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terça-feira, 22 de outubro de 2024

PRIMEIRO DIA DA CIMEIRA DOS BRICS EM KAZAN (RÚSSIA)

 Tal como temos vindo a relatar, os BRICS foram fortalecendo as suas trocas comerciais recíprocas, evitando o dólar como intermediário, fazendo o ajuste final com ouro (visto que os câmbios entre duas divisas podem oscilar durante a negociação). Este processo é bastante simples e não implica uma entidade centralizada (a instauração do «BRICS Pay» irá potenciar as trocas país a país). 

Quanto ao processo de investimento, esse sim, beneficia de uma entidade centralizada, o Banco de Investimento dos BRICS. Tem sido um motor para o desenvolvimento de muitos países do Sul Global, que anteriormente só podiam recorrer (na prática) às instituições controladas pelos EUA, como o FMI e o Banco Mundial, que só emprestavam a troco de condições como os famosos «programas de ajustamento estrutural», os quais levavam ao empobrecimento ainda maior destes países. 
Este investimento financiado pelos BRICS, incide em infraestruturas, novos meios de comunicação e em economia digital. Permite que - em pouco tempo - os países africanos atinjam a autossuficiência e desenvolvimento autónomo, como nunca tiveram, desde a descolonização. A África sairá grande vencedora (económica), na segunda metade do século XXI. 

No que toca à adesão plena aos BRICS de cerca de 40 países-candidatos, colocam-se dificuldades, pois o alargamento tem de ser feito perante regras claras e não ambíguas; o que era possível ser feito a 5, com um «consenso oral», já não é procedimento adequado a 40 ou 50. 
A prudência em fazer uma série de acordos parciais e bilaterais, com os países-candidatos, é de simples bom-senso; também é vantajosa para os candidatos, pois assim estarão em condições de avaliar as vantagens e inconvenientes das suas economias se integrarem plenamente aos BRICS. 


Esta entrevista acima, em espanhol (pode ativar as legendas na mesma língua), pode exemplificar o ponto de vista, não apenas do entrevistado (De Castro), como de muitos empresários, espanhóis e europeus. 

Há que ver as coisas num modo não ideológico, não preconceituoso. E tem razão o entrevistado, pois o pragmatismo permitiria aumentar os intercâmbios comerciais entre a Europa e o resto do Mundo, aliviando assim a crise de recessão/depressão que a Europa tem estado a sofrer, desde há dois anos, por mais que politicamente tentem ocultar a  gravidade da sua situação. A existência desta oportunidade, da Europa se unir ao Sul Global, é posta em relevo pelo entrevistado.


domingo, 13 de agosto de 2023

CUIDADO COM O GRANDE AFROUXAMENTO - Alasdair Macleod

Alasdair Macleod - como analista económico e dos mercados dos metais preciosos - limita-se a discorrer dentro dos parâmetros de evidências relacionadas com  todos os elementos quantitativos e as tendências que se afirmam no domínio financeiro, das moedas e das cotações de metais preciosos. Ele tem razão em assim proceder, pois é a única maneira de fundamentar - de forma impecável - os fenómenos complexos e caóticos, como são os assuntos humanos, mormente na política e economia.

Mas, para dar «substância» concreta ou «carne», a estes gráficos e tabelas de números,  basta pensarmos na Grande Depressão e as suas consequências: um empobrecimento geral, a dissolução das «garantias» dadas (supostamente) pelos Estados aos seus cidadãos, a ascensão de políticos autoritários e belicosos à chefia de Estados, a IIª Guerra Mundial, antecedida por um cortejo de guerras preparatórias (guerra de Abissínia, Guerra Civil Espanhola, a guerra civil e invasão japonesa da China...).  Tudo isto foi consequência do colapso económico-financeiro de 1929 e dos anos seguintes. O Mundo só deixou de estar em depressão (após uma década), com a transformação dos países industrializados em economias de guerra, nomeadamente nos EUA. 

Pense-se em todo o sofrimento humano, no passado e agora... Basta olhar à volta, com olhos de ver.


https://www.goldmoney.com/research/beware-the-great-unwind



This chart strongly suggests that US Treasury bond yields, widely regarded as the risk-free yardstick against which all other credit is measured are going significantly higher, not stabilising close to current levels before going lower as commonly believed. I conclude that US Treasury bond yields could easily double, and the political class will be powerless to stop them going even higher. The implications for interest rates globally are that they will be forced considerably higher as well.

This article concludes that reasoned analysis takes us to this inevitable conclusion. It is consistent with the end of the post Bretton Woods fiat currency era, and the return to credit backed by real values.

The collapse of unbacked credit’s value was only a matter of time, which is now rapidly approaching. The Great Unwind is under way. It is the consequence of monetary and currency distortions which have accumulated since the end of Bretton Woods fifty-two years ago. It will not be a trivial matter.

The trigger will be capital flows leaving the dollar, creating a funding crisis for the US Government. Foreigners, who have accumulated $32 trillion in deposits and other dollar-denominated financial assets will no longer need to maintain dollar balances to the same extent, perhaps even paring them back to a minimum. Furthermore, economic factors are turning sharply negative with energy prices rising ahead of the Northern Hemisphere winter, springing debt traps on western alliance governments. So how could bond yields possibly decline materially in the coming months?

 - Continuação do artigo de Macleod, em inglês AQUI

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

FERTILIDADE MASCULINA EM RISCO DEVIDO A SARS-COV-2

 


Segundo estudos publicados por universidades alemã e iraniana, os tecidos testiculares de pacientes são frequentemente infectados com Coronavírus. 
Os pacientes têm um decréscimo significativo da eficácia dos espermatozóides que se traduz pela redução da concentração no esperma em 516 por cento e da sua mobilidade em 209 por cento. 
A deformação celular ficava aumentada em 400 por cento.

Esta descida da fertilidade masculina vem potenciar o facto, reportado muito antes da crise do COVID pela revista científica The Lancet, de que a taxa global de fertilidade quase ficara reduzida a metade, para 2,4 em 2017 e com projecções a indicarem uma descida para os 1,7 por volta de 2100.

Uma taxa de nascimentos por mulher em idade fértil deve rondar os 2,3 para que a população se mantenha em equilíbrio global: Uma taxa de 1,7 resultaria numa quebra da população mundial.

Independentemente dos efeitos directos do Coronavírus sobre a fertilidade masculina e feminina, é previsível a descida acentuada dos nascimentos, por decisão dos casais em não procriar, ou em adiar a procriação. 

Com efeito, perante o cortejo de factores de instabilidade económica decorrentes da recessão mundial é absolutamente certa a descida acentuada dos nascimentos. 

Quase todos os países desenvolvidos experimentaram taxas negativas do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 e muitos continuarão a tê-las no ano corrente. A excepção é a China, que teve 2,3 % de crescimento do PIB em 2020.

  

sexta-feira, 26 de junho de 2020

OLHANDO O MUNDO DA MINHA JANELA (PARTE VII)

                                   

                             [Venezuela: exemplo concreto de hiperinflação]


Ao decidir escrever esta crónica, na continuidade dos temas das anteriores, deparo-me com uma dificuldade maior: Embora esteja a escrever apenas um trimestre depois da última crónica (a parte VI foi escrita em finais de Março de 2020), é um pouco como se fosse 20 anos depois, tão densa e dramática a actualidade tem sido.  Ela tem sido isso, para além da crise sanitária, largamente exagerada e convenientemente prolongada, quer pelos media, quer pelas políticas de «lockdown»
Não irei alongar-me sobre o assunto que tenho debatido extensivamente nas páginas deste blog. 
Vou antes chamar a atenção para o facto de que esta crise é uma crise sistémica: Estamos perante algo que nunca experimentámos nas nossas vidas, a não ser que tenhamos nascido antes de 1929. Mesmo assim, praticamente não sobrevive ninguém que fosse adulto nesse momento. De qualquer maneira, a crise de 1929 deixou marcas tão profundas em todas as esferas, que não poderíamos imaginar o mundo de hoje, sem as convulsões que foram desencadeadas a partir dessa data. 
Será quase impossível imaginar um mundo sem as consequências da Grande Depressão de 1929-1933: Um mundo onde não tivesse havido a ascensão ao poder de Hitler, ou a IIª Guerra Mundial, ou a concentração do capital financeiro, ou a criação do chamado Welfare State, ou... ou ...ou...

Não sou, nem quero ser um «profeta», mas  pelo que já se vê agora, ou pelas consequências muito próximas e lógicas das situações criadas, há algo absolutamente essencial, que descrevo abaixo, não mencionado pelos analistas, ou por miopia, ou por estratégia. 
O sistema económico, financeiro e monetário está em completa desarticulação. Os bancos centrais e os governos não conseguem ter «mão» nesta situação. Tradicionalmente, a «impressão monetária» servia para causar uma ilusão de maior riqueza e este optimismo ilusório era considerado suficiente para «dar uma chicotada» na economia, impulsionando o consumo e o crédito, fazendo arrancar um novo ciclo. A impressão monetária atingiu píncaros absolutamente inéditos, mas a economia mundial simplesmente não é estimulada. Isto não deveria surpreender ninguém, pois a destruição catastrófica de emprego e empresas causada pelos «lockdown» um pouco por todo o mundo, nos dois meses anteriores, deitaram por terra qualquer hipótese da máquina produtiva se activar, em consequência de um «estímulo» monetário. O próprio FMI está a apontar para números de PIB dos países desenvolvidos, da ordem de 10 pontos negativos (uma contracção de 10% do PIB da eurolândia) para o corrente ano.
A crise - que está nas primeiras etapas - inicia-se com um período de deflação. Dentro de algum tempo, dá-se o agravamento do desemprego, a espiral descendente, com falências em série. Para evitar este cenário, governos e bancos centrais vão accionar as únicas políticas que sabem aplicar, nestes casos: impressão monetária.
Segundo a teoria prevalecente, designada «neokeynesianismo», em situação de recessão ou depressão, deve-se fornecer dinheiro fresco, vindo dos bancos centrais para os bancos comerciais, que fluirá destes para empresas e para o crédito ao consumidor. Este ficará estimulado a consumir e espera-se assim que passe a depressão económica. 
Vão «estimular» com políticas monetárias cada vez mais arrojadas, mas isso não terá qualquer efeito real: é como se dessem injecções de adrenalina num corpo em estado comatoso:
- Primeiro, farão injecções de dinheiro nos bancos, com esperança de uma expansão do crédito e reactivação da subida nas bolsas. 
- Depois, vendo que este processo não traz nenhum estímulo real, irão fazer uma política muito menos convencional, de compra directa das obrigações de empresas e das acções cotadas em bolsa. Irão a imitar o trajecto tomado pelo Bank of Japan desde há décadas, sem outro resultado, senão uma profunda estagnação/depressão. 
- Em desespero, vão fazer injecções directamente aos consumidores, através do «rendimento básico universal». Isto significa que qualquer pessoa, simplesmente por existir, independentemente de ter ou não trabalho, rendimentos, etc... vai receber uma soma - por exemplo 600 euros mensais - como «complemento» ou «sustentáculo vital». Este dinheiro, espera-se, vai ser utilizado para consumo, não vai ser aforrado, visto que os juros são negativos, em termos reais. 

A hipótese do «rendimento de  base universal» ser utilizado para aumento do consumo das famílias parece sensata, à primeira vista. 
Mas tem um grave e evidente inconveniente: a multiplicação de dinheiro, sem contrapartida em bens consumíveis. 
Havendo muito mais dinheiro para o mesmo número de produtos, o preço destes vai aumentar. Na situação presente, também poderá haver uma contracção da oferta, por menor produção, causada pelas falências em série e pela ruptura das cadeias de abastecimento. 

O que se prepara é um ciclo de hiperinflação. A oligarquia deseja causar o colapso completo, mas controlado por ela, para poder impor a sua nova ordem. Esta, incluirá o reforço das organizações transnacionais, do globalismo, o controlo absoluto da emissão de moeda a nível mundial (provavelmente sob os auspícios do FMI) e reforço dos mercados também fortemente centralizados, globalizados.  
Perante este cenário, já se verifica que bancos comerciais e os mais afortunados (o 0.01%) estão a acumular ouro. Actores importantes, como o banco de investimento Goldman Sachs e vários «Hedge Funds» (fundos de investimento) estão abertamente a aconselhar seus clientes a comprar ouro.
No futuro, haverá uma transição para um novo sistema monetário, cujos contornos não estão ainda visíveis, mas a oligarquia globalista tem a firme intenção de manter e reforçar o seu controlo sobre a emissão e circulação da moeda. Com certeza, o ouro terá um papel a desempenhar nessa nova arquitectura monetária mundial, resta saber qual será, exactamente. É também provável que lancem uma «moeda digital», mas não será descentralizada e fora do controlo estatal, como é o caso, hoje em dia, com o bitcoin e congéneres.
Como tenho escrito repetidas vezes, a única maneira das pessoas comuns evitarem que o que se avizinha, as afecte de modo particularmente cruel, é estarem bem informadas e construírem uma maior autonomia, face a um eventual agravamento da situação.   
Os dirigentes políticos e económicos e a media convencional estão a ocultar um risco enorme, muito mais grave que uma eventual «segunda onda» do coronavírus : a hiperinflação, que é a destruição violenta de património, dos meios de vida, das vidas mesmo, comparável à devastação de uma guerra.  

                      

sábado, 16 de maio de 2020

A PRESENTE EXPANSÃO MONETÁRIA E O SEU PREVISÍVEL RESULTADO

                            Final Currency Debasement to Zero Has Started | GoldBroker.com

Em consequência da crise artificialmente desencadeada com a paragem - por ordem dos governos do Ocidente - de metade da produção mundial, temos agora que enfrentar a crise económica mais profunda, desde a grande depressão de 1929-1934. 
O resultado da crise, que agora apenas começou e que irá durar provavelmente uma década ou mais, não será fácil de antecipar nos planos social e político
Embora seja certa - desde já - uma quebra dos padrões de bem-estar e de riqueza, mesmo nos países ocidentais outrora afluentes, as agitações sociais, causadas pelo empobrecimento brusco de grande parte da classe média, são imprevisíveis. 
Mas, o meu propósito - neste artigo - é enfatizar as consequências directas das políticas económicas dos governos, apoiados pelos respectivos bancos centrais.  
A expansão extraordinária da massa monetária, levada a cabo pela FED, o banco central dos EUA, e imitada pelos outros bancos centrais, tem consequências aparentes e ocultas. 
Quanto às consequências aparentes, pode-se constatar a obtenção de meios monetários praticamente ilimitados pelos Estados, para fornecer apoios extra em muitas direcções:
- aos trabalhadores e às famílias, que ficaram - de repente - sem recursos (o chamado «dinheiro de helicóptero») 
- às empresas de pequena e média dimensão, salvas da falência, graças ao crédito concedido pela banca. Mas, este crédito somente é concedido porque está garantido pelo erário público.
- aos bancos, em situação real de falência, com balanços cada vez mais negativos, à medida que a crise se vai avolumando: mais e mais devedores deixarão de pagar suas prestações hipotecárias, simultaneamente com a desvalorização do que foi dado em garantia dos empréstimos, etc...
- aos Estados, através da compra sistemática das suas emissões de dívida. Este financiamento dos Estados pelos bancos centrais, embora anátema face à ordem neoliberal, é hoje praticado pelos mesmos neoliberais.
Esta aceleração do crédito e da emissão monetária, está a causar uma expansão brutal dos activos da  FED, emissora do dólar, principal moeda de reserva mundial e das trocas comerciais.  A FED troca dinheiro líquido pelas mais diversas «garantias», incluindo agora «junk bonds» (obrigações cuja segurança é considerada abaixo do limiar de investimento). Apenas no espaço de um ano, estima-se em 62% a expansão dos activos da FED.  
O mesmo se passa com outros bancos centrais. Esta situação equivale à «nacionalização» de grande parte da economia, mas sem que exista um verdadeiro controlo e pilotagem, por parte dos governos respectivos. Vão ser os bancos centrais a decidir, na prática, as políticas concretas dos Estados e dos governos. Note-se que coloquei «nacionalização» entre aspas, pois os bancos centrais, da maior parte dos países ocidentais, são privados: é o caso da FED, do Bank of England, do ECB, etc.; são conglomerados de entidades bancárias privadas que detêm o controlo. Existe uma supervisão dos Estados, mas sem a possibilidade destes decidirem sobre as políticas monetárias.  

O que descrevi acima, pode deixar indiferente alguns, que não percebem o alcance destas mudanças, porém, as suas consequências serão muito amargas para todos. 

De entre as consequências ocultas, a mais preocupante, é uma inflação descontrolada. A inflação não poderá ser contida, como até agora. Ela não se confinará aos mercados financeiros, às acções, obrigações e produtos financeiros derivados. 
Outra consequência oculta, é a destruição do valor real das divisas (do seu poder de compra), que se vai acelerar. 
Só poderá tirar benefício desta situação, neste contexto, uma pequena minoria, que detém bens duradoiros, com potencial para gerar rendimento:
- terra agrícola, imobiliário, ou as poucas empresas rentáveis, apesar da depressão que aí vem. 
Mesmo dentro de cada categoria de activos, será necessário diferenciar: por exemplo, o imobiliário comercial não será rentável, neste contexto; talvez apenas poderá sê-lo no médio-longo prazo.
A destruição do valor das divisas obrigará à reestruturação da ordem monetária existente. 
Haverá que estabelecer, num ponto ou noutro do futuro, um acordo global entre as diversas potências, algo equivalente a um novo «Bretton Woods».
Mas ninguém pode, hoje, saber quais os resultados desse futuro «Bretton Woods». No entanto, existem numerosos indícios de que se chegou ao fim do ciclo do domínio mundial pelo Ocidente, com os EUA à cabeça. 

É um caso de «suicídio» civilizacional: estamos a presenciar o resultado conjugado da ilusão decorrente da «hubris», da arrogância e da ganância da oligarquia, da sua miopia política, da demagogia...
Os povos dos países ocidentais não têm responsabilidade directa, embora tenham caído na ilusão de que podiam «decidir pelo voto» as políticas dos Estados e governos respectivos. 
Serão os «de baixo» a pagar o custo - pesado e amargo - dos desmandos da oligarquia estúpida e corrupta que os explora. Esta, tudo fará para continuar como o parasita que suga o sangue do hospedeiro, mesmo enfraquecendo-o ao ponto de o matar...

domingo, 1 de março de 2020

JOGO FINAL (END GAME)

                'We’re headed for the worst financial crisis of our lifetimes' – Jim Rogers

Os mercados, não apenas financeiros, mas também (e sobretudo) físicos estão paralisados.
Porquê? - Em primeiro lugar, é preciso afastar o mito do coronavírus como «o» agente da desgraça económica e financeira que nos está a cair em cima neste momento.
Antes de mais, a crise foi incubada durante longos anos. Pode dizer-se que está directamente relacionada com a maneira como os bancos centrais «resolveram» a crise de 2008. 
Ao inflacionarem os seus livros de contas com os activos tóxicos recolhidos nos bancos comerciais, distribuindo largamente «dinheiro-papel» (triliões de dólares) sem contrapartida em maior produção e riqueza verdadeira, estavam a criar as condições para o que agora se passou. 
A situação foi posta a nu em 17 de Setembro de 2019, quando os bancos recusaram uns aos outros os habituais empréstimos de curto prazo, os quais têm como finalidade assegurar liquidez, ou seja, «cash», que pode faltar num dado momento da operação dum banco, mesmo o mais solvente e bem gerido. Simplesmente, quando não existe confiança nenhuma entre bancos, como já tínhamos visto em 2008, os juros desses empréstimos tornam-se elevadíssimos. 
Isso assinala o facto do banco A ter «cash», mas não ter confiança que o banco B, esteja a oferecer, como garantia do empréstimo, um activo que é realmente aquilo que pretende ser. Com efeito, bancos como o Deutsche Bank, estão envolvidos no casino dos derivados, meras apostas, a realização de um lucro por quem ganha, depende da existência de algo «sólido» do lado de quem perde. 
O receio de se repetir a situação de 2008, desencadeou a resposta de emergência do FED (Banco Central dos EUA), que passou a injectar somas elevadíssimas, quotidianamente, vendo-se forçado a actuar como substituto dos bancos comerciais. Ora, na estrutura geral do crédito, não pode haver uma falha concreta e persistente num sector do crédito, sem que isso não se repercuta noutro sector. As dívidas, nos seus diversos prazos ou «maturidades», estão conectadas entre si.
Por outro lado, a economia real estava já em estado de grande debilidade, como se poderá verificar pelos números fracos do comércio em vários países. 

O efeito da epidemia, do ponto de vista económico, foi o de precipitar a crise, sendo que esta se desencadeou pela paralisia da produção, sobretudo na China, transformada em «fábrica do mundo» algumas décadas atrás. 
O efeito de bola de neve nas cadeias de produção, visto que uma série de produtos acabados em fábricas dos EUA ou da Europa, necessitam de componentes intermédios que apenas são fabricados noutras paragens, é determinante do ponto de vista global. Também é muito grave a perda devida à ausência de receitas do turismo, à diminuição do comércio mundial, do tráfico aéreo... 
O mundo foi precipitado numa recessão brusca e profunda que pode significar uma perda da ordem de -15 % do valor do PIB mundial. 

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Segundo o que tenho apurado, muitos globalistas «estavam à espera» duma oportunidade deste género para imporem as suas soluções. Ninguém, com um mínimo de bom-senso nega que eles possuam uma estratégia, pois eles controlam as mais poderosas alavancas da economia, dos bancos centrais, aos grandes bancos sistémicos, às maiores empresas multinacionais e aos governos e entidades supra-nacionais (FMI, Banco Mundial, OMC, ONU...)
Afigura-se-me provável que esta estratégia se desenrole em três fases:

1º  Irão inflacionar («inflate or die»...) até que o sistema comece a sofrer de hiperinflação, resultante da enorme massa monetária que irão colocar em circulação, de maneira coordenada. 
Os preços dos produtos vão sofrer uma aceleração pois, tanto os comerciantes como o público, vão ter de ajustar-se à nova realidade. Até agora, a inflação foi largamente confinada aos produtos financeiros (acções, obrigações, derivados, etc.) . Agora, será uma avalanche de dinheiro, com um PIB que não se mantém constante, que se está a retrair, em virtude da paralisia da produção. 
O resultado, será uma inflação acrescida, sem uma impulsão da produção propriamente dita (ao contrário do que os neo-keynesianos levianamente postulam). Tal subida da inflação vai conduzir - como em «n» casos anteriores - a uma hiperinflação. 

2º Irão provocar o famoso «reset», ou seja, vão aproveitar a má saúde do sistema monetário (mal) gerido por eles próprios, para impor a digitalização total e obrigatória do dinheiro. 
Não haverá moedas e notas, apenas impulsos electrónicos e fotónicos, nos smartphones, computadores, terminais e máquinas diversas. 
Esta digitalização tem a grande vantagem deles poderem vigiar todas as transacções de uma pessoa, se quiserem, em tempo real, sem que essa pessoa saiba (perda total da confidencialidade da vida privada). 
Graças ao «tracking» incessante, não apenas irão saber qual o vosso padrão de consumo e não apenas irão usar essas informações para vos vender as coisas que mais gostais ou fantasiais (como já fazem actualmente), vão também ter uma «radiografia» de toda a vossa vida pessoal. 
Mais grave ainda, poderão desconectar uma pessoa, sem dificuldade, caso ela tenha um comportamento considerado 'anti-social': está em vigor na China um sistema de classificação/notação social, onde pessoas com má notação estão impedidas de comprar bilhetes de avião, ou de frequentar cursos superiores, etc. 
Finalmente, graças à digitalização a 100%, vai ser possível aplicarem-lhe juros negativos. Os juros negativos são como impostos: -2%, -5%, -8%, etc. Estes irão incidir sobre  os depósitos bancários, sem que as pessoas possam defender-se disso: já não será possível retirar dinheiro do multibanco e colocá-lo «debaixo do colchão», sob forma de dinheiro-papel.

3º Como o dinheiro electrónico, digital ou cripto-moeda, estará sujeito às mesmas vicissitudes que a forma «antiquada» de dinheiro-papel, vai reforçar-se a espoliação dos não-poderosos. Primeiro, porque a oligarquia nunca está satisfeita com aquilo que tem, quer sempre mais: mais controlo, mais poder, mais dinheiro, para aumentar o seu poder. 
Mas, por outro lado, controlar as pessoas é difícil, pois elas não são estúpidas: percebem e não gostam de ser constantemente «ordenhadas». Haverá sempre quem invente maneiras para se subtrair aos novos «senhores feudais», haverá sempre resistência dos escravos-assalariados. Nessa altura, haverá um renovar da luta de classes, ultimamente suprimida ou desviada, por meios diversos, que não irei aqui aprofundar. 
O resultado desta renovada luta pode ser, ou a emancipação da tutela dos oligarcas e dos seus capatazes, ou uma maior opressão. Mas as coisas não vão ficar como dantes.

Estas três fases poderão durar tempos muito diversos e estar parcialmente sobrepostas. 
Em todo o caso, este cenário pareceu-me reflectir a dinâmica observada, ao nível mundial.

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PS1: Actualização
Veja este episódio de «Money GPS» para obter informação detalhada sobre os assuntos acima abordados:
https://www.youtube.com/watch?v=yijWp8M14IA

PS2: Actualização
El Erian considera que «a dinâmica presente alimenta-se a si própria, propulsionada pelo «vírus do medo» e por outros comportamentos que geram paralisia e insegurança» 
(... a dynamic that builds on itself in the short term, fueled by a “fear virus” and other behavioral traits that engender paralysis and insecurity.) 

PS3: Actualização
Como eu previra, a taxa de juro do FED foi cortada de 50 pontos-base, um valor mínimo, mas é só o princípio.

PS4: Actualização
A sociedade sem cash (dinheiro papel) está aí. Depois da China desinfectar as notas de banco com ultravioleta, vêm - do lado da OMS - sugerir que a eliminação do papel-moeda seria uma boa medida, por razões sanitárias, claro ...