES AOS PETROLEIROS NO GOLFO DE OMAN SÃO UM CASO DE «FALSA BANDEIRA»

Kim Iversen descreve a construção de falsas evidências, usando os dados de que se dispõe sobre este caso e evocando o caso do incidente do golfo de Tonkin em 1964 como escalada da guerra do Vietname e os pseudo-ataques químicos dos sírios no ano passado.


Veja também como é que Pompeo apresenta o caso, no sentido de encontrar uma «justificação» para o endurecimento das sanções contra o Irão e tentativa de aumentar o seu isolamento:

http://www.informationclearinghouse.info/51764.htm



quinta-feira, 9 de maio de 2019

RELAÇÃO DA CRISE VENEZUELANA COM O CONTROLO GLOBAL DO MERCADO MUNDIAL DO PETRÓLEO

«O que o nosso (dos EUA) governo não nos diz sobre a Venezuela»:




                                              Uma brilhante análise de Kim Iversen

Veja também o seu excelente video sobre «o que todas essas guerras para mudança de regime têm em comum?» : https://www.youtube.com/watch?v=Mtba_KqCmUQ


terça-feira, 26 de março de 2019

OS MONTES GOLAN, EUA E ISRAEL: MAIS UM EXEMPLO DE UNILATERALISMO




Aquando da manobra de reconhecimento por parte dos EUA de Jerusalém como capital de Israel, com anúncio de que iriam mudar a embaixada dos EUA de Tel Aviv para Jerusalém, já tinha chamado a atenção [1] para a indiferença total do actual poder em Washington, não apenas pela substância do respeito da legalidade internacional, como mesmo, da sua aparência.

Agora, fica claro que o papel da administração Trump [2] é de servir os desígnios das facções mais extremas do sionismo em Israel, em particular redourando a estrela de Natanyahu a braços com um processo por corrupção que poderá inviabilizar a sua eleição ou tomada de posse. 

O poder em Washington tem-se comportado como um apoio incondicional do governo israelita, assim como do todo-poderoso herdeiro do trono da Arábia Saudita, Mohamed Bin Salman.

 Que mensagem dão estas tomadas de posição [3], estas comprometedoras alianças, sem condições e sem contra-peso de uma legalidade internacional, expressa nas numerosas resoluções da ONU, muitas das quais subscritas por Washington?
Os parceiros e adversários dos EUA ficam claramente com a noção de que Washington se considera acima da legalidade internacional. Isto, apesar de ter sido um dos pilares da sua construção no pós-IIª Guerra Mundial. 
A outra ideia com que ficam todos, é que existem compromissos secretos, acordos que implicam estas posturas. Natanyahu ou Bin Salman por mais poderosos que sejam dentro dos seus respectivos Estados, não seriam nada sem o apoio decisivo dos EUA. 
Por outro lado, os EUA, comprometem-se - ao tomar como aliados incondicionais, esses governos - com um desempenho dos mais negativos, em termos de direitos humanos. Mas Trump e seu governo, continuam a usar a «cantilena» dos direitos humanos, como pretexto para agredir a Venezuela, ou quaisquer outros países que não se submetam ao seu «diktat».

Uma tal postura equivale a que os EUA estão a auto-sabotar a sua imagem de propaganda que gostariam de dar; a de uma nação que está preocupada com a legalidade, com a democracia e com os direitos humanos. Mas, esta arrogância não revela grande poderio, antes pelo contrário, uma grande fragilidade. 
Pode-se ver a política externa dos EUA como fortemente condicionada por Israel e pela Arábia Saudita, o que apenas mostra a sua enorme fraqueza, a sua dependência mesmo. 
- Terão Natanyahu e Bin Salman meios de pressionar Trump, de um modo tal, que este seja obrigado a «deitar às urtigas» a tal capa de respeitabilidade internacional?
 - Serão tais pronunciamentos, como a declaração relativa aos montes Golan, decorrentes do facto de Washington desejar retirar-se?
- Estaria Washington a preparar o terreno para seus aliados estratégicos da região ficarem mais fortalecidos, antes da sua retirada? 

Seja como for, as convulsões e sofrimentos [4] dos povos no Médio Oriente, quer do povo da Palestina, quer da Síria ou do Iémene, foram claramente causadas pelos EUA e por seus aliados. 
Estas guerras criminosas têm como consequência que os povos dos países da região e doutras zonas do mundo, anseiem pela queda dos EUA enquanto hiper-potência mundial, não sujeita a qualquer restrição, não respeitando leis nem direito, mas impondo pela força a sua vontade. 
Estas manifestações de arrogância («hubris») são afinal mais umas pedras para a tumba de seu suposto estatuto de «nação indispensável», de que se ufanam. 

[1] https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2017/12/jerusalem-tem-de-ser-promessa-de-paz.html

[2] http://www.informationclearinghouse.info/51329.htm

[3] https://www.asiatimes.com/2019/03/article/us-golan-move-turns-1967-setback-into-reality/

[4] https://www.zerohedge.com/news/2019-03-25/israeli-airstrikes-rock-gaza-target-hamas-command-after-netanyahu-cut-short-us-trip

sexta-feira, 19 de outubro de 2018