O mundo-caracol (ou o mundo-concha) é aquela construção que emana de nós, que construímos camada após camada, sempre em espirais cada vez maiores, para nos defendermos, ocultarmos, explorando em segurança o nosso entorno.
O mundo-caracol é autocentrado, é egocêntrico; não é sempre e necessariamente egoísta.
Para torná-lo hermético, será possível fabricar um opérculo, uma pequena porta fechada, como os caracóis fazem quando vão estivar (o mesmo que hibernar mas no Estio, a estação da seca).
Digo isto, porque opérculos fechados, é o que mais vemos por aí. Fala-se de epidemia de autismo. Eu falaria antes de epidemia de pequenos mundos auto-centrados, com pessoas completamente dobradas sobre si próprias, como o feto no útero.
Não me parece mal que se esteja auto-centrado, que se assuma o seu subjectivismo; mas todas as coisas têm sua medida.
O caracol - propriamente dito - tem natural curiosidade e necessidade de explorar o mundo. Arrasta consigo a carapaça que o protege. Pode retirar-se instantaneamente para dentro dela, tornando-se inexpugnável, pelo menos para predadores de dimensão não muito diferente dele.
Estes caracóis naturais são saudáveis, porque optimizaram duas condições essenciais da sua sobrevivência: exploração do meio e defesa contra predadores.
As pessoas que se posicionam sempre como os caracóis em período de seca, que constantemente se fecham, podem não ter consciência disso, como nós não temos consciência de que estamos mergulhados na atmosfera. Porém, o seu auto-centramento extremo significa que não estarão capazes de uma abertura ao exterior, equilibrada e saudável.
Para satisfazer a necessidade de protecção, totalmente natural e legítima, que todos os seres vivos possuem, o que se pode então fazer?
- Ela deve ser encontrada na sociedade, na comunidade com os outros, com a família, com os colegas, com os amigos.
Sem uma teia de relacionamento social, que nos sustenta do ponto de vista emocional e mesmo material, todo o indivíduo tende a ser como o caracol no Estio: fechado hermeticamente sobre si próprio em posição fetal, sem interacção com o entorno.