Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.
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segunda-feira, 15 de abril de 2024

CAUSA PRINCIPAL DO ATRASO ESTRUTURAL DE PORTUGAL

Quais as consequências do alheamento do público em relação ao setor da investigação pública e privada nacionais?

É difícil destrinçar as causas e consequências do atraso secular de Portugal no campo dos saberes e da infraestrutura industrial.

Mas, há interesse dalguns em manter o público arredado. Na base, trata-se por parte dessa «elite», de criar um sentimento de perplexidade no auditor/leitor: «Se isto é tão complicado, com certeza é muito profundo. De tal maneira que eu não consigo penetrar...» A pessoa ingénua é colocada na postura da criança que perante um discurso dos adultos, está desprovida de instrumentos conceptuais, para avaliar o seu conteúdo concreto. Porém, o conteúdo concreto, para quem se dê ao trabalho de esmiuçá-lo, pode ser de uma completa banalidade, quando não de imbecilidade, que apenas as catadupas de termos rebuscados, ocultam. 

Quando estes discursos rebuscados são produzidos, normalmente em congressos, ou outras reuniões entre pares, as pessoas estão numa de duas posturas: ou estão coniventes, porque fazem exatamente o mesmo e - portanto - não vão levantar problemas. Vão coibir-se de fazer críticas demasiado acerbas, pois elas também têm «telhados de vidro». Ou, não percebem realmente que se trata de «pechisbeque», em vez de algo com valor, estão neste caso pessoas que se deixam enganar, entontecidas pelas «luzes da ribalta» e não se atrevem a questionar o «discurso de poder», para não fazer «má figura». É literalmente aquilo a que se resume a maior parte das comunicações de filósofos, economistas, cientistas sociais, etc. que enxameiam a academia.

 Mas, as coisas não se ficam por aqui: O grande - exponencial - crescimento de publicações nas ciências ditas «duras» (física, química, biologia), também é um caso de fancaria, em numerosos casos. Não se trata de publicação de novos avanços, nem enquanto descobertas, nem de algo original, muitas vezes são reproduções de resultados já existentes, ou resultados de duvidosa legitimidade. O prestígio de um cientista individual mede-se pelo número de publicações que este pode apensar ao seu currículo, não à relevância das mesmas para o seu ramo de ciência. 

Como as atividades dos laboratórios de investigação - sejam de instituições públicas ou privadas - estão na dependência de grandes empórios,  como a poderosa indústria farmacêutica em relação às ciências da vida e da saúde, o que sai deles é apenas o que esteja dentro dos parâmetros, dos interesses e das conveniências desses mesmos grandes grupos. O fenómeno é transversal. O resultado, é que se instalou uma relação inversa entre o número de pessoal altamente qualificado na atividade de investigação, e a qualidade intrínseca da investigação realizada, já para não falar da sua relevância social.

Todos, seja a nível de pessoas individuais, seja a nível de instituições, têm de justificar avultados investimentos, com as tais publicações, com os relatórios, com as comunicações a congressos, etc. Que tal seja o produto natural da investigação científica, não nos surpreende: Desde há muitos decénios que é assim. Mas, o que choca é  ausência de mecanismos de controlo, de real avaliação da qualidade da investigação. Chegou-se a um ponto em que a fraude é coletivamente encoberta, para conseguir-se uma aparência de respeitabilidade, na dita investigação. 

O resultado concreto, é que o discurso vai sendo cada vez mais esotérico, mas não traz nada de novo, em conteúdo. A ciência que se faz, seja em termos de ciências humanas ou de ciências físicas e naturais, é de qualidade intrínseca cada vez mais fraca. Sobretudo, confrontando a qualidade média de publicações académicas de há 30, 40 ou 50 anos atrás, com a qualidade média dos artigos produzidos hoje. Esta degradação da qualidade intrínseca é também notória noutros países, que eram considerados «locomotivas» da investigação científica, como o Reino Unido e a França, por exemplo.

A divulgação científica atingiu um nível tal que é impossível descer mais baixo: Vimos isso, a propósito do episódio da «pandemia do COVID», com o nível deplorável das intervenções mediáticas, completamente falseadas e a reboque da propaganda governamental. Mas, para haver tal monstruosa operação de propaganda, que atingiu o grau de terrorismo psicológico de massas em muitos casos, foi importante a colaboração ativa de alguns, que se apresentaram como especialistas disto ou daquilo, enquanto difamavam e silenciavam os poucos especialistas que tentavam colocar a discussão em termos honestos, no debate científico. Este episódio, cuja importância não pode ser menosprezada, teve - pelo menos - a vantagem de abrir os olhos a muitos, que tinham uma visão ingénua da ciência e da integridade dos cientistas, principalmente dos que desempenhavam funções de poder e de prestígio.  

O dispositivo académico está totalmente dependente dos poderes: Seja da indústria, seja dos políticos com importantes cargos no Estado, eleitos ou não. Este dispositivo académico tem cada vez maior necessidade do financiamento destas entidades, visto que as somas atribuídas para investigação, projetos específicos, bolsas, etc., são cada vez mais de exclusiva decisão dos poderes políticos e/ou industriais. Ora, como é bem conhecido, «quem paga é quem manda». O resultado disso, não é apenas uma diminuição da qualidade intrínseca dos resultados da investigação. É também o desperdício de verbas cada vez maiores e de recursos técnicos e humanos, para ir ao encontro de agendas nada transparentes, no mínimo. Não haveria problema que uma parte da investigação fosse financiada pela indústria, se resultante de contratos estabelecidos, de forma transparente, entre instituições. Mas, o problema surge com as inúmeras influências exercidas desde os planos pessoais de certos investigadores, até às influências exercidas através dos ministros e outros em cargos de poder.

Nos países dependentes, como Portugal, é frequente pessoas serem doutoradas no estrangeiro e virem exercer cargos de responsabilidade no país, onde tentam continuar projetos em que estavam envolvidas, nos países onde fizeram o doutoramento: Neste país (Portugal) não existe verdadeiro programa conferindo prioridades e canais de financiamento privilegiados, para certas áreas científicas. Assim, o  trabalho destes investigadores, por muito meritório que seja, acaba por ter como principais beneficiários outros países, outros projetos científicos, aqueles onde foram originados. 

No conjunto, a classe política tem estado «à vontade» em relação à ciência, seja ela feita em laboratórios do Estado, ou em departamentos de Universidades: É um domínio em que tem podido exercer a sua influência, para comprar e deixar-se comprar, pelos grandes interesses. Que estes dominem o país, do ponto de vista económico e financeiro, não nos pode surpreender. Daí decorre a ausência de controlo e fiscalização dos recursos que estão destinados pelo Orçamento de Estado às entidades universitárias e de investigação: É impossível que sejam encaminhados para áreas realmente prioritárias, se os critérios não são os do interesse nacional, numa perspetiva ampla, diferenciada dos interesses particulares, sejam de grandes empórios, ou até pessoais, de «bonzos» instalados nas instituições em causa.

As pessoas, em geral, não fazem ideia de quanto dinheiro é mal aplicado na investigação, mas ainda menos têm noção da riqueza que deixa de ser produzida, em virtude da forma peculiar, irracional e por vezes criminosa, como este setor é gerido. Só um país do terceiro mundo (ou do quarto?) esbanja desta maneira seus recursos financeiros destinados á investigação, os seus recursos de «massa cinzenta» também. Embora isto seja somente um aspeto da dependência face aos países  mais poderosos, é sintomático. A possibilidade de arranque para o desenvolvimento autónomo fica posto em cheque pela política corrompida, neste setor tão crítico.


terça-feira, 3 de outubro de 2023

PORTUGAL, «O TERCEIRO MUNDO DA EUROPA»

Portugal é um país totalmente dependente. A sua estrutura produtiva é cada vez mais estreita, não conseguindo autossuficiência sequer em termos alimentares, apesar das excelentes condições naturais para a agricultura

Portugal, após alguns laivos de políticas desenvolvimentistas nos anos imediatos pós-25 de Abril de 74, teve uma sucessão de governos conformados com a divisão internacional do trabalho, favorável aos grandes potentados. 

Bairro da Serafina em 1970, arredores de Lisboa (foto do arquivo de José Pacheco Pereira )

 Bairro de lata «Pedreira dos Húngaros» em Algés, perto de Lisboa



Casa em ruína (Portugal); uma imagem frequente tanto em ambientes urbanos, como rurais

O alinhamento total e incondicional com a Europa da UE e, em termos geoestratégicos, com a OTAN (dominada pelos EUA) é tido, pelos políticos do sistema e empresários, como uma necessidade e um bem. Pensam egoisticamente que, estando Portugal subordinado às grandes potências capitalistas,  isso lhes traz - a eles, do sistema - a garantia de tranquilidade no plano social, eliminando quaisquer hipóteses de agitação sócio-laboral ou surpresas eleitorais, como a subida ao poder de governos de Esquerda. Por outro lado, este tem sido o papel tradicional da «burguesia compradora». No presente, este papel traduz-se em investir apenas no sector terciário, o turismo sobretudo, com hipertrofia da economia parasitária e especulativa. 


Isto é bem visível com o nível atingido pela especulação imobiliária. Neste sector, após a transitória paralisia causada pelos confinamentos da pandemia do Covid, há cerca de dois anos atrás, tem havido mais do que um «boom»: É uma «fúria do imobiliário», com construção desenfreada de condomínios de luxo, em especial nas zonas litorais mais caras, cobiçadas por estrangeiros endinheirados. Ao mesmo tempo, verifica-se uma carência aguda de casas a preço abordável, até mesmo para a classe média. Hoje,  a maioria das pessoas não aufere rendimentos suficientes para comprar uma casa a crédito. Ficam afastados da compra de casa, porque o seu nível de ordenado não chega para obter o necessário crédito bancário. 

A planificação urbana, os PDM (Planos Diretores Municipais), ficaram «na gaveta». Não há qualquer restrição verdadeira, quer relativa a sobrecarga de construção, quer para canalizar investimento para habitação social. Hoje em dia, tornou-se banal, que seja ignorada e violada impunemente legislação ambiental, em particular, aquela visando a proteção da paisagem e ambiente natural. Este desprezo do ambiente resulta - sem dúvida - da corrupção ativa, exercida por interesses empresariais. Os candidatos, nas campanhas eleitorais, arvoram-se em «defensores ambientais intransigentes». Mas os autarcas e outros políticos, depois de eleitos, têm uma tendência curiosa para esquecer, quando se trata de aprovar os projetos de novos edifícios, quando estão em jogo chorudos capitais.  

A corrupção atingiu os que estão  ou ambicionam estar no poder. Isto inclui uma esquerda que gostava de arvorar sua suposta superioridade moral. Agora, já não é «esquerda de causas», mas a «esquerda que causa nojo». O restante da esquerda é insuficiente para catalisar a mudança. Além disso, esta tem sido incapaz de avaliar corretamente a situação em que se encontra e tem-se deixado dividir por querelas internas, alimentadas por rancores do passado. 

Por todos estes motivos, Portugal é «o porto seguro» dos capitalistas e capitais exteriores. Eles estão tranquilos, com o atual governo de Portugal e com as forças políticas com representação parlamentar. Também são favorecidos pela falta de preparação dos militantes sindicais catapultados para os cargos de direção nos sindicatos.

Assim, pode ler-se, em artigos dos jornais de negócios dirigidos à classe empresarial dos países mais ricos (Norte da Europa, América do Norte, e outros), que Portugal é realmente competitivo em relação a muitos outros países do Terceiro Mundo, não apenas pela estabilidade política, como também pelo baixo preço da sua mão-de-obra e pelas condições que o governo oferece aos investidores estrangeiros. Na realidade, não existe regulamentação restritiva, na prática, ao investimento estrangeiro. Neste país, também a exportação de capitais e dos lucros gerados não sofre qualquer limitação, de facto.    

Enfim, Portugal é o paraíso com que sonham os capitalistas mundiais. Discretamente, os oligarcas do Brasil, da China, da França, do Reino Unido e de muitos outros países, decidiram investir em Portugal. Não foi, certamente, por amor às gentes e à sua cultura!

De facto, não conheço nenhum outro país que discrimine os nacionaiscomo este o faz. Os mais competentes portugueses têm sido preteridos para agradar aos estrangeiros. Uma razão para isso (não tem que ver com hospitalidade ou abertura) é os burocratas parasitas e  corruptos aproveitarem-se da inexperiência de estrangeiros recém-chegados.

Portugal inaugurou a política oficial, no governo de direita de Passos Coelho, de exportação de cérebros. Em geral, são portugueses jovens, com qualificações elevadas, que não conseguiam encontrar aqui lugar compatível com sua formação e expectativas, porque estes lugares estariam «ocupados». Isto acontece, tanto em instituições de investigação e universidades, como em empresas ou quaisquer outras instituições, desde que elas beneficiem da «proteção» do poder político. O volume de exportação dos quadros técnicos e científicos não parou de crescer. Por alturas do referido governo de Passos Coelho, haveria cerca de 50 mil cientistas com doutoramento ou grau mais elevado, permanentemente no estrangeiro, ou seja, residindo e trabalhando nesses países e não tendo intenção de regressar a Portugal, a não ser em férias. Eles formaram-se totalmente, ou em grande parte, aqui, com a participação económica e o esforço de suas famílias, comunidades e Estado português. Isto corresponde a desbaratar o mais precioso potencial de um país, o potencial humano. Estes jovens foram fornecer trabalho valioso às empresas e instituições estrangeiras, que reconhecem suas elevadas qualificações. Esta exportação de «massa cinzenta» orquestrada pelos órgãos superiores do Estado português, significa que parte dos indivíduos com maior capacidade e potencial criativo, não irão contribuir para o desenvolvimento do seu próprio país. Não foi por escolha deles, não é por desígnio próprio, mas porque foram mantidos fora dos empregos, depois de formados. Foram atirados para o estrangeiro... pois aqui (supostamente) não teriam lugar!   

As crises que assolam o Mundo também são ressentidas em Portugal. É difícil um pequeno país fazer frente às dificuldades originadas no exterior. Mas, se as dificuldades  aqui sentidas, tivessem apenas aquela origem exterior, como nos querem fazer crer, haveria razões para guardar alguma esperança. 

Mas, no caso português, é diferente: Os que ocupam, por turnos, as poltronas do poder, especializaram-se em aproveitar-se sempre, quer em tempos de crise ou de bonança. Eles estão em «altos cargos» a espremer o povo. Igualmente dilapidam - sem nenhuma preocupação - o património histórico e a natureza. Assim, vendem este território ao «metro quadrado»: os pedaços mais apetecíveis, quer para fins habitacionais, agrícolas ou industriais, vão parar aos que façam a maior oferta, normalmente estrangeiros.  

Para garantir o negócio, os governos de turno são vigilantes e céleres em usar meios de repressão sobre movimentos sociais que eles não controlem. Eles também exercem permanente e massiva influência sobre as mentes, através dos meios de comunicação, em grande parte possuídos ou participados pelo Estado. Assim, garantem que o povo se mantenha ignorante e possa ser explorado pelos muito ricos, estrangeiros ou nacionais.