Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.
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sexta-feira, 11 de março de 2022

CRÓNICA (nº1) DA TERCEIRA GUERRA MUNDIAL - MÚLTIPLOS TIROS NO PÉ




Vivemos em tempos interessantes; interessantes, no sentido de algo inédito. Não é todos os dias que se observa um Império a desmoronar-se. Pois creio, sinceramente, que é este espectáculo que temos diante dos nossos olhos.

O gigante americano ficou ébrio da vitória sobre seu arqui-inimigo, a URSS. Desde então (1991), tem multiplicado as agressões. Começou depressa e em solo europeu. Lembremos que foi por sua iniciativa e com ajuda do governo vassalo da República Federal da Alemanha, que  começou o desmembramento da República Federativa da Jugoslávia. O Ocidente mostrou particular raiva contra os sérvios, que sempre foram russófilos. Toda a história da horrível guerra civil jugoslava está manchada pela ingerência «humanitária» (criminosa, na verdade) dos ocidentais, com ou sem a capa da ONU, até ao ponto máximo da guerra dita do Kosovo (1999), em que foi bombardeado pela NATO um país europeu, a Sérvia, que não estava a ameaçar nenhum membro daquela Aliança. Foi um crime de guerra, agravado pelo facto de terem efetuado bombardeamentos aéreos indiscriminados, matando e ferindo inúmeros civis, nomeadamente, em hospitais e noutros locais sem função militar, assim como na embaixada da China, um muito sério incidente diplomático. 

Mas, eles não se ficaram por aqui. Como vingança contra os Talibans, que afinal de contas, tinham dito apenas que queriam ver provas de que Osama Bin Laden estava implicado nos ataques do 11/9, para o entregar às autoridades americanas, decidiram fazer um ataque-relâmpago ao Afeganistão, com «carpet bombing», ou seja, um attaque aéreo com uma densidade de bombardeamento que não deixava pedra sobre pedra, nem qualquer sobrevivente. Foi assim que iniciaram a campanha. Depois, puseram no governo de Kabul,  fantoches por eles escolhidos:  Senhores da guerra, subsidiados pela CIA, que se dedicavam a proteger o cultivo do ópio e a traficá-lo na Ásia Central. Também tinham interesse num projetado gasoduto, que conduziria o gás natural da Ásia Central, para portos nas costas da Ásia do Sul e daí, para o resto do mundo (projeto da UNOCAL). 

Digo isto, porque as pessoas são bombardeadas pela falsa narrativa (fake news) de que «nunca tinha havido uma guerra no solo europeu desde 1945»! Com esta falsa narrativa, tipicamente orwelliana, a media mainstream está a tentar erradicar a memória do crime da chamada guerra do Kosovo. Continuam a fazer o jogo da superpotência americana e dos seus «gnomos» europeus. Quando referem a invasão e ocupação do Iraque, mostram-se falsamente objetivos, pois escondem que as causas desta invasão foram completamente diferentes. A superpotência americana não tolerava que Saddam Hussein (o ex-vassalo, que fez guerra por procuração contra o Irão Xiita, lembrem-se) se tivesse rebelado e iniciado a venda do petróleo noutras divisas (nomeadamente, o euro), que não o dólar. Isso custou-lhe a vida e de um milhão de civis iraquianos, que - supostamente - os americanos e seus aliados tinham vindo «libertar» ! 

Mas o monstro globalista entendeu que não era ainda chegado o momento de partilhar o poder, fosse com quem fosse. Obama e Hillary e os neocons que os apoiavam, fizeram a guerra da Líbia, outro Estado próspero. Era o Estado com mais elevado nível de vida, em toda a África. E tudo isto, porquê? Porque Kaddafi tinha tido a ousadia de propor, numa cimeira africana, uma moeda única africana (à semelhança do euro) para os africanos deixarem de entregar suas riquezas, a troco duma moeda sobre a qual não tinham qualquer controlo (em dólares e/ou euros). Para cúmulo, tinha proposto que o «novo dinar» fosse garantido pelas reservas de petróleo dos participantes e em ouro. Duram até hoje os efeitos da destruição da Líbia e sua transformação em campo de treino e ação para diversas fações da Jihad. Fizeram reverter à miséria total um país que foi rico. Foi transformado num Estado falido onde, nas praças centrais, se podem observar mercados de escravos (em pleno século XXI). Só quem está fanatizado, é que não vê os intuitos civilizacionais e democráticos do «Ocidente»!

A densidade e velocidade dos acontecimentos faz com seja difícil manter atualizada uma cronologia. Para mim, é ponto assente, que os que em 2013-14 incitaram e promoveram o golpe Neo-Nazi de «Euromaidan» (Victoria Nulan, o embaixador dos EUA na Ucrânia e o Presidente Barack Obama), deveriam sentar-se na bancada dos réus, dum tribunal penal internacional. Mas, tal tribunal teria de se guiar pelas regras do Direito Internacional para fazer justiça. Embora eu não acredite que tal aconteça, estou convicto que, para estes criminosos não haverá nunca perdão. São criminosos contra a humanidade. As pessoas que reviram os olhos e pensam que estou a exagerar, infelizmente, só "sabem" o preconceito, não sabem Direito Internacional, nem as Convenções de Genebra, nem a Jurisdição resultante dos Julgamentos de Nuremberga, nem os princípios e declarações vinculativas da ONU, etc.

Claro que nenhum dos povos-mártires vai esquecer. Só para falar dos últimos 25 anos: ex-Jugoslávia, Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria, Iémen. E, agora é a vez da Ucrânia, incitada pelos americanos a fazer a guerra nos territórios do Donbass, causa imediata da intervenção russa. Também não esquecerão, que têm sido objeto de bárbaras e ilegais sanções económicas, definidas (pela ONU) como actos de guerra. Têm sofrido sanções ilegais os seguintes países: Rússia, China, Irão, Venezuela, Coreia do Norte, Cuba, etc., países não alinhados com Washington. Lembro que as convenções internacionais consideram crime, o que os ocidentais fazem constantemente: Impor sanções unilaterais (ou seja, sem a aprovação do Conselho de Segurança da ONU), sabendo muito bem que, quem sofre é a população inocente dos crimes, supostos ou reais, cometidos pelos governos respetivos. 

A loucura dos chamados «líderes» do Ocidente, chegou ao ponto de diabolizarem e encorajar atitudes raivosas e histéricas de discriminação, quando não de agressão, contra cidadãos russos. Estes, para manterem seu posto de trabalho, teriam de vir a público e por escrito declarar que estão contra Putin e contra a invasão. Estes, que não se ajoelham, mesmo que estejam de acordo com ambas as afirmações, podem recear ser destituídos da nacionalidade russa, em consequência de declaração pública, assimilável a traição. Seja qual for o motivo da recusa, os recalcitrantes são corridos, enxotados, demitidos, expulsos dos empregos. Ah! Esta União Europeia, paladina dos Direitos Humanos, estamos realmente edificados pelo seu sentido de justiça, de equidade! Que belo exemplo estão dando ao Mundo!

Agora, com as loucas sanções, o senil Joe Biden e sua coorte de neoconservadores (disfarçados, ou não) pensa estar a dar o golpe mortal à economia russa, proíbindo a importação de petróleo russo. Este constituía cerca de 7% do petróleo total importado pelos EUA, muito pouco, mas o suficiente para impedir a operação de muitas refinarias que, durante décadas, estiveram adaptadas a processar petróleo «pesado» venezuelano e, depois das sanções impostas à Venezuela (e do roubo das suas contas e de seu ouro!), recorriam ao petróleo do Yukon (Rússia) com uma composição compatível com as ditas cujas refinarias. Seria surpreendente que Biden conseguisse a reviravolta do Congresso, para anular as sanções impostas. Mas, mesmo nesta eventualidade, para a Venezuela  iria demorar dois anos, responder à procura acrescida de «crude», porque teria de repor em funcionamento poços e meios para transportar o petróleo. O preço do crude e da gasolina refinada, aumentaram exponencialmente, nos EUA. Coisa que determina - em qualquer país - uma recessão económica, visto que com o preço da gasolina, sobem os preços de todas as mercadorias, dos alimentos aos produtos das indústrias que ainda lá restam. A medida recebeu um «não» da UE e dos países tradicionalmente aliados de Washington, pois atualmente dependem em 40% (petróleo e gás) em média, das importações vindas da Rússia.

 É notável que a Rússia, no meio de tantos atos hostis, de sanções contra o seu banco central (ação inédita, o congelar dos ativos do mesmo), da expulsão do sistema SWIFT de muitos bancos russos etc., não tenha decidido fechar a torneira do gás e não receber novas encomendas de crude, dos países que adoptaram tais sanções. 

Esta guerra é híbrida. No teatro da Ucrânia, há operações militares, com mortos e feridos,  deslocados, destruição de infraestruturas. Noutro plano, o da economia e finanças, há a outra guerra, de sanções e contra-sanções. A consequência é o que estamos a presenciar em todo o mundo (inclusive, em países neutrais): os preços dos combustíveis fósseis sobem em flecha; há escassez de matérias-primas, por não-produção, ou por falta de abastecimento, ou estrangulamentos nos transportes; há receio fundado de uma crise alimentar mundial, visto que os adubos precisam de componentes do petróleo. Além disso, a Rússia e a Ucrânia, juntas, asseguravam uma percentagem muito elevada das exportações de trigo (da ordem de 30% do total mundial, salvo erro). A Rússia não usou (até agora) a arma alimentar; caso o fizesse, as nações mais atingidas seriam as do Terceiro Mundo. Vão, os «mentirosos» dos governos e da média dizer que isto tudo «é culpa do Putin», etc., mas quem se deixa convencer por tais «argumentos», é a faixa da população mais desinformada e acrítica. 

A guerra contemporânea joga-se em múltiplos planos. Não falei aqui dos ciber-ataques, prefiro deixar o tópico para outra ocasião. Resumindo, a guerra contemporânea reveste-se, simultaneamente: 

- Da forma clássica, com tropas, armamento, etc. 

-De guerra diplomática, com nações não envolvidas, a serem capturadas e arrastadas para tomar posição. 

- Da guerra económica, que no presente atinge o auge, com sanções e contra-sanções, bloqueios e mudanças rápidas de parcerias comerciais.

- De guerra cibernética, com ações de «hackers», ao serviço das agências de espionagem, quer para obter informação do inimigo, quer para danificar seus ficheiros e dispositivos.

- Finalmente, a guerra «cognitiva» (ou guerra de propaganda), está dirigida tanto às populações inimigas, como amigas

Todos nós - queiramos ou não - estamos envolvidos; quer estejamos a milhares de quilómetros das operações militares ou muito próximos, vamos ter dificuldades económicas, devido à hiperinflação, a escassez de bens (quer por falta de produção ou de transporte, ou devido ao regime de sanções); seremos bombardeados por notícias ( tal como na pandemia do COVID), muitas falsas, distorcidas, fora do contexto, impondo uma «ortodoxia» sobre todos os assuntos relativos à guerra e a posição que seria «correto», «moral», «patriótico», tomar. 

Receio que a minha posição de condenar toda e qualquer guerra e de levantar a voz por conversações de cessar-fogo, seguidas de conversações de paz, não se faça muito ouvir, nestes tempos. A «bandeira» da liberdade de expressão, sem a qual não existe democracia liberal, já caíu das mãos dos que, ontém, se diziam seus defensores. Eles são, agora, defensores duma censura férrea!

A ruína do sistema mundial capitalista está em curso. A globalização está completamente posta em causa. O dólar está em apuros e não acredito que possa continuar durante muito tempo a ser a principal moeda de reserva do sistema bancário, ou até, em termos comerciais. 

As criptomoedas mostram a sua instabilidade inerente: Não terão, no futuro, capacidade para substituir o sistema monetário, dito de Bretton Woods, já muito abalado. Mas, a única forma dum mundo caótico funcionar, quando a paz voltar, quando for necessário estabelecer um novo sistema monetário, é a seguinte: 

- Haverá várias divisas, assim como ouro e petróleo (e, talvez, outras matérias-primas), formando um cabaz, parecido com o atual «SDR» (Special Drawing Rights) do FMI, mas com estatuto muito mais amplo. Com efeito, os SDR funcionam sobretudo como moeda contabilística interna do FMI, embora seja possível os governos fazerem empréstimos em SDR e podem também ter fundos em SDR. Mas, o dólar americano continua a ser a moeda de reserva mais usada, pelos bancos centrais do mundo inteiro. Ora, isto inclui a China, a qual possui perto de um trilião em bonds do tesouro dos EUA . Ela vai tirar as suas conclusões do comportamento do Ocidente, que rouba o ouro e as reservas dos bancos centrais. Foram os casos recentes, com a Venezuela e Afeganistão. Agora, também, com o roubo das reservas do Banco Central da Rússia. A ligação estratégica entre a Rússia e China vai-se reforçar e aprofundar. Um maior fluxo comercial existirá entre eles, os dois gigantes do Continente Euro-asiático. Uma fatia substancial do comércio, abrangendo também outras nações, vai fazer-se em rublos ou em yuan, ou até com troca de mercadorias por ouro (ou certificados-ouro). O ouro vai de novo, tal como fez durante milhares de anos, entrar por via das trocas comerciais, no sistema financeiro mundial. Isto equivale à morte do dólar, enquanto moeda de reserva. Pois, será claro para muitos países que, em vez de reservas em dólares, que podem ser congeladas, ou mesmo expropriadas por decisão de Washington, mais vale terem ouro em reserva, podendo facilmente transacionar bens de importação ou exportação, por ouro (os bonds em Yuan convertíveis em ouro, no mercado de Xangai, são para isso).

Os EUA e aliados da NATO e UE, têm estado a dar tiros no pé; as medidas que tomam contra a Rússia estão a «fazer boomerang». Estranhamente, eles próprios estão a precipitar a queda do Império do dólar, a perda de sua hegemonia mundial. Não perfilho os sistemas políticos e ideológicos vigentes na Rússia ou na China; porém, reconheço que seus governos estão a usar, com inteligência e astúcia, os instrumentos ao seu dispor, nesta guerra total e híbrida, característica da  IIIª Guerra Mundial.


PS1: Omiti a guerra biológica na panóplia da guerra híbrida: Talvez seja tão ou mais horrível que a guerra atómica. Os russos encontraram na Ucrânia laboratórios, financiados pelos EUA e cumprindo encomendas dos mesmos, dedicados ao fabrico e testagem de armas biológicas, perto da fronteira com a Rússia.  

PS2 : O «think tank» Rand Corporation é extremamente poderoso e influente na determinação da política externa e na geo-estratégia do governo dos EUA. Aqui, Manlio Dinucci dá-nos a análise impressionante dos seus planos em relação à Rússia, com particular destaque para o papel da Ucrânia.  

Overextending and Unbalancing Russia.

https://www.globalresearch.ca/rand-corp-how-destroy-russia/5678456

PS3: O fim do reino do dólar está próximo. Prova disso, é a proclamada vontade da Arábia Saudita em vender petróleo, recebendo yuans. Embora continue a vender uma maioria do petróleo em dólares, a outros clientes , o «tabu» está quebrado. O Emirato de Abu Dhabi já está a alinhar-se pela mesma posição. Se os produtores de petróleo começarem a aceitar outras divisas, que não o dólar, a base financeira do império americano fica ferida de morte. Saiba porquê no artigo seguinte: 

https://www.zerohedge.com/markets/petrodollar-cracks-saudi-arabia-considers-accepting-yuan-chinese-oil-sales