O padrão de liberdade da nossa época, segundo os poderes estatais: «podes pensar o que quiseres, desde que faças o que te ordenarmos»
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terça-feira, 22 de abril de 2025

QUANDO A ÁRVORE ESCONDE A FLORESTA



 Desde o famoso dia «da libertação» de 2 de Abril, decretado pelo Presidente Trump, todo o mundo tem estado em sobressalto com a «guerra tarifária». O que não faltam são análises sobre a iniquidade destas tarifas alfandegárias, a sua inadequação, o modo grotesco como são calculados os desequilíbrios comerciais entre os vários países e os EUA. 

Também se tem denunciado (com total razão, aliás) a falácia de que um défice comercial revelaria uma «exploração» do país comercialmente deficitário, exercida pelo que tem um superávit. Tudo isto se discutiu até à exaustão.

Porém, as subidas unilaterais das tarifas são uma «enorme bomba malcheirosa», deitada no meio das relações  económicas internacionais pela potência em declínio. Os EUA ficaram claramente ultrapassados, em termos de mercado mundial, nas mais diversas categorias de mercadorias, mas sobretudo nas que significam domínio em áreas de ponta:

- Os micro-processadores (os microchips que equipam tudo desde máquinas de lavar a mísseis superssónicos)

- A "IA"(tendo uma pequena empresa chinesa, demonstrado obter sistemas com mais eficiência e com um  custo da ordem do centésimo dos americanos),

- A construção de veículos EV (ao nível mundial, as marcas chinesas são as maiores vendedoras no Sul global, embora lhes tenham sido quase barrados - desde antes desta onda de tarifas - os mercados norte-americano e da UE) 

- Até mesmo os avanços da Internet de 5ª geração, têm sido protagonizados pela HUAWEI, empresa excluída do mundo ocidental, sob pretextos falaciosos (nunca provados) de servir para espionagem electrónica chinesa (curiosamente, foi a NSA americana que   espiou os smartphones de vários  dirigentes europeus, incluindo a Chanceler alemã Angela Merkel). 

- As chamadas terras raras, são extraídas, refinadas e exportadas pela China, que detém 90% do mercado mundial. Nenhum país tem igual peritagem, nem meios técnicos e industriais montados para realizar isso. Estes elementos são essenciais para incorporar nos chips ou ligas metálicas, funções insubstituíveis, cujo embargo de exportação (pela China) deixa os EUA numa situação desesperada para fabrico dos componentes electrónicos (estes são indispensáveis para as armas mais sofisticadas, mísseis por exemplo).

Á medida que o tempo passa, a dependência da China em relação às exportações para os EUA diminui acentuadamente, assim como diminui o peso relativo no PIB chinês, da contribuição destas exportações. Com cerca de 14 % das exportações, o comércio chinês com os EUA é facilmente substituível pelos chineses, o que não é verdade na recíproca. Enquanto a China fornece items indispensáveis à economia dos EUA, os EUA têm, como principais items de exportação para a China, o petróleo e a soja. Estes podem ser fornecidos por muitos  outros países,  em parcerias comerciais com a China.

Se nós acreditamos que nossos opositores são «estúpidos», nós é que estamos a ser estúpidos. É evidente que a Administração Trump possui um plano; e que este plano é muito mais vasto e profundo que a «guerra das tarifas». Eu diria mesmo que, se falamos de guerra económica, devemos perguntar-nos qual tem sido o mais precioso trunfo dos americanos?

Desde Bretton Woods - claramente - tem sido «o exorbitante» privilégio do dólar como moeda de reserva mundial e como principal moeda nas trocas comerciais; não esqueçamos que desde 1973 (O pacto entre Nixon/ Kissinger e o Rei da Arábia Saudita) o mundo vive num sistema monetário de divisas flutuantes, em que o dólar se tem mantido através  da obrigatoriedade de todos comprarem petróleo  em dólares,  exclusivamente. O PETRODÓLAR foi rei  durante todos estes anos, somente agora estando a ser destronado .

Ora, a subida dos BRICS, o seu alargamento, estão  na origem da crescente onda de trocas comerciais bilaterais (muitas, e em grandes volumes) não envolvendo o dólar, mas só as divisas dos respectivos países: Verifica-se a diminuição da utilização global do dólar. Há 25 anos, cerca de 70% das trocas comerciais eram feitas em dólares; esta percentagem desceu para cerca de 57%, no presente, segundo os números a que tive acesso. 

Além disso, existe a monstruosa dívida, com um total de 37 triliões de dólares. São dívidas públicas, de Estado, pelas quais o Tesouro americano emitiu obrigações e outros títulos de dívida correspondentes a diversas maturidades. Esta dívida atingiu um nível totalmente fora de controle: Ela perfaz, hoje, cerca de 104 % do PIB dos EUA; apenas os pagamentos de juros, alcançam mais de um trilião de dólares, este ano; a dívida que tem de ser «rolada», neste ano, é de 7 triliões. Isto significa que o Tesouro dos EUA terá de encontrar compradores para este montante. Ora, para já, os juros dispararam, ou seja, não podem os EUA encontrar tomadores dessa dívida, senão com remuneração mais alta, da ordem de 4.3 % para as obrigações do Tesouro a prazo de dez anos.

Embora poucas pessoas  saibam destes números catastróficos, reina um grande nervosismo nos investidores tradicionais   na dívida americana, que são: Estados, grande banca, grandes fundos de investimento e grupos económicos, sobretudo no exterior dos EUA. 

Sem dúvida, o efeito da "onda tarifária" será o de acentuar a recessão em muitos países e o abrandamento do crescimento em todo o Mundo, mesmo nos países com economias mais sustentáveis. Isto significa que a economia mundial será incapaz de satisfazer as exigências de empréstimos sem limites, do colosso americano.Que consequências isso vai trazer?

Os EUA terão um custo acrescido da sua dívida, não só quanto aos juros, como no seu montante total. 

Não creio que eles vão deliberadamente provocar o colapso da sua economia e da economia mundial. A fação que apoia  financeiramente Trump é constituída por oligarcas. Eles pretendem efetuar um «Great Reset» que lhes seja favorável pessoalmente. Querem ver consolidado o seu domínio monopolístico de ramos inteiros de indústria. Mas, provavelmente, compreendem que a ambição dos neocons duma hegemonia global, não tem qualquer hipótese de se realizar.

Trump e sua Administração ficaram encarregues de salvar aquilo que pode ser salvo do império americano. Por de trás das fanfarronadas do chefe, trata-se de fazer um recuo estratégico, salvando o papel do dólar, já não como a divisa de reserva mundial, mas capaz de assegurar um domínio hegemónico dentro da sua esfera de interesse. Seguindo esta lógica, coloco como hipótese que o plano de Trump e do seu governo, seja o seguinte :

- Aliviar a dívida pela desvalorização forçada do dólar. Com efeito, o dólar está nitidamente hipervalorizado, como vos dirão economistas das mais diversas tendências. Isso deriva do facto de ter sido a moeda de reserva dos bancos centrais em todo mundo e a principal divisa no comércio internacional, pelo que teve sempre uma procura condicionada por isso e não pela produção de bens para exportação ou por investimento direto em países estrangeiros. Seria razoável prever que uma diminuição de procura da dívida soberana dos EUA, no contexto que delineei acima, fosse causadora de um valor mais baixo do dólar, relativamente às outras divisas. Portanto, também irá diminuir o valor global da dívida dos EUA, denominada em dólares, embora ela nominalmente permaneça a mesma. 

- Estratégia de concorrência para os produtos americanos. Pode-se prever a contração da área de influência dos EUA, para uma zona onde conseguirão manter a hegemonia, já que não o conseguem ao nível mundial (objetivo dos neocons). No continente americano e na Europa ocidental e central, poderão esperar conservar e reforçar o seu controlo, sua liderança de facto. Para que o dólar continue como moeda preferencial neste espaço económico, convém que seja suficientemente baixo para tornar competitivos os produtos industriais americanos. Estes seriam - a  prazo - mais diversificados do que no presente. Atualmente, os produtos industriais de exportação dos EUA, são poucos: As armas, os aviões comerciais e a indústria do «entertainement». Num universo multipolar, o sucesso  na competição vai se exprimir pela capacidade de colocação no mercado internacional de produtos industriais a preços  baixos. Uma maneira frequente dos países tornarem os seus produtos de exportação mais competitivos é de baixarem o valor da sua moeda.

O que escrevi acima não é mais do que uma hipótese de trabalho, sujeita a confirmação ou invalidação. Não pretendo compreender o «alfa e ómega» da política económica externa dos EUA. Porém, neste curto texto de análise, procurei mostrar que Trump e os que o apoiam, têm objetivos concretos, que onde fazem mais barulho não  é  sempre o principal motivo da sua intervenção e que, para apreender as linhas de força da sua estratégia, temos de colocar  -como elemento central - a mudança do sistema monetário  internacional e a concomitante reforma das instâncias reguladoras internacionais. 


 

PS1: Como suplemento,  veja este vídeo que explica em pormenor a situação  do dólar:      https://youtu.be/06mdHuuUhdI?si=kRpLiXJDIECQ_ykQ

 


quarta-feira, 16 de abril de 2025

A GUERRA "TARIFÁRIA" É O PRETEXTO; A CAUSA VERDADEIRA É OUTRA


O anúncio pela administração Trump da subida universal e indiscriminada dos direitos de alfândega, NÃO FOI GENUINAMENTE motivada por uma estratégia destinada a fazer regressar a indústria americana que se expatriou, sobretudo para a Ásia e em particular para a China.
Muitos fatores impedem - na prática - que este retorno tenha lugar.

- Em primeiro lugar, a impreparação do mercado de trabalho americano para sustentar uma produtividade próxima da dos trabalhadores chineses. Um episódio desta guerra industrial é esclarecedor; ele envolve a empresa de semi-condutores (chips) de Taiwan, a TSMC: Há cerca de um ano, decidiram implantar uma fábrica no Texas. Tiveram imensas dificuldades em recrutar pessoal para esta fábrica. A qualidade dos recrutas estava nitidamente abaixo do padrão dos operários chineses, em Taiwan. Tiveram de importar de Taiwan a maior parte dos trabalhadores, para que a fábrica pudesse funcionar.

- Além do fator produtividade, existe o fator salarial; embora o salário médio dos operários na China continental tenha subido bastante - ao ponto de algumas indústrias terem ido para o Vietname e outros países asiáticos, com mão de obra mais barata - este salário ainda é muito mais baixo que o salário médio dos operários nos EUA. Ainda por cima, estas fábricas, para conseguirem reimplantar-se nos EUA, teriam que oferecer salários acima da média e considerados atrentes pelos americanos.

- Outro fator é o enorme volume de negócios das marcas americanas dentro da própria China, desde a Apple, à Tesla: As grandes marcas americanas que fabricam seus produtos na China, também estão muito envolvidas no mercado chinês. A saída das suas fábricas da China seria acompanhada pela sua exclusão deste mercado, o mais promissor. Note-se que a economia chinesa continua a crescer, embora a ritmo mais moderado (de 6% anual), enquanto as economias norte-americana e europeia estagnaram, ou entraram em recessão.

- Finalmente, o que pretende a administração Trump com a manobra de «suspender» as tarifas para os países da UE, mantendo tarifas proibitivas para a China?
Obviamente, pretende separar a Europa da China, isolar a China, excluindo-a do mercado europeu (e vice-versa). Assim, julgavam que conseguiam enfraquecer a China e manter a Europa numa posição subordinada, em termos industriais e estratégicos, em relação aos EUA. Mas, a manobra foi compreendida pela eurocracia. A Comissão Europeia não reagiu de forma «dócil». Ela está a tentar negociar uma aliança com a China neste momento, visto que perdeu toda a confiança na administração Trump, para negociar tarifas e comércio com os seus homólogos europeus.

- No imediato, o mundo ocidental encontra-se à beira de um novo colapso financeiro. É provável que a administração Trump faça este jogo perigoso, usando tarifas alfandegárias como «ariete» para demolir a globalização neoliberal e a OMC [*]. Como anti-globalistas, isto faz parte do seu programa. Eles pensam que, face à subida doutras potências globais, só assim poderão manter um certo número de países na sua órbita, forçando-os a escolher o seu campo.

Se esta interpretação vos parecer pouco plausível, tenham em conta os factos seguintes:
1) O império do dólar tem estado a perder terreno no comércio internacional
2) O anúncio da divisa dos BRICS, que funcionará numa primeira fase como intermediário contabilístico nas trocas entre membros dos BRICS,  está para breve
3) A China lançou o sistema de pagamentos internacionais (homólogo do SWIFT, controlado pelos EUA), com uma eficiência superior à do seu concorrente.
4) A Arábia Saudita e a China acabaram de «enterrar» o petrodólar, com um acordo onde estão explícitas a compra de crude saudita em Yuan e a venda de material militar sofisticado chinês às forças armadas sauditas.

Devido a uma media mainstream completamente comprada, poucas pessoas no Ocidente têm a noção exata deste e doutros processos. Mas, o facto de que o grande público seja mantido ignorante, não vai impedir a decadência, nem a paralisia estratégica dos EUA face a um mundo cada vez mais multipolar.

O pânico dos governos, tanto europeus como americano, tem-se traduzido numa série de medidas histéricas e contraditórias, mostrando a sua desorientação completa, face a cenários cuja evolução é muito diferente da que eles sonharam: Primeiro, foi a derrota da OTAN no terreno ucraniano face à Rússia, fracasso estrondoso dos ocidentais. Agora, veio a manobra trumpiana de quebrar a globalização usando a guerra tarifária como pretexto.

Não será difícil para os países agrupados nos BRICS tirarem o maior partido do fracasso destas manobras aventureiras e desestabilizadoras. Será até muito fácil, pois basta que continuem a fazer o que têm feito, serenamente, sem se deixarem invadir pelo pânico e histeria reinantes nas sedes do poder ocidentais**.


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*NB1: O que me parece certo é que o efeito desta profusão de «tarifas» (taxas aduaneiras) é apenas o de quebrar a globalização neoliberal, acabar com o comércio internacional baseado no Direito. Em vez disso, instaura-se a força, a pressão, a chantagem, como normas nas relações internacionais, como no passado, durante milénios. A liberdade de comerciar e a existência de regras do comércio internacional estavam a dificultar o domínio direto dos oligarcas sobre os países/mercados.

**NB2: Veja o balanço destas últimas duas semanas de guerra comercial entre os EUA e a China, com Ben Norton, no programa de Danny Haiphong: 





quarta-feira, 9 de abril de 2025

CRÓNICA DA IIIª GUERRA MUNDIAL, Nº 42: A TEMPESTADE TARIFÁRIA, OS MERCADOS E AS ALIANÇAS


Há mercados e mercados. Os mercados bolsistas, mesmo as ações das empresas mais conhecidas, ou os índices do «S&P 500» ou do «NASDAQ», apenas afetam diretamente os que investiram nesses ativos. Mesmo os «valores seguros», estão sujeitos a grandes perdas, como nos foi dado ver, nestes últimos dias, no crash da libertação a 2 de Abril

O S&P perdeu 11.5% em 3 dias, e o juro das obrigações do Tesouro a 10 anos [ 10Y UST ] situa-se agora a 4.38%. As «treasuries» dos EUA  já não podem servir como  tradicional «porto refúgio» dos capitais.

Esta mudança tectónica é, no entanto, mais significativa ainda no médio/longo prazo para os mercados de matérias-primas e produtos manufaturados, ou seja, para a «economia real», a qual afeta todas as pessoas, em todos os países.

Não tenho dúvidas de que estamos perante um crash induzido: Os que planearam este crash, no círculo de Trump, sabem perfeitamente que estas modificações bruscas de tarifas alfandegárias têm implicações a vários níveis. Não só afetam os preços das mercadorias ao consumidor, os fluxos das mesmas mercadorias, e - em consequência - os fluxos de capitais. Mas, igualmente jogam com o panorama de alianças no âmbito da IIIª Guerra Mundial.

Estas mudanças estão ainda no começo, embora as novas linhas de fratura já se vislumbrem, pelos discursos e sobretudo, pelos atos concretos dos governos. Os vassalos do império dos EUA, Starmer, Macron, Van der Leyen, etc, estão atónitos: Após a mudança de rumo nos assuntos da guerra Russo-Ucraniana, vem um «segundo punch», que os deixa a cambalear. Estão incapazes de fazer frente à nítida desautorização, pela potência tutelar que os «protegia».

Mas, a China não se deixou intimidar e respondeu exatamente com as mesmas medidas tarifárias, mas em sentido contrário às dos EUA. Além disso, e muito menos divulgado, decidiu proíbir a exportação de «terras raras» que os EUA precisam para sua indústria de eletrónica, incluindo o fabrico de «microchips» para os jets, mísseis e outras armas sofisticadas.

A China encontra-se, claramente, em vantagem; constatação consensual, qualquer que seja a simpatia ou antipatia dos observadores, em relação ao gigante asiático. Do ponto de vista das alianças, igualmente está a ganhar, com o estreitamento dos laços comerciais e a formação duma «frente comum», com os parceiros da ASEAN. Isto reveste-se de significado estratégico também, pois as (atuais e futuras) sanções ocidentais não a incomodarão; a China terá ainda maior independência comercial, em relação aos EUA e seus vassalos ocidentais. Mesmo os mais fiéis vassalos dos EUA no Extremo-Oriente (Coréia do Sul e Japão), estão dispostos a coordenar ações com a China, para minimizar o efeito do «tornado tarifário Trump» sobre as exportações.

Tudo o que se possa pensar sobre a polaridade globalização/soberanismo, está posto em causa; pois, tradicionalmente, a defesa da globalização capitalista era obra dos EUA e de seus aliados, enquanto as políticas de defesa da soberania, eram protagonizadas pela Rússia, a China e seus aliados nos BRICS...

Hoje em dia, o Mundo descobre que é um perigo bem maior, em termos comerciais e de estabilidade económica, política e geoestratégica, desenvolver laços com os EUA. Estes, serão ainda a potência económica maior em volume de capitais investidos, embora já não em termos de produção de bens industriais.

Pelo contrário, a China é um parceiro confiável: Está sempre atenta aos fatores de estabilidade, predictibilidade e recíprocidade. 
Por isso, também, é vã a tentativa de desacoplar a Rússia, da China: Estão envolvidos numa aliança a vários níveis, da defesa ao comércio, da diplomacia à construção de novas rotas terrestres e marítimas (incluindo a rota o Ártico).

Finalmente, o que deveria preocupar mais as pessoas no Ocidente, seria antes a atitude aventureira dos dirigentes, que não sabem como atuar; as suas visões estavam falseadas... mas, falseadas por eles próprios. É um caso de auto-engano, de tomarem seus desejos pela realidade. A sua credibilidade atinge mínimos, nas sondagens de opinião. Estes factos não nos devem tranquilizar, pelo contrário; pois a nossa «democracia», com todas as suas limitações já não é tolerável para os «nossos dirigentes». Eles revelaram-se naquilo que já eram, em segredo: Autocratas ao serviço das oligarquias, interessados apenas retoricamente em afirmar os valores da democracia «para dar uma imagem», para consumo do povo.
O que fazem, na realidade, é no interesse diametralmente oposto ao dos respetivos povos, das respetivas nações. 
Com leis absurdas, produzidas por eles próprios, estão muito atarefados a neutralizar  (pela censura, por processos judiciais e pelo assédio policial) todos aqueles que se atrevem a contestar a sua política. 
Os poderes têm não apenas difamado, como reprimido,  manifestantes contra a monstruosidade do genocído dos palestinianos pelos israelitas, em Gaza e na Margem Ocidental. Se isto não é fascismo em ação, expliquem-me então, o que é...

Tudo aquilo que eu temia, quando falava da destruição de um semblante de legalidade e do Estado de Direito, a propósito da repressão aos dissidentes do COVID e da campanha de «vacinação» forçada, está a ser (re)posto em prática, agora. Existe um centro operacional comum, que coordena ao nível dos países da UE e da OTAN, a repressão da dissidência. É uma contínua guerra contra a cidadania, silenciosa mas sem quartel. 
 Os poderes de Estado, violentos, têm as forças repressivas ao seu serviço e os povos estão desarmados: Os tribunais são a maior farsa e as forças de oposição parlamentar têm sido impotentes, quando não colaborantes.

O fascismo do século XXI , não só tem avançado (ver artigo de Jonathan Cook), mas já tem o atrevimento de negar, ostensivamente, os valores que enformavam a «democracia liberal» nos países da OTAN em geral e, em especial, na França, Alemanha e Reino-Unido...

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PS1: OS BRICS e a multipolaridade são fatores decisivos, que modificam qualitativamente as relações do «Sul global» com o «Ocidente global».

PS2: Veja o que tem acontecido com as compras de ouro pelo banco central da China (a azul) e com as compras/vendas de Obrigações do Tesouro US (a vermelho): O PBOC tem um meio eficaz de pressão sobre o dólar e tem exercido essa pressão, de forma consistente.


domingo, 6 de abril de 2025

TRUMP, 2 DE ABRIL, EUA: DIA DA LIBERTAÇÃO... PARA QUEM???

 


Segundo Peter Schiff, o dia "da libertação " de Donald Trump vai ser o começo  de um período extremamente penoso para os consumidores dos EUA, de aprofundamento da crise de solvência  das contas públicas, de aceleração  da inflação americana e de escassez de bens e matérias-primas no mercado americano. 

Mas não será  necessariamente assim para o resto do mundo. Será fácil para as economias que exportavam para os EUA bens de consumo, reorientarem-se para outros mercados, incluindo os dos países  emergentes. Haverá também  mais capitais disponíveis para investir nestas economias. Se os países emergentes não imitarem os americanos, taxando tudo e todos indiscriminadamente, vão melhorar a sua posição na competição  mundial. Seria irónico  mas muito justo, que - afinal  - este dia (2 de Abril de 2025) da imposição de tarifas alfandegárias pelos EUA, fosse O DIA DA LIBERTAÇÃO DO MUNDO* DA PARASITAGEM DOS ESTADOS UNIDOS SOBRE AS ECONOMIAS DOS PAÍSES  EXPORTADORES.

(*Dentro de um ano, a 02 de Abril de 2026, penso que já estaremos em condições de fazer um primeiro balanço do efeito dessas medidas na economia dos EUA e no Mundo)

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PS1: Prof. Warwick Powell considera aas tarifas uma prenda para a China e os BRICS. Veja AQUI

PS2: Um americano com muita experiência vivida na China explica-nos porque as subidas tarifárias não poderão atingir os objetivos pretendidos por Trump:

https://herecomeschina.substack.com/p/america-underestimates-the-difficulty

domingo, 12 de janeiro de 2025

DEVEMOS ESTAR PREOCUPADOS COM A INFLUÊNCIA DA CHINA NOS BRICS?

 RETIRADO DE: https://thinkbrics.substack.com/


La influencia de China en los BRICS suscita un debate global: ¿su creciente poder traerá cooperación o dominio? Explore en qué se diferencia el ascenso de China, moldeado por valores culturales únicos, de la hegemonía tradicional.

A medida que la fuerza de China continúa creciendo, especialmente después de su reciente vuelo de prueba del avión de sexta generación, se están extendiendo voces de duda y preocupación en medio del asombro constante ante la fuerza militar y económica de China en el país y en el extranjero.

Estas voces de duda y preocupación no son más que si China, después de un aumento tan enorme de fuerza, mostrará actitudes agresivas en algunas organizaciones de cooperación internacional. Por ejemplo, dentro de la organización BRICS, la enorme fuerza política, económica y militar de China “forzará” a otros países más débiles que China a obedecer sus órdenes.

Semejantes dudas y preocupaciones son comprensibles, porque Estados Unidos, como potencia hegemónica mundial, es bien conocido por sus hábitos imperialistas. Estados Unidos ha utilizado su dominio absoluto en el ejército, la ciencia y la tecnología, la política y la economía para coaccionar a otros países no una o dos veces, sino muchas veces.

No sólo eso, sino que Estados Unidos también ha violado abiertamente el derecho internacional, invadido armadamente otros países y cultivado agentes proestadounidenses en diferentes países. Su comportamiento hegemónico ha hecho sufrir a países de todo el mundo.

Es precisamente debido a la coerción y persecución de países de todo el mundo por parte del imperialismo estadounidense que los países de todo el mundo naturalmente tienen las mismas dudas y preocupaciones ante el ascenso de China. Esto es comprensible.

Desde el estallido de la SMO rusa en Ucrania , la disminución de la influencia global de Estados Unidos y Occidente ha sido un hecho indiscutible. En particular, la flagrante utilización del dólar como arma por parte de Estados Unidos y el congelamiento de las reservas de divisas de Rusia han despertado el resentimiento de países de todo el mundo y desencadenado una ola de desdolarización global. La hegemonía del dólar es la base de la hegemonía estadounidense. Si estos cimientos se tambalean, entonces el hecho de que Estados Unidos está cerca del fracaso total será visiblemente evidente.

El declive de Estados Unidos y el ascenso de China se han convertido en una tendencia irreversible. Es inevitable que China se convierta en la nueva fuerza dominante en el mundo. La pregunta ahora es: ¿Se convertirá China en el segundo Estados Unidos? ¿Utilizará China su posición ventajosa para obligar a otros países a obedecer sus instrucciones, como Estados Unidos?
La respuesta es, por supuesto, no.

Como China no es Estados Unidos, China no aprenderá el comportamiento hegemónico del imperialismo estadounidense. La cultura china siempre ha abogado por la "compatibilidad y aceptación". Bajo la influencia de esta cultura, es imposible que China adopte las mismas prácticas que el imperialismo estadounidense.

Esta cultura enfatiza la tolerancia hacia otras culturas y civilizaciones, así como el bienestar de la promoción común y la prosperidad común, que es fundamentalmente diferente de la hegemonía estadounidense.

Por ejemplo, Estados Unidos y los países occidentales han estado acusando a la iniciativa "La Franja y la Ruta" de China de ser una llamada "trampa de la deuda", y su verdadero propósito no es más que desacreditar la iniciativa "La Franja y la Ruta" de China y obligar a otros a países a mantenerse alejados de él. Sin embargo, esto es completamente falso.

Porque la mayoría de las deudas de los países que participan en la Iniciativa de la Franja y la Ruta son deudas privadas no estatales.

Tomemos como ejemplo a Sri Lanka. Según datos del Tesoro de Sri Lanka , a marzo de 2024, Sri Lanka tiene una deuda externa total de 27.600 millones de dólares, de los cuales los acreedores privados representan la mayor proporción, el 53,6%, los acreedores multilaterales representan el 20,7% y China representa el 20,7%. por sólo el 10,9%.


NPC – Club No-París | PC – Club de París


La misma situación ocurrió también en Pakistán. La deuda externa total de Pakistán fue de 125.702 millones de dólares estadounidenses, de los cuales los préstamos de China ascendieron a 20.375 millones de dólares estadounidenses, lo que representa el 16,2% de la deuda externa total de Pakistán.

En cuanto a Kenia, en marzo de 2024 , la deuda externa total de Kenia era de 32.220 millones de dólares, de los cuales el 46,3% procedía de instituciones financieras multilaterales como el Fondo Monetario Internacional y el Banco Mundial, mientras que la deuda de diversas entidades chinas representaba solo el 17,2%.


Según un informe de 2022 del African Policy Institute , desde 2011, alrededor de tres cuartas partes de los reembolsos de la deuda de los países del África subsahariana se han pagado a tenedores de bonos y préstamos comerciales, que son los mayores acreedores de África.

Además, aun así, China no ha escatimado esfuerzos para perdonar las deudas de los países africanos. Incluso los medios estadounidenses y occidentales tienen que admitirlo. Según VOANews , China ha perdonado 23 préstamos en África, lo que también es una poderosa refutación de la "trampa de la deuda" de los países occidentales.

La hegemonía estadounidense se basa en los genes culturales de los anglosajones que, en palabras de Fausto, son "poder, espacio e infinito". Bajo la guía de esta ideología, la hegemonía estadounidense y británica siempre ha utilizado la fuerza y ​​la intimidación para lograr un gobierno de alta presión sobre los asuntos globales y los países de todo el mundo. Éste es el método consistente utilizado por Estados Unidos y Gran Bretaña para gobernar el mundo.

Pero ésta no es la manera china, porque la cultura china enfatiza la inclusión. La propia cultura china es producto de una mezcla de varias culturas extranjeras. Por tanto, China tiene una tolerancia natural hacia las culturas extranjeras. Ésta es también la diferencia esencial entre China, Gran Bretaña y Estados Unidos.

China está abierta al ascenso de cualquier país y nunca ha considerado ni considerará el ascenso de ningún país como una amenaza al dominio de China en el mundo, porque reprimir a otros países no es una forma que los chinos estén dispuestos a tomar. Por el contrario, tolerar y apoyar a otros países es la política nacional que China siempre ha defendido.

Es necesario porque China tolera y apoya el desarrollo y el ascenso de otros países que China haya lanzado el gran proyecto de la "Franja y la Ruta". En el marco de este proyecto, China ha construido una infraestructura bastante completa para muchos países pobres de África y América Latina. Sólo cuando estos países se desarrollen podrá China desarrollar el comercio con ellos. Esto es beneficioso para los países subdesarrollados de Asia, África y América Latina, así como para el propio desarrollo de China. Esta es una verdadera situación en la que todos ganan.

Para desacreditar la política de "la Franja y la Ruta" de China, Estados Unidos y Occidente siempre han difamado el pensamiento de "ganar-ganar" de China calificándolo de "China gana dos veces", lo cual es completamente inconsistente con los hechos. En el marco de "La Franja y la Ruta", los países subdesarrollados de Asia, África y América Latina han obtenido ferrocarriles, aeropuertos, carreteras y otras infraestructuras importantes completas, mientras que China ha ganado canales para abrir los mercados de estos países. El beneficio mutuo es el verdadero beneficio mutuo.

También es por esta razón que la llamada "trampa de Tucídides" no se aplica a China. Si hay un país que puede superar a China en el futuro, entonces China no lo reprimirá como Estados Unidos, porque la cultura china cree que "la gran tendencia del mundo está gobernada por aquellos con virtud".

Si otros países piensan que pueden liderar el mundo con más poder que China, y este país no busca dañar a China, entonces China puede tomar la iniciativa de ceder la posición del máximo liderazgo mundial a este país, y nunca utilizará diversos medios. para reprimir a este país como Estados Unidos. Esto será beneficioso y no perjudicial tanto para la propia China como para la paz mundial y puede evitar una nueva guerra mundial para los máximos dirigentes del mundo.

Porque una vez que este país se fortalezca, China podrá comerciar con él de manera más efectiva. China presta más atención a los beneficios económicos reales y a los logros reales en materia de desarrollo, y no tiene ningún interés en el nombre falso de "los máximos dirigentes del mundo".

Por lo tanto, no hay absolutamente ninguna necesidad de preocuparse por el crecimiento de la fuerza de China. El ascenso de China será una bendición para la humanidad y felicidad para el mundo. Mientras China crezca, el mundo será pacífico, la humanidad se desarrollará, la economía prosperará y el mundo entero estará bañado por la luz de la paz y la prosperidad. No habrá necesidad de preocuparse por guerras y conflictos. Éste es el mayor significado del ascenso de China.


terça-feira, 7 de janeiro de 2025

AUTOMÓVEIS EV: COMO É QUE OS OCIDENTAIS FICARAM PARA TRÁS NA COMPETIÇÃO COM A CHINA

 


O título que dei a este vídeo, prende-se com o último dos 7 pecados mortais da indústria automóvel ocidental :«Alimentando o dragão». 
Esta saga da indústria automóvel no ocidente não é mais do que um exemplo, por muito importante que seja. Toda a transformação que ocorreu a partir da liberalização reaganiana e theacheriana nos anos 80, teve como resultado de que o capitalismo dominante dos EUA (e dos países afluentes da Europa e alguns não-europeus: Japão, Coreia do Sul, Austrália) foi meter-se «nas goelas do dragão». Foi deslocalizar a produção industrial para a China (sobretudo), em busca de menores custos e ambiente favorável para a indústria dita «de ponta», com alta tecnologia incorporada (baixíssimos salários, ausência de estruturas sindicais independentes, poucas restrições ambientais, etc).

Agora, a China está em condições de domínio mundial em muitos sectores industriais, tomando cada vez mais partes de mercado, sobretudo, em países ditos «do Sul global», mas também em países bem do «centro» histórico do capitalismo. A China utilizou de forma criativa as lições que aprendeu sobre o funcionamento da economia capitalista, usando todos os instrumentos à sua disposição para se desenvolver. 
Como não existem «milagres» realmente para o desenvolvimento industrial, a estratégia chinesa pode (e será) aplicada (adaptada) por vários países com problemas crónicos de (sub)desenvolvimento. Para que esta via emancipadora pelo desenvolvimento se estenda o mais possível, neutralizando o papel dos países ex-coloniais e neo-coloniais, a China lançou em 2013 as «Novas Rotas da Seda» e foram forjadas no seio dos BRICS as instituições alternativas das criadas pelo Ocidente após a IIª Guerra Mundial (FMI, Banco Mundial, OCDE, BERD, etc).
As sucessivas mutações que atravessou a indústria automóvel são realmente uma excelente ilustração da evolução do capitalismo industrial, da internacionalização do mesmo (a globalização capitalista) e daquilo a que se pode assistir hoje, a transformação de países antes sujeitos a opressão colonial e neocolonial, em Estados poderosos, capazes de fazer valer a sua soberania. Isso já está a acontecer em larga escala na América Latina, Ásia e África:  desenvolvem-se segundo um modelo «misto» (Estatal/Privado) de capitalismo industrial, que poderá desembocar em sociedades mais ricas, com maiores oportunidades para as suas populações. 
Ao fim e ao cabo, a China e os BRICS, adotaram o que há de positivo nos conceitos liberais clássicos, a liberdade de comércio, a prioridade à iniciativa privada, um mercado com regras (livre, mas sujeito a regulação pelo Estado), etc. 
Os países do Ocidente, pelo contrário, estão a mergulhar no retrocesso a todos os níveis e mesmo na barbárie. As oligarquias e os governos ocidentais só pensam em dominar por todos os meios: em particular pela guerra, a rapina dos recursos naturais e a intensificação da exploração das suas próprias classes trabalhadoras nacionais.
Estes têm sido o métodos utilizados com maior frequência pelos países da órbita americana (países da OTAN e associados na Ásia). Para tal, precisam dum «Estado forte», dum aparato repressivo reforçado, do esvaziamento completo da democracia «representativa» e do reforço da propaganda através do controlo estatal dos media: em suma, estão a transformar- se. em ditaduras.

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sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Algumas coisas SOBRE OS BRICS E O OURO

TRÊS COISAS QUE TEM DE SABER SOBRE OS BRICS


Ninguém está a revelar a verdade, no que toca ao que possui em ouro nos respectivos bancos centrais.
A introdução do ouro no sistema monetário poderá ser enquanto contrapartida de uma obrigação de longa duração (fala-se de 50 anos até maturidade). Portanto, uma obrigação com uma garantia de estabilidade conferida pelo ouro.
Entre muitos elementos informativos que Andy Schectman nos fornece, ele tem uma opinião muito semelhante à minha sobre a ameaça de Trump aos países que deixem cair o dólar nas suas trocas. A ameaça de 100% de «tarifas alfandegárias» é realmente uma pseudo chantagem, um bluff de póker! 
Porquê?
- Porque a subida de tarifas neste grau seria o equivalente duma subida brutal dos impostos nos EUA. Iria matar a economia dos EUA num instante!
E muito mais poderá aprender ao ouvir esta entrevista com Andy Schectman.

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sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

O LANÇAMENTO DA DIVISA DOS BRICS PODE ESTAR PERTO

 



O BIS cancelou a sua participação na construção de m-BRIDGE após 4 anos a participar na construção desta plataforma, com parceiros dos BRICS e candidatos a membros dos BRICS.

Por outro lado, a França já  avançou uma proposta de integração  nos BRICS. Quanto à Itália e Alemanha, querem manter boas relações comerciais com a China e tudo farão para isso!

As ameaças de Trump somente aceleram o processo da desdolarização. A política de sanções e tarifas alfandegárias para punir os países que não se submetam vai sair-lhe pela culatra: Vai apenas confirmar que os EUA já não são parceiros comerciais estáveis e credíveis.


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FIM DA HEGEMONIA DO DÓLAR: CONSEQUÊNCIAS PARA A ECONOMIA GLOBAL (com o Dr W. Powell )

CIMEIRA DE KAZAN: MUDANÇA DE MARÉ NAS DIVISAS FIAT (Alasdair Mcleod)





quinta-feira, 28 de novembro de 2024

CRÓNICA DA IIIª GUERRA MUNDIAL (Nº35): A MEMÓRIA DURADOIRA DOS POVOS DO ORIENTE

 Estas crónicas, com periodicidade irregular, destinam-se a ajudar na compreensão do que vem acontecendo no Mundo, partindo do ponto de vista de que estamos numa nova Guerra Mundial, a 3ª. 

Esta guerra mundial começou - segundo a minha visão da História contemporânea - desde o momento em que a OTAN desencadeou uma guerra não provocada, com os bombardeamentos aéros à Sérvia. Quis esta aliança bélica (não defensiva) mostrar ser capaz de arrasar um Estado europeu, ou qualquer outro que estivesse em contradição com as doutrinas neoliberais e a hegemonia dos EUA. 

Desde 24 de Fevereiro de 2022, a «operação militar especial» foi desencadeada pela Rússia em defesa das populações russófonas do Don e enquanto resposta às sérias ameaças de genocídio pelo exército ucraniano, numa sucessão de crimes de guerra (cerca de 15.000 mortes civis) desde o golpe de Maidan em 2014, até ao início de 2022. 

Esta situação de guerra no solo ucraniano está longe de ser o primeiro sinal de que o Mundo se encaminha para uma ruptura completa entre o «Oriente» e o «Ocidente»: Desde os inícios do Século XXI que se multiplicaram estes sinais,  à medida que o Ocidente ia perdendo dominância económica, tecnológica e nos mercados internacionais. Com a criação e expansão dos BRICS, aumentava em paralelo a retórica belicista ocidental. Mas também no terreno geoestratégico e militar a OTAN ia incorporando várias nações, previamente integradas no Pacto de Varsóvia, tendo como consequência ser cada vez mais difícil a defesa do território da Rússia. 

Esta agressividade do «Ocidente» - EUA, países da OTAN e  não-ocidentais como o Japão, a Coreia do Sul e Austrália - não se ficava pela Europa do Leste. Tinha muitos outros teatros, onde estava ativa:

- Na Ásia Ocidental, os sionistas e seu exército esmagavam impunemente as populações palestinas nos Territórios sob ocupação (Gaza, Cisjordânia, Jerusalém oriental). Frequentemente, faziam incursões militares destruidoras em países vizinhos, em particular, no Líbano e na Síria. 

- No Irão, raids aéreos israelitas bombardeavam instalações nucleares civis. Israel levou a cabo numerosos atentados terroristas no Irão, assassinando cientistas e militares de alta patente, com o auxílio ou aprovação tácita dos EUA, sob pretexto de eliminar «o perigo da república islâmica se dotar de armas nucleares».  

- No Extremo Oriente, as ameaças militares contra regimes considerados hostis ao «Ocidente», também iam crescendo. A Coreia do Norte continuava sujeita a um embargo brutal, incluindo bens essenciais à sobrevivência do seu povo (incluido alimentos e medicamentos). Se não houvesse a assistência solidária da China e da Rússia, os guerreiros «humanitários» ocidentais teriam conseguido vergar o regime de Piong Yang através da fome do povo norte-coreano.  Mas isto não era de molde a impressionar os falcões das sucessivas administrações de Washington: Os Presidentes G. W. Bush, Barack Obama, D. Trump ou Joe Biden eram defensores da visão neo-conservadora, da manutenção da dominância hegemónica mundial dos EUA. 



Poderíamos continuar com a África e a América Latina: Nomeadamente, as guerras locais e os sucessivos golpes de Estado, as chacinas por islamitas a soldo do império (como «Boko Haram»), os embargos e bloqueios ilegais e criminosos à luz do Direito Internacional e destinados a causar revolta das populações esfaimadas contra os governos respectivos (casos de Cuba e da Venezuela, entre outros).

Somente devido à constante propaganda disfarçada de informação nos órgãos de comunicação social controlados pelo grande capital (a média «mainstream»), é  que muitas pessoas não se aperceberam que a IIIª Guerra Mundial estava em curso ... há muito tempo. 

Sem dúvida, não é uma guerra «clássica», mas uma guerra híbrida, com episódios de guerra «acesa», em territórios específicos, enquanto noutros a guerra assume a forma de subversão dos regimes considerados hostis ao Ocidente. 

As armas económicas - as sanções, os embargos, os bloqueios causadores de escassez artificial - têm sido usadas sistematicamente, pelo super-imperialismo americano, como forma de «torcer o braço» (expressão de Barack Obama), a regimes recalcitrantes, que não se enquadravam na nova ordem globalista, ditada pelos EUA.

Mas, os povos não são entidades abstratas, criadas em jogos computorizados simulando guerras. Igualmente, os dirigentes destes povos, não são estúpidos, nem ingénuos. Eles compreendem que a sua sobrevivência está ligada estrictamente à defesa dos seus países. 

Os povos do Oriente Extremo (China, Coreia, Indochina), sofreram as agruras do imperialismo japonês, antes e durante a IIª Guerra Mundial. Logo a seguir, em imediata sucessão, tiveram de lutar contra o imperialismo dos EUA e seus aliados no pós-guerra. Note-se que o imediato pós-guerra, em vários países do Extremo Oriente, consistiu em manter a tutela colonial, da parte das potências ocidentais (britânicos e franceses). Quando esta tutela foi sacudida, foram desencadeadas guerras (ditas «proxi wars»), tendo como protagonistas as facções nestes países, apoiadas pelas superpotências antagónicas: Os EUA e seus satélites, por um lado; a URSS e a China, por outro.

A memória histórica de tudo isto permanece bem viva nas populações oprimidas ou recém libertadas, pelo que a sua simpatia vai naturalmente para aqueles que contribuíram para a sua libertação: A Rússia, a China e o Irão, são dos que mais têm, ao longo das décadas, dado apoio aos movimentos de resistência. Por isso mesmo, estes países são tão difamados pelos lacaios que se arvoram em intelectuais e enxameiam a média corporativa, além dos governos ocidentais, os barões do império, que repetem a propaganda originada nos «think tanks» da sede imperial. 

Algumas exceções, registadas nestas crónicas, são as dos jornalistas e intelectuais sem vínculo ao poder do capital, que nos trazem dados e análises que, de outro modo, não poderíamos conhecer. 

É o caso de Thierry Meyssan (Voltairenet.org): As suas análises sobre a guerra na Ucrânia ou em Israel/Palestina, possuem a contextualização histórica indispensável para nos situarmos. Leia o seu artigo de 26 de Novembro de 2024, em tradução portuguesa:

A Rússia prepara-se para responder ao Armagedão que a Administração Biden deseja , Thierry Meyssan



terça-feira, 5 de novembro de 2024

ESTAMOS NUMA SITUAÇÃO MUNDIAL INÉDITA; O QUE DEVEMOS SABER.

A hipótese do ouro, junto com outros metais e matérias primas associados, participar numa divisa sintética, destinada ao comércio entre os BRICS foi excluída, por enquanto.

Porém, a visão de que o ouro é realmente dinheiro, pois conserva o seu valor, mantém-se e reforça-se. A capacidade duma certa quantidade de ouro ser trocada por mercadorias, sejam alqueires de trigo ou barris de petróleo, etc. mantém-se e reforça-se. 


SIGNIFICADO DA ACUMULAÇÃO DE OURO EM BANCOS CENTRAIS

Portanto, indiretamente, os países que possuírem muito ouro nos seus bancos centrais estão mais precavidos aquando de crises financeiras, que os que têm exclusivamente ou sobretudo, uma ou várias divisas de reserva (o dólar, o yen, a libra, o euro, o yuan...). 

Entretanto, grandes quantidades de ouro vão sendo compradas pelos bancos centrais no mundo inteiro. Este movimento não é exclusivo de países dos BRICS, que olham com desconfiança o dólar, visto que este tem servido para fazer chantagem, permitindo que as sanções (ilegais, todas elas, face à lei internacional) decretadas pelos EUA acabam por ser adotadas por países terceiros, sob pena de retaliações e multas.  Muitos bancos centrais de países do Ocidente, ou de aliados do Ocidente, têm comprado muito ouro, ultimamente.

Evidentemente, o reino do dólar está a chegar ao fim. A sua ascensão a moeda de reserva mundial deu-se no rescaldo da IIª Guerra Mundial, em que os EUA eram a única potência que tinha ficado intacta, na sua estrutura e na sua capacidade industrial. Todas as potências europeias beligerantes estavam de rastos, quer fossem do campo dos vencedores, quer fossem dos vencidos. 


HAVERÁ NECESSIDADE DE DIVISA MUNDIAL DE RESERVA?

Na realidade, com o desenvolvimento da digitalização do dinheiro, as trocas entre países podem muito facilmente ser feitas usando as respetivas divisas nacionais. Isto não coloca problema a nível de trocas comerciais ou financeiras de grande volume. Também a nível de retalho, ou para viajantes ou turistas, não deveria ser problema trocar em divisas do país visitado, as divisas que transportasse o visitante. 

A necessidade de «inventar» um «repositório de valor», universalmente reconhecido (é este o papel de uma divisa de reserva mundial - o dólar), não existe na verdade. Aliás, o ouro preenche muito bem essa função, caso se considere que tem de haver algo que funcione como uma reserva de valor no mundo financeiro e que seja um ativo tangível, com valor reconhecido em todos os cantos do Globo. O desenvolvimento das tecnologias informáticas e de telecomunicações veio tornar supérflua a existência de uma moeda de reserva mundial. Aliás, está claro para todos que as divisas que usamos no dia-a-dia já estão largamente digitalizadas. O papel moeda é ainda usado, mesmo nas economias mais desenvolvidas, mas em percentagem cada vez mais modesta nas atividades comerciais. Não há razão prática nenhuma para forçar a digitalização a 100% das nossas economias. Esta tentativa mascara o desejo do controlo totalitário sobre os cidadãos: Uma divisa assim, torna toda a troca envolvendo esta divisa digital completamente transparente para o banco central respetivo. Este poderá monitorizar as transações, manipular as pessoas a consumirem mais disto e menos daquilo ou mesmo, interditar certas pessoas de usarem a divisa digital.


O RESULTADO DA CRISE SERÁ IMPREVISÍVEL & IRREVERSÍVEL

Nesta época de transição para um mundo muito mais incerto, com guerras acesas que poderão alastrar, com crises económicas e financeiras que atingem o coração do sistema capitalista internacional, temos de saber como nos comportar, em relação às poupanças e aos investimentos. 

O mundo capitalista está na véspera de um colapso muito maior do que o de 2008, pois desta vez, nem os governos, nem os bancos centrais, poderão salvar da bancarrota inúmeras empresas. Os próprios Estados estão sobre endividados num ponto jamais visto no passado. A guerras híbridas multiplicam-se, sendo as armas económicas e  financeiras parte importante da panóplia: sanções económicas, bloqueios, tarifas alfandegárias, embargos, exclusões. Nisto, os cidadãos dos países são envolvidos contra a sua vontade: somos os danos colaterais das guerras económicas, assim como os mortos e feridos civis, o são de conflitos bélicos com mísseis e canhões.

Não dou conselhos de investimento ou outros, mas penso que há duas coisas que temos de saber:

- Triar a informação, separando-a da propaganda. Saber analisar os factos, tentando ver como se movem os grandes atores; não como eles falam, mas como agem.

- Garantir a satisfação das necessidades imediatas, mas tendo em conta a possibilidade de cenários catastróficos. Portanto, dar preferência à resiliência sobre os ganhos, por mais apetecíveis que pareçam. 

O futuro coletivo depende de haver suficientes indivíduos que consigam superar a grande crise e reconstruir aquilo que foi destruído. 

Por isso, estou interessado em salvaguardar a minha família e eu próprio, mas também, que o mesmo aconteça a muitas pessoas da classe trabalhadora e da classe média. 

 

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

PAÍSES OCIDENTAIS PRETENDEM CANCELAR O NOVO SISTEMA DE TRANSFERÊNCIAS DOS BRICS (MBRIDGE)



Se aquilo que Lena Petrova relata se confirma, que o BIS está na disposição de cancelar o M-BRIDGE, isto significa que o BIS está totalmente alinhado com os EUA e o «ocidente», já não é mais uma organização independente.
É um nível mais elevado na escalada da guerra económica do Império USA contra  os BRICS.
 
PS1: Esta louca corrida para a frente dos que controlam ainda parte substancial das finanças mundiais (bancos centrais ocidentais, o BIS, o FMI...) deve ser avaliada em função de dois fenómenos inquietantes (para eles):

1) A subida vertiginosa dos mercados na China (30% em dez dias), em resposta à descida das taxas pelo banco central chinês. 
2) A dificuldade em colocar obrigações do tesouro dos EUA (treasuries) a 2 e a 5 anos, levou ao aumento da taxa de juro e portanto, à diminuição do valor destas treasuries. 
Isto deve-se à expetativa dos investidores de que irá disparar a inflação nos EUA. Num primeiro momento, os EUA poderão conseguir exportar a inflação, como tem acontecido no passado. 
Mas, a partir de certo ponto, haverá uma relutância e depois recusa, nos outros países, em aceitar dólares em pagamento. Então, será o fim do domínio do dólar.