Mostrar mensagens com a etiqueta gravuras rupestres. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta gravuras rupestres. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 23 de junho de 2023

Descobertas gravuras atribuídas a Neandertais, com 57 mil anos

 https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0286568


               thumbnail

Acima, um dos painéis com traçados de dedos; em baixo, o desenho esquemático da mesma gravura da gruta de La Roche-Cotard

[Ler o artigo, clicando no link acima; o meu comentário parte do princípio que os leitores tomaram conhecimento do seu conteúdo primeiro]



Comentário

Os Neandertais têm estado por cá (em toda a Europa, desde a Península Ibérica ao limite oriental dos Urais e, para além destes, na Sibéria; no Médio Oriente, desde o Levante/Israel, até ao Iraque) nos últimos 200 mil anos, tendo saído de África muito antes do «Homem Moderno Antigo» (ou seja, a nossa espécie Homo sapiens). Eles conseguiram sobreviver a períodos de glaciação, a modificações acentuadas do habitat e tiveram tempo de se adaptar a climas de um frio extremo, como mostram a sua anatomia entroncada, muito musculosa, o seu nariz grande (para aquecer o ar inspirado), etc. 

Segundo os padrões de beleza contemporâneos (e da antiguidade clássica) eles não seriam elegantes. Foram classificados como «sub-humanos» por arqueólogos e paleontólogos do século XIX, que estavam muito mais preocupados em encontrar «o elo perdido» entre o homem e o macaco, do que em avaliar objetivamente os restos fossilizados e as culturas que correspondiam aos Neandertais. 

O facto de que os homens nessa zona da Europa, na época em causa ( -57 mil anos) só podiam ser Neandertais tem a ver com a extrema dificuldade dos H. sapiens conseguirem colonizar o continente Euro-asiático. Com efeito, sabe-se hoje, que o «Homem Moderno Antigo», embora surgido primeiro em África, por volta de 300 mil anos atrás,  não ocupou definitivamente a Europa senão vários milénios após a referida data de 57 mil anos antes do presente. Porém, tinha havido 2 colonizações anteriores, do continente euroasiático pelo H. sapiens, que não deixaram continuidade. Eles tomaram o caminho do Mar Vermelho e não do Mediterrâneo.

Os vestígios europeus mais antigos de arte parietal, como na Gruta de Chauvet, atribuídas ao Homo sapiens, datam de 35 mil anos. No Norte da Espanha, na Gruta del Castillo, existem pinturas parietais datadas com mais de 40 mil anos; pensa-se que, nessa época, somente neandertais aí habitavam. Noutros pontos da Península Ibérica, são abundantes sítios arqueológicos, com artefactos e restos fossilizados de neandertais, que revelam a sua grande difusão nesta península. Mas, também são conhecidos exemplares de neandertais na Sibéria e noutros pontos distantes.

Este estudo - agora publicado - vem na sequência de trabalhos anteriores, que já tinham revelado muitos elementos de cultura neandertal. Pessoalmente estou convencido que estas descobertas  [que se vêm juntar às de misteriosas pinturas parietais em vários pontos da Península Ibérica e com indícios de ornamentação corporal, como conchas com vestígios de ocre (para pintar o corpo) assim como restos fossilizados de penas (de aves de grande porte, como águias e abutres) ] obrigam a comunidade científica a alargar o conceito de arte paleolítica.

A arte - em geral - pode ser vista segundo dois prismas, essencialmente: 

 ou é vista como representação do real. Isto inclui o sobrenatural, pois ele é considerado real pelo artista que o representa.

ou é vista como signo, como sinal, como mensagem codificada; a pertença a um clã, a uma tribo, será identificável com os sinais exclusivos desse clã ou tribo. 

Isso existe na nossa espécie o Homem Moderno, desde o princípio, visto que as grutas decoradas do paleolítico, estão cheias de sinais «abstratos» , mas que não são arbitrários, pois se repetem (alguns, apresentam-se em locais distantes, no tempo e no espaço). 

Na espécie nossa estreita parente, Homo neanderthalensis, suas condições de vida foram muito mais rudes, durante boa parte da sua existência no continente europeu. Não é difícil compreender que estavam forçados pela natureza do clima (de tipo peri-ártico; de tundra) a deambularem de sítio para sítio, ficando em cavernas ou abrigos temporários, sem continuidade, quanto muito visitando, ano após ano, determinados locais.  Lembro também que os locais mais ricos em imagens e gravuras no paleolítico superior (ex. Na gruta Chauvet), estão nos locais mais recônditos das grutas. Por vezes, são quase inacessíveis: seria uma prova tremenda se aventurar no seu interior, segurando apenas lamparinas com gordura, para se iluminarem. 

A representação não é - de qualquer modo - um critério para se avaliar o grau de desenvolvimento duma cultura. Basta lembrar que existem tabus (proibições religiosas) em sociedades como as islâmicas, em representar figuras de humanos ou de animais. Evidentemente, estas sociedades não estão num «estádio menos avançado» de desenvolvimento, por comparação com aquelas onde a representação do humano não é tabu. 

Analogamente, a «superioridade» do Homo sapiens sobre o neanderthalensis é apenas um efeito de nos projetarmos a nós próprios no cume, a realização máxima da Evolução. Como biólogo, estou consciente de que houve um conjunto muito diferente de circunstâncias, nomeadamente para as duas espécies: Um clima peri-ártico do habitat dos neandertais e um clima tropical ou de savana africana, nos sapiens que migraram para a Europa. 

O que se pode esperar em populações longamente separadas, submetidas a diferentes pressões ambientais, senão que divirjam como consequência da sua adaptação e tenham portanto traços anatómicos próprios e também comportamentos, incluindo tradições culturais? Homo neanderthalensis e H. sapiens viveram em quase total separação entre -300 mil anos (a data aproximada de aparecimento do homem moderno, em África) e cerca de -45 mil anos (aproximadamente, o  encontro das duas populações no Levante). São 255 mil anos de separação, no mínimo, ou seja, cem vezes o intervalo temporal desde a antiguidade*, aos nossos dias.

Espero que as pessoas se interessem pela Paleoantropologia, ela dá uma perspetiva de como viemos de longe e de como sabemos pouco, demasiado pouco, sobre nós próprios!!

-------------

* Contando a partir da idade de ouro da civilização grega antiga, cerca 2550 anos antes da atualidade.


quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

NA AVENTURA HUMANA, A ARTE COMEÇOU MAIS CEDO DO QUE SE PENSAVA...

Quando me refiro à aventura humana, não estou a pensar nos mais de 2,5 milhões de anos do processo de humanação, desde os vários Pithecantropus, ao género Homo e suas notáveis espécies…

         
                     Imagem: a mais antiga pintura figurativa (grota em Sulawesi)

Sabemos que houve ornamentação e certo grau de abstracção nas culturas dos Homo neanderthalensis, mas, na minha subjectividade, o «nós» começa realmente com a espécie Homo sapiens que, segundo os dados mais recentes da paleo-antropologia, deve ter surgido em África há cerca de 350 mil anos. Esta espécie, que é afinal a nossa, propagou-se muito rapidamente em vários continentes, adaptando-se a condições naturais muito diversas, desenvolvendo novas técnicas e também uma cultura simbólica cujos principais traços apenas podem ser delineados através dos vestígios materiais que deixou.
A foto acima mostra impressões de mãos e uma figura animal, difícil de se perceber: faz parte do notável conjunto de arte parietal,  duma gruta de Sulawesi que é hoje da Indonésia, com a remota idade de 40 mil anos. 
A gruta de Chauvet (em França) foi datada em cerca de 35 mil anos. Muitos outros vestígios de arte rupestre europeia pertencem a épocas mais recentes, como é o caso de Lascaux, Altamira, Foz Côa…
As figuras presentes em todos estes exemplos de arte parietal – sem dúvida, representações de forças cósmicas, assumindo a forma de leões, alces, cavalos, bisontes, etc… - espantam pela forma muito perfeita, que nos permite reconhecer - não apenas os animais selvagens contemporâneos - como o detalhe de animais extintos, os rinocerontes lanígeros, ou os mamutes.
Mas, sobretudo, espanta a capacidade de captar o movimento apenas com um traço, a sobreposição de várias posições, traduzindo os movimentos do animal (visível em certos frescos de Chauvet e nalgumas gravuras de Foz Côa), o aproveitamento dos relevos naturais das rochas nas paredes ou tectos, para dar um efeito de volume, de sombreado. 

                      Image result for lionnes de Chauvet


                 
                   Acima: Grota Chauvet. Abaixo: Relevo cavalos Foz Côa                  


Estas figuras tinham a virtude mágica de se pôr em movimento, aquando dos ritos iniciáticos, à luz dos archotes.

Como dizia Picasso, ao sair da gruta de Lascaux, recém-descoberta: «nós não inventámos nada! Eles já sabiam tudo!». Com efeito, eles tinham um olhar atento e agudo, a mestria da forma e do movimento, a ciência dos pigmentos, sabiam jogar com o relevo e com sombra e luz …


O etnocentrismo, segundo o qual a nossa civilização seria a mais evoluída e as realizações do Homem contemporâneo superiores ... baseiam-se na ideia (muito antiquada, afinal) de que existe um «progresso», visto como um aperfeiçoamento na escala física, mental, moral e cultural da humanidade.
Deste sentido preciso de progresso só posso discordar totalmente, face às numerosas evidências de que disponho e que a ciência paleo-antropológica mais avançada nos põe diante dos olhos:
- O ser humano cedo assumiu a plenitude das suas características, físicas e psíquicas. Seria mais fácil admitir uma decadência, pois é certo que a aptidão física foi decrescendo, à medida que os humanos se fecharam em grandes cidades e que as suas formas de subsistência foram cada vez menos tributárias da força física.
Os homens de há várias dezenas de milhares de anos, assim como os raros caçadores-recolectores que restam neste Planeta, eram/são dotados de capacidades físicas notáveis. Porém, já nos seus alvores, a nossa espécie era também portadora de sofisticação cultural num grau muito superior ao doutros símios antropóides e mesmo dos nossos antepassados ante-humanos, de outras espécies do género Homo.
Isto explica-se facilmente na medida em que a subsistência e a expansão de Homo sapiens estavam dependentes da capacidade de tecer laços profundos, de constituir uma sociedade que possuísse um máximo de resiliência colectiva.
Os grupos humanos primitivos têm as prioridades da vida na ordem correta, ao contrário dos civilizados, sobretudo quando estes estão encerrados numa cultura tecnológica, da qual são escravos… sem o saberem.

A espantosa aventura humana consistiu nos mais de trezentos mil anos ANTES do que hoje se convenciona chamar «a civilização», o aparecimento de sociedades urbanas, com um poder centralizado, com religiões, sacerdotes e templos, com exércitos e guerras, etc…
Embora quase tudo na História dessa humanidade do período paleolítico pareça estar irremediavelmente perdido, pode-se ainda, através da antropologia física e da arqueologia reconstruir algo do que foi esta aventura. A evidência de simultânea expressão artística em duas regiões muito afastadas do globo, é indicação de que as capacidades artísticas já eram partilhadas pelos grupos humanos ANTES de saírem de África, há cerca de 80 - 90 mil anos. 
A tendência para romantizar a humanidade do paleolítico pode estar presente, mesmo nos espíritos mais rigorosos podem existir projecções inconscientes das concepções dos homens modernos e seus preconceitos.
Mas pode-se resistir a essa tendência implícita de reconstruir o passado à nossa imagem pois, na verdade, sabemos demasiado pouco sobre os grupos humanos que constituíram as primeiras culturas, produtoras de arte parietal. 
Conhecemos as técnicas materiais que utilizavam, sabemos qual o seu modo de vida genérico, podemos – por vezes – isolar e sequenciar o seu ADN, mas não fazemos ideia de como seriam seus idiomas, qual a extensão dos seus saberes, nomeadamente em relação aos fenómenos naturais, quais as narrativas que relacionavam o mundo dos humanos com a natureza e o sobrenatural… Talvez as culturas de há 40 mil anos atrás fossem semelhantes, pelo menos em certos aspectos, às culturas de caçadores-recolectores actuais, mas isto é uma mera hipótese…

A única certeza que possuo em relação a este assunto, é a seguinte: 
- Quaisquer que sejam os factos que a paleo-antropologia e as outras ciências venham a revelar, o importante é  que os humanos de hoje saibam mais e melhor sobre a profundidade da humanidade e da sua aventura.
Acredito que isso aumentará a humildade das pessoas e não a sua soberba; que o conhecimento desta história irá eliminar ou ajudar a combater o racismo, a xenofobia e o etnocentrismo, visto que a humanidade actual é una. 
Somos descendentes dos Homo sapiens, que se espalharam pelos 5 continentes (África, Europa, Ásia, Austrália e América). 
As pessoas, esclarecidas e informadas, terão desejo de preservar os vestígios e monumentos do passado, em promover o desenvolvimento das técnicas e da sociedade tecnológica, no respeito pelas culturas  tradicionais existentes (incluindo o respeito pelo território e pela dignidade dos actuais caçadores-recolectores), tal como pelas do passado e pelo mundo natural. 
Sem isso, sem um respeito profundo por si própria, enquanto humanidade multi-facetada, pelo seu próprio passado e pelo mundo natural, sejam quais forem os progressos tecnológicos, a humanidade caminhará para a degradação e para o abismo.



sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

NEANDERTAIS E HUMANOS «MODERNOS» - CIÊNCIA E VULGARIZAÇÃO CIENTÍFICA

                 
                            Conchas perfuradas e restos de ocre em sítios arqueológicos datados
                             e identificados com os Neandertais 
                             http://advances.sciencemag.org/content/4/2/eaar5255
                             
A somar a muitas outras anteriores, chega-nos a notícia de que grutas em zonas do Sul de Espanha tinham pinturas rupestres (não figurativas) originárias de uma época em que a zona somente era povoada por neandertais, sendo certo que os «Homo sapiens modernos» ainda não tinham aí chegado. Estes saíram de África, segundo se estima actualmente, há menos de 60 mil anos, tendo permanecido vários milénios no Levante (onde é hoje Israel, Líbano...). 
Eles, os homens «modernos», antes de chegar à Península Ibérica, dispersaram-se por zonas do Centro e do Leste da Europa e por outro caminho - bordejando o Mediterrâneo - ocuparam territórios no Sul e Oeste europeu.


                                     
Sendo os humanos modernos uma espécie em competição directa pelos mesmos recursos que seus parentes, os Homo sapiens neanderthalensis, as zonas anteriormente povoadas  exclusivamente por neandertais foram sendo também aquelas onde os humanos «modernos» se vieram a estabelecer. 
A substituição não foi brusca, pelo contrário, foi muito longa. Houve - de certeza  - hibridação genética (todos os euroasiáticos possuem pedaços de ADN de origem neandertal, sabe-se isso desde os princípios deste milénio); houve também «hibridação cultural», desde há muito que se reconheceu que populações neandertais, supostamente mais «primitivas», teriam copiado muita tecnologia dos Homo sapiens «modernos», sendo muito incerto atribuir certos sítios arqueológicos a homens «modernos» ou aos neandertais, somente com base em artefactos obtidos nas escavações. 

Não há dúvida de que, no caso da humanidade ancestral, a dinâmica populacional é complexa e não se coaduna facilmente com o estereótipo de uma «progressão linear», de uma «evolução progressiva e ininterrupta» instilada pela media ignorante e apressada, ou pelos «manuais de História» adoptados no ensino, que retraçam os primórdios da Humanidade de modo muito esquemático, ao ponto de transmitir ou reforçar ideias-feitas (preconceitos) nos alunos. 
Por fim, temos uma comunidade científica que debate com calor os seus pontos de vista, nem sempre utilizando bons argumentos: Veja-se o caso da polémica (científica, antes de se tornar mediática) em torno do «menino de Lapedo» (descoberto e descrito por João Zilhão, 1998).

Para mim, é ocasião de me maravilhar, pelo facto de cientistas estarem muito preocupados em fazer encaixar a realidade das suas descobertas dentro dum quadro rígido conceptual, ou seja:
Existem conceitos de espécie diversos. 
Por exemplo, o conceito de espécie de Lineu, implícito na taxonomia de espécie bi-nominal (o nome específico do homem é Homo sapiens; o género ao qual pertence é apenas "Homo")... ainda está presente, cada vez que se dá um nome (segundo a nomenclatura taxonómica) a nova espécie...
Ou o conceito biológico de espécie, devido Ernst Mayr: segundo esta definição, são da mesma espécie os indivíduos que -no seu ambiente natural (não enjaulados, etc)- se cruzam e dão descendência fértil. Isto significa que os híbridos, resultantes do cruzamento das duas populações iniciais, podem cruzar-se entre si, sem perda de fecundidade e tendo descendência plenamente fértil.
No século XIX e princípio do séc. XX, com a popularização do Darwinismo e de teorias evolutivas associadas a uma antropologia «racial», punha-se a questão de saber se as diversas «raças» humanas  deveriam ser classificadas como seres da mesma espécie... Foi necessário muito sangue e sofrimento para que fossem varridos os preconceitos racistas que imbuíam os discursos de muitos cientistas (antropólogos, historiadores, biólogos, sociólogos... e claro, depois repercutidos pelos media, até ao «homem da rua»). 
Só se começou a questionar seriamente o conceito de «raça» aplicado ao humano na década de 1960, com LewontinStephen Jay Gould e outros. 
Segundo a biologia, uma nova raça (no sentido verdadeiro, sem aspas) é uma nova espécie que está em formação, que ainda não se separou completamente da espécie de origem. Há ainda interfecundidade com a espécie de onde provém,   mas esta já não é perfeita. Por exemplo, a taxa de fertilidade dos híbridos (a descendência de 1ª geração, resultante do cruzamento entre raças «puras») está diminuída. 
Uma população onde os indivíduos possuem um decréscimo significativo da fecundidade no estado natural, está - a prazo - condenada a desaparecer. 
Suponho que tal deve ter acontecido, ao longo de muitas centenas e mesmo milhares de anos, às populações dos neandertais que se intercruzaram com homens «modernos». 
Os híbridos teriam menor viabilidade do que qualquer uma das linhagens puras - neandertal e homem moderno. 
Tal é possível nas espécies em causa, porque os neandertais evoluíram durante muitos milhares de anos (mais de 100 mil?) de forma completamente separada dos restantes Homo, que permaneceram em África
Por outras palavras: após tanto tempo, o homem de Neanderthal, devido às adaptações ao clima muito frio e agreste do continente euro-asiático (equivalente aos climas do extremo norte da Europa ou da Sibéria, de hoje), era inevitável que seus genes tivessem diferenças significativas em relação aos homens «modernos», que permaneceram em África, do outro lado do Mediterrâneo: estes últimos só entraram na Europa há cerca de 60 mil anos... 
O encontro e cruzamento entre as várias sub-espécies (ou raças verdadeiras) que constituíam as várias populações do género Homo no continente euroasiático, com a espécie Homo sapiens «ancestral» vinda de África, acabou por esbater as marcadas diferenças físicas (morfológicas, bioquímicas, etc). 
A espécie humana actual é única e as chamadas «raças» não são verdadeiras raças*, pois a inter-fecundidade, entre os membros de diversas etnias ou populações e a fecundidade dos seus híbridos é plena: não existe qualquer tipo de barreira genética ao cruzamento. 
O preconceito é que torna tão complicado o assunto, pois as espécies humanas desaparecidas são vistas, subjectivamente, como «nossas» ancestrais. 
Se as víssemos apenas como um conjunto de espécies que evoluíram, espécies que são objecto de estudo em paleoantropologia, em biologia e em genética das populações... talvez houvesse menos carga emotiva no debate! 
- Mas nós, os humanos, somos assim... subjectivizamos tudo!  

...............
*ver também o meu livro de 2008, sobre o processo de humanação: 
https://app.luminpdf.com/viewer/cSg3omvykP9g3rj5u