quinta-feira, 19 de setembro de 2019

A FRAGILIDADE DO SISTEMA FICOU EXPOSTA


Uma perturbação numa refinaria, por mais importante que seja, não vai causar uma carência de petróleo ao nível do mercado global. Os sauditas garantem que o nível de produção voltará ao normal até ao fim do mês. Mesmo que a afirmação seja um bocado optimista, não é nada que tenha uma repercussão planetária no mercado do crude ou do petróleo refinado. 
Então, por que razão os mercados, não apenas dos combustíveis, mas também os mercados financeiros estão em estado pré-comatoso?
Por que razão há um quase congelamento do mercado «overnight» de empréstimo entre os bancos, que causa a intervenção do banco central dos EUA (a FED)? 
- Sabe-se que a FED despejou nos bancos (através de um «bail-out» que não se confessa como tal) em 3 dias sucessivos, muitos biliões de dólares para fornecer liquidez ao mercado de empréstimo interbancário...

Isto revela a gravidade da situação: Porque é muito anómalo o comportamento da FED.  
A explicação que encontro para este pânico interno (ignorado do «grande público», pois a media corporativa faz bem o seu miserável papel de DESinformar as massas), é o seguinte:

- Os bancos encontram-se quase insolventes em circunstâncias normais e podem rapidamente passar a estar mesmo insolventes, ao contrário do que o público é informado e do que os responsáveis dão a entender. 
Mas, se um «cisne negro» atingir o sistema financeiro global, estes bancos ficam em apuros. 
O sistema está, neste momento, em apuros porque o petróleo subiu em flecha, muito para lá das expectativas de muitos investidores e especuladores, inclusive dos peritos que trabalham nos bancos sistémicos
Ora, a quantidade (nos EUA e internacional) de empréstimos e de alavancagem sobre esses mesmos empréstimos, à indústria do petróleo de xisto é avassaladora
O processo de extracção de petróleo do xisto é intrinsecamente um processo não rentável; são necessárias mais unidades de energia para extrair gás ou petróleo de xisto do que as quantidades respectivas obtidas são capazes de fornecer. A rentabilidade aparente resulta de operações financeiras, que consistem em fazer o público, em última instância, financiar os projectos, através de obrigações. 
Estas são negociadas nos mercados e usadas para originar complexos produtos derivados. Uma engenharia financeira dos bancos, tendo rentabilidade somente para eles e para os poucos negócios de exploração de petróleo de xisto que não fizeram falência.  
Para que esta indústria do petróleo de xisto seja financiada, uma montanha de empréstimos tem de ser colocada nos mercados: o juro dos empréstimos é que vai variar, ao sabor dos mais diversos acontecimentos no mundo, incluindo as guerras. 
Ora, se um «cisne negro» surge, como foi o caso há dias, abrindo-se a possibilidade de uma guerra contra o Irão, todas as «apostas» (que são, afinal de contas, os derivados) vão estar completamente desequilibradas:  É como se num jogo Benfica -  Belenenses, este segundo clube tivesse a vitória. Seria algo tão inesperado, que somente alguns adeptos mais fiéis do clube de Belém teriam apostado nele.
Portanto, muitas apostas terão sido perdidas  (neste caso, devido ao aumento súbito do petróleo) causando uma enorme drenagem de liquidez no sistema (para pagar as tais apostas, muitos activos financeiros terão sido vendidos).     

A fragilidade do sistema financeiro é enorme, o que equivale a dizer a fragilidade do capitalismo dos nossos dias. Sim, o sistema está à mercê de um grupo de guerrilheiros suficientemente determinado para atingir um órgão vital (a refinaria saudita, a maior refinaria do mundo) ou uma artéria principal (o estreito de Ormuz). 

             

Hoje, são os Houthis, amanhã, quem sabe?

Esta é a realidade: aquilo que a «filtragem» da media corporativa não permite que o público  perceba, neste imbróglio. 

Quer isto dizer que os EUA vão para a guerra ou vão recuar e não atacarão o Irão? 
-Não faço a menor ideia, agora. 
Porém, sei que é muito fácil desencadear uma guerra... mas, os que a desencadeiam não sabem qual será o seu desfecho.  

7 comentários:

Manuel Baptista disse...

Esclarecedor artigo por Pepe Escobar, vem em:
https://www.asiatimes.com/2019/09/article/how-the-houthis-overturned-the-chessboard/

Manuel Baptista disse...

As dificuldades de liquidez são persistentes:
https://www.zerohedge.com/markets/fed-begins-repo-operation-funding-rates-ease

Manuel Baptista disse...

Vejam a entrevista dada pela Lynette Zang: https://www.youtube.com/watch?time_continue=30&v=fkOo3THodL8

Manuel Baptista disse...

https://www.youtube.com/watch?v=lJEHuzfIotA

Os bancos dos EUA continuam a ter problemas de liquidez e a FED continua a fornecer 75 biliões de dólares, não apenas nas 4 vezes passadas, mas todos os dias até 10 de Out. !!!

Manuel Baptista disse...

O artigo seguinte confirma plenamente a minha análise; http://www.unz.com/pcockburn/the-saudi-arabia-drone-attacks-have-changed-global-warfare/

Manuel Baptista disse...

https://www.youtube.com/watch?v=6EjXQwEC1b0 Sannat confirma as linhas de força da minha análise

Manuel Baptista disse...

O esquema de Ponzi do petróleo de xisto está a rebentar:
https://www.zerohedge.com/energy/capital-flight-killing-us-shale-boom