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quinta-feira, 17 de outubro de 2019

ESTÃO EM CRISE DUAS MOEDAS COM PARIDADE CAMBIAL COM O DÓLAR

                                
Chamo a atenção para o artigo de Tom Luongo, que analisa em pormenor a crise de legitimidade no governo de Hong Kong e a desestabilização desta «praça-forte» da finança internacional na Ásia e que possui desde há longos anos uma moeda local, o dólar de Hong Kong (HKD) em paridade cambial com o dólar US , por um lado...  
...Por outro lado, lembra-nos Luongo, existe outra moeda em paridade cambial com o dólar, o Riyal da Arábia Saudita (SAR). Ora,  o desastre que tem sido ultimamente a guerra do reino da Arábia Saudita com os Houthi do Iémene, poderá precipitar uma mudança estratégica  na região.

                                  
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Analisemos historicamente o papel que desempenharam ambas as paridades cambiais com o dólar US, o qual tem sido a moeda de reserva internacional, desde o fim da II Guerra Mundial. 


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No lado chinês, durante os anos de isolamento do regime comunista da China em relação ao «ocidente», a praça financeira de Hong Kong, colónia britânica até 1997, desempenhou um papel insubstituível para a China continental, de porta de entrada e saída de mercadorias e de fluxos de capitais. A partir da grande viragem protagonizada pela política de Deng Xiao Ping, este papel foi reforçado. Nos últimos vinte anos, de crescimento exponencial, a China utilizou Hong Kong de modo intensivo para atrair os fluxos de capitais para investimento no território da RPC. Do ponto de vista dos capitalistas interessados em investir na RPC, era muito mais tranquilizador estar baseado em Hong Kong, que tinha e tem um conjunto de garantias relativas aos capitais estrangeiros, devido aos acordos de devolução válidos até 2047, do que a alternativa de Xangai, onde se aplica em pleno a legislação da RPC. 
Para atrair os investimentos via Hong Kong, a paridade do dólar de Hong Kong (HKD) com o dólar US, é estratégica. Com efeito, o governo da China tem vindo a desvalorizar sua moeda nacional, o Yuan, como forma de manter a competitividade dos produtos «made in China». Ultimamente, ainda se fala mais da desvalorização da divisa chinesa, uma guerra cambial no seguimento da guerra comercial, inaugurada por Trump. 
Tornando-se instável a situação de Hong Kong, havendo tendência para fuga de capitais, ou diminuição acentuada da entrada de capitais frescos para fazer negócios com a China, é provável que o dólar de Hong Kong não consiga manter paridade cambial com o dólar US. A certa altura, o dispêndio de dólares US - nas reservas do banco central de Hong Kong - para sustentar o dólar de Hong Kong, pode ser excessivo e haver o desligar da paridade cambial.
Há fortes indícios duma «mãozinha ocidental» na desestabilização política de Hong Kong: mesmo que não tenha sido iniciada mas apenas aproveitada pelos EUA, esta é uma arma que eles estão a usar, para forçar a China a ceder em certos aspectos fundamentais desta guerra, dita «comercial». 
O que nos é vendido como «guerra comercial», é - na realidade - o redesenhar das esferas de influência mundiais, ou seja, como é que as duas super-potências (China e EUA) vão partilhar o mercado global e que tipo de relacionamento se vai estabelecer entre elas.

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A paridade do dólar US com o Riyal (SAR), está intimamente relacionada ao acordo dos EUA com os sauditas, negociado em 1973, na origem do chamado petro-dólar. 
Recordemos que Kissinger conseguiu obter que os barris de petróleo só pudessem ser cotados e vendidos em dólares US, em troca de uma protecção total do Reino, então o maior produtor de petróleo da OPEP. 
Toda a política dos EUA no Médio Oriente tem estado orientada para manter esta exclusividade da venda do petróleo em dólares, mais importante ainda do que o acesso directo dos EUA ao crude. 
Com efeito, enquanto houver necessidade de dólares US para comprar crude no mercado internacional, a moeda nacional dos EUA poderá continuar a ser a principal moeda de reserva mundial. 
A paridade cambial do riyal (SAR) com o dólar US facilita o afluxo de capitais, não apenas para investimento no reino saudita, como também para todos os sultanatos em redor. Vai permitir que os investidores internacionais estejam mais seguros, quanto ao retorno sobre seus investimentos. 
A garantia cambial é muito importante para os negócios. Com efeito, sem tal garantia cambial, o investimento num país com moeda instável e com tendência para desvalorização periódica, pode anular qualquer rentabilidade dos capitais investidos. Esta é uma das razões principais por que o volume do investimento estrangeiro fica abaixo do seu potencial, em muitos países ditos «em desenvolvimento».   

No momento em que ocorre uma mudança tectónica nas relações económicas, financeiras e geopolíticas ao nível mundial, não é coincidência que duas moedas com paridade cambial com o dólar US, estejam sob «ataque». Note-se que num caso (Hong Kong), a desestabilização joga a favor do «reino do dólar US», enquanto no outro caso (Arábia Saudita), é precisamente o contrário.
- Desestabilização em Hong Kong, cria uma situação de escassez de investimento estrangeiro na China, no momento em que esta necessita de ainda mais capital do exterior, para consolidar a sua economia, no momento em que está a realizar a grande viragem duma economia de exportação, para uma economia mais vocacionada para satisfazer o consumo interno. 
- Desestabilização na Arábia Saudita, fragiliza o principal aliado dos EUA no Médio Oriente, ao ponto de se equacionar o afastamento do príncipe herdeiro e responsável da guerra no Iémene, perante a situação de derrota estrondosa do seu exércitoface aos Huthis. 
Embora a Arábia Saudita tenha sido compradora de muito armamento sofisticado aos EUA, Reino Unido, França... observa-se, recentemente, uma mudança «deslizante» de suas alianças, com a China a substituir-se paulatinamente aos EUA, propondo a compra de petróleo saudita utilizando o yuan (em troca da entrada de capitais chineses na Aramco) e a Rússia a oferecer-se como garante da defesa e fornecedora de armamentos de ponta à monarquia saudita.

São demasiado complexas as jogadas envolvidas. Nada do que se passa no Médio Oriente (vejam-se os últimos desenvolvimentos na situação da fronteira Síria-Turquia) nos é explicado de forma cabal. 
A media limita-se a reproduzir o discurso de propaganda dum ou doutro governo. Nunca equaciona - nas suas pseudo-análises - a agenda globalista, a Nova Ordem Mundial
No entanto, embora eu não tenha ideia precisa dos pontos em negociação, tenho a certeza de que esta agenda globalista está sendo negociada agora, discretamente.