[OBRAS DE MANUEL BANET]
Algures, sobre a Terra
Existe um povo feliz
Um povo que está em harmonia
Consigo próprio e com seu Criador
Que cuida do jardim da Natureza
Com a simplicidade de um filho
Que cuida de sua Mãe.
Seus filhos e filhas crescem livres
Não sabem o que é opressão
Palavra ausente do seu vocabulário
Suas canções recordam gestas
Do passado tumultuoso que viveram
Os antepassados. Mas, de resto,
Não têm memória duma guerra
Sabem o que é a paz, porém
Isto parece impossível
Aos velhacos e perversos indivíduos
Que tudo escarnecemos, destruímos
Deitamos um manto de mentiras
Sobre inúmeros crimes hediondos
Somos de tal modo estúpidos
Que não sabemos o que é melhor
Para nós, para o nosso futuro
Mas somos orgulhosos dum saber
O saber técnico, que nem dominamos
E se não acreditam no que digo
Não faz mal, nem me surpreende
Também não irei dar-vos pistas
Seria a forma de destruir o povo
De que vos falo.
É possível que existam mais como ele
Eu quero acreditar que formam
O núcleo a partir do qual a humanidade
Algum dia, noutro século, ou milénio
Regresse à sua vocação primeira
E cuide do paraíso terreal
Ter a custódia, não é a posse,
Não é a propriedade
Daquilo que é de todos
Não há dúvida que isso é assim
Pelas Leis da Natureza e pela Razão
Pelas quais se guiam, sábios,
Os povos sem história, os povos felizes.
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Murtal, Parede, 13 de Junho de 2022