O grande mestre que foi Andrés Segovia deu o pleno brilho da guitarra espanhola em suas interpretações, elas próprias, monumentos da música. Francisco Tarrega pertence ao grupo de grandes compositores para este instrumento, da segunda metade do século XIX e princípios do século vinte.
Foto: Andres Segovia
Apogeu e decadência da Civilização Ibérica
Esta peça, muito conhecida, convida-nos a considerar o fausto e o requinte da civilização Islâmica, que se estendeu pela maior parte da Península Ibérica e que durou vários séculos.
Esta cultura, não só artística, como também científica, permitiu que este espaço ibérico fosse ocasião para o chamado Primeiro Renascimento, que ocorreu em pleno período medieval: Este renascimento corresponde ao período de maior florescimento da cultura árabe na Península Ibérica, em que obras de historiadores, filósofos, matemáticos, etc. da Antiguidade foram estudadas, graças às traduções em língua árabe, feitas a partir de originais gregos, muitos dos quais se tinham perdido.
Além da herança árabe, a Península foi testemunha do florescimento da cultura judaica. A tradição cristã, muçulmana e judaica, todas as três culturas e religiões, apesar das cruzadas e outras catástrofes que assolaram o mundo medieval, encontraram maneira de não só partilharem os mesmos espaços, como de se fecundarem reciprocamente, dando origem aos dois reinos (Portugal e Castela) mais poderosos da época, enquanto «condensados de cientistas». Os grandes projetos de expansão marítima - tanto de portugueses como de castelhanos - não seriam possíveis sem uma sólida base científica e técnica.
Os reinos Ibéricos reuniram um escol de cientistas de várias proveniências; físicos, astrónomos, geógrafos, aos quais se somavam homens de grande saber e perícia técnica, nas artes de marejar, na construção naval, na medicina, na botânica, etc. juntamente com um «saber de experiência feito» de mercadores e aventureiros.
As duas grandes expulsões - dos judeus e dos mouros muçulmanos - foram decretadas pelos reis ibéricos. Os poderes reais queriam deste modo agradar ao alto clero e ao Papa.
Na realidade, foram desastres porque cortaram estes reinos de boa parte da elite científica e erudita dos mesmos. Foi um empobrecimento cultural brusco, por fanatismo ou por gula de poder.
As guerras - nessa época - eram supostamente contra os «infiéis» mas - sobretudo - faziam-se com intuitos de conquista territorial e de monopólio das rotas comerciais, tão cobiçadas.
Assim, os reinos ibéricos, pouco tempo depois do momento de maior expansão (finais do século XV, princípios do século XVI), sofreram processos brutais de expulsão de parte das suas gentes, que incluíam justamente as elites intelectuais e científicas, que tinham contribuído para essa mesma expansão. Assim se explica que os primeiros sinais de decadência, se tenham manifestado pouco tempo depois do apogeu, com apenas um ou dois decénios de intervalo.
A cultura, a civilização, ganham com o entrecruzamento de várias tradições; com um espírito de tolerância e respeito pelas heranças culturais doutros povos. É algo que não se pode impor; aliás, aconteceu naturalmente, mesmo no contexto da rivalidade entre a Cristandade e o Islão. Faço notar que o povo judeu, nessa época, desempenhou papeis muito relevantes para os reinados cristãos. Os sábios judeus eram muito respeitados por cristãos e muçulmanos, ao mais alto nível. Mas o fanatismo religioso (neste caso, católico) ameaçou de excomunhão os reis e os reinados que tivessem tolerância para com outras religiões.
A expulsão ou conversão forçada de judeus e de muçulmanos foi uma terrível tragédia para estes; mas, além disso, esteve na origem da perda de influência, da incapacidade de sustentar os impérios comerciais que tinham sido formados, sobretudo, no Oriente.
Em suma, as intolerâncias foram causa profunda da decadência que rapidamente se verificou, a todos os níveis: científico, militar, demográfico, económico.. .