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sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

ARTE, NEGÓCIO, RUSSOFOBIA E ... PALHAS

 Um dos mais interessantes fenómenos na arte, é quando ela se autonomiza dos chamados «mercados», que apenas são a ditadura dos marchands e das casas de leilões mais afamadas, para venderem, seja o que for!

Monet e os montes de palha no meio dos campos, ou a arte de impressionistas russos seus contemporâneos, aproveitando o mesmo tema, são obras com mais de um século. 

A arte russa, no entanto, está sendo excluída dos circuitos do mercado internacional de Arte, pois vários intervenientes querem destruir tudo o que existe da cultura russa, uma parte integrante da civilização europeia (quer queiram, quer não!), com o seu «ódio de Putin». 

Fui buscar as imagens ao excelente blog DANCE WITH BEARS, do veterano correspondente em Moscovo, John Helmer (de nacionalidade australiana).

O que me interessa realmente é a beleza. É compreender a estética e o espírito das obras: O valor intrínseco e imaterial destas obras. Os «críticos de arte» que se deixam tomar pela paixão do momento, são «moscas» que pousam sobre um quadro, uma gravura, uma escultura... enxotem tais moscas, não deixem que elas pousem e depositem seus fétidos ovos de ódio, nas obras e nos olhares inocentes! 


Claude Monet: Monte de Palha em Giverny
Foi dos primeiros quadros de Monet representando montes de palha. Foi adquirido por Sergei Shchukin para sua coleção em Moscovo; encontra-se agora no Hermitage, em São Petersburgo.



Alexei Savrasov: Fim do Verão na região do Volga, 1873 (Galeria Tretyakov, Moscovo)



Levitan:  Montes de palha - acima á  esquerda, 1894; acima á direita, 1899.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

AQUILO QUE NÃO TEM PREÇO [entrevista a Annie Le Brun]


 "Aquilo que Não Tem Preço" de Annie Le Brun, um livro de crítica da arte contemporânea e do capitalismo mundializado, que vem desfazer a ilusão gerada pela sociedade do consumo. 
A mercantilização da arte é parte integrante da mercantilização da própria sensibilidade humana.

domingo, 12 de dezembro de 2021

EXPOSIÇÃO DE PINTURA E ARTES PLÁSTICAS DE BOB DYLAN, EM MIAMI

                 Bob Dylan, Rainy Night in Grand Forks (2021).

Já sabia que Bob Dylan era um artista multifacetado; sabia que, além de poeta, músico, compositor, ator, também escreveu muita prosa. Sabia que pintara alguns quadros; inclusive sabia que um quadro a óleo seu tinha servido como capa para um dos seus álbuns. Mas ignorava a extensão e profundidade do seu talento como artista plástico. 
Fica aqui a minha sincera admiração por esta faceta de Bob Dylan que desconhecia (quase) completamente!

 «Cerca de 120 pinturas, desenhos e esculturas de seis décadas passadas da vida de Dylan serão o conteúdo da exposição na Flórida, incluindo séries de quadros nunca antes vistos, intituladas «Pastoral Americana» 

                                 Bob Dylan, Sunset, Monument Valley (2019)

Bob Dylan, artista plástico: «Quando irei mostrar a minha obra-prima?» 

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

WAGNER E O NAZISMO

Estas notas são um comentário após leitura do muito bem documentado ensaio de Brenton Sanderson: 

Evil Genius - Constructing  Wagner As Moral Pariah


Aprecia o belo, naquilo que ele tem de mais espiritual.

Despreza a pequenez, a necessidade dos medíocres em rebaixar o génio humano, de o transportar para a trivialidade de suas paixões «de cozinha». 

Como sabemos, existem inúmeras obras-primas da escultura, arquitetura, ou doutras artes, das quais não sabemos - nem teremos jamais conhecimento -  sobre quem as fez, muito menos que vida levou e quais os seus pensamentos. Mas, nós apreciámo-las sem nos preocupar com outra coisa senão com a estética. 

Por que motivo, temos de apensar o cunho, o ferrete, de uma ideologia, às obras de autores que viveram em tempos não muito recuados? 

Sabemos muitos detalhes biográficos sobre artistas que viveram há duzentos anos, ou há menos tempo. É natural que muito tenha permanecido, que os eruditos tenham conseguido desenterrar vários documentos sobre génios ou talentos celebrados. 

Temos curiosidade em conhecer as biografias dos nossos compositores preferidos. Construímos uma imagem das personalidades que estiveram na origem das obras-primas que mais apreciamos. Não são imagens reais; são apenas imagens que satisfazem os estereótipos, que permitem reforçar o mito em torno de tal ou tal artista. 

Através de tais biografias, os seus autores contemporâneos (ou não), dos artistas cuja vida eles descrevem, vão tentar moldar os acontecimentos para se coadunarem melhor com a imagem que eles próprios possuem dos tais ídolos. 

Também surgem casos de personagens biografados, quase sempre, de um modo negativo. Um caso extremo, é o de Wagner e do seu (real) antissemitismo

«Hitler foi o grande inspirador de Wagner» seria tentado a dizer ironicamente, para caracterizar as inúmeras biografias que enfatizam Wagner como um «precursor» do nazismo. 

Nada mais idiota, não mostram uma mínima compreensão da ideologia antissemita, tão disseminada e tão evidente, em grande parte dos meios intelectuais e de elite no século XIX. É um anacronismo absurdo, um erro crasso, se nós quisermos acreditar na boa-fé dos autores. 

Porém, tal não é possível, na verdade. Não podemos ingenuamente «perdoar» os tais críticos. Pois, realmente, para estes, trata-se de afirmar o «politicamente correto» de uma forma  bem pouco arriscada, indo ao encontro do preconceito, reforçando-o. 

Por exemplo, que a música de Wagner era «adorada» pelos nazis, é falso, totalmente. E depois, mesmo que tal fosse o caso, que culpa teria Wagner disso, tendo ele vivido no século XIX e morrido em 1883? 

Aquilo que me cansa é a constante etiquetagem que outros fazem e as pessoas aceitam como sendo «cultura», quando afinal não é mais do que transposição de preconceitos, ódios e amores, frustrações e desejos, pessoais do próprio crítico, para o campo da crítica de arte. 

As opiniões de certos críticos sobre tal ou tal artista do passado ou presente, são muito reveladoras, mas da personalidade de quem emite estes juízos críticos!

Eu adoro Wagner, em particular, as canções a Wesendonck , a abertura da ópera de «Die fliegende Hollaender/ The Flying Dutchman» e o prelúdio a «Tristão e Isolda»

Isso faz de mim, um nazi? Só totalitários, afinal (quaisquer que sejam as ideologias que afixem) podem pensar tal coisa!

quinta-feira, 10 de junho de 2021

ESCULTURA IMATERIAL: ESTUPIDEZ TERÁ LIMITES?


                                                      POR PAUL JOSEPH WATSON*



(*Veja por que razão ele não é apreciado pelos adeptos da distopia corona:

terça-feira, 27 de outubro de 2020

«O COLOSSO» de Francisco de Goya

             «O Colosso» de Francisco de Goya 


Recordo-me ter visitado o museu do Prado com meus pais, quando muito jovem e ter ficado deveras impressionado com esta figura do colosso que se ergue, terrível, por entre as montanhas, espantando pessoas e gado, que pareciam estar reunidos nalguma feira. Na parte inferior da tela, homens, cavalos, mulas, bois e burros, movem-se, em pânico, derrubando tudo e todos à sua passagem. 
A força deste quadro, interpela-nos hoje em dia, já passados mais de 200 anos. 

No artigo da Wikipedia sobre este quadro, são feitas considerações e conjecturas sobre quem simbolizaria este gigante; qual seria o significado deste quadro; que relação teria com as invasões napoleónicas, pois terá sido pintado durante o período 1808-1812. 
Para mim, este quadro sempre teve relação com forças telúricas simbolizadas pelo colosso; como a erupção de um vulcão, de um terramoto, algo completamente insuspeitado, que se ergue das profundezas da terra, destruindo tudo e todos. 
A força cega da natureza selvagem que é acordada do seu sono letárgico pela incúria dos vivos, poderá também ser simbolizada por esta pintura. 
Das profundezas da terra emerge o inaudito, o monstro raivoso e destruidor. Surge, horrendo e nu, perante uma humanidade totalmente indefesa. 
Ele é o monstro do nosso medo profundo, da nossa fragilidade, que povoa as profundezas do nosso ser. Nós queremos ignorá-lo, mas isso é impossível. 
Os humanos desta cena, assim como os animais, são tomados pelo pavor que os faz correr desordenadamente. 

Creio que é adequado, no nosso tempo, meditar sobre este quadro. Embora saibamos o contexto em que foi pintado, que teria uma leitura precisa e evidente pelos contemporâneos de Goya. Acontece que o tempo torna hermético o significado de muitas obras de arte. 
Não apenas os significados simbólicos se sobrepõem, também a experiência humana corrente das pessoas que contemplam determinada obra, é decisiva para a forma -subjectiva - como a lêem.
Vale a pena meditar sobre o efeito de espanto, de horror, do pesadelo que emerge deste quadro. Ele tem algo de moderno, de impossível de reduzir a um contexto histórico particular. Ou seja, o quadro evoca, ressoa, dentro das nossas mentes. 
Conheço poucas obras, além desta, capazes de - com tanta força - evocar o medo, o pânico e a irrupção do impossível, do sobrenatural no quotidiano. 

A arte pode ser um sinal de alerta, um despertar das mentes adormecidas. Sobretudo, se não tiver como intuito veicular uma ideia precisa, mas antes traduzir o indizível, o inconcebível, por meio de traços e pinceladas. 
A ideia subjectiva que se forma no espectador da obra, é o fruto das vivências do mesmo. Ele fará uma dada leitura, a leitura que se lhe impõe pelos seus sentimentos.

Neste quadro, o que mais me impressionou quando criança, o que fez com que ficasse gravado na minha memória, talvez fosse o frémito, a ruptura, o espanto. Não é a parte racional da mente que se utiliza para apreciar a Arte, mas antes a parte emocional.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

NA AVENTURA HUMANA, A ARTE COMEÇOU MAIS CEDO DO QUE SE PENSAVA...

Quando me refiro à aventura humana, não estou a pensar nos mais de 2,5 milhões de anos do processo de humanação, desde os vários Pithecantropus, ao género Homo e suas notáveis espécies…

         
                     Imagem: a mais antiga pintura figurativa (grota em Sulawesi)

Sabemos que houve ornamentação e certo grau de abstracção nas culturas dos Homo neanderthalensis, mas, na minha subjectividade, o «nós» começa realmente com a espécie Homo sapiens que, segundo os dados mais recentes da paleo-antropologia, deve ter surgido em África há cerca de 350 mil anos. Esta espécie, que é afinal a nossa, propagou-se muito rapidamente em vários continentes, adaptando-se a condições naturais muito diversas, desenvolvendo novas técnicas e também uma cultura simbólica cujos principais traços apenas podem ser delineados através dos vestígios materiais que deixou.
A foto acima mostra impressões de mãos e uma figura animal, difícil de se perceber: faz parte do notável conjunto de arte parietal,  duma gruta de Sulawesi que é hoje da Indonésia, com a remota idade de 40 mil anos. 
A gruta de Chauvet (em França) foi datada em cerca de 35 mil anos. Muitos outros vestígios de arte rupestre europeia pertencem a épocas mais recentes, como é o caso de Lascaux, Altamira, Foz Côa…
As figuras presentes em todos estes exemplos de arte parietal – sem dúvida, representações de forças cósmicas, assumindo a forma de leões, alces, cavalos, bisontes, etc… - espantam pela forma muito perfeita, que nos permite reconhecer - não apenas os animais selvagens contemporâneos - como o detalhe de animais extintos, os rinocerontes lanígeros, ou os mamutes.
Mas, sobretudo, espanta a capacidade de captar o movimento apenas com um traço, a sobreposição de várias posições, traduzindo os movimentos do animal (visível em certos frescos de Chauvet e nalgumas gravuras de Foz Côa), o aproveitamento dos relevos naturais das rochas nas paredes ou tectos, para dar um efeito de volume, de sombreado. 

                      Image result for lionnes de Chauvet


                 
                   Acima: Grota Chauvet. Abaixo: Relevo cavalos Foz Côa                  


Estas figuras tinham a virtude mágica de se pôr em movimento, aquando dos ritos iniciáticos, à luz dos archotes.

Como dizia Picasso, ao sair da gruta de Lascaux, recém-descoberta: «nós não inventámos nada! Eles já sabiam tudo!». Com efeito, eles tinham um olhar atento e agudo, a mestria da forma e do movimento, a ciência dos pigmentos, sabiam jogar com o relevo e com sombra e luz …


O etnocentrismo, segundo o qual a nossa civilização seria a mais evoluída e as realizações do Homem contemporâneo superiores ... baseiam-se na ideia (muito antiquada, afinal) de que existe um «progresso», visto como um aperfeiçoamento na escala física, mental, moral e cultural da humanidade.
Deste sentido preciso de progresso só posso discordar totalmente, face às numerosas evidências de que disponho e que a ciência paleo-antropológica mais avançada nos põe diante dos olhos:
- O ser humano cedo assumiu a plenitude das suas características, físicas e psíquicas. Seria mais fácil admitir uma decadência, pois é certo que a aptidão física foi decrescendo, à medida que os humanos se fecharam em grandes cidades e que as suas formas de subsistência foram cada vez menos tributárias da força física.
Os homens de há várias dezenas de milhares de anos, assim como os raros caçadores-recolectores que restam neste Planeta, eram/são dotados de capacidades físicas notáveis. Porém, já nos seus alvores, a nossa espécie era também portadora de sofisticação cultural num grau muito superior ao doutros símios antropóides e mesmo dos nossos antepassados ante-humanos, de outras espécies do género Homo.
Isto explica-se facilmente na medida em que a subsistência e a expansão de Homo sapiens estavam dependentes da capacidade de tecer laços profundos, de constituir uma sociedade que possuísse um máximo de resiliência colectiva.
Os grupos humanos primitivos têm as prioridades da vida na ordem correta, ao contrário dos civilizados, sobretudo quando estes estão encerrados numa cultura tecnológica, da qual são escravos… sem o saberem.

A espantosa aventura humana consistiu nos mais de trezentos mil anos ANTES do que hoje se convenciona chamar «a civilização», o aparecimento de sociedades urbanas, com um poder centralizado, com religiões, sacerdotes e templos, com exércitos e guerras, etc…
Embora quase tudo na História dessa humanidade do período paleolítico pareça estar irremediavelmente perdido, pode-se ainda, através da antropologia física e da arqueologia reconstruir algo do que foi esta aventura. A evidência de simultânea expressão artística em duas regiões muito afastadas do globo, é indicação de que as capacidades artísticas já eram partilhadas pelos grupos humanos ANTES de saírem de África, há cerca de 80 - 90 mil anos. 
A tendência para romantizar a humanidade do paleolítico pode estar presente, mesmo nos espíritos mais rigorosos podem existir projecções inconscientes das concepções dos homens modernos e seus preconceitos.
Mas pode-se resistir a essa tendência implícita de reconstruir o passado à nossa imagem pois, na verdade, sabemos demasiado pouco sobre os grupos humanos que constituíram as primeiras culturas, produtoras de arte parietal. 
Conhecemos as técnicas materiais que utilizavam, sabemos qual o seu modo de vida genérico, podemos – por vezes – isolar e sequenciar o seu ADN, mas não fazemos ideia de como seriam seus idiomas, qual a extensão dos seus saberes, nomeadamente em relação aos fenómenos naturais, quais as narrativas que relacionavam o mundo dos humanos com a natureza e o sobrenatural… Talvez as culturas de há 40 mil anos atrás fossem semelhantes, pelo menos em certos aspectos, às culturas de caçadores-recolectores actuais, mas isto é uma mera hipótese…

A única certeza que possuo em relação a este assunto, é a seguinte: 
- Quaisquer que sejam os factos que a paleo-antropologia e as outras ciências venham a revelar, o importante é  que os humanos de hoje saibam mais e melhor sobre a profundidade da humanidade e da sua aventura.
Acredito que isso aumentará a humildade das pessoas e não a sua soberba; que o conhecimento desta história irá eliminar ou ajudar a combater o racismo, a xenofobia e o etnocentrismo, visto que a humanidade actual é una. 
Somos descendentes dos Homo sapiens, que se espalharam pelos 5 continentes (África, Europa, Ásia, Austrália e América). 
As pessoas, esclarecidas e informadas, terão desejo de preservar os vestígios e monumentos do passado, em promover o desenvolvimento das técnicas e da sociedade tecnológica, no respeito pelas culturas  tradicionais existentes (incluindo o respeito pelo território e pela dignidade dos actuais caçadores-recolectores), tal como pelas do passado e pelo mundo natural. 
Sem isso, sem um respeito profundo por si própria, enquanto humanidade multi-facetada, pelo seu próprio passado e pelo mundo natural, sejam quais forem os progressos tecnológicos, a humanidade caminhará para a degradação e para o abismo.



quarta-feira, 24 de outubro de 2018

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

CRÓNICA DE PEQUIM - A ARTE DE IMITAR OS SONS DA NATUREZA (POR EDUARDO BAPTISTA)

                      

Neste artigo em língua inglesa «Master of Mimicry» Eduardo Baptista apresenta-nos um expoente da arte chinesa de imitar os sons da natureza, apenas com a boca e as cordas vocais.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

MUNDOS PARALELOS

Não, hoje não lhe vou falar de esoterismo, de distantes galáxias, ou de outras banalidades de vendedores de banha da cobra modernos. Vou falar da intensa sensação de estranheza que se tem quando se olha e reflecte para/face a um espelho.

                


A exposição agora na Gulbenkian, «do outro lado do espelho», é um mundo de mundos paralelos. Um mundo em que artistas tão diversos na índole, além de terem pertencido às mais diversas culturas, quiseram «brincar» com o espelho como forma e metáfora, a velha metáfora da superfície do lago, no mito de Narciso. Mas também como metáfora da passagem do tempo, aquele aperto no coração quando se descobre, ao espelho, mais um cabelo branco.

Gostava de contar todas as sensações que tive, todas as evocações, divagações e sugestões... em face destas obras tão emblemáticas da nossa civilização, afinal!
Gostava, mas não vou fazê-lo, porém. Vou antes convidar-me (e convidar-te) a renovar a sensação estranha e deliciosa, de estar a mergulhar do outro lado do espelho...

sábado, 13 de janeiro de 2018

O JEJUM TERAPÊUTICO DESDE A ANTIGUIDADE ATÉ HOJE

Um documentário ARTE de grande qualidade. 
O jejuar é uma das formas tradicionais de higiene pessoal, prescrita pelas religiões. 
Como forma de purificação, pode ser levada a cabo por motivos espirituais, mas pode também ser adotada, independentemente de qualquer obediência religiosa ou ideológica.

Já Hipócrates afirmava que o repouso e o jejum são os melhores tratamentos para manter e recuperar a saúde.
Como método, é muito natural: nós fazemos jejum desde a última refeição do dia, até ao dia seguinte. Breakfast, déjeuner significam a mesma coisa: literalmente, é quebrar o jejum.

O homem primitivo estava adaptado a jejuar periodicamente. Pela natureza do seu modo de vida, vivia na escassez, a maior parte do tempo. Foi assim que viveu o homem paleolítico, da caça-recoleta, durante cerca de 200 mil anos, desde o aparecimento da espécie Homo sapiens, até há uns 12 mil anos atrás com a transição para a agricultura e a pastorícia, a revolução neolítica. 
A nossa anatomia e fisiologia «lembra-se» dessa época e armazena energia com grande eficácia, gere o consumo dessa reserva de energia de modo muito prudente, mas tudo isso como se nós ainda estivéssemos sujeitos a episódios de fome, a falta crónica ou aguda de alimento. Mas na nossa civilização, não é normalmente difícil de saciar a fome, pelo contrário, tudo incita a um sobre consumo de alimentos. 
Os jovens são condicionados a comerem muitas vezes por dia; a sua dieta é muito energética e isso pode ser causador de obesidade, caso eles não tenham um consumo de energia devido a atividades físicas como se espera que crianças e jovens tenham. Simplesmente, são incentivados a não gastarem a sua energia, a permanecer sedentários, devido à própria forma de organização da sociedade, desde as creches, jardins de infância, escola, casa, todos os locais onde a criança é mantida preferencialmente «tranquila», com um brinquedo ou um jogo-vídeo, no seu cantinho.

Experimentei uma restrição alimentar num episódio de gripe recente e creio que isso, junto com o repouso, ajudou a superar a infeção. Porém, o meu estado de saúde geral melhorou, para além da cura da gripe. Deixei de estar sujeito a certas pequenas afeções, como cefaleias, rinite alérgica, ligeira hipertensão, etc...
Comecei a limitar intencionalmente a ingestão de comida, estendendo o jejum «natural» do ciclo dia/noite, para cerca de 16 horas (das 16 h. de um dia até às 8 h. do dia seguinte). 
É suportável, apesar de inicialmente o nosso organismo estar sujeito a um ciclo de estímulo hormonal (níveis da grelina). Com o tempo, ele habitua-se; o relógio hormonal já não antecipa a hora de jantar.
As defesas imunitárias aumentam; o organismo interpreta a restrição alimentar como uma situação de stress. Ativam-se as respostas ao stress, incluindo a capacidade do sistema imunitário em combater os agentes patogénicos. 

Nós estamos agora, apesar da indústria farmacêutica e da medicina convencional, a redescobrir a profunda sabedoria de comportamentos e de modos de vida recomendados desde há milénios, que foram codificados nas grandes religiões. 
Muitas doenças são reconhecidas como doenças de civilização e/ou iatrogénicas (causadas ou agravadas pela intervenção médica); a diabetes, a obesidade, o cancro, as alergias, etc. estão em crescimento. Porém, as formas mais eficazes de combater estes males passam por uma mudança de atitude fundamental. Várias terapias tradicionais (adaptadas), como o jejum terapêutico, seriam muito mais adequadas e poderiam, em muitos casos, ser aplicadas de forma preventiva, para fortalecer os mecanismos naturais de defesa.



                                          https://www.youtube.com/watch?v=b8Vtot4Kf88