sábado, 30 de dezembro de 2017

SE EU NÃO PUDER DANÇAR...

Emma Goldman disse, com um vertiginoso sentido de humor, que...«se eu não puder dançar... não quero ser parte da vossa revolução»!







As revoluções passam e a música fica; entreguemos corpo e alma, com gosto, à dança..
Até para o ano de 2018!


sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

ANO VELHO, ANO NOVO...

Vale esta postagem mais pela intenção do que pela inspiração. Depois de uma valente gripe, que me impossibilitou vários dias de fazer algo mais que sobreviver, sinto ainda com maior agudeza a ínfima pequenez do ser humano e da nossa vida, em particular.

Para cumprir com a tradição, irei fazer um balanço do ano transacto e previsões do vindouro. Estes exercícios normalmente esgotam-se numa série de banalidades declaradas  com imensa prosápia e muito pouco conteúdo real. Oxalá o leitor seja indulgente e não me inclua no número dos prosadores detestáveis que enxameiam os media por estas alturas do ano e nos fazem odiar o admirável mundo novo do mediático a todo transe...

No que toca à geopolítica verifico que este ano passado foi muito importante na acentuação de grandes linhas de força, como já previra no final de 2016: o acentuar do eixo euro-asiático, a perda de influência do eixo atlântico. Igualmente, a minha previsão de que a presidência Trump não traria uma viragem real nas principais linhas de força do Império; de novo, cumpriu-se o papel do sistema em fechar as hipóteses do recém-chegado à Casa Branca em mudar o que quer que fosse de significativo em relação à vontade do Estado Profundo, o mesmo é dizer dos que mexem nos cordelinhos do poder, por detrás da ribalta. 
Mas, por outro lado, a fraqueza do Império sobressai ainda mais com a estrondosa derrota na Síria, onde andou a fazer uma dúplice figura de gato escondido com rabo de fora, ora combatendo o ISIS ora protegendo o mesmo de ataques do Exército Sírio coligado com forças russas. 
A perda de influência de tal maneira se fez sentir, que um aliado tradicional no médio oriente e membro da NATO, a Turquia, surge com uma política autónoma de potência regional, não se importando demasiado se as suas relações com Moscovo agradam ou não a Washington. Além disto, os seus vassalos no golfo Pérsico, estão cada vez mais inclinados a estabelecer uma ponte com as potências emergentes no cenário mundial, a Rússia e China.
No plano da economia, o ano não foi de grande euforia, apesar de terem passado nove anos sobre um dos maiores abalos dos sistema, a crise de 2007/2008:  não deixa de ser visível que num número considerável de países,  os índices não retomaram os níveis pré-grande crise. Nomeadamente, ao nível da Europa, não existe uma verdadeira recuperação mas sim uma estagnação, a qual é mascarada pela constante impressão monetária do BCE (ECB), o qual vai fornecendo dinheiro gratuito para os países do sul gastarem em excesso das suas capacidades produtivas. Quando as taxas de juro atingirem um valor mais ou menos de acordo com a média histórica, não haverá salvação possível para muitos sectores europeus que têm sobrevivido graças a um ambiente artificial de juros super baixos. Quanto mais tarde o retorno ao normal se der, pior será, pois as pessoas já reformadas ou que entretanto se reformem, terão de se contentar com pensões diminutas, muitas delas insuficientes para uma velhice condigna. O choque será tanto maior que as pessoas estão a ser constantemente embaladas pelos discursos  dos políticos e da media corporativa.

Em relação à política europeia, a deriva à extrema direita vai acentuar-se com a conivência encoberta de toda a classe política tradicional, digo bem toda, pois a única forma de  barrar as sereias de extrema-direita seria de empossar o povo e fazer exactamente com que este se sentisse ouvido e respeitado; o povo não se sente mais como «soberano». A Itália será o epicentro provável do próximo tremor de terra político no continente europeu. Mas a eurocracia terá de enfrentar numerosas batalhas que a enfraquecerão, sem que nenhuma, por si só, seja suficientemente grave para precipitar uma crise final do império de Bruxelas: vejam-se os casos da Catalunha e das sanções contra a Polónia, ambos revelam a natureza centralista e autoritária do projecto europeu. Esta natureza foi disfarçada enquanto as situações não atingiam o nível de ruptura, nas regiões ou nações.

A viragem tectónica na economia mundial vai engendrar fenómenos de grande tensão e revira-voltas sem precedentes, como aliás já começamos a verificar no ano que está a acabar. O potencial de negócios nos grandes projectos que é a «One Belt One Road Initiative» já transparece. 
Confirma-se a minha previsão de que o Brexit iria ser um abalo profundo na oligarquia europeia, havendo um retraimento da oligarquia britânica do cenário continental. A Grã-Bretanha ambiciona sobreviver como ponte (financeira) entre o império decadente dos EUA e o emergente da China. A Comissão Imperial de Bruxelas está a negociar em termos de limitação do desgaste de sua imagem, não tendo mais o atrevimento para posar como grande projecto de futuro...

Creio que o mundo não vai passar sem uma profunda crise sistémica, que se vem desenvolvendo há vários anos, como uma acumulação de nuvens de trovoada, que começou no horizonte e se aproxima inexoravelmente do presente da nossa civilização. Muita devastação tem sido produzida já agora, por guerras e por sanções (guerra económica), sem qualquer piedade pelos mais fracos: estamos em plena era da política malthusiana

A grande mudança tectónica vai implicar uma perda da hegemonia do dólar como moeda de reserva e como principal divisa nas trocas comerciais internacionais. A elite mundial já aceitou isso há muito tempo, por mais que se faça discreta em relação a este facto. Porém, a sequência do que se passa ao nível do FMI não deveria deixar dúvidas a ninguém; para Christine Lagarde, tanto se dá que os escritórios do FMI sejam em Pequim ou Washington (ela própria o tem afirmado). Para os globalistas, o poder e somente o poder importa; a geografia, a nação, a cultura, a ideologia são nada em face de poder decidir da marcha do mundo. 

                            

Há loucura extravagante e loucura sóbria. A extravagante é fácil de detetar  e não vale a pena expor, ela expõe-se a si própria. A loucura dos globalistas é do tipo «sóbria», pois tem toda a aparência da razoabilidade, da moderação, porém esconde uma ambição absurda: a de controlar, de conduzir, de moldar a evolução do mundo. Porém eles sabem, melhor que ninguém, que este mundo humano e físico é propriamente caótico, ou seja tem a característica de um sistema sem uma lei, sem uma ordem, caótico no sentido mais profundo. 

Somos nós que projectamos os nossos desejos na realidade, não é a realidade que se conforma aos nossos desejos; desejamos, queremos ver o mundo de acordo com a nossa visão... é tudo.

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

O «ADMIRÁVEL MUNDO NOVO» DA AI

AI (Artificial Inteligence; Inteligência Artificial) é um assunto que constantemente assola o público, cativando-o pelo fascínio de uma futurologia baseada em romances de ficção científica. Mas os elementos mais evidentes dessa AI e das suas aplicações são bem visíveis e banais, no presente, com os algoritmos de busca e de captação das preferências individuais de milhões (ou milhares de milhões) de  pessoas que utilizam quotidianamente os motores de busca na Internet, as redes sociais, como nos diz, na conferência TED, a socióloga Zeynep Tufecki.
Mas serão estas ações inócuas? Que estrutura está sendo construída?
- Vejam o vídeo abaixo:


sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

O CHAMADO «TERCEIRO SECTOR» NA ECONOMIA DE PORTUGAL

Por más e oportunas razões, venho abordar a questão do «terceiro sector», ou seja, do sector que tem como vocação administrar, em nome da sociedade civil, a «solidariedade social». 

Além do caso «Raríssimas», outro caso importante pelas suas consequências, é o da entrada (forçada?) da Santa Casa da Misericórdia no capital do Montepio (um banco cujo principal proprietário é uma Associação Mutualista).

  

Aqui, não iremos esmiuçar  o conteúdo e a qualidade da prestação da Raríssimas, da Santa Casa, ou de quaisquer outras IPSS, embora o assunto não seja de forma nenhuma «tabu». 

Mas, o que me parece mais preocupante  - do ponto de vista cívico  - é a forma como o Estado tem administrado os dinheiros públicos, desviando sistematicamente o investimento público direto em domínios que, não apenas são da sua competência (Veja-se o que a Constituição diz sobre o assunto), como tem meios - em muitos casos- para obter bons resultados e por vezes até a custo muito inferior. 

Assim, comete-se um triplo crime:

- Descarregam-se competências próprias do Estado em entidades privadas ou «mistas», sem a supervisão e controlo que tal delegação de competências deveria implicar.
Quando ocorrem casos como o da «Raríssimas», vêm nos dizer que se trata de algo «pontual» e que as instituições de solidariedade social não funcionam assim em 99% dos casos.
 Mesmo que fosse nesta proporção, resta o facto em si mesmo de tais coisas terem ocorrido durante um longo período. Isto põe a nu, claramente, a carência de supervisão do próprio Estado em relação à utilização dos dinheiros do Orçamento que, generosamente, tem encaminhado para as IPSS.

- Não existe - muitas vezes- uma competente e eficaz gestão de recursos existentes no domínio público, o Estado é sabotado por dentro. Isto aproveita os detratores do serviço público, seja do sector da Saúde, seja da Educação, seja da Assistência social. Estes detratores têm interesses pecuniários ou políticos ou ambos, nesse denegrir de imagem. Nunca dizem a parte de benefício que decorre do mau funcionamento das instituições públicas, para as suas equivalentes privadas. 
A capacidade instalada do serviço público em diversas áreas é sub-aproveitada nuns casos, noutros é muito mal administrada, por pessoas que devem suas carreiras de gestores a favores políticos e não tanto à sua competência, etc.

- O público, ou fica a perder por pagar mais caro os serviços privatizados, que poderia ter com a mesma ou melhor qualidade no Estado, caso o «Estado social» funcionasse neste país, ou porque simplesmente fica cortado -essencialmente, por razões económicas - de acesso à assistência a que tem direito, apesar dos políticos encherem a boca constantemente com a retórica dos «direitos humanos». 

Além disso, o público, desinformado, vira-se contra os trabalhadores, quer de IPSS, quer das várias estruturas estatais de Serviço Público. O público não é esclarecido pela media ao serviço de interesses inconfessáveis, que deseja antes de mais fazer avançar um determinado escândalo, ou o tenta abafar, consoante os interesses que representa. 
A media também é direta e indiretamente suportada pelo Estado, nalguns casos; noutros, é propriedade de grandes grupos económicos, que têm exercido uma parte da sua atividade nos sectores privatizados da Saúde, Educação, nos segmentos de mercado mais rentáveis. Não admira, portanto, que a grande media seja conivente. 
Em geral, estes serviços privados de Saúde, Educação ou outros, com fortes protecções e «incentivos estatais» são destinados a uma clientela acima da média, em rendimentos. Portanto, a sua «rentabilidade» deve-se sobretudo à captação - como utentes ou clientes - não apenas dos «muito ricos», como duma grande fatia da classe média, muitas vezes ficando o sector estatal como supletivo, limitado (auto-confinado) à assistência dos «pobrezinhos», dos que não podem pagar os serviços privados ...

Segundo a quantificação fornecida num programa da SIC Notícias, Negócios da Semana, cujos dados foram transcritos por uma amiga minha,  o valor anual das subvenções estatais ao sector social privado (IPSS) e dos impostos de que são isentados é o seguinte:

-- SUBVENÇÕES PAGAS PELO ESTADO (4,3 MIL Milhões de euros ) 

---IMPOSTOS PERDOADOS PELO ESTADO (2, 5 Mil milhões de euros ) 

= DESPESA TOTAL DO ESTADO 6,8 Mil Milhões de euros 



Note-se que o Estado tem também despesas diretas no sector social. Estas subvenções só dizem respeito ao que privados (as tais Instituições Privadas de Solidariedade Social - IPSS), recebem.
Esta soma total de 6,8 Mil Milhões de Euros, é semelhante ao montante da verba anual orçamentada para a Educação, o que mostra  que, ao longo dos anos, o Estado tem «externalizado» a sua função de «solidariedade social». 

O termo de solidariedade está de tal maneira pervertido, que eu preferia que se falasse antes de fazer cumprir os direitos humanos mais elementares. 

A consequência pior de toda esta hipocrisia da «solidariedade» social vigente neste país, é de que se faz muito pouco, muitas vezes mal, em relação aos mais frágeis, o que explica, em parte, a enorme percentagem de pobreza endémica neste país. 

Costumo definir a situação da seguinte maneira:
«Em Portugal, o cidadão paga impostos ao nível duma Suécia (em proporção do rendimento per capita) ou doutros países europeus equivalentes, mas o que ele obtém do Estado, em retorno, em termos de qualidade do serviço público... é equivalente aos menos desenvolvidos países africanos.»

A solução não é mais Estado ou menos Estado, a discussão na media resume-se a este debate estéril. 
As pessoas que se limitam em pensar nestes moldes estão - talvez inconscientemente - a perpetuar o problema porque impedem que se faça um debate sério e não demagógico. Os termos desse debate são simples: - O que é necessário fazer para arrancar Portugal ao sub-desenvolvimento - tanto no sentido físico ou económico, como no comportamental e social.

Como tenho dito em muitas ocasiões, tem de se fazer o diagnóstico de que o Estado português e a sociedade, em geral, estão numa situação típica de país neocolonial

Somente um movimento que combate a situação neocolonial e apenas este, poderá ir ao fundo da questão. Neste sentido, deverá ser radical (por ir à raiz do problema). 
A imensa maioria, os 90% ou mesmo 95% das pessoas, estão objetivamente a ser espoliadas por um capitalismo parasitário e portanto ineficaz. 
A função de motor do desenvolvimento da classe capitalista portuguesa nunca existiu. Ela foi sempre uma classe do tipo «comprador» e ainda o é. Mas agora, as metrópoles coloniais situam-se no Norte da Europa. 
Em Portugal, país neocolonial, a classe política e a classe capitalista parasitária são a mesma coisa, como se constata pela «consanguinidade» e pela fluidez com que elementos de uma passam para a outra. 


terça-feira, 19 de dezembro de 2017

LOUIS ARMSTRONG EM BERLIM-LESTE, 1965


Se queres ver a vida a sorrir, é fácil! Vê e ouve o imortal Satchmo, neste excelente vídeo musical, ao vivo em Berlim- Leste


 Louis Armstrong, Tyree Glenn, Eddie Shu, Billy Kyle, Arvell Shaw, Jewel Brown and Danny Barcelona, live at the East Berlin Friedrichsstadt Palast, March 22, 1965.
First set: When It's Sleepy Time Down South Indiana Black and Blue Tiger Rag When I Grow Too Old to Dream Hello, Dolly Memories of You Lover Come Back to Me Can't Help Lovin' Dat Man When The Saints Go Marchin' In Second Set: Struttin' with Some Barbecue The Faithful Hussar Royal Garden Blues Blueberry hIll Without a Song How High the Moon Mack the KNife Stompin' at the Savoy I Left My Heart in San Francisco My Man Mop Mop When It's Sleepy Time Down South Hello, Dolly

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

A CIÊNCIA DO VINHO; O ABANDONO DA AGRICULTURA

CIÊNCIA DO VINHO, ENOLOGIA 

O vinho é um sumo de uva fermentado. 
A fermentação realiza-se graças a leveduras que transformam os açúcares presentes na uva em álcool e dióxido de carbono. 
As leveduras não são visíveis à vista desarmada, são micro-organismos. Estão naturalmente presentes na adega, na vinha, na superfície da uva e, geralmente, em todos os lugares onde exista o cultivo da vinha. 
Foram estas, as leveduras ditas «indígenas» ou naturais, durante muito tempo utilizadas para produzir o vinho. As leveduras «indígenas» estão a regressar à produção vinícola - nomeadamente - nos vinhos ditos naturais. 

A ciência do vinho é multissecular em Portugal. 
As nossas vinhas e as castas de origem portuguesa são cuidadosamente  inventariadas, catalogadas e experimentadas, em institutos públicos e nas grandes empresas do sector. 
A genética molecular, as técnicas de recombinação, clonagem e de transformação de leveduras, têm encontrado ultimamente numerosas aplicações no domínio da vinificação. 
Para se fazer vinho digno desse nome, são tão importantes as condições climáticas, do solo, das variedades de vinha, como os micróbios que fazem parte dum ecossistema. 
Além destes factores, evidentemente, há toda uma série de saberes, de técnicas de cultivo da vinha, do processamento do vinho, transmitidos de pais para filhos, mas que também se podem ensinar e aprender, como parte integrante da cultura científica e técnica.

Do ponto de vista económico, o sector vinícola em Portugal tem três tipos distintos de empresas;  as quintas familiares, onde se produz vinho para o auto-consumo e pouco mais; as pequenas e médias empresas, que têm frequentemente uma cooperativa vinícola a apoiá-las, onde se recolhem as uvas, se fermentam, se engarrafam e comercializam e por fim, as grandes empresas exportadoras, organizadas para a conquista dos mercados internacionais. 
Estas grandes empresas estão «verticalizadas» ou seja possuem os terrenos, as vinhas, as adegas, os circuitos de comercialização. Tiveram origem, muitas vezes, em capitais estrangeiros, como na produção de vinho do Porto, na região do Douro. 
Estas três tipificações mostram que há possibilidade de uma economia se diversificar e crescer a partir do sector agrícola e obter um rendimento apreciável, não apenas um auto-sustento. 
A exploração familiar que faz vinho, além de outras produções, porém, não é de desprezar. Muitas famílias do Norte da Europa vieram para Portugal fazer este tipo de agricultura, usando seus conhecimentos técnicos e científicos para construir explorações viáveis e ecológicas. As explorações pequenas e médias para o mercado «bio» têm também futuro no nosso país. 
O sector agrícola em Portugal tem futuro, obviamente, se as condições ambientais excepcionais  forem preservadas. 
  
ABANDONO DA AGRICULTURA

A vocação natural e histórica de Portugal é agrícola.  
Porém, o país é um importador de alimentos; as exportações são muito mais baixas do que as importações, ano após ano, quer em termos de dinheiro, quer em volume de produtos. A produção agrícola e as pescas nacionais não chegam a cobrir 50% das necessidades do mercado interno.

Portugal é um país de clima atlântico sob influência  mediterrânica. Possui os melhores solos para a vinha (solos xistosos) em várias zonas do território. Mesmo noutras zonas, a vinha pode ser cultivada, pois existem castas e técnicas adequadas a essas condições.

Em geral, o que a agricultura de Portugal precisa mais é de água. 


                     Paisagem da Beira, perto de Monsanto                    
                     
A água disponível, na maior parte do território continental, é suficiente para as diversas necessidades humanas, incluindo a agricultura, mas está irregularmente distribuída. Por outras palavras, uma irrigação apropriada é necessária para corrigir esta irregularidade. 
Igualmente, as precipitações também estão irregularmente distribuídas no tempo; embora se possa usar, nalguns casos, uma «rega de emergência» para salvar culturas, numa altura de seca excepcional, o mais adequado será fazer-se a criteriosa selecção das espécies, variedades e cultivares, mais apropriados aos factores climatéricos. Tem também aqui lugar uma genética agrícola, respeitando e tirando partido das características do ecossistema. 
Mas a escassez e/ou irregularidade das precipitações ao longo do ano, faz com que a água seja o factor limitante. 

Pinheiros no campo, quadro a óleo de E. H. Gandon

O abandono dos campos, principalmente na Beira interior e no Alentejo, ao longo de meio século, fez com que se criasse e alargasse a mancha de «deserto verde» ou «floresta de produção», baseada no eucalipto, cujo único escoamento é a produção de pasta de papel. 
Um motor deste fenómeno foi o facto de que, só assim, podiam obter das terras um rendimento pecuniário os proprietários absentistas, perante a quase ausência do trabalho assalariado.  Desde a década de 1960 até hoje, os trabalhadores agrícolas têm emigrado massivamente para as cidades do litoral ou para países europeus com necessidade de mão-de-obra. A emigração rural, o abandono da agricultura, propiciou ainda mais o alargamento do «deserto verde», que impediu na prática a  manutenção das comunidades, obrigando a um maior êxodo, num ciclo vicioso...

Quando penso nisto, fico muito triste, porque é um lento e frio assassinato de um país, de uma cultura, de um povo, de um saber agrícola (que deixou de estar...) enraizado na memória.

As pessoas jovens que estão sem emprego ou com um emprego de má qualidade (mal pago, precário) podiam formar cooperativas e reconverter-se à agricultura. 

Penso que um país com boa sustentabilidade alimentar terá um melhor viver e guardará capacidade para se desenvolver nos restantes sectores. Pelo contrário, a indústria, nesta fase de transição energética, só poderá ter futuro, se não for baseada no petróleo.
A aposta «fácil» mas não sustentável (aqui, em Portugal) é o turismo, que se desenvolve no curto prazo. Deixa determinados sectores inflacionados, tais como o imobiliário e restauração, mas sem reprodução do capital e dos saberes. Pode o turismo ser uma alavanca, mas apenas se este sector for integrado com o sector agrícola e das pescas, numa visão de longo prazo. 

Gostaria de saber a tua opinião sobre este assunto.
 Escreve para manuelbap2@gmail.com
Obrigado!
Manuel Banet 





domingo, 17 de dezembro de 2017

NORMALIDADE OU SABEDORIA?

Na continuação do artigo «NINGUÉM É NORMAL...», apresento-te agora reflexões no prolongamento do mesmo. 

Se não há verdadeiramente ninguém «normal», quer num sentido quer noutro, então que consequências tirar deste facto?

- Primeiro, todo o raciocínio sobre assuntos de sociedade, de economia, de política que se baseie na normalidade, na referência à norma, deve ser repudiado. 
Além de falso do ponto de vista científico e filosófico, está associado às formas mais autoritárias de governação e de manipulação. 
Procura impor a normalidade ou a norma, para melhor exercer controlo sobre as pessoas, as «massas» como eles dizem.

- Segundo, se tal sistema de pensamento está muito difundido, como  podemos constatar facilmente nos media, quer no discurso político, quer noutros manipuladores da opinião, será ineficaz combatê-lo apenas contrapondo argumentos. 
Porque o discurso do poder reforça continuamente o preconceito da «normalidade» nas pessoas, que o aceitam sem espírito crítico, formando-se e mantendo-se assim um ciclo vicioso.  
Discursos alternativos apenas, por muito sábios ou sensatos que sejam, não podem ter grande alcance! 

- Terceiro, o «discurso da prática» e não a «prática de discurso» (ou oratória) é que conta: cada pessoa, grupo, colectivo,  ou sociedade, que tenham uma prática autónoma, constroem a mesma de acordo com as suas necessidades, os seus interesses, as suas visões do mundo e da sociedade. 
Ao contrário de se partir de um «a priori» ideológico, seja ele qual for, parte-se da situação dada, daquilo que é, das pessoas tais como são, com as suas vivências, as suas necessidades, os seus desejos, as suas aspirações, as suas capacidades. 

- Quarto, «Fazer uma revolução» no sentido de tomada de poder para impor a nossa visão das coisas, mesmo que fosse a visão acima delineada, é a negação - na teoria e na prática - da autonomia.
Isso seria a negação da vivência em que os vários elementos da comunidade cooperam uns com os outros, numa abertura permanente e numa forte consciência que lhes advém de um «algoritmo interno», «ouvindo a parte melhor de si próprios e tomando exemplo dos melhores de entre eles».

- Quinto, eu respeito a autonomia dos outros, meus iguais em direitos, mas sempre diferentes uns dos outros. 
O que se chama a «Regra de Ouro» (the Golden Rule) é apenas a síntese - em várias religiões e civilizações - do tal algoritmo interno acima referido. 
Aceito e sou aceite pelos outros tal como sou, sempre reconhecendo e aceitando minhas próprias fraquezas e imperfeições e aceitando reciprocamente, nos outros, as suas. 

- Sexto, não pode haver progresso, transformação real e benéfica, senão com a abordagem, a crítica, seguida da mudança na prática, dessas mesmas fraquezas e imperfeições (individuais e colectivas). 

- Sétimo, uma religião ou doutrina moral ou ideologia que proclamasse o contrário, ou seja, reprimir, esconder, disfarçar, ignorar... estaria condenada ao fracasso.
A ideia, a impulsão primeira dos movimentos - religiosos ou não - que tiveram sucesso foi abraçada, intuitivamente, por muitas pessoas. Se um determinado movimento espiritual teve sucesso, foi  porque - num primeiro tempo, pelo menos - pareceu reforçar o tal «algoritmo interno».

- Oitavo, o «algoritmo interno», que permite ao indivíduo existir, mover-se, movimentar-se dentro da sociedade, foi desviado e utilizado abusivamente. 
Em demasiadas ocasiões, esse abuso tem como resultado a perda de referências, a desorientação, sobretudo na juventude, a qual é sempre mais maleável e portanto manipulável, por líderes carismáticos devido a uma usurpação do papel de modelo a emular (o chefe, a vedeta, a estrela, o herói, o ídolo etc...)    

- Nono, nenhum indivíduo ou conjunto de indivíduos é irrecuperável para a autonomia verdadeira, pois os líderes carismáticos, sejam políticos ou não, apenas semeiam a ilusão e as pessoas recolhem decepções. 

- Décimo, parecem «fracas», as pessoas que cuidam realmente de si próprias e dos outros, mas são elas que acabam por moldar e impulsionar decisivamente as comunidades, são «as sementes e o solo» da continuidade das sociedades e da natureza.


sábado, 16 de dezembro de 2017

CADERNOS SELVAGENS, DEZEMBRO 2017 / SESSÃO DE APRESENTAÇÃO

Na Sexta-feira 22/12/2017, das 18:30 às 20:30, FÁBRICA DE ALTERNATIVAS de Algés, haverá uma sessão de apresentação dos CADERNOS SELVAGENS. Na mesma ocasião também será apresentada a exposição de pintura de Isabel Gomes da Silva. 

Faz agora um ano que decidimos colocar os Cadernos nas «mãos» da Fábrica e que saiu o primeiro número em novos moldes

Por isso, convido - para a sessão acima assinalada, na «FA's» de Algés - todas as pessoas que têm interesse em literatura, em arte, em crítica, em economia, em política, em psicologia, etc, etc... resumindo: pessoas com curiosidade e com vontade de debater amigavelmente, com os outros, os seus pontos de vista!

Manuel Banet


                            

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

[NO PAÍS DOS SONHOS] - VOL. II

OBRAS DE MANUEL BANET:

Consulte aqui as peças musicais de ...   

                       «NO PAÍS DOS SONHOS» VOL.II

e os textos respectivos às peças...n'este blog


                              rainbow



                                             

[NO PAÍS DOS SONHOS] SCHUBERT «ARPEGGIONE SONATA»


Uma rapsódia de melodias, umas inquietas outras serenas, trotando na sua cabeça. 
Não se podia levantar da marquise onde estava deitado, o corpo hirto, os braços ao longo do tronco, todo coberto por um pano de linho branco. 
Ouvia vozes que conferenciavam, a poucos metros, mas não distinguia as palavras, nem sabia identificar seus autores.
As palavras não tinham sentido, quaisquer que fossem; não fazia sentido, senão a melodia sublime que emanava do âmago. 
Como que chamando a sua alma para o alto, declinando todo o carinho que pode possuir uma voz de mãe, de abraço terno e caloroso, mas sem nostalgia... desse "eu", que deixava para trás; ele seria em breve cinza; já nada restaria da entidade corpórea senão a concha, vazia do espírito que a habitara.
Não havia regresso à vida, nem havia morte; a alma estava a ser transportada para uma nova dimensão. 
A serenidade que ressentia, não era penosa ou pesada. 
A analogia musical surgia como a única possível. Cada nota musical era como que uma descoberta eterna,  revelação, desvelar de antigo segredo. 
Vibração, onda, frequência... todo o Universo, afinal, se abria e acolhia este Ser, o verdadeiro Ser transcendente.


quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

NINGUÉM É NORMAL ... pensem nisto

Será verdade? Será uma brincadeira?
Ou será algo mais profundo?
O que é normalidade? O que significa «normal»?
Já escavaram o conceito de normal?
Já viram que é um conceito da matemática e estatística?
Não são os termos «doente», ou «patológico», os contrários de «normal»!

Estar dentro da norma (estatística, subentende-se) tem um significado matemático; a este sentido, adicionam ou sobrepõem o significado moral e jurídico de «norma», de lei, de coisa que as pessoas devem fazer ou evitar, para cumprirem a lei.
Mas nem um, nem outro dos sentidos, se coaduna com a complexidade do indivíduo, pois são...
- ou uma deliberada simplificação do ser, reduzindo toda a sua existência a um único parâmetro (para depois o medirem!),
- ou a imposição de lei não consentida, mas decretada do alto do poder, cuja não observância pode ter consequências bem pesadas. Podem ir até ... uma condenação à morte, ou a «morte cívica», numa prisão ou numa instituição para alienados.

Somos infinitamente complexos; é impossível qualquer «medição» da normalidade estatística, em relação ao que é a nossa personalidade, o nosso comportamento. Ambos são demasiado complexos para serem definidos e determinados por meia-dúzia de parâmetros.
Quanto à norma como lei, somos livres de cumpri-la ou não (conceito de livre-arbítrio): Temos consciência, logo podemos decidir que vamos cumprir determinadas normas sociais; ou, pelo contrário, a nossa consciência pode levar-nos a infringir certas normas, porque as consideramos não compatíveis com a nossa ética.

Em nenhum caso, faz sentido dizer-se que somos, ou não somos, «normais». O conceito, qualquer que seja a conotação dada, não é apropriado ao que nos define enquanto seres humanos.

«Normalizados» é porém o que os totalitarismos (soft ou hard) pretendem fazer de nós, humanos!

CONSEQUÊNCIAS DAS «NOSSAS» POLÍTICAS

                              An aerial shot of a long line of people standing on ground that looks like desert.

                                      Refugiados na Líbia, à porta de centro de detenção

As pessoas das chamadas «democracias ocidentais» gostam de ser vistas - e de se verem a si próprias - como defensoras dos Direitos Humanos. 
Porém, as políticas bárbaras e criminosas da guerra dita humanitária são a principal causa das violações destes mesmos direitos. É isto que nos é omitido sistematicamente nos media.

- Mas estes media mostram-nos, sem dúvida, os horrores, noticiam o tráfico de escravos, na Líbia, por exemplo, etc. poderia alguém objectar. 
- Escandalizam-se os opinadores nos jornais e TVs de todo o continente. Eles «denunciam» toda a espécie de violações dos direitos humanos mais básicos. Por sinal, os piores casos aparecem sobretudo e sistematicamente (mas isso não dizem eles) nos teatros de operações onde estejam imiscuídos ocidentais e civilizados militares e mercenários. 

Porque procedem assim? 
- Primeiro, porque não é possível, no mundo de hoje impedir que as coisas se tornem conhecidas, por muito controlo que haja nos media ocidentais. 
- Segundo, porque é mais fácil para o poder globalista manter-se ao comando, se conseguir controlar a «narrativa». 
Assim, pode nos manipular, usando os nossos sentimentos mais nobres, a nossa compaixão; mas também o medo atávico do outro, que está na origem da xenofobia e do racismo. 

Que fique bem claro para todas as pessoas que se consideram humanistas, respeitadoras e defensoras dos direitos humanos:

-Passivamente ou ativamente, a cidadania dos diversos países tem estado a consentir com as guerras neo-coloniais e imperialistas, levadas a cabo pelo «Ocidente» sob a batuta dos EUA e NATO. 
- Os governos não seriam - por si sós - capazes de tal feito. Têm de ter a conivência, anuência, até mesmo a adesão «consciente» de muitos cidadãos, civis ou militares. 
-Para tal consentimento da cidadania, há uma máquina poderosa dos media, ao serviço dos poderes globalistas. O nosso subconsciente é usado, manipulado, sob pretexto de nos «informar».

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

O MUNDO CARACOL

O mundo-caracol (ou o mundo-concha) é aquela construção que emana de nós, que construímos camada após camada, sempre em espirais cada vez maiores, para nos defendermos, ocultarmos, explorando em segurança o nosso entorno. 
O mundo-caracol é autocentrado, é egocêntrico; não é sempre e necessariamente egoísta.
              
Para torná-lo hermético, será possível fabricar um opérculo, uma pequena porta fechada, como os caracóis fazem quando vão estivar (o mesmo que hibernar mas no Estio, a estação da seca). 

Digo isto, porque opérculos fechados, é o que mais vemos por aí. Fala-se de epidemia de autismo. Eu falaria antes de epidemia de pequenos mundos auto-centrados, com pessoas completamente dobradas sobre si próprias, como o feto no útero.

Não me parece mal que se esteja auto-centrado, que se assuma o seu subjectivismo; mas todas as coisas têm  sua medida. 
O caracol - propriamente dito - tem natural curiosidade e necessidade de explorar o mundo. Arrasta consigo a carapaça que o protege. Pode retirar-se instantaneamente para dentro dela, tornando-se inexpugnável, pelo menos para predadores de dimensão não muito diferente dele. 
Estes caracóis naturais são saudáveis, porque optimizaram duas condições essenciais da sua sobrevivência: exploração do meio e defesa contra predadores. 

As pessoas que se posicionam sempre como os caracóis em período de seca, que constantemente se fecham, podem não ter consciência disso, como nós não temos consciência de que estamos mergulhados na atmosfera. Porém, o seu auto-centramento extremo significa que não estarão capazes de uma abertura ao exterior, equilibrada e saudável.

Para satisfazer a necessidade de protecção,  totalmente natural e legítima, que todos os seres vivos possuem, o que se pode então fazer? 
- Ela deve ser encontrada na sociedade, na comunidade com os outros, com a família, com os colegas, com os amigos. 
Sem uma teia de relacionamento social, que nos sustenta do ponto de vista emocional e mesmo material, todo o indivíduo tende a ser como o caracol no Estio: fechado hermeticamente sobre si próprio em posição fetal, sem interacção com o entorno.


segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

UM PAÍS DE OPERETA ...mas eu não PESCO!

Após o escândalo da IPSS (Instituição Pública de Solidariedade Social) «Raríssima» rebentar, veio-se a saber que o ministro Vieira da Silva ...
             

... foi vice-presidente da assembleia geral da associação, que tinha como missão apoiar a investigação e tratamento de doenças raras, cujo financiamento -público e privado - tem sido descurado. Muito boa intenção, só que esta intenção serviu como capa para uma vida de luxo e de privilégio da presidente da IPSS, Paula Brito Costa.     

Tudo o que um ministro nestas circunstâncias deveria ter feito, mesmo tendo ordenado um inquérito a todos os aspectos suspeitos da gestão desta associação, era - no mínimo e logo de seguida -demitir-se:
- Pois se ele estivera, porventura com a maior das boas intenções, associado aos corpos gerentes desta IPSS, o inquérito que ordenou está - à partida - sob suspeita caso ele continue a ser o ministro da tutela que ordenou este mesmo inquérito.
- A segunda questão é a de que qualquer pessoa de bem, se está envolvida num escândalo deste género, ao demitir-se de uma posição de poder poderá ser sujeita a inquérito, a ser questionada como arguido, inclusive, pois quem não deve não teme. Mas neste país de opereta, não se pode sequer imaginar que isto aconteça. São os poderosos a escudarem-se nas suas imunidades para fugirem a que as suas ações passadas sejam inquiridas. Ora, quem não deve, não teme! Por isso, qualquer pessoa de consciência tranquila, que tenha um cargo de responsabilidade e que esse cargo confira imunidade a inquérito em caso de investigação criminal, como é o caso, deve - em boa ética - demitir-se desse cargo.
É nestas «pequenas» coisas que se vê que a política em Portugal é simplesmente a de um país neo-colonial, onde os verdadeiros donos «disto tudo» se estão nas tintas para a «honra» dos que eles comandam na sombra. São como os bonecreiros que comandam marionetas articuladas com fios; não têm que se ralar com a integridade moral das marionetas que manipulam por detrás do pano.

Para cúmulo, no mesmo dia, venho a saber que o país foi metido à má fila numa estrutura militar criada no âmbito da UE, sem discussão de qualquer espécie, nem sequer a nível parlamentar, tendo o governo «desprezado» anunciar ao país que Portugal era agora membro do PESCO. 
Ou seja: a vocação deles - governo, primeiro-ministro, presidente da república - é de baixar a cerviz aos poderes que comandam a UE, de facto, ou seja ao dueto franco-alemão (Macron/Merkel)... Isso é suficiente, na mentalidade deles. 
Para quê esclarecer os «parolos», eles até votam segundo a cor dos emblemas ou da aparência física ou da simpatia e calor humano que eles simulam em «banhos de povo»... 

Nunca se viu tanta sobranceria face ao povo, tanta servilidade face aos poderes estrangeiros, tanta gula, tanta corrupção, tanta cobardia... 
Mas isto que importa??? Não importa nada! «Portugal»  (na verdade a sua «elite política e económica» ou seja, a casta oligárquica e mafiosa que nos desgoverna) é o  eterno «bom aluno», o eterno colonizado pelos mais «desenvolvidos», agradece humilde e ainda pede por mais...por outro lado, o «bom povo português» continua alheado de tudo, incapaz de compreender devido à lavagem ao cérebro permanente da media corporativa, espalhando incultura total em termos cívicos. 

A situação é mantida em proveito exclusivo da casta parasitária de cavalheiros e damas ... raríssimas!!!!!!!!!!!

SOMOS TOLERANTES? EM QUE SENTIDO?

Quando se invoca a tolerância, não é certo que estejamos todos a falar da mesma coisa; ou que uma equivale à outra.
Detalhando:

1) A tolerância, entendida do ponto de vista do poder, é a atitude daquele que pode sancionar, mas que prefere não agir, porque a conduta a sancionar não põe em causa o seu próprio poder.  
Perante os súbditos, pode capitalizar este «espírito de tolerância», que afinal não é senão uma táctica, pois se as coisas começarem a tornar-se ameaçadoras para o seu poder, então já não hesitará em aplicar a sanção. 

2) A tolerância que consiste em dar o benefício da dúvida aos opositores, mesmo quando estes se opõem às nossas convicções mais profundas. Somos tolerantes, se aceitamos que as nossas convicções por muito legítimas que sejam, não o são mais do que as convicções dos outros. 

Em termos mais profundos, este termo recobre duas concepções muito distantes do mundo e da forma em lidar com ele: 

- No primeiro caso, está-se na órbita do mundo do poder, dos que avaliam tudo e todos em termos de poder, de «estar por cima...»

- No segundo, procura-se a equidade, confia-se no ser humano. Quem adopta tal postura não pretende ser «aquele que sabe»... Pelo contrário, mantém abertura para a perspectiva do(s) outro(s), sem necessitar de deitar pela borda fora a sua própria perspectiva.

domingo, 10 de dezembro de 2017

JERUSALÉM TEM DE SER PROMESSA DE PAZ UNIVERSAL, NÃO DE GUERRAS DE RELIGIÕES OU «RAÇAS»

JERUSALÉM - CONCERTO DE JORDI SAVALL EM 2011 



As três grandes religiões monoteístas, no Ocidente, produziram um caldo de cultura que é, hoje, a Europa, juntamente com a herança grega. Foi essa cultura que se disseminou por toda a bacia mediterrânea, durante séculos. Nem sempre foram relações fáceis, mas esquecemos que - nos intervalos das cruzadas, conquistas e guerras de religião diversas - houve períodos de cruzamento genético, cultural, civilizacional. 
É isso que faz com que  esta zona do Mundo seja tão especial.

O Estatuto de Jerusalém está estabelecido desde 1950, pela ONU, como Cidade Santa, de facto não pertença de um Estado, embora esteja situada no território de Israel-Palestina. É a Jerusalém celeste e terrestre. 

O facto de Israel pretender transferir a sua capital para Jerusalém é visto em TODO o mundo como uma violação ostensiva do frágil equilíbrio e de querer acabar com uma luz de esperança que ainda luzia no olhar das gentes dessa região e da «diáspora» palestiniana. 

A intenção proclamada de transferir a embaixada dos EUA junto de Israel, para Jerusalém e a declaração reconhecendo esta cidade como capital do Estado de Israel, vem contrariar toda a tradição diplomática dos EUA como mediador «neutral» no pós-Segunda Guerra Mundial. 

O que fez o seu presidente, Donald Trump, explica-se segundo Paul Craig Roberts, pela política interna dos EUA. Trump, assediado com casos fabricados contra ele para o controlar, como o «Russiagate» e outros escândalos fabricados, decidiu jogar a carta do apoio incondicional ao Estado de Israel, assim tendo a seu  lado o poderoso lóbi pró-sionista, o qual inclui não apenas a AIPAC (uma poderosa associação de amizade com Israel), como também Igrejas Evangélicas (não todas, apenas uma parte), que sonham com uma unificação da religião Judaica com a Cristã, no fim dos tempos, que - segundo eles - está próximo. São estes lóbis que - nos EUA - decidem da eleição ou não de deputados, senadores e presidentes...

Porém, o problema é simples de enunciar, embora muito complexo na sua resolução:

- Aquando da Declaração Balfour (1917) criou-se uma situação explosiva, pois se sobrepôs uma legitimidade «histórica» a outra, aliás não menos histórica, decorrente dos séculos de ocupação otomana. O Mundo estava um caos, mergulhado na 1ª Guerra Mundial; as pessoas não deram importância ou apenas viram um lado do problema.

- Actualmente, isto resultou (em 1947) num Estado - Israel - cujas leis e princípios constitucionais discriminam com base na religião e na etnia. Isto está em contradição com os princípios proclamados da ONU, da qual este Estado é membro (situação criada pelo Conselho de Segurança da ONU dessa época, que incluia a URSS).

- Os espoliados e sobreviventes dos diversos episódios sangrentos desde a independência de Israel não podem aceitar as promessas não cumpridas. 
São levados a cometer - por vezes - actos de desespero, vendo que a injustiça de que são vítimas não suscita mais do que «lágrimas de crocodilo» dos EUA, dos ex-poderes coloniais na região (França e Inglaterra; veja-se o acordo secreto Sykes-Picot) e das diplomacias mundiais.

- A paz na zona precisa do contributo das três grandes religiões monoteístas, entendidas enquanto diversas formas de prestar culto a Deus. 
Estas têm de ser a inspiração dos poderes seculares, evitando a exaltação de «razões» religiosas, étnicas, históricas, ou outras, para continuar a manter reféns, numa guerra sem fim, tanto os povos de Israel-Palestina, como de todo o Médio Oriente. 

Só quando houver uma paz verdadeira e justa em Jerusalém, o resto do Mundo poderá ter também condições para viver em paz.