Há sempre um depois, isso tens de aceitar
quer gostes ou não, tuas ações têm consequências
Assim, quando te lamentas de que não «esperavas»
estás a enganar-te pois já sabias que nada é garantido
O que pode uma mente e uma vontade em face
do destino? Pode muito ... mas não lamentar-se
Na tua postura reside o problema; tomas-te
por outro, imaginas um personagem que não és tu
Mas vem o dia, um certo dia em que o teu sonho
se desmorona; podes tentar construir nova ilusão
ou varreres os escombros e construir algo novo
ou estás sempre a reproduzir os mesmos erros
ou tomas o leme e pões o teu ser noutra rota
A escolha é tua, mesmo que não te agrade escolher
sabes, no fundo, que podes sempre escolher
Embora fazer as escolhas no tempo certo seja o ideal
as oportunidades são mais que as marés
sobretudo para reerguer a tua vida e navegar
As escórias que nos dificultam o caminho
são fáceis de eliminar, só guardar o que tem valor
Os sentimentos e atitudes vitais e comuns
que permitem potenciar a vida em comum
A vida social, a transação não comercial
entre pessoas chama-se amor
Mas está-se numa época muito contrária
a este simples elemento da vida humana
Só podemos viver a vida em plenitude,
ultrapassando as imposições exteriores
que nós interiorizamos e são muitas!
Reconhecer quais são essas, examiná-las
rejeitando as que nos amesquinham,
aproveitando as que sejam de disciplina
pessoal saudável, selecionando
aquilo que há de bom e suspendendo
o nosso julgamento do que não sabemos
ao certo, ou com grau de certeza suficiente
sabendo que, se esperarmos, saberemos.
Poderemos deslindar e avaliar o valor
de ações, de juízos, de teorias, etc.
mas, não é possível avançar sem grande trabalho
sobre si próprio. Talvez esse seja o significado
profundo do mito de Sísifo. Ele rolava sempre
a pedra para o cume da montanha
Não foram os Deuses que o condenaram
a fazer isso e a repeti-lo incansavelmente
Era a lei da vida; de se procurar acumular
energia potencial,
que se dissipa, inevitavelmente,
rolando pela encosta abaixo.
Porém, nada nos pode demover de fazê-lo
ainda assim; porque se trata da lei da vida
e nós queremos estar vivos. Se perdemos
esta vontade de rolar a pedra encosta acima
então só nos resta nos deitarmos e morrer.
E o dia depois de morrermos, como seremos?
Não haverá energia para «rolar a pedra»
por isso precisa a natureza de fabricar
novos seres vivos, substituindo
os que se foram.
Mas os que se foram deixaram uma obra
ela existe, em torno de nós
e chama-se sociedade, civilização, cultura
Então, este é o verdadeiro potencial,
transcendendo várias gerações.
Por isso, devemos opor a nossa energia às forças de destruição
de anulação do potencial, construído pelas gerações presentes
e passadas; quem quer destruir tudo, são tresloucados
não se constrói, destruindo!
Sim, é preciso escavar para construir um edifício,
mas não se faz senão deslocar terra e rocha de um sítio para o outro!
A destruição que eu falo é bem pior,
traiçoeiras bombas que eliminam vidas, que as ceifam
a destruição de incontáveis gerações humanas
quer sejam edifícios, quer sejam vidas e todo seu potencial
As destruições que se tem diante dos olhos não são sentidas
verdadeiramente pelos que não estejam debaixo das bombas
A solidariedade real, escasseia: a indiferença e egoísmo
face ao sofrimento alheio é uma destruição do que existe
de humano em nós. Colocam-se as imagens de violência,
nos écrans das televisões e dos computadores, estão a ser
veiculadas ao nível subliminar como «espetáculo»,
mesmo os corpos mutilados e as cenas de desespero
perante as câmaras, não são vistas como algo que nos diga respeito,
no mais íntimo. É precisamente neste aspeto, além do imediato
que a guerra (todas as guerras) tem um efeito global destruidor:
Se a humanidade das pessoas desaparece, fica embotada, elas estão
transformadas em robots «de carne e osso», não são seres humanos,
pois deixaram de ter empatia, a capacidade de se colocar na pele do outro.
Tanto para os criminosos como para as suas vítimas, existe o depois:
Depois de feito o abjeto e criminoso ato, ele não será nunca apagado
seja qual for a sentença de tribunais humanos
O espírito universal não será condicionado por isso.
As consequências são incalculáveis para nós, humanos.
(*Inicialmente publicado a 16 de Jan. 2024)