«Esses fantoches são tão moralmente culpados quanto os historiadores da corte que, na Alemanha dos anos 1930, denunciaram aqueles que se opunham ao extermínio de judeus, ciganos, comunistas, deficientes e gays como racistas antiarianos.»
Gaza, 6 de dezembro de 2023. (Tasnim News Agency, Wikimedia Commons, CC BY-SA 4.0)
Qualquer pessoa que, neste momento, ainda dê prioridade ao combate ao antissemitismo na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos ou na Europa, em vez de interromper um genocídio de 19 meses em Gaza, é secretamente a favor desse genocídio. Precisa de ser envergonhada – e urgentemente.
Já passou o tempo em que havia qualquer dúvida de que o que o Tribunal Internacional de Justiça temia há 16 meses ser um genocídio é, na verdade, um genocídio. Israel não tem mais vergonha em admitir que está matando de fome a população de Gaza. Israel vem bloqueando expressamente todo o fornecimento de alimentos e água para Gaza há mais de dois meses.
Chegámos ao ponto em que até mesmo académicos patriotas israelitas, que tentavam desesperadamente ignorar essa realidade, estão tardiamente e relutantemente admitindo que o genocídio de Israel em Gaza é indiscutível.
Para entender as contorções mentais às quais eles se submeteram ao longo do último ano e meio, assista a esta entrevista de Owen Jones com Shaiel Ben-Ephraim, ex-oficial de inteligência israelita, diplomata e académico. Até ele agora admite : "Eu estava errado"( ver AQUI).
Mas, infelizmente, ainda há muita gente usando suas plataformas do establishment e usando suas credenciais de establishment como arma para turvar as águas. E turvar as águas, 19 meses depois de um genocídio, é tão moralmente culpável quanto apoiar diretamente esse genocídio.
Aparece, em desgraça, o mais recente apologista do genocídio: o “aclamado” historiador e autor Simon Sebag Montefiore.
Ele passou o fim de semana desperdiçando tempo na Sky News, que deveria ter sido dedicado ao milhão de crianças que estão morrendo de fome, devido ao bloqueio total de Israel, que já dura dois meses, à entrada de alimentos e água em Gaza. Se acabar com esse bloqueio não é sua prioridade política número um neste momento, há algo muito errado com sua bússola moral.
Montefiore, autor de uma "biografia" de Jerusalém recentemente atualizada, foi ao programa de Trevor Phillips na manhã de domingo para alertar , não que crianças estão sofrendo de desnutrição severa em Gaza e correm risco iminente de morte, mas que judeus britânicos como ele estão preocupados com um suposto aumento do antissemitismo como resultado disso.
Renovando a imposição do Tabu
Este é o ponto em que eu deveria injetar alguma preocupação sobre o ódio ancestral aos judeus. Deixemos isso para outra ocasião. Ou melhor, vamos analisar a que Montefiore e outros apologistas do genocídio se referem, principalmente quando começam a alertar sobre um aumento acentuado do antissemitismo — alertas que sempre coincidem com Israel fazendo algo monstruoso contra civis palestinos, e fazendo isso em grande parte sob os olhos do público.
De acordo com Montefiore, “O que estamos vendo é o fim do tabu sobre o antissemitismo, que foi realmente um dos resultados da guerra de 1945 e do Holocausto – e, você sabe, 80 anos depois, ele [o tabu] quase que acabou”.
Ele acrescenta: “Muitas das coisas que considerávamos garantidas nas nossas democracias – das quais o tabu do antissemitismo é um dos principais – estão agora a ser desafiadas e terão de ser lutadas novamente.”
Parte do problema, afirma ele, reside nos ativistas dos direitos palestinos, que aparentemente têm se manifestado demais sobre o assassinato em massa de crianças palestinas por Israel com bombas fornecidas pelos EUA e agora estão se preocupando demais com a fome provocada das crianças sobreviventes por Israel. O foco dos ativistas antigenocídio no assassinato de crianças, diz ele, está "explorando clichês medievais de antissemitismo".
Isso ecoa, ele argumenta, “a difamação medieval em torno do sangue, de que o povo judeu usava o sangue de crianças cristãs para fazer seus bolos de Matzá para a Páscoa, que começou na Grã-Bretanha Medieval e que agora você vê regularmente nos cartazes, nos comícios, você sabe, os anti-Israel, pró-Palestina” [sic].
Se você está surpreendido por não ter visto nenhuma dessas faixas de difamação de sangue nas marchas antigenocídio — ou visto elas espalhadas nas primeiras páginas do Daily Mail e do Telegraph — é porque elas existem apenas na imaginação de "intelectuais públicos" do establishment, como Montefiore.
O perigo, dois meses após o início do rigoroso programa de fome de Israel para os palestinos em Gaza, de acordo com Montefiore, não é que um milhão de crianças palestinas — a parte mais vulnerável da população — estejam em risco iminente de uma morte horrível e prolongada ou de danos físicos e mentais permanentes devido à desnutrição extrema.
Não, é que alguns observadores podem culpar os "judeus" — ele quer dizer Israel e seus apologistas sionistas — por assassinar crianças quando o Estado que alega representar os judeus — um Estado com o qual, como nos dizem continuamente judeus como Montefiore, a maioria dos judeus ocidentais se identifica — está na verdade perseguindo uma política que levaria ao assassinato até um milhão de crianças palestinas pela fome, depois que esse mesmo estado assassinou muitas dezenas de milhares de crianças palestinas e mutilou e deixou centenas de milhares órfãs.
Segundo Montefiore, Sir Keir Starmer, que há muito tempo, como líder da oposição, apoiou o bloqueio israelita ao fornecimento de alimentos e água à população de Gaza, precisa agir com ainda mais firmeza. Montefiore parece desconhecer que o governo de Starmer tem usado agressivamente a polícia para reprimir manifestações que protestam contra o genocídio e prender e intimidar jornalistas que tentam reportar o assunto de forma mais crítica.
"Acredito que há um perigo disso em nosso próprio governo — e acho que, você sabe, o Partido Trabalhista, com sua maioria massiva, precisa estar confiante nos interesses do Ocidente", disse Montefiore.
O panorama geral, acrescenta, é que "as democracias precisam vencer. … E eu acho que, sabe, Ucrânia e Israel são apenas dois aliados que precisam vencer. Precisamos mostrar que ainda podemos vencer guerras no Ocidente."
Tudo indica que, para Montefiore, Israel "vencer sua guerra" equivale a ter espaço para continuar matando à fome um milhão de crianças palestinas. De que outra forma interpretar suas palavras, visto que ele considera que a oposição ao programa de combate à fome de Israel ecoa "tropos medievais de antissemitismo"?
Montefiore, é claro, está longe de ser o único entre os chamados "intelectuais públicos" a usar o antissemitismo como arma para desviar a atenção de uma política considerada pelo Tribunal Penal Internacional como um crime contra a humanidade — e pela qual emitiu um mandado de prisão contra o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu.
Em outubro passado, outro escritor "aclamado", Howard Jacobson, usou sua plataforma no The Guardian para afirmar que qualquer pessoa que se opusesse ao genocídio de Israel estava praticando um crime de difamação de sangue. Na época, chamei-o de "o artigo mais vil publicado pela mídia britânica na memória recente". Mas Montefiore, ressuscitando o mesmo tema repugnante sete meses depois do genocídio, coloca Jacobson em segundo lugar.
E há também o aclamado historiador Simon Schama. Surpresa, surpresa, ele tem exatamente as mesmas preocupações com o que considera um aumento do antissemitismo, supostamente evidente na crescente oposição a Israel, que mata e mata crianças de Gaza por fome.
Em março, ele deu uma palestra em Londres na qual se concentrou na suposta disseminação “tóxica” do antissemitismo entre a “geração mais jovem” do Ocidente e disse que um documentário da BBC que ele havia sido encomendado para fazer sobre o Holocausto, The Road to Auschwitz , era sua tentativa de “resistir à tentação de diluir, moderar, universalizar”. [ênfase minha]
Sim, você ouviu direito. Schama acha que tirar lições universais do Holocausto é algo ruim. Por quê? Porque se nos for permitido imaginar que qualquer povo pode se tornar agressor e qualquer povo pode se tornar vítima, então Israel perde aquela dispensa especial que adquiriu há muito tempo das capitais ocidentais para assassinar palestinos em massa sem consequências.
No X, Schama passou a semana passada tuitando contra Louis Theroux por seu documentário, The Settlers , que foi um exame detalhado e extremamente raro — especialmente para a BBC — da violência cotidiana enfrentada pelos palestinos na Cisjordânia por colonos supremacistas judeus, que agora estão fortemente representados no governo israelense e no exército israelense.
Simplesmente conversando com os líderes dos colonos e caminhando pela cidade palestina de Hebron, que está sendo gradualmente tomada pelos colonos com o apoio do exército israelense, Theroux conseguiu capturar em filme seus violentos e racistas ataques contra os palestinos e se deparar pessoalmente com a violência pesada, e muitas vezes mascarada, dos soldados israelenses que ali estavam para impor o privilégio dos colonos e a servidão palestina.
Schama obviamente não ficou feliz com a BBC transmitindo esse raro vislumbre das condições horríveis enfrentadas pelos palestinos na Cisjordânia — um pálido eco das condições enfrentadas há muito tempo pelos palestinos em Gaza, condições que provocaram um apoio crescente à política de resistência armada do Hamas e levaram à sua fuga desesperada e violenta de um dia em 7 de outubro de 2023.
Schama preferiria que a BBC financiasse apenas filmes como o dele, que voltam a lente sete ou mais décadas para os judeus como vítimas de genocídio, em vez de um que mostre a realidade atual dos judeus israelenses como instigadores do genocídio e de judeus como Schama como apologistas desse genocídio.
Quaisquer talentos de Schama como historiador o abandonam notavelmente quando a questão é Israel ou Palestina. Abaixo, ele retuíta com aprovação uma publicação do ex- editor do Jewish Chronicle, Jake Wallis Simons, que apoia o genocídio, propagando a mentira óbvia de que Israel parou de ocupar Gaza quando recuou para um perímetro de cerco ao redor de Gaza em 2005, ainda controlando o enclave por terra, mar e ar.
As posições adotadas por Montefiore, Jacobson e Schama sobre o “antissemitismo” não são politicamente ou eticamente neutras – nem o é a sua plataforma preferencial pela mídia estabelecida.
Eles estão lá para atirar areia nos nossos olhos, para sugerir que a raiva justificada evocada pelo massacre e pela fome de crianças em Gaza por um estado de apartheid, autodeclarado estado supremacista "judeu", não está enraizada, como está, na decência básica e no humanismo, mas por algum impulso perverso em direção ao antissemitismo.
Isso é puro pedido de desculpas por genocídio por parte desses intelectuais públicos “aclamados”.
Eles são tão moralmente culpados quanto os historiadores da corte que, na Alemanha dos anos 1930, denunciaram aqueles que se opunham ao extermínio de judeus, ciganos, comunistas, deficientes e gays como racistas antiarianos.
A suposição velada de Montefiore, Jacobson e Schama, expressa explicitamente por políticos israelenses, é esta: "Não há inocentes em Gaza. Ninguém em Gaza está alheio."
É com essa premissa totalmente falsa em mente que eles vendem para si mesmos — e tentam nos vender, por meio de plataformas cúmplices como Sky News e The Guardian — a ideia de que qualquer um que se oponha ao massacre e à fome das crianças de Gaza também está "envolvido", que eles devem ter favorecido o assassinato de civis israelenses em 7 de outubro de 2023 e, portanto, secretamente abrigam o desejo de ver todos os judeus exterminados.
A realidade é que se figuras públicas judaicas proeminentes como Montefiore e Schama estivessem realmente preocupadas com um aumento do antissemitismo, elas se posicionariam frontalmente contra Israel — um estado que afirma representá-las — não apenas por matar de fome crianças palestinas, mas também por defender publicamente essa fome.
Se eles realmente achassem que o antissemitismo fosse uma ameaça tangível, não se identificariam tão facilmente com um "estado judeu" genocida que reviveu o que antes eram claramente libelos de sangue odiosos contra o povo judeu e os fez parecer mais plausíveis ao dizimar as crianças de Gaza com um programa apoiado pelo estado de bombardeios indiscriminados e fome, realizado em nome dos judeus em todos os lugares.
Lembre-se, no mês passado o ministro da defesa de Israel, Israel Katz, declarou : “A política de Israel é clara: nenhuma ajuda humanitária entrará em Gaza”.
Você não pode assistir a um estado que afirma representá-lo matar dezenas de milhares de crianças, mutilar e deixar centenas de milhares órfãs, e depois deixá-las todas famintas, e denunciar a reação inevitável como "antissemitismo".
Você não pode por dois motivos.
Primeiro, porque essa reação não é antissemitismo. É uma reação totalmente justificada e moralmente imperativa ao assassinato em massa sancionado pelo Estado. É a resposta mínima necessária ao terrorismo de Estado.
E segundo, porque denunciar e difamar aqueles que protestam contra o massacre de inocentes como antissemitas é usar sua condição judaica para uma causa moralmente abominável: proteger e perpetuar essa matança. É usar sua condição judaica como um porrete para silenciar qualquer um que ainda tenha uma bússola moral. É usar sua condição judaica como arma para desculpar e defender o genocídio. E, portanto, é provocar exatamente o que você afirma estar tentando impedir: o antissemitismo.
Montefiore, Jacobson, Schama. Cada um é um demônio, moralmente esvaziado por uma ideologia política depravada de supremacia étnica chamada sionismo.
Essa ideologia sempre levou ao genocídio. E quando chegou o momento, cada um de nós enfrentou o momento decisivo do acerto de contas. Iríamos nos levantar e dizer "Não!", ou encontraríamos uma desculpa para racionalizar o massacre de crianças?
Jonathan Cook é um jornalista britânico premiado. Ele morou em Nazaré, Israel, por 20 anos. Retornou ao Reino Unido em 2021. É autor de três livros sobre o conflito Israel-Palestina: " Sangue e Religião: O Desmascaramento do Estado Judeu" (2006), " Israel e o Choque de Civilizações: Iraque, Irã e o Plano para Reconstruir o Oriente Médio" (2008) e " Palestina Desaparecida: Os Experimentos de Israel em Desespero Humano " (2008). Se você aprecia os artigos dele, considere oferecer seu apoio financeiro .
Há mercados e mercados. Os mercados bolsistas, mesmo as ações das empresas mais conhecidas, ou os índices do «S&P 500» ou do «NASDAQ», apenas afetam diretamente os que investiram nesses ativos. Mesmo os «valores seguros», estão sujeitos a grandes perdas, como nos foi dado ver, nestes últimos dias, no crash da libertação a 2 de Abril.
O S&P perdeu 11.5% em 3 dias, e o juro das obrigações do Tesouro a 10 anos [ 10Y UST ] situa-se agora a 4.38%. As «treasuries» dos EUA já não podem servir como tradicional «porto refúgio» dos capitais.
Esta mudança tectónica é, no entanto, mais significativa ainda no médio/longo prazo para os mercados de matérias-primas e produtos manufaturados, ou seja, para a «economia real», a qual afeta todas as pessoas, em todos os países.
Não tenho dúvidas de que estamos perante um crash induzido: Os que planearam este crash, no círculo de Trump, sabem perfeitamente que estas modificações bruscas de tarifas alfandegárias têm implicações a vários níveis. Não só afetam os preços das mercadorias ao consumidor, os fluxos das mesmas mercadorias, e - em consequência - os fluxos de capitais. Mas, igualmente jogam com o panorama de alianças no âmbito da IIIª Guerra Mundial.
Estas mudanças estão ainda no começo, embora as novas linhas de fratura já se vislumbrem, pelos discursos e sobretudo, pelos atos concretos dos governos. Os vassalos do império dos EUA, Starmer, Macron, Van der Leyen, etc, estão atónitos: Após a mudança de rumo nos assuntos da guerra Russo-Ucraniana, vem um «segundo punch», que os deixa a cambalear. Estão incapazes de fazer frente à nítida desautorização, pela potência tutelar que os «protegia».
Mas, a China não se deixou intimidar e respondeu exatamente com as mesmas medidas tarifárias, mas em sentido contrário às dos EUA. Além disso, e muito menos divulgado, decidiu proíbir a exportação de «terras raras» que os EUA precisam para sua indústria de eletrónica, incluindo o fabrico de «microchips» para os jets, mísseis e outras armas sofisticadas.
A China encontra-se, claramente, em vantagem; constatação consensual, qualquer que seja a simpatia ou antipatia dos observadores, em relação ao gigante asiático. Do ponto de vista das alianças, igualmente está a ganhar, com o estreitamento dos laços comerciais e a formação duma «frente comum», com os parceiros da ASEAN. Isto reveste-se de significado estratégico também, pois as (atuais e futuras) sanções ocidentais não a incomodarão; a China terá ainda maior independência comercial, em relação aos EUA e seus vassalos ocidentais. Mesmo os mais fiéis vassalos dos EUA no Extremo-Oriente (Coréia do Sul e Japão), estão dispostos a coordenar ações com a China, para minimizar o efeito do «tornado tarifário Trump» sobre as exportações.
Tudo o que se possa pensar sobre a polaridade globalização/soberanismo, está posto em causa; pois, tradicionalmente, a defesa da globalização capitalista era obra dos EUA e de seus aliados, enquanto as políticas de defesa da soberania, eram protagonizadas pela Rússia, a China e seus aliados nos BRICS...
Hoje em dia, o Mundo descobre que é um perigo bem maior, em termos comerciais e de estabilidade económica, política e geoestratégica, desenvolver laços com os EUA. Estes, serão ainda a potência económica maior em volume de capitais investidos, embora já não em termos de produção de bens industriais.
Pelo contrário, a China é um parceiro confiável: Está sempre atenta aos fatores de estabilidade, predictibilidade e recíprocidade.
Por isso, também, é vã a tentativa de desacoplar a Rússia, da China: Estão envolvidos numa aliança a vários níveis, da defesa ao comércio, da diplomacia à construção de novas rotas terrestres e marítimas (incluindo a rota o Ártico).
Finalmente, o que deveria preocupar mais as pessoas no Ocidente, seria antes a atitude aventureira dos dirigentes, que não sabem como atuar; as suas visões estavam falseadas... mas, falseadas por eles próprios. É um caso de auto-engano, de tomarem seus desejos pela realidade. A sua credibilidade atinge mínimos, nas sondagens de opinião. Estes factos não nos devem tranquilizar, pelo contrário; pois a nossa «democracia», com todas as suas limitações já não é tolerável para os «nossos dirigentes». Eles revelaram-se naquilo que já eram, em segredo: Autocratas ao serviço das oligarquias, interessados apenas retoricamente em afirmar os valores da democracia «para dar uma imagem», para consumo do povo.
O que fazem, na realidade, é no interesse diametralmente oposto ao dos respetivos povos, das respetivas nações.
Com leis absurdas, produzidas por eles próprios, estão muito atarefados a neutralizar (pela censura, por processos judiciais e pelo assédio policial) todos aqueles que se atrevem a contestar a sua política.
Os poderes têm não apenas difamado, como reprimido, manifestantes contra a monstruosidade do genocído dos palestinianos pelos israelitas, em Gaza e na Margem Ocidental. Se isto não é fascismo em ação, expliquem-me então, o que é...
Tudo aquilo que eu temia, quando falava da destruição de um semblante de legalidade e do Estado de Direito, a propósito da repressão aos dissidentes do COVID e da campanha de «vacinação» forçada, está a ser (re)posto em prática, agora. Existe um centro operacional comum, que coordena ao nível dos países da UE e da OTAN, a repressão da dissidência. É uma contínua guerra contra a cidadania, silenciosa mas sem quartel.
Os poderes de Estado, violentos, têm as forças repressivas ao seu serviço e os povos estão desarmados: Os tribunais são a maior farsa e as forças de oposição parlamentar têm sido impotentes, quando não colaborantes.
O fascismo do século XXI , não só tem avançado (ver artigo de Jonathan Cook), mas já tem o atrevimento de negar, ostensivamente, os valores que enformavam a «democracia liberal» nos países da OTAN em geral e, em especial, na França, Alemanha e Reino-Unido...
-----------------
PS1: OS BRICS e a multipolaridade são fatores decisivos, que modificam qualitativamente as relações do «Sul global» com o «Ocidente global».
PS2: Veja o que tem acontecido com as compras de ouro pelo banco central da China (a azul) e com as compras/vendas de Obrigações do Tesouro US (a vermelho): O PBOC tem um meio eficaz de pressão sobre o dólar e tem exercido essa pressão, de forma consistente.
Jonathan Cook é um britânico radicado em Nazareth (Palestina), que tem mantido um constante fluxo de informação independente, em língua inglesa, sobre o conflito israelo-palestiniano. Ele tem sido uma das fontes mais fidedignas sobre as guerras israelo-árabes e a ocupação dos Territórios da Palestina.
Podeis estar contra ou a favor dos seus pontos de vista, mas não podeis negar a objetividade e relevância dos dados que ele tem vindo a divulgar ao longo dos anos.
Devemos tomá-lo muito a sério, quando diz que Israel é modelo («template») para o que se tem estado a passar na Europa e nos EUA, nas guerras contra as liberdades. No Reino Unido e em vários países da U.E. (incluindo a Alemanha, mas não exclusivamente) fabricaram leis que equiparam a solidariedade com o povo palestiniano, com «conivência com terroristas». Na mesma ocasião, as notícias sobre terrorismo de Estado, em Israel e nos «civilizados» países ocidentais, são suprimidas. Em vários casos, a sua denúncia tem sido mesmo criminalizada e não os atos destes Estados, propriamente terroristas!
O fascismo nunca desapareceu das nossas sociedades, das nossas instituições, das mentalidades de muitos concidadãos. Esta é a verdade que Jonathan Cook nos mostra. A conivência com o genocídio dos palestinianos às mãos dos sionistas de Israel não seria sequer possível e ainda menos defendida por larga base do establishment, caso o fascismo tivesse sido completamente derrotado, após a II Guerra Mundial.
Aqueles de nós que continuamos falando sobre o uso que Israel fez da chamada diretiva Hannibal em 7 de outubro de 2023 — na qual Israel matou seus próprios cidadãos para impedir que fossem capturados pelo Hamas — fomos difamados por desculpar os crimes do Hamas naquele dia.
Não é por isso que sinalizamos o problema.
Em parte, isso se deve ao fato de que algumas das imagens mais horripilantes de 7 de outubro, de corpos carbonizados e carros e casas destruídos em Israel — apresentadas como evidência de uma barbárie especial que é supostamente típica dos palestinos — foram quase certamente causadas por Israel invocando sua diretiva de terra arrasada naquele dia.
Essas imagens se tornaram centrais na onda de propaganda lançada por Israel e seus apologistas para justificar o massacre em massa de crianças de Gaza nos 17 meses seguintes.
Mas há também uma razão muito mais urgente e premente para manter nossa atenção focada no papel da diretiva de Hannibal. E ela se relaciona com o que está acontecendo agora.
[O presidente Donald Trump emitiu ameaças militares sobre as consequências de não entregar reféns israelenses que, segundo o Hamas, se forem realizadas, violariam os termos do cessar-fogo .]
Israel e os EUA ainda estão aplicando a diretiva de Hannibal — contra os prisioneiros israelenses mantidos em Gaza.
O ponto da diretiva sempre foi impedir que o inimigo pudesse usar reféns israelenses como alavanca para atrair Israel para negociações — principalmente para pressioná-lo a entregar qualquer um dos milhares de reféns palestinos que mantém em seus campos de prisão e tortura . Muitos deles nunca foram acusados ou julgados.
Israel e os EUA nos dizem que precisam bombardear Gaza — no que equivale a um genocídio "plausível", de acordo com a mais alta corte do mundo — para forçar o Hamas a devolver os prisioneiros israelenses. Mas, na verdade, Israel e os EUA estão matando imprudentemente esses mesmos prisioneiros por meio de suas ações.
Why? So they don’t have to negotiate over a ceasefire. So they can carry on with the genocide, without pressure to deal with the fate of the Israelis held in Gaza.
“Bring Them Home” — a giant lights sign by artist Nadav Barnea at Charles Bronfman Auditorium, Heichal Hatarbut, Tel Aviv, Jan. 3, 2024. (Yossipik, Wikimedia Commons, CC BY-SA 4.0)
It was exactly the same reckless approach on Oct. 7, when Israel showed it was indifferent as to whether Israelis lived or died so long as they weren’t taken captive.
That’s why — in one instance we know about — the Israeli military fired into a home in Kibbutz Be’eri, knowing that there were a dozen or more Israelis inside, including children.
The army was completely indifferent as to whether those Israelis would be killed as a result. All but two were. Those witnesses are the main reason we know what really happened.
That’s why Israel’s Apache helicopters recklessly fired on hundreds of cars fleeing the Nova music festival, indifferent to whether the cars contained Hamas fighters or Israeli citizens.
Even the former defence minister, Yoav Gallant, admits the directive was invoked that day.
We’ll never know how many Israelis were killed – in part because Israel will never let us know. It’s even buried many of the destroyed cars to stop a forensic investigation.
But what we do know with certainty is that the Israeli military killed many Israelis on Oct. 7.
Western media have studiously refused to report on the issue of the Hannibal directive, even though it is all over the Israeli media. (See here, here, here and here.)
That is more than just a failure by Western media outlets. It is a crime against journalism — if not complicity in the genocide itself.
Western publics need to know that the Hannibal directive was invoked for a very simple reason: It is a crucial piece of information for assessing the credibility of Israeli and U.S. claims that they are trying to get the Israeli captives back alive and to properly weigh Israel’s motives in returning to the genocide in Gaza.
Notice how, in Trump’s latest deranged tweet, he accuses Hamas of “murdering” the Israelis held in Gaza. That’s pure, Israeli-inspired disinformation.
It is clear that most, if not all, of the dead captives were killed not by their Hamas captors but by Israel’s massive, reckless 15-month bombardment of the tiny territory of Gaza. That same bombardment, the equivalent of six Hiroshimas, has leveled Gaza and killed many tens of thousands — maybe hundreds of thousands — of Palestinians.
Why is Trump so eager to misdirect us?
Because he wants to win our support for Israel’s continuation of its slaughter of the people of Gaza and justify his own decision to supply, as his predecessor did, the weapons needed to continue that genocide.
After all, Trump makes his own genocidal intent expressly clear in addressing “the people of Gaza” and telling them that they will all be “DEAD” if the Israeli captives aren’t handed over. Yet “the people of Gaza” have no control over whether the captives are released.
Notice too that Trump calls Hamas “sick and twisted” for holding on to the bodies of dead Israeli captives, even though it is Israel that is violating the ceasefire agreement that would see those bodies returned.
This has become a further rationalisation by Israel and the U.S. for killing “the people of Gaza.” But Hamas learnt the value of using dead bodies as bargaining chips directly from Israel.
For years, the Israeli government has had a policy of refusing to return to their families the corpses of those Palestinians it has killed, including while in its torture camps. This violation of international law long predates Oct. 7. The Israeli courts have repeatedly approved the policy, accepting the government’s view that the bodies should be held as “bargaining chips.” It gave its backing again in January.
So if Hamas is “sick and twisted,” it is only because Israel is even more sick and twisted. If Trump thinks the people of Gaza deserve a genocide because of their leaders’ “sick and twisted” decisions, should he not be consistent and argue that the people of Israel deserve a similar fate for their own leaders’ “sick and twisted” decisions?
A campaign of lies and disinformation have helped to shred international law over the past year and half. And one of the biggest lies is the pretence that, in slaughtering Gaza’s children, Israel has been acting in the interests of Israelis held in the enclave.
Jonathan Cook is an award-winning British journalist. He was based in Nazareth, Israel, for 20 years. He returned to the U.K. in 2021. He is the author of three books on the Israel-Palestine conflict: Blood and Religion: The Unmasking of the Jewish State (2006), Israel and the Clash of Civilisations: Iraq, Iran and the Plan to Remake the Middle East (2008) and Disappearing Palestine: Israel’s Experiments in Human Despair (2008). If you appreciate his articles, please consider offering your financial support.
Nós já sabíamos que os «nossos» governos ocidentais estavam completamente alinhados com o imperialismo americano.
Sabíamos que - por ordem deste - os governos ocidentais tinham imolado as suas próprias nações no altar da "pátria banderita", para levar a guerra à Rússia como «cruzados» que, mentalmente, permanecem cerca do ano 1100 AD.
Agora, a média corporativa, propagandista do «status quo ocidental», entusiasma-se na defesa dos sionistas fanáticos, disfarçados em «claque» da equipa israelita de futebol que foi disputar, na semana passada, uma partida em Amsterdam.
O comportamento dos governos europeus ocidentais é a expressão mais acabada do ruir daquilo que os próprios (ou seus antepassados) consideravam uma das marcas da civilização: "A lei é igual para todos, quem infringir a lei tem de ser sancionado". Princípio integrante do Estado de Direito e cerne da chamada «democracia liberal».
Neste apêndice do vasto continente euroasiático, que é a Europa Ocidental, só resta a casca vazia da «democracia liberal». Ou... nem sequer isso: Pois até esta capa, os próprios governantes não se importam de rasgá-la.
Deveria eu ficar feliz, perante um erro tão grande e revelador dos que ocupam as cadeiras do poder? Mas, não; afinal, eles têm podido fazer isto e muito mais, porque a cidadania não reage, ou reage segundo o modelo de reflexos pavlovianos mais caninos que se possa imaginar (peço desculpa aos cães, são mais inteligentes que isso, na verdade). Fico, por isso, profundamente triste e preocupado.
O artigo de Jonathan Cook, jornalista independente que vive em Nazareth, na Palestina ocupada, é suficientemente claro e detalhado para que eu me limite ao curto texto acima e passe logo a palavra ao autor:
NOTA: ESTE VÍDEO DESMASCARA O FACTO DAS NOTÍCIAS DA MEDIA CORPORATIVA ASSUMIREM QUE OS AGRESSORES ERAM MUÇULMANOS, E OS ADEPTOS DA EQUIPA MAKABI FORAM OS AGREDIDOS. FOI EXATAMENTE O CONTRÁRIO. CONFIRMA A FOTÓGRAFA E JORNALISTA QUE FILMOU AS CENAS. OS AGRESSORES TINHAM AS CORES DA EQUIPA ISRAELITA (AMARELO, AZUL CLARO E AZUL ESCURO). VEJAM:
PS1: NOVOS INCIDENTES ENVOLVENDO CLAQUE SIONISTA NUM JOGO DE FUTEBOL EM PARIS, UMA SEMANA APÓS OS INCIDENTES DE AMSTERDAM. LEIA ARTIGO DE MIKE WHITNEY,AQUI.
O totalitarismo é um termo associado a regimes cruéis, que ocorreram no passado recente, no século XX. Porém, nós estamos a mergulhar num novo totalitarismo, com características semelhantes aos do passado. Mas com outros traços, inéditos, seja na forma, seja nos meios repressivos, seja ainda na consciência (ou ausência dela) do público.
Tenho escrito neste blog sobre o totalitarismo, em que é que ele diverge de ditaduras «clássicas».
Acontece que coincidem três leituras, sobre aspetos deste novo totalitarismo, por autores que eu estimo, pessoas muito diversas, mas que estão associadas no meu espírito com a integridade que qualquer jornalista, cientista social ou psicólogo, deveria possuir, embora seja cada vez menos frequente.
A seguinte abordagem vem de uma psicanalista, Ariane Bilheran: Ela detalha, numa entrevista em francês, como é que a língua é moldada para incutir nas pessoas uma certa forma de pensar, sem que elas se apercebam. Só com a análise fina das distorções de sentido das palavras, dos neologismos, e as distorções na gramática, se consegue decifrar o pensamento do poder totalitário. Este impõe a toda a sociedade a sua «nova normalidade». Esta é uma característica própria do totalitarismo, o não se contentar com uma coerção exterior (como numa banal ditadura), mas querer mudar as pessoas por dentro.
Oiçam a entrevista (em francês):
Na «Guerra Cognitiva no Ocidente», Thierry Meyssan descreve a arbitrariedade com que são perseguidos e encerrados órgãos de comunicação, só porque são russos, ou de origem russa. Esta censura extrema esconde-se por detrás de «atos administrativos», nunca são levantados processos por infrações supostamente cometidas. Evidentemente, tais atos arbitrários dos governos ocidentais destinam-se a impedir que outras perspetivas, outros pontos de vista, ou dados objetivos sobre o que se está a passar, cheguem ao conhecimento do público.
«A liberdade de informar e ser informado não se aplica a eles» dirão alguns, no que estão a legitimar a mesma censura que existia nas ditaduras totalitárias e incluindo no fascismo de Salazar e Caetano, supostamente de brandos costumes, em Portugal.
A criminalização da dissidência vai de par com a interdição de órgãos da comunicação social que dão voz aos pontos de vista dos dissidentes.
A polícia federal alemã lançou em julho de 2024, buscas com grande aparato, para reprimir um crime imaginário e apreendeu uma quantidade de documentos. O tribunal administrativo acabou por anular todo o processo.
O terceiro autor é Jonathan Cook, um britânico radicado em Nazareth, na Cisjordânia. Ele é testemunho direto das brutalidades a que estão sujeitos os palestinianos nos territórios ocupados. Além de Gaza, também a população civil da Margem Ocidental tem sido sujeita a massacres por colonos judeus, que ficam impunes.
Na reportagem seguinte, Jonathan Cook relata não apenas um crime de guerra* por soldados israelitas, como também o tratamento noticioso mais que benévolo, de absolvição, pelo repórter da AP , sobre a ocorrência.
Assim, crimes quotidianos, perpetrados contra palestinianos são «banalizados», «normalizados». É assim que se inocenta, junto da opinião pública de Israel e internacional, o racismo e suprematismo de uma parte da população judaica.
No vídeo* vêm-se corpos de palestinianos a serem atirados do alto de um prédio, por soldados de Israel.
Se contabilizarmos as brutalidades, humilhações e crimes a que estão sujeitos - todos os dias - os palestinianos dos Territórios, temos de concordar que «a banalidade do mal» não se limitou aos criminosos de guerra alemães, julgados em Nuremberga, no final da IIª Guerra Mundial.