domingo, 8 de dezembro de 2024
UMA LEITURA DA «ARTE DA GUERRA» DE SUN TZU
domingo, 12 de fevereiro de 2023
ANONIMATO
É uma bênção estar-se completamente anónimo numa grande cidade. Tudo o que faças estará apenas contigo, ninguém para controlar o que fazes ou deixas de fazer, ninguém para julgar o teu comportamento.
Os romanos reconheciam esta situação e designavam-na como aurea mediocritas. Aqui, o termo «mediocritas» deve ser entendido como antónimo de celebridade.
A necessidade de certas pessoas se fazerem «apreciar», de fazerem o seu show, tem muito de fútil. Raramente terá a ver com a necessidade genuína de exprimir os seus dotes de ator/atriz ou doutra profissão do espetáculo, que reclame uma óbvia visibilidade.
Geralmente, retomando e invertendo o sentido do provérbio romano, os exibicionistas são medíocres que se fazem pagar a peso de ouro, nalguns casos, mas quase sempre, trata-se de ouro falso, de lantejoulas e pechisbeque.
A necessidade de certas pessoas se tornarem célebres transforma-se em obsessão patológica, pois deixam-se arrastar a fazer disparates, ou mesmo crimes, só para dar nas vistas.
Eu prefiro viver discretamente; não será no anonimato, stricto sensu. É claro que tenho familiares, amigos, conhecidos, vizinhos: são pessoas que me conhecem, da forma mais profunda ou da mais superficial. Nisto, sou igual a tantos outros.
Não abdico, porém, da minha personalidade o que, aliás, se me afigura quase impossível de acontecer. Mas, não estou sujeito à presença de olhares inquisidores, de ser chamado na rua por um desconhecido, de forma amistosa ou insultuosa. Isso é como perder-se o pouco que nos resta de liberdade.
O meu anonimato, é não ter que me preocupar a cada instante onde me levam meus passos, se aquilo que digo não será ofensivo para alguns, se não será transmitido ao universo dos meus inimigos.
Numa grande cidade, sozinho ou na companhia da pessoa que se ama, pode ser agradável vaguear, visitar monumentos, ir a um espetáculo, comer num restaurante.
Mas, esse prazer é proibido às stars do cinema, da política, do desporto. Talvez os maravilhe, no início, serem apontados a dedo e cumprimentados na rua por anónimos admiradores. Creio que esta sensação desaparece quando a mera presença da «star» no espaço público, desencadeia reações inoportunas de certas pessoas, que podem ir até ao assédio.
A celebridade depois de se morrer, não me incomoda, mas não creio sequer que seja sempre um bem: Se a memória de alguém importa, então as biografias lendárias, com invenções disparatadas, que certos literatos farão para fazer subir o peso post mortem do escritor ou artista biografado, não é bonito de se ver. Quem está morto, não se pode defender de insinuações torpes, ou de histórias completamente falsas e nada correspondentes ao seu modo de ser, quando em vida.
As pessoas que, depois de célebres, fazem «como sempre fizeram», se comportam como sempre se comportaram antes ... essas, não as conheço, serão raríssimas. Se existem, aposto que sua indiferença perante as luzes da ribalta seja apenas um truque, uma pose, que tenham de compor a personagem como no teatro ou num filme. Estão a representar o papel de quem não se sente incomodado com os olhares e dizeres dos outros.
Os típicos ocidentais, embora possa encontrar-se padrões semelhantes ou análogos noutras paragens, estão tomados pelas figuras do herói, do santo, do génio, do indivíduo com carisma. Mas, isto faz parte do teatro das coisas. O que eles estão a tentar exprimir, é que tais personagens são - supostamente - mesmo assim. Portanto, eles devem ser adorados, obedecidos, venerados.
Como eu não pretendo nada disso, como estou bem comigo próprio, não dominando, nem influenciando ninguém, não me sinto compelido a chamar a atenção sobre mim.
Isto não quer dizer que não exerça as minhas qualidades, que não ponha em prática os meus talentos. Eu faço o que me apetece, sem aquela ideia doentia, de me perguntar sempre se agradarei aos outros.
Se este escrito foi realmente interessante para ti, ainda bem. Se achas que não vale a atenção prestada ao lê-lo, deita-o para o caixote de lixo, é assim que eu faço com certos escritos dos outros!
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022
SISTEMA REALMENTE NATURAL DE VALOR (EM ECONOMIA E EM TUDO)
Sempre tive um grande respeito pelas coisas da Natureza. Sempre me interessei pelos mecanismos subtis e realmente adaptados aos seus fins que constituem os sistemas naturais, desde a mais insignificante bactéria, até aos ecossistemas mais exuberantes, regurgitando de vida, como as florestas tropicais /equatoriais.
Aquilo que caracteriza a nossa época, é um enorme avanço nas ciências, em particular na Biologia, e - em paralelo - um total obscurecimento da mente humana, devido a uma ideologia mecanicista, derivada da «mentalidade de engenheiro» (os bons engenheiros me perdoem!), que prevalece, assimilando o humano e todas as criaturas vivas, a máquinas. Pior ainda, este mecanicismo afirma-se sem qualquer consciência de que o é. Ou seja, nem sequer é uma posição filosófica assumida como tal. Por isso, leva as pessoas, quer sejam muito pouco instruídas, quer tenham os mais brilhantes estudos e títulos académicos, a se comportarem como aquele indivíduo que serra o tronco da árvore no qual está sentado. Os sistemas naturais estão em perigo permanente, devido à predação e depredação - sob todas as formas - que é levada a cabo, devido à acumulação de detritos, poluentes de toda a espécie, produzidos e não apenas impossíveis de serem reciclados pela Natureza, como fator de destruição de espécies e dos seus habitats. No meio disto, a ideologia dominante inventou uma muito exagerada, senão falsa, ameaça do «efeito de estufa» culpando o CO2 pelos piores males do planeta, quando se trata de um gás como outros: Até, com papel fundamental no ecossistema global, visto que é a partir deste, que todas as plantas efetuam a fotossíntese e é graças a ele que temos temperaturas amenas, em grande parte do planeta e uma estabilidade relativa das mesmas, coisas que seria impossível existirem, sem o tal efeito de estufa.
Mas, o objeto deste artigo é outro. Resumindo a minha tese:
Os objetos naturais e - em particular - os sistemas vivos, são o modelo natural de que os homens se deveriam inspirar em primeiro lugar, para a construção de seu modelo de economia. Com efeito, se observarmos com atenção, a Natureza «inventou» as formas mais eficazes de captar, aproveitar, reciclar e conservar a energia, assim como as matérias-primas de que carece, para construir suas estruturas e manter em funcionamento os organismos.
A Natureza tem uma eficácia global inultrapassada, no que toca às reações químicas: os sistemas enzimáticos e seu papel na fisiologia da célula, de qualquer célula (desde a bactéria, ao homem), são duma eficácia inigualável pela Química contemporânea. Muitas reações correntes nas suas células, caro/a leitor/a, são absolutamente impossíveis de acontecer em sistemas não vivos, à temperatura e pressão normais. Apenas sistemas com temperaturas e pressões incompatíveis com a vida, poderiam permitir que tais reações (corriqueiras nas células) tivessem lugar e, quase sempre, com rendimento menor ao que se verifica na célula viva.
Logicamente, querendo resolver problemas de engenharia, seja ela naval, aeronáutica, química, etc. muitos engenheiros e inventores se voltaram para os seres vivos e tentaram adaptar os modelos desenvolvidos por «Éons de evolução» e que têm comprovadamente a maior eficácia, em termos energéticos e do aproveitamento inteligente dos recursos ambientais.
Mas, os sistemas vivos também conseguem fazer uma gestão otimizada nos seus sistemas internos: A economia intracelular funciona, graças ao ATP e outras moléculas com papel nas trocas de energia. Na era em que se trata de sair das divisas emitidas pelos Estados, em que se tenta um sistema desmaterializado do dinheiro, como não pensar no inteligente «porta-moedas» que constitui o sistema bioquímico de "ATP-ADP-AMP"? Este, associado a outros do mesmo tipo (GTP,etc), encarrega-se de assegurar que os saldos positivos (ou seja, as reações exo-energéticas) sejam transferidos para reações devoradoras de energia (reações endo-energéticas).
Os sistemas evoluíram no sentido de fazerem o máximo com o que tinham «à mão de semear». Assim, por exemplo, numerosas proteínas, enzimáticas e outras, têm o ferro como elemento não-proteico na sua estrutura, pois este é o mais banal de todos os metais de transição. Estes são metais que possuem uma camada interna dos eletrões, não inteiramente preenchida e podem, portanto, efetuar ligações químicas muito interessantes, aproveitadas pelas enzimas.
As formas de reserva de energia são muito eficazes; contêm um stock de energia facilmente mobilizável, em caso de necessidade, para o organismo. Há polissacarídeos, como o amido ou o glicogénio, que preenchem esta função. Mas, o organismo tem uma reserva «estratégica», que são os lípidos, as gorduras armazenadas em tecidos especializados (tecidos adiposos).
O papel de centrais energéticas celulares é preenchido pelas mitocôndrias, nos seres eucarióticos. Conseguiu a Natureza, nos eucariotas, incorporar e domesticar certas bactérias que usavam o oxigénio como oxidante, ou recetor final de eletrões numa cadeia de oxidação, com várias etapas associadas à síntese de ATP. Assim, a incorporação de novidade trouxe, nos alvores da vida na Terra, esta variedade de formas que hoje conhecemos.
A Evolução Biológica é o processo que permite a otimização dos seres vivos e opera à escala de biliões de anos. Em cada geração, numa determinada espécie, no entanto, podem dar-se transformações, que se espalham em pouco tempo. Temos aqui um modelo de como combinar a conservação daquilo que tem sido positivo ao longo das gerações, com a aceitação e difusão rápida de inovação, caso esta realmente se traduza em vantagem para os indivíduos que a transportam.
As «soluções» que os engenheiros encontram* para os problemas da nossa civilização, são extremamente pobres, têm pouca maleabilidade e não têm em conta as externalidades. Por exemplo, a poluição associada ao seu fabrico e uso: São inevitáveis, a um, ou outro nível. Mesmo quando publicitam que tal ou tal aparelho «não poluí», da sua construção não falam, nem da destruição dos ecossistemas e esgotamento das matérias-primas.
A economia humana pode caraterizar-se pela quantidade de desperdícios, dos produtos que se transformam em lixo, muito do qual não é reciclado (e nalguns casos, nem é reciclável). A Natureza recicla e aproveita sempre os materiais; o desperdício de uma espécie, é o nutriente de outra. «Nada se perde, tudo se transforma» (Lavoisier): Não sei se a célebre frase está correta à escala do Universo, mas à escala da Biosfera, está corretíssima.
Os seres vivos não vivem para «acumular dinheiro». O seu equivalente do dinheiro, é a energia. Ela é vista como deve ser, como um meio para alcançar um fim. O fim (de qualquer ser vivo) é a manutenção em vida saudável do indivíduo e a sua reprodução. Não existe obesidade em animais selvagens; mesmo quando têm abundância de alimento. Pelo contrário, os que vivem como animais de estimação na sociedade humana e estão sujeitos às «lógicas humanas», são cada vez mais obesos (ou seja, doentes), tal como os seus donos...
Por estranho que pareça, não há muitos sistemas teóricos que usem - na economia, sociologia, ou noutras ciências sociais - a modelização a partir do que foi observado na biologia dos indivíduos, dos grupos e dos ecossistemas. Historicamente, a economia e a sociologia desenvolveram-se e criaram seus paradigmas no século XIX, quando a ciência biológica estava ainda na sua infância. A compreensão do mundo vivo explodiu literalmente no século XX. Essa explosão prolonga-se no presente século.
Eu sei que existem modelos que tentam mimetizar o processo da Evolução Biológica, mas também me parecem pobres, inadequados. Talvez, porque são feitos por economistas, filósofos ou outros, que veem do exterior a Biologia e a Evolução. Não sei se a era da biotecnologia irá mudar o modo como «decisores» políticos, e outros, encaram as questões. Atualmente, vejo antes «uma invasão» de mentalidade tecnocrática, típica de economistas e engenheiros, a infestar os cérebros, nos domínios da biologia aplicada. Talvez seja uma fase transitória. Porém, a formação dos cientistas (sejam biólogos, sejam outros) é cada vez mais precocemente especializada, pelo que eles não têm uma visão panorâmica quer na Natureza, quer da sociedade humana. Para haver inversão de paradigma, seria preciso haver uma mudança radical, ao nível da formação académica.
Basicamente, o que a Natureza nos ensina, é muito simples de adotar porque temos o próprio modelo em funcionamento, literalmente, debaixo dos olhos. Quer o tomemos tal como ele é, quer o transformemos, para servir nossos propósitos, estamos somente a operar como «oportunistas», que se aproveitaram duma longuíssima cadeia de ensaios (desde que a vida começou, há mais de 4 biliões de anos!) e que colhem os frutos da sabedoria acumulada. Mas, afinal, é o mais natural e biológico a fazer.
Aliás, pode dizer-se que foi graças a essa atitude, que uns frágeis símios das savanas, há uns milhões de anos, criaram a sua tecnologia, transmitiram esse saber técnico e construíram sociedades baseadas na troca, evoluindo até à humanidade de hoje!
Sinto-me impotente para explicar melhor o meu sentimento: Seria preciso haver, na nossa época, maior cooperação e menos competição. Não considero isto original, nem pretendo que o seja, mas tenho impressão de que esta visão da Natureza é desprezada pelos meus contemporâneos. Creio que houve momentos na História das Sociedades e Civilizações, em que a Natureza foi muito mais respeitada, foi seguida como fonte do que é bom, justo e apropriado (a «Mãe-Natureza»). Quanto mais tarde a humanidade regressar ao paradigma natural, desde a sociologia, antropologia, psicologia, política, urbanismo, à economia, mais irá sofrer. Sofrimento absurdo, porque não há necessidade, nem vantagem, em continuar neste jogo sadomasoquista de destruição, de depredação e de domínio violento sobre a Natureza e os homens.
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(*) Vejam-se os exemplos dados por Fressoz, na sua conferência, AQUI.
PS1: Pensar-se que o dinheiro é algo «neutro», que é um mero instrumento, que depende só das mãos em quem ele está, é um erro crasso. As pessoas que acreditam nisso, são demasiado ingénuas e podem ser exploradas pelos espertos sem escrúpulos. Quando às que detêm realmente as alavancas do dinheiro, desde a sua emissão, à circulação e à distribuição, sabem que tal não é assim. Dirão que é um instrumento neutro, para confundir e ocultar o facto (tão evidente, afinal) que «quem detém o poder de emissão da divisa de uma nação é quem detém o poder verdadeiro, ao ponto de lhe ser indiferente quem governa e quem faz as leis»... Este pensamento, atribuído a Mayer Amschel Rothschild, continua a ter plena atualidade.
O sistema monetário «fiducitário» (ou seja, o dinheiro baseado «na confiança» que o público tenha nos que o emitem), é a base do poder da finança. Mas, para que outro sistema o venha substituir, não apenas tem de ser operacional nas condições atuais, mas deverá ter clara vantagem sobre o sistema que ele substitui. Creio que é esse o problema principal contemporâneo; a manutenção e evolução de uma civilização mundializada passam por aí.
segunda-feira, 18 de novembro de 2019
CHAVE PARA RELACIONAMENTOS HARMONIOSOS
quinta-feira, 18 de janeiro de 2018
FRAGMENTOS [OBRAS DE MANUEL BANET]
Algumas pessoas poderão dizer que todos os juízos sobre arte e, mesmo, todos os objectos de arte, se valem. Mas igualizar assim, de modo brutal, tudo o que seja produção artística, soa antes a um sofisma: Com efeito, a comunicação em arte ocorre, se e somente se houver transmissão da emoção, do sentimento, do objecto ou do ser representado, para o observador.
A emoção em bruto, ressentida pelo artista, é filtrada, é trabalhada interiormente e transmite-se ao espectador/receptor... Será isto a essência do que se considera arte?
Sempre soube, ou intui antes de o teorizar, que o passado é que é real, mesmo que já não se possa experimentar directamente a emoção dum instante passado.
Confesso ser influenciado pela música, pela pintura, etc. de eras passadas. Recebo a reverberação do passado sobre o presente. O passado, reactualizado na vivência do presente, está presente ...
SOBRE SABEDORIA
Tal equivaleria ao ciclo de vida típico dos insectos, em que a geração filial está separada temporalmente da geração parental: os novos seres nascem de ovos, na estação favorável, quando seus progenitores já estão todos mortos.
Em consequência disto, o comportamento destas espécies tem de ser quase todo determinado pelo instinto, pois não têm oportunidade de realizar aprendizagens, durante sua curta existência, que lhes ensinem como sobreviver e prosperar.
À medida que se passa às formas mais complexas, mais elaboradas de seres vivos, a parte de instinto no comportamento vai diminuindo, a parte de cultura vai aumentando.
O humano, será, afinal, um ser animal cujos instintos, não foram suprimidos, mas apenas dominados: no interior, pela mais recente aquisição evolutiva do cérebro (o neocórtex) e, no exterior, pela organização social e pela cultura, no sentido lato.
SOBRE A EDUCAÇÃO
- A memória humana é plástica, selectiva, altamente subjectiva, umas vezes precisa, outras vezes vaga. Ela também se pode auto-estimular, auto-construir-se e reconstruir-se; não tem nada que ver com máquinas fabricadas pelos homens. Estas podem simular, apenas e de modo muito imperfeito, o raciocínio lógico cerebral. Quanto ao domínio emocional, permanece exclusivo do cérebro humano (e animal).
As pessoas confundem, muitas vezes, o conhecimento de si próprio com narcisismo. Enquanto o mito de Narciso tem profundo significado psicológico, o termo «narcisismo» é usado - de forma redutora - para designar uma patologia, uma forma extremada do amor de si.
terça-feira, 12 de dezembro de 2017
O MUNDO CARACOL
segunda-feira, 11 de dezembro de 2017
SOMOS TOLERANTES? EM QUE SENTIDO?
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017
SABER VIVER EM PAZ CONNOSCO PRÓPRIOS E COM OS OUTROS (*)
domingo, 14 de agosto de 2016
A VERDADE OU O CONTRÁRIO DA SABEDORIA
Normalmente através de uma série de «testes», que nós acreditamos permitir decidir aquilo que é «verdadeiro», daquilo que não é. Porém, os «testes de verdade» são meros reforços de nossos preconceitos, não são realmente testes cientificamente validados:
- Quando obtemos um resultado contrário aos nossos preconceitos/convicções, simplesmente ignoramos ou damos como não pertinente ou como defeituoso o tal «teste de verdade».
- Pelo contrário, se ele vier confirmar as nossas convicções/preconceitos, o teste e o resultado que dele emana é tido como válido.
Este modo de pensar, absolutamente tendencioso, perverso mesmo, aplica-se sobretudo a todas as relações com os nossos próximos, familiares, amigos e colegas. É no domínio das relações pessoais que este género de autoconvencimento e de autocondicionamento opera.
É assim que certa imagem interior desta ou daquela pessoa próxima se infiltra na nossa mente, fazendo com que tenhamos a ilusão de conhecê-la «por dentro».
O nosso universo relacional está formado por uma teia de preconceitos, que nós tecemos constantemente em relação aos outros, mas também dos outros em relação a nós próprios.
Por isso, muitas vezes ficamos admirados e angustiados, quando alguém mostra que afinal não nos compreende. Somos muito sensíveis às falhas de compreensão dos entes que nos são próximos. Estimamos que eles têm a chave da nossa personalidade, que nós não temos segredos para eles.
Porém, as pessoas são completamente opacas umas para as outas. O que julgamos ser o outro, nada mais é do que o nosso reflexo subjetivo da imagem do outro, na nossa mente. Esta constatação é válida, não importa qual o grau de intimidade e de interação efetiva que exista entre nós e o outro.
Quando falo de religião, não estou a mencionar apenas as convencionais, as religiões organizadas, com igrejas ou comunidades estruturadas, com os seus ritos, suas tradições etc. Também me estou a referir a sistemas de crenças desde a astrologia, ocultismo, esoterismo até às diversas ideologias políticas, etc…
Alguns poderão objetar que as sociedades em que nós vivemos, as chamadas democracias de modelo ocidental, são isso mesmo, sociedades onde não reina nenhum modelo religioso, onde uma pessoa é livre de pensar o que quiser e de comunicar esse pensamento, sem haver qualquer impedimento, desde que isso não ponha em causa a liberdade dos outros.
Pois aí está um credo religioso, o neoliberalismo, que se tenta naturalizar, fazendo com que as pessoas adotem como única visão possível e desejável uma sociedade regida pelo «ter» sobrepondo-se ao «ser», pela posse ou propriedade investida de valor absoluto, ao ponto de definir o valor dos indivíduos (o teu valor é o da tua conta bancária), uma sociedade que deífica o dinheiro, convencida de que «ele» existe, de que é a «coisa mais real» que existe. Chega-se ao cúmulo de atribuir vida, vontade própria, a esse símbolo…
O caminho a trilhar consiste em procurar, não a «verdade» das outras pessoas ou seres, mas sim a relação, as relações entre as coisas/seres umas com as outras e a interação dessas coisas/seres connosco próprios.
Se adotarmos este ponto de vista filosófico, muito simples e fácil de aceitar, teremos ainda que pô-lo em prática, no quotidiano e isso afigura-se mais difícil. Mas as dificuldades serão compensadas pela capacidade de lidar melhor com a realidade, de não nos auto iludirmos com as «realidades» que fabricamos dentro das nossas mentes, mas que não são reais.
quinta-feira, 16 de junho de 2016
sábado, 11 de junho de 2016
O que a Internet tem de bom
I have realized that the past and future are real illusions,
that they exist in the present, which is what there is and
all there is.
me tenho socorrido, em várias circunstâncias.
Alain de Botton - «The Book of Life»
Muitas vezes danço ao som da música que estou a ouvir, no meu
estúdio. Nem sempre é convencionalmente chamada música
«para dançar».
caracteriza, é a sua perfeita adaptação para certos estados que
eu tenho vivido. Assumindo inteiramente a responsabilidade
sobre as «comidas» com que alimento o meu espírito, vivo
melhor, mais livre.
Esta é uma espécie de auto-terapia, derivada do que
resulta comigo, empiricamente. Serve-me bem, mas pode não
te servir, de modo nenhum, caro leitor...Somente à tua pessoa
compete decidir sobre o relacionamento com a Internet!