Como vivem as pessoas
São iguais a ti e a mim
Mas elas parecem movidas
Por estranhos impulsos
Movia-me num sonho
Daqueles em que a pessoa
Vive como na realidade
Onde tudo acontece
Eu falava com as pessoas
E elas respondiam-me
Naturalmente, sem mistério
O sonho, denso, parecia real
Tudo se movia no quotidiano
Nem estranho, nem encantado,
Somente a banalíssima
Vida que todos nós tecemos
Porém, algo, não sei bem o quê,
Apoderou-se do meu espírito,
Quis rasgar o véu ilusório
Daquela realidade fictícia
Ao abrir uma porta, recebi
O fôlego poderoso do espaço
E do tempo, das cores e dos sons
Dos movimentos das ondas
... Das falas entrecruzadas
Num mercado ao ar livre
Do brouhaha indistinto num café,
Do caminhar da sombra...
Senti então um imenso desgosto
Como se tivesse abandonado
O verdadeiro mundo
Como se ele não fosse sonhado
Durante algum tempo senti
Nostalgia dos meus devaneios
Mas, por fim fiquei em paz
Com o mundo e o meu ser:
Tudo o que existe é sonho
Sonhado. Podemos dele sair
Para logo entrar noutro.
A realidade é um efeito
Ela tem o poder da ilusão
Tudo o que se vê acordado
É uma representação
Nada mais, um teatro
Se nos conformamos
Com o nosso papel,
Seremos bons atores
Na peça chamada Universo