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quinta-feira, 30 de setembro de 2021

A ÚNICA RESERVA GLOBAL DE VALOR QUE REALMENTE CONTA

Quando Janet Yellen vem afirmar que os EUA nunca*, no passado, tinham faltado às suas obrigações financeiras para com os detentores de obrigações do tesouro dos EUA, estava a querer fazer passar uma imagem, que ela própria sabia não ser rigorosa.

                                     Desde a criação da FED (1913): valor do dólar US

Com efeito, aquando do decretar da interdição da posse de ouro pelos particulares por Roosevelt em 1934, o dólar foi efetivamente desvalorizado em cerca de 40%, em relação ao ouro. No entanto, o ouro continuou sendo o padrão das diversas divisas, incluindo do dólar. Os investidores que tinham comprado obrigações do tesouro dos EUA chamadas «liberty bonds» - que, num sistema «padrão-ouro» correspondiam a pouco mais de 20 dólares por onça de ouro - tiveram de contentar-se em receber o principal em «novos» dólares (35 US$ por onça de ouro), não naqueles que tinham investido, inicialmente.

Uma segunda e bem conhecida falta de pagamento (default) foi o despegar definitivamente do dólar do padrão ouro, em 1971 por Nixon, ao decretar que fechava «provisoriamente» a convertibilidade do dólar em ouro. No sistema de Bretton Woods, os bancos centrais, dos países aderentes ao acordo, podiam trocar (até 1971) os dólares - detidos em reserva - por ouro, ao câmbio oficial de 35 dólares US por onça de ouro. Assim, os EUA falharam o seu compromisso de Bretton Woods. O ouro sofreu uma subida espetacular no mercado mundial, de 35 dólares a onça, para mais de 800 dólares. Os países aderentes ao acordo de Bretton Woods foram prejudicados com a falta dos EUA: a partir desse momento, um banco central que quisesse comprar ouro, teria de ir ao mercado abastecer-se pagando um valor múltiplo do que anteriormente lhe era garantido.

A terceira falta e a mais grave, é a que ocorre atualmente e tem ocorrido regularmente. Falo da inflação, do efeito de desvalorização das divisas, depreciando o seu poder de compra, logo o valor efetivo. Se és pago com 100 dólares e essa soma ficar a «dormir debaixo do colchão» (ou numa conta bancária a juro zero, ou quase zero) irás verificar, após alguns anos, que a referida soma de 100 só compra aquilo que antes podias adquirir com 50, ou seja, sofreste uma perda do poder de compra de 50%. Atualmente, calcula-se que a perda do valor do dólar US em termos de poder de compra, desde a famosa falcatrua de Nixon em 1971, é de cerca de 98%, por outras palavras, compras hoje por 1 dólar, a mesma coisa que em 1971 compravas por 2 cêntimos.

As outras divisas não fizeram um percurso muito melhor, foram perdendo poder de compra. Na zona euro, a transição oficial dos pagamentos em moedas nacionais para a nova divisa, originou uma inflação «escondida» e instantânea: Em Portugal, foi cerca de 50-60 %. Os novos preços, em euros, correspondiam a uma vez e meia, em média, os preços em escudos. O mesmo aconteceu com as outras divisas mais fracas, que aderiram ao sistema monetário instaurado em Maastricht.

A razão da persistência de um sistema (as divisas «fiat») tão imperfeito e injusto, é simples: os Estados têm vantagens com este sistema, ao contrário de todos os outros agentes económicos: pessoas, empresas, instituições. Os Estados pagam nominalmente as dívidas, mas em dinheiro desvalorizado; se pediram um empréstimo há vinte anos, agora pagam o principal numa moeda cujo valor é metade, ou menos, do seu poder de compra de há 20 anos atrás. 
Quase ninguém pode ter vantagem num tal sistema. Mesmo pessoas que têm muitas dívidas, e cujo valor nominal dessas dívidas desceu em relação ao seu valor real, só terão vantagem numa tal situação, se conseguirem uma atualização de seus rendimentos (do trabalho, ou doutras proveniências) bem acima da taxa de desvalorização do dinheiro. Por exemplo, se a desvalorização do dinheiro fosse de 2%, teriam de ter um acréscimo líquido bem acima dos 2%, pois os juros das dívidas também crescem com a inflação. Caso contrário, terão de trabalhar mais (ou ter mais rendimentos) para pagar os juros e o capital em dívida.

O problema, com este sistema «fiat», é que tudo é dívida: são dívida, as obrigações do tesouro dos diversos Estados, as obrigações das empresas. A criação monetária pelos bancos centrais é dívida; o dinheiro escriturário criado pelos bancos, quando fazem empréstimos, é dívida. O que recebemos em pagamento de bens que vendemos, ou do nosso trabalho, não é «dinheiro», mas dívida.

                                     Tabela com a dívida total, números oficiais e atuais, do governo dos EUA

A dívida existe mas, a probabilidade dela ser cobrada, releva de outra coisa que não dos meros cálculos financeiros. Releva da real ou estimada possibilidade de honrar essa dívida, ou seja, da confiança.
Quando um país possui o exorbitante privilégio de emitir dívida, sem nunca ter qualquer preocupação em pagá-la realmente, pois vai emitindo mais dívida para cobrir as dívidas anteriores e o mundo inteiro aceita isso, é preciso haver uma grande, enorme confiança na capacidade industrial deste país, na sua solidez no plano institucional e político. 
Mas os EUA, hoje em dia, já não oferecem nenhuma dessas garantias, ao contrário das primeiras décadas após a IIª Guerra Mundial. Nessa época, o dólar era considerado «tão bom como o ouro».
Agora, nem a força bruta (veja-se o Afeganistão) pode impressionar os outros. O que uma parte do mundo vê, é que tem trocado seus bens, as matérias-primas, os produtos, agrícolas ou industriais, resultantes do trabalho dos seus povos, por «bilhetes verdes», que possuem cada vez menor poder de compra. Ou seja, os povos e seus governos, começam a tomar consciência de que estão a ser duplamente esbulhados das suas riquezas.

A confiança já não existe. Isto não é de agora. Pelo menos, desde as brutais guerras no início deste século, já ninguém - aliados inclusive - confia nos EUA. Ninguém acredita na bondade e sinceridade dos EUA, como sistema económico, ou como parceiro geoestratégico. É notório como - repetidas vezes - eles deixam cair aliados que já não lhes interessam. Sem confiança, não há possibilidade de comércio, de intercâmbio e de cooperação. Sem confiança, não existe motivação para um país prescindir de medidas de soberania, como taxas alfandegárias, etc. que protegem da concorrência internacional os bens produzidos pelas indústrias nacionais respetivas.

Ficam apenas a força bruta imperial, a intimidação, a chantagem, a criação do medo nos povos e nos seus dirigentes. Cedo ou tarde, a mudança surgirá. Mesmo no interior dos EUA, já existe um número elevado de pessoas conscientes de que o sistema está viciado contra elas, contra as pessoas não-privilegiadas.

Historicamente, o ouro foi e continua a ser visto como metal monetário. Por isso, os bancos centrais de diversos países têm conservado o seu ouro e, mesmo, nos últimos anos têm aumentado significativamente suas reservas. O ouro é tangível, é muito estável, tem propriedades físicas que o tornam realmente o mais apropriado para servir como reserva de valor. Em todo o mundo, é reconhecido e, em todas as áreas da indústria (não apenas na joalharia), existem aplicações para o ouro. 
Uma grande crise poderá destruir divisas, mesmo as tidas como fortes e também as criptomoedas, num instante. Num instante igualmente, todos os ativos financeiros denominados em dólares, euros, yen, libras, yuan, etc, ficarão a valer zero, ou próximo disso. 
O imobiliário, estando hipervalorizado, sofrerá uma quebra brutal, mas os edifícios permanecerão, somente o seu valor de mercado ficará muito diminuído, especialmente numa crise profunda, arrastando-se por muitos anos. 
Os objetos valiosos, como peças de coleção ou peças de arte, ficarão, não serão destruídos, mas -também aqui- será difícil conseguir, no curto prazo, obter algo equivalente (em valor real) ao que pagou na compra.
Restam os metais monetários, a prata e o ouro, que podem ser guardados e transportados em quantidades pequenas, de forma discreta. Num primeiro tempo, poderão sofrer um abalo, no momento em que a estrutura financeira ruir, mas - em breve - serão ainda mais preciosos e úteis, face à perda total de confiança no papel-moeda e com a provável imposição de cripto-moedas estatais, como única forma de pagamento.
O ouro, considero-o a única reserva de valor nas mãos dos cidadãos, que está segura e que talvez volte a ser um meio de pagamento corrente. Foi assim no passado. Não faz sentido comparar o risco de se possuir ouro**, com o de possuir criptomoedas, que podem ser criminalizadas pelos Estados (veja-se o caso recente da China) ou hackeadas; estão constantemente a surgir notícias de golpes nos «porta moedas» (wallets), ou os centros de câmbio (exchanges).
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(*) Janet Yellen: “The US has never defaulted. Not once.”

“Doing so would likely precipitate a historic financial crisis,” Yellen wrote. “Default could trigger a spike in interest rates, a steep drop in stock prices and other financial turmoil.”

(**) O ouro foi sempre o melhor meio de conservar valor ao longo do tempo. Isto tem sido verdade ao longo de 5000 anos. Por isso, devíamos todos avaliar o preço das coisas em peso de ouro, e não em euros, dólares, ou outra divisa «fiat». Por exemplo, um «Big Mac» em dólares, custava cerca de 60 cêntimos, quando Nixon despegou o dólar do ouro, em 1971. Agora, o mesmo «Big Mac» custa 4 $: Isto corresponde à perda de 85% do valor do dólar. Faz ainda mais sentido avaliar bens tais como propriedade imobiliária, carros, etc. em onças ou gramas de ouro, comparando o preço atual, com o preço ao longo dos anos. Assim, podemos ver qual a evolução real dos preços, porque eliminamos a contínua desvalorização das divisas «fiat».  A inflação, maior ou menor, das divisas «fiat» ao longo do tempo, não nos permite usá-las para uma avaliação acertada, porque um dado valor em «dólares constantes» ou noutra divisa, pressupõe que a inflação cumulada foi rigorosamente medida. Sabemos que isso não é assim. Sem dúvida, que os índices de inflação têm sido estimados (muito) abaixo da realidade.

terça-feira, 7 de setembro de 2021

DESTRUIÇÃO SISTEMÁTICA DAS POUPANÇAS, SALÁRIOS E PENSÕES

Quando as pessoas ouvem falar do «Great Reset» ou «Grande Reiniciação», pensam, geralmente, como algo que acontecerá no futuro. Além disso, a média dá notícias, como se incidisse «apenas» sobre os grandes acordos monetários, um «Bretton Woods II», algo que se passaria longe da economia do dia-a-dia, da nossa vida. Mas, na verdade, isto é um truque dos poderosos, com a conivência da média económica.

Vou tentar explicar claramente por que razão...
(a) o «Great Reset» está em curso e em fase adiantada
(b) isso tem tudo a ver com nossas vidas pessoais (pensões, ordenados, poupanças, contas bancárias)
(c) o completar do plano - com a total digitalização das divisas - equivale à nossa transformação em servos da gleba face aos senhores feudais globalistas.

Mas comecemos pelo princípio: O sistema de Bretton Woods, o sistema monetário instaurado em 1944, assumia-se ancorado ao padrão-ouro, mas esse ouro só podia ser remido de um banco central para outro banco central. O dólar US funcionava como moeda de reserva, tendo uma paridade fixa (35 dólares /onça de ouro troy) e todas as restantes divisas iriam ter indiretamente ligação ao ouro, através da cotação ao dólar.

Em 1971, há meio século, Nixon fez uma mudança, instigado pelos seus conselheiros, vendo a dívida dos EUA aumentar, pelo lançamento, alguns anos antes, de ambiciosos programas sociais pela administração Johnson e pela intensificação da guerra do Vietnam, a qual absorvia, além de muitos americanos jovens (criação do serviço militar obrigatório), quantidades enormes de dólares para alimentar a máquina de guerra. Por outro lado, os parceiros dos EUA estavam cada vez mais suspeitosos da sua solvabilidade e da cobertura em ouro do dólar. Eles tinham adotado a prudente estratégia de pedir que os dólares em excesso nos cofres dos seus bancos centrais fossem remidos em ouro. Isso aconteceu, nomeadamente, com a França e com a Grã-Bretanha. A declaração de Nixon, a 15 de Agosto de 1971, decretando a não convertibilidade «provisória» do dólar em ouro, foi de facto, um incumprimento contratual («default») pelo Estado que tinha sido o principal arquiteto (e beneficiário) do sistema instaurado em Bretton Woods.

O resultado deste estado de coisas arrasta-se até hoje, em que não apenas o dólar, como todas as divisas, em todo o mundo, são mantidas numa «paridade flutuante». As cotações são baseadas na «confiança» nos respetivos governos. É o significado do nome latino «fiat». Em bom português, as divisas têm como fundamento o sopro do vento, o ar.

O sistema passou - em 1971 - a ser baseado, exclusivamente, no crédito. Se um determinado governo e, por extensão, o respetivo banco central, «merecem confiança» dos investidores, estes não terão problemas em emprestar-lhes dinheiro (comprando obrigações, ou bilhetes do tesouro). As obrigações do tesouro desse país deveriam teoricamente dar um juro suficiente para atrair os investidores. O juro remunera o tempo em que o título (a obrigação, ou outro instrumento de crédito), está em dívida, para compensar o investidor que emprestou o dinheiro. Porém, se houver desconfiança quanto à solvabilidade daquele Estado, ou sua vontade em restituir o dinheiro emprestado, os juros subirão na proporção dessa desconfiança.

O sistema monetário baseado no crédito tem como pilar fundamental os bancos centrais, que emitem divisas (notas de banco ou equivalente eletrónico), para cobrir as emissões de dívida dos respetivos Estados. Se não houvesse a participação dos bancos centrais nos leilões da dívida dos Estados, esta teria - com certeza - um juro mais alto. Há cerca de dez anos, os leilões de dívida dos «PIIGS» passaram a ser cobertos regularmente pelo Banco Central Europeu, de tal maneira que aqueles têm conseguido colocar a dívida apesar dos juros ridículos, iguais ou mais baixos que as emissões de dívida dos EUA ou doutros Estados, muito mais sólidos que os países do Sul da UE (que essa perceção de solidez seja certa ou errada, não está em discussão, aqui).

A distorção permanente do valor do dinheiro (1), ou seja dos juros da dívida, tem consequências. Note-se que todo o dinheiro é «fiat»: Neste sistema, o dinheiro, não é mais do que dívida.

Uma grave consequência disto, é a perda de poder aquisitivo das pensões. Com efeito, o sistema de pensões está baseado no princípio de se dar na fase ativa profissional, para se reaver através de uma pensão, uma quantia fixa, recebida quando, por idade ou por deficiência, já não se pode trabalhar.

Ora, as pensões são atacadas de duas maneiras: uma, pela perda do poder de compra do dinheiro. Se os objetivos de inflação de 2% anuais do BCE ou da FED fossem cumpridos (2), as pessoas reformadas perderiam em 10 anos, pelo menos 20% ou mais, em poder de compra da sua pensão, o que não é nada trivial. Estas pensões quase nunca são aumentadas e quando o são, os aumentos são tardios e insuficientes para cobrir a perda de poder de compra.
Outra forma de ataque, deve-se ao facto dos fundos de pensões terem dificuldade em obter a rentabilidade mínima para se (auto)sustentarem no longo prazo, devido à descida radical dos juros. Esta descida incita os fundos de pensões a aumentarem, cada vez mais, a proporção de investimentos especulativos (bolsa, etc.), arriscando no casino financeiro as garantias de pagamento das pensões.
Quanto aos salários: Em teoria, os trabalhadores podem, mediante lutas reivindicativas, conquistar melhorias salariais. Isto, porém, não existe hoje, em múltiplas situações, porque as pessoas são sujeitas a emprego precário, a repressão das atividades sindicais é uma realidade e devido a outras circunstâncias, os salários reais (em termos do seu poder de compra) têm diminuído.

Mas, todo o dinheiro é crédito. Quando as pessoas pedem um crédito ao banco, para compra de uma casa, por exemplo, este dinheiro é escriturário: ou seja, o banco inscreve determinada soma na conta bancária do cliente e este fica a dever-lhe prestações mensais mais os juros, durante o tempo do contrato. O dinheiro não existia antes, não foi retirado da conta doutros clientes, ou dum fundo pertencendo ao banco. Foi criado «ex-nihilo». Aliás, a maior parte do dinheiro em circulação é gerado desta forma.
O dinheiro que os devedores do banco pedem emprestado, deve considerar-se uma ficção, em última análise. Mas, TAL NÃO É O CASO do dinheiro gerado pelas atividades económicas dos mesmos clientes. Foram estas atividades que permitiram que eles tivessem um excedente (sobre a satisfação de suas necessidades imediatas) e, com ele, pagassem as prestações. Digo que não é o caso, pois esse dinheiro foi gerado em retribuição de trabalho (e mesmo se foi de rendimentos, indiretamente resulta do trabalho de alguém).
Portanto, o dinheiro real (resultante da atividade económica) serviu para extinguir a dívida contraída junto do banco, mas essa dívida constituiu-se com CAPITAL FICTÍCIO.
Aliás, a prova disso é que quando a dívida se extingue, esse dinheiro também se extingue. No fundo, o que o banco esteve a fazer, foi trazer para o horizonte temporal do presente, a soma necessária ao cliente para obter determinado bem material (uma casa, neste exemplo), sendo essa soma paga num intervalo de tempo, com a taxa de juro calculada, tendo em conta a desvalorização do dinheiro nesse intervalo de tempo, mais a remuneração (lucro) do banco.

Visto que tudo funciona com base no crédito, os juros de referência dos bancos centrais tornam-se ainda mais importantes, pois servem para determinar os restantes juros. São também importantes para avaliar a rentabilidade do capital investido.
Ora, a mais ostensiva falsificação do valor do dinheiro «fiat», começa com as catadupas que foram vertidas a partir de 2008 no sistema financeiro, sobretudo nos bancos ditos 'sistémicos', para estes não colapsarem, mas sem qualquer contrapartida. Estes bancos não investiram na economia, não emprestaram para realizar investimentos produtivos, o que teria um efeito multiplicador. Preferiram manter o dinheiro em contas, que eles detêm nos próprios bancos centrais (contas onde guardam os excessos de reservas), recebendo um juro minúsculo, mas seguro. Alternativamente, emprestaram a grandes empresas tecnológicas (Google, IBM, Apple, etc., etc.) e outros gigantes que, por seu turno, usaram este crédito muito barato para auto-compra das ações. Desta forma, aumentam a cotação bolsista das suas próprias empresas e arrastam os especuladores a comprar essas ações.

Na base da bolha enorme, que se observa em todas as grandes bolsas mundiais, estão - sem dúvida - os bancos centrais e sua deliberada estratégia. A teoria (falaciosa) deles, é de que isso dá aos indivíduos uma perceção subjetiva duma economia a funcionar bem, o que os iria encorajar a investir e a consumir.
Esta conversa já não nos deveria enganar, pois:
- Primeiro, muitas pessoas ignoram completamente, ou veem de longe o mercado de ações;
- Segundo, os investidores normais não têm acesso a créditos com juros de favor, que as grandes empresas obtêm para jogar na bolsa. Para o comum dos mortais, as taxas de juro, de empréstimos para estes ou outros fins, estão longe de ser próximas de zero;
- Terceiro, as pessoas (já) não têm capital disponível para investir em bolsa, pelo menos de um modo significativo, pois os salários perderam muito do seu poder de compra, nestes últimos 30 anos. Por esse motivo, aliás, cada vez mais compram a crédito bens de consumo, estudos, ou férias, que dantes pagavam a pronto, ou com as pequenas poupanças que faziam.

A destruição do valor das divisas fiat, é uma estratégia deliberada dos governos e bancos centrais, para minorar a enorme dívida que se acumulou:
Primeiro, houve a crise de 2008, depois a continuidade da economia deficitária, mas convenientemente ocultada e, finalmente, a chamada «crise do COVID», que veio mesmo no tempo exato, ocultar a disfunção no coração do sistema, nomeadamente, o financiamento interbancário (o «Repo market»).
A partir de Março de 2020, os bancos centrais têm vindo a acelerar a impressão monetária, a um ritmo tal, que será impossível qualquer «atenuação». Basta pensar no que aconteceu em dezembro de 2018, após alguns meses de redução (apenas redução!) dessa impressão monetária. A FED teve de inverter completamente a sua política, sob pena duma crise, financeira e monetária, rebentar com efeitos brutais na economia real.
Foi exatamente o que se passou em Março de 2020, mas numa escala ainda maior. O discurso sobre futura redução do caudal («tapering») é para adormecer os incautos e para satisfazer os governos, que também precisam de adormecer seus eleitores.
De facto, os bancos centrais preparam-se para a destruição final do dinheiro «fiat». Estão ativamente a preparar o lançamento de «criptomoedas», centralizadas, por eles produzidas e controladas. Nessa altura, a digitalização do dinheiro será completa. Não será possível comprar um objeto ou serviço, com dinheiro-papel. O dinheiro-papel poderá ficar como objeto de coleção, tal como certas emissões de selos de correio, somente compradas por filatelistas, ou moedas em ouro ou prata, para os numismatas colecionarem.

Interessa à oligarquia e aos governos que as pessoas guardem o dinheiro inteiramente à mercê deles, nas suas contas eletrónicas. Elas não poderão fazer sair esse dinheiro, senão gastando-o. Mas, qualquer gasto terá a «impressão digital» indelével, pelo que tudo o que fizermos estará totalmente sob escrutínio das grandes corporações e dos Estados.

Além disso, podem estes sistemas de dinheiro 100% digital, aumentar a eficácia da coleta de impostos (sobretudo dos nossos, não os dos muito ricos). Não havendo possibilidade de fuga aos impostos, haverá uma punção periódica, calculada em função dos parâmetros do teu rendimento e do teu consumo.
Por fim, os bancos comerciais poderão cobrar taxas sobre os depósitos. Estaremos sujeitos à sua chantagem permanente. Note-se que as pessoas não terão opção: Hoje em dia, podes pagar em dinheiro físico qualquer coisa. Isso não é ilegal, nem sequer é suspeito. De futuro, as possibilidades de fazeres o que entenderes com o teu dinheiro ficarão limitadas. E, não se trata de atividades ilícitas, mas de atividades do dia-a-dia. De futuro, mesmo pequenas despesas deixarão de estar fora do escrutínio dos sistemas de Inteligência Artificial e dos que detêm o controlo sobre os mesmos.

Estamos perante perigos reais para a nossa autodeterminação, privacidade, possibilidades de escolha, para a liberdade dos indivíduos. Além disso, ninguém pode saber em que mãos esses tais sistemas podem ir parar, no futuro. Os sistemas de pagamento digitais centralizados têm demasiados inconvenientes para as pessoas comuns, mas são imensamente úteis para a oligarquia que tudo domina.

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(1) «Os juros negativos são uma aberração. São uma tomada de reféns. Se toda a gente pudesse obter empréstimos com juros negativos, o Euro seria imediatamente destruído.» (da newsletter de Guy de la Fortelle «L'Investisseur Sans Costume»)

(2) Ver inflação real, calculada por John Williams, Shadowstats.com

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

PORQUE É SENSATO ADVOGAR UM PADRÃO-OURO, HOJE EM DIA?

 


Num ensaio brilhante, «The Golden Road Remains Constant», Roy Sebag esclarece-nos que as pseudo-verdades emitidas por várias escolas de economia, acerca do ouro, se reduzem a falácias e que não têm em conta aspectos fundamentais da troca económica, no cerne da própria existência dos sistemas monetários. 
Nomeadamente, a satisfação das partes, em que uma parte recebe um bem ou serviço e a outra recebe em pagamento,  uma determinada quantidade de «dinheiro fiat» ou seja, dinheiro cujo valor reside apenas, em última instância, no facto que o governo que emitiu esse dinheiro, o aceita como pagamento dos impostos. 
Note-se que, em Estados sujeitos a grandes convulsões, onde existe hiperinflação, o valor da moeda fiat desce rapidamente para zero. 
Mas, mesmo no país mais poderoso e que era depositário da convertibilidade do dinheiro «papel» em ouro (os EUA), a perda de poder de compra do dólar («papel») foi de cerca de 98% em relação a uma onça de ouro. 
Com efeito, em 1971, quando Nixon, unilateralmente, rompeu com o acordo de Bretton Woods (fixando a convertibilidade do dólar numa dada quantidade de ouro e todas as moedas se referindo ao dólar, em consequência), a onça de ouro cotava-se a 42 dólares; hoje, é cerca de 1800 dólares. 
Isto quer dizer que o dólar guardou apenas 2% do seu valor inicial (de 1971), em termos de poder de compra, ou - por outras palavras - que perdeu 98% do seu valor em relação à onça de ouro.  

Os que advogam um sistema de criptomoedas (dentro do sistema de bancos centrais, ou fora) estão a iludir a realidade de que este sistema, além de sujeito a flutuações «bárbaras», devido a especulações, terá um consumo intrínseco de energia muito elevado, só para manutenção, já não falando na actividade de «mineração» dos algoritmos que lhes estão na base. 

Por contraste, dada a durabilidade e estabilidade do ouro, uma vez que esteja em barra ou moeda, não necessita de manutenção: apenas, haverá despesas com a sua segurança (cofres-fortes, dispositivos de alarme, etc...). O ouro - enquanto valor de investimento - corresponde, hoje, a uma diminuta parte das carteiras dos fundos financeiros, das empresas, ou de privados.

No entanto, o ouro não possui o risco fundamental, que existe para os outros valores, monetários e financeiros, ou seja, aquilo que constitui o grosso da riqueza, hoje em dia, de particulares, de empresas e mesmo de governos: 

Esse risco é o da contrapartida: a solidez dum activo financeiro (obrigação, acção ,fundo, ETF, outros derivados, etc.), acaba por ser função do que for dado em contrapartida, ou como garantia. 

O ouro, em si mesmo, é a garantia. É independente de quaisquer contrapartidas. Será sempre o mesmo metal, com as mesmas propriedades físicas e químicas (que são facilmente avaliadas, hoje em dia).

O artigo que eu referi acima, tem muitos pontos interessantes e encorajo a sua leitura. 

Queria apenas sublinhar o seguinte: o autor convenceu-me que a reentrada do ouro no sistema monetário, longe de ser uma fantasia passadista, é simplesmente uma questão de bom senso e boa administração dos recursos económicos. 

Ele vaticina a sua inevitabilidade. Diz que o primeiro país (é provável ser a China, ou a Rússia) que voltar a instaurar o padrão-ouro, beneficiará em vários planos: 

- será estabilizador da economia: o padrão-ouro vai estabilizar os preços dos bens e serviços, o que é geralmente favorável, em termos económicos.

- irá impulsionar o investimento e o comércio: uma economia com padrão-ouro, torna-se muito atraente para os investidores, visto que oferece garantias reais para o seu capital. O comércio também será  muito dinamizado, pois torna-se mais seguro comerciar com um país que oferece em pagamento uma divisa garantida pelo ouro, portanto não sujeita a desvalorização e que se pode trocar pelo equivalente daquele metal.

Acresce que o clima mundial de crise ou pré-crise económica e financeira, acompanhado de crise social, com aumento do desemprego e do agravamento das condições de vida no Ocidente e no Terceiro Mundo, aumenta exponencialmente o risco das apostas na «economia de casino» (as bolsas, os investimentos financeiros especulativos), em euforia nos principais centros financeiros ocidentais, completamente desligada da economia real.

Por todos estes motivos, o ouro continua, segundo o autor Roy Sebag, a ser um metal monetário (tal como a prata) e utilizado efectivamente como forma de pagamento. 

Ele vaticina que - inevitavelmente - o ouro vai ficar de novo no centro do sistema monetário mundial. 

Note-se que não existe qualquer dificuldade técnica em indexar as moedas existentes ao grama, ou à onça de ouro. 

Qualquer «reforma» monetária mundial será votada ao fracasso, se não tiver como base valores tangíveis, sobre os quais possa ser firmada a confiança dos diferentes actores económicos. Para esse fim, na natureza, não existe nada melhor do que o ouro. 

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Veja o vídeo que explica, em palavras claras, o estado verdadeiro do sistema financeiro global:

 https://www.bitchute.com/video/jGzfA3Ij7aw/

sábado, 3 de agosto de 2019

GREAT RESET: OPERAÇÃO ENCOBERTA DOS BANCOS CENTRAIS

                                  Resultado de imagem para bank for international settlements (bis)

Um longo período da história económica e financeira aproxima-se do fim. Iniciou-se aquando da retirada (em 1971) por Nixon do dólar da janela de convertibilidade com o ouro, a cláusula de Bretton Woods, que ancorava todas as moedas ao dólarmantinha este convertível em ouro. A partir desse momento, as moedas passaram a flutuar, sem âncora, umas em relação às outras e a inflação disparou. 

Quer se meça a inflação actual pelos índices habituais, quer pelo valor do ouro nas várias moedas «fiat» (ou seja, todas, visto que não existem moedas baseadas em metais preciosos), o facto é que a espiral inflacionista já se desencadeou. Pese embora a aversão da media económica mainstream em relação ao ouro, o que mostra a sua subida espectacular em relação a todas as divisas, mesmo as mais «fortes», como o franco suíço, o dólar, ou o euro... é que os mercados já começaram a perceber para onde se dirige o sistema monetário. Agora, já não são apenas os bancos centrais do Oriente (sobretudo Rússia, China, índia, e outros países asiáticos), existem também famosos gestores de «hedge funds» a apelarem aos seus clientes para investir em metais preciosos, detendo uma percentagem deles no seu portefólio.   
De facto, o BIS (Bank of International Settlements), de Basileia, tem estado discretamente a orientar os bancos centrais para uma «reestruturação» ou reset do sistema monetário. 
Há quem pense que este será baseado num cabaz de moedas, os «Direitos de Saque Especiais» (ou SDR em sigla inglesa) do FMI. Porém, este cabaz é, de facto, um cabaz de moedas «fiat» e apenas seria «sol de pouca dura». Pois, o problema com estes arranjos é que, uma vez perdida a confiança, não é fácil captá-la de novo. 

Há quem aposte nas criptomoedas, mas estas estão sujeitas aos mesmos vícios que o dinheiro existente: já são electrónicas, as somas em circulação actualmente nos mercados internacionais. Mesmo na economia corrente, muitas transacções - talvez 70% - são já  com cartões de débito ou de crédito ou por transferências bancárias. Portanto, o público pode ser permeável à modernidade, mas não irá sentir a situação como diferente da habitual. A existência de uma criptomoeda não muda nada de fundamental, seja ela emitida por um banco central (a Rússia, está seriamente estudando essa possibilidade, mas não é a única), seja ela uma criptomoeda descentralizada, como o «bitcoin». 
Para que uma criptomoeda tenha hipótese de se firmar no domínio das trocas do dia-a-dia, ela deverá possuir uma grande estabilidade. Com efeito, as divisas que existem, actualmente, não variam de um dia para o outro, de mais do que uma fracção de 1 por cento; isso significa que, aquele que aceita uma divisa em pagamento, pode confiar, no curto prazo, no valor da mesma. Pelo contrário, instabilidade das criptomoedas, sendo factor que atrai os especuladores, é também o factor que impede que sejam mais do que esporádicos veículos de transferência de dinheiro. Em países, como a China, com controlos de capitais instalados, será bastante interessante para alguém usar criptomoedas, para poder exportar dinheiro para o exterior, sem que as autoridades possam interferir. 

Restam portanto os metais preciosos, o ouro e a prata, que foram dinheiro durante um período de cerca de 6000 anos. A sua inter-conversão com moeda de papel pode fazer-se pelo simples cálculo da soma total de moeda-papel em circulação (incluindo a moeda electrónica, claro) dividido pelo ouro existente em todos os bancos centrais. O ouro teria de subir dos 1450 dólares a onça, actualmente, para cerca de 10 mil dólares a onça. Talvez isso seja possível em etapas, neste período de transição em que já estamos: o tal «reset». 
Remonetizar o ouro equivale a tornar possível que a moeda-papel seja trocada por ouro a uma taxa fixa, ou com uma flutuação mínima. Isso iria estabilizar o valor do dinheiro, manteria os preços, minimizava a inflação. A economia - em geral - iria beneficiar com isso.  
O efeito da desmonetização do ouro - um fenómeno recente, em termos históricos -  não foi benéfico para as economias. Os Estados endividaram-se sem restrições. A dívida pública, das empresas e das famílias, todas elas cresceram de forma exponencial, neste período de menos de meio século. 
Hoje, as moedas em circulação devem ter perdido 97%, no mínimo, do seu valor, relativamente a 1971, sendo esta a percentagem da perda do dólar: a principal moeda de reserva é, com certeza, das mais fortes, em termos relativos. As outras serão ainda mais fracas que o dólar.
O que os economistas da treta não dizem (mesmo quando o praticam em segredo) é que a garantia da conservação do valor - para o pobre, o rico e o remediado - é ter uma parte dos activos em moedas/barras de ouro e/ou prata. 
Assim, no momento em que houver um colapso financeiro, com uma situação de híper-inflação, não só não ficarão seus activos financeiros destruídos, como poderão ver o seu capital aumentar, em termos relativos. 
Quem se mantiver exclusivamente na economia de casino das bolsas, jogando em acções, obrigações, derivados (ETFs, etc.) está condenado (condena-se a si próprio) a ficar com o valor dos investimentos reduzido a quase nada
O imobiliário está muito inflacionado também, em todos os países. Não é uma boa forma de preservar capital, investir nele agora: não faz sentido comprar, com preços inflacionados, antes da bolha ter rebentado. Dentro de pouco tempo, como já se verifica nos mercados do imobiliário do outro lado do Atlântico, os preços irão descer, tão vertiginosamente como subiram. 
Depois da fase de transição, em que nos encontramos, quem tiver maior quantidade de capital disponível, poderá comprar activos muito abaixo do seu valor real, em consequência da crise profunda que se avizinha. É uma questão de aproveitar as oportunidades, que surgem sempre. 

O capital, que não é equivalente a dinheiro, permanece, globalmente. 
O capital é criado pelo trabalho; uma crise, não o destrói, mas é transferido de uns actores para outros.

segunda-feira, 13 de maio de 2019

MANIPULAÇÃO DOS MERCADOS DE METAIS PRECIOSOS PODERÁ ACABAR EM BREVE



Os economistas «mainstream» costumam depreciar o papel do ouro e da prata, enquanto metais monetários. Porém, desde que Nixon, em 1971, rompeu com a indexação do dólar ao ouro (uma onça de ouro = 35 $ ), o mercado do ouro sofreu muitas transformações. Primeiro, houve uma subida espectacular, até a 1980. Depois, começou a era da supressão do preço do ouro pelos bancos centrais das maiores potências ocidentais, com a conivência dos «bullion banks», ou seja, dos bancos autorizados a fazer negócios com o ouro, no COMEX (nos EUA) e LBMA (em Londres), mercados esses que estão completamente dominados pelos contratos de «futuros». 
Um contrato de futuros, é um contrato em que o vendedor promete vender, por certa quantia, num certo prazo (por exemplo, dois meses) e o comprador compromete-se a comprar por tal preço e em tal data, independentemente do preço do mercado, nessa altura. 
Este instrumento foi utilizado primeiro pelos agricultores, para conseguirem garantir um rendimento das suas culturas, mesmo antes da colheita, dando estabilidade e rentabilidade às empresas agrícolas. Actualmente, utilizando futuros, os especuladores conseguem fazer operações lucrativas, em relação a quaisquer matérias-primas cotadas em bolsas, apostando numa determinada direcção do mercado. 
Porém, os grandes bancos, têm a capacidade de falsear este mercado de futuros e fazem-no com plena conivência de entidades reguladoras dos mercados e dos governos. Eles são capazes de produzir tantos contratos de futuros quanto quiserem, quebrando assim o preço do metal precioso, com a súbita (em segundos) injecção de grande quantidade de contratos de futuros, fazendo baixar dramaticamente o «ouro-papel».  
Há que distinguir o «ouro-papel», do ouro-metal propriamente dito, pois, embora o metal seja transaccionado normalmente numa relação directa com a cotação dos mercados de futuros (= ouro-papel), em condições de dificuldade de abastecimento do mercado em ouro físico, tem-se verificado uma descolagem entre um e outro preço. Assim, numa dada ocasião, o ouro físico pode estar a ser transaccionado 5%, ou mais, acima do seu preço nos contratos de futuros. 
A quantidade de ouro físico presente efectivamente nos cofres da COMEX ou da LBMA, estima-se corresponder apenas a uma fracção diminuta (cerca de 1/200 ou menos), das transacções que ocorrem diariamente nos mercados respectivos de futuros.
É justamente este ponto onde tem maior fragilidade o esquema montado pelos grandes bancos, em conjunção com os bancos centrais e com os governos ocidentais. Com efeito, os contratos-futuros supõem - pelo menos para grandes investidores - que, caso os referidos contratos sejam conservados até à data de expiração, estes têm de ser satisfeitos - não redimidos em dólares, como tem sido geralmente o caso - mas com entrega de ouro físico. 
Um grande agente comprador, intermediário de um banco central, como o chinês ou o russo, pois é assim que negoceiam no mercado do ouro, pode exigir ser-lhe entregue o ouro físico correspondente; se a plataforma (COMEX ou LBMA)  não o fizer, ela entra em incumprimento e a sua imagem fica totalmente posta em causa.

Observando a evolução da guerra comercial entre a China e os EUA, vemos que está a tornar-se cada vez mais interessante para a China fazer com que o valor real do ouro surja em pleno. 
A China tem beneficiado da supressão do preço do ouro, comprando sistematicamente grandes quantidades, em praças financeiras ocidentais. 
Muitas vezes, as barras de ouro compradas em Londres, por exemplo, são refundidas e transformadas na Suiça, em barras com as características que o banco central da China utiliza para armazenar o seu ouro. 
Porém, agora, será o momento para a China valorizar a sua moeda, em relação ao dólar e não de a depreciar ainda mais, ao contrário do que a imprensa financeira mainstream vaticina. 
Vai haver uma aceleração da «desdolarização», quer em termos de reservas nos bancos centrais, quer em termos de comércio internacional. Neste contexto, a China tem toda a vantagem em mostrar que possui um yuan forte, um yuan que se apoia numa quantidade de reservas de ouro, que é, na verdade, muito maior (4 ou 5 vezes) que as reservas oficialmente contabilizadas pelo PBOC (People's Bank of China). 

                     
As potências todas, sejam quais forem, comerciam com a China. Elas vão - cada vez mais - ser favoráveis a deter em reserva o yuan, tanto mais que a moeda chinesa já faz parte do cabaz de moedas do FMI, o SDR. 
Por outro lado, a política de sanções dos EUA contra uma série de países, incluindo as retaliações contra países terceiros que façam comércio com os países-alvo, vão exacerbar mecanismos de troca directa e de ajustamento dos balanços, usando divisas nacionais dos respectivos países. 
Agora, vai entrar em pleno funcionamento a nota de crédito comercial em yuan, juntamente com a sua convertibilidade em ouro, no mercado de  Xangai. Note-se que é aí transaccionada quotidianamente uma quantidade de ouro físico superior à das plataformas ocidentais do COMEX e da LBMA. 
A previsão de que a supressão do preço do ouro deixará de ter vantagem para a China, não é de agora. Os analistas já previam há muito tempo que esse dia iria chegar. Conjuga-se tudo para que esse dia chegue em breve:
- Durante o último decénio houve acumulação de grande quantidade de ouro na China (também na Rússia e em vários países asiáticos). 
- A agressividade do império americano em decadência, com as sanções, literalmente, afecta todos - amigos e inimigos. 
- A guerra comercial cria obstáculos ao comércio com os EUA e, portanto, diminui a percentagem do comércio mundial feito em dólares.

A China deve estar a preparar-se para uma nova etapa da internacionalização do yuan. Esta etapa será, sem dúvida, o despegar da sua indexação ao dólar. 
Prevê-se que esse despegar valorize, em termos relativos, o yuan em relação ao dólar, da ordem de 20%. Como corolário, o yuan irá sofrer também uma revalorização em relação às outras divisas. 
Tal revalorização já não é um problema tão grande para o comércio externo, pois os países fornecedores da China receberão um yuan mais forte e têm a possibilidade de conversão do mesmo em ouro. 
Penso que isso vai fazer com que os países petrolíferos, mesmo que «pró-americanos», sejam tentados a fazer comércio usando a divisa chinesa. Isto será a sentença de morte do petro-dólar.

Não sei se em Washington vêm as coisas deste modo. Mas, se não o fazem, das duas, uma: 
- Ou são loucos, pois estão dispostos a fazer uma guerra total com a China, a Rússia e os aliados destes.  
- Ou estão na ilusão de que conseguem «torcer o braço» aos dirigentes chineses, fazendo-os capitular, ceder no comércio mundial. Isto é, afinal, outra forma de loucura, pois avalia o adversário de forma totalmente errónea, quer em relação à sua posição geo-estratégica, quer económica, quer ainda à índole e psicologia dos líderes da China.

Mas, quer Washington veja ou não, os dias da hegemonia americana nos mercados mundiais, estão contados. Sintomas dessa situação são os contratos entre a China e países petrolíferos, de onde o dólar está ausente, a saída do ouro dos cofres dos bancos centrais do Ocidente para os do Oriente e, por fim, a emergência duma divisa (o yuan) ainda não directamente convertível em ouro, mas apoiada no ouro. 


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

O VALOR DO DÓLAR NÃO TEM QUALQUER ESPÉCIE DE GARANTIA



[Resumo do artigo de Egon von Greyerz:]

Von Greyerz recorda que em Agosto de 1971 o Diário do Povo da China declarava que a célebre decisão de Nixon de des-indexar o dólar ao ouro, significava o princípio do fim do sistema monetário do mundo capitalista. 
            

Com efeito, os dirigentes comunistas chineses estavam totalmente certos, como se pode comprovar pelo gráfico acima e pelo facto dos EUA terem estado constantemente em défice nos últimos cinquenta anos, quer em relação ao orçamento, quer em relação à balança comercial. Se tivermos em conta, não apenas as dívidas de empréstimos mas também as obrigações a que os EUA estão legalmente obrigados (segurança social, assistência médica, etc.) e que não têm tido financiamento adequado, a dívida total ascende hoje a triliões de dólares.
Quando Von Greyerz começou a trabalhar num banco em Genebra, o dólar valia cerca de 4,30 Francos Suíços. Hoje, um dólar vale ligeiramente menos do que um franco suíço. Houve um colapso de 77% da divisa de reserva, em 50 anos, mas se compararmos com a cotação do ouro, então a descida é de 97%.
Os chineses previram, na altura, o efeito catastrófico da medida anunciada por Nixon:
Citando o Diário do Povo: 
"Estas medidas impopulares reflectem a gravidade da crise económica dos EUA e a degradação e o declínio do sistema capitalista no seu todo"
e, mais adiante "[estas medidas...] assinalam o colapso do sistema monetário capitalista com o dólar dos Estados Unidos como seu propulsor" e ..." a nova política económica de Nixon não poderá poupar os EUA à crise financeira e económica".
O referido jornal previa que a crise se iria acentuar. 
Os chineses compreenderam isto, logo em 1971, quanto às desastrosas consequências da decisão de Nixon. Estamos hoje com uma situação de inflação galopante (incluindo nos preços dos activos financeiros), divisas em colapso e uma explosão das dívidas. Todas as coisas que Nixon dizia que iria evitar!
As políticas desastrosas destes 48 anos tiveram consequências nefastas em todos os aspectos da economia dos países capitalistas: compressão ou estagnação de salários reais, perda de competitividade,  criação de bolhas especulativas e falências em série quando estas rebentam...
A saída do padrão-ouro, que estava estabelecido no Acordo de Bretton Woods, foi catalizador de toda a decadência dos países ocidentais, enquanto a China subiu para segunda economia ao nível mundial, ou em termos de Paridade de Poder de Compra (PPC), a 1ª economia. O PIB da China era de 100 biliões de dólares US em 1971; hoje em dia é de mais de 12 triliões dólares, e quando avaliada em PPC é de 23 triliões de dólares.
A diminuição acentuada das reservas de ouro dos EUA esteve na base da decisão de Nixon. O facto do Tesouro Americano - há quase quarenta anos - ter parado de noticiar as vendas de ouro (ver gráfico acima) legitima a dúvida sobre a real quantidade de ouro que existirá ainda nos cofres de Fort Knox.
Para ler o artigo completo (em inglês):

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

NUM CONTEXTO DE CRISE, O OURO SERÁ DE NOVO MONETIZADO

Durante cerca de 5000 anos, o ouro e a prata foram usados como metais monetários. Além disso, também eram usados em joalharia. 
O único período em que os metais ouro e prata foram desmonetizados corresponde à janela estreita temporal, em termos históricos: desde que Nixon, em 1971, decidiu unilateralmente  e «provisoriamente» cancelar a convertibilidade do dólar em ouro, conforme constava dos acordos de Bretton Woods (1944)... até hoje! 
Num intervalo de tempo de mais de 40 anos, o ouro (e a prata) tem sido relegado ao papel de matéria-prima. Curiosamente, neste mesmo espaço de tempo largo, o ouro tem-se comportado como o melhor investimento, ultrapassando os índices de acções (Dow Jones, Nasdaq, etc...). Além disso, o dólar está constantemente a desvalorizar-se em relação ao ouro: estava a 35 dólares a onça de ouro, em 1971; agora, ronda os 1250 dólares.

Aproxima-se uma outra grande crise que, segundo muitos analistas dos mercados, fará com que a crise de 2008 se pareça com «um passeio no parque», não apenas em termos de destruição de capital, como de vidas e de capacidades produtivas... 
Os grandes bancos e os fundos que gerem as fortunas dos bilionários, já se estão - há muito tempo - a precaver, comprando ouro o mais barato possível, em grandes quantidades. 
Os bancos centrais, sobretudo dos países do Oriente, estão a fazer o mesmo. 

                  

               

O BIS (o banco internacional que funciona como entidade reguladora da actividade dos bancos centrais no mundo inteiro) já tinha instaurado de novo o papel do ouro, através das regras ditas de «Basel III» (O referido BIS tem sede em Basel = Basileia, na Suíça).


    Gold: Zero-Risk Monetary Asset | Bank of International Settlements

Mas, para que os grandes bancos possam adaptar-se a essas regras, elas são postas em prática 6-7 anos após terem sido acordadas. Basel III está plenamente em vigor a partir de 1 de Janeiro de 2019. 

Com estas novas regras, o ouro é de novo monetizado, em certa medida, visto que passará a poder ser parte das reservas próprias dos bancos, ao mesmo nível que obrigações do tesouro (treasury bonds) e dinheiro líquido (cash), o que se designa por «Tier 1» ou seja, activos com risco zero (1) ... 
Num sistema em que os bancos podem emprestar apenas numa certa percentagem dos activos que possuem em reserva, a inclusão do ouro nestes activos, contabilizado para esse fim, terá - com certeza - efeitos a longo prazo, tanto no comportamento dos bancos em relação ao ouro, como na própria cotação do ouro, que deverá subir consideravelmente.

Não se admirem que estes factos não estejam nas primeiras páginas dos jornais económicos: sem essa discrição, os bancos e negócios teriam de pagar muito mais caro pelo ouro.  

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