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terça-feira, 5 de novembro de 2024

ESTAMOS NUMA SITUAÇÃO MUNDIAL INÉDITA; O QUE DEVEMOS SABER.

A hipótese do ouro, junto com outros metais e matérias primas associados, participar numa divisa sintética, destinada ao comércio entre os BRICS foi excluída, por enquanto.

Porém, a visão de que o ouro é realmente dinheiro, pois conserva o seu valor, mantém-se e reforça-se. A capacidade duma certa quantidade de ouro ser trocada por mercadorias, sejam alqueires de trigo ou barris de petróleo, etc. mantém-se e reforça-se. 


SIGNIFICADO DA ACUMULAÇÃO DE OURO EM BANCOS CENTRAIS

Portanto, indiretamente, os países que possuírem muito ouro nos seus bancos centrais estão mais precavidos aquando de crises financeiras, que os que têm exclusivamente ou sobretudo, uma ou várias divisas de reserva (o dólar, o yen, a libra, o euro, o yuan...). 

Entretanto, grandes quantidades de ouro vão sendo compradas pelos bancos centrais no mundo inteiro. Este movimento não é exclusivo de países dos BRICS, que olham com desconfiança o dólar, visto que este tem servido para fazer chantagem, permitindo que as sanções (ilegais, todas elas, face à lei internacional) decretadas pelos EUA acabam por ser adotadas por países terceiros, sob pena de retaliações e multas.  Muitos bancos centrais de países do Ocidente, ou de aliados do Ocidente, têm comprado muito ouro, ultimamente.

Evidentemente, o reino do dólar está a chegar ao fim. A sua ascensão a moeda de reserva mundial deu-se no rescaldo da IIª Guerra Mundial, em que os EUA eram a única potência que tinha ficado intacta, na sua estrutura e na sua capacidade industrial. Todas as potências europeias beligerantes estavam de rastos, quer fossem do campo dos vencedores, quer fossem dos vencidos. 


HAVERÁ NECESSIDADE DE DIVISA MUNDIAL DE RESERVA?

Na realidade, com o desenvolvimento da digitalização do dinheiro, as trocas entre países podem muito facilmente ser feitas usando as respetivas divisas nacionais. Isto não coloca problema a nível de trocas comerciais ou financeiras de grande volume. Também a nível de retalho, ou para viajantes ou turistas, não deveria ser problema trocar em divisas do país visitado, as divisas que transportasse o visitante. 

A necessidade de «inventar» um «repositório de valor», universalmente reconhecido (é este o papel de uma divisa de reserva mundial - o dólar), não existe na verdade. Aliás, o ouro preenche muito bem essa função, caso se considere que tem de haver algo que funcione como uma reserva de valor no mundo financeiro e que seja um ativo tangível, com valor reconhecido em todos os cantos do Globo. O desenvolvimento das tecnologias informáticas e de telecomunicações veio tornar supérflua a existência de uma moeda de reserva mundial. Aliás, está claro para todos que as divisas que usamos no dia-a-dia já estão largamente digitalizadas. O papel moeda é ainda usado, mesmo nas economias mais desenvolvidas, mas em percentagem cada vez mais modesta nas atividades comerciais. Não há razão prática nenhuma para forçar a digitalização a 100% das nossas economias. Esta tentativa mascara o desejo do controlo totalitário sobre os cidadãos: Uma divisa assim, torna toda a troca envolvendo esta divisa digital completamente transparente para o banco central respetivo. Este poderá monitorizar as transações, manipular as pessoas a consumirem mais disto e menos daquilo ou mesmo, interditar certas pessoas de usarem a divisa digital.


O RESULTADO DA CRISE SERÁ IMPREVISÍVEL & IRREVERSÍVEL

Nesta época de transição para um mundo muito mais incerto, com guerras acesas que poderão alastrar, com crises económicas e financeiras que atingem o coração do sistema capitalista internacional, temos de saber como nos comportar, em relação às poupanças e aos investimentos. 

O mundo capitalista está na véspera de um colapso muito maior do que o de 2008, pois desta vez, nem os governos, nem os bancos centrais, poderão salvar da bancarrota inúmeras empresas. Os próprios Estados estão sobre endividados num ponto jamais visto no passado. A guerras híbridas multiplicam-se, sendo as armas económicas e  financeiras parte importante da panóplia: sanções económicas, bloqueios, tarifas alfandegárias, embargos, exclusões. Nisto, os cidadãos dos países são envolvidos contra a sua vontade: somos os danos colaterais das guerras económicas, assim como os mortos e feridos civis, o são de conflitos bélicos com mísseis e canhões.

Não dou conselhos de investimento ou outros, mas penso que há duas coisas que temos de saber:

- Triar a informação, separando-a da propaganda. Saber analisar os factos, tentando ver como se movem os grandes atores; não como eles falam, mas como agem.

- Garantir a satisfação das necessidades imediatas, mas tendo em conta a possibilidade de cenários catastróficos. Portanto, dar preferência à resiliência sobre os ganhos, por mais apetecíveis que pareçam. 

O futuro coletivo depende de haver suficientes indivíduos que consigam superar a grande crise e reconstruir aquilo que foi destruído. 

Por isso, estou interessado em salvaguardar a minha família e eu próprio, mas também, que o mesmo aconteça a muitas pessoas da classe trabalhadora e da classe média. 

 

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

SERÁ QUE O CAPITALISMO ESTÁ A MORRER?




Ouvem-se vozes anunciando a morte próxima do capitalismo. Mas, o que entendem por "capitalismo"?

Do meu ponto de vista, o capitalismo não é uma "forma de economia" somente, é sobretudo um "modo de produção". É o capitalismo, enquanto modo de produção, que estabelece a relação dos homens com as mercadorias e define as relações hierárquicas entre eles, decorrentes da posição de cada um no processo de produção das referidas mercadorias. A detenção privada dos meios de produção não pode ser critério suficiente para caracterizar o modo capitalista de produção. Basta ver que, nos modos de produção esclavagista e feudal, as respetivas classes dominantes possuíam a quase totalidade dos meios produtivos.

Uma das notáveis características do capitalismo, é que os que detêm a propriedade dos meios e controlam a produção, acumulam poder sob forma de dinheiro. O dinheiro e a inteira panóplia dos veículos financeiros, deixaram de ser apenas meios auxiliares nas trocas, passaram a ser a forma preferida de acumulação de capital. Preferida, em relação às propriedades fundiária, imobiliária, ou industrial ... O próprio capital financeiro passou a controlar as outras formas de capital.
O trabalho assalariado, historicamente, veio substituir outras formas de exploração. Mas, anteriormente, as classes dominantes exploravam o trabalho do escravo e depois, do servo. Também, através de rendas, em produtos ou em dinheiro, beneficiavam dos frutos do trabalho do camponês, do artesão e do comerciante.
Dizer que a instauração do salariato foi um progresso, ou até, um passo para a emancipação do trabalho, é uma falácia: A relação salarial foi sempre fortemente assimétrica, até aos dias de hoje. Proporciona um controlo quase absoluto do trabalhador assalariado pelo empregador.
Se certas formas de exploração do trabalho se encontram hoje em declínio, suplantadas por outras, isto tem relação direta com mutações nos processos produtivos, e não com o suposto "fim" do sistema capitalista.

A derrocada do capitalismo pode advir de muitas maneiras, numa forma ou noutra de autodestruição: Por exemplo, pela externalização dos custos ambientais, causando irreversível degradação do ambiente em todo o planeta; pode resultar de uma guerra nuclear generalizada; pode advir de confrontos no seio das sociedades, sem que ocorra revolução: Uma série de revoltas, guerras civis, golpes de Estado, terminam, geralmente, em maior repressão pelas polícias e forças armadas e pela conversão das democracias formais em regimes autoritários.
Tudo isto tem possibilidade de ocorrer. Pode acontecer em várias combinações, ou em simultâneo. Mas, a «Grande Revolução», nos moldes em que os românticos revolucionários imaginam ... só acontecerá nas suas cabeças, impregnadas de narrativas fantasiadas do passado.

O capitalismo não está moribundo; porém está em crise. Reconhecer-se isto, não equivale a dizer que esta crise seja a derradeira. 
Uma característica do modo de produção capitalista, é de se autodestruir parcialmente e periodicamente para, num novo ciclo de crescimento, aproveitar as dinâmicas de reconstrução: Isto traduz-se por lucros, resultantes da intensificada exploração dos humanos e dos recursos naturais, por um lado; e por outro, por maior controlo exercido pela classe dirigente, sobre as restantes classes.

Qual é o país onde o capital está a fazer maiores lucros?
- Todos sabemos que é a China. O facto de uma casta controlar este país com mão-de-ferro, não significará que ela própria beneficia, direta e indiretamente, dos privilégios do poder? - Se assim não fosse, seria caso inédito em toda a História! - Não, o que acontece é que ela está adiantada, em relação às oligarquias do Ocidente, nomeadamente, nos métodos de controlo social.
A experiência em grande escala do COVID, serviu para o poder - na China e depois, no resto do mundo - testar sua capacidade em submeter as massas. 
Os processos de controlo social ultimamente postos em prática em países de "democracia liberal", foram copiados da China, onde já estavam sendo praticados.
Pode-se argumentar, sem sofisma, que a organização do capitalismo na China atingiu um nível superior de eficiência. Esta eficiência permitiu que haja uma real melhoria no nível de vida das massas laboriosas chinesas, não há dúvida sobre isso. 
De certa maneira, ocorreu algo semelhante nos EUA, durante a transição do séc. XIX para o séc. XX; e na Europa Ocidental, nos 30 anos após a IIª Guerra Mundial.
Observa-se hoje, na China, a vigorosa expressão da nova forma* de capitalismo: Nesta, a sociedade é dirigida por um coletivo autoritário, que decide sobre todos os domínios, desde os setores exportadores, até às indústrias de defesa. Quanto aos capitalistas, se eles quiserem prosperar, terão de obedecer às diretrizes estatais e receberão proteção e favorecimento do Estado, controlado pela casta no poder. 
Na China de hoje, não apenas cerca de 800 milhões de pessoas saíram da pobreza absoluta; também se regista o maior crescimento em novos multimilionários, anualmente.
Curiosamente, a China começou a desenvolver-se, quando deixou de praticar a ortodoxia marxista-leninista (e maoista) e iniciou a construção dum capitalismo industrial, moderno e eficaz, com total pragmatismo. Aproveitou os capitais e o «know-how» das grandes firmas capitalistas ocidentais, que deslocaram para a China parte das suas instalações fabris. 
É escusado dizer, a China «comunista» soube tirar partido da mão-de-obra. Foi graças à sua elevada produtividade, que se acumulou uma imensa riqueza nas mãos dos dignitários do regime, dos grandes capitalistas seus protegidos e das empresas multinacionais.
Na China, a extração de lucro pelos capitalistas (nacionais ou estrangeiros) está garantida pelo aparelho administrativo e político do Estado. Por outro lado, a classe operária tem aceitado esta situação, pois seu bem-estar tem melhorado de ano para ano.
A força deste sistema produtivo, que não tem nada de socialismo senão a retórica, advém de fatores como a importação de capitais, o facto de ter ignorado o direito de patentes na fase inicial da industrialização, a penetração nos mercados mundiais graças a preços imbatíveis, os quais foram possíveis, tanto pelos baixos salários praticados, como pelo efeito de  escala. O tamanho do território chinês e da sua população, permitem produzir grandes quantidades de bens, com menor custo que noutros  países competidores.
Existem, porém, fragilidades: Se houver marasmo ou menor crescimento económico, é impossível satisfazer a expectativa da população em melhorar suas condições de vida. Por isso, os dirigentes chineses têm grande preocupação em manter satisfeita a sua classe operária.
O sistema dito "misto" chinês, é tão capitalista como o capitalismo histórico, ou seja, como o capitalismo industrial que se desenvolveu, dos meados do século XIX até princípios do Séc. XX, na Europa e na América do Norte, principalmente.
O regime chinês, não é análogo das «democracias liberais» do Ocidente.  Porém, não se pode classificar a China como "socialista", ou como em "transição para o socialismo". Entendo por «socialismo», a sociedade onde os meios de produção, o poder político e a organização da sociedade em geral, estão sob o controlo da classe trabalhadora.

Mas, o desenvolvimento pujante da China levou a que ela já seja hoje a maior potência económica. Sem dúvida que estes resultados se devem à política industrial, dirigida de forma inteligente pela elite do Estado, utilizando as potencialidades do imenso país e com seu povo, disciplinado  e diligente. 
Não sei se o socialismo virá para a China na segunda metade do presente século. Mas, se assim for,  terá que ser um socialismo da abundância** e não da escassez. Este socialismo da escassez - repetidas vezes - teve resultados desastrosos em todo o mundo (incluindo na China da época de Mao). 
Entretanto, a China, apesar de todos os problemas internos por resolver e de todos os perigos globais que a poderão ameaçar, está já em primeiro lugar como potência económica mundial, se a avaliarmos em paridade de poder de compra, o que me parece a forma justa de comparar os desempenhos económicos entre países.   

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*A «fusão do Estado com as corporações», é a fórmula pela qual Mussolini definiu o fascismo. Também se aplica ao capitalismo de Estado, que surgiu nas democracias liberais após a IIª Guerra Mundial e aos capitalismos de Estado «comunistas», soviéticos ou de inspiração soviética.

**Um socialismo da abundância, não significa um esbanjar de recursos, nem um consumo desenfreado. Antes, que todas as pessoas têm um mínimo garantido, seja qual for o seu trabalho ou situação. Uma repartição equitativa dos bens sociais e de consumo será realizável no concreto.  Um fator importante para isso, será o constante melhoramento dos processos produtivos, o que irá libertar os humanos de grande parte das tarefas penosas e insalubres. Os robots serão utilizados para isso; não para potenciar os lucros e fazer pressão sobre o mercado de trabalho, como agora.




terça-feira, 25 de abril de 2023

A economia global entre Caríbidis e Cila

 



Os bancos centrais andaram durante muito tempo a jogar com a quantidade de dinheiro (aqui, entenda-se divisas fiat). Inicialmente, puderam iludir as pessoas, incluindo economistas sofisticados, de que se tratava de suprimir as oscilações periódicas da economia, dando aos mercados a quantidade de dinheiro que eles precisavam para não entrarem em deflação.
 Segundo a ortodoxia dos banqueiros centrais e dos governos ocidentais, a existência de um «pouco» de inflação era benéfica e saudável. Mas, esta inflação acontecia num contexto de atividade industrial muito deprimida, após a grande crise financeira de 2008.
 Depois, baixa ou alta, a inflação é trituradora dos rendimentos das pessoas, principalmente dos assalariados e pensionistas. O aumento do custo das coisas básicas e elementares era muito maior do que de coisas que se podem considerar «não essenciais». 
É o rochedo chamado «Cila», que representa a inflação. Os turbilhões na proximidade do rochedo, iam tornando a economia cada vez mais deprimida, sobretudo no que toca aos investimentos produtivos, por oposição aos especulativos. 
O resultado de se lançar «dinheiro fiat» (sob forma eletrónica, principalmente) para os mercados, acentuava os redemoinhos, perto de Cila. Não resolvia a questão de fundo: estimular a produção de bens e serviços e não as atividades especulativas (o casino das Bolsas).
Na tentativa de manter o «status quo» e de não prejudicar os ricos detentores de grandes empórios financeiros (Banca comercial, fundos de investimento...), vieram com a falaciosa teoria de que aqueles «criavam riqueza». Na verdade, ao apostarem na financeirização, desencaminham a riqueza. Os capitais investidos em especulação financeira não participam realmente em atividades produtivas da economia. 
Mas, depois de 2008, os banqueiros centrais e os governos, fingiam que acreditavam nesta teoria, para verter somas abismais aos banqueiros que tinham sofrido perdas. Estas perdas eram expectáveis, pois eles tinham jogado no «alavancar» dos fundos que geriam. 
O que aconteceu foi aquilo que qualquer pessoa com bom-senso poderia prever: Em vez de investirem, eles próprios, ou de emprestarem o dinheiro recebido para crédito à produção, foram aparcá-lo em contas na FED ou noutros bancos centrais, que forneciam à banca comercial juros muito pequenos, mas sem risco. Outra parte do dinheiro recebido pelos bancos, foi para jogar na bolsa (incluindo a auto-compra das ações).
Como era inevitável, a inflação monetária e o estímulo de atividades especulativas, fizeram aumentar a massa monetária, atingindo extremos tais, que os capitais disponíveis globalmente eram, pelo menos, 20 vezes o PIB mundial. Ao certo, não sabemos, porque uma parte importante desses capitais está investida em derivados,  instrumentos que não são registados nos balanços de instituições de crédito, mas que pesam na solvabilidade destas.
A subida dos juros de referência pela FED (seguido pelos outros bancos centrais ocidentais), implicava o aumento do custo do crédito e a diminuição correlativa do valor das reservas. Os bancos comerciais têm em reserva, principalmente, obrigações do tesouro do seu próprio país ou de outros (uma obrigação vale tanto mais quanto o seu juro for mais baixo). 
Os 4 bancos que faliram recentemente nos EUA, assim como o Crédit Suisse (um banco «sistémico»), não conseguiram corrigir a tempo o desequilíbrio causado pela perda do valor dos seus ativos em reserva. Caríbidis será o nome simbólico da enorme parede de pedra; o «rochedo» das taxas de juro crescentes e as consequências nefastas para as instituições bancárias, obrigadas - por lei - a ter parte das reservas em obrigações (bonds) do Tesouro. 

A expressão proverbial, recorrendo à mitologia grega, diz que alguém (ou instituição) «vai de Caríbidis para Cila», para exprimir que ambas as alternativas vão desembocar no naufrágio, ou no desastre total. É, portanto, fútil e perigoso nos mantermos dentro dos parâmetros dos que querem ir de Caríbidis para Cila, ou vice-versa.

A «solução» dos banqueiros e dos oligarcas é a de causarem o máximo de perturbação na economia, na economia produtiva, para as pessoas - desesperadas -se renderem à «hidra de sete cabeças» ou outros monstros, que são as «moedas digitais emitidas por bancos centrais» (CBDC)
A solução para a gente comum, os não beneficiários do casino da finança globalista, é completamente diferente: Passa por uma reforma do sistema monetário mundial, onde não exista uma moeda de reserva enquanto tal, mas onde as moedas nacionais sejam usadas nas trocas. Os diferenciais, serão saldados em ouro ou noutro metal precioso (Prata, Paládio, Platina). 
Assim sendo, não haverá nação, por mais poderosa que seja, que possa impor-se às outras, como têm feito os EUA. O seu domínio em todas as transações em dólares, deu-lhes a possibilidade de confiscarem importantes somas e imporem sanções TOTALMENTE ILEGAIS. São atos de pirataria financeira, que têm afetado negativamente as relações comerciais entre países. Aliás, esta é uma das principais causas de haver muitos países, aliados dos EUA, a quererem entrar para os «BRICS».

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

OLHANDO O MUNDO DA MINHA JANELA, PARTE XVI

 Estamos no fim de um ano que nos marcou a todos. Eu aqui direi o que sinto, não pelo mero desejo de exibir sentimentos (até sou contrário a isso, neste tipo de escritos), mas antes, porque me parece que a sociedade -toda ela - sente o efeito de uma propaganda «non stop», primeiro, nos dois anos «Covid» e, agora, com a guerra da Rússia contra a OTAN, no território da Ucrânia. 

A guerra não parece estar pronta a chegar a um desenlace, os beligerantes, de um lado e do outro, parecem estar bem decididos a «ganhar» esta guerra. Mas, parece-me que estas guerras não podem ser ganhas. Nem sequer, no plano estrito militar. Ainda mais improvável que uns fiquem em posição económica e social muito mais favorável, que os outros. Os estragos destas guerras contemporâneas fazem-se sentir durante muitos anos. São, com certeza, situações que nunca chegam a termo, do ponto de vista daqueles cuja vida ou a vida de próximos ficou completamente destruída. Pode-se argumentar que populações oprimidas noutras regiões do Mundo têm estado a sofrer durante tanto ou mais tempo, o que as populações ucranianas - quer as russófonas quer as não-russófonas - estão agora a sofrer nestes últimos 8 anos, desde o golpe de Estado de 2014 de «Maidan». Embora isso seja verdade, os sofrimentos de uns não aliviam os sofrimentos de outros. 

Pessoalmente, o que me choca é a indiferença - e falta de pudor - de pessoas «corajosas» em fazer afirmações peremptórias, bem longe do teatro dos combates. Sinto uma certa náusea, quando penso na maneira estúpida como aquelas pessoas, aparentemente mais «informadas», se debruçam sobre a catástrofe dos outros e se apressam a fazer juízos definitivos. 

A involução civilizacional, que eu invoquei em vários textos meus, muito antes de rebentar esta guerra,  está agora à vista de todos. Aliás, esta involução começou muito antes de Fevereiro deste ano. Nem sei ao certo quando. 
Na realidade, o que importa é que vejo que as forças da paz, do bom-senso, da racionalidade, do humanismo e do coração generoso, estão em franca minoria, estão dispersas pelo vendaval de belicismo, que varre as sociedades a Oeste e a Leste, sem que se possa fazer muito mais - de momento - do que constatar o estrago desta onda de imbecilidade e bestialidade coletivas. 
Não temo em relação a mim próprio; estou relativamente bem protegido, ao nível pessoal, das tragédias da guerra e dos males correlativos que a acompanham. 
Porém, estou psicologicamente afetado, desencorajado pela cobardia, pela visão primária de uns e de outros, pela indiferença pelo sofrimento alheio: 
- Onde estão as forças pacifistas, que deveriam erguer-se e afirmar a razão, contra as razões de Estado, de uns e de outros? 
- Onde estão os intelectuais lúcidos, para desmontar a propaganda, mostrando como se aproveitam dos instintos mais elementares - o medo, o gregarismo, a sede de vingança, etc. -  das pessoas? 

Não me admira que a situação piore em termos de confrontos bélicos. Nem que rebentem outras guerras, ou que haja  um alargar da mesma, noutras frentes. 
O mundo está em colapso económico e financeiro e - por isso - as «elites» do poder e do dinheiro estão a servir-se de tudo o que podem, para desviar a atenção das pessoas. Usam agora a guerra, como há escassos dois anos usaram a pandemia do COVID, francamente amplificada e dramatizada. 
Agora, o sistema económico e financeiro está a ruir, em resultado da forma como foi gerido durante décadas. Vários economistas sérios têm dito que não pode haver outro desenlace. Porém, as «elites» não querem que as pessoas vejam, querem - pelo contrário - que todas as desgraças sejam imputadas à guerra e, anteriormente, à pandemia viral: Não querem que as pessoas se apercebam que houve uma estratégia no desencadear destas catástrofes, pelas grandes corporações e setor financeiro: Uma estratégia desenhada e executada para tirar o máximo dos Estados. Assim, essas tais corporações poderão remanejar em seu proveito os sistemas económicos e financeiros, desde as moedas digitais produzidas pelos bancos centrais, à completa destruição do Estado de Direito e do Estado-Providência. 

Se os deixarmos, somente ficará um sistema distópico, cujos elementos já têm sido ensaiados, neste ou naquele ponto do Globo. As massas, aflitas com a «austeridade», que têm de suportar, não conseguirão ver para além da sua sobrevivência imediata. É esse o cálculo da oligarquia que se pavoneia em Davos e noutros «palcos». É assim que os muito ricos e poderosos estão a jogar; têm a pretensão de serem eles a decidir como será o futuro. Esta é a aposta dos globalistas. 

Cabe às pessoas lúcidas e corajosas organizarem-se, para que os planos deles falhem e para que se construa uma sociedade mais justa e mais humana, em vez da sociedade do medo e das desigualdades abismais. 

                                                  Enterro na Ucrânia; foto de Maio de 2022

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

SAÍDA DA RÚSSIA: EMPRESAS OCIDENTAIS PERDERAM 240 BILIÕES DE $


 A saída precipitada de empresas ocidentais da Rússia - iniciada em Fevereiro e Março 2022, na sequência da invasão da Ucrânia - foi causadora de uma perda global de 240 biliões de dólares, a estas empresas. 

A Rússia ficou prejudicada economicamente, mas tem uma resiliência notável e já se estava a preparar desde 2014 para o endurecimento das sanções. Por outro lado, a saída dessas corporações ocidentais constitui oportunidade de aumento de negócio e de expansão para as empresas russas equivalentes.

O dano que estas empresas ocidentais causaram a si próprias, certamente agravou a recessão/depressão, que já tinha começado no Ocidente antes de 2022.   

PS1: A Bulgária não vai ativar sanções contra a Rússia. No vídeo AQUI, mostra-se o grau de dependência da Europa em relação a várias formas de energia, fornecidas pela Rússia. 

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

CRÓNICA(nº8) DA IIIª GUERRA MUNDIAL - ECONOMIA EUROPEIA CAI NO ABISMO

 

Não sou eu que o afirmo; são os mais sérios analistas dos mercados, incluindo os que são pagos pelos grandes bancos, para analisar a evolução financeira e económica mundial. Assim, chegará à mesma conclusão do título deste artigo, qualquer pessoa que se queira debruçar sobre a realidade económica subjacente à IIIª Guerra Mundial.

Não há maneira de esconder com propaganda a derrocada que estamos vivendo: quer no Reino Unido, quer na Alemanha e - em consequência - em toda a Europa Ocidental, o momento da rutura energética, económica e financeira aproxima-se. 

Os dirigentes dos governos e bancos centrais não têm rumo: Há meses, tomaram medidas de contenção, para controlar a inflação; agora estão a reverter essas mesmas políticas, pois a economia real dos seus respetivos países está em recessão. 

Já tinha avisado. Isto não se deve a eu possuir dons divinatórios. Porém, eles (os que nos desgovernam) sabiam aquilo que estavam a fazer e quais as graves consequências, mas faziam-no, apesar de tudo, pois a alternativa era confessarem que andaram a enganar seus concidadãos. Eles irão continuar a destruir a base económica das nações: Pois esconder o desastre nunca pode ser uma política para enfrentar (já nem digo prevenir) esse mesmo desastre. 

Estou cada vez mais convencido de que estes dirigentes estão a jogar o jogo que lhes foi atribuído pelo Fórum de Davos, ou seja, por uma oligarquia plutocrática que pretende assim acabar com a independência dos Estados e mesmo dos capitalistas médios e dos agricultores, que - potencialmente - podiam ser oposição ao seu «Great Reset». 

Muitas vezes escrevi neste blog qual o propósito escondido por detrás desta crise global manufaturada: Trata-se de destruir a independência dos indivíduos, das pequenas e médias empresas e dos Estados mais fracos. 

A estratégia é clara: sufocar todos os grupos não-oligárquicos, a imensa maioria da população, através da penúria de bens essenciais e da energia, para eles ficarem na dependência direta dos grupos oligárquicos («Não possuirás nada... e serás feliz»). 

A concentração de riqueza, maior que a de quaisquer fortunas passadas, será mantida e consolidada pelo controlo monopolista dos mercados nacionais e internacionais. Não haverá independência dos governos, mesmo os das grandes potências. Estes, não terão independência em relação à classe oligárquica para impor leis «anti-trust», ou que limitem a finança especulativa (como a lei dos EUA, Glass Steagall). Quem ditará a lei aos governos e portanto aos povos respetivos, serão os grandes grupos mundiais, os mesmos que se reúnem em Davos, nos encontros Bilderberg ,ou noutros fórums.

Assim, na sombra discreta dos gabinetes, estão a ser cozinhadas as piores investidas contra os povos. Estes, farão a experiência  amarga de serem acorrentados pelos políticos que eles mesmos elegeram. Irão acordar para a realidade, mas nessa altura, já será tarde demais. As cidadanias dos países sujeitos ao globalismo - Europa, América do Norte, Austrália, Nova Zelândia, Japão e Coreia do Sul - estarão debaixo dum feudalismo à escala global. 

Mas, este conjunto de países dominados pela oligarquia de Davos, só terá hegemonia numa parte do Mundo. Isto, por causa da emergência do eixo Euroasiático, dos BRICS, das Novas Rotas da Seda, dos Países do Sul seus aliados. 

A oligarquia ocidental não conseguirá fazer a sua lei ao resto do Mundo, sujeito a 600 anos de colonialismo e neocolonialismo. Este mundo tem perfeita memória da destruição que isso implicou para as suas civilizações e povos. 

A aliança que está a desenvolver-se entre grandes países Rússia, China, Irão, Índia e outros, menos grandes, menos populosos, tem o potencial de atrair a imensa maioria das nações do Terceiro Mundo. Com o andar do tempo, a classe operária e a classe média dos países ocidentais também acabará por despertar, quando perceber como foi enganada pelos seus líderes. Nessa altura, haverá uma série de revoluções no Ocidente.

Entretanto, a «elite» enraivecida por seus planos serem postos em causa e por não conseguir alcançar seus objetivos, pode entrar num processo - demente - de fuga para a frente. É algo muito temível, porque a guerra nuclear torna-se assim cada vez mais provável, no concreto. 

Trágica ironia da História: São os globalistas que estão a destruir a própria civilização que os colocou no poder. Hoje em dia, preservar o direito das Nações a disporem delas próprias, é preservar - a todos nós-  daquele perigo. 

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

O DINHEIRO DOS OUTROS ? ... DE QUAIS OUTROS?

 «O problema com o socialismo, dizia Margaret Thatcher, é que no final esgota-se o dinheiro dos outros»



Eu não quero fazer aqui a refutação desta célebre frase, nem argumentar de alguma maneira se isto é «socialismo», se é a essência do socialismo. Obviamente, trata-se duma frase-choque, propagandística, que, no seu cinismo, tem sido utilizada «n» vezes pelos neoliberais para, supostamente, desfazerem todos os argumentos favoráveis ao socialismo.  

Ora, o problema com esta frase é que, afinal, ela se ajusta muito bem para descrever o capitalismo parasitário, descabelado, mafioso, que tem predado os países ditos de democracia liberal, principalmente os países da Europa ocidental (Países da UE, Reino Unido) e América do Norte (EUA, Canadá).

Com efeito, nos cerca de 40 anos de contrarreformas «neoliberais», os sectores empresariais conseguiram situações de monopólio ou de oligopólio, como beneficiários de ondas sucessivas de privatizações. Esta entrega, pelos governos aos privados, abrangeu vários domínios tradicionalmente reservados à propriedade pública, administrada segundo o critério do interesse público e não seguindo a lógica empresarial, ou seja, a do lucro: Saúde pública, transportes públicos, escolas, pensões, até mesmo, prisões ... Tudo isso tem sido privatizado «a marchas forçadas» e sempre seguindo o «script» neoliberal. 

Os resultados, como todos nós podemos constatar, em termos de qualidade, eficiência e universalidade destes serviços, piorou a olhos vistos, em vários sectores, senão em todos. Isto não é para surpreender alguém que tenha uma visão clara do funcionamento típico da empresa privada: Com efeito, esta funciona, em primeiro lugar, para obter rendimento para os seus acionistas.  Se um hospital privatizado tem deficiências crónicas no pessoal auxiliar, enfermeiros e médicos, isso deve-se a uma política deliberada de baixos salários, de sobrecarga laboral, etc. Não admira que tal aconteça, num contexto em que a oferta pública não exista ou, se existe,  é demasiado exígua, também ela sofrendo de vicissitudes várias. 

Neste exemplo, tal como se verifica noutras empresas sujeitas a privatizações, a entidade privada, uma vez conseguida a situação de monopólio e perante reguladores estatais que não o são, irá fazer com que a rentabilidade do investimento seja maximizada, como em qualquer outro negócio.

Pois bem, as privatizações de empresas estatais ou de segmentos da administração pública, correspondem a privatizar algo que foi um investimento de longa duração, da sociedade no seu todo, que contribuiu, pelos seus impostos e pelo trabalho dedicado de gerações de seus próprios funcionários,  à construção, desenvolvimento e manutenção destas instituições de interesse público. Portanto, o povo foi esbulhado, pela mão criminosa de governos corruptos, ao serviço da oligarquia, para servir esses interesses privados e sabendo muito bem que estava a ceder valiosas organizações e empresas públicas, «por um prato de lentilhas». Pior ainda, sabendo que, ao retirar do Estado a posse destas empresas públicas, estava a fazer com que ele perdesse controlo efetivo sobre serviços indispensáveis,  fundamentais na vida coletiva, como saúde, escola, vias de comunicação, etc, etc.

O neoliberalismo foi uma contra-reforma à era de social-democracia, em que a economia e os Estados se encaminhavam em direção a economias «mistas», com um forte sector público e um sector privado também forte, mas regulado. 

A desindustrialização, levada a cabo - em simultâneo - em quase todos os países ocidentais, permitiu a transferência de indústrias para os países do chamado Terceiro Mundo.  Essa política, permitida e encorajada pelos neoliberais aos comandos dos vários governos, teve múltiplas consequências desastrosas: 

- Aumentou o desemprego. Isto foi vantajoso somente para a classe capitalista (no curto prazo), pois exerceu pressão para baixo nos salários.

- Diminuiu a autonomia dos países, que se tornaram importadores líquidos de bens manufaturados e não exportadores, como tinham sido durante décadas e séculos!

- Potenciou a financeirização da economia, o que se traduziu pelo hiperdesenvolvimento do setor não-produtivo, mas especulativo, da finança. Por sua vez, face ao liberalismo dogmático reinante, os países tiveram de aceitar a «livre circulação de capitais», o que se traduziu numa sangria de capitais para paraísos fiscais, sobretudo, onde tinham maiores taxas de juro e menores (ou zero) impostos. 

- Retirou aos Estados a sua base de impostos. A redução do número de empresas sediadas nestes países e capazes de gerar lucro, implica a perda de impostos para o Estado. A redução do número de trabalhadores também causa perda de impostos (impostos do trabalho). 

- Finalmente, o desaparecimento da exportação de mercadorias, não apenas empobrece os setores em causa, como deixa o Estado sem poder recolher os impostos, que normalmente recolheria, nas várias etapas do processo. Pelo contrário, tendo o Estado de se financiar com impostos sobre importações, vai onerar os trabalhadores desse Estado: Vai retirar-lhes rendimento disponível para o consumo, a poupança e o investimento.

Como se pode verificar, o que aconteceu com o triunfo do neoliberalismo, com as políticas concretas de privatização e de desregulamentação, assim como a aceitação (ou, mesmo, o convite!) da exportação da base industrial para os países do Terceiro Mundo, foi o equivalente a um enorme saque, uma transferência de riqueza dos pobres para os ricos e um empobrecimento geral duradouro destas sociedades. 

As classes laboriosas de todos os países ditos ocidentais, deveriam pedir contas aos capitalistas e governantes, que são os responsáveis pelo estado deplorável e o recuo muito acentuado das condições de vida que estão experimentando. 

A «justificação» do COVID, primeiro e da invasão da Ucrânia pela Rússia, depois, como responsáveis pelos males que assolam o planeta deve ser varrida como narrativa falsa, fabricada por aqueles que querem esconder sua responsabilidade na destruição económica dos seus próprios países ao longo de décadas e que se traduz no presente  colapso. 

Para mim e para quaisquer pessoas lúcidas, a frase célebre de Margaret Thatcher deveria ser reescrita assim: 

«O problema com o capitalismo neoliberal, é que no final, esgota-se o dinheiro dos outros»


segunda-feira, 22 de agosto de 2022

JAPÃO: A GERAÇÃO PERDIDA


 Este documentário é muito interessante: Mostra como as bolhas especulativas, na bolsa e no imobiliário, uma vez rebentadas, produzem um marasmo duradoiro, que se reflete na demografia do país. 
A ideologia neoliberal, tão forte nos anos 90 e que continua a ser hegemónica ao nível académico e mediático convencionais, varreu para debaixo do tapete o caso das décadas de marasmo na economia mais dinâmica na Ásia e no mundo nas décadas anteriores (anos 60-80). 
Note-se que o conceito de quantative easing foi inventado pelo Banco Central do Japão, para «estimular» o consumo interno com impressão monetária. O resultado pode ser visto neste vídeo. 

domingo, 28 de novembro de 2021

A GRANDE REINICIALIZAÇÃO, OS "SDR" E O OURO



O domínio da grande finança sobre a economia e a política mundiais, não são de hoje. Esta grande tendência pode se fazer remontar à véspera da 1ª Guerra Mundial, com a «Round Table», para não irmos até ao pós-Waterloo, em que o triunfador foi o império Rothschild, tanto ou mais que o império Britânico.
O processo de tomada de controlo dos grandes bancos transnacionais é um processo constante, mas entrecortado por períodos paroxísticos. Um exemplo disso é a constante desvalorização em termos reais das divisas como o dólar, ou outras divisas ditas «fortes». Desde a criação da Reserva Federal, em 1913, o dólar perdeu 98% do seu valor em relação ao seu poder aquisitivo, nomeadamente, em relação ao ouro. Este, no longo prazo, tem-se valorizado, mantendo a paridade de poder de compra, ao contrário das divisas.
Mas, como estamos num período charneira, as medidas longamente congeminadas em fóruns ou em reuniões da oligarquia, vêm à superfície, como se fossem grandes novidades.
Por exemplo, a indexação das divisas ao ouro podia fazer-se ao integrar este nos SDR (Special Drawing Rights = Direitos de Saque Especiais, «moeda contabilística» do FMI).
Os SDR são unidades formadas por um cabaz de 5 moedas (o dólar, o euro, o yen, a libra e o yuan), mas seria possível alargar esta "moeda contabilística" para aí incluir o ouro. Ou seja, a cotação do ouro entraria no cálculo do valor da unidade SDR. Assim, os valores das moedas contidas no cabaz estariam adossados (ou com uma indexação flexível) ao ouro. Note-se que também as restantes moedas estariam adossadas ao ouro, indiretamente, através de sua taxa de câmbio com aquelas presentes no cabaz.
Por que motivo esta mudança pode ter significado para a resolução da crise monetária?
- Porque, contrariamente a quaisquer divisas («dinheiro-fiat») o ouro é uma entidade física; está em quantidade limitada, a sua abundância em termos de mineração rentável vai diminuindo; a mineração, refinação e todas as operações conexas, implicam dispêndio de muito trabalho, muita energia. Não é comparável com o carregar de um botão, num banco central, para criar tantas unidades de «moeda-digital» que se queira.
Aliás, o projeto de instaurar moedas digitais («cripto-moedas») pelos bancos centrais, enferma dessa grande debilidade que é manter-se, exatamente como agora, a possibilidade de criar tantas unidades monetárias quanto se queira, ou quanto os que controlam o banco central queiram.
No caso deste cabaz de moedas do FMI incluir o ouro, a situação de flutuarem demasiado umas em relação às outras, não se poderia verificar como agora se verifica. Por exemplo, os empresários que importam ou exportam têm de ter um seguro cambial, para o caso de terem negociado a compra ou venda de matéria-prima ou produto, sendo este preço rentável apenas num determinado intervalo cambial. Grandes oscilações de câmbios ocorrem, especialmente em contratos que são firmados para o longo prazo. Tudo somado, a estabilidade cambial de longa duração entre divisas, vai beneficiar a indústria, o comércio e também as pessoas comuns, visto ser um fator estabilizador dos preços.
Porém, a grande reinicialização («great reset») está desenhada por oligarcas, por muito ricos, que não querem abrir mão do controlo das riquezas e do poder (lembram-se da frase «programática» de Schwab: «não possuirás nada e serás feliz»?). O que eles estão a fazer é tomar controlo de tudo o que é rentável ou potencialmente rentável. Os Estados serão espoliados das últimas «joias da coroa» não apenas empresas nacionais (construídas e mantidas ao longo dos anos com o dinheiro dos contribuintes) mas também obras de arte, monumentos, recursos naturais.
Os Estados ficarão inteiramente capturados pela grande finança e pelos gigantes «tecnológicos» (Google, Apple, Amazon, etc). Os pequenos comércios e indústrias desaparecerão, pelo menos enquanto entidades autónomas (podem manter-se com «franchising», ou outras formas dependentes). Os impostos vão subir, para satisfazer o reembolso da dívida monstruosa criada nestes últimos 20 anos. Os grandes da finança nunca irão «perdoar» um cêntimo dessa dívida aos Estados, ou seja, a nós. Toda esta dívida será cobrada e com juros.
Para dar a ilusão de que se «resolveu» o problema da dívida, vai-se fazer uma grande operação publicitária, fazendo crer que ela desaparece com o aparecimento do dinheiro 100% digital. Tal será mais um truque para adormecer as pessoas. Elas serão estreitamente controladas e mesmo empurradas a consumir certos produtos e a não consumir outros, através de taxações diferenciadas. Tudo isso vai ser fácil de realizar quando todas as pessoas tiverem os seus porta-moedas e contas conectados ao banco central. Será uma ditadura, pois será impossível qualquer transação fora deste sistema.
Nessa altura, quando a oligarquia tiver em mãos o sistema monetário com um grau de controlo muitíssimo maior que agora, então não terá problema em revalorizar o ouro (e a prata) ao seu justo valor. Porque, nessa altura, a quase totalidade desses metais preciosos estarão ou nos cofres dos bancos centrais, ou em cofres de multimilionários riquíssimos. Se o valor do ouro subir a cerca de 10 vezes o seu valor atual em dólares, ele estará na mesma proporção, em relação à massa monetária total, como estava em 2007. É fácil de se calcular esta proporção: há estimativas bastante rigorosas tanto da quantidade de dinheiro total existente, como da quantidade total de ouro em stock (em cofres de bancos centrais ou privados). O ouro apenas aumenta, em quantidade, menos de 1% anualmente, devido às atividades mineiras. Este pequeno aumento é insuficiente para cobrir o aumento da procura do ouro, ao nível mundial.
Por muito que suprimam o valor dos metais preciosos (ouro e prata) cotados nas praças internacionais, através dos contratos de futuros, por mecanismos há muito demonstrados por vários autores e entidades, o facto é que não existe outra alternativa, senão repor o ouro no centro do sistema, para lhe dar estabilidade. As grandes fortunas, que sabem o que realmente se passa, ultimamente têm-se enchido de bens não financeiros, comprando terrenos, imobiliário, obras de arte, ouro, matérias-primas, usando o dinheiro (divisas fiat) cujo valor vai decrescendo. Este decréscimo, primeiro é progressivo e depois brusco. Nos últimos tempos duma divisa, o que acontece é que ela é «queimada», por uma crise hiperinflacionária. Estamos agora no princípio desta etapa.

sábado, 1 de agosto de 2020

Portugal: Colapso Anunciado e Oportunidade de Renovo

The Best European River Cruises for 2019 and 2020 | Jetsetter ...

A partir de agora, a situação económica começa a «apertar» no Ocidente (falo da Europa e América do Norte, principalmente). 
Mas, o Ocidente não é homogéneo do ponto de vista económico e da exposição a situações causadoras de extrema desorganização e do acentuar da pobreza. Existem clivagens muito grandes entre países como, por exemplo, o Norte e o Sul da União Europeia: 
- Com a Alemanha, a Áustria, a Holanda e a Escandinávia, contrastando em desafogo económico e capacidade de suavizar uma situação prolongada de crise, com um Sul, incluindo Grécia, Itália, Espanha e Portugal, todos eles em situação muito mais frágil perante a crise profunda, pois estão muito dependentes do turismo para sobreviverem e não possuem diversificação suficiente para aguentar o embate e o marasmo prolongado no sector, que era o seu principal «ganha-pão».

Mas, também estamos perante a crise interna dos Estados e regimes, visto que a inadequada e autoritária resposta à epidemia de Covid-19 (um problema sanitário real), veio desencadear reflexos de medo e uma contracção da vida nas suas vertentes sociais. 
Isto pode ser conveniente para a oligarquia que governa estes países, no curto prazo. Porém, vão servir-se do mesmo pretexto da pandemia e de mais que duvidosas «segundas e terceiras» ondas, para retomar o controlo de todas as alavancas do poder, sem contestação. O grau de corrupção, na política e nas sociedades em geral, nunca foi tão elevado, com os lançadores de alerta a serem completamente ignorados ou perseguidos e calados. A cidadania, semi-adormecida, está num ponto em que pode ser facilmente manipulada, pelos da maioria governamental, ou pelas oposições.
Mas tudo isto tem, como fenómeno subjacente, o colapso do modelo económico e financeiro que governou o Ocidente.

Este colapso é bem visível nos EUA, país emblemático deste capitalismo. A cidadania nos EUA está completamente fraccionada. Existe um total divórcio em relação a quaisquer valores, que poderiam ser identificadores comuns do povo dos EUA. A coesão existente, é em relação a factores de grupo, nos quais se contam «raça», «religião», «pertença social», «orientação sexual», etc, etc. Não existe futuro para um país assim: irremediavelmente dividido. Ainda é o mais poderoso, em termos militares e ainda detém o privilégio do dólar US ser a maior divisa de reserva ao nível mundial:
- Mas, no plano geo-estratégico está em situação de competição com 2 super-grandes (Rússia e China), que possuem armamento sofisticado e - mesmo - superior em domínios-chave, face a modelos mais antiquados, que equipam as forças armadas dos EUA e seus aliados da NATO. 
- E, no plano monetário, o dólar está sob grande pressão, com uma descida significativa em relação às moedas ocidentais concorrentes, nomeadamente, ao euro. Além disso, o dólar (e todas as divisas) estão constantemente a perder valor, em relação ao ouro e à prata
Isto significa claramente a fuga dos investidores mais lúcidos dos mercados das obrigações e das acções e outros activos financeiros em geral, que se expressam em moedas-papel, ou «fiat». 
Pelo contrário, existe um aumento de procura muito significativo, além dos metais preciosos, no imobiliário em vários países europeus. Tal se deve ao facto de muitas pessoas estarem a converter bens financeiros em bens imobiliários, estes menos sujeitos a volatilidade e, sobretudo, que poderão atravessar esta crise longa, conservando o seu valor, em termos reais, no final.

No meio da «grande reestruturação» («great reset»), na qual nos encontramos, as pessoas dominadas (sem o saberem) por uma media, inteiramente ao serviço dos poderosos, são susceptíveis de fazerem escolhas erradas. Tais erros e ilusões, induzidos pela media mentirosa, ainda irão agravar mais a sua fragilidade, em termos económicos. Muitas das que tinham algum bem-estar económico, irão perder tudo, tal como aconteceu em todas as crises anteriores.  
Mas, a perda de uns, é o ganho de outros. Haverá pessoas e entidades que irão enriquecer, que irão fazer negócios chorudos, capturando bens e negócios por «tuta e meia».
 Estes, estarão em força quando se der a retoma da economia produtiva. Uma vez que o pior da crise tiver passado, que um novo sistema monetário veja a luz do dia, esses capitalistas terão o terreno limpo para seus negócios avançarem nas melhores condições. 
Com efeito, a ausência de concorrência vai permitir situações de controlo ou monopólio do mercado, em sectores de actividade e largas regiões geográficas; isso vai multiplicar as possibilidades de lucro. 
No capitalismo monopolista, que é o do nosso tempo, os que planificam e executam as acções dos grandes grupos financeiros não são uns amadores. Eles próprios, têm formação e contam com apoio de especialistas, em todas as áreas necessárias, que garantem - não apenas os negócios correntes - mas também a prospectiva, a visão estratégica de longo prazo.

Sendo assim, nos tempos mais próximos, depois da onda de falências e de grande contracção da economia, fase que durará, pelo menos, até ao próximo Verão de 2021, vai verificar-se uma grande concentração e reestruturação em todos os sectores-chave:
- concentração da distribuição, estendendo as redes de pequenas lojas mas com «label» de um grande distribuidor. Destruição visível do comércio de proximidade, desaparecimento do pequeno comércio nas zonas habitacionais: a mercearia, a frutaria, a pequena loja de electro-domésticos, a papelaria-tabacaria, etc. 
- concentração da banca, com fusões e aquisições de pequenos bancos por gigantes. Mas também uma diminuição da rede de balcões e/ou a conversão de serviços para 100% on-line, o que fará com que o número de funcionários bancários em contacto directo  com o público diminua ainda mais. 
- A Inteligência Artificial e a robotização vão avançar em todos os domínios, desde a medicina, engenharia, arquitectura, etc.  até às tarefas pouco especializadas, como a colheita de frutas e legumes, até agora assegurada por uma mão-de-obra muito «barata», normalmente imigrante. 

Vai haver uma generalização do desemprego estrutural. Não vai ser possível encaixar nos sectores produtivos, as pessoas agora despedidas, pois haverá muito menos postos de trabalho, além de que a tendência será de substituir humanos pelos robôs, ou por sistemas de IA (Inteligência Artificial). 
Face a esta situação, a opção dos Estados será - provavelmente - de criar um «Rendimento Básico Universal» (RBU), com capacidade de manter as pessoas assistidas no limiar de subsistência, mas ainda assim, sem chegar à indigência. 
O RBU será saudado como «grande progresso social» por alguns desmiolados, mas será a forma prática de manter as pessoas sob controlo, sobretudo jovens, quando não existe possibilidade ou vontade de as canalizar para tarefas produtivas e reprodutíveis.

Porém, existem muitas instâncias em que o trabalho poderá ser aplicado de forma útil e produtiva, com verdadeiro emprego e com verdadeiro salário
Estou a pensar nas enormes tarefas que estão por fazer, nos campos, especialmente no interior deste país, com todo o efeito de arrastamento de indústrias conexas ao renascimento agrícola, baseado em energias renováveis e em conceitos ecológicos. 
Estou a pensar também no apoio domiciliário a muitas pessoas idosas e/ou com deficiência, que não deveriam ser armazenadas em «lares», instituições completamente inadequadas. Veja-se o que aconteceu aquando do surto de Covid-19: pense-se que apenas vimos a ponta do iceberg.  
Na educação, ao contrário da tendência para realizar tudo «on-line», acentuada com a recente epidemia, que confinou as crianças e jovens em casa, tem de se apostar numa diferente e criativa forma de educar. 
Têm de ser criados «centros de educação e excelência tecnológicos» que não sejam os «parentes pobres» do que é, ou era (como há mais de 50 anos!) considerado nobre: as vias que conduzem ao ensino superior. 
Poderia multiplicar exemplos, desde a marinha mercante e portos, à rede ferroviária e a todas as infraestruturas associadas... campos em que haveria trabalhos de estrutura a fazer-se e com grande utilidade para o país.
Porém, este esforço muito necessário é impossível sem a mobilização de energias, de vontades, sem a existência de um projecto nacional. Para que vingue, é preciso realismo, vontade e persistência. São estas as três características morais impossíveis de desenvolver e cultivar no marasmo actual, sonhando uns com utopias caducas, outros com «milagres» de ajudas vindas do exterior, etc. 
Há muitas maneiras de cairmos; para nos levantarmos, só há - basicamente - uma; dobrar as pernas, retesar os músculos, fazer força apoiando-se no chão, exercendo toda a força para cima, o corpo unido no gesto de se erguer, de retomar a vertical. No caso dos povos, é o mesmo! 
Onde está o essencial da questão? 
Na tomada de consciência de que a salvação não virá do exterior, mas de nós próprios, de fazermos o que seja preciso para nos pormos de novo, em pé!  


quinta-feira, 30 de julho de 2020

EM DEFESA DA AGRICULTURA E ECONOMIA PRODUTIVA EM PORTUGAL

Histórias com História: UM PORTUGAL ESQUECIDO...
Uma casa agrícola ao abandono no Alentejo, foto retirada de


Portugal, tal como outros países da UE situados a Sul, teve durante decénios um crescimento da economia baseado num sector muito particular, o turismo. 
Com efeito, o turismo arrasta consigo quase todos os outros sectores que não lhe estão associados estritamente, desde as indústrias alimentares, à construção civil. 
Porém, como tinha repetidamente avisado, o turismo é um sector incerto por natureza, sujeito a factores imponderáveis, como veio agora confirmar-se com a existência de uma crise profunda. Não há muito a fazer nestas circunstâncias, a não ser encarar a situação de desastre com realismo, não tentando iludir a sua gravidade, porém colocando as coisas em termos positivos.

As pessoas não poderão ter emprego num sector em falência; não terão sequer a opção tradicional de emigrar. Como quando existia um período de recessão em Portugal, mas era necessária mão-de-obra no Norte da Europa. 
A crise está a gerar um número de desempregados maior do que nos piores momentos de marasmo económico, no nosso país... Com a agravante de que estão vedadas as saídas que poderiam fornecer emprego, quer noutros sectores urbanos e costeiros, quer para países mais ricos da União Europeia.  
Com efeito, sendo esta crise profunda e sistémica, não existirá sector onde não se verifique uma contracção da actividade e um congelamento do recrutamento de pessoal, ou a existência de muitos despedimentos. Será praticamente certa a existência de muitos mais, quando os actuais «lay-off» se traduzirem em despedimentos, por motivos económicos, ou por insolvência.

É perante um tal pano de fundo, nada brilhante, que a visão estratégica do país deve ter primazia. Os políticos e empresários não podem estar à espera de conseguir manter-se, apenas jogado com o medo e os anseios das pessoas. 
Com efeito, sabemos que nos últimos anos tem faltado um sentido de Estado nas castas dirigentes; não existe visão ampla e audácia. Apenas têm apostado no pequeno golpe, na demagogia, no ilusionismo das promessas eleitorais ou na «mão estendida» dos empresários ao Estado, apesar destes dizerem que o Estado é o seu «inimigo».
Nos tempos presentes, em que predomina essa pequenez, de par com o alheamento da generalidade das pessoas em relação à política (no sentido nobre do termo), torna-se crítico que olhemos para o que já existe, com potencial para nos encaminhar para novo ciclo de desenvolvimento. Não fazer as mudanças estratégicas que se impõem, é condenar este país ao subdesenvolvimento e dependência. 

Pode parecer insólito que eu enfatize o sector da agricultura biológica; porém, tenha-se em consideração o seguinte:

- O solo, o clima, o coberto vegetal e os ecossistemas em geral, são factores essenciais de produção, pois são condicionantes da agricultura possível num dado espaço geográfico. 
- Portugal tem bons solos, muitos deles não valorizados, nem em relação à qualidade, nem à quantidade de produção agrícola. É frequente verem-se áreas, onde existia agricultura, por vezes rica, completamente abandonadas, entregues ao mato ou a eucaliptais.
- Existe uma irregularidade dos níveis de precipitação, porém o aproveitamento inteligente dos recursos hídricos permitiria minorar essa situação. Sobretudo, deverá haver o bom-senso de plantar aquilo que esteja melhor adaptado às condições hídricas da região. 
- A agricultura poderia proporcionar empregos em quantidade. Alguns seriam muito apetecíveis em termos de remuneração, porque altamente qualificados. 
- As zonas rurais já não são «o fim do mundo»: pode-se usufruir, no campo, de muitos confortos a que os citadinos estão habituados.  O facto é que a agricultura hoje está mecanizada e a economia digital opera em contexto rural.
- A existência de solos não contaminados com resíduos de adubos químicos, insecticidas e herbicidas, é uma condição para se poder exercer agricultura biológica. Nos países do Norte, muitos terrenos agrícolas estão há demasiado tempo sujeitos a esse tipo de agricultura industrial. Isso traduz-se por uma impossibilidade prática de se fazer agricultura biológica nesses solos. 
- Esta é uma das razões, entre outras, que leva jovens dos países do Norte (Alemanha, Holanda, Bélgica, Suécia, Grã-Bretanha...) a implantarem, de Norte a Sul de Portugal, unidades agrícolas rentáveis.

Avaliando a situação, creio que se deveria dar também acesso à terra e à possibilidade de viver da agricultura, às jovens gerações portuguesas. Isso passa por instaurar linhas de crédito orientadas para uma agricultura renovável, inteligente, destinada aos mercados de exportação.
Com efeito, um jovem casal (com ou sem filhos), deveria conseguir empréstimos garantidos pelo Estado, ou bonificados, através de um mecanismo de financiamento. Isso seria a verdadeira alternativa à inactividade forçada ou a empregos precários, de utilidade duvidosa nalguns casos, sempre sujeitos a despedimento e desemprego... Sobretudo, sem um futuro decente pela incerteza permanente causadora de muitos males sociais, que todos nós sabemos.

As pessoas deveriam ter acesso a aconselhamento desburocratizado, a custo zero ou a muito baixo custo, para apoio técnico em relação aos seus projectos. Os organismos regionais de agricultura deveriam fazer o levantamento das áreas que, ou estão ao abandono, ou com actividade inadequada (hoje, é possível fazer tais levantamentos com fotografia aérea ou por satélite, a baixo custo). 
A intervenção do Estado deveria ser no sentido de canalizar o esforço financeiro, produtivo, técnico e humano, para re-colonizar zonas do nosso interior, que têm estado ao abandono, nalguns casos, há mais de meio século!

Esta seria a verdadeira política de «Green New Deal» para Portugal, não em detrimento doutros sectores, mas beneficiando do que já existe e tirando máximo partido dos nossos trunfos.
São eles: clima, solo, disponibilidade de mão de obra, capacidade técnica e facilidade de colocação em mercados dos produtos, com elevado valor acrescentado. 

Não é uma utopia. 
Pelo contrário, é uma via alternativa à continuação do marasmo e do complexo em que nos fomos enterrando enquanto Nação *.

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 (*) Ver o meu ensaio «Portugal País Neo-Colonial?».