Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.
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terça-feira, 19 de setembro de 2023

MANOBRAS SOBRE COTAÇÃO DO OURO E CRISE DO IMOBILIÁRIO DE ESCRITÓRIOS [Pierre Jovanovic]



 A media mainstream e o lixo internet- que costumam encher os ecrãs para satisfazer a procura dum público sempre ávido de noticiário económico e financeiro- são capazes de (quase) anular estas notícias. Felizmente, existem alguns jornalistas independentes e corajosos, como Pierre Jovanovic. Ele faz revistas de imprensa totalmente esclarecedoras e baseadas sobre os dados da imprensa mainstream, em grande parte. 
- Então qual é a vantagem delas? É que com estes resumos, ficas com uma panorâmica do que se passa. Isto não está bonito de se ver, logo os jornalistas e os «analistas» vendidos ao capital, fazem constantes piruetas verbais para nos convencer de que «as coisas, afinal, não estão assim tão mal como dizem!»
 No entanto, o BCE - e muitos outros bancos centrais - vão comprando ouro às toneladas, com a maior discrição. É sinal de que sabem muito bem que a inflação vai acelerar e muito: Eles não têm outra solução, senão acelerar a impressão monetária. Caso contrário, os Estados não poderiam dar a ilusão de serem solventes! 
Muitos outros tópicos são cobertos por esta revista de imprensa de Pierre Jovanovic. Não deixe escapar esta oportunidade de se informar do que está a acontecer, realmente!

terça-feira, 29 de agosto de 2023

ALASDAIR MCLEOD: PROTEGENDO-SE DO FIM DAS DIVISAS FIAT

https://www.goldmoney.com/research/hedging-the-end-of-fiat


Do artigo de A. McLeod:

«Ao se discutir a aplicabilidade de bitcoin enquanto dinheiro, a sua inadequação como meio a partir do qual o crédito toma o seu valor foi mencionado e, também, que os entusiastas não tiveram em conta essa função essencial. De facto, a criação de crédito bancário é vista por muitos, quer no campo dos defensores do ouro, quer das cripto-divisas, como um mal e portanto, dizem que um dos benefícios principais do bitcoin é de nos vermos livres dos criadores do crédito. Os que seguem esta linha de raciocínio, falham na compreensão de que todo o dinheiro e as obrigações de pagá-lo, são de facto crédito, pois representam o armazenamento provisório de produção não consumida.  Porque todo o nosso consumo tem origem na produção, logo o meio de troca, seja ele qual for, é um meio de intermediação.

Existem duas distintas formas deste crédito, uma que não implica contrapartida (garante) e que existe apenas sob forma de ouro,  prata ou cobre, que são amoedados por conveniência. Não pode ser outra coisa, se excluirmos a troca direta (barter). O termo adequado para as moedas é dinheiro, para o distinguir das promessas de pagamento (em dinheiro) em data futura, o que se designa por crédito. »



PS.1: Um artigo de 04/09/2023, dá-nos uma panorâmica do ouro, enquanto padrão monetário, sendo particularmente interessante os detalhes sobre os erros cometidos durante o século XIX e as perspetivas dum futuro padrão-ouro, deste servir como reserva, garantindo a solidez das divisas:

domingo, 16 de julho de 2023

CRÓNICA ( Nº14 ) DA IIIª GUERRA MUNDIAL

                             


Temos de aceitar uma vez por todas que, apesar da guerra na Ucrânia ser uma carnificina como não houve muitas, o cenário principal desta Terceira Guerra Mundial joga-se em planos muito diferentes do mero confronto militar. É um confronto total: Nada mais óbvio, a meu ver, que a luta de uns (BRICS e associados) para arrancarem a hegemonia do dólar, por um lado. Por outro, os EUA e seus aliados, a fazerem tudo para guardar essa hegemonia, incluindo - mas não exclusivamente - através da guerra «cinética» ou dita convencional, fazendo pairar a ameaça de guerra nuclear.

 (Ver minhas crónicas anteriores: Crónica Nº13 da IIIª GUERRA MUNDIAL)

Li alguns artigos (ver links em baixo) e tentei resumir, neste escrito, o que aprendi com eles.



Alasdair Macleod chama-nos a atenção para o anúncio - feito pela Rússia - de que estaria para breve uma nova divisa, da responsabilidade dos BRICS, que seria apoiada no ouro. Os media ocidentais, tentaram - como de costume - ignorar ou minimizar a importância deste passo, anunciado para ser oficializado dentro de tempo muito breve, na cimeira dos BRICS de Johannesburg. Os BRICS,  entretanto, vão-se alargando, a sua estrutura está a fazer a junção com outras instituições da globalização «alternativa», a Organização de Cooperação de Xangai e a União Económica Euroasiática. Trata-se - nada menos - da maioria da Ásia (incluindo países do Médio-Oriente), além de países de África e América Latina. Ao todo, serão uns 61 países (se a minha contagem está certa), a formarem este novo bloco, em torno do núcleo inicial dos BRICS.

A segunda peça, é de autoria de Marcel Salikhov, o diretor do Centro de Peritagem Económica da Escola Superior de Economia de Moscovo, inicialmente publicada no Valdai Discussion ClubEste documento lê-se como sendo uma planificação estratégica para acabar com a hegemonia do dólar. O autor di-lo, sem esconder os objetivos, com a segurança de alguém que sabe ter apoio e colaboração dum conjunto de especialistas monetários de vários países. Estes países constituíram a «Grande Aliança Informal»  que se alargou e consolidou, perante a constatação de que os EUA e seus vassalos não hesitavam em deitar pela borda fora as «regras internacionais», como as do FMI e do Sistema Monetário Mundial (Por ex.: O estatuto especial dos bancos centrais e dos seus ativos), ou a utilização de sanções unilaterais como meio de chantagem política sobre regimes não afetos aos senhores hegemónicos (Aliás, indo contra o espírito e a letra dos tratados da ONU e da OMC).  

Quem quiser, pode compreender -pela leitura do artigo - quais os passos propostos para a derrota do dólar enquanto instrumento bélico, usado para subjugar os Estados, exercendo sobre eles uma chantagem permanente, com o abuso do seu estatuto de «moeda de reserva».

Finalmente, o artigo do jornal on-line britânico Off-Guardian, por Riley Waggaman, correspondente em Moscovo. O rublo digital nasceu oficialmente, tendo a Duma (o parlamento russo) votado a lei na Terça-feira passada (a 11 de Julho de 2023). Note-se - de passagem - o silêncio, a falsa indiferença da media corporativa

O que me parece importante fazer sobressair é que este lançamento do rublo digital não é desgarrado, mas coordenado com o lançamento sob forma digital duma divisa própria dos BRICS. A China, por sua vez, já possui instrumentos técnicos para lançar o Yuan digital em grande escala. Já o fez, a nível experimental, em várias províncias.

Quem está imbuído de conceitos keynesianos, ou deles derivados, tem tendência a desprezar o papel monetário do ouro. Porém, agora, o ouro surge «em todo o seu esplendor». Qualquer país que queira aderir ao «novo clube», quer use um nome novo, ou o nome tradicional da sua divisa própria, precisa de ter um certo grau* de cobertura em ouro nas suas reservas bancárias. Isto tem  a sua lógica: Os países podem fazer comércio entre si usando moedas nacionais respetivas; mas, as trocas deverão ser periodicamente ajustadas pois, por coincidência somente, o valor das exportações dum país, cobriria exatamente o valor das importações do outro. 

[* Não se trata de convertibilidade automática em ouro, dum padrão-ouro como existiu no séc. XIX, até à Iª Guerra Mundial (1914-1918): Nessa época, as notas de banco eram literalmente certificados de ouro. O seu possuidor tinha direito de as trocar pela quantidade correspondente em ouro ao balcão dum banco comercial.]

O resultado de os membros, e da própria organização dos BRICS alargada, terem a sua divisa comum e as divisas digitais dos vários países (rublo, yuan, ...) com o «backing» do ouro, é que esvaziam as moedas digitais  que os países ocidentais pretendem lançar como versões digitais das divisas «fiat». Estas últimas, não são garantidas por nada, a não ser pela «confiança» nos bancos centrais e nos governos que as emitem!


ARTIGOS EM QUE ME BASEEI:

https://www.goldmoney.com/research/the-bell-tolls-for-fiat

https://www.informationclearinghouse.info/57678.htm

https://off-guardian.org/2023/07/15/the-digital-ruble-its-finally-here/


PS1 : Nomi Prins, em entrevista ao KWN, reforça os aspetos da mudança tectónica, referida no meu artigo acima. Veja e leia:

https://kingworldnews.com/nomi-prins-just-warned-what-is-about-to-be-announced-will-shock-the-world/



sexta-feira, 23 de junho de 2023

Descobertas gravuras atribuídas a Neandertais, com 57 mil anos

 https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0286568


               thumbnail

Acima, um dos painéis com traçados de dedos; em baixo, o desenho esquemático da mesma gravura da gruta de La Roche-Cotard

[Ler o artigo, clicando no link acima; o meu comentário parte do princípio que os leitores tomaram conhecimento do seu conteúdo primeiro]



Comentário

Os Neandertais têm estado por cá (em toda a Europa, desde a Península Ibérica ao limite oriental dos Urais e, para além destes, na Sibéria; no Médio Oriente, desde o Levante/Israel, até ao Iraque) nos últimos 200 mil anos, tendo saído de África muito antes do «Homem Moderno Antigo» (ou seja, a nossa espécie Homo sapiens). Eles conseguiram sobreviver a períodos de glaciação, a modificações acentuadas do habitat e tiveram tempo de se adaptar a climas de um frio extremo, como mostram a sua anatomia entroncada, muito musculosa, o seu nariz grande (para aquecer o ar inspirado), etc. 

Segundo os padrões de beleza contemporâneos (e da antiguidade clássica) eles não seriam elegantes. Foram classificados como «sub-humanos» por arqueólogos e paleontólogos do século XIX, que estavam muito mais preocupados em encontrar «o elo perdido» entre o homem e o macaco, do que em avaliar objetivamente os restos fossilizados e as culturas que correspondiam aos Neandertais. 

O facto de que os homens nessa zona da Europa, na época em causa ( -57 mil anos) só podiam ser Neandertais tem a ver com a extrema dificuldade dos H. sapiens conseguirem colonizar o continente Euro-asiático. Com efeito, sabe-se hoje, que o «Homem Moderno Antigo», embora surgido primeiro em África, por volta de 300 mil anos atrás,  não ocupou definitivamente a Europa senão vários milénios após a referida data de 57 mil anos antes do presente. Porém, tinha havido 2 colonizações anteriores, do continente euroasiático pelo H. sapiens, que não deixaram continuidade. Eles tomaram o caminho do Mar Vermelho e não do Mediterrâneo.

Os vestígios europeus mais antigos de arte parietal, como na Gruta de Chauvet, atribuídas ao Homo sapiens, datam de 35 mil anos. No Norte da Espanha, na Gruta del Castillo, existem pinturas parietais datadas com mais de 40 mil anos; pensa-se que, nessa época, somente neandertais aí habitavam. Noutros pontos da Península Ibérica, são abundantes sítios arqueológicos, com artefactos e restos fossilizados de neandertais, que revelam a sua grande difusão nesta península. Mas, também são conhecidos exemplares de neandertais na Sibéria e noutros pontos distantes.

Este estudo - agora publicado - vem na sequência de trabalhos anteriores, que já tinham revelado muitos elementos de cultura neandertal. Pessoalmente estou convencido que estas descobertas  [que se vêm juntar às de misteriosas pinturas parietais em vários pontos da Península Ibérica e com indícios de ornamentação corporal, como conchas com vestígios de ocre (para pintar o corpo) assim como restos fossilizados de penas (de aves de grande porte, como águias e abutres) ] obrigam a comunidade científica a alargar o conceito de arte paleolítica.

A arte - em geral - pode ser vista segundo dois prismas, essencialmente: 

 ou é vista como representação do real. Isto inclui o sobrenatural, pois ele é considerado real pelo artista que o representa.

ou é vista como signo, como sinal, como mensagem codificada; a pertença a um clã, a uma tribo, será identificável com os sinais exclusivos desse clã ou tribo. 

Isso existe na nossa espécie o Homem Moderno, desde o princípio, visto que as grutas decoradas do paleolítico, estão cheias de sinais «abstratos» , mas que não são arbitrários, pois se repetem (alguns, apresentam-se em locais distantes, no tempo e no espaço). 

Na espécie nossa estreita parente, Homo neanderthalensis, suas condições de vida foram muito mais rudes, durante boa parte da sua existência no continente europeu. Não é difícil compreender que estavam forçados pela natureza do clima (de tipo peri-ártico; de tundra) a deambularem de sítio para sítio, ficando em cavernas ou abrigos temporários, sem continuidade, quanto muito visitando, ano após ano, determinados locais.  Lembro também que os locais mais ricos em imagens e gravuras no paleolítico superior (ex. Na gruta Chauvet), estão nos locais mais recônditos das grutas. Por vezes, são quase inacessíveis: seria uma prova tremenda se aventurar no seu interior, segurando apenas lamparinas com gordura, para se iluminarem. 

A representação não é - de qualquer modo - um critério para se avaliar o grau de desenvolvimento duma cultura. Basta lembrar que existem tabus (proibições religiosas) em sociedades como as islâmicas, em representar figuras de humanos ou de animais. Evidentemente, estas sociedades não estão num «estádio menos avançado» de desenvolvimento, por comparação com aquelas onde a representação do humano não é tabu. 

Analogamente, a «superioridade» do Homo sapiens sobre o neanderthalensis é apenas um efeito de nos projetarmos a nós próprios no cume, a realização máxima da Evolução. Como biólogo, estou consciente de que houve um conjunto muito diferente de circunstâncias, nomeadamente para as duas espécies: Um clima peri-ártico do habitat dos neandertais e um clima tropical ou de savana africana, nos sapiens que migraram para a Europa. 

O que se pode esperar em populações longamente separadas, submetidas a diferentes pressões ambientais, senão que divirjam como consequência da sua adaptação e tenham portanto traços anatómicos próprios e também comportamentos, incluindo tradições culturais? Homo neanderthalensis e H. sapiens viveram em quase total separação entre -300 mil anos (a data aproximada de aparecimento do homem moderno, em África) e cerca de -45 mil anos (aproximadamente, o  encontro das duas populações no Levante). São 255 mil anos de separação, no mínimo, ou seja, cem vezes o intervalo temporal desde a antiguidade*, aos nossos dias.

Espero que as pessoas se interessem pela Paleoantropologia, ela dá uma perspetiva de como viemos de longe e de como sabemos pouco, demasiado pouco, sobre nós próprios!!

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* Contando a partir da idade de ouro da civilização grega antiga, cerca 2550 anos antes da atualidade.


quinta-feira, 8 de junho de 2023

O PROBLEMA DA CENSURA E PERSEGUIÇÃO DAS VOZES DISSIDENTES

 Muitas pessoas estarão de acordo em considerar a liberdade de opinião como pilar essencial das nossas sociedades ocidentais. Neste momento, desenvolve-se uma cruel e seletiva caça à dissidência, que tem como vítimas jornalistas, escritores e outras figuras públicas conhecidas, respeitadas e apreciadas. Perante isto, nota-se uma indiferença da cidadania e um olhar para o lado de pessoas metidas na luta política (leia-se política = meios de alcançar o poder). Não só são passivos perante esses crimes, como perante os  crimes que justamente foram denunciados pelos dadores de alerta (Assange, Snowden, etc, etc). Dessa forma, estão a dar cobertura aos senhores do poder, que irão «tratar-lhes da saúde», assim que tiverem a situação inteiramente sob controlo.

 Parece que muitos dos intelectuais dos países ocidentais ignoram os escritos de Hannah Arendt, e de muitos outros autores importantes, sobre a ascensão dos totalitarismos. Para mim, não é surpresa que os neoliberais os ignorem, quer no sentido de nunca os terem lido, ou de terem esquecido por conveniência (oportunismo) esses escritos fundamentais de reflexão em filosofia política. Mas, choca-me ainda mais que pessoas com elevadas credenciais académicas e culturais se comportem «como se» ignorassem tudo sobre a natureza dos sistemas totalitários, as suas manhas para subverter por dentro as democracias, etc. Será possível que esqueçam os contributos de Hanna Arendt, de Bertolt Brecht ou de Soljenitsin e de muitos outros, que seria demasiado longo citar?

O problema não é ter-se mais ou menos conhecimento: é muito mais central e premente. Tem relação com a dignidade e a coragem do ser humano; dizer-se «não colaboro, a minha consciência não mo permite»; ou «já não posso continuar sem fazer nada, como se nada houvesse, ou como se isso nada tivesse que ver comigo e com a sociedade em que vivo».

Eu compreendo melhor, agora, o desespero de Stefan Zweig, que o levou ao suicídio quando pensou que os nazis iriam vencer a II Guerra Mundial. Ele não queria viver num mundo assim. Também o existencialismo de Albert Camus, que teve a coragem de contribuir ativamente para a Resistência francesa durante a IIª Guerra Mundial.  Não cito aqui muitos outros, que merecem a nossa homenagem e são exemplos de dignidade humana e de elevado valor moral. 

A minha postura pode ser considerada estranha, face ao tempo em que vivemos. Pois eu sou testemunha, mas não participo nesta cultura hedónica, materialista (no sentido de procura dos bens materiais), de adoração do poder, do dinheiro, do «estrelato»... que é hoje o substrato cultural da maioria das pessoas.

 Mas, isto não acontece por acaso. Note-se que - por enquanto - o ensino nos países ocidentais não veicula estas ideologias - pelo menos, de um modo explícito. As religiões correntes nestas paragens (a cristã, mas também as outras), não encorajam, até condenam explicitamente, esta adoração do vitelo de ouro. 

Penso que a influência da comunicação social de massas é avassaladora e impregna, ao nível subconsciente, quase todas as pessoas: isto inclui, obviamente, pessoas inteligentes e de elevado nível cultural. Por isso, os verdadeiros donos deste mundo querem ter o controlo da media, sobretudo das redes sociais, como temos visto nos casos de Elon Musk, Marc Zuckerberg, etc.

A cultura das pessoas em Portugal tornou-se quase uniformemente ocidentalizada, assimilando a cultura anglófona, em particular a dos EUA, sob todos os aspetos; desde a música pop-rock, às modas de linguagem - a utilização do inglês no comércio e publicidade - aos valores ideológicos e aos modelos comportamentais das «stars». 

Por contraste, vai aumentando a ignorância do que seja português, ibérico, e de tudo o resto que não seja anglo-saxónico, mas europeu ou extraeuropeu. Isso faz com que tenham «uma vaga ideia», no melhor dos casos, das produções e personalidades que marcaram as outras culturas. 

 Não sou parcial, não tenho qualquer ódio e raiva aos americanos e ingleses, nem à maioria dos intelectuais, homens e mulheres com elevado padrão moral, além de talento. Eu aprecio a coragem de alguns jornalistas, ensaístas e políticos, dos EUA, como Chris Hedges ou como Paul Craig Roberts (e muitos outros). 

Criticar o imperialismo e a repressão aos «de baixo», não me afasta (ideológica e eticamente) deles; pelo contrário, isso aproxima-nos. O que há de bom na cultura anglo-saxónica, é por mim reconhecido, tanto em relação ao passado, como ao presente. De facto, o combate pela liberdade atravessa fronteiras geográficas ou físicas, mas também de cultura e ideológicas. 

A censura não é um «problema de intelectuais», porque o próprio âmago da liberdade está aqui em causa, a liberdade de todos; sejam de esquerda, ou direita; radicais ou conservadores; crentes ou ateus, etc...

     O autor, dramaturgo esquerdista, é acusado por tribunal de Berlim de «propaganda nazi»!

Se alguns são amordaçados por causa das suas ideias, daquilo que pensam e escrevem, então, qualquer um de nós pode também ser, de um momento para o outro. Estamos todos ameaçados. Estou convicto disso: a realidade tem trazido, ultimamente, imensas provas em apoio desta convicção.

terça-feira, 25 de abril de 2023

A economia global entre Caríbidis e Cila

 



Os bancos centrais andaram durante muito tempo a jogar com a quantidade de dinheiro (aqui, entenda-se divisas fiat). Inicialmente, puderam iludir as pessoas, incluindo economistas sofisticados, de que se tratava de suprimir as oscilações periódicas da economia, dando aos mercados a quantidade de dinheiro que eles precisavam para não entrarem em deflação.
 Segundo a ortodoxia dos banqueiros centrais e dos governos ocidentais, a existência de um «pouco» de inflação era benéfica e saudável. Mas, esta inflação acontecia num contexto de atividade industrial muito deprimida, após a grande crise financeira de 2008.
 Depois, baixa ou alta, a inflação é trituradora dos rendimentos das pessoas, principalmente dos assalariados e pensionistas. O aumento do custo das coisas básicas e elementares era muito maior do que de coisas que se podem considerar «não essenciais». 
É o rochedo chamado «Cila», que representa a inflação. Os turbilhões na proximidade do rochedo, iam tornando a economia cada vez mais deprimida, sobretudo no que toca aos investimentos produtivos, por oposição aos especulativos. 
O resultado de se lançar «dinheiro fiat» (sob forma eletrónica, principalmente) para os mercados, acentuava os redemoinhos, perto de Cila. Não resolvia a questão de fundo: estimular a produção de bens e serviços e não as atividades especulativas (o casino das Bolsas).
Na tentativa de manter o «status quo» e de não prejudicar os ricos detentores de grandes empórios financeiros (Banca comercial, fundos de investimento...), vieram com a falaciosa teoria de que aqueles «criavam riqueza». Na verdade, ao apostarem na financeirização, desencaminham a riqueza. Os capitais investidos em especulação financeira não participam realmente em atividades produtivas da economia. 
Mas, depois de 2008, os banqueiros centrais e os governos, fingiam que acreditavam nesta teoria, para verter somas abismais aos banqueiros que tinham sofrido perdas. Estas perdas eram expectáveis, pois eles tinham jogado no «alavancar» dos fundos que geriam. 
O que aconteceu foi aquilo que qualquer pessoa com bom-senso poderia prever: Em vez de investirem, eles próprios, ou de emprestarem o dinheiro recebido para crédito à produção, foram aparcá-lo em contas na FED ou noutros bancos centrais, que forneciam à banca comercial juros muito pequenos, mas sem risco. Outra parte do dinheiro recebido pelos bancos, foi para jogar na bolsa (incluindo a auto-compra das ações).
Como era inevitável, a inflação monetária e o estímulo de atividades especulativas, fizeram aumentar a massa monetária, atingindo extremos tais, que os capitais disponíveis globalmente eram, pelo menos, 20 vezes o PIB mundial. Ao certo, não sabemos, porque uma parte importante desses capitais está investida em derivados,  instrumentos que não são registados nos balanços de instituições de crédito, mas que pesam na solvabilidade destas.
A subida dos juros de referência pela FED (seguido pelos outros bancos centrais ocidentais), implicava o aumento do custo do crédito e a diminuição correlativa do valor das reservas. Os bancos comerciais têm em reserva, principalmente, obrigações do tesouro do seu próprio país ou de outros (uma obrigação vale tanto mais quanto o seu juro for mais baixo). 
Os 4 bancos que faliram recentemente nos EUA, assim como o Crédit Suisse (um banco «sistémico»), não conseguiram corrigir a tempo o desequilíbrio causado pela perda do valor dos seus ativos em reserva. Caríbidis será o nome simbólico da enorme parede de pedra; o «rochedo» das taxas de juro crescentes e as consequências nefastas para as instituições bancárias, obrigadas - por lei - a ter parte das reservas em obrigações (bonds) do Tesouro. 

A expressão proverbial, recorrendo à mitologia grega, diz que alguém (ou instituição) «vai de Caríbidis para Cila», para exprimir que ambas as alternativas vão desembocar no naufrágio, ou no desastre total. É, portanto, fútil e perigoso nos mantermos dentro dos parâmetros dos que querem ir de Caríbidis para Cila, ou vice-versa.

A «solução» dos banqueiros e dos oligarcas é a de causarem o máximo de perturbação na economia, na economia produtiva, para as pessoas - desesperadas -se renderem à «hidra de sete cabeças» ou outros monstros, que são as «moedas digitais emitidas por bancos centrais» (CBDC)
A solução para a gente comum, os não beneficiários do casino da finança globalista, é completamente diferente: Passa por uma reforma do sistema monetário mundial, onde não exista uma moeda de reserva enquanto tal, mas onde as moedas nacionais sejam usadas nas trocas. Os diferenciais, serão saldados em ouro ou noutro metal precioso (Prata, Paládio, Platina). 
Assim sendo, não haverá nação, por mais poderosa que seja, que possa impor-se às outras, como têm feito os EUA. O seu domínio em todas as transações em dólares, deu-lhes a possibilidade de confiscarem importantes somas e imporem sanções TOTALMENTE ILEGAIS. São atos de pirataria financeira, que têm afetado negativamente as relações comerciais entre países. Aliás, esta é uma das principais causas de haver muitos países, aliados dos EUA, a quererem entrar para os «BRICS».

BRECHT - WEILL Ópera "Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny"

Aufstieg und Fall der Stadt Mahagonny (“A ascensão e queda da cidade de Mahagonny”) é uma performance musical de Bertolt Brecht e Kurt Weill , que se tornou uma ópera em três atos. Foi criado em 9 de março de 1930 em Leipzig .

Mahagonny Songspiel , criada em 1927 em Baden-Baden, nasceu da colaboração entre Bertolt Brecht e Kurt Weill . O show de seis músicas (incluindo a famosa Alabama Song ) teve 25 minutos de duração. Eles o tomaram e desenvolveram três anos depois, em 1930, sob o título Grandeur et décadence de la ville de Mahagonny ; esta ópera foi, desde a sua criação, proibida na Alemanha.

Ele narra o nascimento, clímax e queda de Mahagonny, uma cidade imaginária fundada por três criminosos na América. É uma cidade-armadilha destinada a recolher o dinheiro dos garimpeiros da região. Prostitutas, álcool e diversão atraem buscadores cansados ​​que vêm gastar seu ouro. Um dia, um lenhador do Alasca descobre que algo está faltando. Ele deseja remover o sinal de "Defesa de ..." com "é seu direito". Esse lema faz da cidade um lugar de devassidão. Quando este lenhador se encontra sem um tostão, a justiça, encarnada pelos criminosos fundadores da cidade, o condena à cadeira elétrica . A cidade vai cair no caos.

Brecht não nega o prazer do espectador, mas Mahagonny é acima de tudo uma ópera épica e inovadora, onde o centro de gravidade tradicional é deslocado. Os processos do teatro épico são aplicados aqui à ópera e, da mesma forma, a música se combina com o texto para se posicionar. Brecht, portanto, questiona as formas tradicionais da ópera clássica. Com Mahagonny , ele afirma a necessidade da função ideológica da ópera, que abra a discussão e o questionamento social. Esta peça é na verdade uma metáfora gigantesca para o capitalismo. Mostra como se impõe facilmente e como pode se autodestruir.


                                           



Ópera em três atos sobre libretto de Bertolt Brecht. Estreia: Leipzig, Neues Theater, 9 de Maio 1930. 
Jane Henschel (Leocadia), Donald Kaasch (Fatty), Willard White (Trinity Moses), Measha Brueggergosman (Jenny), Michael Konig (Jim), John Easterlin (Sparbüchsen Billy), Otto Katzameier (Jacob Schmidt / Tobby Higgins), Steven Humes (Alaska Wolf Joe) 
Maestro Pablo Heras-Casado 
La Fura dels Baus Madrid, 2010











sexta-feira, 7 de abril de 2023

A DESDOLARIZAÇÃO ACELERA-SE

Para mim, e para muitas pessoas independentes, este movimento de desdolarização era inevitável. Porém, a velocidade a que a situação mudou, surpreende, tanto em termos monetários como das alianças geoestratégicas, tanto no sentimento das pessoas como no distanciamento de governos em relação aos EUA e ao dólar.
É que os EUA, nos últimos anos, acumularam erros estratégicos, fazendo com que inimigos e amigos se colocassem numa postura defensiva e acolhessem com grande interesse as propostas do bloco emergente, em que Rússia & China são pilares centrais, com os BRICS e com mais de uma centena de países, que entretanto aderiram a projetos das Novas Rotas da Seda.
Basta ver a perda de influência rápida dos EUA, primeiro na África a sul do Sahara e depois no Médio Oriente. Tendo os EUA - há duas décadas, apenas - uma situação hegemónica, agora, excetuando seus «vassalos/aliados», já não conseguem hoje impedir que os Estados procurem novas parcerias.
Nestas, procura-se a reciprocidade, os acordos «win-win» mas, sobretudo, sem interferências nos respetivos regimes políticos e no respeito pela soberania dos Estados, sejam eles fortes ou fracos, grandes ou pequenos.

Proponho ao leitor, que consulte os dois artigos abaixo, um de autoria de Alasdair Mcleod e o outro de Matthew Piepenburg. Dão-nos o contexto, assim como muita informação sobre a mudança tectónica em curso e esclarecimentos sobre o que já transparece sobre a nova arquitetura monetária mundial.
Creio que os povos do Sul têm a ganhar com a mudança, pois a utilização do dólar como moeda de reserva foi permitir que os governos americanos, sem escrúpulos, abusassem do privilégio.
Se eles não tivessem transformado o dólar em «arma de guerra», da guerra económica (ilegal e ilícita) e das sanções contra aqueles que lhes resistiam, talvez conservassem, por mais algum tempo, o predomínio do dólar, quer em termos de comércio internacional, quer em termos de moeda de reserva.
Assim, com a sua agressividade militar e a não menos brutal guerra económica, podem ainda fazer muito mal, mas não conseguem mais do que obter como «aliados», os que foram sujeitos a chantagem permanente.
Como conseguiram manter o dólar, nos últimos tempos? Pela força das bases militares que têm espalhadas nos 4 continentes e pelo terrorismo económico e financeiro, dos congelamentos e rapina de ativos dos Estados e particulares de países não submissos.
Estamos a viver uma mudança de paradigma, um momento histórico de mudança estrutural.



    Desde 2016, que o ouro é cotado e transacionado em Yuan, na bolsa de Xangai

https://www.goldmoney.com/research/time-to-trash-triffin

 https://goldswitzerland.com/golden-question-is-the-petrodollar-the-next-thing-to-break/





quinta-feira, 23 de março de 2023

OS MUITO RICOS SABIAM -DE ANTEMÃO - DESTA CRISE



No rescaldo dos últimos acontecimentos desastrosos, podemos ver a FED continuando teimosamente a subir a taxa de juro diretora (de 0.25%).
Eles fazem-no, sabendo bem que na raiz do colapso de uma série de bancos de média dimensão (pelo menos, 4 bancos, só nos EUA) estava realmente a subida faseada a intervalos muito curtos, das taxas de juros, com a consequente descida do valor das obrigações do Tesouro, portanto fazendo com que o principal ativo de reserva destes bancos (e de quase todos os outros, inclusive noutros países) ficaria reduzido. Nalguns casos, foi o suficiente para eles ficarem em défice de cobertura e sem hipótese de obterem um reforço de reservas.
Não houve bailout para estes bancos. Muitos depositantes devem ter ficado a perder o dinheiro dos seus depósitos, nomeadamente, pequenas e médias empresas que possuíssem mais de 250.000 dólares depositados, o que não é muito, visto que uma empresa tem de pagar salários e fornecedores. Quanto ao despoletar da crise, note-se que esses bancos não fizeram nada de ilegal, nem sequer de incorreto face às regras bancárias.
Pelo contrário, na crise de 2008, muitos dos bancos e entidades (Bear Sterns, Lehman Brothers, AIG) que se afundaram e outras, que foram salvas pelo Governo dos EUA, tinham-se envolvido em empréstimos fraudulentos para a habitação e na venda de pacotes desses empréstimos, até para além dos EUA.

Agora foi a vez do Crédit Suisse, um banco há anos considerado dos mais fortes mundialmente. Houve uma clara intervenção estatal, que levou a um bail-in (ou seja, um resgate interno, à custa dos depositantes do banco) disfarçado. Os detentores de obrigações viram, de um momento para o outro, as suas obrigações do Crédit Suisse, que valiam (no total) 17 mil milhões de Francos Suíços na última cotação, serem levadas a zero: Não por ação dos mercados, mas porque era uma das condições impostas pela UBS para aceitar realizar a compra da sua ex-rival. Há base para uma ação contra o Estado, pois na ordem de prioridades de uma falência, os detentores de ações só devem ser indemnizados depois dos detentores de obrigações. Ora, a UBS «comprou» o Crédit Suisse, por uns meros 3 mil milhões de Francos Suíços, que terão servido para indemnizar os possuidores de ações. Os possuidores de obrigações ficaram sem nada.

Não existe paralelo histórico para esta crise bancária, que se alastra como mancha de óleo, em países do «coração» do capitalismo. Estamos ainda muito longe do seu final. Uma coisa é certa; os banqueiros centrais e os governos são impotentes para travar a crise em curso, são quadriliões de dólares de ativos em «papéis dos mais diversos tipos». Destes, os mais problemáticos são os derivados, cuja avaliação é difícil de se fazer: As operações de compra e venda fazem-se fora do balanço das instituições bancárias («over the counter», por cima do balcão, é a expressão consagrada).

O sistema não pode estar seguro, porque o capitalismo financeirizado se baseia em esquemas de Ponzi, quer sejam promovidos por empresas, bancos, «hedge funds», ou pelo próprio Estado, como na gestão das pensões.

Podemos ter a certeza de que os grandes capitalistas souberam transformar muitos dos seus ativos financeiros (ações, obrigações, contas a prazo, derivados...) em propriedade não-financeira:
- terras agrícolas: uma aquisição maciça de terras agrícolas por Bill Gates, fez dele o maior detentor individual de terras nos EUA.
- imobiliário: apesar de muito sujeito a especulação, é algo «sólido», seu valor nunca pode reverter  para zero.
- metais preciosos: o ouro, comprado nas praças do Ocidente excede em muito, as quantidades adquiridas pelos bancos centrais ocidentais, pelo que uma porção desse ouro deve estar em mãos privadas.
- obras de arte: verifica-se uma nítida inflação do mercado da arte, em especial, nos segmentos de topo do mercado, obras arrematadas em leilão por milhões. Elas são guardadas em cofres-fortes, durante anos, para depois serem vendidas com imenso lucro.

Quem vai sofrer são as pessoas comuns, cujo rendimento (salário, pensão ...) nunca é atualizado de acordo com a taxa de inflação. Ou seja, a imensa maioria fica realmente mais pobre. Os muito ricos não se importam, até gostam, pois um pobre sujeita-se a trabalhar em condições de grande precariedade, de forma desregulamentada, não se atrevendo nunca a reivindicar.

Há quem diga que muito do que se passa, ao nível dos mercados financeiros e dos principais bancos centrais ocidentais, é orquestrado, no sentido de que a população, castigada por tanta miséria, vai ter que «engolir» a mentira do dinheiro digital de bancos centrais (CBDC), como «panaceia» para a crise. A vantagem do dinheiro digitalizado a 100%, é que os poderosos poderão dirigir as nossas compras de bens e serviços, de acordo com aquilo que eles consideram ser «bom para a economia». Também torna impossível a verdadeira dissidência, pois os poderes podem, com toda a facilidade, «cancelar» a conta dos que eles consideram estar a incorrer no «crime de dissidência» e estes ficam sem meios de subsistência. Os poderes ocidentais, nisso, copiam o regime chinês, embora façam sempre propaganda contra a China.

quinta-feira, 16 de março de 2023

A SITUAÇÃO REAL DA BANCA


 As pessoas, em geral, não compreendem como as instituições bancárias estão «alavancadas» ou seja, como emprestam 1000, quando só têm 100 em fundos próprios.

 Todo o sistema está feito para favorecer a utilização do dinheiro dos depositantes, para os mais diversos fins, sem lhes pedir licença, nem lhes dar juros (ou quase nada) por isso. 

Quando um banco empresta, a juros, cria instantaneamente (criação escriturária) o dinheiro em causa. Imagine as somas astronómicas criadas! O dinheiro-crédito é criado no momento em que é concedido o empréstimo! Os bancos são os principais criadores da massa monetária em circulação.

Mas, realmente, aquilo que as próprias leis e regulamentos permitem que as entidades bancárias façam, seria o suficiente para pôr na prisão o cidadão vulgar.

Se eu emprestar (a juros, ainda por cima) dinheiro que não existe, vou direitinho para a prisão. Mas isso é o vulgar da atividade de TODOS os bancos. 

Os contratos de derivados são autênticas apostas, com a agravante de que estas apostas - no fundo - são possíveis porque tu e eu e quase nós todos, pomos nossos parcos tostões nas instituições «caritativas» chamadas «bancos» ou «instituições financeiras». 

Mas, quando ficam «a descoberto», devido às suas tropelias e suas «apostas» arriscadas, não têm de repor as contas em ordem, com dinheiro deles. Não, porque o dinheiro privado dos administradores e gestores do banco não está nunca em causa. 

Dá-se então o caso curioso, em especial tendo em conta que isso nunca acontece com inúmeras pequenas e médias empresas em apuros: É o Estado (isto é, nós os contribuintes!), que vai resgatar esses bancos, somos nós (pelos nossos impostos) que cobrimos as perdas dessa banca, porque senão levantava-se uma grande indignação popular, que poderia acabar em insurreição, em revolução.

O dinheiro também é fabricado a rodos (eletronicamente) nos bancos centrais, o que significa que se está a diluir o valor das somas que já estavam na posse dos cidadãos e das instituições. Note-se que este mecanismo é o principal causador da inflação, como tenho explicado.

No caso da falência dos três bancos de depósito nos EUA, o Estado através do seu presidente Biden garantiu que as pessoas irão recuperar o dinheiro dos seus depósitos. Mas como? 

- Simples: o Estado, através do Tesouro, diz à FED (Reserva Federal) para imprimir mais uns biliões e lhos «emprestar». Depois, irá entregar aos depositantes dos bancos falidos as somas que eles possuíam nestas instituições. 

Não admira que as despesas sociais encolham, assim como as pensões, os salários e o investimento em infraestruturas públicas.

Enfim, como dizia Henry Ford (fundador da marca «Ford» de automóveis), «ainda bem que nem um cidadão em mil, percebe como funciona o sistema financeiro, porque senão, haveria uma insurreição amanhã» !!


ATUALIZAÇÃO:

O CRÉDIT SUISSE PRECISA DE 54 BILIÕES PARA EVITAR O COLAPSO


«SAM ZELL: ISTO É A REPÚBLICA DE WEIMAR»


O CRÉDIT SUISSE É APENAS O PRIMEIRO, NO SISTEMA BANCÁRIO GLOBAL, A ENTRAR EM COLAPSO

PS 1: Ao contrário das ações nas bolsas mundiais, o ouro subiu para um novo patamar, desde dia 15  e tem-se mantido até hoje (17/03/2023) nas alturas.

PS 2: Os grandes bancos formam uma associação inédita, com grandes somas depositadas, para evitar o colapso do «First Republic Bank»

PS 3: A desregulação do setor bancário e financeiro em 1999 é responsável, em última análise, dos colapsos de 2008 e de 2023.

domingo, 12 de fevereiro de 2023

ANONIMATO

 É uma bênção estar-se completamente anónimo numa grande cidade. Tudo o que faças estará apenas contigo, ninguém para controlar o que fazes ou deixas de fazer, ninguém para julgar o teu comportamento.

Os romanos reconheciam esta situação e designavam-na como aurea mediocritas. Aqui, o termo «mediocritas» deve ser entendido como antónimo de celebridade. 

A necessidade de certas pessoas se fazerem «apreciar», de fazerem o seu show, tem muito de fútil. Raramente terá a ver com a necessidade genuína de exprimir os seus dotes de ator/atriz ou doutra profissão do espetáculo, que reclame uma óbvia visibilidade. 

Geralmente, retomando e invertendo o sentido do provérbio romano, os exibicionistas são medíocres que se fazem pagar a peso de ouro, nalguns casos, mas quase sempre, trata-se de ouro falso, de lantejoulas e pechisbeque.

A necessidade de certas pessoas se tornarem célebres transforma-se em obsessão patológica, pois deixam-se arrastar a fazer disparates, ou mesmo crimes, só para dar nas vistas. 

Eu prefiro viver discretamente; não será no anonimato, stricto sensu. É claro que tenho familiares, amigos, conhecidos, vizinhos: são pessoas que me conhecem, da forma mais profunda ou da mais superficial. Nisto, sou igual a tantos outros. 

Não abdico, porém, da minha personalidade o que, aliás, se me afigura quase impossível de acontecer. Mas, não estou sujeito à presença de olhares inquisidores, de ser chamado na rua por um desconhecido, de forma amistosa ou insultuosa. Isso é como perder-se o pouco que nos resta de  liberdade.

O meu anonimato, é não ter que me preocupar a cada instante onde me levam meus passos, se aquilo que digo não será ofensivo para alguns, se não será  transmitido ao universo dos meus inimigos.

Numa grande cidade, sozinho ou na companhia da pessoa que se ama, pode ser agradável vaguear, visitar monumentos, ir a um espetáculo, comer num restaurante. 

Mas, esse prazer é proibido às stars do cinema, da política, do desporto. Talvez os maravilhe, no início, serem apontados a dedo e cumprimentados na rua por anónimos admiradores. Creio que esta sensação desaparece quando a mera presença da «star» no espaço público, desencadeia reações inoportunas de certas pessoas, que podem ir até ao assédio. 

A celebridade depois de se morrer, não me incomoda, mas não creio sequer que seja sempre um bem: Se a memória de alguém importa, então as biografias lendárias, com invenções disparatadas, que certos literatos farão para fazer subir o peso post mortem do escritor ou artista biografado, não é bonito de se ver. Quem está morto, não se pode defender de insinuações torpes, ou de histórias completamente falsas e nada correspondentes ao seu modo de ser, quando em vida.

As  pessoas que, depois de célebres, fazem «como sempre fizeram», se comportam como sempre se comportaram antes ... essas, não as conheço, serão raríssimas. Se existem, aposto que sua indiferença perante as luzes da ribalta seja apenas um truque, uma pose, que tenham de compor a personagem como no teatro ou num filme. Estão a representar o papel de quem não se sente incomodado com os olhares e dizeres dos outros.

Os típicos ocidentais, embora possa encontrar-se padrões semelhantes ou análogos noutras paragens, estão tomados pelas figuras do herói, do santo, do génio, do indivíduo com carisma. Mas, isto faz parte do teatro das coisas. O que eles estão a tentar exprimir, é que tais personagens são - supostamente - mesmo assim. Portanto, eles devem ser adorados, obedecidos, venerados. 

Como eu não pretendo nada disso, como estou bem comigo próprio, não dominando, nem influenciando ninguém, não me sinto compelido a chamar a atenção sobre mim. 

Isto não quer dizer que não exerça as minhas qualidades, que não ponha em prática os meus talentos. Eu faço o que me apetece, sem aquela ideia doentia, de me perguntar sempre se agradarei aos outros. 

Se este escrito foi realmente interessante para ti, ainda bem. Se achas que não vale a atenção prestada ao lê-lo, deita-o para o caixote de lixo, é assim que eu faço com certos escritos dos outros!




quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

O «SEGREDO» DA ECONOMIA CAPITALISTA OCIDENTAL


Preço em euros do ouro (quilogramas) durante os últimos 20 anos

Não é por «culpa» de Putin, ou da guerra na Ucrânia, ou da pandemia de COVID. 
Os mercados assinalam, desde há vinte anos, a perda acelerada e constante de valor aquisitivo das diversas divisas. No caso do ouro, metal monetário (significa que é considerado «dinheiro»), a sua subida não é real, pois apenas reflete a descida exponencial das divisas-fiat, sejam elas consideradas «fortes» ou não, em relação ao dólar. O dólar é apenas uma das divisas que está a ser mais intensamente impressa, pelo banco central respetivo (Federal Reserve), sendo também o euro (pelo Banco Central Europeu) e outras divisas ocidentais. A média corporativa é dominada por interesses (capitais) relacionados com a economia financeirizada. Por isso, será muito improvável que possas encontrar este gráfico acima, e estes comentários, em tais órgãos de «informação».
 Assim, a elite do dinheiro vai continuando a fazer os seus jogos. Quem perde são os que veem seu salário, sua pensão de reforma, suas poupanças, «encolherem». A inflação, é simplesmente a excessiva impressão de unidades monetárias, em relação aos bens disponíveis nos mercados. Na linguagem comum diz-se que tal ou tal item, ou o «custo de vida» em geral, está mais caro
Na realidade, o que acontece é que a inflação é criada pelos banqueiros, quer os dos bancos comerciais, quer dos bancos centrais. São eles que criam as unidades de valor em brutal excesso em relação ao total de mercadorias disponíveis para venda, nos mercados. A consequência inevitável é o «aumento» do preço dessas mercadorias, medidas em termos de unidades de valor que estão permanentemente encolhendo. 
Como os ricos e seus conselheiros sabem isso, vão jogando de forma a aumentarem o valor REAL das suas posses, obtendo bens que não estejam sujeitos à erosão da inflação (como imobiliário, terrenos agrícolas, matérias-primas, objetos de arte ou de coleção, ouro e prata ), contra ativos cujo poder de compra vai sendo erodido pela inflação (todos os bens financeiros, tais como: o próprio dinheiro, ativos bolsistas, fundos, obrigações estatais ou privadas, derivados, etc.).
Portanto, as pessoas só têm uma maneira de não serem trituradas, das suas posses não serem anuladas, neste período de involução e destruição acelerada do capital, sob todas as formas: É investirem em bens não financeiros. Estes, aconteça o que acontecer, guardarão a sua utilidade, haverá sempre quem queira comprá-los, terão tendência no longo prazo, a conservar o valor real, ou seja, não medido em divisas fiducitárias. É sabido que TODAS as divisas acabam por ter o seu valor descendo até zero
          Valores das divisas-fiat (escala logarítmica) em função do ouro, retirado de AQUI

São inúmeros os exemplos que nos dá a História, talvez os mais célebres sejam a depreciação do denário, no final do império romano, dos «assignats», na revolução francesa, ou dos «reichmark», na república  de Weimar. Mas o ouro, por contraste, no longo prazo, mantém o mesmo poder aquisitivo
Um dos mais importantes índices, é o preço do petróleo. Pois bem, em termos de gramas ou onças de ouro, o preço do barril de petróleo pouco variou desde 1950 até hoje, como se pode ver pelo gráfico abaixo:


Mas, se vires o mesmo gráfico, em termos de preço em dólares / barril de petróleo, no mesmo intervalo de tempo, verás oscilações brutais e um crescimento geral do preço em dólares.
 
Na figura seguinte, vê-se o preço do petróleo em EUROS (cinza) e onças de OURO:



Como se pode verificar, o preço do petróleo em ouro, permanece quase constante neste intervalo de tempo. 
O petróleo e todos os outros combustíveis, têm uma importância tal, que seu custo vai influenciar todos os outros preços, desde matérias-primas, a transportes, a alimentos, etc. 
Os políticos começaram a modificar os critérios para medição da inflação, no início dos anos 80, para poderem disfarçar a real perda de valor das divisas e continuarem a fazer o mesmo jogo, de gastar muito mais do que a receita dos diversos impostos permitia. Assim, puderam levar a cabo políticas deficitárias, com orçamentos aldrabados, tal como os montantes dos PIB.
Vê a comparação entre os índices oficiais, e índices de inflação calculados pelo método usado ANTES  das ditas alterações metodológicas, nos anos oitenta (a azul, com a metodologia anterior às modificações; a vermelho, as inflação segundo os critérios oficiais):




Não é nada misterioso, o modo como os ricos conseguem ser mais ricos, com a ajuda da classe política, associada com a classe capitalista, em geral. Se a classe capitalista não consegue corromper um certo político, acaba por destruí-lo, de uma maneira ou de outra. 
É assim que as pessoas humildes, com seu esforçado trabalho alimentam o enriquecimento ilegítimo dos que já são muito ricos. Os jornalistas e outros «fazedores de opinião», também estão comprados, pelo que não se pode esperar que eles nos forneçam as informações que eu delineei acima. 
Se quiseres saber mais e melhor sobre a realidade, aconselho-te a fazer a tua própria pesquisa!