A IIIª Guerra Mundial tem sido, desde o início, guerra híbrida e assimétrica, com componentes económicas, de subversão, desestabilização e lavagens ao cérebro, além das operações propriamente militares. Este cenário era bem visível, desde a guerra na Síria para derrubar Assad, ou mesmo, antes disso.
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quinta-feira, 9 de maio de 2019

RELAÇÃO DA CRISE VENEZUELANA COM O CONTROLO GLOBAL DO MERCADO MUNDIAL DO PETRÓLEO

«O que o nosso (dos EUA) governo não nos diz sobre a Venezuela»:




                                              Uma brilhante análise de Kim Iversen

Veja também o seu excelente video sobre «o que todas essas guerras para mudança de regime têm em comum?» : https://www.youtube.com/watch?v=Mtba_KqCmUQ


sexta-feira, 12 de abril de 2019

UMA FROTA DE CISNES NEGROS ...

Jim Willie faz uma descrição dos numerosos sinais que têm mostrado que a evolução para fora do dólar US está em marcha.

Não conheço fonte mais rica em factos, sobre a economia ao nível mundial, que nós normalmente não vemos na media «mainstream». Também, o contexto em que as transformações ocorrem, torna-se perfeitamente inteligível.

Indispensável ver e ouvir... 


quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

EMERGÊNCIA DE UM NOVO SISTEMA MUNDIAL BASEADO NO PADRÃO OURO

Reproduzo alguns aspectos essenciais da análise de Jim Willie, que poderão consultar na íntegra, aqui

Jim Willie começa por afirmar que a supressão do preço do ouro está a chegar ao fim. Esta supressão teve como suporte os contratos de futuros em ouro (o mesmo se passa com a prata) que são negociados, como outros derivados, nas bolsas do COMEX e da LBMA, mas que não correspondem a quase nenhum ouro subjacente. Por outras palavras, negoceiam-se títulos de compra e venda de ouro, que não desembocam na entrega do metal, mas apenas são «redimidos» em dólares. Os pedidos de entrega do ouro correspondente a contratos, têm sido - repetidas vezes - negados. Apenas grandes bancos têm - na prática - a possibilidade de obter, desta forma, o ouro físico. 
Pensa-se que a proporção de contratos sobre a quantidade de ouro depositado nos cofres destas instituições, seja de cerca de 1:200 (1 onça de ouro físico para 200 onças de «ouro-papel»). Esta fraude repetida tem permitido a supressão do preço do ouro: Quando a tendência é para uma subida acentuada, os grandes bancos emitem contratos de ouro-papel (vazios, não baseados em barras de ouro subjacentes) que inundam o mercado de futuros do COMEX e LBMA, normalmente em horas de pouca movimentação, para garantir a descida mais acentuada do preço.

Segundo Willie, 3 factores se conjugam para o preço do ouro subir até valores que compensem a impressão monetária, em grande escala, que tem ocorrido.

1- O regresso do QE (Quantative Easing) ou seja, da impressão monetária não contrabalançada por retirada de divisas do mercado. 
Powell deu um claro sinal de que a FED vai fazer uma «pausa» na redução/venda dos activos detidos. A imprensa financeira e Wall Street interpretaram isso como uma inversão da política de Quantitive Tightening (QT) prosseguida desde há dois anos, nos EUA. Por outro lado, os especialistas em obrigações do tesouro (treasuries) e em derivados, asseguram que a compra discreta destas pela FED tem continuado, apesar da sua proclamada retirada. Quanto à subida gradual da taxa de juro, esta ainda está muito longe de atingir a sua média histórica.
A política de QE da FED foi causadora de uma grande subida do ouro, invertendo a tendência de descida, a partir do ano de 2016. Agora, existe um mercado altista no ouro, que a «pausa» no QT ou a retoma do QE, está a estimular.

2- O SGE (Shangai Gold Exchange): a bolsa do ouro de Xangai tem tido um enorme volume de transacção de ouro físico. Há uns tempos atrás, a China lançou uma nota de crédito em Yuan, como instrumento importante nas suas trocas comerciais globais, nomeadamente, com países exportadores de petróleo. Esta nota de crédito em Yuan vem substituir as «treasuries» americanas de curto e médio prazo, que têm sido utilizadas como instrumento corrente de pagamento, em trocas de grande volume. 
Com a maior utilização da nota de crédito em Yuan, conjuga-se a possibilidade de converter esses yuan em ouro no SGE. Necessariamente, a bolsa de Xangai será ainda mais activa e cada vez maior número de instâncias internacionais aceitarão de bom grado esta nota de crédito. Esta nota de credito em Yuan será bem aceite, pois não terá risco e será redimível em ouro (No SGE a compra de ouro é exclusivamente feita em Yuan).

3- As directivas de Basel: Basel é onde se situa a sede do BIS (Bank of Internacional Settlements) o «banco central dos bancos centrais». 
Este banco tem emitido directivas cujos bancos centrais dos vários países fazem cumprir às entidades bancárias sob sua jurisdição. Assim, segundo directiva em vigor partir de 31 de Março, os bancos comerciais vão poder constituir reservas em ouro, visto que este passa a ter o estatuto de «Tier 1» ou seja, a par do dinheiro líquido e das obrigações do tesouro. 
Estas reservas, por sua vez, são muito importantes para os bancos comerciais, pois determinam a sua solidez e quais os montantes estão autorizados a emprestar. 
Esta pequena mudança em relação ao ouro, está a sinalizar uma nova abordagem. O seu intuito claro é salvaguardar a sua utilização como componente do grande «reset», ou seja, da reestruturação do sistema monetário internacional. 
Aliás, várias vozes próximas do FMI têm vindo a propor uma reestruturação baseada na substituição do US dólar  como moeda de reserva (uma das resultantes dos Acordos de Bretton Woods) por um cabaz  (o SDR) de moedas em proporções diversas... dólares, euros, yens, libras e yuans. Propuseram eles que este cabaz seja alargado a metais preciosos (ouro, principalmente) e até matérias-primas (petróleo, etc). 

Estão - por detrás da cortina - a cozinhar a tal transição ou «reset», mas discretamente, para não desencadearem pânico no público. Também estão a tentar uma transição que mantenha o poder dos bancos centrais e da grande banca, ou até o reforce ainda mais. 

Os leitores interessados poderão consultar vários artigos que tenho dedicado, ao longo dos anos, a estes assuntos, ver em particular:

http://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2018/11/como-e-que-elite-globalista-pretende.html

http://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2019/02/para-compreender-o-mundo-de-hoje.html

http://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2018/07/o-famoso-reset-ja-estara-ocorrendo.html




segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

O VALOR DO DÓLAR NÃO TEM QUALQUER ESPÉCIE DE GARANTIA



[Resumo do artigo de Egon von Greyerz:]

Von Greyerz recorda que em Agosto de 1971 o Diário do Povo da China declarava que a célebre decisão de Nixon de des-indexar o dólar ao ouro, significava o princípio do fim do sistema monetário do mundo capitalista. 
            

Com efeito, os dirigentes comunistas chineses estavam totalmente certos, como se pode comprovar pelo gráfico acima e pelo facto dos EUA terem estado constantemente em défice nos últimos cinquenta anos, quer em relação ao orçamento, quer em relação à balança comercial. Se tivermos em conta, não apenas as dívidas de empréstimos mas também as obrigações a que os EUA estão legalmente obrigados (segurança social, assistência médica, etc.) e que não têm tido financiamento adequado, a dívida total ascende hoje a triliões de dólares.
Quando Von Greyerz começou a trabalhar num banco em Genebra, o dólar valia cerca de 4,30 Francos Suíços. Hoje, um dólar vale ligeiramente menos do que um franco suíço. Houve um colapso de 77% da divisa de reserva, em 50 anos, mas se compararmos com a cotação do ouro, então a descida é de 97%.
Os chineses previram, na altura, o efeito catastrófico da medida anunciada por Nixon:
Citando o Diário do Povo: 
"Estas medidas impopulares reflectem a gravidade da crise económica dos EUA e a degradação e o declínio do sistema capitalista no seu todo"
e, mais adiante "[estas medidas...] assinalam o colapso do sistema monetário capitalista com o dólar dos Estados Unidos como seu propulsor" e ..." a nova política económica de Nixon não poderá poupar os EUA à crise financeira e económica".
O referido jornal previa que a crise se iria acentuar. 
Os chineses compreenderam isto, logo em 1971, quanto às desastrosas consequências da decisão de Nixon. Estamos hoje com uma situação de inflação galopante (incluindo nos preços dos activos financeiros), divisas em colapso e uma explosão das dívidas. Todas as coisas que Nixon dizia que iria evitar!
As políticas desastrosas destes 48 anos tiveram consequências nefastas em todos os aspectos da economia dos países capitalistas: compressão ou estagnação de salários reais, perda de competitividade,  criação de bolhas especulativas e falências em série quando estas rebentam...
A saída do padrão-ouro, que estava estabelecido no Acordo de Bretton Woods, foi catalizador de toda a decadência dos países ocidentais, enquanto a China subiu para segunda economia ao nível mundial, ou em termos de Paridade de Poder de Compra (PPC), a 1ª economia. O PIB da China era de 100 biliões de dólares US em 1971; hoje em dia é de mais de 12 triliões dólares, e quando avaliada em PPC é de 23 triliões de dólares.
A diminuição acentuada das reservas de ouro dos EUA esteve na base da decisão de Nixon. O facto do Tesouro Americano - há quase quarenta anos - ter parado de noticiar as vendas de ouro (ver gráfico acima) legitima a dúvida sobre a real quantidade de ouro que existirá ainda nos cofres de Fort Knox.
Para ler o artigo completo (em inglês):

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

PARA COMPREENDER O MUNDO DE HOJE...

Para compreender o mundo de hoje... é preciso conhecer o que é afinal o «great reset» e esta entrevista dada por Jim Willie é absolutamente essencial.


A grande mudança vai implicar o retorno do ouro, como padrão de todas as divisas. Caminha-se para um universo dual, onde o dólar terá uma dada zona de influência e o Yuan terá outra.
As previsões em relação ao euro e aos projectos da Europa do Norte de regressar às suas divisas são muito audaciosas, mas devem ser tomadas a sério porque Jim Willie tem uma série de correspondentes, muito bem situados em vários pontos do globo, no mundo financeiro.
[como censuraram o vídeo anterior... vejam este, enquanto não o for!]

sábado, 5 de janeiro de 2019

JOGOS DE GUERRA SÃO JOGOS PERIGOSOS...

«As condições de concorrência e rivalidades entre potências imperiais e o atiçar de nacionalismos diversos»... seria uma frase conveniente para começar a descrever os antecedentes da Primeira Guerra Mundial, assim como para estes tempos conturbados.
Com efeito, uma super-potência, os EUA, triunfante de uma guerra-fria (por vezes, quente) com a super-potência rival, encontra-se confrontada com a emergência de potências que não aceitam mais um estatuto subordinado (a China e a Rússia). Estas têm sabido obter uma série de cooperações «win-win». Muitos dos países envolvidos são os que têm desejo de se tornarem independentes dos laços neo-coloniais, sob os quais são explorados, desde as suas independências das metrópoles...
Este tecido de acordos vai marginalizar o papel dos EUA e dos seus aliados, numa parte substancial do comércio mundial, de igual modo fazendo perder ao dólar o papel de reserva obrigatória (nomeadamente, sob forma de obrigações do Tesouro Americano) em bancos centrais e comerciais em todo o mundo e como divisa predominante no comércio mundial. 
A hegemonia militar também está posta em causa, com a demonstrada (na Síria, principalmente) capacidade superior do armamento russo e a tecnologia chinesa que permite colocar em questão a superioridade da Navy dos EUA (foi notada a declaração de uma alta patente chinesa, dizendo que seria perfeitamente possível afundar porta-aviões americanos com mísseis chineses, frase que não deixou de soar como ameaça).

A questão que se coloca é da «armadilha de Tucidides». Este filósofo e historiador grego do século Vº A.C. dizia que uma potência dominante, mas em decadência, podia ser empurrada para a guerra por potências menores, mas em ascensão, por a primeira ter ainda esperança de assim vencer, antes que estas rivais se tornassem demasiado fortes. Alguns estrategas e pensadores geopolíticos pensam que esta «armadilha de Tucidides» se poderá colocar na actualidade.
Outras questões são agitadas, como a famosa visão geoestratégica de Mackinder, sobre a centralidade do espaço do Continente Euro-asiático, cujo controlo seria vital para a potência hegemónica (na altura, era a Grã-Bretanha). 
Na verdade, a guerra já está desencadeada em múltiplas frentes: Há guerra económica , com embargos, sanções, etc.; financeira, com bloqueios de transferências de capitais e com medidas para tornear o bloqueio de pagamentos; comercial, com tarifas de importação; de propaganda, com media agressiva e demagogos excitados ... 
Não será muito difícil imaginar que um «tiro num equivalente do Arquiduque, num qualquer lugar a fazer de Sarajevo» possa desencadear uma cadeia de actos que conduzam à chamada guerra «cinética» (ou seja, com tiros) entre grandes potências.  

Neste contexto, importa afirmar alguns factos: 
- A guerra, hoje em dia, não é uma questão de conquista, de alargar o «espaço vital» duma nação (ou império). 
- Não é também uma questão de aniquilação dum adversário, pois o que restar de suas defesas, depois de um primeiro ataque nuclear é suficiente para causar um dano devastador no inimigo. É um facto que os geo-estrategas de salão ou de gabinete deveriam compreender, mas não «conseguem»; infelizmente, são eles que têm influência decisiva nos governantes e presidentes. 
Estou convencido que os militares de alta patente, mas próximos do «terreno», têm uma maior noção das realidades. Os que lhes são subordinados, os oficiais de patentes mais baixas, os sargentos e os soldados, deveriam ser críticos e mostrar-lhes que não estão dispostos a fazerem de alvo, para satisfazer os sonhos megalómanos e as ambições de «políticos-militares». 
Todas as noções do que seja uma guerra, que vigoram no sub-consciente de grande número de pessoas, incluindo dos «geo-estrategas de gabinete», estão  moldadas pelos vídeo-jogos e pela evocação de cenários passados, reais, mas que não são transponíveis. 
É sabido que os generais treinam e preparam as suas divisões para combater situações análogas às da última guerra passada. Mas a guerra seguinte não se parece com a anterior. Eles ficam desarmados, em termos conceptuais pelo menos, quando as realidades do novo conflito lhes caem em cima.

A questão - de facto - mais grave nisto tudo, é que o desenvolvimento pacífico dos povos tornaria possível a abundância ou pelo menos, a ausência de escassez e de miséria, mas os governos têm feito do armamento e das forças armadas a sua prioridade. Ambos são gastos inúteis, no melhor dos casos (o de não haver utilização dos mesmos) ou, no pior, causadores de destruições massivas de vidas e bens materiais, destruições  brutais e irreversíveis em termos ambientais, também. 
Perante isto, as pessoas e as forças que desejam a paz e que lutam pela paz são demasiado pouco contundentes, são demasiado tímidas, porventura talvez tenham receio de serem difamadas, julgadas «traidoras», etc. 
Mas isto é exactamente o que os «obreiros da paz» podem esperar de governos e políticos, apostados em levar os povos até à beira do precipício: 
Os políticos fazem carreira mostrando ódio face a um adversário, real ou imaginário. Os grandes interesses do complexo militar- securitário - industrial estão por detrás, fornecendo financiamento, incluindo os media (largamente sob seu controlo) e também toda uma série de «think-tanks», ou clubes de intelectuais muito distintos, que argumentam academicamente a favor da tal guerra, como se fosse um jogo intelectual. Para eles, é isso mesmo; para milhões de humanos... será outra coisa, bem mais sangrenta!  
Eles não nos dizem aquilo que é evidente: «se preparas a guerra, esta torna-se mais provável de acontecer (até mesmo por acidente...)». 
Preparar a paz significa retirar aos políticos corruptos a base sobre a qual eles contam: muito do seu poder se desvanecerá, se as pessoas tiverem uma visão crítica: isto é, estarem atentas ao que eles fazem e não fixarem sua atenção no que eles dizem. 
Significa isso também desmontar as teias de mentiras, as operações de propaganda que estão na base das nossas «democracias», em que de facto, o povo escolhe «chefes» por algum tempo, mas esta escolha é fictícia porque estes são, na verdade, lacaios dos interesses económicos que - discretamente - os financiam e, portanto, são os que detêm o poder real.
Não se pode construir futuro de paz com os parasitas que vivem das guerras...

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

QUAL É O VERDADEIRO CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES?

Neste início de 2019, escrevo reflexões que podem - ou não - estar caducas, obsoletas, dentro de pouco tempo. Mas, de qualquer maneira, se escrevo «para a posteridade», é só para a posteridade de mim próprio, ou seja, para eu próprio saber me situar no futuro em relação ao presente, uma medida do caminho que o mundo percorreu e que eu acompanhei, ou não...

Em primeiro lugar, estamos perante uma viragem tectónica de civilização. De uma civilização mundializada sob um paradigma totalitário tecnológico, estamos a passar para um paradigma onde se podem afirmar uma multiplicidade de actores, de poderes, de produtores de saber e técnica. Neste aspecto sou optimista, pois este tipo de evolução - creio  - será mais benéfico para a humanidade e para a civilização, do que uma monstruosa centralização de poder, por cima de diferenças culturais e de desenvolvimento económico, como o globalismo mais desenfreado nos queria (e quer) impor. 

Em segundo lugar, confirma-se a tendência para a perda de hegemonia do dólar enquanto moeda principal das trocas comerciais e como moeda de reserva dos bancos centrais ao nível mundial. Assim, estou convencido de que os próprios EUA vão estar mais centrados em si próprios, mais interessados em desenvolverem o seu próprio potencial e menos interessados em projectarem o seu poderio em todas as direcções. 
O mundo vai sofrer uma crise económica de grande amplitude, esta vai ser um banco de ensaio para novas soluções ao nível monetário.
Consoante ganhe a visão totalitária tecnológica ou a visão multipolar soberanista, teremos um tipo de relacionamento diferente ao dinheiro e à forma como o encaramos: Como reserva de valor, ou como instrumento de submissão e chantagem; como fruto do trabalho, ou como produto de extorsão (mais-valia)...

As múltiplas facetas do dinheiro vão estar em jogo neste período de transição. Vai continuar a tentativa de digitalização absoluta e total, o que forneceria aos Estados e grandes corporações um meio de controlo totalitário dos cidadãos, até ao pormenor mais ínfimo das suas  vidas. Mas também se vão desenvolver criptomoedas completamente fora do controlo dos Estados, assim como esquemas de troca, de partilha, de construção de relações sociais não-mediadas pela visão capitalista de valor. 


A perda de centralidade do valor "trabalho" para a estruturação das sociedades e das vidas individuais das pessoas vai continuar a desenrolar-se e a causar muito sofrimento e disfunções: por muito que sofram desta disjunção as actuais gerações, a continuidade da sociedade, enquanto tal, deverá obrigar a um salto qualitativo dos valores que enformam a mesma: Vai haver outros meios para manter uma coesão social, para permitir um funcionamento colectivo do organismo social. 
Não posso adivinhar quais serão esses outros meios, nem sequer quanto tempo durará este processo de desagregação da sociedade baseada no valor trabalho. Mas, tenho a certeza que esta tendência se irá reforçando, pois ela se verifica, no mínimo, há três décadas; não é uma novidade.

O binómio capital-trabalho precisa de ambos os pólos para subsistir: se o pólo «trabalho» é inviabilizado, o pólo «capital» está imediatamente condenado, também. Por isso mesmo, embora tenha esperança na transição para uma sociedade pós-capitalista, não posso concebê-la como um tipo de capitalismo de Estado, vulgarmente designado como «socialismo» ou «comunismo», isso seria uma aberração. 
O Estado está para o capital, como o cofre está para o dinheiro ou as jóias que contenha. A função do Estado é preservar a estrutura da sociedade, onde se procura uma concentração de poder cada vez maior. O desígnio do Estado, enquanto tal, e de todos os seus actores políticos relevantes, ou seja, que disponham de alguma forma de poder, é de centralizar - cada vez mais - o referido poder sob todas as suas formas: político, jurídico, militar, policial, administrativo, económico, educacional e cultural... Por isso mesmo, qualquer partido é tendencialmente totalitário, mesmo que se auto-defina como «anti-totalitário», na sua ideologia. Com efeito, todos os partidos aspiram ao poder e, uma vez no poder, não desejam realmente partilhá-lo com os outros; se o fizerem, é porque não têm outra escolha. 

No sistema político dos países ditos «ocidentais», o poder dos aparelhos ideológicos e dos partidos, em particular, está fortemente limitado. Não é que as suas propostas tenham perdido actualidade, ou sejam menos adequadas ao mundo de hoje, do que o foram no momento do seu auge (talvez o auge, na sociedade portuguesa, tenha sido nos anos 70 -80 do século passado). 
A verdadeira razão da decadência do pensamento ideológico e partidário é que todos estão espartilhados por uma série de dependências económicas profundas, de conivências, cuja trama apenas é perceptível para os que observam o lado de dentro, do outro lado do palco, dos bastidores. 
O regime instaurado nas chamadas democracias liberais é um sistema intrinsecamente corrupto, independentemente da integridade pessoal do actor A ou B ou C. 
Isto, porque a capacidade de ganhar ou perder eleições está constantemente dependente de enormes máquinas de propaganda, que custam dinheiro, muito dinheiro mesmo. 
Todos os que querem ascender a presidentes ou primeiros-ministros, sabem que a  possibilidade de o serem depende - em primeiríssimo lugar  -da capacidade de veicular a sua mensagem, de «vender» a sua pessoa, ao eleitorado. 
Para tal, os conselheiros de imagem, que fazem o marketing eleitoral, são pagos a peso de ouro e dispõem de somas colossais para as suas campanhas de imagem. Sem isso, não haverá hipótese de qualquer candidato vencer. 
Por outro lado, os que fornecem os fundos são grandes capitalistas, empresas, entidades ou pessoas que têm algo a ganhar em termos muito pragmáticos, se o eleito for o candidato A e não B. As doações de tais entidades estão implícita ou explicitamente associadas a promessas e favores... 
O simples cidadão pode ter a ilusão de fazer uma escolha, mas esta, na realidade, não existe pois o jogo é determinado pelas forças do poder económico (incluindo potências estrangeiras e empresas multinacionais).

As pessoas só tomarão as vidas nas suas próprias mãos, quando descobrirem como têm sido desapossadas, menorizadas, como lhes tem sido extorquida a seiva vital. 
Todas as formas de autonomia, de cooperação, de entre-ajuda, de associativismo, que a humanidade já experimentou e experimenta, são bases perfeitamente adequadas para a construção duma sociedade política e económica do futuro: a única coisa que falta é lucidez e vontade de autonomia. 
As jovens gerações irão ser constantemente desviadas por ideologias e por consumismos, umas e outros com aparência de serem soluções «fáceis», imediatas, que vão ao encontro das aspirações confusas dos jovens. Acredito que algumas comunidades intencionais possam realizar - em parte - uma aproximação a esse novo paradigma social. 
Não acredito que uma revolução política possa trazer isso. 

As revoluções políticas que vimos ao longo do século XX trouxeram sofrimento, opressão, injustiças, por vezes ainda piores que as que vigoravam anteriormente. Os motivos profundos que levaram ao seu triunfo e manutenção têm a ver com o estádio de desenvolvimento das sociedades respectivas e da necessidade de consolidação dos Estados, como esteios do modo de produção capitalista. 
Pouco importa, se estes sistemas produziram capitalismos baseados na propriedade individual ou colectiva (capitalismo de Estado). O facto, é que em ambos os casos, oprimiram - tanto quanto o necessário - os seus povos. 
Não interessa reproduzir os erros do passado; por isso mesmo é muito importante estudá-lo atentamente, de forma a que se compreenda o que não fazer... 

É mais fácil agora imaginar sociedades funcionando segundo esquemas descentralizados, com as revoluções das comunicações e das energias renováveis. 
Uma e outra, que - aliás - estão muito estreitamente associadas, foram desviadas pelos senhores do capital para obterem um suplemento de centralização e de poder. Mas basta pensar um pouco, para vermos como podem ser instrumentos excelentes nas mãos de pessoas apostadas em fazer surgir núcleos económicos e sociais de autonomia, como «cogumelos» de nova forma de organizar a vida, a produção, o relacionamento de uns com os outros. 
Não é preciso, nem é conveniente, esperar pacientemente que venha uma hipotética «transformação cataclísmica». Podemos, em qualquer momento, pôr as mãos à obra e na nossa família, no nosso entorno social, na nossa comunidade, criar as bases para isso. 

Afinal, este será o verdadeiro «choque de civilizações»: o choque entre uma civilização caduca, esgotada e aquela que está nascendo debaixo dos nossos olhos (mas... é preciso abri-los, para a ver!)


terça-feira, 11 de dezembro de 2018

ENQUANTO A VERDADE É NEGADA, O ESTADO PROFUNDO AVANÇA


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Enquanto a verdade é negada ao público americano e internacional em geral, o «Estado Profundo» da nação que se auto-classifica como «indispensável» continua a manobrar com total impunidade.

Em múltiplas ocasiões verifica-se que Trump foi ultrapassado pelo «Estado profundo», nomeadamente em relação à sua política de apaziguamento com a Rússia, sabotada múltiplas vezes, sendo a última o incidente marítimo no estreito de Kerch, com navios de guerra ucranianos entrando em águas territoriais russas, uma manobra destinada a provocar um aumento de tensão ao nível não apenas local, mas a bloquear qualquer movimento de países europeus e  de  Trump no sentido de aliviar a política de sanções
Estas sanções, como sabemos, têm sido talvez piores para os países europeus e aliados dos EUA, do que para a Rússia propriamente. Esta política tem propiciado que Putin leve a cabo a modernização do arsenal estratégico russo, o aumento da operacionalidade das forças armadas, o reforço da aliança com a China em todos os domínios, incluindo o militar, a aceleração da «desdolarização» da economia russa. 

O incidente com a prisão no Canadá, por pedido expresso dos americanos, sobre a cidadã chinesa, Meng Wanzhou, directora executiva da Huawei, filha do principal accionista da mesma, tem contornos demasiado escabrosos. 
O pretexto de que a Huawei tem relações comerciais com o  Irão, seria risível, se não fosse uma negação patente da lei e direito internacionais. Com efeito, a referida directora da Huawei não cometeu nenhum crime, nem face às leis americana ou canadiana nem face à lei internacional, para ser colocada nesta posição. É, portanto, o equivalente ao nível de Estados de uma tomada de refém por bandidos. Reflecte este acto exactamente aquilo em que se tornaram os EUA, desde que os neocons fazem a lei, ou seja, desde as presidências de Bill Clinton, G. W. Bush, Obama e agora de Trump.

Em termos de lei internacional, os EUA deve ser considerado um «Estado pária», um «rogue State», pois as convenções e regras internacionais, quer as que regem relações ao nível dos Estados, quer de empresas tanto entre elas, como com Estados (direito internacional privado), estão a ser postas em causa flagrantemente pelos EUA, os quais só as invocam quando isso lhes convém para a sua retórica. 
Para cúmulo, também as convenções internacionais que protegem os cidadãos do arbítrio dos Estados, são espezinhadas, agora. 
Com esta política, os Estados-vassalos, particularmente na Europa, terão as maiores dificuldades de se alinharem e mesmo serão forçados a entrar em contradição com a política dos EUA. Já o fizeram em relação à retirada unilateral dos EUA do acordo com o Irão.  

Face a tanta falta de senso político e mesmo de senso comum, há que tentar compreender a razão e lógica subjacentes a isto tudo. Parece-me que o Estado profundo tem forçado Trump a aceitar políticas contrárias às suas crenças e à vontade que exprimiu na campanha eleitoral, que foram uma das razões porque foi eleito, sendo a outra, o facto de uma vasta camada de eleitores estar farta de ser humilhada por uma «elite» bem pensante (liberal de esquerda), que apoiava Clinton. 

Podemos criticar severamente as incoerências das posições e dos actos praticados por Trump, sem dúvida. Sem dúvida, ele tem responsabilidades. 
Mas, parece-me que ele está sujeito a chantagem. Parece-me que muito do que se passa por detrás da cena tem a ver com isso. Parece-me que o «Estado profundo» dispõe de meios eficazes de exercer chantagem. Usou essa chantagem com a pretensa cumplicidade russa na sua campanha e eleição de 2016, quando, na verdade, foram Obama e Hillary que deram aos russos a concessão (perigosa, em termos de defesa dos EUA), o acordo dito do urânio, segundo o qual os russos efectuariam a refinação do combustível nuclear, destinado às centrais nucleares americanas. 
Sabemos que o Estado profundo americano tem no seu passado o assassinato de um presidente (JF Kennedy) e de muitos outros destacados cidadãos (Martin Luther King, Malcolm X, etc, etc), para não falar do golpe de Estado, encoberto de ataque terrorista, do 11 de Setembro de 2001
Este Estado profundo não é «reformável» e nem creio que seja possível aplacá-lo. 
Trump tem sido obrigado a ceder em aspectos vitais da política americana. A própria composição do governo tem sofrido alterações no sentido de colocar homens e mulheres de confiança dos neocons, como John Bolton, enquanto garantes de que as políticas de Trump não tomem caminhos demasiado contrários aos desígnios estratégicos deles. 

Sem dúvida, os EUA são efectivamente um país de «partido único» como diz Chomsky, com duas alas, os Democratas e os Republicanos... Eu acrescentaria que por detrás da cena quem tem realmente a chave do poder nos EUA são os neocons, sendo estes voluntariamente, agentes do complexo militar industrial e securitário, agentes dos lobbies do armamento, da agro-indústria, da indústria farmacêutica e, sobretudo, da grande banca, de «Wall Street», os interesses financeiros, que possuem directa ou indirectamente uma enorme fatia dos EUA.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

A TRAGI-COMÉDIA DO BREXIT

                        

Conforme eu tinha vaticinado há alguns meses, as forças centrífugas predominam nas fileiras pró-governamentais da Grã-Bretanha. Teresa May conseguiu um acordo de saída da UE que tem tudo para enfurecer uns e outros: uns, que votaram a favor do brexit, porque o acordo mantém em vigor muitas das leis e disposições que estiveram na base do descontentamento que levou ao voto no brexit. Outros, os pró-UE, que vêem que a associação com a UE vai continuar, apenas sem possibilidade dos britânicos terem voz e influência no seio dos órgãos de poder da mesma. 

Consequência imediata, 4 ministros do governo May demitiram-se, incluindo o próprio ministro encarregue do brexit. Se eu compreendi, o que se segue será que Theresa May deverá submeter ao parlamento um novo gabinete, que deverá votar - ou não - a nova composição do mesmo. Em alternativa, Theresa May pede à Rainha a dissolução do parlamento e eleições antecipadas.   
Os negócios em geral, especialmente os novos investimentos, serão afectados, pois este cenário deverá conduzir a um período de incerteza. 
Os EUA, que sempre contaram com o Reino Unido como o «cavalo de Tróia» dentro da UE, serão beneficiados no imediato, em termos de taxas de juro das suas «treasuries» e dum aumento do dólar, visto a instabilidade no continente europeu desencadear sempre um «reflexo de protecção» dos capitais em direcção aos EUA. 
A UE, ou melhor, aquilo que resta da UE, será mais frágil, apesar da Comissão Europeia ter averbado uma vitória parcial nestas negociações. Mas esta vitória pode transformar-se rapidamente em «vitória de Pirro», pois também não vejo este resultado como dissuasor de outros países seguirem as pisadas da Grã-Bretanha. 
A incapacidade da UE se definir como um super-estado federal, devido a razões profundas, não devido a caprichos de seus dirigentes, está na raiz de todos os problemas. 
Se não existe uma moeda comum sólida é porque a Alemanha se  negou sempre a colectivizar as dívidas soberanas europeias, porém tem arrecadado - em anos sucessivos - superávits que apenas são possíveis em face dos défices dos seus parceiros de «união». 
A inoperância das instituições europeias faz com que não existam condições, apesar de múltiplas tentativas, de forças armadas comuns dos países da UE, nem mesmo dentro dum «pilar europeu»  da NATO. Esta aliança militar mantém bases americanas um pouco por todo o continente, sendo um processo de «racket» sobre os destinos políticos e a economia europeias, embora a retórica seja de que os americanos estão no continente europeu para «proteger» os seus aliados. 
As oligarquias do poder e dos negócios que dirigem o continente, querem uma UE assim como está; um colosso em termos de população, de economia, de inovação, ciência e cultura, mas um anão militar e diplomático... É isso que lhes permite melhor controlar as massas, encurraladas nos seus países respectivos, ao contrário dos capitais que fluem livremente, não apenas entre países da UE, como atravessando sem restrições as fronteiras virtuais do espaço europeu.
A City de Londres constituiu-se, desde a adesão da Grã-Bretanha à CEE, como um imenso centro de lavagem de dinheiro, de fuga ao fisco dos países continentais e como coordenador doutros paraísos fiscais nas Caraíbas e também nas ilhas do Canal da Mancha.
Não me admirava que o acordo agora alcançado seja o que preserve ao máximo esse papel da City. 
A questão da existência ou não de uma fronteira física separando a Irlanda do Norte da República da Irlanda, por muito importante que seja para as pessoas e para a economia local, pode considerar-se a questão-pretexto que interessa agitar junto das opiniões públicas, para melhor calar aquilo que estava realmente em jogo: a manutenção dos privilégios exorbitantes e  descontrolo completo dos fluxos de capitais que passam pela City de Londres.

Enquanto não houver uma profunda tomada de consciência das pessoas, elas serão manipuladas, sobretudo usando-se a corda sensível do nacionalismo, para serem levadas a aceitar passivamente a continuação de uma oligarquia política, económica e financeira, ao comando dos seus países respectivos. 
A UE tem proporcionado, no fundo, as condições para a classe no poder exercer uma ditadura disfarçada, com o famoso TINA (There Is No Alternative!) 

domingo, 23 de setembro de 2018

OLHANDO O MUNDO DA MINHA JANELA (PARTE I)

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Olhando para o Mundo da minha janela, reparo que o jogo da grande política e estratégia não pára; mas - à superfície - tudo é feito para que as pessoas tenham uma percepção de que «tudo está na mesma». 

Bastam-me dois exemplos para ilustrar esta tendência:

Primeiro, a enorme perda de influência do dólar, o qual já não tem o domínio que teve outrora sobre os mercados financeiros, sobre as trocas comerciais e, sobretudo como moeda de reserva inquestionável, com a qual amigos e inimigos tinham de contar, nos cofres dos seus bancos centrais, sem o que muitas operações vitais deixavam de poder realizar-se. 
Hoje em dia, não apenas se desenvolve o sistema da nota de crédito em Yuan, dando muito maior flexibilidade a trocas efectuadas fora do dólar em África e no Médio Oriente, mas a China e Rússia estão a adquirir uma quantidade recorde de ouro, o que só pode significar que claramente estão a preparar a transição multipolar, como também vão-se livrando do dólar. 
A Rússia praticamente não tem mais «Treasuries» (obrigações do tesouro dos EUA, normalmente usadas como meio de reserva de dólares), lançou-as no mercado em Abril-Maio deste ano e avisou que o dólar já não era um activo «confiável». 
Quanto à China, com a sua «Belt and Road Iniciative» (as Novas Rotas da Seda), tem vindo a fazer empréstimos em dólares (uma maneira inteligente de se livrar deles) a países africanos, os quais podem pagá-los de volta, sob forma de Yuan ou de matérias-primas. 
A China tem usado também «Treasuries» para financiar mega-projectos de infraestruturas -caminhos-de-ferro, portos, aeródromos, estradas, etc. - em todo os espaço euro-asiático, para criação de um espaço único de circulação de mercadorias, desde a península coreana até às margens do Atlântico. 
Poderia continuar a dar exemplos de perda de influência americana e de perda de controle da situação geoestratégica relacionadas com ocaso do dólar, como moeda de reserva universal.  
Basta-me referir que as sanções económicas e as tarifas punitivas decretadas por Trump, apenas indicam fraqueza, não impressionam por aí além, fazem mais mal à população dos EUA e dos seus aliados europeus, do que propriamente aos países alvo das mesmas, nomeadamente o Irão e a China. Têm, ambos os governos destes Estados, meios para circunscrever  e tornear os prejuízos causados e sabem que as ditas sanções são fruto do desespero e susceptíveis de se transformarem em «tiros pela culatra». 
O mundo inteiro vê isso e pensa que os dias do Império do dólar estão contados.

O segundo exemplo, é o da movimentação da Itália para fora da zona euro. Os italianos não querem mais sofrer com o euro. Sabem que o seu caminho é o da saída. 
Mas, querem fazer as coisas de maneira mais inteligente que os gregos, que ficaram entalados com uma dívida impagável e uma espoliação de muitos activos e propriedades (incluindo portos e aeroportos) dados em contrapartida de «resgates» mais que dúbios. 
A Itália tem possibilidade de decretar a saída do Euro mas, para isso, terá de proteger-se de efeitos secundários que poderão ser demasiado penosos, tanto política como economicamente. Só será possível fazerem a transição se tudo for preparado em segredo e no último instante decretarem o controlo de capitais e o fecho  dos bancos (com a possibilidade da população retirar algumas centenas de euros por semana  das suas contas-correntes nos ATM). 
Isto, a acontecer, automaticamente criará uma crise de confiança no espaço europeu,  pelo que todos os países da «eurolândia» serão arrastados para soluções similares se não quiserem logo ver seus próprios bancos colapsar, por insolvência manifesta. 

Estes dois exemplos não me tiram o sono, felizmente, porque eu não detenho meios para influenciar os acontecimentos: só teria se fosse um grande bilionário ou trilionário, dono de bancos  e de ramos inteiros de indústrias.

Mas tenho o bom-senso de me precaver destas eventualidades, que parecem como uma enorme vaga, um tsunami, que se vai aproximando cada vez mais da costa, enquanto as pessoas despreocupadas, não ligam, continuam na praia a apanhar sol e a brincar... 

Não é somente por compaixão e solidariedade humana mais básica, que não tenho vontade que essas pessoas sejam vítimas de uma tal desgraça. Quanto maior número de pessoas souberem precaver-se, melhor estarão - colectivamente - para reconstruir as coisas. 
Não sei como nem quando irá rebentar, mas uma catástrofe económico-política de grandes dimensões está fermentando, somente a media hipócrita, ao serviço dos seus donos, mantém todos distraídos. 

Tenho poucas esperanças numa revolução mundial, que varra de vez este capitalismo depredador e monstruoso: Seria bom que, ao fim e ao cabo, esta crise vindoura assinalasse a morte e enterro do sistema capitalista mundial. Mas isso, embora não seja inverosímil, não me parece provável. 

Em qualquer circunstância, para retomar a analogia da vaga gigante ou tsunami, não perdemos nada por subir para colinas, a umas centenas de metros acima do nível do mar. 
Mesmo que a minha análise seja demasiado sombria e afinal não aconteça nada de muito grave, o que se perdeu, fazendo essa pequena retirada? 
Se, pelo contrário, as minhas previsões se realizarem, aqueles que - por ignorância ou desleixo -  ficam na praia a brincar... com certeza serão varridos e arrastados pelo tsunami, sem salvação possível. 

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

RÚSSIA E CHINA: EXERCÍCIOS MILITARES CONJUNTOS E GRANDES PROJECTOS EURO-ASIÁTICOS





O VÍDEO ACIMA,  SOBRE OS EXERCÍCIOS MILITARES de VOSTOK enfatiza a dimensão dos meios envolvidos e a presença dum contingente e de equipamento chineses.

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O artigo sobre o FÓRUM DO LESTE DA ÁSIA EM VLADIVOSTOK descreve a integração em curso das economias e dos caminhos comerciais terrestres, que em breve permitirão o trânsito de mercadorias da península coreana, através da Sibéria, até aos mercados da Europa.
                 
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Tanto num caso como noutro, existe um efeito de «blackout» na media ocidental. Não são noticiados ou são, mas de forma tão secundária, que é como se não tivessem nenhuma importância, os factos que podem fazer duvidar da adequação das medidas punitivas dos EUA em relação a potências concorrentes. Entretanto o reinado do dólar com tudo o que ele implica, está a chegar ao fim, como se atreve a dizer cada vez maior número de  personalidades do mundo da finança.

Os «neocon», os «falcões», os lacaios do império, não querem que o público saiba isto; estão desesperados porque todos os planos de domínio mundial estão a ir por água abaixo. Num mundo onde o controlo da média se tornou tão importante, eles tentam desesperadamente controlar a percepção das massas, tentam controlar a narrativa, mas já não conseguem. 
Tornou-se inviável uma censura generalizada, apenas lhes resta a lavagem ao cérebro generalizada, mas mesmo isso é muito difícil de alcançar: Neste contexto, a possibilidade de uma guerra generalizada, apenas pode ser mitigada pela exibição de força militar, do lado oposto. 

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

A VERDADEIRA CAUSA DA GUERRA COMERCIAL EUA-TURQUIA

Turkey favors switching from dollars to national currencies in trade with Russia & China
Empresários turcos seguram dólares para trocá-los por liras


A verdadeira razão pela qual o governo dos EUA impôs tarifas sobre produtos turcos, causando uma crise de confiança na lira, não é por causa do pastor protestante que é julgado por -segundo Ancara - ter conspirado contra Erdogan. A razão verdadeira é simplesmente o facto da Turquia ter decidido aderir ao bloco Rússia- China- Irão e estabelecer trocas fora do dólar.
As trocas em dólares passam por um mecanismo de «clearance» (despacho) que passa pelos bancos americanos e entidades de controlo dos mesmos, que pode ser bloqueado, criando uma arma de chantagem do governo dos EUA sobre qualquer outro governo ou entidade.

Agora a Turquia está a retaliar. Nada será como dantes, tanto nas relações bilaterais com os EUA como na esfera de organizações como a NATO ou a OMC.
Provavelmente, a Turquia já escolheu o seu campo: os BRICS.

domingo, 5 de agosto de 2018

JOHANNESBURG: CIMEIRA BRICS PLUS

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Não é o facto da média corporativa ocidental fazer um quase black-out sobre a cimeira dos BRICS em Johannesburg, que acabou agora, que nos deve impedir de tomar conhecimento das decisões aí tomadas, das declarações feitas, do que será a grande cartada de uma integração dos países do «Sul global» para responder à hegemonia decadente e ameaçadora de Washington. Por exemplo: quem, no «Ocidente», sabe que a Turquia, a Jamaica e a Argentina foram convidadas de honra na referida cimeira?

Previamente à cimeira, o mundo tomou conhecimento da decisão do Banco Central da Rússia de vender, em Abril passado, basicamente todas as suas reservas em «treasuries» dos EUA, tendo a Rússia um discurso muito claro justificando o referido passo.      
  
               
A desdolarização da economia mundial, significando com isso que a divisa dos EUA deixa de ser «a moeda de reserva» internacional, tem consequências muito amplas ao nível da perda de controlo por uma potência do grosso do comércio e operações financeiras mundiais. 
Não menos significativa é a consciência clara de que os EUA deixaram de ser um parceiro fiável, como se pode constatar com a desastrosa retirada dos EUA do acordo multi-países que teria permitido levantar as sanções do «Ocidente» ao Irão. Esta retirada foi claramente um triunfo do lóbi sionista nos EUA, o lóbi com mais forte  influência na política internacional dos EUA.  
O Irão tem muito a ver com o acrescento «Plus» na designação dos BRICS. Sendo um país estratégico para a nova rota da seda, tem vindo a aproximar-se do eixo Pequim-Moscovo, sendo certo que irá - em breve - aderir formalmente à OSC Organização de Cooperação de Xangai. Igualmente, o Irão tem sido decisivo na resolução da tragédia da Síria, participando com a Rússia na Conferência de Astana, destinada a dar um futuro político a esse país, após uma guerra civil de sete anos.

As pessoas têm tendência a só atenderem às questões que são ventiladas na grande média: mas esta está, desgraçadamente, ao serviço das grandes corporações e do poder imperial. De maneira que o público dos países ditos «desenvolvidos» e «democráticos», perdeu acesso verdadeiro à informação, não tem portanto instrumentos reais para avaliar o mundo de hoje com realismo e formar um conceito próprio sobre a maneira como os dirigentes têm conduzido as políticas na arena internacional. 
É essa, precisamente, a razão de ser da fraca cobertura e do silêncio dos comentaristas de serviço, no caso da cimeira dos BRICS em Johannesburg e das decisões estratégicas que seus protagonistas têm adoptado, neste e noutros fórums que a precederam. 

sábado, 21 de julho de 2018

DMITRI ORLOV: «A 3ª GUERRA MUNDIAL, FINALMENTE ACABOU!»

Dmitri Orlov é um dos meus autores preferidos, pela acuidade das suas análises e pelo seu sentido do humor. Ele nasceu na Rússia soviética  e emigrou para os EUA com os pais, em criança. É um cidadão dos EUA, porém muito crítico do «establishment» do seu país. 
As suas raízes russas permitiram-lhe fazer uma avaliação objectiva do desmoronar do regime soviético, seguida por uma década de saque pelas multinacionais e pelos novos oligarcas e, por fim, o «golpe de rins» protagonizado pela ascensão de Vladimir Putin à presidência e ao retomar do controlo sobre a economia e as riquezas do país. 
A profundidade da análise sociológica e política de Orlov foi aplicada também aos EUA e ao «Ocidente», tendo ele chegado à conclusão de que - perante a catástrofe - os ocidentais estarão muito pior preparados, material e psicologicamente, que os russos da década de 90.

                


Nesta peça humorística, Dmitri Orlov explica o absurdo de uma máquina de guerra, a NATO, que não tem objecto verdadeiro contra o qual se confrontar. Se não existe em face um bloco desejoso e capaz de confrontá-la, a sua «razão de ser» não é mais que se auto-perpetuar e acabará por se auto-destruir, por devorar os recursos escassos das suas economias. 
O argumento parece puxado ao absurdo, mas não é, na verdade. Sabemos que um motivo poderoso da derrocada da URSS foi, na década anterior à sua dissolução, além do Afeganistão, o demasiado grande esforço soviético para tentar acompanhar os progressos tecnológicos da «Guerra das Estrelas» lançada por Reagan. A URSS, em consequência, começou a ter múltiplos problemas, devido ao investimento demasiado escasso noutros sectores da economia. 

Hoje em dia, o contraste com o império soviético em decadência não poderia ser maior, estando a Rússia capaz de enfrentar as sanções, uma forma de guerra económica, com tranquilidade. Mais, estas vêm proporcionando-lhe o impulso benéfico para potenciar sectores até então estagnados, nomeadamente a agricultura e para aumentar a sua independência dos circuitos financeiros ocidentais, diversificando para fora do dólar como moeda de reserva. Ao mesmo tempo, estabeleceu uma superioridade tecnológica no armamento face à NATO, demonstrada na sua intervenção na Síria. 
Muitos países do Médio Oriente tornaram-se clientes do armamento sofisticado russo, por exemplo os mísseis SS-300, encomendados pela Arábia Saudita e pela Turquia...

Acredito que as contradições internas entre aliados da NATO, como sejam os interesses industriais alemães, franceses e outros irão acabar esta absurda «Guerra Fria bis» com a Rússia. Nos EUA, a «sede do Império», a política de Trump tem sido de retirada para dentro de fronteiras, tanto no aspecto militar, retirada dos cenários onde estivaram envolvidos nas duas décadas do presente século, como no aspecto económico, com a denúncia ou afundamento dos tratados globalistas (TPP, TTIP, NAFTA), e uma ameaça de saída da OMC...
É bem possível que a conjugação destas dinâmicas  leve ao fim da NATO.