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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

PSICOLOGIA DO DINHEIRO

Tenho refletido sobre as relações entre as coisas reais e as simbólicas, nomeadamente, o dinheiro. Nas sociedades humanas, a partir de certa altura, o dinheiro começou a ter uma importância maior do que eu chamo as relações reais. Não consigo situar rigorosamente na História, talvez seja muito diferente a cronologia de civilização para civilização, mas o facto é que hoje em dia existe uma «crença religiosa», uma extensa adoração fetichista do dinheiro, é transversal a culturas, a civilizações e a outras crenças.

Se nós estamos tão dependentes de pensar tudo em termos de um mero meio de troca, isso deve-se ao facto de sermos quase todos reféns (salvo os caçadores-recolectores que sobrevivem em locais remotos). Reféns de uma civilização mundializada, que coloca em primeiro lugar e como suprema «virtude», possuir e adquirir dinheiro.

Não sou especialista de ficção-científica, ao ponto de saber se algum autor terá construído uma história de uma civilização baseada numa organização sem dinheiro, sem que a unidade de troca seja o objeto supremo de adoração e a razão de ser de praticamente tudo. Admito que sim. Pessoalmente, a minha observação atenta da vida animal (e da biologia, em geral), levou-me a privilegiar o balanço energético, ou seja, o rendimento entre a energia despendida sobre a energia adquirida, como um critério de primeiro plano, para a tomada de decisão.

As células, os organismos, as sociedades e os ecossistemas estão todos sujeitos às Leis da Termodinâmica. Os seus constrangimentos são tais, que ninguém escapa: Alguém, ao ignorar ou ao deixar de agir em função desse simples cálculo implícito, realizado pelos seres vivos, esse alguém está a condenar-se a uma perda de eficiência, no mínimo e isso pode ir até à perda da própria vida.

Somente a espécie humana parece mostrar, em certos  casos, completa ignorância desta realidade física fundamental. A maior parte das desgraças, a um nível coletivo ou individual, estão relacionadas diretamente com essa ignorância.

O enorme esquema fraudulento que dá pelo nome impreciso de «Alterações Climáticas», não é mais do que a utilização do domínio da energia em benefício de uma elite. Ela nem o disfarça de forma muito eficaz, quando se desloca em jets privados às conferências «climáticas».

Não pensem que a «elite» do dinheiro seja muito astuta, muito esperta, muito inteligente. Ela apenas tem ao seu serviço alguns especialistas em manipulação, tais como psicólogos, sociólogos, antropólogos, especialistas em publicidade, que lhes fabricam narrativas adequadas para manter os povos debaixo de um domínio mental, condicionados pelo medo, pelas narrativas catastrofistas, pela ocultação de certos factos e pela distorção de outros, resultando daí uma imagem completamente falsa do real.

A bolha imaginária envolve os indivíduos; tudo tem de passar-se dentro desta bolha, em termos sociais, como se isso fosse a realidade. Uma Matrix, na sociedade do século XXI, manipulável por aqueles que detêm o controle das narrativas e dos meios de persuasão. Não pensem que estes são limitados, eles vão desde a guerra e seus horríveis efeitos, às mais diversas manifestações de futilidade, que enchem as televisões e as redes sociais.

O investir esse símbolo - o dinheiro - de virtudes mágicas, permite ocultar a manipulação pelas elites. Elas controlam praticamente tudo o que é importante, na vida das sociedades: processos produtivos, meios de coerção dos Estados, mecanismos de remuneração e de distribuição. Ao fazê-lo, tornam opacos os muitos mecanismos pelos quais são desviados esses tais meios: Essencialmente, os produtos da sociedade no seu conjunto, transformados em meios pessoais de poder.

Essa elite constitui a casta depredadora, por excelência: não tem como critério senão a conservação do poder, ou a sua aumentação. Pode haver depredação ecológica, pode haver esgotamento de recursos naturais, extinção de espécies e de ecossistemas etc. Mas, a responsabilidade é sempre atirada para a «civilização», para a «sociedade», a «natureza humana». No entanto, é simplesmente resultado do processo de apropriação dos bens coletivos, da privatização de tudo o que é de todos, da Natureza à cultura, em proveito de uma pequeníssima minoria.


O dinheiro tornou-se «totem e tabu» desta civilização, erigido em justificação máxima, em explicação e em razão última para tudo. Mas, isto - obviamente - é deliberado; não é espontâneo; é conseguido pelo condicionamento constante de todos nós.
Se quisermos continuar a ser escravizados, podemos manter a nossa dependência patológica a essa visão mecanicista, ridícula, como muito bem caracterizou B. Brecht num poema,* inserido numa das suas peças de teatro:
«não sei o que é um homem, só sei o seu preço»

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(*)CANÇÃO DO MERCADOR

(letra de B. Brecht; trad. 1974)


Há arroz lá no fundo ao pé do rio

Nas províncias altas as gentes precisam de arroz

Se guardamos o arroz em armazém

O arroz irá tornar-se mais caro para eles

E os revendedores terão ainda menos arroz

Então poderei comprar o arroz ainda mais barato

O que é afinal o arroz?

Sei lá, sei lá o que é!

Sei lá quem o sabe!

Não sei o que é um grão de arroz

Só sei o seu preço


O Inverno chega, as pessoas precisam de agasalhos

É preciso comprar algodão

E não o distribuir

Quando chega o frio os agasalhos aumentam de preço

As fiações de algodão

Pagam salários mais altos

Aliás há algodão em excesso

Em boa verdade o que é o algodão?

Algodão, sei lá o que é!

Sei lá quem o sabe!

Não sei o que é o algodão

Só sei o seu preço


Ora o homem precisa de comer

E o homem torna-se mais caro

Para obter alimento são precisos homens

Os cozinheiros tornam a comida mais barata

Mas aqueles que a comem tornam-na mais cara

Aliás há muito poucos homens

O que é então um homem?

O homem, sei lá o que possa ser!

Sei lá quem o sabe!

Não sei o que é um homem

Só sei o seu preço




terça-feira, 29 de agosto de 2023

ALASDAIR MCLEOD: PROTEGENDO-SE DO FIM DAS DIVISAS FIAT

https://www.goldmoney.com/research/hedging-the-end-of-fiat


Do artigo de A. McLeod:

«Ao se discutir a aplicabilidade de bitcoin enquanto dinheiro, a sua inadequação como meio a partir do qual o crédito toma o seu valor foi mencionado e, também, que os entusiastas não tiveram em conta essa função essencial. De facto, a criação de crédito bancário é vista por muitos, quer no campo dos defensores do ouro, quer das cripto-divisas, como um mal e portanto, dizem que um dos benefícios principais do bitcoin é de nos vermos livres dos criadores do crédito. Os que seguem esta linha de raciocínio, falham na compreensão de que todo o dinheiro e as obrigações de pagá-lo, são de facto crédito, pois representam o armazenamento provisório de produção não consumida.  Porque todo o nosso consumo tem origem na produção, logo o meio de troca, seja ele qual for, é um meio de intermediação.

Existem duas distintas formas deste crédito, uma que não implica contrapartida (garante) e que existe apenas sob forma de ouro,  prata ou cobre, que são amoedados por conveniência. Não pode ser outra coisa, se excluirmos a troca direta (barter). O termo adequado para as moedas é dinheiro, para o distinguir das promessas de pagamento (em dinheiro) em data futura, o que se designa por crédito. »



PS.1: Um artigo de 04/09/2023, dá-nos uma panorâmica do ouro, enquanto padrão monetário, sendo particularmente interessante os detalhes sobre os erros cometidos durante o século XIX e as perspetivas dum futuro padrão-ouro, deste servir como reserva, garantindo a solidez das divisas:

quinta-feira, 20 de abril de 2023

DMITRY ORLOV - Lúcido diagnóstico de doença terminal dos EUA

 Abaixo, link de artigo de Dmitry Orlov (em francês):

Artigo original, em inglês:

https://cluborlov.wordpress.com/2023/04/10/the-futility-of-american-protest/


COMENTÁRIO

A minha impressão depois de ler o artigo acima, é que as sociedades da Europa Ocidental estão de tal maneira colonizadas mentalmente (e de todas as maneiras) pelos EUA, que têm vindo a adotar - inconscientemente - a visão americana do mundo e da sociedade, que lhes era totalmente estranha. A mentalidade que se desenvolveu e prevalece nos EUA, é tipicamente derivada do protestantismo de raiz calvinista, na sua vertente mais fundamentalista (puritana). Essa mentalidade acaba por se entranhar nos diversos estratos da população, pois esta tem sido incessantemente matraqueada durante séculos, por igrejas, sistemas de educação, instituições públicas, empresas, publicidade e cultura de massas.

Para mim, uma grande diferença de mentalidades entre um americano típico e um europeu típico, é que o primeiro está convencido de que «God is on our side», leia-se: do lado da América e do povo americano. Ora, esta é uma crença religiosa:  Está na essência do calvinismo e também do sionismo, ao fazer distinção entre «eleitos»  (Deus está ao seu lado), e os outros (estão perdidos, são pecadores, são perdedores...). É um sistema religioso (a teologia calvinista), que está na base dessa ideologia do «povo indispensável». É aí que radica a lógica das igrejas protestantes fundamentalistas, serem as mais intransigentes apoiantes de Israel, como se o estado sionista, racista e colonial, instalado na Palestina, fosse a «vanguarda» do Reino de Deus na Terra.

No que toca à relação das pessoas com o dinheiro, aos aspetos psicológicos desta relação, como muito bem sublinhou Orlov: Nos EUA, o dinheiro é o critério de tudo. 

Em países de raiz católica, como são os países latinos do sul da Europa, a relação ao dinheiro e à riqueza é (ou era) diferente da relação que têm  os cidadãos dos EUA:

- Tradicionalmente, na Europa do Sul, o facto de alguém ser rico, é compatível com ser-se pessoa de bem, se tiver adquirido a riqueza por meios lícitos e morais. Mas não é automático; os cidadãos estão atentos aos casos de enriquecimento à custa de processos nada limpos. 

Por contraste, para a moral comum dos EUA, ter-se muito dinheiro significa que a pessoa foi «eleita por Deus», que despejou sobre ela riqueza, enquanto sinal divino de que ela estava salva.

 Na Europa, uma pessoa rica pode SER, OU NÃO SER, considerada virtuosa. Mas, nos EUA a riqueza só pode ser sinónimo de virtude.



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PS 1: Uma sociedade em decomposição é aquilo que se pode ver, mas não é noticiado nos media mainstream do lado de cá do Atlântico:

https://www.armstrongeconomics.com/international-news/north_america/chicago-is-a-blue-warzone/

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

CRÓNICA (nº9) DA IIIª GUERRA MUNDIAL: POLÍTICAS NEOLIBERAIS E GUERRA


Poucas pessoas compreendem a distinção entre o dinheiro e «divisas em papel». Porém, é uma distinção fundamental. Dinheiro é, em primeiro lugar, um valor que existe intrinsecamente: Uma dada quantidade de ouro, de prata ou de cobre, estejam ou não amoedados, podem ter essa função. Os pedaços de papel, ou os seus substitutos digitais, não a têm, evidentemente.
O dinheiro verdadeiro, ou seja, algo tangível como um metal e materialmente quantificável é usado desde há mais de 6000 anos como meio de troca, como intermediário nas transações comerciais. A sua desvalorização é possível, como se verificou na península Ibérica do século XVI, quando a quantidade de ouro e sobretudo de prata aumentou rapidamente, em consequência da exploração brutal dos povos e das riquezas minerais do Novo Mundo. Mas, nos tempos mais recentes, a mineração dos metais preciosos é suscetível apenas de acrescentar anualmente uma quantidade muito modesta, que não pode ser causa de significativa descida da sua cotação mundial. O que acontece com o chamado dinheiro-papel, ou divisas-fiat, é completamente diferente. No passado, a impressão era em papel, hoje em dia a «impressão» das divisas é sobretudo digital.

As numerosas crises de hiperinflação que existiram e continuam a existir, não teriam razão de ser, tirando o caso acima citado ou outros análogos, caso não houvesse impressão «em papel» ou «eletrónica» das unidades de troca. Com efeito, estas são unidades, sim --- mas de crédito. Para se perceber esta mudança em profundidade, nada melhor que ler Alasdair Macleod « Imploding credit - The consequences». De uma forma pedagógica e muito bem documentada esclarece o que tem de ser esclarecido, sobre a questão do «dinheiro» que deixou de ser metálico ou, pelo menos, endossado a metal, mas simplesmente unidades de crédito emitidas pelos bancos centrais ou pelos bancos comerciais. A manipulação da quantidade desse crédito em circulação, o seu aumento (ou a sua retirada), influenciam de forma decisiva o valor dessas mesmas unidades de crédito. Se houver aumento, vai haver uma desvalorização deslizante ou brusca do seu valor, em termos de poder de compra. Que importa ser detentor de um trilião de unidades numa divisa (caso do dólar do Zimbabwé), se esta «fortuna» apenas me permite comprar 3 (três) ovos!


Quando o valor aquisitivo das divisas em papel desce, os detentores das mesmas perdem, enquanto que os devedores, que estavam obrigados a pagar determinadas somas, ficam a ganhar. Mas, além disto, existem outras formas de crédito: Por exemplo, se houver um contrato para fazer determinada obra, entregar um carregamento de matérias-primas, ou realizar um dado serviço, estes tipos de contratos estabelecem a obrigação de pagamento, do que beneficia da mercadoria ou serviço àquele que o forneceu, dentro de dado prazo, por exemplo, até 60 dias após entrega ou conclusão da obra, ou serviço. Ele deverá entregar ao fornecedor determinada soma, em divisas. Compreende-se que uma grande oscilação e quebra do valor das divisas seja sempre disruptiva. Ela não vai afundar somente as atividades especulativas, bolsistas e bancárias, como -também- a economia real: Hoje, quase tudo funciona a crédito.

Estamos, portanto, à beira do precipício. Já todos admitem que teremos uma crise económica global, não uma crise «cíclica», como costumam existir no sistema capitalista. Chegou-se ao ponto em que já é tarde demais para os governos e/ou bancos centrais fazerem algo eficaz para prevenir a catástrofe. A este propósito, é de notar que a tentativa da primeira-ministra britânica Liz Truz e do seu Ministro das finanças em fazerem passar um mini-orçamento de emergência falhou, porque a City vetou aspetos da proposta que iam contra os grandes interesses capitalistas. Nestas circunstâncias, o Banco Central Britânico foi obrigado a fazer uma viragem de 180º de emergência ! Isto ilustra a incapacidade de haver uma solução viável dentro do sistema.

             

 Logo, a «solução» que costuma ser adotada nestas circunstâncias, é recorrer à guerra. Foi o caso da Iª Guerra Mundial, mas não só. Uma guerra, implica a destruição massiva de ativos, de capacidade industrial, além de dizimar a população. Por que razão ela é escolhida pela classe capitalista (ou por parte dela), nestas circunstâncias? 

                      Georg Grosz desenhou capitalistas e pobres. depois da 1ª Guerra Mundial

- Porque a guerra permite obter lucros imediatos, com as vendas de armamento e de abastecimento, com garantias do ouro ou das obrigações governamentais. 

- Porque a crise económica, associada à guerra, vai precipitar na falência empresas pequenas, médias ou grandes, que não aguentam por causa das restrições ao abastecimento, ou da perda súbita da clientela, ou dos seus mercados. As grandes empresas e grupos financeiros (abutres) vão tomar conta deste capital, que não foi destruído pela guerra, a um preço de saldo, rentabilizando-o logo que a guerra acabe.

- Porque o país conquistado é um mercado aberto à gula predatória dos capitalistas, é um «Far West» onde estes podem fazer o que quiserem. 

- Porque a classe operária fica manietada, sem possibilidade de mexer-se, de fazer qualquer contestação, greve ou movimentação, em virtude das «leis de estado de guerra», invariavelmente passadas pelos parlamentos. Nestas circunstâncias, os capitalistas  têm a vida tranquila e podem aumentar a exploração até níveis nunca sonhados, antes do desencadear das hostilidades.

- Porque a guerra é acompanhada pela ascensão de ideologias autoritárias (a «fé» no chefe). Isso - em si mesmo - é do agrado da classe capitalista. Vai consolidar a aliança tríplice entre o sabre, a sotaina e a cartola.

Se não estamos mergulhados numa guerra nuclear agora, é porque existe algum bom-senso ou receio, nas «elites» oligárquicas. Mas, existem demasiados políticos no Ocidente, incluindo presidentes ou primeiros-ministros, que são corruptos, incompetentes e manietados por conselheiros, eles próprios, ao serviço de lobbies.

segunda-feira, 9 de maio de 2022

MEDITAÇÕES ECONOMICO-POLÍTICAS

                  

No longo prazo, como dizia Keynes, a nossa taxa de sobrevivência tende para zero. 

Todos sabemos que somos mortais, mas alguns de nós temos pretensão de ser eternos como os deuses, ou, pelo menos, deixar - para um futuro longínquo - a nossa marca, que se perpetuará através das nossas «obras». 


Legenda do gráfico: Uma evolução em 220 anos do preço do ouro e do índice Dow Jones da bolsa de Nova Iorque; E. von Greyerz assinala a possibilidade de queda de 97%, na proporção do observado em períodos anteriores (Retirado de GoldSwitzerland)

Enfim, a tal «aposta» no futuro é completamente vã, pois ninguém sabe a-priori porque determinado investimento ou combinação de investimentos tem a virtude de se manter ou multiplicar, enquanto outra, que parecia ser mais sólida, se desfaz ou estagna. Não existe previsão de longo prazo que não falhe, perante o caudal de acontecimentos que estão periodicamente a brotar, em todos os diversos aspetos da vida. Eu diria que estamos perante um modelo global de caos, perante um conjunto face ao qual não existe possibilidade de se aplicar uma lei, uma regra, uma previsão ou projeção racional. 

A mente humana está feita de tal maneira que deseja ver em tudo regularidade, significado, projetando o nosso desejo e querendo que os outros se conformem com as nossas fantasias, como se fossem resultantes de «observações objetivas». Isto faz-me lembrar de como, em criança, me divertia, a encontrar nos veios e irregularidades dos tampos de mesas, desenhos como perfis de cabeças de animais ou de pessoas. Um pouco como o outro jogo em que nos deitamos a olhar o céu e procuramos ver nas formas das nuvens animais, objetos, corpos ou caras de pessoas, etc.

As previsões, que fazem os chamados «especialistas» da informação económica e financeira, é do mesmo tipo que o jogo de crianças acima descrito, não tem qualquer cientificidade, mas reveste-se de todo um aparato estatístico, de gráficos, de palavras caras, para levar o seu leitor a se «autoconvencer» de que a melhor solução é investir em tal ou tal solução, que o «conselheiro financeiro» apresenta como a salvação, a maravilha. 

Eu confesso que tenho dado atenção a alguns e não a todos, isso seria impossível e idiota, daqueles que, periodicamente, na media mainstream ou alternativa, produzem discursos, não que me deixe convencer pelos seus diagnósticos, mas porque a massa  de dados estatísticos que acompanham suas teses podem ser lidas por mim, objetivamente. Por outras palavras, não preciso de conformar-me à leitura destes analistas dos mercados, pois possuo meu próprio juízo crítico e autocrítico, a minha massa de dados prévios. Tento aplicar isso ao domínio económico-financeiro, excluindo os aspetos subjetivos.

Há pessoas, no entanto, que são arrastadas neste contexto catastrófico para a economia real e num início de mercado descendente (bear market) - para a armadilha de «comprar, agora que está em baixa». Inevitavelmente equacionam o movimento de baixa como algo periódico, como a ondulação do mar, o que está agora «em baixa» depois estará «em alta», e vice-versa. Pois, esta visão ingénua sofre de dois falsos silogismos, o de que «o hoje é como o ontem e o amanhã irá reproduzir o ontem» e «de que o dólar, euro, etc. - o dinheiro fiat - são medida apropriada de todas as coisas». 

Quanto à primeira falácia, basta recordar que - em termos nominais - o índice Dow Jones (o índice mais importante da Bolsa de Nova Iorque) voltou a atingir o seu valor de 1929, anterior à Grande Depressão, somente em 1954! E isto, em termos nominais! Se estivermos na primeira fase duma grande depressão análoga de 1929-1935, significa que aquilo que se investir hoje nas bolsas, ou em derivados, tem uma hipótese de voltar a ter um valor nominal igual ao investido hoje, em 2047!

Quanto à segunda falácia, as pessoas deviam refletir maduramente sobre crises de inflação e de hiperinflação que assolaram vários países e zonas do globo em várias épocas. Por exemplo, durante um certo tempo, as bolsas mundiais com ganhos maiores eram as do Zimbabué e da Venezuela. Porquê? Muito simples; se o valor do dinheiro estava em colapso, as pessoas refugiavam-se em ações cotadas, na esperança de que algumas empresas sobrevivessem ao tornado da hiperinflação e assim, havia sempre subida espetacular nos mercados bolsistas de ambos os países! 

Agora, os bancos centrais ocidentais, (FED, ECB, BOJ, etc) têm vindo a inundar os mercados com dinheiro (fictício), supostamente para «salvar» as economias desde a crise de 2008. Esta impressão monetária constante acentuou-se com a crise do COVID e a guerra na Ucrânia. Na verdade, estão a destruir o valor de suas próprias divisas. Vemos com o exemplo seguinte, que existe diferença muito significativa no valor das divisas-papel:

Uma onça de ouro vale, hoje, 1880 USD. Uma onça de ouro compra, hoje, cerca de 17 barris de petróleo. Em 1960, a mesma onça de ouro, comprava cerca de 9 barris de petróleo. Enquanto, hoje, com 4 dólares US (o preço do barril em 1960) se compra, no máximo, 1/27 de barril de petróleo!

Deixo-vos com os artigos, abaixo, que me parecem ser auxiliares úteis na reflexão de cada um. Não são os únicos, mas vão ao encontro de questões fundamentais.

Essa é a perspetiva de longo prazo. No domínio do investimento e talvez nos outros, a mentalidade de ganância leva as pessoas ao abismo.

Como me dizia um trader meu conhecido, trata-se de um «jogo de soma zero», ou seja, quando alguém ganha, outro perde e vice-versa. Não existe criação de riqueza, no casino das bolsas,  apenas transferências.

Ciclo Viscoso da Autodestruição; Ouro Superando a Performance de Todos os Ativos Financeiros, por  Egon von Greyerz 


Um trader
 de Goldman: «O Estado do Mercado é de Sangrar para Alcançar Mínimos Mais Baixos, Interrompido, Ocasionalmente, Por Fortes Altas Curtas.
»

 

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

SISTEMA REALMENTE NATURAL DE VALOR (EM ECONOMIA E EM TUDO)

 Sempre tive um grande respeito pelas coisas da Natureza. Sempre me interessei pelos mecanismos subtis e realmente adaptados aos seus fins que constituem os sistemas naturais, desde a mais insignificante bactéria, até aos ecossistemas mais exuberantes, regurgitando de vida, como as florestas tropicais /equatoriais. 

Aquilo que caracteriza a nossa época, é um enorme avanço nas ciências, em particular na Biologia, e - em paralelo - um total obscurecimento da mente humana, devido a uma ideologia mecanicista, derivada da «mentalidade de engenheiro» (os bons engenheiros me perdoem!), que prevalece, assimilando o humano e todas as criaturas vivas, a máquinas. Pior ainda, este mecanicismo afirma-se sem qualquer consciência de que o é. Ou seja, nem sequer é uma posição filosófica assumida como tal. Por isso, leva as pessoas, quer sejam muito pouco instruídas, quer tenham os mais brilhantes estudos e títulos académicos, a se comportarem como aquele indivíduo que serra o tronco da árvore no qual está sentado. Os sistemas naturais estão em perigo permanente, devido à predação e depredação - sob todas as formas - que é levada a cabo, devido à acumulação de detritos, poluentes de toda a espécie, produzidos e não apenas impossíveis de serem reciclados pela Natureza, como fator de destruição de espécies e dos seus habitats. No meio disto, a ideologia dominante inventou uma muito exagerada, senão falsa, ameaça do «efeito de estufa» culpando o CO2 pelos piores males do planeta, quando se trata de um gás como outros: Até, com papel fundamental no ecossistema global, visto que é a partir deste, que todas as plantas efetuam a fotossíntese e é graças a ele que temos temperaturas amenas, em grande parte do planeta e uma estabilidade relativa das mesmas, coisas que seria impossível existirem, sem o tal efeito de estufa. 

Mas, o objeto deste artigo é outro. Resumindo a minha tese:

Os objetos naturais e - em particular - os sistemas vivos, são o modelo natural de que os homens se deveriam inspirar em primeiro lugar, para a construção de seu modelo de economia. Com efeito, se observarmos com atenção, a Natureza «inventou» as formas mais eficazes de captar, aproveitar, reciclar e conservar a energia, assim como as matérias-primas de que carece, para construir suas estruturas e manter em funcionamento os organismos. 

A Natureza tem uma eficácia global inultrapassada, no que toca às reações químicas: os sistemas enzimáticos e seu papel na fisiologia da célula, de qualquer célula (desde a bactéria, ao homem), são duma eficácia inigualável pela Química contemporânea. Muitas reações correntes nas suas células, caro/a leitor/a, são absolutamente impossíveis de acontecer em sistemas não vivos, à temperatura e pressão normais. Apenas sistemas com temperaturas e pressões incompatíveis com a vida, poderiam permitir que tais reações (corriqueiras nas células) tivessem lugar e, quase sempre, com rendimento menor ao que se verifica na célula viva. 

Logicamente, querendo resolver problemas de engenharia, seja ela naval, aeronáutica, química, etc. muitos engenheiros e inventores se voltaram para os seres vivos e tentaram adaptar os modelos desenvolvidos por «Éons de evolução» e que têm comprovadamente a maior eficácia, em termos energéticos e do aproveitamento inteligente dos recursos ambientais.

Mas, os sistemas vivos também conseguem fazer uma gestão otimizada nos seus sistemas internos: A economia intracelular funciona, graças ao ATP e outras moléculas com papel nas trocas de energia. Na era em que se trata de sair das divisas emitidas pelos Estados, em que se tenta um sistema desmaterializado do dinheiro, como não pensar no inteligente «porta-moedas» que constitui o sistema bioquímico de "ATP-ADP-AMP"? Este, associado a  outros do mesmo tipo (GTP,etc),  encarrega-se de assegurar que os saldos positivos (ou seja, as reações exo-energéticas) sejam transferidos para reações devoradoras de energia (reações endo-energéticas).

Os sistemas evoluíram no sentido de fazerem o máximo com o que tinham «à mão de semear». Assim, por exemplo, numerosas proteínas, enzimáticas e outras, têm o ferro como elemento não-proteico na sua estrutura, pois este é o mais banal de todos os metais de transição. Estes são metais que possuem uma camada interna dos eletrões, não inteiramente preenchida e podem, portanto, efetuar ligações químicas muito interessantes, aproveitadas pelas enzimas. 

As formas de reserva de energia são muito eficazes; contêm um stock de energia facilmente mobilizável, em caso de necessidade, para o organismo. Há polissacarídeos, como o amido ou o glicogénio, que preenchem esta  função. Mas, o organismo tem uma reserva «estratégica», que são os lípidos, as gorduras armazenadas em tecidos especializados (tecidos adiposos). 

O papel de centrais energéticas celulares é preenchido pelas mitocôndrias, nos seres eucarióticos. Conseguiu a Natureza, nos eucariotas, incorporar e domesticar certas bactérias que usavam o oxigénio como oxidante, ou recetor final de eletrões numa cadeia de oxidação, com várias etapas associadas à síntese de ATP. Assim, a incorporação de novidade trouxe, nos alvores da vida na Terra, esta variedade de formas que hoje conhecemos. 

A Evolução Biológica é o processo que permite a otimização dos seres vivos e opera à escala de biliões de anos. Em cada geração, numa determinada espécie, no entanto, podem dar-se transformações, que se espalham em pouco tempo. Temos aqui um modelo de como combinar a conservação daquilo que tem sido positivo ao longo das gerações, com a aceitação e difusão rápida de inovação, caso esta realmente se traduza em vantagem para os indivíduos que a transportam. 

As «soluções» que os engenheiros encontram* para os problemas da nossa civilização, são extremamente pobres, têm pouca maleabilidade e não têm em conta as externalidades. Por exemplo, a poluição associada ao seu fabrico e uso: São inevitáveis, a um, ou outro nível. Mesmo quando publicitam que tal ou tal aparelho «não poluí», da sua construção não falam, nem da destruição dos ecossistemas e  esgotamento das matérias-primas. 

A economia humana pode caraterizar-se pela quantidade de desperdícios, dos produtos que se transformam em lixo, muito do qual não é reciclado (e nalguns casos, nem é reciclável). A Natureza recicla e aproveita sempre os materiais; o desperdício de uma espécie, é o nutriente de outra. «Nada se perde, tudo se transforma» (Lavoisier): Não sei se a célebre frase está correta à escala do Universo, mas à escala da Biosfera, está corretíssima.

Os seres vivos não vivem para «acumular dinheiro». O seu equivalente do dinheiro, é a energia. Ela é vista como deve ser, como um meio para alcançar um fim. O fim (de qualquer ser vivo) é a manutenção em vida saudável do indivíduo e a sua reprodução.  Não existe obesidade em animais selvagens; mesmo quando têm abundância de alimento. Pelo contrário, os que vivem como animais de estimação na sociedade humana e estão sujeitos às «lógicas humanas», são cada vez mais obesos (ou seja, doentes), tal como os seus donos...

Por estranho que pareça, não há muitos sistemas teóricos que usem - na economia, sociologia, ou noutras ciências sociais - a modelização a partir do que foi observado na biologia dos indivíduos, dos grupos e dos ecossistemas. Historicamente, a economia e a sociologia desenvolveram-se e criaram seus paradigmas no século XIX, quando a ciência biológica estava ainda na sua infância. A compreensão do mundo vivo explodiu literalmente no século XX. Essa explosão prolonga-se no presente século. 

Eu sei que existem modelos que tentam mimetizar o processo da Evolução Biológica, mas também me parecem pobres, inadequados.  Talvez, porque são feitos por economistas, filósofos ou outros, que veem do exterior a Biologia e a Evolução. Não sei se a era da biotecnologia irá mudar o modo como «decisores» políticos, e outros, encaram as questões. Atualmente, vejo antes «uma invasão» de mentalidade tecnocrática, típica de economistas e engenheiros, a infestar os cérebros, nos domínios da biologia aplicada. Talvez seja uma fase transitória. Porém, a formação dos cientistas (sejam biólogos, sejam outros) é cada vez mais precocemente especializada, pelo que eles não têm uma visão panorâmica quer na Natureza, quer da sociedade humana. Para haver inversão de paradigma, seria preciso haver uma mudança radical, ao nível da formação académica.

Basicamente, o que a Natureza nos ensina, é muito simples de adotar porque temos o próprio modelo em funcionamento, literalmente, debaixo dos olhos. Quer o tomemos tal como ele é, quer o transformemos, para servir nossos propósitos, estamos somente a operar como «oportunistas», que se aproveitaram duma longuíssima cadeia de ensaios (desde que a vida começou, há mais de 4 biliões de anos!) e que colhem os frutos da sabedoria acumulada. Mas, afinal, é o mais natural e biológico a fazer. 

Aliás, pode dizer-se que foi graças a essa atitude, que uns frágeis símios das savanas, há uns milhões de anos, criaram a sua tecnologia, transmitiram esse saber técnico e construíram sociedades baseadas na troca, evoluindo até à humanidade de hoje!

Sinto-me impotente para explicar melhor o meu sentimento: Seria preciso haver, na nossa época, maior cooperação e menos competição. Não considero isto original, nem pretendo que o seja, mas tenho impressão de que esta visão da Natureza é desprezada pelos meus contemporâneos. Creio que houve momentos na História das Sociedades e Civilizações,  em que a Natureza foi muito mais respeitada, foi seguida como fonte do que é bom, justo e apropriado (a «Mãe-Natureza»). Quanto mais tarde a humanidade regressar ao paradigma natural, desde a sociologia, antropologia, psicologia, política, urbanismo, à economia, mais irá sofrer. Sofrimento absurdo, porque não há necessidade, nem vantagem, em continuar neste jogo sadomasoquista de destruição, de depredação e de domínio violento sobre a Natureza e os homens. 

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(*) Vejam-se os exemplos dados por Fressoz, na sua conferência, AQUI.


PS1: Pensar-se que o dinheiro é algo «neutro», que é um mero instrumento, que depende só das mãos em quem ele está, é um erro crasso. As pessoas que acreditam nisso, são demasiado ingénuas e podem ser exploradas pelos espertos sem escrúpulos. Quando às que detêm realmente as alavancas do dinheiro, desde a sua emissão, à circulação e à distribuição, sabem que tal não é assim. Dirão que é um instrumento neutro, para confundir e ocultar o facto (tão evidente, afinal) que «quem detém o poder de emissão da divisa de uma nação é quem detém o poder verdadeiro, ao ponto de lhe ser indiferente quem governa e quem faz as leis»... Este pensamento, atribuído a Mayer Amschel Rothschild, continua a ter plena atualidade. 

O sistema monetário «fiducitário» (ou seja, o dinheiro baseado «na confiança» que o público tenha nos que o emitem), é a base do poder da finança. Mas, para que outro sistema o venha substituir, não apenas tem de ser operacional nas condições atuais, mas deverá ter clara vantagem sobre o sistema que ele substitui. Creio que é esse o problema principal contemporâneo; a manutenção e evolução de uma civilização mundializada passam por aí.


quinta-feira, 4 de novembro de 2021

MISSIVA Nº1 À CONFEDERAÇÃO INTERGALÁCTICA



À CONFEDERAÇÃO INTERGALÁCTICA.


05 de Novembro de 2021

(no calendário deste planeta) 


Neste comunicado, irei dar-vos conta de algumas peculiaridades do planeta Terra, onde tenho estagiado, assim como sobre os seus habitantes. 

Irei começar por esclarecer sua organização social e económica, a que chamam de «capitalismo» ou «sociedade de mercado livre». 

Estou apenas nas etapas preliminares do meu estudo; noutras missivas, irei aprofundar e desenvolver melhor os pontos aqui abordados.

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1) O capitalismo e seus críticos


Há essencialmente dois tipos de críticos do capitalismo: 

A) Os que o detestam visceralmente, mas não compreendem como é que funciona: Pelo que a sua análise se fica por mostrar como o capitalismo é «horrível», «injusto», «cruel», «desumano», etc. Estes, não compreendem, que até uma criança sabe isso intuitivamente, que não são precisos calhamaços cheios de sábias elucubrações e eruditas citações.

B) O outro tipo de crítico, é formado por personagens completamente diferentes, no seu temperamento. São pessoas que examinam o capitalismo como um médico examinaria o seu paciente no hospital. Eles «tomam o pulso, medem a tensão, auscultam» e fazem todas as análises necessárias para detetar a «doença essencial» de que enferma o capitalismo. Eles consideram que o capitalismo está doente, muito doente, mas que tem de ser salvo, custe o que custar. Para estes, não existe realmente horizonte para além do capitalismoTêm, portanto, todo um arsenal de remédios. Cada um inclina-se mais para uma ou outra terapêutica.


2) Os agentes do capitalismo

Ora, os que estão numa ou noutra posição crítica (A ou B), estão muito longe da realidade. Mais próximos estão os que «têm as mãos na massa», literalmente. Estes, que eu designarei por C, são agentes diretos do capitalismo, banqueiros, especuladores, comerciantes, capitães de indústria. Todos estes não ligam demasiado a teorias. Estão muito mais interessados em «fazer dinheiro». 

Tendo eu descido de um planeta longínquo, a bordo de uma nave intergaláctica, sondei os três grupos. Mas dei preferência ao terceiro (C). Porque, para quem vem da galáxia Tau, ou Andrómeda, ou outra, estes humanos têm um sistema muito curioso, muito estranho, na verdade. Ele serve para fazerem guerras, espalhar miséria, mas também erguer obras de arquitetura notáveis, desenvolver as artes e as ciências. Até - por vezes - com ele melhoram a condição dos que estão em baixo, na escala hierárquica.

Sem dúvida, eu tenho dedicado mais tempo junto do terceiro grupo, a aprender o que é o capitalismo. Interessa-me a verdade, a realidade, a coisa em si. Não as teorias retorcidas, ou «brilhantes», mas que passam completamente ao lado dos problemas. 

Estou interessado em aprender com os capitães de indústria, os banqueiros, os especuladores. Estes, estão constantemente a navegar dentro do sistema. Aproveitam-se dos grandes ou pequenos movimentos de matéria e de energia, a que chamam «capital», para aumentar o seu património, para possuir múltiplas vezes mais que os pobres, que trabalham para eles, direta ou indiretamente.

Como visitante doutra galáxia, já percebi que o que chamam economia está sempre a alternar momentos de euforia e outros de depressão (em inglês: «boom and bust»). Estes ciclos repetem-se, arrastando todas as atividades, não apenas do domínio financeiro, também produção industrial, agrícola, comércio, etc. 

Verifiquei que usam uma espécie de objetos em papel (antigamente - há mais de 300 anos - eram objetos metálicos, sobretudo ou apenas), pelos quais têm uma veneração especial, «o dinheiro»: 

Este, em vez de ser somente um meio de troca e contabilidade, é-lhe dado um estatuto próprio de «valor». É pensamento mágico! Estão convencidos que tais pedaços de papel têm «valor intrínseco» ou, mesmo, que só eles têm valor! Pode dizer-se que se trata de «culto do dinheiro». Sim, muitos transformaram-se em adoradores desses objetos curiosos, mesmo quando passam o dia a olhar para o écran dum computador ou telemóvel, com números, signos, gráficos, tabelas, esquemas. Supostamente, é para rastrearem o  dinheiro, ou seus equivalentes digitalizados. 

Porém, a quantidade de dinheiro não é constante. Não está correlacionada com o trabalho, contrariamente ao que defendia um senhor barbudo (que se chamava Marx). Esses papéis são postos a circular, fisicamente ou virtualmente, pelos bancos centrais dos diversos países. 

Os bancos centrais são «autónomos», ou seja não dependem - pelo menos no chamado «Ocidente» - do governo, não estão sujeitos a aceitar as diretivas dos políticos. Os que dirigem os bancos centrais podem aumentar ou reduzir a «massa monetária» (a quantidade de dinheiro existente) e até manipularem para aumentar ou diminuir a quantidade do dinheiro circulante. Eles criam dinheiro a partir de nada. 

Mas não são os únicos. Com eles, os bancos ditos «comerciais», fazem empréstimos com dinheiro que eles próprios criaram a partir de nada, a chamada prerrogativa de reserva fracionada, como eles dizem. 

As pessoas, instruídas na «religião do dinheiro» apressam-se a  pedir empréstimos para as suas necessidades vitais ou para os seus extras, tornando-se assim escravas das dívidas contraídas. «Se tudo se passar bem», estarão livres dentro de 30 ou mais anos, depois de terem contraído o empréstimo, numa altura em que já não têm vitalidade, estão demasiado esgotadas. Elas perdem boa parte da vida para «ganhar dinheiro», para pagar as dívidas! 

É assim que este estranho mundo vive. 

Mais lógica tem o mundo das formigas no formigueiro, ou das térmitas na termiteira. Ao menos, tais insetos sociais estão perfeitamente adaptados às suas condições climáticas e outras, ao seu ambiente particular. A seleção natural operou maravilhas: Estas sociedades, de milhões de indivíduos, comportam-se dum modo aparentemente «racional», ao olhar do observador atento. 

Enfim, o modelo das sociedades humanas é como se um bando de símios tentasse imitar uma espécie de insetos sociais (Hymenoptera). Tentariam construir os edifícios e adotar um modo de vida semelhante,  porém sem razoabilidade, sem o bom-senso natural - fruto de milhões e milhões de gerações - que lhes permitisse uma inserção harmoniosa no ecossistema. 

Por hoje, não poderei adiantar muito mais, neste relatório. Preciso ainda de sondar muitos dados e de fazer muitos registos.  

Venho pedir, aos meus irmãos/irmãs da confederação intergaláctica, ajuda! 

- Os humanos não param com as suas atividades frenéticas. Devido à falta de juízo de dirigentes e à indiferença espantosa dos subordinados, estão a perturbar gravemente o equilíbrio do planeta em que habitam. 

- Não digo isto em vão: Já constatei que não lhes faltam poderosos instrumentos de destruição nos seus arsenais. Por outro lado, não têm bom-senso nem amor, ao lidarem com grupos e nações rivais. 


MB


sábado, 17 de abril de 2021

A FETICHIZAÇÃO: ARMA DE CONTROLO E OPRESSÃO



A minha reflexão parte da seguinte constatação: 
A verdadeira questão não é as "performances" de um instrumento, mas sim nas mãos de quem ele está.

Este princípio aplica-se a muitas situações. 

Por exemplo, uma arma de fogo bem pode ser um excelente exemplo de tecnologia industrial, de grande qualidade técnica, etc... Mas isso, importa muito menos do que as mãos que seguram essa arma; se as mãos são as dum tresloucado, de um guerrilheiro, de um soldado que combate numa guerra, etc.

O mesmo se aplica em relação ao Estado, quando este é considerado «instrumento de organização da sociedade e de redistribuição da riqueza»: poderá estar nas mãos de uma oligarquia, de um ditador, dum pequeno grupo «revolucionário»... mas, também, nas mãos de corruptos políticos, mesmo que as leis básicas e a organização desse Estado sejam as mais democráticas...

Ao dinheiro que, em si mesmo, não é um bem ou um mal, aplica-se o mesmo princípio: pode ser usado de forma a promover o investimento produtivo, o bem-estar da população, a consolidar e renovar infra-estruturas dum país, a educar de forma adequada as futuras gerações, etc... mas também pode ser usado para a especulação, para favorecer ainda mais os que já estão muito favorecidos, para acumular riqueza, para esbanjar em luxo, etc. 

Mesmo a Natureza, obedece a esta regra: a Natureza é fonte de recursos para a humanidade, mas não deve ser vista como algo que se pode usar de modo egoísta. 
Quem detém o controlo sobre áreas vastas e não modificadas pelo Homem, como os parques naturais, as reservas da Natureza, a protecção de espécies e paisagens, deve ter uma atitude respeitosa, prudente, conservacionista. 
Mas, pensemos nos chamados capitalistas verdes, eles utilizam a Natureza como pretexto para implementar uma política regressiva. Apesar da retórica «de esquerda», vejam-se as políticas liberticidas e eugenistas lançadas pelos oligarcas mais poderosos (Gates e companhia), sob pretexto de salvaguarda da sustentabilidade do Planeta.

O que importa, sobretudo, é aquilo que se faz com o instrumento. Isto é válido, em relação a qualquer objecto, natural ou tecnológico, ou ainda, em relação a qualquer organização/instituição na sociedade e à sua cota parte de poder na mesma. 

Daí que a fetichização, quer dos objectos, quer de organizações, apesar de tão comum que passa despercebida, é indício dos problemas, nesta civilização materialista, consumista, desenraizada.

No caso das armas ou do dinheiro, trata-se de objectos/fetiches. Repare-se como a fetichização destes objectos é comum, a todos os níveis, quer nos que as possuem, quer no modo como se fala deles. 

No caso do Estado, trata-se duma organização/fetiche. A fetichização passa pela redução do mesmo, de organização complexa da sociedade, a «instrumento». 

Quanto à Natureza (objecto tão geral que assume quase um estatuto filosófico) os discursos bem intencionados não conseguem ocultar que - por detrás - há intenção de utilizar com finalidade de lucro, de poder, um bem que é colectivo, que é comum. Fala-se muito e faz-se o oposto do que se preconiza em termos teóricos. A fetichização exerce-se, neste caso, degradando a Natureza a mero «depósito de recursos» de que os humanos se vão apropriar. Na prática trata-se dum processo de apropriação e espoliação pelo qual alguns capitalistas (ditos «verdes»), causam prejuízo irremediável (depredação) aos recursos.

Não digo que a fetichização esteja na raiz de todos os problemas, porém compreende-se que este processo ajuda a obscurecê-los e, portanto, afasta a sua solução. 
Parece-me notório que este mecanismo contribui para obscurecer o debate sobre quaisquer problemas. Neste ano de 2020/2021, «o ano do COVID», tivemos a fetichização de um vírus. Tal proporcionou que os responsáveis políticos agissem ao arrepio da legalidade democrática, da própria ciência, dizendo que «seguiam a ciência»... com medidas absurdas que nos foram impostas em modo totalitário.

sábado, 3 de agosto de 2019

GREAT RESET: OPERAÇÃO ENCOBERTA DOS BANCOS CENTRAIS

                                  Resultado de imagem para bank for international settlements (bis)

Um longo período da história económica e financeira aproxima-se do fim. Iniciou-se aquando da retirada (em 1971) por Nixon do dólar da janela de convertibilidade com o ouro, a cláusula de Bretton Woods, que ancorava todas as moedas ao dólarmantinha este convertível em ouro. A partir desse momento, as moedas passaram a flutuar, sem âncora, umas em relação às outras e a inflação disparou. 

Quer se meça a inflação actual pelos índices habituais, quer pelo valor do ouro nas várias moedas «fiat» (ou seja, todas, visto que não existem moedas baseadas em metais preciosos), o facto é que a espiral inflacionista já se desencadeou. Pese embora a aversão da media económica mainstream em relação ao ouro, o que mostra a sua subida espectacular em relação a todas as divisas, mesmo as mais «fortes», como o franco suíço, o dólar, ou o euro... é que os mercados já começaram a perceber para onde se dirige o sistema monetário. Agora, já não são apenas os bancos centrais do Oriente (sobretudo Rússia, China, índia, e outros países asiáticos), existem também famosos gestores de «hedge funds» a apelarem aos seus clientes para investir em metais preciosos, detendo uma percentagem deles no seu portefólio.   
De facto, o BIS (Bank of International Settlements), de Basileia, tem estado discretamente a orientar os bancos centrais para uma «reestruturação» ou reset do sistema monetário. 
Há quem pense que este será baseado num cabaz de moedas, os «Direitos de Saque Especiais» (ou SDR em sigla inglesa) do FMI. Porém, este cabaz é, de facto, um cabaz de moedas «fiat» e apenas seria «sol de pouca dura». Pois, o problema com estes arranjos é que, uma vez perdida a confiança, não é fácil captá-la de novo. 

Há quem aposte nas criptomoedas, mas estas estão sujeitas aos mesmos vícios que o dinheiro existente: já são electrónicas, as somas em circulação actualmente nos mercados internacionais. Mesmo na economia corrente, muitas transacções - talvez 70% - são já  com cartões de débito ou de crédito ou por transferências bancárias. Portanto, o público pode ser permeável à modernidade, mas não irá sentir a situação como diferente da habitual. A existência de uma criptomoeda não muda nada de fundamental, seja ela emitida por um banco central (a Rússia, está seriamente estudando essa possibilidade, mas não é a única), seja ela uma criptomoeda descentralizada, como o «bitcoin». 
Para que uma criptomoeda tenha hipótese de se firmar no domínio das trocas do dia-a-dia, ela deverá possuir uma grande estabilidade. Com efeito, as divisas que existem, actualmente, não variam de um dia para o outro, de mais do que uma fracção de 1 por cento; isso significa que, aquele que aceita uma divisa em pagamento, pode confiar, no curto prazo, no valor da mesma. Pelo contrário, instabilidade das criptomoedas, sendo factor que atrai os especuladores, é também o factor que impede que sejam mais do que esporádicos veículos de transferência de dinheiro. Em países, como a China, com controlos de capitais instalados, será bastante interessante para alguém usar criptomoedas, para poder exportar dinheiro para o exterior, sem que as autoridades possam interferir. 

Restam portanto os metais preciosos, o ouro e a prata, que foram dinheiro durante um período de cerca de 6000 anos. A sua inter-conversão com moeda de papel pode fazer-se pelo simples cálculo da soma total de moeda-papel em circulação (incluindo a moeda electrónica, claro) dividido pelo ouro existente em todos os bancos centrais. O ouro teria de subir dos 1450 dólares a onça, actualmente, para cerca de 10 mil dólares a onça. Talvez isso seja possível em etapas, neste período de transição em que já estamos: o tal «reset». 
Remonetizar o ouro equivale a tornar possível que a moeda-papel seja trocada por ouro a uma taxa fixa, ou com uma flutuação mínima. Isso iria estabilizar o valor do dinheiro, manteria os preços, minimizava a inflação. A economia - em geral - iria beneficiar com isso.  
O efeito da desmonetização do ouro - um fenómeno recente, em termos históricos -  não foi benéfico para as economias. Os Estados endividaram-se sem restrições. A dívida pública, das empresas e das famílias, todas elas cresceram de forma exponencial, neste período de menos de meio século. 
Hoje, as moedas em circulação devem ter perdido 97%, no mínimo, do seu valor, relativamente a 1971, sendo esta a percentagem da perda do dólar: a principal moeda de reserva é, com certeza, das mais fortes, em termos relativos. As outras serão ainda mais fracas que o dólar.
O que os economistas da treta não dizem (mesmo quando o praticam em segredo) é que a garantia da conservação do valor - para o pobre, o rico e o remediado - é ter uma parte dos activos em moedas/barras de ouro e/ou prata. 
Assim, no momento em que houver um colapso financeiro, com uma situação de híper-inflação, não só não ficarão seus activos financeiros destruídos, como poderão ver o seu capital aumentar, em termos relativos. 
Quem se mantiver exclusivamente na economia de casino das bolsas, jogando em acções, obrigações, derivados (ETFs, etc.) está condenado (condena-se a si próprio) a ficar com o valor dos investimentos reduzido a quase nada
O imobiliário está muito inflacionado também, em todos os países. Não é uma boa forma de preservar capital, investir nele agora: não faz sentido comprar, com preços inflacionados, antes da bolha ter rebentado. Dentro de pouco tempo, como já se verifica nos mercados do imobiliário do outro lado do Atlântico, os preços irão descer, tão vertiginosamente como subiram. 
Depois da fase de transição, em que nos encontramos, quem tiver maior quantidade de capital disponível, poderá comprar activos muito abaixo do seu valor real, em consequência da crise profunda que se avizinha. É uma questão de aproveitar as oportunidades, que surgem sempre. 

O capital, que não é equivalente a dinheiro, permanece, globalmente. 
O capital é criado pelo trabalho; uma crise, não o destrói, mas é transferido de uns actores para outros.