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quarta-feira, 21 de agosto de 2019

O QUE ESTÁ EM JOGO NA CRISE DE HONG-KONG?

                                 
                              Hong Kong’s days as global financial hub may be numbered – Jim Rogers

Ela pode ter sido fortemente impulsionada pela comunidade de negócios, aliada com os serviços de «inteligência» dos EUA e britânicos. Mas, o facto permanece que os problemas de Hong-Kong são os mesmos que os da China continental, mas sob outra perspectiva. 


Vou tentar explicitar o meu ponto de vista da forma mais simples possível.

A estrutura do poder na China é a dum capitalismo de Estado (designada «socialismo com características chinesas»). 
Neste capitalismo de Estado, contam sobretudo as ligações orgânicas ao poder político e à hierarquia militar. Os que estão próximos do poder, beneficiam de uma situação de enorme privilégio que lhes permitiu amassar - durante menos de vinte anos - fortunas. A China é um paraíso para bilionários... 
A China reveste-se portanto das roupagens do «socialismo», para levar a cabo um desenvolvimento que efectivamente arranca milhões da pobreza, mas também projecta a desigualdade e a estratificação de classes para níveis do século XIX. 
Os marxistas auto-iludem-se ao ver a China como a grande esperança de um socialismo brotar - como que por encanto - do mais vigoroso desenvolvimento capitalista deste século.  

Quando Hong-Kong entra em revolta dá-se uma coligação frágil de interesses entre defensores de uma visão radical da democracia (essencialmente estudantes) e  uma burguesia, que vive numa bolha artificial de negócios, centro internacional da Ásia como há poucos, com toda a espécie de negócios, o capitalismo sem máscara, glorificado pelos mais fundamentalistas religiosos dos mercados. 
Do outro lado, a burocracia do partido comunista está interessada em Hong-Kong enquanto porta de entrada de capitais frescos para alimentar a economia de exportação - embora esta esteja em desaceleração - na China continental. Este facto é suficiente para esperar que a situação se acalme, em vez de usar a violência da repressão, conquanto não a descarte totalmente, como se pode verificar com o amassar de forças militares na cidade próxima de Hong-Kong, em  Shenzhen.

Com certeza que Hong-Kong, na sua natureza capitalista não disfarçada, contradiz a doutrina socialista com características chinesas oficial. Porém, o facto de ter regressado à soberania chinesa foi um êxito do regime pós-Mao. 
Com efeito, o regime chinês mascara-se de socialista, mas a sua essência é a de  um capitalismo de Estado, de características orientais, evocando o «Modo de Produção Asiático» que Marx inventou para arrumar aquilo que não se conformava nem com o modelo feudal, nem com o capitalista. 
É igualmente importante, sobretudo pela coesão das massas com a elite dirigente, o nacionalismo nesse dito «socialismo com características chinesas». 
A aceitação passiva pelo povo do PCCh, tem a ver com a cultura nacionalista arreigada, nomeadamente, com a atribuição aos imperialistas de todos os males que sofreu o povo chinês no «século de humilhação»(entre 1840 e 1949). 
Mas também tem a ver, por outro lado, com a rápida ascensão do nível de vida de milhões de pessoas, devido ao «milagre» económico das últimas décadas. As pessoas renunciam à esfera política, porque ocupando-se apenas dos assuntos do quotidiano, das suas vidas pessoais, conseguem alcançar uma relativa felicidade, avaliada em termos da construção de uma carreira, de uma família etc. 
Apenas os estudantes, com o seu modo de vida incerto, enquanto grupo social em transição, sem segurança, sem fortes amarras ao mundo da produção, têm atracção pela militância política; em geral ela traduz-se pela defesa de mais democracia, mais liberdade, maior justiça social. As suas posturas tornam-se facilmente extremas e as formas, radicais. 
Isto verificou-se também, ironicamente, nos movimentos radicais na origem do Partido Comunista da China e de outros partidos comunistas da Ásia, na década de 1920.

Em termos gerais, a situação encontra-se num impasse. Mas ela terá uma resolução, seja ela qual for, mais ou menos repressiva. Tal, porém, dificilmente será no sentido de satisfazer os anseios da população autóctone pela conservação da sua democracia e auto-governo, sentimentos generalizados dos que se manifestam pacificamente em Hong-Kong. 

A razão deste meu pessimismo, é que as forças que têm conduzido a contestação não estão interessadas na conciliação com o poder comunista, não querem a negociação: querem prolongar o braço-de-ferro, porque a sua táctica, inspirada e encorajada pelas agências da ex-potência colonial (Grã-Bretanha) e dos EUA, é a de expor o poder de Pequim, como sendo de natureza totalitária. 

As potências ocidentais esperam assim desautorizar a ascensão da China à liderança do Terceiro Mundo, como no tempo do Movimento dos Não-Alinhados dos anos 60 do século passado. Mas agora, esta liderança já não seria sob a bandeira internacionalista (incluindo nela o nacionalismo revolucionário dos movimentos de libertação), mas teria as roupagens dum mundo multipolar, através das «Novas Rotas da Seda».

No ponto de vista geo-estratégico, esta agitação em Hong-Kong é um episódio da guerra híbrida levada a cabo pelos poderes ocidentais e os EUA contra a China. Não existe solidariedade verdadeira com a população de Hong-Kong da parte destes governos, nem da media ocidental; não estão realmente interessados na liberdade dos cidadãos de Hong-Kong. 
Eles tentarão tudo para desencadear uma situação de repressão, com Pequim no papel de «mau da fita».

O jogo das potências ocidentais é triplo: trata-se de 
(1) afundar a sedução das Novas Rotas da Seda junto de governos dos países do «Terceiro Mundo», 
(2) desestabilizar por dentro o regime chinês e
(3) «justificar» perante a sua opinião pública ocidental a agressividade, o cerco militar que têm levado a cabo, iniciado com o «Pivot to China» de Obama e continuado por Trump. 

Se houver um banho de sangue em Hong-Kong, tanto melhor! É assim que eles raciocinam...

PS: uma outra perspectiva sobre HK, no vídeo abaixo. 
https://www.youtube.com/watch?v=a38bOtUEXcc
   

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

INTEGRITY INITIATIVE - OPERAÇÃO DOS SERVIÇOS BRITÂNICOS DO MI6

UMA INICIATIVA MUITO POUCO (OU NADA...) ÍNTEGRA

Dei com esta «Integrity Initiative», por acaso, há alguns dias. Mas o escândalo das revelações do site «Anonymous» data de há cerca de dois meses. 
A media ao serviço do poder teve o papel habitual de ocultar do público tudo aquilo que poderia ser prejudicial para a imagem dos regimes globalistas, em particular, neste caso, do governo conservador do Reino Unido.
Existem aqui muitos motivos para a media tentar ocultar o escândalo. 
É verdadeiramente um passo para uma «sociedade orwelliana», em que o governo, através de programas confeccionados pelas suas agências de serviços secretos, leva a cabo campanhas de intoxicação da opinião pública. Esta vasta operação utiliza dinheiros públicos, claro. Mas vão ao ponto de desrespeitar o sistema político britânico, inclusive, pondo-se ao serviço dos interesses dos conservadores britânicos, que querem agarrar-se ao poder, à custa da destruição da imagem de Jeremy Corbyn, o líder dos trabalhistas, que tem tido uma política decididamente a favor da Paz: ele é pintado como «russófilo» e «anti-semita».
Mas surgem indícios de que o procedimento destes «defensores do Ocidente» vai ainda mais longe do que a difamação dos adversários políticos e pintar a Rússia e outras potências que não lhes agradam, como a fonte de todos os males de que sofre o planeta. 
A «Integrity Iniciative» aparece imiscuída no processo de deslegitimação do actual presidente dos EUA; uma espécie de golpe de estado em desenvolvimento contra o presidente Trump. A campanha do «Russiagate», com todas as acusações falsas ou não provadas em torno do presidente ou seus próximos, a tentativa de conseguir um «impeachment», ou seja, um processo de destituição de Trump, têm não apenas por detrás Obama, Hillary Clinton e várias personalidades do partido democrata, mas também o contributo - talvez decisivo - da referida organização britânica. Quem o diz é a organização de Lyndon LaRouche, que persegue os seus próprios fins de influenciar os governos, mas que está bem informada no que diz respeito aos bastidores do poder nos EUA e noutros sítios.
Claro que RT e outros meios e comunicação dependentes do Estado Russo são vilipendiados, pela «Integrity» Iniciative. Não dizem porém que as agências noticiosas, os grandes jornais, cadeias de tv, dos países ocidentais, não apenas estão nas mãos de grandes impérios corporativos, como estão completamente penetrados pela CIA e por eles próprios do MI6. 
Com efeito, os media corporativos do Ocidente estão permanentemente a ser fornecidos por propaganda disfarçada em «factos», por estas agências. 
Os grandes fornecedores de «fake news» são eles. Como de costume, acusam os seus adversários de fazer exactamente aquilo que eles próprios fazem. 
Não terão descanso, enquanto não calarem os que potencialmente poderão dar o alerta para os seus crimes e conspirações, nomeadamente os fornecedores de informações independentes, como as rádios locais e os sites do Youtube e da Internet. 
Se não fossem estes, com todos os seus defeitos, já estaríamos agora em pleno totalitarismo globalista.

               https://www.rt.com/op-ed/448689-integrity-initiative-propaganda-media/


                                             DENÚNCIA INICIAL DOS ANONYMOUS




                                          ENTREVISTA COM DIRIGENTE TRABALHISTA


ARTIGO EM INGLÊS: «BRITISH THINK-TANKS CALL FOR US LEADERSHIP»

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

O INCRÍVEL MINISTRO DA DEFESA BRITÂNICO

Se, por um lado, nos pode assustar tanta falta de sentido de responsabilidade e de bom-senso, por outro, não podemos reprimir uma enorme gargalhada, em face da estupidez e auto-suficiência deste membro do governo de Sua Majestade!

                            

Leiam o artigo de Finian Cunningham em SputnikNews.com:

O REAL INIMIGO DA GRÃ-BRETANHA
  https://sputniknews.com/columnists/201812191070831341-britain-russia-enemy/


sábado, 5 de janeiro de 2019

JOGOS DE GUERRA SÃO JOGOS PERIGOSOS...

«As condições de concorrência e rivalidades entre potências imperiais e o atiçar de nacionalismos diversos»... seria uma frase conveniente para começar a descrever os antecedentes da Primeira Guerra Mundial, assim como para estes tempos conturbados.
Com efeito, uma super-potência, os EUA, triunfante de uma guerra-fria (por vezes, quente) com a super-potência rival, encontra-se confrontada com a emergência de potências que não aceitam mais um estatuto subordinado (a China e a Rússia). Estas têm sabido obter uma série de cooperações «win-win». Muitos dos países envolvidos são os que têm desejo de se tornarem independentes dos laços neo-coloniais, sob os quais são explorados, desde as suas independências das metrópoles...
Este tecido de acordos vai marginalizar o papel dos EUA e dos seus aliados, numa parte substancial do comércio mundial, de igual modo fazendo perder ao dólar o papel de reserva obrigatória (nomeadamente, sob forma de obrigações do Tesouro Americano) em bancos centrais e comerciais em todo o mundo e como divisa predominante no comércio mundial. 
A hegemonia militar também está posta em causa, com a demonstrada (na Síria, principalmente) capacidade superior do armamento russo e a tecnologia chinesa que permite colocar em questão a superioridade da Navy dos EUA (foi notada a declaração de uma alta patente chinesa, dizendo que seria perfeitamente possível afundar porta-aviões americanos com mísseis chineses, frase que não deixou de soar como ameaça).

A questão que se coloca é da «armadilha de Tucidides». Este filósofo e historiador grego do século Vº A.C. dizia que uma potência dominante, mas em decadência, podia ser empurrada para a guerra por potências menores, mas em ascensão, por a primeira ter ainda esperança de assim vencer, antes que estas rivais se tornassem demasiado fortes. Alguns estrategas e pensadores geopolíticos pensam que esta «armadilha de Tucidides» se poderá colocar na actualidade.
Outras questões são agitadas, como a famosa visão geoestratégica de Mackinder, sobre a centralidade do espaço do Continente Euro-asiático, cujo controlo seria vital para a potência hegemónica (na altura, era a Grã-Bretanha). 
Na verdade, a guerra já está desencadeada em múltiplas frentes: Há guerra económica , com embargos, sanções, etc.; financeira, com bloqueios de transferências de capitais e com medidas para tornear o bloqueio de pagamentos; comercial, com tarifas de importação; de propaganda, com media agressiva e demagogos excitados ... 
Não será muito difícil imaginar que um «tiro num equivalente do Arquiduque, num qualquer lugar a fazer de Sarajevo» possa desencadear uma cadeia de actos que conduzam à chamada guerra «cinética» (ou seja, com tiros) entre grandes potências.  

Neste contexto, importa afirmar alguns factos: 
- A guerra, hoje em dia, não é uma questão de conquista, de alargar o «espaço vital» duma nação (ou império). 
- Não é também uma questão de aniquilação dum adversário, pois o que restar de suas defesas, depois de um primeiro ataque nuclear é suficiente para causar um dano devastador no inimigo. É um facto que os geo-estrategas de salão ou de gabinete deveriam compreender, mas não «conseguem»; infelizmente, são eles que têm influência decisiva nos governantes e presidentes. 
Estou convencido que os militares de alta patente, mas próximos do «terreno», têm uma maior noção das realidades. Os que lhes são subordinados, os oficiais de patentes mais baixas, os sargentos e os soldados, deveriam ser críticos e mostrar-lhes que não estão dispostos a fazerem de alvo, para satisfazer os sonhos megalómanos e as ambições de «políticos-militares». 
Todas as noções do que seja uma guerra, que vigoram no sub-consciente de grande número de pessoas, incluindo dos «geo-estrategas de gabinete», estão  moldadas pelos vídeo-jogos e pela evocação de cenários passados, reais, mas que não são transponíveis. 
É sabido que os generais treinam e preparam as suas divisões para combater situações análogas às da última guerra passada. Mas a guerra seguinte não se parece com a anterior. Eles ficam desarmados, em termos conceptuais pelo menos, quando as realidades do novo conflito lhes caem em cima.

A questão - de facto - mais grave nisto tudo, é que o desenvolvimento pacífico dos povos tornaria possível a abundância ou pelo menos, a ausência de escassez e de miséria, mas os governos têm feito do armamento e das forças armadas a sua prioridade. Ambos são gastos inúteis, no melhor dos casos (o de não haver utilização dos mesmos) ou, no pior, causadores de destruições massivas de vidas e bens materiais, destruições  brutais e irreversíveis em termos ambientais, também. 
Perante isto, as pessoas e as forças que desejam a paz e que lutam pela paz são demasiado pouco contundentes, são demasiado tímidas, porventura talvez tenham receio de serem difamadas, julgadas «traidoras», etc. 
Mas isto é exactamente o que os «obreiros da paz» podem esperar de governos e políticos, apostados em levar os povos até à beira do precipício: 
Os políticos fazem carreira mostrando ódio face a um adversário, real ou imaginário. Os grandes interesses do complexo militar- securitário - industrial estão por detrás, fornecendo financiamento, incluindo os media (largamente sob seu controlo) e também toda uma série de «think-tanks», ou clubes de intelectuais muito distintos, que argumentam academicamente a favor da tal guerra, como se fosse um jogo intelectual. Para eles, é isso mesmo; para milhões de humanos... será outra coisa, bem mais sangrenta!  
Eles não nos dizem aquilo que é evidente: «se preparas a guerra, esta torna-se mais provável de acontecer (até mesmo por acidente...)». 
Preparar a paz significa retirar aos políticos corruptos a base sobre a qual eles contam: muito do seu poder se desvanecerá, se as pessoas tiverem uma visão crítica: isto é, estarem atentas ao que eles fazem e não fixarem sua atenção no que eles dizem. 
Significa isso também desmontar as teias de mentiras, as operações de propaganda que estão na base das nossas «democracias», em que de facto, o povo escolhe «chefes» por algum tempo, mas esta escolha é fictícia porque estes são, na verdade, lacaios dos interesses económicos que - discretamente - os financiam e, portanto, são os que detêm o poder real.
Não se pode construir futuro de paz com os parasitas que vivem das guerras...

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

A TRAGI-COMÉDIA DO BREXIT

                        

Conforme eu tinha vaticinado há alguns meses, as forças centrífugas predominam nas fileiras pró-governamentais da Grã-Bretanha. Teresa May conseguiu um acordo de saída da UE que tem tudo para enfurecer uns e outros: uns, que votaram a favor do brexit, porque o acordo mantém em vigor muitas das leis e disposições que estiveram na base do descontentamento que levou ao voto no brexit. Outros, os pró-UE, que vêem que a associação com a UE vai continuar, apenas sem possibilidade dos britânicos terem voz e influência no seio dos órgãos de poder da mesma. 

Consequência imediata, 4 ministros do governo May demitiram-se, incluindo o próprio ministro encarregue do brexit. Se eu compreendi, o que se segue será que Theresa May deverá submeter ao parlamento um novo gabinete, que deverá votar - ou não - a nova composição do mesmo. Em alternativa, Theresa May pede à Rainha a dissolução do parlamento e eleições antecipadas.   
Os negócios em geral, especialmente os novos investimentos, serão afectados, pois este cenário deverá conduzir a um período de incerteza. 
Os EUA, que sempre contaram com o Reino Unido como o «cavalo de Tróia» dentro da UE, serão beneficiados no imediato, em termos de taxas de juro das suas «treasuries» e dum aumento do dólar, visto a instabilidade no continente europeu desencadear sempre um «reflexo de protecção» dos capitais em direcção aos EUA. 
A UE, ou melhor, aquilo que resta da UE, será mais frágil, apesar da Comissão Europeia ter averbado uma vitória parcial nestas negociações. Mas esta vitória pode transformar-se rapidamente em «vitória de Pirro», pois também não vejo este resultado como dissuasor de outros países seguirem as pisadas da Grã-Bretanha. 
A incapacidade da UE se definir como um super-estado federal, devido a razões profundas, não devido a caprichos de seus dirigentes, está na raiz de todos os problemas. 
Se não existe uma moeda comum sólida é porque a Alemanha se  negou sempre a colectivizar as dívidas soberanas europeias, porém tem arrecadado - em anos sucessivos - superávits que apenas são possíveis em face dos défices dos seus parceiros de «união». 
A inoperância das instituições europeias faz com que não existam condições, apesar de múltiplas tentativas, de forças armadas comuns dos países da UE, nem mesmo dentro dum «pilar europeu»  da NATO. Esta aliança militar mantém bases americanas um pouco por todo o continente, sendo um processo de «racket» sobre os destinos políticos e a economia europeias, embora a retórica seja de que os americanos estão no continente europeu para «proteger» os seus aliados. 
As oligarquias do poder e dos negócios que dirigem o continente, querem uma UE assim como está; um colosso em termos de população, de economia, de inovação, ciência e cultura, mas um anão militar e diplomático... É isso que lhes permite melhor controlar as massas, encurraladas nos seus países respectivos, ao contrário dos capitais que fluem livremente, não apenas entre países da UE, como atravessando sem restrições as fronteiras virtuais do espaço europeu.
A City de Londres constituiu-se, desde a adesão da Grã-Bretanha à CEE, como um imenso centro de lavagem de dinheiro, de fuga ao fisco dos países continentais e como coordenador doutros paraísos fiscais nas Caraíbas e também nas ilhas do Canal da Mancha.
Não me admirava que o acordo agora alcançado seja o que preserve ao máximo esse papel da City. 
A questão da existência ou não de uma fronteira física separando a Irlanda do Norte da República da Irlanda, por muito importante que seja para as pessoas e para a economia local, pode considerar-se a questão-pretexto que interessa agitar junto das opiniões públicas, para melhor calar aquilo que estava realmente em jogo: a manutenção dos privilégios exorbitantes e  descontrolo completo dos fluxos de capitais que passam pela City de Londres.

Enquanto não houver uma profunda tomada de consciência das pessoas, elas serão manipuladas, sobretudo usando-se a corda sensível do nacionalismo, para serem levadas a aceitar passivamente a continuação de uma oligarquia política, económica e financeira, ao comando dos seus países respectivos. 
A UE tem proporcionado, no fundo, as condições para a classe no poder exercer uma ditadura disfarçada, com o famoso TINA (There Is No Alternative!) 

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

RELAÇÃO AMBÍGUA DE PORTUGAL COM O SEU PRÓPRIO PASSADO

                          Portugal


A proclamação da república em 5 de Outubro de 1910 foi resultante de um golpe civil-militar que conseguiu derrotar militarmente as últimas forças fiéis ao monarca. D. Manuel II subiu ao trono em 1908, depois do regicídio que vitimou D. Carlos e seu irmão, o príncipe herdeiro, D. Luís Filipe.

                    Imagem relacionada

A história dos tempos conturbados da 1ª República e os que precederam a revolução republicana de 1910, está ainda largamente ignorada pelo grande público. 
Os republicanos dos finais do século XIX eram um grupo heterogéneo, tanto nas classes sociais, como nas ideologias. Havia alguns com uma concepção «social» da república, nomeadamente os que tinham militância ou afinidades com os movimentos operários, muito influenciados pelos ideais socialistas e anarquistas. 

               

Mas outros, eram membros da grande burguesia, industrial ou latifundiária, cujo fim era a implantação de um regime que favorecesse o desenvolvimento industrial do país. 
A grande massa porém, era constituída por funcionários públicos, por empregados do comércio e serviços, sobretudo na capital e nas grandes cidades, imbuídos de um republicanismo com colorações nacionalistas. 
Não esqueçamos que o Partido Republicano explorou a veia nacionalista aquando do episódio do «ultimato», da humilhação sofrida por Portugal face à aliada Grã-Bretanha («a pérfida Albion»). 
Muitos republicanos da viragem do século XIX para o século XX eram firmes defensores do colonialismo português. Muitos tinham uma visão paternalista da relação do povo colonizador com os povos colonizados. Um destacado exemplo disso foi Norton de Matos, escolhido pela oposição republicana como candidato presidencial em 1948, o qual tinha tido uma larga carreira como administrador colonial em Angola

É um erro projectar os valores dos finais do século XX na mentalidades do início deste mesmo século. A chamada «república democrática», foi tudo menos democrática, pelos padrões comuns hoje em dia. 
- A eleição parlamentar era censitária: Só quem fosse instruído e tivesse um mínimo de rendimento podia votar. Os deputados eram eleitos por círculos desenhados de acordo com as conveniências do poder. As mulheres, em geral, estavam arredadas dos cargos públicos. Muitas eleições tinham uma taxa de participação muito fraca. Eram frequentes as «chapeladas» (fraudes eleitorais).  
- Os operários eram reprimidos violentamente, durante as greves. Afonso Costa era admirado e louvado, em certos meios, por ter «quebrado a espinha» aos movimentos grevistas. As prisões enchiam-se de sindicalistas e outros militantes operários. 
- Havia uma polícia política em embrião, ligada ao aparelho do Partido Republicano. 
- A corrupção era potenciada pela instabilidade política e pela desorganização da economia. 
- O anti-clericalismo radical de certos políticos favoreceu a aliança entre os conservadores republicanos, os monárquicos e o clero. Esta aliança esteve na origem do peculiar fascismo clerical português. 

No golpe de 28 de Maio de 1926, que veio proporcionar a posterior ascensão de Salazar, participou uma facção republicana do exército. Talvez por isso Salazar nunca se tenha atrevido a restaurar o regime monárquico, como o fizera Franco, o outro ditador ibérico. 

Uma obra da república com verdadeiro mérito foi o esforço enorme, apesar das condições económicas, para alargar a alfabetização do povo, para propagar um ensino laico e de acordo com os métodos pedagógicos mais avançados para a época. 
Foi esta obra, a da educação pública, que Salazar se esmerou em anular, fechando as Escolas do Magistério Primário, centros de formação de professores primários, instaurados pelo regime republicano desde muito cedo, e entregando a instrução primária ao clero e «regentes escolares» com formação rudimentar, para educação das classes pobres.

Hoje em dia há uma larga ignorância das pessoas em relação ao seu passado, não tão longínquo. 
Tal como em relação à história do colonialismo, em relação à da Iª República, há imenso a fazer: sobre os antecedentes, o conturbado período de sua vigência, ou o seu derrube. 

O povo português ignora importantes períodos da sua história, particularmente os finais do século XIX e a primeira metade do século XX. Na forma como é ensinada no ensino básico e secundário, é reduzida a uma série de chavões e lugares-comuns, que mais ocultam a verdade do que realmente esclarecem sobre os factos. 

Um povo que ignora o seu passado não pode compreender o presente, pelo que está mais susceptível de ser enganado e arrastado para falsas soluções.   


quarta-feira, 26 de setembro de 2018

QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS DA SAÍDA NÃO NEGOCIADA DO REINO UNIDO DA UE?

                         

A cimeira de Salzburgo, na semana passada, para tentar aplanar problemas na negociação entre o governo britânico e a Comissão europeia, saldaram-se por um fracasso. Pior ainda, Theresa May saiu do encontro com a sensação de que a Comissão europeia não está a tomar a sério a posição do seu governo. 
Por outro lado, observadores com diversas inclinações políticas, apontam incoerências ao governo britânico. 
Embora o governo britânico queira fazer passar a mensagem de que a Comissão europeia não deseja verdadeiramente negociar, isso não é verdade
Esta Comissão propôs que a Grã-Bretanha integrasse o grupo da Área Económica Europeia, grupo que inclui a Noruega e a Islândia. 
A reacção da chefe do governo britânico foi de que isso seria trair o voto do Brexit. 
Seis meses depois, o governo britânico rejeitou outra proposta da Comissão, para um acordo de comércio. De novo, o governo da Grã-Bretanha, recusou pois queria apenas uma livre circulação de mercadorias, não dos serviços e muito menos de pessoas. 

No caso de não haver acordo, a saída acontecerá em Março de 2019, sem que se saiba ao certo como é que os muitos europeus continentais continuarão a trabalhar no Reino Unido. Provavelmente precisarão duma autorização de trabalho. 
-Os bens alimentares, importados em grande parte da União Europeia, sofrerão aumentos bruscos, pois serão aplicadas tarifas da ordem dos 22%, o que originará graves perturbações.
- Outros domínios susceptíveis de perturbação, vão do tráfego aéreo, passando pela comercialização de medicamentos, até às normas do manuseamento e transporte de materiais radioactivos.
- Uma fronteira «rígida» (hard border) poderia ser instalada entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte.  
É difícil prever todas as perturbações no sector financeiro, «a City» e como iriam dar continuidade a toda uma série de serviços. 
A ruptura não ordenada iria fazer com que vários negócios, com importante clientela do continente europeu, se retirassem do Reino Unido antes de sofrer (de um e doutro lado) toda uma série de restrições, de impostos e tarifas... 

«Querendo guardar o bolo e comê-lo simultaneamente», ou por outras palavras, querendo que o Reino Unido usufrua de privilégios e não sofra contrapartidas, o governo britânico tem estado a negociar da pior maneira possível, arrastando o seu país para uma crise.

No curto prazo, quem ganhará com isso será o dólar e Wall Street. A libra esterlina e o euro sofrerão inevitavelmente. Em termos de captação de negócios tanto a City, como Frankfurt e outras praças financeiras do continente, ficarão a perder. 

Se o governo britânico der o dito por não dito, desautoriza-se perante a ala mais dura dos Tories e do eleitorado conservador. Se teimar com as mesmas posturas até ao final das negociações, arrisca uma saída sem acordo e todas as consequências acima apontadas. 

 É provável que, perante tão grande inabilidade ou casmurrice, financeiros e grandes industriais do Reino Unido queiram afastar May da chefia do governo.

Se houver eleições antecipadas em Novembro, isso não quer dizer que prevaleceu a vontade de Theresa May, antes o contrário: de que foi pressionada no interior do seu partido e pelo sector dos negócios (sobretudo o sector financeiro) e não lhe deram outra escolha. Assim, isso será a maneira de provocar a saída do desastroso governo Tory.

domingo, 8 de abril de 2018

UMA MÁ TELENOVELA DE ESPIONAGEM



«The idea to speak of the fearsome nerve-agent 'Novichok' came from a spy drama that had just run on British TV.» 
Moon Of Alabama

        
O bem informado e inteligente autor do blog «Moon Of Alabama» mostra no artigo citado, para além de qualquer dúvida, que o caso Skripal não configura um caso de envenenamento com um agente neuro-tóxico de grande perigosidade, como seria o caso de gás venenoso do tipo «Novichok».
As circunstâncias e a forma atabalhoada como o governo britânico tomou conta do caso, para o transformar em pretexto de sanções contra a Rússia é muito preocupante. Queriam a todo o custo distrair a opinião pública do fracasso das conversações do «Brexit», tendo as eleições britânicas em perspectiva, com derrota prevista para os conservadores? 
Do lado britânico pode ser isso e muito mais. Porém, é preciso ter em conta que o outrora orgulhoso Império Britânico ficou reduzido, no último meio-século, a ser o «poodle» do novo Império, do outro lado do Atlântico. 
Por isso, inclino-me mais para a tese do «Tio Sam» pressionar a «Tia Albion» a fazer qualquer coisa. 
Com efeito, face ao lançamento do petroyuan, e potencial destronar do petrodollar, os EUA responderam com uma guerra comercial. Mas esta precisava de ser completada com uma guerra mediática contra o aliado da China, a Rússia, com ameaças e agravamento das sanções. 

Este caso e seus desenvolvimentos, mostram que estamos perante uma ofensiva poderosa do «Estado Profundo» nos EUA, quase todo dominado pelos Neocons e que o Presidente Trump não tem real capacidade para contrariá-los. Está limitado a dizer que sim a tudo isto no plano internacional, para conseguir obter um mínimo de alianças políticas internas (no Congresso dos EUA, nomeadamente), que lhe permitam sobreviver aos ataques dos Clinton e aliados. O clã Clinton tem conseguido encobrir uma série de crimes, desde assassínios a casos de pedofilia, mas este manto de impunidade e silêncio não irá durar muito tempo, face a evidências cada vez mais chocantes que se vão acumulando.

Brevemente se verá como este enredo de telenovela de espionagem se irá desenvolver. 
Podemos estar certos de uma coisa: existem forças poderosas, no Ocidente, que apostaram há muito tempo na cartada da guerra, não hesitando mesmo perante a ameaça dum holocausto nuclear. 
A identificação clara e a denúncia destes loucos criminosos urge! 
As pessoas nos media e nos diversos aparelhos de Estados, que sabem tanto ou mais que eu próprio, deveriam assumir as suas responsabilidades!  

terça-feira, 13 de junho de 2017

A CIBERGUERRA E A INSTRUMENTALIZAÇÃO DO TERROR


O absurdo disto tudo é que muitas pessoas estão ainda em estado de negação psicológica (denial). Recebem estas informações, mas não conseguem descolar da narrativa governamental. Porém, tudo o que diz este notável video não apenas é real, como também está perfeitamente documentado.