segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

B como Bach (Segundas-f. musicais nº. 29)

A primeira peça é uma Allemande da suite francesa BWV 815. Ela é interpretada por Robert Hill, num cravo com registo de alaúde.  

A suite instrumental no tempo de J. S. Bach, era constituída por danças estilizadas (Allemande, Courante, Sarabande, Menuet, Gigue), às quais se juntavam, frequentemente, peças facultativas. Nesta categoria, incluiam-se danças como a Bourrée, o Rigaudon, etc. Mas, também eram frequentes, sobretudo nos cravistas franceses (François Couperin, J-P Rameau, etc), outras peças, homenageando uma personagem, a quem o autor dedicava a partitura.  

Na sequência de danças estilizadas da suite, a Allemande costumava ser a primeira peça. Mas, por vezes, esta sequência de danças era antecedida de um preâmbulo (ou prelúdio).



O número de suites para alaúde que Bach deixou para a posteridade não é elevado. Algumas suites para violoncelo solo foram transcritas para alaúde, por Hopkinson Smith. Estão em conformidade com a prática da época barroca de não limitar a interpretação duma peça, a um instrumento em particular; muitas peças podem ser interpretadas noutros instrumentos (diferentes do habitual), com as devidas adaptações. 

As suites de Bach para o alaúde iniciam-se com um prelúdio. O prelúdio destinava-se a criar um ambiente, desenvolvendo uma sucessão de acordes, habituando o auditor à tonalidade geral da suite. Além disso, permitia verificar a afinação do instrumento. A afinação «desigual» ou «não temperada»,  permitia ao instrumentista adequar a afinação do instrumento ao caráter da peça que ia interpretar: Esta prática desapareceu na música ocidental; encontra-se apenas na música clássica da Índia, nas ragas indianas, com as centenas de escalas diferentes e as diferentes afinações do instrumento, que se combinam segundo o caráter da peça e o gosto do instrumentista. 

No vídeo abaixo, podemos ouvir o Prelúdio da Suite para alaúde BWV 998 pelo alaúdista Luciano Contini.



A terceira peça, igualmente interpretada por Robert Hill, é o magnífico prelúdio em Si menor BWV 923. É um exemplo típico de «stylus fantasticus», que simula a livre improvisação, habitual nos organistas, cravistas e alaúdistas barrocos. 

Nesta época, o músico profissional tinha de ser proficiente na improvisação. O caráter improvisatório traduz-se em profusões de escalas, de acordes decompostos e de mudanças rítmicas e/ou de andamento, dentro da mesma peça. 
Os dotes de improvisador do jóvem Bach devem ter sido um dos fatores decisivos para obter, por concurso, o posto de organista titular na Igreja de S. Blasius de Mühlhausen




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RELACIONADO:


Fantasia Cromática (Bach): duas abordagens na interpretação (Segundas-f. musicais nº6)


MÚSICA COPIADA, TRANSCRITA, ADAPTADA (segundas-feiras musicais nº3)


domingo, 2 de fevereiro de 2025

Nº7 Espectrografias: ALAN WATTS, Nós enquanto organismo

 





COMENTÁRIO DE MANUEL BANET.


 É importante, hoje mais do que nunca, conhecer Alan Watts: O filósofo e o homem, os seus ensinamentos e a coerência das suas escolhas de vida. Mas, além disso, foi um dos mais lúcidos espíritos e um brilhante comunicador. Os seus ensinamentos são muito actuais, passados mais de 50 anos!

O audio acima deve ter sido gravado aquando uma de suas múltiplas conferências, nos anos 60  e 70.

O fenómeno da adição aos telemóveis e redes sociais agravou ainda mais o condicionamento brutal a que são sujeitos todos os indivíduos, mas com especial violência, crianças e jovens. 
A necessidade de se estar «conectado», a ausência de interacção significativa presencial com os nossos pares, a monotonia e ausência de perspectivas de vida... tudo isso contribui para um enorme empobrecimento da experiência com o Mundo, com a sociedade, de que todas as crianças e jovens precisam. 
O mundo dos smartphones é um mundo falso, que se torna um doença obsessiva, muito facilmente. As redes sociais são um ersatz dos verdadeiros contactos sociais, em relação à verdadeira sociabilização de que crianças e jovens necessitam  para se desenvolverem, para formarem a sua personalidade, para construírem a sua identidade e relação com os outros.
A questão da irradiação a que estamos todos sujeitos (e mais ainda os utilizadores compulsivos de smartphones), tem sido ocultada como real problema de saúde pública, conforme o interesse das companhias gigantes de produção destes gadgets e as redes de distribuição de sinal para os mesmos. Mais uma vez, verifica-se o princípio de que o «poluidor nunca é pagador» e não é verdade que seja aplicada a regra de «poluidor - pagador»: pois se assim fosse, ou não haveria mais a tal fonte de poluição, ou haveria uma soma exorbitante de indemnizações, que inviabilizaria a rentabilidade do negócio. 
Mas, pior ainda que a poluição electromagnética, é a poluição mental decorrente do fenómeno de adição às redes sociais, a necessidade compulsiva de conversar («chat») em todo lugar e a toda a hora, com amigos, namorados, colegas, etc. 
As pessoas-zombies são incapazes de um comportamento humano e civilizado; nem sequer conseguem utilizar a sua «droga electrónica» com moderação e discrição, onde quer que estejam. Parecem incapazes de viver sem esses pequenos objectos que levam para todo o lado. 
Assim, de forma  bastante estranha, cumpre-se a profecia de Aldous Huxley do célebre romance «Admirável Mundo Novo», em que as pessoas estavam completamente amestradas, tomando uma «sôma» ou seja, uma droga que lhes dava a fictícia sensação de felicidade. Os senhores do mundo apenas tinham de fornecer-lhes esta droga, para terem  totalidade da sociedade sujeitando-se à  escravidão.

Algumas intervenções de ALAN WATTS:


sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

A CREDIBILIDADE DUMA SUÍÇA NEUTRAL

 


Jean Daniel Ruch, o embaixador suíço reformado é entrevistado por Pascal Lottaz (Neutrality Studies). Ele dá-nos muita informação e contextualização das recentes falhas de diplomacia. Estas conduziram ao estado de «neo Guerra Fria» em que vivemos hoje. 

Além dessa constatação, ele advoga um papel ativo dos cidadãos para construção de uma verdadeira neutralidade. Propõe criar-se uma base sólida para futuras conversações de paz. Este «clube» ou «rede» informal, poderá ajudar. Para além deste objetivo, um conjunto de países neutrais pode ser como um «lubrificante» para conversações entre as principais potências com vista obter-se sólidas garantias de segurança colectiva. Esta era a intenção inicial, com a criação OSCE. Tal evolução no continente europeu, teria efeitos globais; facilitaria o caminho para a paz mundial.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

A REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA DE «DEEPSEEK» O SISTEMA OPEN SOURCE CHINÊS

 O sistema de IA (Inteligência Artificial) chinês ameaça retirar a supremacia dos EUA em tecnologias de informação. Já causou um tombo nas cotações bolsistas de empresas tecnológicas, como NDVIA. O índice de empresas tecnológicas NASDAQ, sofreu uma quebra considerável. 

É uma mudança espectacular, que inaugura uma nova fase da competição tecnológica e económica entre os EUA e a China.

Veja o vídeo falado em francês, que nos permite compreender as características muito especiais do «Deepseek» e o efeito da sua entrada em cena, nos gigantes tecnológicos dos EUA:

                             


                                                   


quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

A GUERRA ECONÓMICA DOS EUA CONTRA OS SEUS «ALIADOS» EUROPEUS

              Aeroporto de Frankfurt, no coração da província europeia do império U.S.


Nos últimos anos, temos vindo a observar a acentuação de uma tendência que, no final da sua vida, o ex-presidente francês François Mitterand nos tinha avisado, numa célebre entrevista: A existência do inimigo não declarado, mas poderoso da Europa, os EUA.

 Desde a invasão russa da Ucrânia, o cenário tornou-se muito mais explícito, tal como o papel das «elites» políticas dos mais fortes países da UE. 
Os EUA revelaram a sua verdeira face, ao destruírem o gazoduto submarino no Mar do Báltico (Nord Stream) e forçando os alemães - e em particular, o governo do Chanceler Olaf Scholtz - a fazer como se não soubesse de nada, como se isso fosse possível; logo, a desacreditar-se completamente perante os seus eleitores. A partir deste ponto, a Alemanha e muitos outros países da UE, não  teriam outra opção viável, senão adquirir o gás americano, comprimido e enviado através do Atlântico em navios especiais e quatro vezes mais caro que o gás natural russo, veículado por uma rede de gazodutos.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen (representante da ala mais belicosa da oligarquia), advoga a necessidade do aumento substancial das despesas militares dos países da OTAN; apoiando inclusive a meta irrealista, não de 2% do PIB, mas de 5%. Esta exigência é uma sentença de morte para a capacidade de sobrevivência da UE, enquanto potência económica autónoma. É evidente que este esforço de despesas militares irá ser canalizado - em quase exclusivo - para aquisições em proveniência da indústria armamentista dos EUA, o que os salva da falência. Ou seja, nós vamos à falência, graças à cobardia, subserviência e estupidez dos dirigentes europeus. 
 Para cúmulo, os eurocratas e quase toda a casta política da Europa, estão comprometidos com Washington em impor mais sanções contra a Rússia (ainda mais) e contra a China. Ambos são dos mais importantes parceiros comerciais: A Rússia e China têm sido os melhores mercados para produtos agrícolas e industriais da Europa, além de que temos necessidade - no imediato - de importar destes países produtos que deixámos de fabricar, ou que não fabricamos em quantidade suficiente. 
Nossos «amigos americanos»* têm preparado o terreno para acolher as indústrias (sobretudo, as de ponta) que os capitalistas europeus planeiam deslocalizar para os EUA, onde encontrarão um ambiente fiscal muito mais favorável e com incentivos para a instalação, energia a muito mais baixo preço e um vasto mercado para os produtos.  Quer dizer, os americanos estão a convidar as mais promissoras indústrias europeias a deslocalizarem-se para os EUA e os governos europeus, vassalos, estão dispostos a satisfazer os desejos de seus senhores feudais!

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*Com amigos assim, para que precisamos de inimigos?


terça-feira, 28 de janeiro de 2025

LUCRÉCIO, «DE RERUM NATURA» a realidade histórica e a lenda


                                     


O famoso poema De Rerum Natura do 1º Séc. AC., foi redescoberto no século XV por um erudito italiano. 
Mas, na verdade, o contexto em que a obra foi escrita e quem era Lucrécio, foram elementos completamente ignorados, não houve investigação concreta sobre as condições em que foi produzido este poema. Somente era comentado o seu conteúdo, uma exposição da filosofia de Epicuro
A investigação recente dum filósofo francês veio preencher a lacuna e modificar a perspectiva sobre o autor e o famoso poema expondo a filosofia epicurista, escrito por encomenda dum senador romano.

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