sexta-feira, 24 de outubro de 2025

ÁFRICA, DISTORCIDA NAS NOSSAS IMAGINAÇÕES

 

 África e a Projecção de Mercator [*]


Durante mais de 450 anos, a nossa visão do mundo tem sido moldada por um mapa que é enganador. Na realidade poderíamos encaixar os EUA, a China, a Índia, o Japão e muito da Europa, dentro de África, que ainda ficariam espaços de terra restantes...


Analogamente, a Gronelândia parece semelhante em tamanho à África, em muitos mapas, quando de facto, a África é 14 vezes maior. O Alasca parece ter o mesmo tamanho que a Austrália, embora a Austrália seja 4,5 maior.


A causa destas distorções, reside na projecção de Mercator, que aumenta as massas terrestres tanto mais, quanto estas estiverem distantes do equador. Em consequência, regiões como a Gronelândia ou a Antártica parecem muito maiores do que seu verdadeiro tamanho, enquanto terras equatoriais ficam diminuídas em tamanho.

[ * Traduzido a partir de https://www.james-lucas.com/ ]

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

JOHN MEARSHEIMER ANALISA A GUERRA UCRÂNIA-RÚSSIA [CRÓNICA DA IIIª GUERRA MUNDIAL, Nº50]


A lição que o Prof. Mearsheimar nos dá a todos, é memorável a vários títulos:

É a defesa apaixonada da realidade sobre a política de sentimentos
A retórica foi substituir as realidades no terreno, por dirigentes europeus e norte-americanos 
Não é com discursos que se modificam as realidades; é abordando as realidades sem viseiras
As relações dentro da Aliança Atlântica entre a parte europeia e dos EUA
Mostra-nos o que aconteceu à Ucrânia em resultado da  «cruzada moral» do Ocidente

... E muitos outros tópicos. 

Se juntarmos os pontos de vista deste prof. com a de vários membros (nos EUA) da comunidade de defesa e de inteligência, verificamos que existem muitas pessoas qualificadas, que articulam críticas de fundo à maneira como o poder presidencial se tem comportado desde o tempo de Obama, passando por Trump 1º , Biden e Trump 2º.
De facto, a OTAN e a UE estão em grave crise, experimentam divisões internas e um divórcio crescente com as populações dos respectivos países.  
Mearsheimer aponta o dedo para a crise moral, para a incompetência e apego ao poder das classes dirigentes destes países. 
Penso que a confiança é o capital que pode manter a aceitação pela cidadania da sua liderança, num contexto de «não-ditaduras totalitárias».  Porém, agora, todos sabemos, a confiança popular nos governos dos países da Europa ocidental desvaneceu-se. As sondagens não mentem: Os dirigentes dos mais fortes países da UE (Reino Unido, França, Alemanha) estão com uma popularidade extremamente baixa, assim como a Presidente da Comissão Europeia, Úrsula von der Leyen. 
Nestas circunstâncias, a forma que eles encontram para se conservarem no poder, é  fazer com que passe uma imagem falsa, propagandística, de uma Rússia inimiga, agressiva, desejosa de se expandir a Oeste. Como esta e outras imagens de propaganada se vão desgastando, porque a realidade acaba sempre por vir ao de cima, a credibilidade dos dirigentes europeus aproxima-se de zero.
Como podem eles (elas) pretender mobilizar uma boa parte do continente para uma guerra, quando as populações recusam fazer sacrifícios porque sentem que o que lhes pedem é completamente absurdo? 
Na minha opinião, os dirigentes europeus globalistas decidiram fazer a guerra contra as próprias populações. Temos visto exemplos de terrorismo de Estado e subversão de quaisquer laivos de Estado de Direito que restem, para levar à guerra (e inevitável derrota) seus respectivos países. 
Não ficarão as presentes lideranças muito tempo no poder, pois a ilusão de «derrotar a Rússia» está a desfazer-se como um castelo de cartas. Bem depressa, espero, os povos vão acordar e perceber que os dirigentes estão desesperados, e que encontraram uma escapatória nesta política de «guerra à outrance».


quarta-feira, 22 de outubro de 2025

ROUBO DE JÓIAS DO MUSEU DO LOUVRE COLOCA MÚLTIPLAS QUESTÕES

 MUSEU DO LOUVRE, 19 -10- 2025


O roubo, efetuado com grande profissionalismo e à luz do dia, mostra até que ponto as peças mais valiosas dos museus estão sujeitas a roubos.

Não há dúvida que o Museu do Louvre é um dos mais bem dotados, não apenas em financiamento estatal, como também por doadores privados. Logo, coloca-se a questão de saber porque motivo os museus com as peças mais representativas e valiosas do património nacional têm uma segurança bastante deficiente. Parece ser mais precária - a sua segurança - que a dos grandes bancos.

Basta ler o artigo «How The Louvre 'Heist Of The Century' Unfolded» para se compreender que os assaltos a museus e, em particular, a grandes museus como o Louvre, são frequentes. Por outro lado, a probabilidade de recuperar as peças roubadas é baixa, quer se trate de  quadros, de objetos de arte ou de jóias. 

As peças agora roubadas provavelmente nunca serão de novo vistas (*). Os profissionais, não apenas desmontam, como retalham as pedras preciosas, de modo que estas não possam ser detetadas. 

Outro fator muito desfavorável para a eventual recuperação do produto dos roubos, é a facilidade em transaccionar com criptodivisas. Estes podem atingir enormes cifras, movimentadas de modo que é muito difícil identificar os intervenientes na transação.

 No passado, na lavagem do dinheiro destas operações, usava-se «cash»; esta lavagem era mais difícil e arriscada para os ladrões de obras de arte e seus clientes. Com efeito, o mercado de obras de arte estava sempre estreitamente vigiado, havendo probabilidade de detecção das quantias avultadas. 

Hoje, devido aos movimentos de dinheiro não passarem por sistemas bancários e devido à total confidencialidade das transações com criptodivisas, os pagamentos tornaram-se mais seguros para  os ladrões,  os receptadores e os clientes finais.


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(*) Excerto do artigo acima:

Tobias Kormind, managing director of 77 Diamonds, told The Associated Press: “It’s unlikely these jewels will ever be seen again. Professional crews often break down and re-cut large, recognizable stones to evade detection, effectively erasing their provenance.”

There has been speculation that cryptocurrency could play a part in the crime. British private detective John Eastham said that art-crime investigators are seeing a sharp pivot from cash-based laundering to crypto-based liquidity when stolen goods are difficult to sell openly.

“When a theft involves extraordinary value—particularly heritage items—the real question isn’t just what was taken, it’s how will it be monetized? You can’t simply walk into a bank with millions in notes or diamonds. Crypto offers speed, anonymity, and international reach in a way cash no longer can,” Eastham said in an emailed statement.

“It’s highly likely that whoever is behind the Louvre theft already had a digital exit plan—either melting down components and selling through private networks or using high-value NFTs (Non-Fungible Tokens) or stablecoins to launder the funds.”

terça-feira, 21 de outubro de 2025

COMO VIVERMOS NUM TEMPO DE CRISE



"Contra a estupidez, até os Deuses lutam em vão "

( frase atribuída a Goethe)




Este escrito não é contra uma pessoa ou partido, é somente um aviso em relação à ficção da realidade: Como algo envolvido em papel decorativo, como uma caixa de chocolates. Com a diferença de que o envólucro de que eu falo, não encerra nada.

A estupidez tornou-se traje de rigor. A imbecilidade, a marca obrigatória. As pessoas que apenas cultivaram as aparências, como sendo algo de «valor», são as que triunfam.

Quanto à «turba mediática»: Essa nunca se assume como ignorante. Está sempre disposta a servir-nos o «prato» das notícias, com a última moda, o último pseudo-pensamento, acompanhados da eterna salada da ignorância...

Só que virá um tempo em que as pessoas acima mencionadas já não triunfarão em coisa nenhuma. E esse tempo está para breve, a meu ver, porque a maré mudou.

Mas não esperem reconhecimento, meus caros leitores, se porventura pertenceis aos poucos que ainda têm curiosidade em procurar entender e alcançar as raízes dos fenómenos.

O reconhecimento será o de vós próprios, de saberdes ver a realidade e, com isso, saberdes navegar nestes tempos conturbados. Esta propriedade, que já é tão rara, vai tornar-se preciosa nos tempos mais próximos.

O mais importante, nesta época, é saber distinguir a realidade profunda, de toda a espécie de epifenómenos, que até poderão ser reais, poderão corresponder a factos ocorridos. Porém, na nossa visão, há que distinguir entre as realidades que podem vir a configurar mudanças estratégicas, das que serão somente o borbulhar, a espuma dos dias...





Sei que estas palavras, no fundo e antes de mais, a mim próprio respeitam. É certo que não pretendo conquistar discípulos, adeptos ou seguidores.

No entanto, o que deve determinar a minha ação, ou seja, os fins, são coisas que me parecem, afinal, comuns a todos: a preservação da sua pessoa, o procurar o equilíbrio, o não se deixar arrastar nas ondas de fanatismo e de intolerância que se observam, o proporcionar para a família e os amigos um porto de abrigo no sentido próprio e figurado, o esclarecimento das pessoas que comigo convivam, não para as convencer, mas para aumento do grau de lucidez e consciência no meu entorno... E, sobretudo, imponho a mim próprio a disciplina de não ceder perante meus gostos, preferências, ou afinidades ideológicas, e exercer sobre os meus pontos de vista uma rigorosa crítica e autocrítica. Assim, poderei continuar a errar, como é evidente, mas será menos provável que persista no erro.

Só gostava que as pessoas que eu estimo, não se equivoquem sobre as minhas intenções, os meus desejos: Não pretendo convencer ninguém, nem afirmar que tenha razão sobre um dado assunto, seja ele qual for. Simplesmente, se emitir uma opinião, faço-o com um máximo de dados sólidos e não de subjectivismo.

...

Quanto ao resto, julgo adequado parafrasear o escritor do início do século XX, Pierre Louÿs e o seu romance «Les Aventures du Roi Pausole».

No reino de Pausole, havia somente duas leis:

-1° Não faças nada que possa ferir, magoar, ou prejudicar alguém.

-2° Uma vez bem assimilado o significado da frase acima, faz o que quiseres.




HAVERÁ UMA FATALIDADE PARA O COLAPSO DE «DIVISAS DE RESERVA» ?

 


Temos sempre algo que aprender com a História. Mas, se não o fizermos, estamos condenados a repeti-la ... sobretudo os seus falhanços.

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

UM RABI EXPLICA O QUE É E COMO NASCEU O SIONISMO


Este vídeo parece-me muito informativo. A entrevista entre Pascal Lottaz (Neutrality Studies) e o Prof. Yakov Rabkin esclarece muito, permite-nos compreender as raízes ideológicas e influências da ideologia que se apoderou do governo de Israel: a corrente política chamada «sionismo». 



domingo, 19 de outubro de 2025

INICIAÇÃO - poema de Fernando Pessoa








INICIAÇÃO


Não dormes sob os ciprestes
Pois não há sono no mundo.
..........................
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.

Vem a noite, que é a morte,
E a sombra acabou sem ser,
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.

Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa.
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.

Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.

Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.

.........................

A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não estás morto, entre ciprestes.
.........................
Neófito, não há morte.

(Presença, nº 35, Maio de 1932)



Este poema corresponde a uma fase relativamente tardia da produção do poeta. Escrito em 1930, tem aspectos de síntese de toda uma vivência passada, de sua proximidade com círculos iniciáticos, especialmente nos anos de sua juventude.
Com efeito, Pessoa tinha traduzido obras esotéricas, de Mme Blavatsky, de Alister Croley e doutros autores. Várias das obras em causa destinavam-se a fazer parte do catálogo duma editora, que ele próprio fundara, mas que depressa entrou em falência. Muitas das referências nos seus escritos inéditos mostram que Pessoa se preocupou durante toda sua vida com o esoterismo.
Teve uma relação bastante próxima com o referido Aleister Crowley, que se deslocou a Portugal, tendo o autor esotérico britânico protagonizado uma «aventura cómica», com a colaboração Fernando Pessoa*.

A substância do poema é deveras interessante, pelas correspondências que estabelece entre a vida corrente, o corpo enquanto «sombra de vestes», e o ser profundo.
A esotérica abordagem exprime-se nas três fases pelas quais o indivíduo é despido:
Primeiro, os Anjos retiram-lhe a capa; depois, os Arcanjos despem-no completamente, o indivíduo fica nu. Por fim, é despido o próprio corpo nu, no momento de revelação da alma,  junto de «seus iguais», os Deuses.
Este poema pode ser interpretado a vários níveis, enquanto símbolo e como sinal dum saber iniciático, oculto.
O classicismo na construção do poema, além de lhe conferir um tom solene, torna-o ideal para transmissão da verdade veículada no verso que encerra o poema: «Neófito, não há morte».


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Em 1930, Aleister Crowley, simulou ter-se suicidado na Boca do Inferno (Cascais). Crowley, com a ajuda de Pessoa, fingiu-se de morto, com Pessoa entregando o bilhete de despedida para a mídia. Três semanas depois, Crowley reapareceu publicamente em Berlim.




MAIS ARTIGOS SOBRE FERNANDO PESSOA:







sábado, 18 de outubro de 2025

VENEZUELA - NOBEL DA «PAZ» E «FRUTO PENDENTE*»

*Nota: A tradução mais comum para "hanging fruit" é «oportunidade fácil» ou «resultado fácil de alcançar». No entanto, preferi usar uma expressão mais literal, como "fruto pendente", pois esta é compreensivel no contexto deste artigo.

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 O presidente  Trump deve ter feito uma grande pressão para que o elegessem prémio  Nobel da Paz. O juri do Nobel deve ter sentido alguns pruridos de consciência  e decidiu antes escolher uma venezuelana, líder  de oposição  anti chavista e grande amiga dos EUA.  Maria Corina Machado, eleita prémio Nobel da Paz, "não é nenhuma flor pacifista":

- Internamente, não cessou de fazer apelos incendiários à sublevação contra o regime de Maduro.

- Em relação  ao estrangeiro, convidou os «pacíficos»  Netanyahu e Trump, a invadirem o país, com a garantia de que, se o fizessem e a pusessem na presidência, teriam garantido o petróleo venezuelano e tudo o mais. 

Não  creio que estas tomadas de posição públicas sejam adequadas para quem está comprometida num caminho de paz e de oposição não  violenta!



No entanto, a Venezuela tem forças militares e populares que não seria prudente ignorar. Se houvesse invasão pelos EUA ou forças mercenárias, a tarefa não seria fácil. Além disso, a Venezuela está hoje de boas relações com as potências mais significativas do ponto de vista económico e militar dos BRICS, a China e a Rússia. Tanto os chineses como os russos já  deram discretos sinais de que não irão ficar passivos perante uma eventual tentativa de derrube do regime venezuelano.

Um império em decadência acelerada já não mete tanto medo, sobretudo após os fiascos militares deste século XXI: Afeganistão, Iraque, Líbia, assim como outras situações em que os americanos foram obrigados a recuar.  Na verdade, as " guerras sem fim" que eles vão criando - incluindo a Ucrânia  - são apenas causadoras  de morte, destruição e dívidas colossais, além de criarem animosidade em muitos povos e governos diversos. Alienaram laços  fortes com a Arábia Saudita, Indonésia e vários países africanos ou latino-americanos. O apoio incondicional ao governo de Israel, nestes dois anos de matança de civis indefesos em Gaza, também contribuiu para que muitos perdessem a ilusão sobre as intenções humanitárias e benévolas de Washington.

Maduro, vendo as provocações constantes, o assassinato dos tripulantes de lanchas, supostamente transportando droga para os EUA (creio que já afundaram 4 desses barcos), percebeu que as forças militares dos EUA se preparavam para  uma invasão da Venezuela. Estas brutais execuções  extra-judiciais de pessoas que os americanos nem sabiam ao certo quem eram, são mais uma prova da hipocrisia do poder imperial. Mas, sobretudo, revelam o intuito de criar o pretexto da agressão («casus belli») e derrube do governo de Maduro.

O fruto pendente das enormes reservas de petróleo e das minas de ouro da Venezuela, devem ter feito salivar os "neocons".  Wolfowitz, um destacado neocon conselheiro de George W. Bush, argumentava (em 2003) que a invasão do Iraque "se pagaria a si própria"  com as enormes somas obtidas na venda de petróleo deste país. Sabemos que não foi assim, mas também sabemos que pessoas gananciosas e estúpidas são capazes de cair duas vezes no mesmo erro. 

De qualquer maneira, se houver guerra, não é  a oligarquia dos EUA que irá pagar a fatura. São os pobres, que irão mais uma vez servir como carne para canhão em guerras do Império Ianque...

A CHINA TERÁ DEZ VEZES MAIS OURO DO QUE RECONHECIDO OFICIALMENTE


 Sendo impossível resumir de forma satisfatória  esta longa entrevista, queria deixar aqui minha opinião  sobre a validade das previsões: 
- De facto, todos nós fazemos previsões  nas nossas vidas e damos crédito a previsões  feitas por outros. Porém, trata-se de balizar os possíveis, tendo em conta o saber acumulado. 
É a este nível que se situa a fraca credibilidade da imprensa mainstream, sobretudo em questões  económicas. 
- Pela minha parte, tenho dado atenção à  questão  do ouro, sobretudo como salvaguarda perante um sistema baseado na dívida, como tem sido o sistema financeiro mundial, no passado  meio-século. 
 O desenvolvimento anómalo dos setores bancário e financeiro, veio criar um ambiente favorável aos especuladores e aos que já eram muito ricos. Enquanto os muito ricos enriqueceram ainda mais, os novos pobres foram-se somando, incluindo nos países  de capitalismo mais dinâmico.  

A contradição aguda entre o vigoroso progresso técnico e científico, em todas as áreas e o alastramento da pobreza sob todas as formas, deveria fazer-nos pensar que o capitalismo se esgotou.
 Deve-se procurar alternativas melhores, mais justas, enquanto formas de produção  e de sistemas sociais e políticos.  
Cabe aos jovens de hoje e às gerações vindouras, a tarefa de inventar alternativas válidas - em termos sociais e humanos - ao tipo de economia e de sociedade que têm vigorado no Ocidente.

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

GROUND em DÓ MENOR por William Croft



 Este Ground em Dó menor foi, durante muito tempo, atribuído a Henry Purcell. Recentemente, foi reconhecido que seu autor é William CroftMuitas pessoas aprenderam este «ground», como sendo de autoria do famoso Purcell. A peça - em si mesma - é uma pequena obra-prima, além de ser uma curiosidade da História da Música ocidental. 
Decidi escolhê-la para ilustrar a técnica de escrita musical conhecida como «a variação». 

No caso do Ground, trata-se de variações baseadas sobre um baixo repetitivo (Ostinato), sobre o qual o tema melódico é tratado de várias maneiras: A variação pode incidir sobre os aspectos melódico, rítmico ou modal.

Desde os inícios da polifonia (Séc. XII-XIII), que um dos processos mais usados na composição, é o da construção a partir de um baixo. Deste baixo, o compositor extraía a textura harmónica, ou seja, a sequência de acordes. A partir do baixo e da voz mais aguda - portadora, em geral, da melodia - procedia-se ao «enchimento», ou seja, compunham-se as vozes intermédias. Estas deslocavam-se em movimento paralelo ou contrário ao da melodia. Esta «receita» para a construção duma peça musical tornou-se muito utilizada desde a época renascentista e dominou a escrita musical no Barroco. Note-se que muitas peças onde não figura explicitamente o termo «variação» no título, são - apesar disso - construídas sobre o referido princípio.

Na música posterior, seja ela Clássica, Romântica, Pós-romântica ou Contemporânea, continuou a ser aplicado o princípio da variação, em múltiplas peças vocais e instrumentais. 


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- EXEMPLOS DE OBRAS BASEADAS NO PRINCÍPIO DA VARIAÇÃO:


AS FOLIAS, DO FOLCLORE AOS MEIOS ARISTOCRÁTICOS


Ária com variações, dita «A Frescobaldina»


FANDANGO- FLAMENCO - FOLIA - PASACALLES - CHACONA 


 Louis Couperin, «Pasacalle em sol menor»






quinta-feira, 16 de outubro de 2025

APOSTILA: SABEREI... [OBRAS DE MANUEL BANET]





Saberei eu... sorrir?

Quando, vestidos de branco

Partilharmos instantes

Poucos, dum último olhar


Saberemos nós guardar

Intimidade num hospital

Indústria de morte asseptizada

Que nos vê como corpos?


Saberei eu ... no momento

Da separação, que seja

Realmente a nova etapa

De nosso amor?


Amor, que seja eu

O primeiro a partir.

Deixa-me adormecer

Sob teu carinhoso olhar


Não consigo viver sem ti

Não por ter necessidades

De qualquer espécie

No vazio da tua ausência


Mas, não saberei

Viver sem ti

Tão simples como isso;

Sem ti, nada faz sentido


Eu não temo a morte,

Mas tua ausência

Porque, agora sei,

És meu fluído vital


Deixa-me crer que a morte

Seja, afinal, a transição.

Pois, Amor, se assim for

Não terei queixumes


Não precisarei de nada

Sabendo que nos veremos

De novo noutra dimensão

As almas emparelhadas


SINDICATO DO CRIME U.S.A.

 



Vale a pena ouvir este diálogo  entre George Galloway e Gerald Celente, caracterizando o regime dos EUA como uma monstruosa empresa criminosa, só diferindo da Máfia num aspecto: É que cometem os seus crimes odiosos à  frente de toda a gente ... e gabam-se das façanhas!!!

REGRAS DE BASILEIA: COMO A GRANDE BANCA TOMOU O CONTROLO


 

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Saga dos neandertais na Ibéria e sua hibridação com H. sapiens



 A imagem popular dos Neandertais como bestas possantes, resistentes a condições adversas, mas de pouca inteligência, veio «explicar» durante decénios a extinção deste grupo de humanos arcaicos, à medida que se espalhava a população dos "Cro Magnon"* que são nossos ancestrais diretos, humanos anatomicamente modernos.

Porém, desde cedo, a imagem de brutamontes dos Neandertais estava posta em causa, pelo facto de existirem várias evidências de importações de tecnologias de talhe da pedra, oriundas dos Homo sapiens, pois estão já presentes em África, antes da última onda migratória para a Europa*. No entanto, essas técnicas foram copiadas e adaptadas por neandertais. As técnicas de talhe «Levallois» são tipicamente de transição entre a cultura Musteriense (típica de neandertais) e de «Homo sapiens sapiens».

Antes de estarem disponíveis as técnicas de análise de ADN antigo, João Zilhão e equipa (1998) levantaram a hipótese de que o Menino de Lapedo (ver vídeo abaixo), possuía inegáveis traços anatómicos de neandertal, embora fosse um «humano moderno».  Zilhão interpreta este hibridismo como sinal de que havia - disseminados na população a que pertencia o menino de Lapedo - genes originários dos neandertais. Tal como acontece com a nossa herança de genes neandertais, os cruzamentos na origem do hibridismo do Menino de Lapedo tiveram lugar muito tempo antes (milhares de anos).

No âmbito da genética das populações é sabido que os genes podem persistir ou desaparecer numa população ao longo das gerações, devido aos efeitos da selecção (selecção «darwiniana»), ou devido ao acaso.  Sabemos que quanto mais distantes no tempo forem os acontecimentos de hibridação  inter- específica,mais os genes importados estarão diluídos nas gerações subsequentes. 

Observou-se uma percentagem maior de genes de origem neandertal em populações atuais da Ibéria, em comparação com a percentagem em populações da Europa Oriental ou Asiáticas.  Este facto reforça um conjunto de evidências de que a extinção dos neandertais foi muito mais tardia na Ibéria, em relação a outras zonas que eles povoaram. 

Os documentários abaixo são interessantes. Em certos pontos, avançam com teorias ou hipóteses, para as quais não existe acordo na comunidade científica. Isso é o normal na ciência, que precisa do confronto de posições para o avanço nas pesquisas, nas investigações no terreno, nos debates teóricos...

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* Os primeiros humanos modernos (chamados de Cro-Magnon) chegaram à Europa há cerca de 45.000 anos. 




 Neandertais SOBREVIVERAM ATÉ 25.000 ANOS ATRÁS 




      CRIANÇA DE LAPEDO : hibridação H. sapiens x H. neanderthalensis


RELACIONADO:






segunda-feira, 13 de outubro de 2025

PRIMEIRO REACTOR NUCLEAR A TÓRIO (NA CHINA, DESERTO DE GOBI) FUNCIONA EM CONTÍNUO

 


Esta tecnologia usa matéria-prima abundante (o Tório), largamente distribuída no planeta, ao contrário do isótopo de urânio utilizado nas centrais atuais. 

A quantidade de Tório disponível no território da China, é suficiente para fornecer eletricidade a toda a sociedade chinesa durante 20 000 anos.

Será uma energia praticamente ilimitada.

domingo, 12 de outubro de 2025

APOSTILA: O Remanescente são Palavras [OBRAS DE MANUEL BANET]

 


Deixa a ridícula miragem

De sermos perpétuos, eternos

Não desprezes um suspiro

Um olhar, ou gesto inacabado


Sermos aquilo que somos

Parece o mais difícil, afinal:

Neste mundo, enganados somos

Pelos espelhos da nossa vaidade


Afinal, a felicidade está no instante,

No efémero, no real ao nosso alcance;

Nesta curvatura do espaço-tempo

Onde cegos e surdos caminhamos


Mas ouvir os sons naturais,

Apreciar uma paisagem intacta

Sem «monumentos» que plantaram

Os humanos na sua ébria vaidade


Colher tais impressões não cansa:

Levo-as para casa, nelas renovo

A misteriosa e potente força

Que a Vida nos oferece


Fecho os olhos e vejo a realidade

Transmutada em sonho único

Que nenhum artifício captaria

Porque o sonho é meu guia


 


Revelado quem sabotou Nordstream


Vladimir Putin, numa conferência de imprensa recente, afirmou que estavam identificados os autores da sabotagem. Seriam os britânicos, dos quais se sabe que têm dos melhores grupos especializados em sabotagens marítimas. Esta sabotagem contou com a monitorização e o provável apoio logístico de navio da marinha dos EUA. As entidades da OTAN estavam com certeza ao corrente, pois a área onde ocorreu a sabotagem tem sido - ao longo dos anos - sujeita a constante vigilância por radar, por satélite, ou por patrulhamento de guardas costeiros da Dinamarca e da Alemanha.
A hipótese avançada pelos responsáveis da OTAN, como explicação para o sucedido, não tem ponta de verosiminhança, a começar pelo facto do iate «Andrómeda» não estar equipado com sistemas de compressão/descompressão necessários para descer os homens a 80 metros de profundidade, e também o facto de não ser tarefa para «amadores», mas apenas para homens bem treinados e experientes, o que implica que teriam de pertencer a um corpo de elite militar.
Quanto à  posição oficial da Alemanha, o chanceler Merz, recentemente, mostrou a sua total subordinação aos americanos e desprezo pelos concidadãos, ao se «regojizar» da sabotagem e de «jurar» que nunca mais haveria ligação por gasoduto com a Rússia. Isto, no preciso momento em que na Alemanha (e noutros países da Europa central), o custo elevado do gás (o gás comprimido americano custa 3 a 4 vezes mais caro que o russo, em gasoduto) tem causado o empobrecimento da população, devido às faturas de gás e eletricidade. Além disso, observa-se a fuga para outros países ou a falência, de muitas empresas industriais. Está previsto para o ano de 2025, um défice do PIB de cerca de 30%.

sábado, 11 de outubro de 2025

O MURO DAS LAMENTAÇÕES - HAVERÁ, DESTA VEZ, RESPEITO PELO PLANO DE PAZ?

Leia AQUI (https://chrishedges.substack.com/p/trumps-sham-peace-plan) o artigo de Chris Hedges, na íntegra.


Praticamente, tudo aponta para um falso plano de paz, tanto mais que um plano sério teria de explicitamente mencionar o estatuto da Palestina como de «Estado soberano», coisa que evita a todo o custo.  
Acho que - lamentavelmente - este «plano de paz» teve mais a ver com a preocupação de Trump em ganhar o «prémio Nóbel da Paz». Reflectindo sobre isto, se ele não o ganhou foi uma injustiça, digo eu. Pois, não só ficaria junto de outros ex-presidentes dos EUA, sem dúvida premiados pelas «pacíficas invasões e guerras que iniciaram ou alimentaram», como de Henry Kissinger, Secretário de Estado sob Richard Nixon, que aconselhou bombardeamentos massivos com napalm nas zonas rurais do Vietname  e organizou o golpe contra Salvador Allende, no Chile em 1973.
O Comité Nobel para a Paz está, há muito tempo, transformado numa espécie de «tambor», ecoando as «virtudes» de personagens do imperialismo americano, ou de seus apaniguados. O último  caso é o Nóbel, atribuído* a Maria Corina Machado, golpista venezuelana.

*Ver artigo por Code Pink, uma organização feminista revolucionária dos EUA.

Alastair Crooke receia - com razão - que este «plano de paz» seja apenas mais «poeira para os olhos», com vista a um ataque surpresa contra o Irão, organizado pelos «pacíficos» Trump e Netanyahu.

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PS1: Aaron Maté Escreve um artigo onde aponta o facto do cessar-fogo entrar em vigor sem que nenhuma das causas subjacentes do conflito tenham sido abordadas.


sexta-feira, 10 de outubro de 2025

COMO É QUE PORTUGAL NÃO FOI ABSORVIDO PELA ESPANHA

 Na realidade, esta questão é um bocado misteriosa para mim, que não sou historiador e tenho ideias demasiado esquemáticas do que foi o Condado Portucalense e todas as relações entre famílias reinantes, de Portugal, Castela e restantes reinos ibéricos, que tanta influência tiveram na evolução da geografia política da Península Ibérica. 

O que me apraz sublinhar é que o estado de guerra não era de todo o mais comum entre os reinos vizinhos de Portugal e Castela. Antes pelo contrário, as casas reais estavam aparentadas por uma série de casamentos entre príncipes dos dois reinos, forma como eram seladas ou consolidadas as alianças, nessa época.  Apenas uma visão maniqueísta coloca os dois reinos ibéricos em contenda permanente. 

Lembremos que o grande período de hostilidade aconteceu no final do Séc. XVI, quando o rei D. Sebastião de Portugal morreu em combate na batalha de Alcãcer Quibir (Marrocos) e foi sucedido pelo Cardeal D. Henrique, o qual não possuía descendência. 

As cortes estabeleceram que o legítimo herdeiro do trono era Felipe IIº de Espanha, tendo os seus exércitos invadido Portugal e derrotado uma fraca resistência militar, fiel ao candidato português ao trono (D. António Prior do Crato, «bastardo» real) e durante 60 anos foi o domínio dos Felipes na coroa de Portugal, não fusionada com a de Espanha, mas mantidos os dois reinos separados, com à cabeça, o mesmo monarca. 

Esta situação agradava a uma parte da aristocracia portuguesa. Por isso não houve grande resistência em Portugal durante a maior parte do período. Foi devido a uma série de acasos felizes que a conjura de 1ª de Dezembro de 1640 teve sucesso. Um facto importante, foi que o exército castelhano estava ocupado - nesse preciso momento  - a reprimir uma insurreição na Catalunha. Esta foi um fracasso, mas o resultado foi que, entretanto, Portugal sob o novo monarca, D. João IV,  teve tempo de organizar um exército próprio e fazer face às incursões espanholas. A guerra «de baixa intensidade» que se seguiu, durou bem até ao reinado de D. João V. Só no  reinado deste monarca português se chegou a uma paz estável com Espanha, com os casamentos de príncipes herdeiros. Nesta ocasião, foi celebrado o casamento entre o monarca espanhol e D. Maria Bárbara de Bragança princesa real, que se tornou assim Rainha de Espanha. 

Porém, os interesses de Espanha e Portugal continuaram a entrechocar-se no continente Americano. Houve combates na América do Sul por causa da delimitação dos territórios das colónias pertencentes a Espanha e a Portugal. Posteriormente, em 1801, na «Guerra das Laranjas» Portugal foi invadido pelo exército espanhol, por iniciativa do primeiro-ministro Godoy e nas boas graças do Consul vitalício, Napoleão Bonaparte.  

Durante a terrível guerra civil espanhola (1936-39), participaram forças portuguesas, de um lado e do outro: são conhecidas participações diretas de comunistas e de anarquistas nas milícias republicanas; do lado falangista, também houve voluntários. Esta guerra ocorreu já durante a ditadura de Salazar (1932-1968). Ele e o seu regime eram totalmente favoráveis aos insurrectos comandados por Franco. Quando algum «rojo» atravessava a fronteira para Portugal, era quase certo que seria apanhado, entregue aos falangistas e executado.  

No período pós-25 de Abril de 74, houve grupos (ELP, MDLP) de portugueses contra-revolucionários (grupos armados, praticando atos terroristas)  que se acolheram em Espanha, onde ainda vigorava o regime falangista. 

Mais tarde, aquando da adesão de Portugal e Espanha à então CEE, havia um certo preconceito dos eurocratas e dos principais países membros formando então «o Mercado Comum», em colocar Portugal e Espanha «no mesmo barco». Isto porque viam maior vantagem na adesão da Espanha com a sua indústria, agricultura e relações com a América-Latina. 

Porém, acabaram por encontrar uma fórmula, em que as indústrias portuguesas com maior potencial foram entregues, como «prenda de casamento da CEE» ao país vizinho. Os espanhoís puderam desenvolver em Portugal uma estratégia agressiva de aquisições em vários sectores, na indústria, nas pescas, no imobiliário, etc. O resultado foi o acentuar da «terceiro-mundialização» de Portugal, como se pode verificar até hoje. 

Nos períodos em que Portugal fez face a Espanha, em geral, tinha o apoio duma grande potência, como o Reino Unido ou a França. Também nestas circunstâncias, Portugal teve de ceder muito a seus aliados, não só no seu império colonial, como em relação ao comércio da metrópole: por exemplo, os britânicos conseguiram obter exportações em exclusivo de uma série de artigos para o Reino lusitano  e obtiveram o exclusivo do cultivo e exportação dos vinhos do Porto, da transformação das lãs da Covilhã, etc. 

Pode dizer-se que o Portugal do século XVIII já tinha características de neocolónia, embora fosse - ele próprio - um império colonial. Mas o colonialismo português foi, quase sempre, subordinado a interesses estrangeiros até ao final do período colonial. Com efeito, eram numerosos os empreendimentos agrícolas, industriais e mineiros, nas colónias portuguesas, entregues a parceiros da OTAN (EUA, Reino Unido, França, Bélgica...). Também na metrópole,  durante o período da ditadura de Salazar, as grandes empresas com lucros assegurados eram britânicas, alemãs, estado-unidenses, francesas e doutros países. 

O regime de Salazar e Caetano oferecia as bases estratégicas (as bases aéreas das Lajes, Açores e de Beja) às forças armadas de países da OTAN. Estas, tinham, graças a estas bases,  a possibilidade da sua aviação alcançar pontos estratégicos no Médio Oriente. Em contrapartida, Portugal recebia destes países apoio diplomático dentro  da ONU e noutras instâncias, assim como armamento.

As armas, aviões, carros de combate, etc. fornecidos, eram muitas vezes em segunda mão ou modelos que já não eram usados pelos países doadores (por exemplo, aviões da guerra da Coreia, dados pelos americanos). 

As guerras do período colonial foram guerras «proxi», em que os soldados eram portugueses, mas a grande maioria do equipamento provinha de aliados da OTAN. Quanto aos interesses defendidos, estes eram claramente os dos grandes empórios estrangeiros e da política hegemónica dos EUA, em confronto com o campo socialista e os movimentos anti-coloniais. 

Portugal, em conclusão, é um país muito dependente, quer dos seus parceiros da UE, quer dos seus aliados mais fortes da OTAN. Configura-se uma situação neo-colonial, em que é  mais vantajoso para os senhores feudais (o grande capital internacional) que Portugal permaneça como país nominalmente independente.