terça-feira, 11 de fevereiro de 2025
Obras Vol. I, II & III: «Todas as Manhãs do Mundo»
sábado, 1 de fevereiro de 2025
domingo, 29 de dezembro de 2024
OPUS. VOL. III, 33: SOBRE A ARTE POÉTICA
[P.S. , AS PALAVRAS POÉTICAS E SUA INTERPRETAÇÃO]
POESIA E JOGO
Na continuidade da pesquisa sobre aquilo que faz com que algo seja considerado poesia ou não, há uma característica que não é demais enfatizar: O efeito do inesperado.
Um poema pode ser muito bem construído, harmonioso, etc, mas não estimular a atenção do auditor/leitor. Essa coisa que falta, chama-se imprevisto, aleatório, surpresa... Uma quebra no discurso, assim como nos acontecimentos descritos. O imprevisto é fundamental, tanto em poesia como em música. E a poesia é, no fundo, uma forma de música.
Outra circunstância esclarecedora em relação à importância do acaso em poesia, é o mecanismo do riso. Certas histórias são engraçadas, desencadeiam o riso: Reconhecemos-lhes qualidade humorística, enquanto outras, não. Aquilo que torna uma história humorística, é possuir elementos completamente imprevisíveis, mas da ordem do verosímil. Temos aqui uma componente poética frequente em narrativas em prosa, o conto ou o romance.
Afinal, nem o conteúdo, nem a forma, nos permitem concluir da qualidade poética duma produção. O "tour de force" poético, consiste na formulação, em apenas um verso ou estrofe, de algo complexo ou subtil, que precisaria de mil palavras para ser descrito analiticamente. Neste último caso, haveria perda total do encanto poético.
É por isso que, embora seja possível traduzir automaticamente através de algoritmos, uns pedaços de prosa, tal é impossível com poesia verdadeira: Nesta forma mais elevada de literatura, quase nao sera possivel uma tradução. Só por analogia ou semelhança, mas não literalmente, poderá a obra-prima poética ser traduzida. Mesmo que a tarefa seja levada a cabo por alguém com profundo conhecimento de ambas as línguas; a língua original e a da tradução.
Empiricamente, podemos confrontar uma tradução realizada por «robot», com a de um humano, tradutor qualificado: Se o texto poético traduzido for «pesadão», sem as subtilezas do texto original, podemos apostar que é produto de um algorítmo; se não colar exatamente ao texto original, mas transmitir a atmosfera poética deste, então terá «mão humana». Uma boa tradução é também um ato de criação literária.
POESIA E INTERPRETAÇÃO
Há que diferenciar entre interpretação e adaptação:
- É uma diferença muito evidente em música: Pode haver fidelidade à obra musical, com a sua execução noutros instrumentos, que não aqueles para os quais o compositor ideou a partitura. No domínio musical, fala-se então duma adaptação.
A interpretação de uma peça musical, refere-se a algo muito diferente: Será a forma de traduzir em discurso musical o que está na partitura; a interpretação pode servir bem a ideia do compositor, ou pode afastar-se, ao ponto de deturpar a peça em causa. Por isso, ao estudar-se música antiga, é indispensável conhecermos as convenções interpretativas, as regras implícitas de uma dada época.
Na poesia declamada, deve procurar-se a inteligibilidade imediata do texto. Nos textos antigos, é lícita a atualização de certos termos, assim como da fonética. O poema tem de ser inteligível. Deve dar-se prioridade à articulação da palavra, em relação aos efeitos expressivos. Nos textos cantados, porém, esta prioridade pode não existir, em certos casos: Por exemplo, em cantos litúrgicos com textos em latim, as palavras podem ser incompreensíveis, devido às complexidades da polifonia. Nas óperas, a compreensão imediata das palavras não é essencial, pois supõe-se que o público conheça o enredo e que vai ao espectáculo mais pelo seu lado musical, do que pelo teatral.
sexta-feira, 20 de dezembro de 2024
OPUS VOL. III. 32: MEDITAÇÕES FILOSÓFICAS
Podes ignorar a questão, admitir que não nos diz respeito. Ficamos a olhar o rio escoar-se suave ou agitado. Muitos ignoram a complexidade dos ecossistemas, que não sejam o seu.
Por que se preocuparia um bovino com o que há na profundeza do rio? Só lhe interessam os pontos onde pode beber ou os vaus, para chegar à outra margem, onde se encontram ervas frescas.
A CRIAÇÃO É DESVIO CRIATIVO, MAS A SOCIEDADE PRECISA DE ESTABILIDADE. ISSO NÃO É O MESMO QUE RIGIDEZ, ESTA É O ATRIBUTO DOS CADÁVERES.
PORÉM, A RUPTURA CRIATIVA ARRISCA TORNAR-SE NUMA DERIVA CAÓTICA. ENTÃO, É NECESSÁRIO UM HOMEM AO LEME.
SEREMOS OS TIMONEIROS DA BARCA DO NOSSO SER.
quinta-feira, 12 de dezembro de 2024
OPUS. VOL. III. 31: AS PALAVRAS SÃO NOSSAS AMIGAS
As palavras são nossas amigas
Mas, como nossas amigas também
Podem levar-te ao engano
Não por maldade, nem perversidade,
Mas porque a complexidade
É tal que nós cremos numa coisa
E, afinal, não era nada disso
Igualmente, as máquinas são nossas
Amigas, foram feitas e concebidas
Por mãos e cérebros humanos
Para nos ajudar nas mais diversas
Atividades: resultaram
De muito esforço e inteligência.
Desprezar as máquinas é
Não compreender o que são
Desprezar a cultura, a arte, a ciência
São atitudes equivocadas
Elas baseiam-se numa visãoMágica; a de que as coisas
Têm vontade própria
Que têm intenção
Que são animadas
As crianças pequenas
Podem pensar assim.
Mas os adultos, como é
Possível?
Eu creio que o auto-engano
Leva as pessoas a crer
Naquilo que lhes dá
Mais conforto intelectual
Ou emocional
Aquilo que lhes diminui
O sofrimento
- Mas Saber
É ser modesto, humilde
Porque saber é como
Uma faísca que ilumina
Brevemente a escuridão.
12 de Dezembro de 2024
quarta-feira, 27 de novembro de 2024
OPUS VOL. III, Nº30: DESTINO ERRANTE
deste imóvel viajante de viagens estelares
Arrastando ilusões entre fantasmas irónicos
destroço de barca encalhada em praia remota
Cego contando contos à criança sábia
em dias iguais confundindo os passos
Ou voando com as aves migratórias
sobre horizontes em brasa de ocaso
Cumprindo a promessa de peregrino
de ir por bosques, rios e mares, sempre
pela senda sem parar, até ao seu destino
Coração e alma nus, na ficção do real.
sexta-feira, 8 de novembro de 2024
OPUS VOL.III Nº29: DESALMADA
Caminha pela rua, bamboleia-se
Ao ritmo da música dos auscultadores
Imagina-se a deslizar numa onda,
Surfando sobre a música, quase voando
Voando pelos ares irradiando energia
Não vê nada além do sonho
O sonho sem os limites do mundo
Tudo o que tem de fazer
É mover o corpo, esse avatar
Obedecendo ao ritmo
Que se desprende incessante
Obsessivo, hipnótico
E, muito mais que isso,
Um espesso vidro, inquebrável
Vive no simulacro do corpo
Mas habitado pelo som
Em todas as moléculas
Vibra e ondeia no espaço
No interior/exterior
Da sua fantasia
Evolui em espirais
Pelo espaço-tempo
Ao ponto muito elevado
De onde observa a rua
Com a sua banalidade
E as pessoas cansadas
Ou vagarosas, distraídas
Ou pensativas, raivosas
Ou sorridentes, enfim
Se elas soubessem
Se elas acordassem
Se elas escapassem
Coitadas...
Só que nunca o fazem!
Um vulto no passeio
Avança com passos
Cadenciados gestos
Nos dedos e nas mãos
Trejeitos na boca
Oscilando a cabeça
Possuído pela música
Indiferente ao resto
sábado, 26 de outubro de 2024
OPUS VOL. III nº 28: IMPENITENTE
Há um cadafalso que te espera
Impenitente verdadeiro
Fugidio relapso
Insensato herege
Amante da vida 'té à morte
"Ela que entre" dizes, sorrindo
"E nos teus braços se extinga
O fraco pulsar do coração".
Murtal, Parede
Outubro, 2024
OPUS. VOL. III nº27: REGISTO
Vivi em parte incerta, em tempo remoto
Dos humanos desprezado, confidente dos bichos
Sua língua falei; foi também a minha
Desenhei quantas nuvens se desdobram no céu
Fui escrivão de sonhos, as palavras eu comi
E o vento, d'erva fresca temperado, eu bebi
Debaixo de terra permaneço; aqui fico
Tranquilo espero a eternidade.
quinta-feira, 24 de outubro de 2024
OPUS VOL. III. Nº26: METAFÍSICO
Ah, pudesse eu mais que em sonho abraçar-te
Se estivesses comigo agora, sentindo teu respirar
Ser ou não ser, não importa mais qu'este sofrer
O destino frio desta matemática ausência
Por que persigo o impossível com a aplicação
Dos loucos ou dos heróis, não posso desculpar-me.
A sombra que somente eu vejo não me esconde
É um sudário que recobre levemente o cadáver
Mas no espaço de infinitas dimensões, quem sabe?
Talvez nos encontremos, um átomo, um instante
Na impulsão de sonhar que nos propulsiona
Talvez nos encontremos em uma vida paralela
Á beira mar, com suave brisa e serena plenitude
Unida alma fluirá, bailando no céu de estrelasdomingo, 13 de outubro de 2024
OPUS VOL. III, nº25: SECRETOS PENSARES
SE nosso espírito no corpo se compraz, é que estamos de boa saúde
SE pudesse voltar ao passado, já não seria o passado mas outro presente
SE hoje sou como sou, à história do mundo e do universo o devo
SE caminho pelos bosques e veredas, não admira que seja bicho do mato
SE a felicidade é ausência de dor, escolhi não ser feliz e loucamente amar
SE estes versos te parecem estranhos, percorre mais um pedaço da vida
SE o espanto da Natureza te assalta, é porque a criança em ti não morreu
SE alguém me ignora, eu não levo a mal; ele será incompatível comigo
SE a vida duns vale mais ou menos que a doutros, só Deus o sabe.
SE , no entanto, queres um conselho meu, segue o teu caminho
terça-feira, 8 de outubro de 2024
OPUS VOL. III, nº 24: VERSOS RECOLHIDOS NOS ESCOMBROS
Tantas luzes se consumiram
Nos fogos fátuos, na escuridão
Tantos corpos se quebraram
Num sopro, rente ao chão
Tantas vidas viveram
No Universo eterno
Tantos amores escolheram
Serem felizes no instante
Tantos falharam. Dizem
Aqueles que nem tentaram
Descolar os pés do chão
Promessas de Prometeus
Brotaram obras nos cumes
Que os deuses para si
Mesmos reservavam
Por tudo isto e muito
Mais, nos confrontam
Águias depenadas
Dominam
Ovelhas humanas
E aos penhascos as lançam
Pelo prazer de rasgar
Suas carnes tenras
Algum dia virá o fim
Das pulsões de morte
Algum dia chegará
Em segredo, o Eros
Que vencerá o obscuro
Dentro dos humanos
Algum dia regenere
A Terra-Mãe
Dos estragos
Causados apenas
Por alguns, poucos
Mas que todos
Estamos sofrendo
Só há dois possíveis:
Ou projetas teu ser,
Ou constróis, instante
A instante, o presente
De cada um e de todos
A construção, aqui e agora
Do Mundo Humano
É sempre possível
Mas fizeram-nos descrer
Homens, desta saída
Atirando a felicidade
A justiça e igualdade
Para o futuro incerto
Os poderosos enganam
Os povos, arrastados
Por novas/velhas utopias
Á procura de paraísos
Na Terra ou no Céu
Só se podem libertar
Aqueles que percebem
Como seus corações
Foram escravizados
Logo, libertos
No cosmos infinito
Voarão como anjos
Mas de carne e osso
Ensinando aos outros
A voarem, também
quarta-feira, 25 de setembro de 2024
OPUS VOL III, 23: ILUSÃO
Peguei no telemóvel
Marquei aquele número que me disseram
Uma voz maviosa respondeu
Ouvi um longo desfiar de frases
Que me preveniram supostamente
De todas as infrações / penalidades
Eximia-se de qualquer responsabilidade
E eu apenas tinha de dizer "sim"
Por fim, após uma musiquinha
Que se repetiu quinhentas vezes
Veio a voz (real) de alguém
Um homem que se identificou
Mas não percebi seu nome
Da maneira como o pronunciou
Apenas queria saber o meu nome
Completo, meu número da Seg. Social
Número fiscal, data de nascimento
E depois perguntou-me:
"O que deseja?"
Já não sabia se desejava
Falar com alguém assim.
Afinal, tinha sido impulsionado
Por um agudo sentimento
Como se fosse uma vertigem,
Um mal-estar, de impotência
Para continuar a arrastar
Comigo a sombra do passado
E de encarar o presente.
Estava realmente na ponta
Final da luta comigo próprio,
Mas a fatalidade jogava
Tudo para me empurrar
Para dentro dum poço
Sem fundo de meu
Desespero...
Não encontrei palavras
Para lhe responder.
Os pensamentos atravessavam
Meu cérebro como raios
U.V. e nem ouvia já
Aquela voz insistente
Ao meu ouvido
Que me repetia
De maneira polida
"O que desejava ?"
Por fim, disse-lhe:
- Desculpa , não é nada.
E desliguei.
quinta-feira, 12 de setembro de 2024
OPUS. VOL. III, 22 DIÁLOGO ENTRE O REFLEXO E O REFLETIDO
- Se tu sabes, não digas.
- Confesso que não sei
Ignoro tudo, nada sei
Se olho prá Lua
Vejo um queijo
Cada coisa é nova
Inédita, um mistério
Um inexplicado
Movimento
Sem causa aparente
- Muito bem, rapaz:
Vejo que aprendeste
Bem e depressa;
Mas, ainda melhor
É ficares calado.
domingo, 11 de agosto de 2024
OPUS VOL. III 21: AGUARELA
Recolhe mais tinta no tinteiro; aplica curtos traços
Nos intervalos brancos do papel; surge uma figura
Uma paisagem, um céu que se destacam do fundo
Como se sempre lá estivessem, mas invisíveis
Esta arte de pintar é toda em subtileza
A mais ambiciosa, na modéstia dos meios usados
Não admira que vejam nela meditação profunda.
Os esfumados que nos dão a espessura, os vazios
Que se enchem de luz, as linhas apenas sugeridas,
Os relevos de corpos gráceis ou pesados
As humanas formigas que descem a colina
Encosta abaixo, até aos telhados de colmo
Arte pensada, imaginada, antes de executada
Toda ela tensão entre o interior e o exterior
Poesia realista e onírica que mais aprecio
Mas que nunca alcançarei!
sábado, 27 de julho de 2024
OPUS VOL. III, 20: A CINZA DE GAZA
Já não restam lágrimas, só cinzas
Que sobre as cabeças caem
Vindas do céu mortífero
Da crueldade despejada
Sobre a cidade esventrada
Vê-se nos écrans digitais
Olhos vidrados já não veem
Outros olhos não querem
Outros são indiferentes
O sangue das vítimas
inocentes espalha-se
Sobre as pequenas cabeças
Ensopa-lhes os cabelos
Escorre pelas faces
A degradação humana
Atinge esta civilização
Ela perdeu o senso moral
Demasiado poderosa
Totalmente impiedosa
A monstruosidade
e a cobardia
Não se apagarão:
Estão para sempre
por cima das cabeças
Dos que cometem
Dos que abençoam
Dos que viram a cara
Haverá cinza suficiente,
Suficiente para enterrar
A cinza dela própria
Sua autodestruição
Material e simbólica?
domingo, 7 de julho de 2024
OBRAS VOL. III, 19: IRREVERSÍVEL
Fotos desbotadas, imensa tristeza que vem da lonjura
Enterrada na presença pungente que dilacera o espírito
Viver com lastro de tantas recordações, tantas presenças
Ausentes para sempre, que povoam as memórias
Algo que nunca imaginei na juventude , o mundo
Parecia estável apesar de todos os redemoinhos
Mas foi retirando os entes que eu amava
Restando apenas a distância incomensurável
De um passado e todo o absurdo de sermos
Passageiro único de um imenso navio
Ou dum longo comboio sem vivalma
Atravessando planícies monótonas
Para destino nenhum , velozmente.
E o passado, em sonhos esfarrapados
Que me agitam e fazem acordar,
Desfila em sequências caóticas .
Aprendi então a viver no meio
De meus fantasmas familiares
E , enquanto posso, vou saboreando
Os instantes poucos que me restam
De alegria e gratidão, que sabedoria
Me dá, agora que juventude se foi.
segunda-feira, 17 de junho de 2024
EROTISMO NA CANÇÃO (Segundas-f. musicais nº5)

MOI VOULOIR TOI
Pour décoller d'la planète
y a des plans plus ou moins nets
comme les piqûres en cachette
l'alcool et les cigarettes
y a des pilules, des tablettes,
des salades sans vinaigrette
moi je suis toujours à la fête
chez toi
pour décoller d'la planète
et s'envoler à perpète
j'ai la meilleure des recettes
moi vouloir toi
moi vouloir toi
de haut en bas
de bas en haut
sans bas ni haut
sans haut ni bas
moi vouloir toi
pour décoller d'la planète
autrement qu'en superjet
qu'en soucoupe ou en navette
en yogi ou en ascète
pour perdre carrément la tête
sans presser sur une gâchette
exclusif, je regrette
moi vouloir toi
moi vouloir toi
de haut en bas
de bas en haut
sans bas ni haut
sans haut ni bas
moi vouloir toi
moi vouloir toi
de haut en bas
de bas en haut
sans bas ni haut
sans haut ni bas
moi vouloir toi
moi vouloir toi
de haut en bas
de bas en haut
sans bas ni haut
sans haut ni bas
moi vouloir toi