Uma peça plena de subtileza e de força, que nos vem lembrar a enorme dívida da música ibérica e europeia à herança árabe. Este entrecruzar de várias tradições e o diálogo entre elas, são a nossa maior esperança de um futuro melhor.
Na sua simples genialidade, nada pode ser mais tranquilizador para o meu espírito, do que ouvir, com toda a atenção e devoção, este prelúdio.
Com efeito, ele é extremamente simples, na sua concepção: acordes quebrados, que se sucedem até atingir o auge e depois se resolvem num acorde perfeito em dó maior.
Sim, para a Semana Santa também vêm a propósito as duas Paixões (segundo S. João e segundo S. Mateus), monumentos de grande envergadura, com coros, solistas e orquestra.
Mas hoje, prefiro entregar-vos esta pequena jóia musical, este pequeno refúgio de beleza e espiritualidade.
Já todos os raios de Sol se vão extinguindo, além do horizonte coado de nuvens. O halo do astro de luz não se desfaz logo totalmente.
No firmamento, mesmo por cima de nossas cabeças, uns gansos grasnam, ao voarem para seu refúgio de Inverno.
Tudo parece imaterial. A pouco e pouco, desce um manto azul profundo, mais espesso no Oriente.
As estrelascomeçam a acender-se, a brilhar com maior intensidade, cada vez mais cintilantes.
No silêncio, cortado pelos apelos das aves nocturnas, cada instante toma a dimensão de um espectáculo solene, à medida que os últimos reflexos de luz solar se extinguem por completo.