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terça-feira, 28 de maio de 2024

CRÓNICA (Nº 28) DA III GUERRA MUNDIAL: Quebra das referências e imposição de ordem totalitária

 Tenho acompanhado, com angústia, a evolução da minha sociedade, deitando também uma olhadela ao que vejo pelo mundo fora, através dos media (tanto «mainstream», como «alternativos). 

Não gostei nada, mas mesmo nada, da estupidez da campanha de massas para fazer as pessoas temerem uma infeção banal, por coronavírus, como se fosse o fim do mundo. Esta foi uma campanha de medo, de coerção (com máscaras - sem efeitos de proteção demonstrados - para servir de símbolo da servidão). Pior, verificou-se a perseguição de sumidades médicas e científicas que realizaram terapêuticas com ivermectina ou hidroxi-cloroquina. Foram brutalmente difamados por «jornalistas» ao serviço dos globalistas. Isto tinha uma (má) razão de ser: O facto da tão desejada, pelas multinacionais farmacêuticas, autorização especial de colocação no mercado das vacinas que tinham fabricado. Ela só era possível, caso não existisse já um medicamento eficaz para combater a epidemia. Daí a criminalização do uso daqueles dois fármacos, para obterem a autorização de «urgência» e a colocação no mercado das "vacinas" mortíferas. 

Mas, o cenário não se ficou por aqui: A clique globalista conseguira fazer passar despercebido um crash do sistema através dos «lockdown» (confinamentos). Estes serviram para a operação de colapso programado de grande parte das empresas, sobretudo, as que tinham intervenção na economia real, como fornecedoras de bens e serviços. Em contraste, foram favorecidos o grande capital financeiro (bancos sistémicos, fundos especulativos) e as grandes empresas tecnológicas (Microsoft, Apple, Facebook, Google, etc.), as quais tiveram um boom, graças aos confinamentos e à «nova economia», instalada ou reforçada por ocasião dos «lockdown», em muitos sectores de serviços. 

Porém, uma tomada de controlo parcial da economia nunca seria considerada suficiente para os poderosos deste mundo. Eles estavam cientes da necessidade da falência completa do sistema, seguida pela «Nova Ordem», à maneira deles. Isto só poderia ser disfarçado com uma «boa guerrinha», das que causam imensos mortos, feridos e destruição. A sua preferência era ser longe das sedes de Wall Street, do Pentágono, da City de Londres e da OTAN, em Bruxelas.

Durante todo o ano de 2021, na Ucrânia, a guerra não declarada, mas guerra de extermínio da população civil russófona, teve rédea larga. Os ocidentais estavam a armar e treinar o exército da Ucrânia, ao nível de serem considerados tão eficazes como os da OTAN (os ucranianos foram persuadidos que iriam abrir-lhes as portas da OTAN e da UE...). No Ocidente «não viam» o sofrimento nestes anos todos (8 anos de guerra civil), apesar de um número estimado de vítimas civis de 15 000,  nas populações do Donbass. 

Finalmente, a Rússia invadiu a Ucrânia com uma força militar destinada a proteger os russos étnicos, habitantes das duas repúblicas separatistas do Donbass.  O governo de Moscovo sentia-se obrigado  a vir em auxílio a estes russos, para evitar um banho de sangue (o «dever de proteger», reconhecido pela ONU). Mas, logo foram desencadeadas sanções e mais sanções (longamente planeadas), com ataques histéricos de políticos americanos e europeus ocidentais, assim como da media ao serviço dos grandes interesses.

Claro que a manobra de isolar a Rússia lhes saiu furada. A situação era tal, que a Rússia se tinha longamente preparado para as sanções. Por um lado, a sua economia era muito mais saudável do que os ocidentais imaginavam e por outro, não  existiu isolamento da Rússia, devido à recusa do «Sul Global» e dos BRICS em se alinhar numa guerra económica contra  a Rússia. 

Os ocidentais mostraram que estavam fora da realidade e que, de facto, estavam a proporcionar a criação doutro bloco rival (e maior) da OTAN e amigos. Ou talvez não, talvez estivessem cientes das realidades e - no entanto - convencidos de que a globalização à sua maneira e gosto, era impossível de ser alcançada. Terão decidido acabar com ela, criando uma situação de guerra mista ou híbrida, para «segurar» os países Ocidentais e seus Estados-clientes, ao nível mundial.

Mas, a rutura Ocidente/Sul Global, como estamos a assistir em relação a Israel/Palestina, não podia ser pior. Pior para os povos sujeitos à brutalidade de massacres sobre civis,  perante a indiferença dos países aliados de Israel, o que afinal não é senão disfarce para a aprovação discreta dos desmandos que o exército de Israel tem cometido: O genocídio da população de Gaza, indefesa, sob nossos olhos, 24 h por 24, 7 dias da semana, mês após mês, durante 7 meses.

Quais as motivações dos poderes ocidentais em apoiar Israel, de modo incondicional, nesta matança cruel e indisfarçável? 

- Eles mostram assim que se um povo, uma nação, se rebelar contra a ordem mundial que eles instituíram, será tratado sem contemplações, nem direitos humanos, nem leis da guerra, nem haverá a mínima consideração em relação às decisões da ONU e das instâncias jurídicas internacionais.

- Mostram aos seus próprios povos que eles não são protegidos por quaisquer garantias, direitos e liberdades. Que serão reprimidos à bastonada e com prisões as manifestações contra o genocídio, dos estudantes e de todos os que têm conservado sua consciência humana. As cliques políticas dão rédea livre à perseguição contra quaisquer dissidências, passando «leis» inconstitucionais, que instauram o Estado totalitário. Daqui para a frente, irão servir-se dessas leis entretanto criadas, para esmagar qualquer resistência cívica e pacífica dos seus próprios cidadãos.

Não sei a causa exata do que acontece com a generalidade das pessoas e com o seu comportamento, mas parece-me que estão amedrontadas e sobretudo equivocadas acerca do que se está a passar. Nos países ocidentais,  as campanhas, primeiro psicológicas e em seguida militares, só podem ser entendidas pela  lógica de uma tomada de poder totalitária, com a «capa» habitual de que o fazem para proteger a democracia liberal que, entretanto, eles desfiguram, não restando sequer a aparência de uma ordem democrática. 

Existem forças políticas, media alternativos e personalidades, que dizem mais ou menos o que eu digo, acima. O problema, é o efeito maciço sobre os povos da propaganda mediática, conjugada com a brutalidade do poder e sobretudo, a ausência de uma forte oposição institucional (estão quase todos dentro mesmo saco). Por isso, os próximos decénios não vão ser fáceis: Será  uma era de guerras «eternas» e com a separação do Mundo em dois. 

A globalização será coisa de passado: Haverá circuitos separados para o comércio, tal como o intercâmbio científico, artístico e intelectual, em geral. Será bem pior de a «Guerra fria nª1» e também será diferente. Porque não será uma «guerra fria», mas uma «guerra híbrida» e constante, sem acalmias, sem períodos de negociações intensas entre os dois blocos, será uma espiral descendente em direção à barbárie e ao militarismo, dentro e fora de fronteiras.



domingo, 5 de maio de 2024

FRACASSO COMPLETO DAS POLÍTICAS AMERICANA E EUROPEIA EM RELAÇÃO À CHINA

 Jacques Baud é um experiente analista, que esteve ao serviço da contraespionagem da Suíça. Ele está muito preocupado com a deriva bélica e «infantil» dos principais atores da política estrangeira dos EUA (o judeu, Secretário de Estado dos EUA por engano, Anthony Blinken) e dirigentes da UE (o odiado e desprezado Chanceler Olav Scholz ). 

Tem uma visão das relações internacionais onde considera que as atitudes mostradas pelo Ocidente não tiveram um efeito positivo para o mesmo. Ele não tem especial simpatia pela a China comunista, mas considera que a questão de Taiwan está a ser empolada pelos EUA. Washington adotou uma estratégia completamente fora e em violação da legalidade internacional. Ele prevê, tal como aconteceu com as sanções contra a Rússia, que a política de sanções contra a China seja, afinal, incentivo para ela se modernizar ainda mais e para ser capaz de fabricar componentes que antes tinha de importar.  

As sanções só são consideradas legais, se forem decretadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Em todos os outros casos, são consideradas atos de guerra económica e de ingerência nos assuntos internos dos países sancionados. Nos últimos tempos, o «Ocidente» tem descartado completamente os instrumentos tradicionais da diplomacia, para exercer pressão através destas sanções. 

Por isso, Jacques Baud considera que os EUA e a UE deixaram de ter qualquer capacidade de diálogo com potências rivais, para apenas exercerem pressão com sanções e mesmo ameaça ou efetivação de intervenção.  O que resulta com países fracos, embora odioso, não resulta com grandes potências, que possuem armamento nuclear e têm a capacidade de viver sem comerciar com o Ocidente; casos tanto da Rússia, como  da China.

[Nota: na entrevista abaixo, podeis ligar as legendas automáticas em inglês para melhor compreensão do diálogo]




quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

DECADÊNCIA E MORTE DA «CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL»

 Quando as pessoas permitem que ocorra um genocídio em direto, sem mexer um dedo, até ficando tranquilizadas com o estribilho de que Israel «tem direito a defender-se», o que significa isso?
- Significa que os valores morais da civilização cristã e democrática desapareceram. Que as várias centenas de anos de combates pela dignidade humana, que culminaram com a titânica luta contra o nazismo e as outras formas de fascismo, se evaporaram totalmente da consciência dos povos respectivos. 
O consentir e encorajar um crime contra a humanidade em Gaza oblitera definitivamente o regime de Biden nos EUA e dos lugares-tenentes que ocupam o poder em países vassalos da OTAN. 
Na verdade, existe uma ignorância muito grande e uma ausência de curiosidade, da parte do público: Não se pode pretender participar num processo democrático ignorando tudo das políticas concretas que os dirigentes políticos levam a cabo e se propõem continuar. 
Isto não é democracia, seja qual for o critério utilizado para defini-la. Os que se permitem dar apoio, pelo voto ou por outros meios, a genocidas são também eles genocidas. Os que deixam uma ação nitidamente genocida ser levada a cabo sem mover um dedo, quando podiam fazer algo para a parar ou dificultar os planos dos criminosos são, obviamente, comparsas do crime. Os que permitem esta monstruosidade deixaram de ser humanos, tal como os executantes da mesma. Passaram a ser monstros morais, com aparência física de humanos, apenas. 

Inventam motivos falsos, falsidades óbvias, mentiras descaradas, para que as pessoas engulam e se auto-absolvam de sua total falta de coragem e de ética. É que, apesar de tudo, as pessoas sabem que massacrar inocentes - e na escala em que é feito - é uma perversão total. Os nazis cometeram muitas atrocidades contra populações civis. Hoje, membros do povo judaico, cujos avós e bisavós sofreram o Holocausto às mãos dos nazis, são executores do Holocausto do povo de Gaza. Os governos e aparatos políticos que apoiam isto, estão realmente a justificar a descida aos infernos, o mergulhar nas trevas! 

A minha surpresa é grande, embora não tivesse ilusões sobre os sistemas políticos ditos de «democracia liberal» do Ocidente. Acho que ninguém - ou quase - previu o mergulhar de tantos países em simultâneo, no que só pode ser designado por "totalitarismo de novo tipo". 

As «elites» do dinheiro que estão no poder nos países ocidentais, manipulam as consciências. Mas, certos grupos de pessoas, deveriam ser mais difíceis de manipular: professores universitários, dirigentes políticos, membros destacados de igrejas, etc. Eles não podem, pela sua própria formação, ignorar o que se passa, nem qual é o seu dever. Mas, por cobardia, porque estão bem instalados na vida, fingem que não conhecem os factos chocantes ou descartam estes, como se fossem «mentiras dos inimigos da democracia». Os piores inimigos da civilização e da democracia são eles mesmos pois falham no seu dever, são cúmplices. 

Os outros povos, não envolvidos na matriz imperial e neocolonial do «Ocidente», estão atónitos perante os comportamentos dos ocidentais. É sua convicção de que não existe outra solução, senão viverem afastados dessa minoria de países do Ocidente, perversa, contrária a Deus e aos valores cívicos que dizem defender. 

Os governos e os oligarcas ocidentais estão a isolar-se a si próprios do resto do Mundo. Porém, estão tão ébrios da sua «superioridade», que não se apercebem disto. Nada pior do que um sistema que proclama num dado momento, certos valores para logo os trair no momento seguinte. É que ele nunca teve realmente os valores que apregoa. Eram apenas adornos de retórica ou propaganda para melhor executar seus crimes.  

Não irei chorar nem uma lágrima pela «civilização» ocidental: Ela - afinal - já estava morta. Estou só à espera que se realize o funeral e que seja enterrada numa cova bem funda. 


quarta-feira, 26 de outubro de 2022

RULES BASED ORDER; O QUE É, AFINAL?


Imagine alguém que tivesse estado em hibernação durante - pelo menos - uma década, que acordasse e ouvisse a expressão que enche a boca e os altifalantes dos políticos atlantistas e globalistas de «uma ordem baseada em regras» (ou «rules based order»). Essa pessoa poderia, ingenuamente, pensar que estão a referir-se ao respeito pela lei internacional, cumprir-se acordos, tratados, ou decisões de instâncias internacionais. Nada mais longe da verdade, porém. Se o nosso personagem imaginário prestasse mais atenção, repararia que os que usam esta expressão, não a definem nunca. Nunca dizem explicitamente o que são estas regras. Nunca dão sequer um exemplo concreto do que é respeitar ou desrespeitar esta ordem. Ou dizem que a Rússia é culpada disso, mas sem explicitar porquê ela realmente a violou, e sobretudo, no concreto, o quê... Não é por acaso que isto acontece. Uns, meros papagaios, repetem o que seus donos lhes mandam dizer. Mas outros, ardilosamente, nunca irão fornecer detalhes sobre essa tal ordem e essas tais regras, pois sabem muito bem que o dono dessa tal ordem mundial (ou que pretende sê-lo) tem infringido os acordos, tratados, convenções, regras, que tem assinado com outras potências, grandes ou pequenas, aliadas ou adversárias. Os EUA e os seus vassalos da OTAN têm infringido a lei internacional, os princípios da Carta da ONU, princípios esses que são bem claros, além de terem ignorado ou cancelado acordos importantes com repercussões na paz mundial, como sejam os de controlo e redução de armamento nuclear, entre outros.
É mentira que a Rússia tenha infringido as regras da ONU, quando foi em socorro das duas repúblicas separatistas do Don, que estavam a ser submetidas pelas tropas de Kiev, a bombardeamentos em áreas civis, o que - em si mesmo - configura um crime de guerra. Ir em socorro de populações civis sujeitas a bombardeamento é lícito e defensável. Os Ocidentais, tão picuinhas em relação aos direitos humanos, quando lhes convém, para denegrir um regime de que não gostam, mostraram-se, nos oito anos que medeiam entre 2014 e 2022, totalmente indiferentes à sorte das populações do Don, maioritariamente russófonas. Os batalhões «especiais» ucranianos (Regimento Azov) e as forças armadas ucranianas, enquadradas por pessoal militar da OTAN podiam atacar, dizimar, fazer incursões nesses dois territórios, causando para cima de 15 mil mortes civis, muita destruição e em total violação dos acordos de Minsk. Estes acordos foram endossados pela Alemanha, França e Rússia, como potências externas que se encarregavam de vigiar o seu cumprimento pelas partes. O governo de Kiev mostrou logo que não tinha qualquer intenção de os cumprir, sendo este comportamento tolerado e mesmo encorajado pelos governos ocidentais (França e Alemanha e os restantes países da OTAN, implicitamente ).

Vejamos então alguns exemplos da tal "Rules Based Order":

Os EUA lançaram uma guerra contra o Afeganistão, essa sim não provocada, visto ser mentira que os ataques do 11 de Setembro tivessem sido planeados e executados a partir do Afeganistão, ou mesmo que os possíveis culpados desses ataques estivessem em solo afegão. Usaram a tática de arrasar com «carpet bombing» zonas extensas desse país, além de terem dado rédea solta às milícias dos senhores da guerra e traficantes de ópio, que cometeram atrocidades sem nome. Torturaram, os soldados e agentes americanos com a conivência de seus aliados, milhares de «suspeitos». Os esbirros da CIA e do Pentágono mataram pessoas, muitas delas completamente inocentes, em todo o mundo.

Fizeram uma guerra de extermínio com a invasão do Iraque, que causou vários milhões de mortes civis, entre elas, muitas crianças. Sua justificação foi baseada em informação falsa fornecida ao Conselho de Segurança da ONU.

Com a Líbia, foi igualmente a partir de mentiras que desencadearam uma campanha aérea bárbara, seguida de total destruição do país, entregue às diversas milícias rivais. As forças Jihadistas beneficiaram do armamento americano, por ordem de Hillary Clinton e Barack Obama, com o qual iriam depois combater na Síria, contra um governo não islâmico...


Todos estes e outros «feitos» internacionais das administrações sucessivas dos EUA, Bush, Obama, Trump e agora Biden, se fizeram à margem da legalidade internacional, sem qualquer respeito pelos civis e pelos direitos humanos, etc.
Os dirigentes dos EUA sabem que estão ao abrigo de serem acusados e julgados no Tribunal Penal Internacional de Haia: Este é uma farsa, na sua essência, visto que são julgados políticos e governantes de países fracos, como o Ruanda ou a Sérvia. Porém, está garantida «imunidade» aos militares e políticos dos EUA e, por extensão, aos seus aliados da OTAN.

Quando alguém vos falar de «rules based order», pergunte se está a referir-se a crimes de guerra, genocídios, crueldades (documentadas) dos americanos, tanto de agências civis, como de militares.
A realidade já só pode ser ocultada com artimanhas verbais. Quando isso não basta, usam a coação. As vozes que dizem a verdade são «canceladas», as pessoas dissidentes dos poderes arriscam sua segurança e integridade física. A «rules based order» dos americanos é a pirueta verbal para dizerem que «quem manda somos nós, americanos, e ai daquele que não se submeter»!

segunda-feira, 29 de abril de 2019

ESTADOS UNIDOS AMEAÇAM A PAZ MUNDIAL

Com a retoma das sanções em relação aos países que comerciassem com o Irão, entre os quais se contam a China, o Japão, a Coreia e países europeus, os EUA confirmam que querem - daqui por diante - comportar-se como «os senhores feudais globais», ditando que países podem comerciar com quem, e o quê. 

                                Washington is effectively telling Beijing to first ask for permission on which countries it and its companies can do business with. Photo: Reuters

Há alguns países que irão adoptar a postura da China, que tem uma percentagem elevada do seu abastecimento em petróleo assegurada por Teerão mas, outros, não têm os mesmos meios para se opor às imposições americanas, brutais e totalmente ilegais, face à Lei Internacional. 

Fica cada vez mais claro qual o plano subjacente dos EUA, ao terem saído do acordo multilateral (que incluía a Rússia, a China, países da UE, além dos EUA e do Irão), negociado pela administração Obama, um dos poucos sucessos diplomáticos destes últimos anos, dos EUA. 

A escalada decretada pela administração Trump está a  verificar-se no plano económico, apertando o cerco, causando dano à população iraniana, com o fim de isolar o governo do seu povo. Esta táctica, além de imoral, não resulta: vejam-se os embargos contra Cuba e Coreia do Norte, só têm permitido a consolidação destes regimes.

Mas, a referida escalada também se está a verificar no plano institucional e diplomático, com apoio incondicional a Israel, inclusive em violação de resoluções da ONU .
Por fim, está a desenvolver-se também no plano militar,  na Síria, ao incluírem as tropas de elite iranianas, os Guardas da Revolução, na categoria de «terroristas», pela administração Trump. 

No território sírio, onde permanecem bases americanas (ilegais), agora já sem o pretexto da luta contra o ISIS, tudo é feito para manter acesos os confrontos étnicos, apoiando determinadas facções contra outras. 
Israel tem efectuado ataques aéreos contra o território sírio, a pretexto de combater o Hezbollah, ou os iranianos. Estes crimes de guerra não têm a mínima legitimidade, nem são, sequer, uma resposta a qualquer movimentação agressiva daqueles contingentes, contra as posições israelitas.
Os israelitas colocam-se como agentes locais do imperialismo americano e, portanto, ameaçam e fazem sortidas destruidoras de vidas e de bens, com total impunidade. 
A ONU, relegada ao papel de fantoche, não reage, totalmente incapaz de tomar uma posição coerente, no seguimento de todos os atropelos à sua própria lei. 

Os Estados Unidos, além de serem culpados, neste século, de crimes hediondos contra a humanidade, contra populações indefesas (Afeganistão, Iraque, Líbia...), têm destruído sistematicamente todo o edifício dos acordos entre potências nucleares, laboriosamente estabelecido na época da URSS. 
Nas Nações Unidas, adoptam uma postura de cobertura permanente dos aliados, Israel e Arábia Saudita, em sistemático desrespeito pelos Direitos Humanos. 
No continente Americano têm promovido o golpe de Estado contra o governo e o povo da Venezuela, também usando a arma das sanções económicas, de maneira unilateral, 100% ilegal, face à lei internacional.

No conjunto, verifica-se que os EUA estão a preparar-se para a guerra contra aqueles que designa como seus inimigos (que são, também, inimigos de Israel): o Irão, seus aliados do Hezbollah e do governo da Síria. 

As violações sistemáticas do edifício da legalidade internacional (que os próprios EUA ajudaram a construir, no pós-IIª Guerra Mundial) são desenvolvimentos trágicos, não só pelos crimes associados a tais actos, como também pelos futuros desenvolvimentos, que prenunciam.

Com efeito, o projecto imperial e hegemónico dos EUA, sob o domínio do complexo militar-securitário-industrial, pode resumir-se à doutrina Brzezinski, o conselheiro e estratega ao serviço de várias administrações em Washington, falecido há poucos anos. 
Segundo Brzezinski, os EUA não deveriam permitir que qualquer outra potência atingisse um nível tal que pudesse tornar-se numa ameaça credível ao domínio hegemónico de Washington. Donde, segundo a sua doutrina, havia que conter sistematicamente essas nações (tratava-se da Rússia e da China, claro). 

No contexto actual, o mundo pode ser confrontado com uma guerra total. O seu desencadear poderia vir no seguimento de uma acção de desespero do Irão. Muito provavelmente, é isso que os EUA procuram. 
Por exemplo, os iranianos podem ser tentados a recorrer ao bloqueio do estreito de Ormuz, por onde passam muitos petroleiros em direcção a países asiáticos e europeus, importadores de petróleo das monarquias petrolíferas do Golfo. 
              
O agravamento do cerco e a tentativa de estrangulamento económico do Irão, significam que Washington está a provocar o adversário, para este cometer actos agressivos, em reacção a uma situação em que vê ameaçados os seus interesses vitais. Assim, os EUA e seus aliados da NATO e os Israelitas teriam um pretexto para desferir um golpe mortífero. 
Este país, com uma multi-milenar civilização, tem sido sistematicamente hostilizado, por não ser dócil em relação às multinacionais do petróleo e por não aceitar os EUA como suzerano mundial.

   

terça-feira, 26 de março de 2019

OS MONTES GOLAN, EUA E ISRAEL: MAIS UM EXEMPLO DE UNILATERALISMO




Aquando da manobra de reconhecimento por parte dos EUA de Jerusalém como capital de Israel, com anúncio de que iriam mudar a embaixada dos EUA de Tel Aviv para Jerusalém, já tinha chamado a atenção [1] para a indiferença total do actual poder em Washington, não apenas pela substância do respeito da legalidade internacional, como mesmo, da sua aparência.

Agora, fica claro que o papel da administração Trump [2] é de servir os desígnios das facções mais extremas do sionismo em Israel, em particular redourando a estrela de Natanyahu a braços com um processo por corrupção que poderá inviabilizar a sua eleição ou tomada de posse. 

O poder em Washington tem-se comportado como um apoio incondicional do governo israelita, assim como do todo-poderoso herdeiro do trono da Arábia Saudita, Mohamed Bin Salman.

 Que mensagem dão estas tomadas de posição [3], estas comprometedoras alianças, sem condições e sem contra-peso de uma legalidade internacional, expressa nas numerosas resoluções da ONU, muitas das quais subscritas por Washington?
Os parceiros e adversários dos EUA ficam claramente com a noção de que Washington se considera acima da legalidade internacional. Isto, apesar de ter sido um dos pilares da sua construção no pós-IIª Guerra Mundial. 
A outra ideia com que ficam todos, é que existem compromissos secretos, acordos que implicam estas posturas. Natanyahu ou Bin Salman por mais poderosos que sejam dentro dos seus respectivos Estados, não seriam nada sem o apoio decisivo dos EUA. 
Por outro lado, os EUA, comprometem-se - ao tomar como aliados incondicionais, esses governos - com um desempenho dos mais negativos, em termos de direitos humanos. Mas Trump e seu governo, continuam a usar a «cantilena» dos direitos humanos, como pretexto para agredir a Venezuela, ou quaisquer outros países que não se submetam ao seu «diktat».

Uma tal postura equivale a que os EUA estão a auto-sabotar a sua imagem de propaganda que gostariam de dar; a de uma nação que está preocupada com a legalidade, com a democracia e com os direitos humanos. Mas, esta arrogância não revela grande poderio, antes pelo contrário, uma grande fragilidade. 
Pode-se ver a política externa dos EUA como fortemente condicionada por Israel e pela Arábia Saudita, o que apenas mostra a sua enorme fraqueza, a sua dependência mesmo. 
- Terão Natanyahu e Bin Salman meios de pressionar Trump, de um modo tal, que este seja obrigado a «deitar às urtigas» a tal capa de respeitabilidade internacional?
 - Serão tais pronunciamentos, como a declaração relativa aos montes Golan, decorrentes do facto de Washington desejar retirar-se?
- Estaria Washington a preparar o terreno para seus aliados estratégicos da região ficarem mais fortalecidos, antes da sua retirada? 

Seja como for, as convulsões e sofrimentos [4] dos povos no Médio Oriente, quer do povo da Palestina, quer da Síria ou do Iémene, foram claramente causadas pelos EUA e por seus aliados. 
Estas guerras criminosas têm como consequência que os povos dos países da região e doutras zonas do mundo, anseiem pela queda dos EUA enquanto hiper-potência mundial, não sujeita a qualquer restrição, não respeitando leis nem direito, mas impondo pela força a sua vontade. 
Estas manifestações de arrogância («hubris») são afinal mais umas pedras para a tumba de seu suposto estatuto de «nação indispensável», de que se ufanam. 

[1] https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2017/12/jerusalem-tem-de-ser-promessa-de-paz.html

[2] http://www.informationclearinghouse.info/51329.htm

[3] https://www.asiatimes.com/2019/03/article/us-golan-move-turns-1967-setback-into-reality/

[4] https://www.zerohedge.com/news/2019-03-25/israeli-airstrikes-rock-gaza-target-hamas-command-after-netanyahu-cut-short-us-trip

segunda-feira, 11 de março de 2019

CONFLITO DO NOSSO TEMPO: IMPERIALISMO DOS EUA CONTRA LEGALIDADE INTERNACIONAL


Traduzido por Manuel Baptista para Observatório da Guerra e do Militarismo

Por Nicolas J S Davies


O mundo enfrenta muitas crises sobrepostas: crises políticas regionais do Caxemira à Venezuela; guerras brutais que assolam o Afeganistão, a Síria, o Iémene e a Somália; e os perigos existenciais das armas nucleares, das alterações climáticas e da extinção das espécies em massa.
Mas por baixo da superfície de todas essas crises, as sociedades humanas sofrem dum conflito subjacente e não resolvido sobre quem ou o quê governa o mundo e quem é que deve tomar as decisões críticas sobre como abordar estes problemas – ou até, se eles serão de todo abordáveis. A crise subjacente de legitimidade e de autoridade, que torna tantos dos nossos problemas quase de resolução impossível, é o conflito entre o imperialismo dos EUA e a legalidade.

Imperialismo, significa que um governo dominante exerce soberania sobre outros países e povos do mundo, tomando as decisões críticas sobre como devem ser governados e em que tipo de sistema económico estes deverão viver.
Por outro lado, o nosso sistema em vigor, de legalidade internacional, baseado na Carta da ONU  e noutros tratados internacionais, reconhece as nações como independentes e soberanas, com direito fundamental a governarem-se a si próprias e a negociarem livremente acordos sobre suas relações políticas e económicas, umas com as outras.  Segundo a lei internacional, os tratados multilaterais que tenham sido assinados e ratificados por larga maioria de nações, tornam-se parte estrutural da lei internacional, sendo vinculativa para todos os países, do mais pequeno ao mais poderoso.

Num artigo recente, “The Hidden Structure of U.S. Empire,” [A Estrutura Oculta do Império dos EUA], explorei algumas das maneiras pelas quais os EUA exercem o seu poder imperial sobre outras nações nominalmente soberanas, independentes, assim como sobre seus cidadãos.  Citei um estudo etnográfico de Darryl Li sobre suspeitos de exercerem terrorismo na Bósnia às ordens dos EUA, que revelava um sistema em várias camadas de soberania, em que as pessoas pelo mundo fora, não apenas são sujeitas à soberania dos seus países, mas também a uma tentacular soberania extraterritorial do império dos EUA.

Descrevi como Julian Assange, encerrado na embaixada do Equador em Londres e a executiva da Huawei, Meng Wanzhou, detida enquanto mudava de avião no aeroporto de Vancouver, são vítimas da mesma soberania  extraterritorial dos EUA, e tal como as centenas de «suspeitos de terrorismo» que as forças dos EUA raptaram e que foram levadas para prisões como de Guantanamo Bay e outras, para uma detenção indefinida e extralegal.

Embora o trabalho de Darryl Li  seja de grande valor, ao revelar as camadas de soberania realmente existentes, através das quais os EUA exercem o seu poder imperial, o imperialismo é muito mais do que um exercício de captura e detenção de pessoas noutros países. Muitas das crises internacionais actuais são resultantes desse mesmo sistema de soberania extraterritorial, tentacular, do império dos EUA.

Todas as actuais crises servem para demonstrar como é que os EUA exercem o seu poder imperial, como é que isto entra em conflito e sabota a estrutura da lei internacional, penosamente desenvolvida para a resolução das questões internacionais no mundo moderno, e como esta crise de legitimidade subjacente nos impede de resolver os nossos problemas mais graves neste século XXI, portanto, ficando todos nós em risco.


As Guerras Imperiais dos EUA Desencadeiam Violência no Longo Prazo e Caos

A Carta da ONU foi redigida no fim da IIª Guerra Mundial para prevenir a repetição da sangria em massa e do caos das duas Guerras Mundiais. O arquitecto da Carta da ONU, o presidente dos EUA Franklin Roosevelt, já tinha morrido, mas os horrores da guerra global estavam suficientemente frescos nas mentes dos líderes, para garantir que aceitavam que a paz era a condição essencial nos assuntos internacionais e o princípio fundador das Nações Unidas.
O desenvolvimento das armas nucleares mostrou a possibilidade duma guerra mundial futura destruir completamente a civilização humana e que portanto, nunca deveria ter lugar. Como disse Albert Einstein numa famosa entrevista, «Não sei como é que a Terceira Guerra Mundial será combatida, mas posso dizer-lhe o que vão usar na Quarta: pedras!»
Os líderes mundiais puseram então as suas assinaturas na Carta das Nações Unidas, um  tratado vinculativo, proibindo a ameaça ou o uso da força de um qualquer país contra outro qualquer. O Senado dos EUA tinha aprendido a lição amarga de recusar assinar o tratado da Liga das Nações, após a Primeira Guerra Mundial, votou pela ratificação da Carta da ONU sem reservas, por 98 votos contra 2.
Os horrores das guerras da Coreia e do Vietname foram ocasião de distorção da proibição do uso da força na Carta da ONU com forças da ONU ou dos EUA, lutando a «defender» novos Estados neo-coloniais, talhados a partir das ruínas do colonialismo japonês ou francês.

Mas após o fim da Guerra Fria, os líderes dos EUA e os seus conselheiros sucumbiram àquilo que o ex-presidente soviético Mikhail Gorbachev refere agora como o  “triunfalismo do Ocidente,”  a visão imperial dum mundo «unipolar» dominado, de facto, pelo único «super poder», os Estados Unidos. O império dos EUA expandiu-se economicamente, politicamente e militarmente, em direcção à Europa de Leste e os membros do governo dos EUA acreditavam que podiam finalmente «conduzir operações militares no Médio Oriente, sem terem de se preocupar com um desencadear da Terceira Guerra Mundial», como Michael Mandelbaum do Conselho para as Relações Exteriores declarava em 1990.

Após uma geração, os povos do Médio Oriente podiam ser perdoados por pensarem que estão de facto a sofrer a experiência da Terceira Guerra Mundial, visto que invasões sem fim, campanhas de bombardeamentos e guerras por procuração têm reduzido cidades inteiras, vilas e aldeias a ruínas e matado milhões de pessoas  no Iraque, Afeganistão, Paquistão, Somália, Líbano, Palestina, Líbia, Síria e Iémene – sem um fim à vista, após 30 anos de guerra, sempre se espalhando, com toda as suas violências e caos.

Nenhuma das guerras levadas a cabo pelos EUA após o 11 de Setembro de 2001 foi autorizada pelo Conselho de Segurança da ONU, tal como a Carta da ONU o exige, o que quer dizer que, ou violaram a Carta das Nações Unidas, como o Secretário Geral Kofi Annan admitiu no caso do Iraque, ou violaram os termos explícitos das resoluções do Conselho de Segurança, como no caso do mandato UNSCR 1973  para um «cessar-fogo imediato», um estrito embargo de armas e a exclusão duma «força de ocupação estrangeira sob qualquer forma” na Líbia, em 2011.

Na realidade, embora os lideres imperialistas dos EUA costumem usar o Conselho de Segurança da ONU para enfeite dos seus planos bélicos, arrogam-se o direito de tomar decisões sobre a guerra e a paz, por si próprios, usando argumentos políticos para justificar guerras que não têm um fundamento legal real, face à lei internacional.

Os líderes dos EUA mostram o mesmo desdém pela Constituição dos EUA, que têm para com a Carta e as resoluções da ONU. Tal como escreveu James Madison a Thomas Jefferson em 1798, a Constituição dos EUA «com prudente cuidado entregou a questão da guerra ao corpo legislativo», precisamente para evitar os tais abusos perigosos, quando o poder de decretar a guerra é exercido pelo ramo executivo do governo.

Mas, passaram-se décadas de guerra e milhões de mortes até que o Congresso dos EUA tivesse invocado a Lei dos Poderes de Guerra durante a guerra do Vietname, para que fizesse uso da sua autoridade constitucional para parar tais guerras ilegais e inconstitucionais. O Congresso, até agora, limitou-se à guerra do Iémene, em que a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos (EAU) são os agressores principais e os EUA desempenham um papel de apoio, embora vital para esta guerra. Com um dos seus na Casa Branca, a maior parte dos congressistas republicanos continua a resistir, até mesmo a esta afirmação limitada de autoridade constitucional do Congresso.

Entretanto, uma proposta de lei, HR 1004, do representante Cicilline, para confirmar que o presidente Trump não possui autoridade constitucional para ordenar o uso de força militar dos EUA na Venezuela, tem apenas 52 subscritores (50 democratas e 2 republicanos). O senador Merkley introduziu uma lei semelhante no Senado, a qual aguarda ainda o seu primeiro co-signatário.

Os debates políticos que ocorrem nos EUA sobre a guerra e a paz, ignoram a realidade legal da Carta da ONU, antecedida pela “Renúncia em Fazer a Guerra Como Instrumento de Política Nacional” no Pacto de Kellogg-Briand de 1928 e a proibição de levar a cabo uma agressão da lei internacional comum, todas elas proibindo que os EUA ataquem outro pais. Em vez disso, os políticos dos EUA debatem vantagens e inconvenientes de um ataque dos EUA sobre um dado país, apenas em termos do interesse dos EUA e na sua forma redutora de pesar os prós e os contras políticos de uma situação. 

Os EUA utiliza a guerra de informação para diabolizar governos estrangeiros  e a guerra económica  para desestabilizar as nações escolhidas, para gerar crises políticas, económicas e humanitárias que possam servir de pretexto à guerra, tal como o mundo tem visto, de um país para o outro; agora, como podemos testemunhar com a Venezuela.
Isto são claramente acções e políticas de um poder imperial, não de um país soberano, agindo no respeito pela lei internacional.


Cortando O Ramo No Qual Estamos Sentados

Não passa uma semana sem que novos estudos revelem aspectos antes não mencionados da crise ambiental, que a espécie humana e o mundo em que vivemos, enfrentam. A totalidade das espécies de insectos pode ficar extinta dentro de um século, com a possível excepção das baratas e das moscas domésticas, desencadeando o caos ecológico pois as plantas ficarão não polinizadas, as aves e outros seres irão sofrer após o desaparecimento dos insectos o mesmo destino de extinção em massa. Metade das populações terrestres de mamíferos, peixes e répteis já desapareceu nos passados 40 anos.

As alterações climáticas podem provocar uma subida do nível do mar de seis ou oito pés, neste século – ou serão 20 ou 30 pés? Ninguém pode saber, ao certo. No momento presente, já é demasiado tarde para preveni-lo. Um recente artigo de Dahr Jamail em Truthout, intitulado “Estamos a Destruir o Nosso Sistema de Sustentação da Vida” é uma boa revisão daquilo que realmente sabemos.

De um ponto de vista prático, tecnológico, a transição necessária para energias renováveis das quais pode depender a nossa sobrevivência, é inteiramente realizável. Então o que impede o mundo de levar a cabo esta transição crítica?
Os cientistas compreendem os aspectos básicos do aquecimento global induzido pelos humanos desde os anos 1970. A Convenção Sobre Alterações Climáticas das Nações Unidas (UNFCCC) foi negociada em 1992 na Cimeira da Terra de Rio e rapidamente, com cortes maiores impostos aos países desenvolvidos que são os mais responsáveis pelo problema. Mas há um país ausente: os Estados Unidos. Somente os EUA, Andorra e o Sudão do Sul não ratificaram o Protocolo de Quioto, aos quais se juntou o Canadá, que se retirou deste em 2012.

Muitos países desenvolvidos reduziram substancialmente as suas emissões de carbono aquando da primeira etapa do Protocolo de Quioto e a  Cimeira de Copenhaga de 2009  foi planeada para elevar a estrutura legal, no seguimento de Quioto. A eleição de Barack Obama levou muitos a acreditar que os Estados Unidos, a nação historicamente responsável por maior quantidade de emissões de carbono, iria finalmente unir-se ao plano global para resolver este problema.

Em vez disso, a condição para a participação dos EUA foi a insistência em objectivos não-vinculativos, voluntários em vez dum tratado com obrigação de cumprir as metas. Então, enquanto a União Europeia (UE), a Rússia e o Japão apontaram objectivos de reduções da ordem de 15-30% sobre seus níveis de emissões em 1990, para 2020 e a China apontou para uma redução de 40-45% das suas emissões em 2005, os EUA e o Canadá apenas se comprometeram a reduzir de 17% as suas emissões, em relação aos níveis de 2005. Isto significa que o objectivo dos EUA era cortar apenas de 4% suas emissões relativamente ao seu nível de 1990, enquanto quase todos os países desenvolvidos apontavam para níveis de 15-40%.

Acordo Climático de Paris baseava-se no mesmo modelo de objectivos voluntários, não-obrigatórios, tal como o Acordo de Copenhaga. Com a fase final do Protocolo de Quioto expirando em 2020, nenhum país terá qualquer obrigação internacional de reduzir as emissões de carbono. Os países e povos genuinamente empenhados na transição para formas de energia renovável estão a avançar, enquanto os outros não estão. A Holanda aprovou uma lei exigindo que as emissões de carbono sofram uma  redução de 95% dos seus níveis de 1990, em 2050, e decidiu banir  a venda de carros a gasolina e a diesel após 2030.  Entretanto, nos EUA as emissões de carbono apenas desceram de 10% desde que atingiram um máximo, em 2005 e – mesmo – chegaram a subir de 3.4% em 2018.

Tal como as leis internacionais que proíbem a guerra, os EUA recusam ficar obrigados por acordos internacionais relacionados com as alterações climáticas. Têm usado do seu poder imperial para dificultar acções internacionais relativas ao clima a cada passo, para preservar ao máximo do tempo possível, a economia baseada em combustíveis fósseis. O «fracking» e o petróleo de xisto foram largamente expandidos no seu território e elevam a produção para níveis recorde, gerando ainda mais gases de efeito de estufa que os métodos tradicionais de exploração de petróleo e de gás.

As políticas ambientais destrutivas, possivelmente suicidas, são racionalizadas pela sua ideologia neoliberal, que eleva «a magia do mercado» a um quase-religioso artigo de fé, escudando as políticas e a economia nos EUA de qualquer aspecto da realidade, que colida com os interesses estreitos das corporações, cada vez mais monopolistas e do 1%, a classe no poder, representada pelos Trump, Obama, Bush e Clinton.

No corrupto «mercado» da politica e dos media dos EUA, os críticos do neoliberalismo são menosprezados como ignorantes e heréticos; os 99%, o tal «povo Americano» tão aclamado, são tratados como sujeitos inferiores destinados a serem passivamente conduzidos como rebanho, da TV à câmara de voto, ao Walmart (ou ao Whole Foods)  e – de vez em quando – à guerra. A bolha do mercado de acções prova que tudo vai bem, enquanto a economia neoliberal destrói o mundo natural cuja real magia nos sustenta a todos.

O imperialismo EUA é portador e disseminador do vírus do neoliberalismo aos quatro cantos da Terra, ao ponto de destruir o mundo natural que nos sustenta a todos: o ar que respiramos; a água que bebemos; o solo que produz o nosso alimento; o clima que torna o nosso planeta habitável; e as extraordinárias criaturas como nós que até agora, têm partilhado e enriquecido o mundo onde vivemos.


Conclusão

Tal como Darryl Li observou  nos casos dos suspeitos de terrorismo que estudou, os EUA exercem uma soberania imperial, extensa, extraterritorial.  Não reconhecem limites geográficos permanentes à sua soberania imperial. Os únicos limites que o império dos EUA aceita, contrariado, são os limites práticos que países fortes conseguem estabelecer, ao defenderem-se contra o peso daquele poder.

Mas os EUA trabalham sem descanso para continuar a expandir a sua soberania imperial e diminuir a soberania dos outros, para fazer tombar a balança do poder ainda mais a seu favor. Eles obrigam cada país, que queira defender qualquer aspecto de sua soberania ou independência em contradição com os interesses comerciais ou geo-estratégicos dos EUA, a lutar pela sua soberania a cada passo do seu caminho.

Isto vai desde as pessoas que, no Reino Unido resistem às importações vindas dos EUA, de carne com hormonas e de frangos clorinados e à privatização por etapas do seu Serviço Nacional de Saúde, pela indústria de «saúde» dos EUA, até às lutas do Irão, da Venezuela e da Coreia do Norte para travarem ameaças específicas de guerra dos EUA, que entram em flagrante violação da Carta da ONU.

Para onde quer que olhemos no nosso mundo conturbado, para questões de guerra e paz ou para a crise ambiental, ou outros perigos que enfrentamos, encontramos sempre presentes estas duas forças e sistemas: o imperialismo dos EUA e a lei internacional, em conflito um com o outro, procurando obter o direito e o poder de tomar decisões, que irão moldar o nosso futuro. Ambos reclamam implícita ou explicitamente uma universalidade que nega a autoridade do outro, o que os torna mutuamente incompatíveis e inconciliáveis.

Então aonde isto leva? Aonde pode possivelmente levar?  Um sistema tem de ceder perante o outro, se quisermos resolver os problemas existenciais que a humanidade enfrenta no século XXI. O tempo é curto e não restam dúvidas sobre qual o sistema que oferece possibilidades ao mundo de ter um futuro de paz e sustentável.


Nicolas J S Davies é o autor de Blood On Our Hands: the American Invasion and Destruction of Iraq. É um investigador para CODEPINK e um escritor «freelancer», cujo trabalho tem sido publicado numa série de órgãos de comunicação independentes, não corporativos.