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sexta-feira, 17 de outubro de 2025

GROUND em DÓ MENOR por William Croft



 Este Ground em Dó menor foi, durante muito tempo, atribuído a Henry Purcell. Recentemente, foi reconhecido que seu autor é William CroftMuitas pessoas aprenderam este «ground», como sendo de autoria do famoso Purcell. A peça - em si mesma - é uma pequena obra-prima, além de ser uma curiosidade da História da Música ocidental. 
Decidi escolhê-la para ilustrar a técnica de escrita musical conhecida como «a variação». 

No caso do Ground, trata-se de variações baseadas sobre um baixo repetitivo (Ostinato), sobre o qual o tema melódico é tratado de várias maneiras: A variação pode incidir sobre os aspectos melódico, rítmico ou modal.

Desde os inícios da polifonia (Séc. XII-XIII), que um dos processos mais usados na composição, é o da construção a partir de um baixo. Deste baixo, o compositor extraía a textura harmónica, ou seja, a sequência de acordes. A partir do baixo e da voz mais aguda - portadora, em geral, da melodia - procedia-se ao «enchimento», ou seja, compunham-se as vozes intermédias. Estas deslocavam-se em movimento paralelo ou contrário ao da melodia. Esta «receita» para a construção duma peça musical tornou-se muito utilizada desde a época renascentista e dominou a escrita musical no Barroco. Note-se que muitas peças onde não figura explicitamente o termo «variação» no título, são - apesar disso - construídas sobre o referido princípio.

Na música posterior, seja ela Clássica, Romântica, Pós-romântica ou Contemporânea, continuou a ser aplicado o princípio da variação, em múltiplas peças vocais e instrumentais. 


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- EXEMPLOS DE OBRAS BASEADAS NO PRINCÍPIO DA VARIAÇÃO:


AS FOLIAS, DO FOLCLORE AOS MEIOS ARISTOCRÁTICOS


Ária com variações, dita «A Frescobaldina»


FANDANGO- FLAMENCO - FOLIA - PASACALLES - CHACONA 


 Louis Couperin, «Pasacalle em sol menor»






quinta-feira, 29 de junho de 2023

HENRY PURCELL: DIDO AND AENEAS

Dido and Aeneas, de Henry Purcell: 



Uma joia cénica e musical da ópera: WAYWARD SISTERS

Nesta ópera*, H. Purcell reúne todos os elementos dramáticos, para construir um monumento barroco que resiste muito bem à passagem do tempo.  

A bruxa chama as suas irmãs para lançar a maldição sobre Cartago, da qual Dido é a rainha.  Através das Wayward Sisters é representada uma conspiração, nesta cena e seguintes. 

https://www.youtube.com/watch?v=hzvgpCZ6rxM&list=OLAK5uy_lJokTwIL2ajsgOayUyKP12vw-77bT73ic&index=14



Purcell é realmente um monumento ímpar, em toda a cultura europeia do século XVII. Se o virmos como participante do grande movimento barroco europeu, não apenas como expoente da música das Ilhas Britânicas, temos de concluir que representa um passo decisivo para a modernidade plena. Um músico charneira, num certo sentido, mas certamente original, quer na música instrumental, quer na ópera. A inovação estilística é muito significativa, embora não pretenda entrar em ruptura com a tradição, mas apenas alargar a expressão das paixões humanas. Aplica-se plenamente a designação «drama em música», utilizada em Itália na viragem do século XVI para o séc. XVII, para a ópera. A ária celebérrima «When I'm laid in earth» (Ato III, cena 2), da mesma ópera, tem ocultado esta joia de negrume das bruxas lançando sua terrível maldição sobre Cartago... Faz-me pensar nas bruxas de «Macbeth» de Shakespeare, embora Purcell não tenha composto a ópera a partir da peça do dramaturgo.

Haendel reconheceu a qualidade dramática e musical de Purcell, criador da ópera em língua inglesa. Embora as óperas de Haendel sejam compostas em italiano - para satisfazer a moda da sua época - moldou magistralmente a matéria musical em língua inglesa, nas suas oratórias.

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segunda-feira, 23 de agosto de 2021

[Miguel Rincón] "Fandangos" ca. 1730

 

"Fandangos" Santiago de Murcia, Codex Saldívar, ca. 1730

É interessante estudar o caso do fandango: Uma dança popular, com raízes tanto em Portugal como em Espanha, inicialmente «mal vista pela igreja». Mas, devido à moda que se alastrou na corte, ela tornou-se uma das danças mais frequentemente estilizadas no século XVIII. Ao longo do século XVIII, muitos músicos, como Bocherinni, Domenico Scarlatti, ou o Padre António Soler, compuseram fandangos. Além das peças designadas como «fandango», a voz do baixo desta dança serviu para se comporem muitas variações, como o Ground in C de Purcell.
O instrumento mais utilizado foi a guitarra de 5 ordens, na qual Miguel Rincón interpreta os fandangos dum manuscrito do início do século XVIII.
A estrutura musical do fandango é bastante simples e possui afinidades com outras danças estilizadas ibéricas*, nomeadamente:
La Folia é, das danças ibéricas, a mais utilizada nos séculos XVII e XVIII, incluindo músicos não-ibéricos como Corelli, Marin Marais e outros. Ela própria deriva de Guardame la Vacas; no século XVI, esta canção foi transcrita para instrumentos de corda e de tecla, sob forma de «tema e variações».
Canários: uma dança popular desta época, cujo nome indicaria ter sido trazida do (ou associada de algum modo ao) Arquipélago das Ilhas Canárias.

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* Oiça várias danças estilizadas de Santiago de Murcia: