quarta-feira, 27 de setembro de 2023
STARLINK, ELON MUSK E PARTICIPAÇÃO DIRETA DOS EUA NA GUERRA DA UCRÂNIA CONTRA A RÚSSIA
segunda-feira, 10 de abril de 2023
CRÓNICA DA IIIª GUERRA MUNDIAL (nº13) GUERRA E PROPAGANDA
Já sabemos que a guerra é um acontecimento disruptivo e uma catástrofe pessoal, familiar e social, para os povos nela envolvidos. Também sabemos que, quem governa, apresenta «motivos» para fazer a guerra. Pretextos, mais ou menos bem cozinhados, com «factos» inventados e «falsas bandeiras», como foi a «invasão polaca» dum posto fronteiriço da Alemanha, pretexto para o desencadear da invasão da Polónia pelas tropas do IIIº Reich, ou a provocação permanente, «secando» o Japão de petróleo (1) e empurrando o Japão imperial contra os EUA para, desta forma, o governo americano ter um pretexto credível junto da sua opinião pública, para entrar em guerra, juntando-se aos Aliados da coligação anti- hitleriana.
Pilotos kamikases japoneses, IIª Guerra Mundial
Mas, para manter a adesão dos próprios cidadãos dum país em guerra, a máquina de propaganda do Estado e a media ao serviço dos interesses dominantes, vão esforçar-se por fabricar uma realidade, para manter o apoio popular a essa guerra e às posições do governo, não com base em realidades mas, antes, com base na distorção dos factos. Usam uma narrativa que se impõe através da repetição exaustiva da mentira. Uma técnica aprendida com Goebbels: «Se disserem uma mentira mil vezes, ela passa por verdade». Mas também, com a omissão de factos relevantes, ou o hipertrofiar de hipóteses, mais ou menos verosímeis, como se fossem «factos» inquestionáveis.
Joseph Goebbels, ministro de Hitler
Por exemplo, a OTAN e os seus governos apresentaram a invasão russa de 24 de Fevereiro de 2022, como sendo uma «agressão não motivada». Evidentemente, com a omissão de que antes desta guerra russo-ucraniana, nos 8 anos após o golpe realizado com auxílio dos EUA e da UE, que derrubou um governo legítimo, os «ocidentais» prepararam, equiparam e treinaram, as forças militares ucranianas, de modo a que estas atingissem o nível considerado «apto para combater nas fileiras da OTAN».
O exército ucraniano (2), em Janeiro de 2022 estava posicionado no Don e preparava-se para invadir os territórios das Repúblicas rebeldes. Tal invasão iria, segundo os estrategas da OTAN e da Ucrânia, «resolver» o problema do separatismo pela erradicação da resistência por meios militares, ou seja, negando enfática e explicitamente o compromisso, a solução negociada que era substância e letra dos acordos de Minsk. Em suma: preparavam-se abertamente para completar o crime de genocídio, contra uma parte da sua própria população.
Claro que esta situação nunca é explicada ao público dos países ocidentais, quer pelos governos da OTAN, quer pelos media que alinham caninamente com a política dos respectivos governos, liderando campanhas histéricas em relação aos «inimigos».
Tropas da OTAN em treinos no Báltico junto à fronteira da Rússia
De facto, o verdadeiro inimigo fala a nossa língua, tem lugares proeminentes nos departamentos de Estado, pode considerar-se - sem exagero - que é composto por traidores ao serviço de uma potência estrangeira ... Penso que já compreenderam que me estou a referir aos nossos respetivos governos, com as máquinas de apoio político e propagandístico, que eles manobram.
Ao fim e ao cabo, eles conseguem exercer o seu papel, ou porque as pessoas têm sido enganadas, ou porque, quem sabe a verdade, tem medo de a dizer frontalmente. A intimidação é o objetivo das campanhas de difamação contra vozes dissonantes, mesmo as vindas de dentro do próprio sistema, sejam de políticos, militares, académicos, ou de celebridades. Nestes casos, a «penalidade» habitual é o blackout e o ostracismo; mas, pode ir até ao assassinato (3) .
MLK Jr.: Assassinado por se opor à guerra do Vietname
Os vira-casacas também são de todas as épocas. Já se veem pessoas a fazer uma «conversão», a «repudiar» a causa que defenderam, como se - de repente - tivessem visto «a luz», ou como se tivessem sido «contra» em segredo. Na verdade, viram algo bem mais terra-a-terra; viram que as probabilidades do seu lado ser vencedor, se esfumaram.
No caso da presente guerra da OTAN contra a Rússia, aquela aliança militar (agressiva e não defensiva) está numa situação desfavorável e por sua própria culpa. Os EUA e "aliados" (= vassalos) mostraram imensa «húbris», nenhum senso, nenhuma precaução: Desrespeitaram os acordos de Minsk, dos quais eram cossignatários, juntamente com o governo ucraniano e os governos das Repúblicas do Don. Tudo o que fizeram durante esse período, foi encorajar a agressividade do governo da Ucrânia. Este, controlado por nacionalistas-étnicos, que têm um ódio de morte à Rússia e aos russos, queria «limpar» de russófonos as Repúblicas separatistas do Don.
O regime ucraniano estava decidido a fazer este ato de agressão contra o seu próprio povo, razão pela qual os russos invadiram a Ucrânia em Fevereiro de 2022, logo depois de terem formalmente reconhecido a independência das duas repúblicas do Don. Afinal, eles não fizeram mais do que impedir a realização do ataque iminente contra as referidas repúblicas. Um exército ucraniano de elite, com armas modernas, estava estacionado, desde Janeiro de 2022, em frente da região do Don. Quotidianamente, bombardeavam zonas citadinas das repúblicas, causando mortos e feridos civis. Nas últimas semanas antes da invasão russa, intensificaram os bombardeamentos, facto que foi observado e registado pelos observadores da OSCE.
À partida, toda a gente bem informada sobre as forças militares em presença, sabia que o resultado da guerra seria o que está a acontecer, agora. Uma derrota dos exércitos ucranianos, face à superioridade numérica, em equipamento e à produção industrial russa (sobretudo de munições) nas quantidades necessárias para abastecer as tropas do lado russo.
Do lado ucraniano, o exército foi desbaratado nos primeiros dias da invasão, a sua força aérea foi neutralizada, assim como as defesas antiaéreas. Sofreu imensas perdas em soldados bem treinados, tendo que preencher as fileiras com recrutas muito pouco ou nada treinados, arrastados muitas vezes à força (4). Quanto ao material, era desadequado, ou por ser antiquado (material da era soviética), ou dos países da OTAN, o qual ou não se adequava às condições do terreno, ou era demasiado sofisticado, obrigando a um treino longo (feito em países da OTAN; França, Alemanha, etc.); ou esse equipamento era servido por soldados da OTAN, transformados em «voluntários». Assim, para os militares e políticos da Ucrânia, a única esperança de não perderem a guerra era o envolvimento direto e sem máscara dos países da OTAN.
A Polónia, membro da OTAN, interveio com um número apreciável de efetivos (estimados em cerca de 20 mil homens) e tem sofrido pesadas baixas. Campos de treino de mercenários (quase todos de países da OTAN) no oeste da Ucrânia, perto da fronteira com a Polónia, foram atingidos por mísseis hipersónicos russos, causando muitos mortos e feridos.
Era claro que a Rússia podia usar estas mesmas armas, impossíveis de interceptar, contra os estados-maiores políticos e militares inimigos. Porém, o jogo da Rússia não era de aniquilar o governo ucraniano, mas de o obrigar a sentar-se à mesa de negociações. Conseguiu estabelecer, na Bielorrússia primeiro, e depois na Turquia, conversações com vista a um cessar-fogo e á paz. Isto passou-se pouco mais de um mês após o início da invasão. Em Istambul, as delegações tinham chegado a um pré-acordo. O presidente ucraniano, Zelensky, muito pressionado pelos Anglo-Americanos (Boris Johnson foi a Kiev para dar «o recado»), deu ordem para a delegação ucraniana congelar as conversações e recusar qualquer acordo. Nesta altura, a propaganda dos ocidentais fazia grande barulheira, fazendo crer que os russos estavam em retirada, enfraquecidos, que estavam a perder a guerra. Podemos ter a certeza que os estados-maiores e as agências de espionagem ocidentais sabiam que isso não era verdade. Mas queriam convencer as opiniões públicas, de que a sua escolha de fazer a guerra à Rússia, usando como «ariete» o regime ucraniano, estava a dar bons resultados. O estado-maior ucraniano também não podia ter ilusões, mas os políticos ucranianos ultra- nacionalistas (para não dizer nazis) queriam, a todo o custo, a continuação da guerra. Eles chegaram a assassinar a sangue-frio um diplomata ucraniano que participou nas negociações de Istambul. Fizeram isso, como sinal de que seriam impiedosos com quaisquer que, no governo e forças armadas ucranianas, se atrevessem a propor uma solução negociada com a Rússia.
Além da opinião pública ignorar (por ser desinformada) o que aconteceu, em especial, nestas conversações e como foram brutalmente interrompidas pela ingerência direta anglo-americana, ela era quotidianamente «bombardeada» com falsos relatos horripilantes, sobre a conduta dos soldados russos em território ucraniano. Nalguns casos, foi possível comprovar que os crimes foram perpetrados pelas tropas ucranianas (5) e falsamente atribuídos aos soldados russos.
A propaganda da OTAN e da imensa maioria da media ocidental, também seguiu aquela frase, que dizia que «a mentira é tanto mais facilmente engolida pelas massas, quando mais inverosímil parecer» (Goebbels).
No cômputo geral, a guerra na Ucrânia está perdida para a OTAN e os ucranianos têm um país depauperado, em ruínas, um Estado com uma dívida astronómica e incapaz de refazer um semblante de unidade nacional. Depois de tudo o que fizeram, o governo e seus apoiantes estão desacreditados perante a população.
Este resultado era previsível. Desde a guerra da Coreia (que foi uma espécie de «empate») as guerras em que os EUA se envolveram diretamente, ou que foram instigadas por eles, resultaram em desastre, mesmo quando os EUA estiveram, temporariamente, numa posição militar de domínio absoluto nas primeiras fases (lembram-se do Iraque?).
Os neocons têm a obsessão do domínio (full spectrum dominance) e sobretudo, preferem a destruição do «inimigo», a qualquer solução negociada. Lembrem-se naquilo em que transformaram a Líbia, o país mais próspero de África. Quando podem causar divisões entre países, ou entre fações num país, fazem-no, mascarando as ingerências como «revoluções coloridas»; foi assim na Síria e numa dúzia doutros países do Médio-Oriente e noutras regiões.
O problema, falando pragmaticamente, é que as guerras diretas entre superpotências são demasiado perigosas, podem transformar-se em holocausto nuclear. Nesta hipótese, afetando gravemente toda a humanidade, não haverá senão vencidos. Ou, caso sejam as chamadas guerras por procuração, vão causar a destruição dos países e o seu empobrecimento duradoiro, para além das mortes, feridos e destruição (foram os casos do Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria, Iémen e agora o caso da Ucrânia).
Por isso, um governo responsável nunca deveria empurrar outras nações para a guerra. O que chamam «diplomacia dos EUA», é apenas fazer intervir a CIA, a NED e outras agências encobertas, que promovem a subversão dos regimes que não agradam ao poder imperial dos EUA. Eles também impõem sanções brutais, destinadas a afetar as populações, por definição inocentes dos crimes, praticados ou não, pelos seus governos. São especialistas em criar casus belli, usando ataques de falsa bandeira, fornecendo o pretexto para bombardeamentos e invasões, literalmente não deixando «pedra sobre pedra». Depois, dominam esse país de modo colonial. Tal comportamento é essencialmente igual nas administrações democratas ou republicanas. Todo este caos traz imensos lucros para as empresas de mercenários (6) e fornecedoras de equipamento militar e armamento (a maior indústria e que mais exporta, nos EUA). Esta política alimenta e é alimentada pela corrupção a todos os níveis, desde as empresas com contratos para a «reconstrução» desses países, até às chorudas «comissões» aos membros do governo e do congresso.
Chegou o tempo em que o poder político e económico dos EUA se está a revelar tal como ele é, na realidade.
O que descrevi acima faz sentido, em si mesmo. Além disso, explica a muito recente movimentação de ex-aliados dos EUA, Arábia Saudita, Turquia, Japão... Estão a desertar o campo «ocidental» ou seja, os EUA, mais seus vassalos, porque temem a «benevolência» yankee!
Por estes motivos, creio sinceramente que os maiores inimigos do chamado Ocidente são, sem sombra de dúvida, OS SEUS PRÓPRIOS GOVERNOS.
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1) O Japão, nessa altura, tinha os EUA como seu único fornecedor de petróleo. O Japão era um aliado do «Eixo», com a Alemanha, Itália e outras potências.
2) Eram cerca de 80 mil, os soldados das unidades de elite do exército ucraniano, estacionados frente às fronteiras das repúblicas separatistas.
3) Martin Luther King, é um exemplo: tem sido celebrado como «mártir da causa negra», mas hoje, sabe-se que ele foi assassinado porque se ergueu contra a GUERRA DO VIETNAME.
4) Filmes vídeo mostram civis a serem arrastados e metidos à força em camiões do exército em cidades ucranianas.
5) É o caso muito falado da vila de Bucha, onde os ucranianos construíram uma encenação depois de terem matado civis «colaboradores» dos russos (pessoas que receberam ajuda sob forma de alimentos), dispuseram os cadáveres alinhados ao longo da estrada principal, muitos tinham ainda a braçadeira branca que significava que não eram inimigos dos russos.
6) Um exército sempre pronto a intervir, com mais de 50 mil homens disponíveis a qualquer momento.
quarta-feira, 26 de outubro de 2022
RULES BASED ORDER; O QUE É, AFINAL?
quarta-feira, 25 de maio de 2022
[Dmitry Orlov] O PLANO AMERICANO PARA «FARGA» (FAzer Rússia Grande como Antes)
http://thesaker.is/the-secret-american-plan-to-make-russia-great-again/
Tradução do artigo de Dmitry Orlov, para o blogue Saker: «The Secret American Plan to Make Russia Great Again»
Ostensivamente, o plano seria para destruir a Rússia: Porém, a seguir ao colapso da URSS, verificou-se que a Rússia estava a enfraquecer-se e destruir-se a si própria muito bem, sem necessitar de intervenção externa. Além disso, cada esforço dos EUA para enfraquecer e destruir a Rússia fê-la mais forte; se tivesse existido o mais rudimentar elemento de feedback, uma discrepância tão óbvia entre os objetivos das políticas e os seus efeitos, teria sido detetada e teriam sido efetuados os ajustamentos apropriados. Superficialmente, isto poderia ser explicado pela natureza da falsa democracia na América, onde cada administração costuma atirar as culpas das suas falhas e erros para o dorso da anterior administração. Mas, o Estado Profundo permanece no poder, qualquer que seja a administração; teria simplesmente que admitir o fiasco dos seus planos para enfraquecer e destruir a Rússia, após alguns turnos. O facto de não ter detetado este problema , traz-nos de volta à suspeição inicial de que há agentes de Putin, incansavelmente labutando, por dentro do Estado Profundo.
Mas, isto é puro conspiracionismo e não queremos ir, nem um pouco, por aí. Bastará dizer, por agora, que não existe explicação adequada sobre o que tem acontecido. Após o colapso do regime soviético, seria suficiente muito pouco para se desencadear e acelerar o colapso da própria Rússia. Mas, nenhum dos passos foi tomado e tudo o que foi feito (com o fim explícito de enfraquecer e destruir a Rússia) fez exatamente o oposto. Porquê? Abaixo, indico dez das iniciativas mais bem sucedidas duma campanha de «FARGA » (FAzer Rússia Grande como Antes) do Estado Profundo dos EUA. Se tiver uma explicação alternativa, gostaria de a conhecer.
1. Se a Rússia tivesse sido imediatamente aceite na Organização Mundial do Comércio (que a ela queria aderir) ela teria sido inundada por importações de bens baratos, destruindo toda a indústria e agricultura russas. A Rússia iria simplesmente vender seu petróleo, gás, madeira, diamantes e outros recursos e comprar tudo o que precisasse. Em vez disso, os EUA e os outros membros da OMC gastaram 18 anos a negociar a entrada da Rússia na organização. Na altura em que entrou, em 2006, pouco tempo restava antes do colapso financeiro de 2008 e, após isso, a OMC não tem sido um fator muito relevante.
2. Se tivesse havido imediatamente a possibilidade dos russos viajarem sem visa pelo Ocidente (como eles desejavam) a maioria dos russos em idade de trabalhar iria dispersar-se rapidamente para fora da Rússia, para o Oeste, deixando uma população de órfãos e de idosos, de forma semelhante ao que aconteceu na Ucrânia. Depois de ter perdido grande parte da sua população ativa, a Rússia não teria sido qualquer ameaça, económica ou militar. Em vez disso, os russos nunca beneficiaram de possibilidade de viagens sem visa, pelo contrário, enfrentaram restrições que apenas têm crescido ao longo do tempo. Ao fim e ao cabo, os russos assumiram que eles simplesmente não são desejados no Ocidente e que deveriam procurar fazer sua vida de regresso a casa.
3. Após o colapso da União Soviética, a própria Rússia entrou em colapso num mosaico fluido de centros regionais. Muitos alimentaram veleidades de secessão (Tatarstão, Repúblicas dos Urais, Tchetchénia). Deixada a si própria, a Rússia teria resultado numa vaga confederação, sem capacidade para determinar uma política externa conjunta. Em vez disso, investiram-se recursos e mercenários na Tchetchénia, transformando-a numa ameaça existencial à autoridade de Moscovo e obrigando o poder central a responder militarmente. O facto de que há -agora - voluntários tchetchenos a combater no lado russo na Ucrânia, sublinha como foi um fracasso a política americana em relação à Tchetchénia.
4. Se, após o colapso da União Soviética, a NATO tivesse reconhecido que a ameaça que estava destinada a contrariar já não existia e ou se dissolvia ou simplesmente ficava quiescente, a Rússia nunca teria pensado ser necessário se rearmar. De facto a Rússia estava alegremente cortando os seus navios e mísseis para recuperar os metais no ferro-velho. Em vez disso, a NATO achou adequado bombardear a Jugoslávia (por razões humanitárias fabricadas) e depois, expandir-se sem descanso em direção a Leste. Estas ações deram o sinal da forma mais adequada de que não era a URSS e o Comunismo a que o Ocidente se opunham, mas à própria Rússia. Embora, por volta dos anos 1990 não houvesse muitos russos dispostos a lutar e morrer pela glória do comunismo, a defesa da Pátria é uma história totalmente diferente.
5. Se as vizinhanças externas da Rússia tivessem simplesmente sido deixadas em paz, a Rússia nunca se teria aventurado fora do seu vasto e pouco povoado território. Mas, depois veio a provocação: agindo com a aprovação dos EUA, as forças da Geórgia atacaram as forças de paz russas na Ossétia do Sul durante as Olimpíadas de 2008, obrigando a Rússia a reagir. O facto da Rússia ter podido neutralizar a Geórgia em poucos dias deu uma injeção de confiança e pôs a nu que a NATO e as forças treinadas pela NATO são pouco combativas e fracas, não constituem um grande problema. O território russo expandiu-se para incluir a Ossétia do Sul, com a Abcásia como um bónus extra, preparando o terreno para outras expansões territoriais (Crimeia, Bacia do Don, Kherson… Nikolaev, Odessa…).
6. Se os EUA tivessem deixado em paz a Síria, um próximo aliado da Rússia há perto de um século, a Rússia não se teria expandido na região do Mediterrâneo. Porém, o governo sírio convidou a Rússia a ajudá-la a fazer mudar a maré na guerra contra a ISIS, apoiada pelos EUA. A Rússia utilizou um pequeno contingente de forças aéreas e apenas numa base. A ação na Síria foi a demonstração da qualidade dos armamentos russos; a Rússia foi inundada por encomendas que vão durar 20 anos a ser satisfeitas. Ainda por cima, a Rússia demonstrou aos seus aliados em todo o mundo, que se tropas US/NATO ou os seus mercenários os atacarem, o que têm que fazer é apenas acenar e os russos virão a correr com suas bombas de precisão e serão feitas pilhas de corpos dos invasores.
7. Após o golpe de Kiev de 2014 e o regresso da Crimeia à Rússia, as sanções dos EUA/Ocidente foram imensamente úteis para desencadear um programa em larga escala de substituição de importações, que rejuvenesceu tanto a indústria como a agricultura. A Rússia é agora largamente autosuficiente em bens alimentares e um exportador principal de alimentos. A sua posição como principal produtor de trigo mundial será reforçada pela adição de regiões de muito fértil «terra negra» do Leste e Sul da Ucrânia. As sanções fizeram-se acompanhar por ataques especulativos contra o Rublo que passou de 30 por dólar para 60 (cotação em que se encontra agora) o que torna os produtos russos muito mais competitivos internacionalmente, estimulando o comércio externo.
8. As constantes ameaças de bloquear a Rússia de utilizar o sistema de mensagens interbancárias SWIFT, desencadearam a formação de um sistema de pagamentos próprio, agora integrado com o da China. O confisco dos 300 biliões de dólares do Fundo Soberano Russo, que estavam depositados em vários bancos ocidentais, ao mesmo tempo que o congelamento de contas de oligarcas russos, ensinaram os russos a não confiar nos bancos ocidentais e a evitar guardar o dinheiro no estrangeiro. Tudo o que os atos hostis do domínio financeiro criaram, foi uma resposta mais pausada, que - instantaneamente - se traduziu em valorizar o rublo, fazendo dele a divisa que mais se valorizou e muito estável, em todo o planeta, deixando o dólar e o euro em situação vulnerável à hiperinflação.
9. A guerra de oito anos levada a cabo pelo exército ucraniano, com aberto apoio da NATO/EUA, contra as populações civis do Donbass produziu uma compreensão clara na população russa: O que o Ocidente quer, é o seu extermínio. Depois, os ucranianos declararam que queriam construir bombas nucleares e depois foi descoberto que o Pentágono tinha laboratórios de armas biológicas na Ucrânia que trabalhavam na produção de patogénicos capazes de especificamente infetar populações russas, por fim tornou-se claro que não eram apenas os ucranianos mas toda a NATO que estava por detrás disso e que a Ucrânia + NATO estavam a preparar um ataque em grande escala. Isto foi o despoletar para a própria operação especial da Rússia. O espetáculo, noite após noite, em Lugansk e Donetsk, de edifícios de apartamentos a serem bombardeados com civis e crianças lá dentro, ignorado pelo Ocidente, fez com que Putin tivesse uma taxa de aprovação de 76%, com uma taxa similar para o governo e mesmo para muitos governos regionais russos. Agora, apesar dos envios de armas ocidentais, os militares ucranianos estão a ser triturados a um ritmo que os extinguirá dentro de aproximadamente 20 dias (o calculado «dia Z»), a Rússia está prestes a emergir como vencedora da IIIª Guerra Mundial, a qual, tal como a Guerra Fria, foi combatida de forma bastante restrita. Isto irá fazer subir o prestígio do exército russo, acumulando vitória atrás de vitória.
10. Por fim, a Rússia deveria estar grata pelos fundos abundantes fornecidos ao longo dos anos pelos EUA e Ocidente, para apoiar a liberdade de opinião e de imprensa na Rússia, na verdade, propaganda pró-ocidental. Primeiro, permitiu libertar o espaço de media na Rússia, ao ponto de que agora a Rússia é muito mais aberta à liberdade de expressão do que qualquer dos países europeus ou dos EUA, sem quase nenhum sinal de censura e de «cancel culture» que se têm acentuado no Ocidente. Em segundo lugar, a propaganda ocidental era tão primária e estúpida que os russos, depois de a processarem durante alguns anos, agora fazem dessa propaganda pró-Ocidente, abertamente, motivo de galhofa; as sondagens indicam que as opiniões pró- políticas do Ocidente são em quantidade vestigial. Tal resultado tem sido favorecido pelos desenvolvimentos no Ocidente: «Cancel culture», MeToo, LGBT, operações de mudança de sexo em crianças, promoção da pedofilia e tudo o resto, que têm produzido uma onda de repúdio. Há uma mudança de 180º, partindo da avassaladora opinião pró-Ocidente dos inícios de 1990 até ao presente, o que será a jóia na coroa das realizações de três décadas constantes de campanha do Estado Profundo para Fazer Rússia Grande como Antes (FARGA).
Não pretendo argumentar que a existência da FARGA, no seio do Estado Profundo dos EUA tenha uma demonstração, uma prova inegável. Mas, convido-vos a seguir o famoso dito de Arthur Conan Doyle, “Uma vez eliminado o impossível, seja o que for que permaneça, não importa quão improvável, deverá ser a verdade” e digam-me o que acham disto.
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NB: Eu sei que os meus leitores não são nenhuns brutos incapazes de perceber a ironia que se desprende do texto de Dmitry Orlov. Mas, ainda assim, vale a pena dizer que Orlov não é cidadão russo, mas americano, que emigrou da Rússia com os seus pais, quando criança. Tendo raízes profundas na cultura e familiares, está em posição privilegiada para avaliar sem concessões as qualidades e defeitos da sociedade e da política que se faz dos lados da Moskva e da Neva. Ele acompanhou de muito perto a traumatizante descida aos infernos que foi o período imediato pós-soviético, em que a esperança de vida dos russos desceu significativamente, se multiplicaram as fortunas de gangsters (oligarcas) e uma série de «cavaleiros de indústria» ocidentais enriqueceram à custa da miséria alheia. Orlov não é certamente um incondicional do Presidente Putin, nem do seu tipo de governação, mas é alguém que tem os olhos bem abertos.
Ele sabe avaliar os podres da sociedade americana (onde vive há mais de um quarto de século). Ele previu - com toda a justeza - que o colapso do colosso dos EUA iria suceder como sucedeu ao colosso soviético, com a agravante de que, enquanto no caso soviético, a população estava habituada a sofrer dificuldades de toda a ordem e tinha os comportamentos de defesa adequados, na sociedade americana e no Ocidente em geral, a massa está completamente obnubilada por um modelo consumista que já não é atual, mas que persiste no seu imaginário. A consequência disto, é que no Ocidente, quando o colapso se concretizar em pleno (ele já está em marcha, como no início de uma avalancha, em câmara lenta) haverá muito mais destruição e sofrimento, a nível individual e social.
São poucos os indivíduos que são testemunhos de situações de crise em duas ou mais sociedades distintas. São ainda menos os que têm a inteligência de avaliar os paralelos e os contrastes. Orlov tem essas características e, ainda por cima, é um talento literário, com sentido de humor. Então, se ainda não conhecia este autor, é mais que tempo de o conhecer. Consulte seu blog, aqui: https://cluborlov.wordpress.com/
domingo, 20 de fevereiro de 2022
OS VERDADEIROS INIMIGOS DA EUROPA
As it is impossible to learn anything factual from the fake news Western media, I will do my best to tell you what is happening.
As far as I can tell, at this time of writing there are no Russian troops involved. Russian troops don’t even seem to have been sent to the territory of the republics. Using precision weapons the Russian military has disabled Ukrainian military infrastructure facilities, air defenses, military airfields and aircraft. Putin has announced that Ukrainian soldiers who lay down their arms will not be attacked. Tass reports that “Ukrainian troops are leaving their positions in large numbers, dropping their weapons.” Clearly, the Ukrainian soldiers have more sense than their leaders.
https://www.paulcraigroberts.org/2022/02/24/breaking-news-russia-demilitarizes-ukraine/
domingo, 4 de julho de 2021
A SOBERANIA DAS NAÇÕES E A CORRUPÇÃO DOS PRINCÍPIOS WESTEFALIANOS DA ONU
Por ocasião do centésimo aniversário do partido comunista chinês Xi Jin Pin teve palavras duras de aviso aos que no «Ocidente» estão apostados em diminuir ou mesmo anular a força ascendente da República Popular da China. Igualmente, numa sessão aberta, o presidente Putin, da Federação Russa, deixou palavras de advertência aos que sonham fazer com que a Rússia se torne de novo um enorme território destinado a ser pilhado pelos interesses ocidentais, como foi nos tempos de Boris Yeltsin.
Sem dúvida que os discursos destes dois dirigentes têm muitos outros conteúdos relevantes, mas eu queria introduzir o tema das relações internacionais, pois eles são realmente muito apropriados ao momento em que o mundo vive.
Com efeito, a ordem internacional tem de ser aquela que está baseada em tratados internacionais, negociados, acordados e ratificados pela imensa maioria das nações soberanas à face da terra. Este entendimento foi também o do tratado de Westfália, que reuniu todos os grandes e pequenos poderes da Europa da época, para encontrarem uma paz que se pudesse manter pelos séculos dos séculos. Infelizmente, isso não aconteceu, como todos sabemos, pois os séculos XVIII e XIX foram férteis em conflitos intraeuropeus, que envolveram territórios outros (colónias ou outras nações não-europeias). Quanto ao século XX e o presente século, são férteis em catastróficos conflitos globais, entremeados de guerras ditas locais ou regionais, mas onde as grandes potências têm participação, direta ou indireta.
Porém, o tratado de Westfália foi um marco. O princípio muito claro de que os Estados deviam reconhecer mutuamente a soberania sobre os respetivos territórios, respeitar as fronteiras uns dos outros, abster-se de se ingerir nos assuntos internos dos outros, dando um estatuto especial às representações diplomáticas e às pessoas acreditadas, em quaisquer circunstâncias ... Muito do que está atualmente consignado nos princípios e na Carta da ONU, assim como nas normas diplomáticas, internacionalmente aceites e praticadas, são produto direto deste tratado do final do século XVII.
Sendo tão importante, o tratado de Westfália não pode satisfazer tudo e ser a exclusiva fonte para a ordem internacional, para a construção de um direito público internacional e para adequada evolução das suas leis, de acordo com a evolução das sociedades.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem, produzida e ratificada a seguir à IIª Guerra Mundial, é um dos outros pilares do direito internacional, reconhecido - formalmente, pelo menos - por todas as nações com assento na ONU. Mas, existem muitos outros textos legais internacionais, que se incluem no direito internacional, por exemplo as Convenções de Genebra sobre a proteção das populações civis em casos de guerra, ou ainda, os princípios do direito marítimo, em que circunstâncias um navio de uma nação, pode cruzar as águas territoriais de outra, etc.
Nos tempos mais próximos, devido a um reacender das visões imperialistas, em particular nos Anglo-Americanos e seus aliados da NATO, sobressaiu a visão de que o mundo já não podia reger-se pelos princípios do tratado de Westfália, que deveria prevalecer a preocupação pelo direito «humanitário», o que podia implicar a brutal intervenção armada, para restaurar os «direitos humanos». Foi o caso das guerras da Jugoslávia e da Líbia, em que o pretexto era de que uma parte da população estaria a ser massacrada, violada, sujeita a genocídio, pelos seus respetivos governos. Ou, no caso do Iraque, montaram uma expedição (proibida pelo direito internacional) sob pretexto de evitar que o «monstro» no poder adquirisse armas de destruição maciça. No caso do Afeganistão, a expedição punitiva dos americanos e da NATO teve como pretexto prevenir que os fanáticos tivessem uma base para espalharem terrorismo fundamentalista.
Também aqui, os poderes imperialistas não tiveram receio em infringir as leis que eles próprios tinham votado e ratificado, os princípios da ONU, a começar pela inviolabilidade das fronteiras. Uma vez que ocuparam ilegalmente esses países, fizeram (eles ou milícias ao seu serviço) massacres e torturas. Estes atos horrendos ficaram (por agora) impunes, mas ao menos, o mundo sabe hoje do que os dirigentes das «democracias liberais» são capazes.
Entretanto, a Rússia foi atingida pela ameaça grave do golpe para-fascista de Maidan, na Ucrânia. Ele foi executado à vista de todos, com o apoio e ingerência clara e declarada dos EUA e da União Europeia, sendo este regime resultante do golpe, o causador duma guerra civil que se arrasta desde 2014, nos territórios povoados maioritariamente por populações russófonas, nas margens do rio Don, assim como pela secessão pacífica e referendária da Crimeia. Esta província russa, desde os finais do século XVIII (fora levianamente «oferecida» por Nikita Krutschov à república soviética da Ucrânia nos anos 60) tem sido pretexto para o «Ocidente» ostracizar o regime russo, sendo certo que eles não têm qualquer desejo de solucionar os problemas que eles próprios criaram e adensaram. Os americanos e europeus alinhados com eles apoiam, na Ucrânia, um regime que inclui nostálgicos do tempo em que fascistas ucranianos militarizados auxiliavam as SS de Hitler a «limpar» os territórios de judeus, polacos, russos e ucranianos antifascistas. Estes auxiliares dos nazis são hoje considerados «heróis», pelo poder de Kiev.
A ideia com que se fica é que os dirigentes ocidentais querem que nas fronteiras da Rússia exista uma instabilidade permanente. O que lhes dá o pretexto para continuar a fazer uma guerra híbrida, com sanções, boicotes, etc.
Tentaram algo parecido com a Síria. Mas, desta vez, não conseguiram plenamente os seus intentos. Conseguiram destruir muitos milhares de vidas inocentes e, também, imensa destruição material, mas não conseguiram o seu objetivo de retirar Assad do poder e de colocar um regime dócil aos «ocidentais».
O mesmo tentam fazer com a China. Têm ainda menos sucesso, aparentemente, pois o povo chinês tem legítimas dúvidas em relação às «boas intenções» dos que foram, nos séculos XIX e XX, ocupantes e opressores nas guerras do ópio e na guerra civil, apoiando a fundo os nacionalistas chineses de extrema-direita, cujo exército derrotado se acolheu (sob proteção dos EUA), na Ilha Formosa, designada República da China. A república chinesa de Taiwan foi a representante «da China», no seio da ONU, até que a RPC (República Popular da China) viu reconhecido o seu direito à representação exclusiva na ONU.
Os americanos e seus aliados, na altura (anos 70), não hesitaram em aceitar que Taiwan deixasse de ser considerada como um Estado independente, com direito a representação própria na ONU. Não tiveram grandes problemas em trair seus fieis aliados da véspera, como condição para os capitais ocidentais poderem entrar na China, com a promessa de investimentos muito frutuosos e de mercados totalmente por explorar.
Agora, estão a envenenar a situação servindo-se de todos os meios para criar tensões no interior e nas fronteiras chinesas. Eles fazem provocações quotidianas no Mar do Sul da China, passando a frota de guerra por águas territoriais chinesas. Eles não têm absolutamente nenhuma legitimidade para o fazer.
O mesmo comportamento irresponsável e provocador foi protagonizado recentemente, pela marinha de guerra britânica, dirigindo um navio da Royal Navy para águas territoriais da Crimeia, portanto russas.
Em quaisquer circunstâncias, o procedimento dos líderes ocidentais é irresponsável, é criminoso e não parece que estejam interessados em qualquer acordo com as outras potências. São atos provocatórios de quem está cheio de coragem para mandar os outros para a guerra. Porém, a verdade, é que eles já não são os senhores do mundo.
Perguntar-se-á: o que será de um mundo dominado pela China? Não creio que tal aconteça, por dois motivos:
1 - A China não está interessada em ir além da sua esfera de influência natural. Tem demasiado a desenvolver adentro de portas. Seria um grande fardo e um enorme desperdício de energia serem os polícias do mundo, como os americanos tentam, em vão, ser.
2 - O mundo é muito mais complexo do que certos estrategas militares e políticos desejariam. É esta complexidade que torna inevitável que se volte aos princípios de Westfália, alargados e atualizados. Não é preciso fazer mais do que respeitar os princípios da ONU, reconhecer que os Estados devem usufruir da soberania e que a questão dos direitos humanos pode ser levantada, mas não pode ser pretexto para uma guerra de atrito, uma guerra híbrida, uma guerra de sanções económicas.
Creio que a melhor maneira de apoiar a defesa dos direitos humanos em qualquer país, é darmos o exemplo no nosso próprio país. Quanto mais respeito pelos direitos humanos houver em «casa de cada um», mais será difícil a um «vizinho» desrespeitá-los. Se trazemos a guerra, a violência, a destruição (que afetam sobretudo populações inocentes) a esse país, isto prova que a preocupação com direitos humanos era, afinal, um mero pretexto para ambições de domínio.
Nenhum poder, por mais forte que seja, poderá ser «Senhor do Mundo». É uma impossibilidade não apenas ética, mas também prática. Não compreender isto é estar no «grau zero» da política, da sociologia, da antropologia.
Creio que a humanidade precisa de tomar conta de si própria e não de se entregar nas mãos de ambiciosos, narcisistas e egolátricos. Já é tempo de mudarem as coisas, os sistemas, as instituições, para uma distribuição de poder o mais disseminada possível. A concentração do poder, económico, político, ou outro, é que proporciona as condições para guerras e opressão dos povos.