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segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

[Catherine Sauvage] BLUES - canção de Léo Ferré sobre poema de Aragon

  https://www.youtube.com/watch?v=a9aQQoflCec

On veille on pense à tout à rien
On écrit des vers de la prose
On doit trafiquer quelque chose
En attendant le jour qui vient
La brume quand point le matin
Retire aux vitres son haleine
Il en fut ainsi quand Verlaine
Ici doucement s'est éteint
Plusieurs sont morts plusieurs vivants
On n'a pas tous les mêmes cartes
Avant l'autre il faut que je parte
Eux sortis je restais rêvant
Tout le monde n'est pas Cézanne
Nous nous contenterons de peu
L'on pleure et l'on rit comme on peut
Dans cet univers de tisanes
Jeune homme qu'est-ce que tu crains
Tu vieilliras vaille que vaille
Disait l'ombre sur la muraille
Peinte par un Breughel forain
On veille on pense à tout à rien
On écrit des vers de la prose
On doit trafiquer quelque chose
En attendant le jour qui vient
On veille on pense à tout à rien
On écrit des vers de la prose
On doit trafiquer quelque chose
En attendant le jour qui vient...

Este poema de Aragon evoca suas recordações de vigílias enquanto médico externo no hospital Broussais. 

                              Com efeito, os primeiros versos do poema, não incluídos na canção de Ferré, explicitam essa referência. Mas o poema musicado não deixa de citar o hospital Broussais, indiretamente, enquanto local da morte de Verlaine, «que aqui se extinguiu suavemente».

Mas Aragon, igualmente, evoca o seu período «Dada» e Surrealista. Faz referências à vida precária em Montparnasse, nos anos 1920: «avant l'autre, il faut que je parte...»           Exprime a pobreza e precariedade do artista não reconhecido, com uma expressão (quase) proverbial: «Tout le monde n'est pas Cézanne». 

Aragon não está a referir-se à qualidade ímpar do pintor, mas à sua riqueza pessoal, que lhe permitia viver e pintar, sem se preocupar em ganhar a vida com a sua arte.    
          
 A composição de Léo Ferré faz parte do álbum «Aragon». Ferré interpreta  nele as suas próprias composições, de elevadíssima qualidade; é muito difícil decidir qual delas a «melhor». Eu prefiro esta, «Blues», pois é a que mais me inspira.

                                          
  Aprecio imenso - também - a interpretação de Catherine Sauvage, a expressividade da sua voz e a sobriedade do acompanhamento ao piano,  de Jacques Loussier, no  álbum de 1964, contendo apenas canções a partir de poesias de Aragon. Neste disco, além das composições de Léo Ferré, há canções musicadas por Georges Brassens, Joseph Kosma, Jean Ferrat e Philippe Amar. 


PS1: playlist com as canções de Léo Ferré, que eu mais aprecio: