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sexta-feira, 1 de março de 2024

Vem aí o CIRCO ELEITORAL


A realidade do Mundo não se conforma com narrativas. Mas, as narrativas envolvem, na sua teia, as mentes embotadas que já não conseguem ler o real, que não distinguem os discursos, das realidades. Estão nesta condição muitas das gentes partidárias de esquerda ou de direita, sejam crentes em religiões ou ateias, pelo que a comunicação social de massas tem a sua tarefa facilitada: grande parte das suas almas cativas já não percebe nada. Elas são piores que criancinhas, pois estas últimas (teoricamente), podem ser ensinadas a ver a realidade.


O público adulto das ditas «democracias», tornou-se de tal maneira cobarde, que prefere não ver a realidade. Assim, não terá que agir, de uma ou outra forma, perante essa realidade. Creio que este é o maior bloqueio das sociedades contemporâneas. Seus cidadãos foram enredados em teias de falsidades, numa série de novelos cujos fios têm de ser pacientemente separados, um a um. Isto equivale a dizer que a quase totalidade dos súbditos modernos não será capaz de se desembaraçar sozinho das cadeias que os prendem.
Mas, esses súbditos não sabem. Pois as cadeias não são físicas, mas são mentais; é mais fácil para eles pretender que não existem. Assim, não terão o trabalho e a angústia de enfrentar a «gigantesca tarefa». Ou antes, a tarefa, que é afinal muito simples, em si mesma. Mas, isto tem de ser ocultado, senão os súbditos poderiam começar a libertar-se em massa da «matrix» em que estão enredados.
Entra aqui o medo: o medo paralisa o juízo crítico. Impede as pessoas de se interrogarem sobre as suas experiências. Torna as pessoas abúlicas, distraídas e passivas. Verifica-se como têm sido vãos os esforços para despertar estes pacientes do estado de hipnose cognitiva em que se encontram. Estes esforços são derrotados pelas estratégias de evitação e denegação, desenvolvidas pelos próprios. A chamada «cultura de cancelamento», afinal, reduz-se a isso. Uma autoritária negação de se exprimirem pontos de vista diferentes da norma, sob pretexto de que são «agressões», de que aumentam «o estresse» ou que vão contra o «politicamente correto». Note-se que este tipo de comportamento não tem nada que ver com direitos humanos básicos, nem liberdades fundamentais: porém, as pessoas estão tão alienadas, que esperam que os poderes as livrem do confronto penoso com outra narrativa, diferente e contraditória com aquela em que banham. Cúmulo da contradição, essas tais pessoas, que apelam ao controlo autoritário sobre os diversos canais de comunicação, clamam que estão a defender a democracia e a liberdade, os direitos civis, quando estão a realizar exatamente o contrário. Não creio que se possa esperar grande coisa de pessoas assim. Vão continuar no registo estritamente egoísta, míope, cheias de medo de serem vistas como saindo fora do rebanho. Nestes casos, apenas um choque emocional muito forte poderá fazer despertar tais indivíduos, fazê-los ver que estavam na ilusão. Mas, mesmo isso não é garantido pois, consoante a sua personalidade, o choque emocional poderá desencadear ainda maior inibição. Poderão, por exemplo, se auto- culpabilizar dos males que lhes acontecem, em vez de se libertarem das vendas que lhes tapam os olhos.
O plantar duma convicção, que pode ser absurda ou sem qualquer substância racional, é possível e corriqueiro na sociedade: Fizeram-se experiências de psicologia social, em que pessoas são persuadidas da veracidade duma teoria errada. Depois delas estarem convencidas, é-lhes demonstrado racionalmente que essa teoria estava errada. O descolar da convicção anterior de que a dita teoria era verdadeira, é muito mais lento neste grupo de pessoas, do que no grupo de controlo, ao qual não se lhes foi apresentada previamente como verdadeira, tal teoria. A estes, é-lhes exposta a teoria, mas conjuntamente com a explicação porque a mesma é falsa. Este grupo de controlo aceita muito naturalmente a falsidade da referida teoria. Porém, no grupo que ficou previamente persuadido da verdade da teoria, há indivíduos com dificuldade em estruturar o seu pensamento de outro modo, para aceitar que afinal a teoria era falsa. Isto não acontece porque as pessoas sejam «estúpidas» ou «teimosas». Esta situação ocorre com todos os tipos de pessoas, incluindo mentes brilhantes, cultas, com contacto com as ciências.
Portanto, é um mecanismo psicológico profundo, aproveitado pelos que querem moldar as nossas opiniões através dos «mass media» ao serviço dos poderosos. Eles sabem utilizar esta e outras propriedades curiosas da mente humana.
É possível que tal controlo exercido sobre o nosso espírito seja combatido e de forma eficaz. Mas isso implica haver consciência, além da noção clara e não ingénua, dos mecanismos que são aplicados. Há pessoas que conseguem evadir-se deste condicionamento mental abusivo, mas são poucas. A imensa maioria pulsa de acordo com as paixões primárias: A salvaguarda do ser físico, a satisfação das necessidades primárias em alimento, abrigo e segurança, essencialmente; ou ainda, necessidades afetivas e sociais como o amor, a estima, a proteção, o reconhecimento social. O ódio contra o inimigo, seja ele real ou não, entra revestido como salvaguarda do indivíduo. O inimigo é visto como aquele que põe em risco (de forma real ou fictícia) a satisfação das necessidades enunciadas acima.
A um certo nível, o medo é importante para a sobrevivência. Trata-se dum sentimento profundamente ancorado na nossa biologia. O indivíduo que não tem medo está muito mais exposto, do que aquele que - ocasionalmente - pode ter medo, mas que o consegue superar, para enfrentar o risco.
Todos os mecanismos psicológicos, na publicidade comercial, envolvem componentes profundos dos nossos desejos "animais": necessidade de afeto, de status, de prazer sexual, etc. Em geral, os mecanismos de comunicação na esfera política fazem intervir aqueles mesmos componentes atrás referidos, juntamente com o medo, que entra em combinação com os outros.
Na política, convencem-se os adeptos de que é preciso odiar intensamente o inimigo; sobretudo, é preciso convencê-los de que os sentimentos dos dirigentes espelham os dos militantes de base. Os mecanismos de identificação e reforço fazem-se através de objetos de ódio/medo comuns. Isto acontece perante uma imagem da realidade distorcida, falseada: Face a tal configuração psicológica, o que os dirigentes fazem, constantemente, é ativar e reforçar, nos seus seguidores, os sentimentos doentios de ódio, de vingança, de desprezo, de superioridade... A política, assim vista e praticada, não é mais do que uma forma larvar ou efetiva de guerra civil. É uma representação, também. É um teatro que os eleitores são supostos seguir, com os seus golpes, escândalos e revelações-surpresa. Nada de positivo pode sair da política-espetáculo: No melhor dos casos, trata-se de narrativas, juntamente com um rol de boas intenções, para apresentar aos cidadãos.
O discurso político é feito para adormecer o espírito crítico e estimular os desejos mais obscuros do eleitor: A projeção de suas frustrações e seu desejo de vingança simbólica, ou real, sobre o grupo de indivíduos percebidos como opositores, como obstáculos, como sabotadores, etc.
A única maneira de sairmos da «gruta», é percebermos que vivemos no seu interior; que as imagens com que nos entretêm, são projeções fantasmagóricas dos nossos medos; que este espetáculo nos é oferecido, para não despertarmos da letargia ou hipnose, mantendo-se assim o grupo restrito ao comando "da barca". É isso, no essencial, a política.
Não pode haver uma política de adultos feita para adultos, enquanto o povo se deixar tratar e levar, como se fosse uma criança. O povo tem o potencial para despertar e começar a auto- governar-se sem a casta de parasitas que nos quer domar através das suas demagogias, da política-espetáculo, das manipulações do aparelho de Estado, para obter o poder. É o poder, acima de tudo, que interessa aos sociopatas que nos governam. É este o fim último dos seus esforços: conquista e conservação no poder.
As eleições, que passam por ser o aspeto central da democracia, não são mais do que a ocasião dos bandos políticos desenrolarem seu estendal de demagogia para cativar os eleitores: Tudo é utilizado como pretexto para o show, menos as questões de real importância para os destinos do país! Ou, ainda, a valorização de pseudo- soluções para os problemas, como se tudo se resumisse a tais «soluções», sendo eles - os do bando X - os únicos capazes de as viabilizar.
Em qualquer dos casos, o circo eleitoral infantiliza o eleitor, promove a sua regressão ao estado de criança, a quem as várias propostas são apresentadas e ele só tem de «escolher». Mas, neste processo, o eleitor «é quem menos ordena»: é o pobre diabo enganado, desta triste comédia. Seus desejos e as promessas de os satisfazer são logo esquecidos, assim que se fecham as urnas. A partir deste momento, os políticos profissionais irão dar «uma lição de realismo» ao povo. É aqui que se vai revelando, aos poucos, o verdadeiro programa, aquele que os vencedores irão desenvolver no governo. Durante a campanha eleitoral foi mantido cuidadosamente fora do olhar do vulgo, pois possuía demasiados amargos de boca para o povo e muitas benesses para os privilegiados.


Manuel Banet

 Parede, Portugal, a 01de Março de 2024

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Sobre eleições  e temáticas relacionadas:





quarta-feira, 31 de agosto de 2022

MITOLOGIAS (cap. X) : CASSANDRA, DA ILÍADA AOS NOSSOS DIAS

Quando falamos de Cassandra, estamos a falar de um mito, independentemente de ter existido, ou não, uma princesa em Troia com tal nome.

 A história contemporânea não reconhece a Ilíada como um escrito histórico, que sobreviveu miraculosamente, primeiro oralmente, depois por escrito, relatando a guerra das cidades-estado do Peloponeso contra Troia. Porém, a constante utilização do longo poema pelas artes, poesia e literatura nos séculos após os supostos acontecimentos,  tem criado a ilusão de que os episódios da obra atribuída a Homero seriam, senão historicamente exatos, pelo menos, verosímeis.

De facto, o que se sabe seguramente pela arqueologia, é que Troia existiu, mas que houve uma sucessão de cidades, umas sobre as outras. Além disso, não houve uma única guerra de Troia, mas sim várias. O relato de Homero (ou atribuído a Homero) poderia ter condensado, numa única narração, o longo período de guerras de  Troia contra exércitos coligados das cidades-Estados gregas.  

Podemos - portanto - considerar que Cassandra, tal como está descrita na Ilíada, releva do mito, mais do que da História mitificada. 

Eu vejo a história de Cassandra (*) como simbólica dos comportamentos das sociedades, em relação às pessoas com maior visão, mais sábias, corajosas, e sabendo que estão a ir contra a corrente mas - ainda assim - dizendo a verdade, custe o que custar,  face aos poderosos e ao povo. 

A obra de Luís de Camões contém uma «atualização» de Cassandra, na figura do «Velho do Restelo». Este desempenha, no poema épico «Os Lusíadas», a mesma função que Cassandra, na Ilíada: Profetizar perigos e desgraças que ocorrerão a Portugal e aos portugueses, em consequência do lançamento das ambiciosas e aventureiras viagens marítimas, a partir dos finais do século XV.  

Uma caraterística comum nas «Cassandras» que se nos deparam ao longo da História, é que seus vaticínios, embora pareçam sensatos quando são lidos após os acontecimentos, foram descartados como  fantasias, sintomas de loucura, palavras vãs, pelos indivíduos que, contemporaneamente, ouviram ou leram tais profecias. 

Figura: Aquando da queda de Troia, Cassandra, que se refugiara no templo de Atena, é  violada e depois feita escrava.

No mito, Cassandra é abençoada com um dom, que consiste na capacidade de ver o futuro e, em simultâneo, é amaldiçoada com a impossibilidade de que suas palavras sejam tomadas a sério por seus concidadãos, incluindo a sua própria família. 

Na nossa época, as «Cassandras» avisaram com detalhe e antecedência e, como na lenda, não foram ouvidas. No âmbito económico, mas com grande repercussão política, a chamada «crise das sub-prime» (2008), levou ao quase desmoronamento do castelo de cartas da economia financeirizada. Esta crise foi prevista - com antecedência - por mais do que um analista dos mercados, incluindo figuras célebres do mundo financeiro.  

Mais recentemente, autores de várias escolas de pensamento económico, têm feito avisos muito enfáticos sobre a iminência de um colapso muito superior, em magnitude, ao de 2008. Os avisos são dirigidos ao poder financeiro nos bancos centrais e ministros da economia e finanças dos governos. Estes preocupantes alarmes têm sido também publicados na media, ao alcance do mais amplo público. 

Estes avisos, como os das outras «Cassandras» da História, estão a ser completamente ignorados, por quase todos: Desde pequenos especuladores, a gestores de Wall Street e doutros centros financeiros, a políticos - tanto no poder, como na oposição. Para mim, esta situação não só ilustra a enorme miopia dos poderes, especialmente após o quase colapso de 2008, como parece ser uma enésima atualização da história de Cassandra da Ilíada.

As multidões costumam ignorar, escarnecer, ou mesmo, violentamente atentar contra pessoas que vêm contrariar preconceitos e medos obsessivos. A fúria das multidões é estimulada por ditadores e demagogos, que assim defletem a ira e a frustração popular para que, perante as consequências de suas decisões aventureiras e fatais, nunca lhes sejam atribuídas responsabilidades, mas ao «bode expiatório». 

As pessoas com lucidez e juízo, nestes tempos conturbados, devem ser discretas. Não se devem expor, pois seriam «arrastadas na lama», ou ostracizadas, no mínimo. Devem preservar-se, pois de nada serve tentar convencer uma multidão fanatizada ou hipnotizda

Estas tentativas vãs apenas irão exacerbar a vontade de vingança das massas enganadas, que julgam que «o mensageiro das desgraças» é o causador das mesmas. O mensageiro é castigado em vez do tirano, que afinal de contas, é o causador das más notícias trazidas pelo primeiro. 

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(*) Citação da «Cassandra» de Friedrich Schiller:

« Por que me encarregaste tu de proclamar as tuas profecias com um pensamento lúcido numa cidade cega? Por que é que me fazes ver aquilo que não poderei desviar do nosso povo? O destino que nos ameaça deve cumprir-se, a infelicidade que eu temo tem de realizar-se, a desgraça que eu antevejo tem de acontecer»...

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ARTIGOS ANTERIORES DA SÉRIE MITOLOGIAS:

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

MISSIVA Nº2 À CONFEDERAÇÃO INTERGALÁCTICA


À Irmandade Intergaláctica,




Na 1ª missiva que vos enviei, sobre o funcionamento do planeta Terra e da sociedade humana que nela habita, tentei explicar-vos brevemente o sistema de funcionamento, designado por «economia de mercado» ou «capitalismo».

Hoje, irei debruçar-me sobre outro aspeto da sociedade: a questão da sustentabilidade ecológica e como esta questão tem sido manipulada pelos poderosos, que detêm não apenas a influência sobre muitos dos aspetos produtivos, como sobre uma grande parte das mentes.

A partir do momento em que, neste planeta, a conservação da diversidade das espécies e a capacidade de autorregeneração dos ecossistemas se tornou um problema à vista de qualquer um, todos podendo facilmente compreender as questões que estavam em jogo, assim como o papel essencial para a própria subsistência da vida humana neste planeta, desenvolveram-se correntes ditas «ecologistas». Na verdade, quase todas consistiam numa curiosa mistura de catastrofismo (algumas vezes designado por "milenarista", com referência a «profetas» que abundam na viragem de cada milénio) e de utopias radicais e acientíficas.

Estas tendências adotaram nomes diversos. Considero-as aqui como subtribos da grande tribo «New Age». Cada tendência reivindica as suas peculiares visões, que querem impor às restantes, sob pretexto de ilusória «ciência ecológica» que, na verdade, apenas tem de ciência o nome. Com efeito, existe uma Ecologia, enquanto ciência, nascida no século XX (essencialmente), que desenvolve metodologias adequadas para avaliação dos vários fatores, em pequenos e grandes espaços, com influência num conjunto de espécies diversificado. Os cientistas utilizam instrumentos apropriados de avaliação, medição e monitorização, não apenas dos aspetos físico-químicos do ambiente, como das múltiplas e complexas interações dos organismos nele presente. Porém, a Ecologia, tal como outras ciências do mais alto grau de complexidade concebível, têm vindo a ser desviadas, aproveitadas por políticos pouco escrupulosos, que se disfarçam de cientistas do clima ou da ecologia. Na realidade, as competências desses políticos nas complexas ciências da Climatologia e Ecologia, são pouco menos que nulas.

Para cúmulo, o capitalismo causador dos desequilíbrios ambientais, porém exclusivamente atribuídos à sociedade «industrial», tem liderado a ofensiva de «Public Relations» e de «Psychological Operations», dirigida às massas inquietas e incapazes de fazer a destrinça entre a ciência e a falsificação da mesma. Tal narrativa falsa vem revestida com vocábulos muito bem sonantes: «economia sustentável», «energias renováveis», «reciclagem», «natural», etc., são frases e expressões também usadas na publicidade, para vender produtos industriais que não têm rigorosamente nada do que anunciam no rótulo.

É nesta configuração que floresce a chamada ecologia política, que une o mais falso discurso "ecologista", sem ponta duma real cientificidade, ao discurso demagógico dos políticos, dispostos a tudo, a começar pela mentira constante e descarada, para obterem os votos dos cidadãos.
Pensai na monstruosidade destas operações e dos rios de dinheiro que implicam. Numa sociedade onde o lucro é tudo, onde ser-se bem sucedido é ter muito dinheiro (= poder), tais operações não poderiam deixar de ser altamente rentáveis. Foi assim, que, por um lado, o capitalismo viu maneira de escapar ao mau nome de sistema de exploração, que tinha adquirido ao longo dos séculos e por outro lado, obter novos e sumarentos ganhos, vendendo as novas maravilhas «verdes», que iriam salvar a civilização do caos, das alterações climáticas, do aquecimento global, da depredação da Natureza, etc. O irónico, é que estes males vieram «pela mão» do sistema capitalista de exploração dos povos e da Natureza. Note-se que estas catástrofes são reais, mas não se devem a um mal inerente à evolução e ao avanço tecnológico e científico humanos.
Este discurso tem como objetivo provocar um sentimento de culpa nas pessoas, acusadas de «consumir» depois de tudo fazerem (os mesmos capitalistas) para as induzir a um comportamento de consumo compulsivo para - logo de seguida - «justificar» supostas soluções. Estas seriam, ou a substituição de uma depredação por outra, ou uma regressão das sociedades ao estádio pré-industrial.

Os ecologistas políticos, na sua imensa maioria, não põem em causa o capitalismo: Só alguns parecem ser sinceros e coerentes anticapitalistas. Na sua maioria, a «tribo New Age» parece ter esquecido que, erradicar as causas profundas das degradações ambientais implica uma real modificação de estrutura da sociedade, não apenas soluções tecnológicas, não apenas mudança nos hábitos de consumo e do modo de vida de indivíduos e grupos. Aliás, estas mudanças só poderão acontecer a partir ou concomitantemente com uma mudança económica profunda, com a transformação das relações de produção e do próprio fundamento da sociedade. 

Mas, se as forças dominantes atuais continuarem a exercer o seu papel, prevejo que a sociedade humana irá acabar por perder o seu potencial de civilização universal. Ela irá para o abismo, se o sistema atual continuar, baseado na imensa riqueza dalguns e na escassez para o maior número. Assim, esta onda de «ecologismo» tem sido aproveitada para fazer uma lavagem verde do sistema vigente.

De facto, irmãos/irmãs confederadas/os, têm de recordar as etapas históricas que ocorreram nas vossas nações, anteriores à Confederação Galáctica.
Estamos a presenciar, na Terra, a uma nova versão do processo que ocorreu nos nossos sistemas solares, há cerca de três milénios, mais ou menos. Nos mundos que não foram arrastados na espiral de violência, destruição e por fim, levados à extinção, nestes mundos sobreviventes, a capacidade de regeneração e autossustentação foram inscritas nas constituições, a par da igualdade e dignidade dos viventes, com a particular responsabilidade daqueles dotados dum sistema cognitivo racional.

Porém, o meu objetivo não é o de retraçar nosso passado, mas antes de exemplificar como este sistema Terra se encontra numa encruzilhada. A consciência planetária está ainda muito pouco difundida. Os rebentos dela despontam aqui e ali, mas são logo abafados pelas (ainda) mais poderosas  forças do capitalismo senescente. Este já não tem a pujança e criatividade que o fez triunfar, há cerca de 500 anos. No seu estado atual, tem algo de fascinante e de terrível.

Não faço ideia do que irá acontecer a breve ou médio prazo. Quer me parecer, no entanto, que a civilização humana entrou numa época-charneira, da qual tanto pode resultar a aniquilação, como a evolução positiva para um grau superior de civilização.



MB

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

«REFORMA»... E OUTROS TERMOS MANIPULADOS ...

REFORMA, REFORMISMO

A direita (e a esquerda também, a seu modo) apropria-se das palavras, torce-lhe o sentido e põe-nas a dizer o contrário do que o «comum dos mortais» entende por essas mesmas expressões. 
Literalmente, reformar pode querer dizer «mudar algo»; o sentido em que se muda não está implícito na palavra «reforma». 
Mas, historicamente, os sociais-democratas, também designados reformistas pelas tendências revolucionárias no movimento operário, tinham essencialmente um programa de reformas do Estado, da economia e da sociedade... daí que «reforma» tenha (ainda) a conotação desse tempo distante em que o socialismo «reformista» era uma componente da classe trabalhadora, dos oprimidos... ou - pelo menos - arvorava sê-lo!

OLIGARQUIA, OLIGARCA

Agora, um «opinador» de direita, muito conhecido, decidiu aplicar o termo «oligarquia» contra os seus inimigos políticos, não para designar o pequeno grupo dos muito ricos, que controlam grandes negócios, etc.! 
Assim, as pessoas têm de «descodificar» o discurso do Sr. A ou da Srª. B, para perceberem o que ele ou ela querem dizer! 

É fácil de desmontar esta demagogia, se tivermos olhares críticos sobre os discursos de uns e de outros (sobretudo, sobre a sua prática).
 É de sublinhar o ridículo de querer fazer passar por inovador algo, só e apenas mudando os significados das palavras que se usa... eu continuarei a chamar um boi, um boi!

 A ESQUERDA


Eu hesito em relação à classificação de «esquerda». No vocabulário político de quando eu tinha vinte anos (em 74!) isso queria dizer ser pela emancipação dos trabalhadores, pelo socialismo, podia-se discordar em relação ao que era o socialismo e qual o caminho para ele, mas era clara opção de alguém que era de «esquerda» pelos destituídos. 

Hoje, não vejo nada disso; vejo uma esquerda enquistada em mordomias, em rendas de privilégio. 
Mesmo a que se auto-designa de anti-capitalista (normalmente, pessoas do -ou próximas do- PC ou BE) não o será: são pessoas que estão como membros da «classe coordenadora» (no melhor dos casos), não estão dentro da classe trabalhadora; estão «acima e à direita», enquanto a esquerda sem aspas deve estar abaixo e à esquerda...
Por isso, nestes últimos tempos, costumo dizer que num regime capitalista (mesmo no capitalismo de estado) a «esquerda» é somente a «esquerda do capital». 
Não me importam as proclamações, os discursos, mas sim a prática, só isso conta para eu saber se sou aliado ou inimigo. 
A prática de classe é fundamental, ela deve ser transversal às nações e deve permitir que as lutas parciais tomem o seu sentido revolucionário, pela consciência de que a abolição do patriarcado, do sexismo, racismo, homofobia... apenas será plena, ou mesmo possível, numa sociedade igualitária, numa sociedade socialista.