Muito se tem escrito em Portugal sobre a China, sobre os investimentos chineses em infraestruturas um pouco por todo o lado, a sua insaciável fome de matérias-primas, em particular de petróleo. Mas poucas vezes nos é explicado o papel das plataformas de negociação do ouro e do yuan, como forma de adquirir um cada vez maior pedaço do comércio internacional e de assegurar que o abastecimento do «Império do Meio» não será dramaticamente afectado pela crise que está «levedando» nos mercados internacionais, da finança ainda dependentes do dólar.
A importância do ouro, nesta estratégia, não pode ser deixada de lado, sob pena de não se compreender rigorosamente nada do grande jogo do «Império do Meio». O artigo seguinte é muito esclarecedor:
Belt & (Yellow Brick) Road: China Is Absolutely Dominating The Global Gold Trade
A China não pretende que a sua moeda se torne o substituto do dólar como moeda de reserva; pretende que o valor do seu excedente em dólares (mais de 1,2 milhares de milhões de dólares em obrigações do Tesouro dos EUA) não seja completamente evaporado pela política hiperinflacionária dos bancos centrais e governos ocidentais.
Tem lançado a iniciativa «Belt and Road» ou «Nova Rota da Seda» para firmar e consolidar as bases de parcerias com os mais diversos países, em trocas comerciais mutuamente vantajosas, sem quaisquer compromissos que não sejam os decorrentes do que é acordado entre as partes. Os numerosos países que aderem a esta plataforma poderão contar com instrumentos de crédito muito eficientes - os contratos de petróleo em yuan são apenas um exemplo - que permitirão a esses países dispensar o dólar como moeda de reserva. A nota de crédito de Yuan remível em ouro, por outro lado, será um instrumento de crédito que oferece mais estabilidade e garantias de pagamento do que as notas de crédito em dólares até agora utilizadas correntemente no comercio em grosso, como no pagamento das mercadorias de um navio num porto.
Para se ver menos susceptível perante uma eventual queda do dólar, a China tem usado os dólares para muitas das obras de infraestrutura (portos, caminhos de ferro, estradas, etc.), em especial, nos países que participam na «Belt & Road Initiative». Para se ver livre do seu excedente de dólares, estabeleceu recentemente um contrato com Angola, em como receberia petróleo angolano em pagamento de um empréstimo em dólares que Angola precisava e que a China se apressou a conceder-lhe.
Se a China estivesse interessada em sabotar o dólar que é, junto com o poderio militar, a forma concreta que os EUA têm de dominar o mundo, poderia fazê-lo, desfazendo-se de suas enormes reservas em «treasuries» (as obrigações do tesouro dos EUA). Porém, isso seria suicidário para ela própria, pois os EUA e o Ocidente, que está na «esfera de influência do dólar», no seu conjunto, são os seus maiores parceiros comerciais. Por outro lado, através desta política de gastar nas infraestruturas o seu excedente em dólares, dirigida a países recém independentes do jugo colonial, terá uma aceitação muito maior e poderá sem forçar nada concluir, futuramente, trocas comerciais em yuan, não em dólares.
A partir do momento em que uma maior fatia do petróleo e doutras matérias primas forem transaccionadas noutras divisas, que não o dólar, a dominação deste (e da potência que o emite, os EUA) ficará muito limitada.
É muito provável que o sistema monetário internacional evolua de maneira relativamente pacífica, como aconteceu com a substituição da Libra esterlina, moeda de reserva durante mais de um século e que foi progressivamente perdendo peso a favor do dólar.