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sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

E ASSIM A OLIGARQUIA VENCEU POR «KO» A DEMOCRACIA

                     
A crise de 2007-2008 foi apenas o borbulhar de uma acumulação de capital fictício, de capital levantado a partir de operações com derivados, os tais produtos financeiros (contratos de futuros, etc) transpostos,  ou copiados dos mercados de matérias-primas (principalmente agrícolas, para assegurar um rendimento das colheitas, etc.). Afinal, foi a financiarização que permitiu que hipotecas «sub-prime» se vendessem «por atacado», nos diversos mercados mundiais, como se fossem investimentos seguros...

A resposta ao colapso, consistiu em injectar somas colossais nos bancos ditos sistémicos, para evitar que a queda do Lehman Brothers viesse a arrastar consigo a queda dos outros bancos e instituições financeiras. Foi uma medida de emergência, que o governo dos EUA e a FED decidiram no momento. Mas essa emergência foi prolongada por sucessivas compras de «activos tóxicos» aos ditos bancos, pela FED. Logo as economias mais desenvolvidas e respectivos bancos centrais - Banco central do  Japão, o ECB, o Bank of England, etc... - faziam o mesmo. A massa monetária foi-se multiplicando, sem que houvesse a recuperação económica vigorosa, como era desejada.

No intervalo de tempo de 2009 a 2018, os grandes grupos financeiros, os fundos de investimento, etc... foram comprando os activos financeiros - acções, obrigações, derivados - nos mercados, a tal ponto que a inflação nestes produtos se tornou muito notória: Por exemplo, subiam cotações bolsistas de empresas que não tinham lucro e estavam com uma montanha de dívidas. Os juros das obrigações soberanas de Portugal atingiram valores de mercado baixíssimos, semelhantes às dos EUA, depois de terem estado com juros acima dos 10% em 2012 - 2013, numa severa crise da dívida soberana. Esta fora causada por sobre-endividamento por parte do governo e seguida por especulação contra estes títulos da dívida. Mas o ECB passou a comprar a dívida de todos os países do euro, enchendo assim a sua folha de activos; os juros, tanto mais baixos quanto mais as cotações sobem nas obrigações, foram descendo. O efeito perverso, é que em países com desequilíbrio crónico da balança de pagamentos, pouco ou nenhum esforço se fez para equilibrar as suas contas.

Em Dezembro de 2018, as bolsas sofreram um «crach», completamente inesperado para muitos investidores. A razão deste foi a política da FED, de «re-normalizar» os juros, levada a cabo com subidas muito graduais, ao longo do ano anterior e outras anunciadas. Perante este crach, a FED teve logo de anunciar uma inversão da política. A partir deste ponto, era claro que o sistema financeiro e os bancos centrais que - de certo modo - tentavam regulá-lo, estavam metidos num ciclo infernal: 

- Se parassem a injecção permanente de dinheiro e deixassem de manter o custo dos empréstimos (os juros) em valores baixíssimos, desencadeavam uma crise financeira, que se poderia avolumar e transformar em depressão económica;

- Se continuassem com esta política de oferecer «dinheiro gratuito» aos grandes actores financeiros, estavam a desbaratar a confiança nas divisas fiat (dólar, euro, etc) e corriam o risco de que a inflação saísse do universo dos activos financeiros, para os produtos de consumo e se tornasse hiper-inflação.  Diga-se que os governos quase sempre preferem inflacionar a divisa, a fazer «default». Em ambos os casos falham as suas obrigações de pagamento, mas no primeiro caso não têm de o confessar. 

Assim se chega a Setembro de 2019, em que os bancos, nos EUA, começam a não emprestar uns aos outros, tal como aconteceu no desencadear da crise de 2008, nas operações de empréstimo de curta duração. O facto de não emprestarem facilmente traduziu-se na subida dos juros, que passaram para mais de 10%, quando o normal era da ordem de 2-3 % . A FED teve de injectar neste mercado «REPO» somas de biliões semanalmente. Esta intervenção foi anunciada como de curto prazo, um mês ou dois. Mas, apesar de haver dito que este expediente seria de curta duração, a FED continuou até ao fim do ano e para além deste, a injectar somas colossais, o que fez muitos observadores considerar que a FED estava discretamente a intensificar o «quantative easing» (impressão monetária, na realidade). 

Veio a crise dita do COVID, no primeiro trimestre de 2020. Antes disso, o grande capital mais por dentro das realidades financeiras, começou a vender activos, principalmente acções cotadas e aumentando os activos de baixo risco, como obrigações do Tesouro (treasuries), imobiliário, metais  (ouro e prata)... Nas bolsas, o que desencadeou pânico em Março, foi o facto de a FED não conseguir obter uma significativa baixa dos juros, apesar de ter injectado uma quantia elevada no mercado. Teve de voltar à carga poucos dias depois para conseguir estabilizar, um pouco, os mercados obrigacionistas. 

De então para cá, o sistema está em roda livre, pois os bancos centrais, em uníssono, puseram-se a verter grandes quantidades de divisas, sem qualquer suporte na economia real, criando ou ampliando bolhas para todos os activos financeiros existentes. Um mercado não financeiro, o imobiliário, continuará durante algum tempo artificialmente cotado, mas sua descida será muito rápida. Aliás, já começou: o sector comercial e o sector dos apartamentos de luxo estão ambos em colapso ou, pelo menos, estão paralisados. Quanto aos mercados do ouro e da prata, valores refúgio com especial apelo nos países da Ásia (China, Índia, etc.), têm subido acentuadamente (crescimento do preço do ouro de 25% num ano, quando cotado em dólares), apesar dos esquemas de supressão, envolvendo contratos de futuros - emitidos fraudulentamente mas impunemente - por grandes bancos, que agem por conta dos governos e bancos centrais ocidentais. 

Se, tudo o que os bancos centrais e governos encontram como «solução» mágica, são as divisas digitais centralmente emitidas, ou seja, uma digitalização total e forçada do dinheiro em circulação, nada de essencial será resolvido. A desconfiança do público não vai dissipar-se: muitas pessoas vão constatar que sua situação objectiva continua a piorar. Apenas os bancos serão beneficiários da captura e retenção de pequenas somas nos seus cofres, quando o público já não puder transaccionar em papel-moeda.

No entretanto, as pequenas e médias empresas de todo o mundo ocidental estão em grave risco. A crise de desemprego vai ser enorme, pois elas empregam cerca de 70% da força de trabalho por conta de outrem, em Portugal e noutros países europeus (os outros 30% são funcionários públicos e de grandes empresas).

Não haverá possibilidade de reabsorver esta massa enorme de trabalhadores. Por isso mesmo, a «elite» (oligarquia) tem apontado como «solução» o rendimento mínimo incondicional (RMI), ou seja, as pessoas, quer tenham ou não emprego, receberão uma soma - por ex.: 500 € - a qual lhes permitiria suprir as necessidades básicas. Mesmo antes que venha uma crise de hiperinflação, uma inflação mais elevada é suficiente para tornar essa «esmola social» completamente insuficiente para sustentar as pessoas. 

A classe dos ricos não tem nenhuma intenção de se desapossar dos seus excedentes. Ela está a congeminar a «solução» seguinte, apresentada por Klaus Schwab e os oligarcas que se reúnem no Fórum Económico Mundial de Davos (este ano tendo sido deslocado e adiado, para Singapura, em Junho...): 

- A sociedade de «participantes» ou «stakeholder society» mais não é do que uma espécie de feudalismo, adaptado ao século XXI. O grosso das pessoas não poderá senão alugar, não serão proprietárias de nada... Não serão proprietárias da sua habitação, apenas inquilinas, terão de arrendar veículos, instrumentos de trabalho, etc. Terão de constituir micro-empresas, onde trabalharão e farão trabalhar seus familiares, por vezes, com rendimento demasiado baixo, que o rendimento mínimo iria suprir.    

Mas, este «sonho molhado» da oligarquia que nos explora, só pode ser eficaz se houver colaboração activa dos agentes do Estado, os governos, as polícias, os tribunais, etc. Não se verá -pós-pandemia de COVID - um renovo da liberdade, nem da participação cidadã na vida política: pelo contrário, haverá sempre algum «vírus», ou «terrorista» para «justificar» estados de excepção, que se tornarão a norma, enquanto as constituições serão mantidas... isto é, mantidas penduradas nas paredes, para decoração!

O que é confrangedor observar é a entusiástica adesão a aspectos parciais deste plano macabro, plano esse que é completamente público, uma «conspiração a céu aberto», por parte de grupos tradicionalmente defensores dos direitos dos cidadãos, como os partidos de esquerda, os sindicatos, os intelectuais, os universitários, os artistas, os jornalistas... 

- Num primeiro momento, ficaram siderados com a resposta, vinda de cima, dos governos, à pandemia. Depois, ficaram tomados de psicose de pânico alguns; outros, perceberam confusamente que tinham dado o aval à maior tomada de poder deste século, ao maior golpe contra a liberdade. Mas não tinham receio em relação ao seu nível de vida pessoal, em relação às suas pessoas físicas e dos seus familiares, desde que ficassem quietinhos ...E assim, a oligarquia venceu por «KO» a democracia. 

Os que estão suficientemente longe do poder para compreender a gravidade do que se passa, estão a reagir, mas são demasiado destituídos de meios, face a cartéis bem organizados, instituídos e financiados. Muitas pessoas irão acordar, para o tarde, numa altura em que será difícil fazer algo, sem correr sérios riscos.


PS1 (08/01/2021): Depois de ter escrito este artigo, veio-me à notícia a estranha circunstância da «invasão» do Capitólio em Washington. 

Segundo a análise de Paul Craig Roberts, o Estado Profundo  tem feito uma luta incessante contra Trump, desde o momento da sua eleição há quatro anos, até agora. Também defende a tese de que o Establishment quer vingar-se de Trump e fazê-lo de um modo tal que este não possa vir a liderar um movimento/partido alternativo/populista. 

A obsessão censória de algumas figuras, querendo perseguir tudo o que seja «trumpista» com um zelo semelhante ao da Inquisição e do McCarthyism, mostram que já não existe laivo de democracia liberal nos EUA: Esta faliu, com os golpes sucessivos e mortíferos, vindos tanto do lado do Partido Republicano, como do Democrata. 

A época que se avizinha, no chamado Ocidente, é sombria...


  

  

terça-feira, 31 de outubro de 2017

A QUESTÃO DO NACIONALISMO E DA «UNIÃO» EUROPEIA

                        
Há algum tempo colocava a questão se existiria um nacionalismo de esquerda. Respondi que sim, que era evidente, pelos exemplos históricos diversos. 
Agora temos um caso especial com o nacionalismo catalão e o destino incerto de uma República Catalã que foi negada, anulada, mal foi proclamada. 

A questão de fundo prende-se com a direção do movimento nacionalista, seja em que região do mundo for. Vimos isso com as direções dos movimentos de libertação das ex-colónias portuguesas, por exemplo, que assim que tiveram o poder e formaram governo nos seus países recém-chegados à independência tratarem de assegurar o controlo pessoal dos diversos sectores da economia e finalmente, acabarem por distribuir benesses e postos lucrativos a familiares e amigos, assegurando também um pecúlio suficiente para um exílio dourado, algures à beira dum lago suíço.

Na Península Ibérica, desde a Idade Média, as diferenças culturais e étnicas, inegáveis, entre povos da Hispânia ou Ibéria, vão-se repercutir na divisão entre vários reinos, historicamente o terreno onde se desenvolveram as línguas e floresceram as culturas. 
Porém, o nacionalismo surgiu - de facto - como ideologia política somente no século XIX, na sequência da convulsão das guerras napoleónicas, em toda a extensão do continente europeu. Foi a partir dessa época que o nacionalismo se afirmou como uma aliança entre a burguesia e o povo (os camponeses, os artesãos e o proletariado das nascentes indústrias).

A República Espanhola era federal e as diversas regiões, incluindo o País Basco, a Catalunha e a Galiza, tiveram órgãos próprios de governo. 
No franquismo, as reivindicações de autonomia política foram ferozmente reprimidas, enquanto se permitia a afirmação dos particularismos regionais, como expressões da «diversidade» dentro da mãe Espanha. 
O modelo republicano era federalista: tinha na sua génese as reivindicações de poderosas burguesias regionais, que desenvolveram indústrias e comércio, na Catalunha e no País Basco, sem precisar de Madrid, a sede do império. 
Está patente, sob forma de testemunhos de pedra, a ascensão da burguesia industrial em San Sebastián ou em Barcelona. No período que vai da segunda metade do século XIX, ao primeiro quartel do século XX, foram construídos muitos monumentos e prédios burgueses nas artérias mais prestigiosas destas cidades. 
A região Galega também teve o seu impulso, liderado por uma burguesia nacional, mas sob o franquismo e o imediato pós-franquismo, constituindo fortunas colossais, como a dos patrões da «Zara» ou da «Pesca Nova». O nacionalismo galego sonha com um Estado único englobando a Galiza e Portugal. 

O nacionalismo «revolucionário» está em crise, assim como as correntes de extrema esquerda autoritária, principalmente de influência maoista, que as protagonizaram. Embora só possam oferecer um pouco de ópio de ilusões emancipadoras, conservam ainda uma certa áurea nalgumas regiões, em sectores das classes trabalhadoras.

A crise catalã vem confirmar isto, pois o processo é liderado - de facto - por sectores da burguesia, que têm como objetivo a integração da Catalunha no desconcerto das nações da desUnião Europeia. 
A aposta da independência ser apoiada pelos poderes eurocráticos de Bruxelas ainda não foi considerada perdida por vários sectores pró-independência da Catalunha. 
Mas pessoalmente, eu acho que está mais que provado que os poderes de Bruxelas e da grande maioria dos Estados e Governos que compõem a manta de retalhos chamada Europa «unida», nada temem mais do que um simultâneo rebentar de crises nacionalistas nos seus respetivos Estados. Note-se que estes são quase todos multi-étnicos, como é lógico que o sejam, numa História de tantos séculos, com guerras, invasões e tratados de paz que redesenharam fronteiras nacionais, etc. 
O enfraquecimento do poderio da UE, pode ser interessante no curto prazo para os EUA, pois estes estão interessados em que seus aliados e parceiros sejam fracos, que precisem da ajuda e proteção do Império. É melhor - para o dólar - que sejam o euro e a zona euro a sofrer o maior impacto, na vindoura crise económica e financeira . No entanto, o imperialismo dos EUA precisa do imperialismo subordinado da UE; não quererá que esta UE rebente. 
Por outras palavras, sem dúvida que uma crise generalizada de nacionalismos seria o epitáfio do Euro e mesmo da UE. 
O declínio é inevitável, com ou sem crises nacionalistas. Veria afinal, estas crises, mais como consequências, do que como causas. Num contexto de abundância, de enriquecimento, os movimentos independentistas dificilmente terão adesão maioritária. Mas, agora na UE, existem zonas (regiões dentro de Estados) profundamente sinistradas, enquanto outras, não só não sofrem com isso, como estão a beneficiar. Tal é o panorama do após crise de 2008, no espaço da UE.

O apogeu da UE já ocorreu (pouco tempo após o tratado de Maastricht de 1992, na minha opinião). De então para cá, tem havido sucessivas crises e redefinições, que apenas têm acentuado a vertente centralista, deitando pela borda fora quaisquer aspetos federalistas sinceros que pudessem estar presentes nas visões de alguns «europeístas». A UE, na sua configuração geográfica, política e institucional, encarna um centralismo extremo: a concentração do poder em pouquíssimas mãos, à custa da liberdade e da democracia, como nos sonhos imperiais de Carlos Magno, Napoleão e mesmo de Hitler.  

O paradoxo é que, tanto os independentistas da Escócia, como os da Catalunha tenham como objetivo acolherem-se debaixo da «azinha» do Império com sede em Bruxelas. Esta UE sempre foi do agrado das grandes corporações  e da casta militar de alta patente, eles próprios vassalos do Império dos EUA. 

Aliás, hoje em dia está mais que provado, com inúmeros documentos, que a UE foi uma construção querida, acarinhada e desenvolvida pelos americanos e que as fantasias de que a UE pudesse, um dia, ser uma potência rival dos EUA, não passaram de um estratagema para embarcar nacionalistas e anti-imperialistas ingénuos. 
A crise dos nacionalismos situa-se, oxalá, no capítulo final da desagregação deste projeto megalómano e autoritário da UE. 
Que esta arquitetura de super-Estado, supra-nacional e dominador dos povos seja desmontado... e quanto mais depressa, melhor. Os povos não têm nada a ganhar com a sua perpetuação. 
A democracia só pode beneficiar com o desmantelamento desta capa de burocracia e de leis feitas à revelia dos povos e em contradição com as legislações nacionais. 
A UE, desde o princípio, foi a união dos cartéis das grandes indústrias. Tinha de se revestir da «etiqueta» da democracia e da fraternidade entre os povos, para fazer passar seu projecto, como sendo desígnio de todos, de todas as classes, em que todos seriam beneficiários. 

A crise económica, política e institucional na Europa, tem mostrado os aspectos menos reluzentes da ditadura da burguesia. 
Nada, na crise catalã, deveria surpreender as pessoas que compreendem a verdadeira natureza da UE e dos seus Estados membros.   

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

NOTAS SOBRE «QUANTITATIVE EASING» DO BCE

                                            

Acima, uma nota de cem biliões de dólares do Zimbabué. 
Na realidade, embora esteja lá escrito «one hundred trillion», nas línguas latinas, os nomes que se dá aos números são diferentes das anglossaxónicas. 
A partir dos nove zeros, os anglo falantes usam o «billion» (por influência norte-americana, os brasileiros adotaram também esta convenção), enquanto os europeus continentais dizem «um milhar de milhões». 
Quanto ao poder aquisitivo desta nota: parece que, nos mercados deste país, ainda se pode comprar um par de ovos com ela!
                                           
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Principais riscos e consequências do «Quantitative Easing» 
do Banco Central Europeu são:

. A distorção dos mercados de dívida
Não é somente a dívida soberana (obrigações do tesouro, etc.) dos diversos países que está cotada de maneira artificial, é todo o mercado. Há uma distorção de toda a estrutura dos juros, do preço do dinheiro. No capitalismo, esta distorção tem efeitos gravosos, porque leva a investimentos mal direccionados, a estimativas de rentabilidade de negócios fora da realidade, etc…

. A impossibilidade dos PIIGS se livrarem da dívida.
Se a taxa de juro para pedir novos empréstimos for muito baixa, não haverá governo que resista a continuar a gastar mais do que o seu respectivo país produz, pela simples razão de que, se fizesse o contrário (ou seja, uma verdadeira contenção orçamental), perderia o poder, nas próximas eleições (ou mais cedo!). Continuará a haver endividamento destes países, com reestruturações das respectivas dívidas, mais cedo ou mais tarde.

. A hiperinflação

                       

A moeda única significa que o sistema é tão forte, quanto o seu elo mais fraco. Se um país do Euro entrar em espiral inflacionária, os restantes sofrerão logo o contágio; não haverá possibilidade de evitar que a desconfiança se repercuta sobre todo o espaço do Euro, em conjunto. 
O BCE aponta uma meta de 2% de inflação, na zona Euro. Esta meta é irrealizável, a não ser através de manipulações das estatísticas. Há uma inflação escondida, muito mais elevada, que se exprime nos aumentos do imobiliário, da bolsa e noutros mercados (arte, metais preciosos, etc.). 
Nenhum governo jamais conseguiu manter a inflação a um nível determinado. Simplesmente, é um fenómeno que escapa aos mecanismos de moderação que governos e bancos centrais possuam. A inflação vai acelerando, até se tornar hiper-inflação. Os políticos optam, mesmo assim, por inflacionar, porque o público não compreende o fenómeno e não os identificará como sendo os seus causadores. 

. O marasmo económico
O BCE está na origem das bolhas especulativas no imobiliário e nas bolsas. Criou um clima de euforia artificial, em que os investidores são atraídos a fazer investimentos com risco, porque «têm as costas quentes», com as compras sistemáticas do BCE. Com efeito, estas compras, baixando artificialmente o custo do crédito, são responsáveis pela subida das bolsas e de todos os ativos financeiros. Por contraste, nos diversos países, a economia real (de bens e serviços) não recuperou sequer os níveis anteriores à crise de 2007/2008. 
Ao tornar tão apetitoso - para os especuladores - jogar nos mercados de ações, de obrigações e de produtos derivados, o BCE está a provocar uma enorme drenagem de capitais financeiros, desviados do investimento na economia real, para a economia de casino. O marasmo económico actual, com o seu cortejo de sofrimento social, elevado desemprego, emigração, etc. deriva, em grande parte, dessa drenagem de capitais.

. O Banco Central Europeu fica afogado em papel
Ao comprar ativos financeiros num mercado totalmente artificial, o BCE (ECB) sabe que não tem hipótese de se ver livre, algum dia, destes mesmos ativos. No mercado, logo que acabe o programa de compra de 60 biliões mensais de activos pelo BCE,  estes mesmos ativos passarão a valer quase nada, ou uma pequena fracção do valor de sua compra aos bancos. 
Afogado em papel invendável e sem valor, o ECB não poderá esperar que o Euro seja fortalecido, internacionalmente.

. A desvalorização face a metais preciosos, dólar e criptomoedas
Tal como em 2010/2011 - quando estalou a crise das dívidas soberanas da Irlanda, Grécia, Portugal e Itália -  na próxima crise, os capitais irão refugiar-se nos metais preciosos, no dólar (nas obrigações do tesouro americano) e agora também nas cripto-moedas. Mas a dívida actual acumulada na Eurolândia é ainda maior do que em 2011. Os juros das obrigações soberanas denominadas em Euros irão subir e o valor do Euro, face às outras divisas, irá descer acentuadamente.

.A ampliação dos efeitos de uma crise económica 
Ao nível internacional, a sobrevalorização das cotações bolsistas, das obrigações e de toda a espécie de activos financeiros, atingiu uma dimensão assustadora. 
Muitos especialistas consideram que uma crise de grandes dimensões virá, certamente. Nem o BCE, nem os estados-membros, estão preparados para tal crise: erradamente, estimam que poderão «diluir» seus efeitos. 
Mas esta diluição chama-se, na realidade, «criação monetária»: 
- A criação monetária tem um limite, o da perda de confiança total numa divisa, e que se traduz pelo disparar incontrolável da inflação! 

quinta-feira, 23 de março de 2023

OS MUITO RICOS SABIAM -DE ANTEMÃO - DESTA CRISE



No rescaldo dos últimos acontecimentos desastrosos, podemos ver a FED continuando teimosamente a subir a taxa de juro diretora (de 0.25%).
Eles fazem-no, sabendo bem que na raiz do colapso de uma série de bancos de média dimensão (pelo menos, 4 bancos, só nos EUA) estava realmente a subida faseada a intervalos muito curtos, das taxas de juros, com a consequente descida do valor das obrigações do Tesouro, portanto fazendo com que o principal ativo de reserva destes bancos (e de quase todos os outros, inclusive noutros países) ficaria reduzido. Nalguns casos, foi o suficiente para eles ficarem em défice de cobertura e sem hipótese de obterem um reforço de reservas.
Não houve bailout para estes bancos. Muitos depositantes devem ter ficado a perder o dinheiro dos seus depósitos, nomeadamente, pequenas e médias empresas que possuíssem mais de 250.000 dólares depositados, o que não é muito, visto que uma empresa tem de pagar salários e fornecedores. Quanto ao despoletar da crise, note-se que esses bancos não fizeram nada de ilegal, nem sequer de incorreto face às regras bancárias.
Pelo contrário, na crise de 2008, muitos dos bancos e entidades (Bear Sterns, Lehman Brothers, AIG) que se afundaram e outras, que foram salvas pelo Governo dos EUA, tinham-se envolvido em empréstimos fraudulentos para a habitação e na venda de pacotes desses empréstimos, até para além dos EUA.

Agora foi a vez do Crédit Suisse, um banco há anos considerado dos mais fortes mundialmente. Houve uma clara intervenção estatal, que levou a um bail-in (ou seja, um resgate interno, à custa dos depositantes do banco) disfarçado. Os detentores de obrigações viram, de um momento para o outro, as suas obrigações do Crédit Suisse, que valiam (no total) 17 mil milhões de Francos Suíços na última cotação, serem levadas a zero: Não por ação dos mercados, mas porque era uma das condições impostas pela UBS para aceitar realizar a compra da sua ex-rival. Há base para uma ação contra o Estado, pois na ordem de prioridades de uma falência, os detentores de ações só devem ser indemnizados depois dos detentores de obrigações. Ora, a UBS «comprou» o Crédit Suisse, por uns meros 3 mil milhões de Francos Suíços, que terão servido para indemnizar os possuidores de ações. Os possuidores de obrigações ficaram sem nada.

Não existe paralelo histórico para esta crise bancária, que se alastra como mancha de óleo, em países do «coração» do capitalismo. Estamos ainda muito longe do seu final. Uma coisa é certa; os banqueiros centrais e os governos são impotentes para travar a crise em curso, são quadriliões de dólares de ativos em «papéis dos mais diversos tipos». Destes, os mais problemáticos são os derivados, cuja avaliação é difícil de se fazer: As operações de compra e venda fazem-se fora do balanço das instituições bancárias («over the counter», por cima do balcão, é a expressão consagrada).

O sistema não pode estar seguro, porque o capitalismo financeirizado se baseia em esquemas de Ponzi, quer sejam promovidos por empresas, bancos, «hedge funds», ou pelo próprio Estado, como na gestão das pensões.

Podemos ter a certeza de que os grandes capitalistas souberam transformar muitos dos seus ativos financeiros (ações, obrigações, contas a prazo, derivados...) em propriedade não-financeira:
- terras agrícolas: uma aquisição maciça de terras agrícolas por Bill Gates, fez dele o maior detentor individual de terras nos EUA.
- imobiliário: apesar de muito sujeito a especulação, é algo «sólido», seu valor nunca pode reverter  para zero.
- metais preciosos: o ouro, comprado nas praças do Ocidente excede em muito, as quantidades adquiridas pelos bancos centrais ocidentais, pelo que uma porção desse ouro deve estar em mãos privadas.
- obras de arte: verifica-se uma nítida inflação do mercado da arte, em especial, nos segmentos de topo do mercado, obras arrematadas em leilão por milhões. Elas são guardadas em cofres-fortes, durante anos, para depois serem vendidas com imenso lucro.

Quem vai sofrer são as pessoas comuns, cujo rendimento (salário, pensão ...) nunca é atualizado de acordo com a taxa de inflação. Ou seja, a imensa maioria fica realmente mais pobre. Os muito ricos não se importam, até gostam, pois um pobre sujeita-se a trabalhar em condições de grande precariedade, de forma desregulamentada, não se atrevendo nunca a reivindicar.

Há quem diga que muito do que se passa, ao nível dos mercados financeiros e dos principais bancos centrais ocidentais, é orquestrado, no sentido de que a população, castigada por tanta miséria, vai ter que «engolir» a mentira do dinheiro digital de bancos centrais (CBDC), como «panaceia» para a crise. A vantagem do dinheiro digitalizado a 100%, é que os poderosos poderão dirigir as nossas compras de bens e serviços, de acordo com aquilo que eles consideram ser «bom para a economia». Também torna impossível a verdadeira dissidência, pois os poderes podem, com toda a facilidade, «cancelar» a conta dos que eles consideram estar a incorrer no «crime de dissidência» e estes ficam sem meios de subsistência. Os poderes ocidentais, nisso, copiam o regime chinês, embora façam sempre propaganda contra a China.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

TUDO A POSTOS PARA UM COLAPSO DA ECONOMIA MUNDIAL

Como tenho apontado repetidas vezes (ver aqui, aqui e aqui), aquilo que nos é vendido pela media corporativa, reproduzindo acriticamente o discurso dos governos e bancos centrais e os factos da economia real, que é ressentida pelas famílias e pelas empresas, estão em total dissociação.

Porém, não se pode atribuir facilmente o ponto de início para a presente crise, pois – se examinarmos com atenção os dados – vemos que não houve verdadeira recuperação da crise de 2008. Diria que se trata do prolongamento de uma doença terminal, passando de uma situação aguda, para uma situação crónica.

Os empregos não retomaram os níveis de 2007, os salários médios são muito mais baixos: há uma descida em termos absolutos devido a muitas pessoas serem empregadas em trabalhos temporários, sazonais ou a tempo parcial. 

Os volumes de endividamento das famílias não diminuíram e portanto estas ficam mais expostas - que em 2008 - a serem atiradas para a pobreza.

Quanto aos Estados, eles têm vindo a endividar-se cada vez mais, o que só tem sido possível apenas pela conjuntura de juros excepcionalmente baixos (artificialmente criada pelos bancos centrais), mas isto poderá mudar bruscamente. Eles não conseguirão obter empréstimos, senão a um juro bem maior.

Os valores das cotações bolsistas são – em si mesmo – uma «aldeia Potemkin» visto que a bolha é nutrida pela auto compra de acções das empresas, pela compra discreta de biliões por parte dos bancos centrais de vários países ocidentais e pela repressão sobre os juros dos depósitos bancários, forçando a investir nos mercados com maior risco…

Muitas empresas, sobretudo as que dependem da capacidade do público em gastar dinheiro, como o comércio de retalho, estão a sofrer dificuldades. Muitos centros comerciais estão com um número elevado de lojas vazias, mesmo centros comerciais situados nos bairros «chiques», para não falar dos que estão nas periferias urbanas (nas cidades dormitório das classes laboriosas), que apresentam um aspecto confrangedor.

Aquilo que não nos dizem os governantes e os media é que os «instrumentos» utilizados para supostamente monitorizar e  «regular» a economia, não são senão pseudo instrumentos, como é o caso do PIB, o qual serve sobretudo para fazerem política (pró ou anti-  governo) dando um ar de «cientificidade».

 O PIB é um mau instrumento e -sobretudo - não é compreendido como aquilo que ele é: mede as transacções que se efectuaram dentro de um mercado nacional, num ano. Não diz nada sobre a qualidade das mesmas, além de que vai reflectir mecanicamente o aspecto demográfico: 
- num país em rápido crescimento demográfico, o PIB pode dar a ilusão de uma economia «a crescer»; 
- num país cuja população está em declínio demográfico, a contracção do PIB não significa necessariamente que a economia individual das pessoas tenha piorado.

Muito importante, mas raramente tratado pelos que se arvoram em «comentadores económicos» (compreende-se porquê…), é o afastamento entre as camadas mais pobres e mais ricas da população, no que toca à distribuição de riqueza. Os estudos que se têm debruçado sobre este afastamento são unânimes em considerar que, nestas últimas décadas, o fosso entre muito ricos e pobres vai alargando, na generalidade do «Ocidente». Pelo contrário, a quantidade de pessoas da classe média que passam para a classe pobre tem vindo a aumentar.

Como este sistema não é sustentável, provoca cada vez mais contradições internas e estas tornam-se cada vez mais agudas. Com efeito, a resposta inflacionária voluntarista de criar triliões a partir de nada, supostamente para criar um efeito de «miragem de crescimento» falhou redondamente, maciçamente em todos os recantos onde foi ensaiada, nos EUA, na Europa, no Japão. 
No entanto, os Bancos Centrais dessas regiões apenas se preparam para fazer mais do mesmo, aquando de um súbito agravamento da presente crise. 
Estamos certamente mergulhados numa crise mundial de depressão, em que os índices do PIB não precisam de ser necessariamente negativos, mas que são demasiado fracos para reconstituir a capacidade produtiva passada, destruída pela grande crise de 2008. É exactamente aquilo que se está a verificar.

As pessoas bem informadas, «por dentro dos negócios», já começaram há algum tempo a resguardar-se, saindo discretamente das áreas de investimento onde têm crescido as bolhas especulativas. 
Vejam-se as vendas de acções em grande escala por «hedge funds» por exemplo, ou como os grandes fundos do imobiliário estão a vender parte do seu capital imobiliário às empresas de menor dimensão ou a particulares.

Tudo isto que escrevi acima é conhecido dos grandes bancos e grandes investidores, mas não é patente para o público em geral, mesmo o que acompanha a actualidade económica. 
O resultado é que os primeiros se têm estado a aproveitar das baixas cotações dos metais preciosos (ouro e prata) transitórias, que ocorrem. Salvaguardam agora os lucros realizados nos mercados mais especulativos e esperam obter mais lucros quando estes mercados descerem acentuadamente e os  pequenos investidores, em pânico, forem comprar ouro ou prata, por um preço muito mais elevado .

As pessoas menos atentas, ou que se deixam embalar pelas canções de sereia da media ao serviço do grande capital, verão as suas poupanças subitamente reduzidas a metade ou menos, além de que ficarão impossibilitadas de viver apenas do salário ou da pensão, porque - entretanto - a inflação disparou. 
Basta um instante para que se instale o caos, o pânico, na economia real a partir do colapso nos mercados!

Os bens mais expostos a desvalorização brusca são os financeiros... acções, obrigações, fundos, derivados, depósitos a prazo. 
Os bens que podem conservar ou aumentar o seu valor, no contexto de uma crise, são os bens físicos facilmente transaccionáveis (ouro e prata, antiguidades, ou objectos de colecção), ou património com valor seguro (o imobiliário, susceptível de ser alugado; terrenos agrícolas, a produzir ou com possibilidade de serem produtivos a curto prazo).

 A constatação do perigo iminente não resulta de quaisquer fantasias ideológicas, mas da observação fria dos factos da economia real, por um lado e, por outro, de ver o que os muito ricos têm feito nos últimos tempos.


sábado, 1 de agosto de 2020

Portugal: Colapso Anunciado e Oportunidade de Renovo

The Best European River Cruises for 2019 and 2020 | Jetsetter ...

A partir de agora, a situação económica começa a «apertar» no Ocidente (falo da Europa e América do Norte, principalmente). 
Mas, o Ocidente não é homogéneo do ponto de vista económico e da exposição a situações causadoras de extrema desorganização e do acentuar da pobreza. Existem clivagens muito grandes entre países como, por exemplo, o Norte e o Sul da União Europeia: 
- Com a Alemanha, a Áustria, a Holanda e a Escandinávia, contrastando em desafogo económico e capacidade de suavizar uma situação prolongada de crise, com um Sul, incluindo Grécia, Itália, Espanha e Portugal, todos eles em situação muito mais frágil perante a crise profunda, pois estão muito dependentes do turismo para sobreviverem e não possuem diversificação suficiente para aguentar o embate e o marasmo prolongado no sector, que era o seu principal «ganha-pão».

Mas, também estamos perante a crise interna dos Estados e regimes, visto que a inadequada e autoritária resposta à epidemia de Covid-19 (um problema sanitário real), veio desencadear reflexos de medo e uma contracção da vida nas suas vertentes sociais. 
Isto pode ser conveniente para a oligarquia que governa estes países, no curto prazo. Porém, vão servir-se do mesmo pretexto da pandemia e de mais que duvidosas «segundas e terceiras» ondas, para retomar o controlo de todas as alavancas do poder, sem contestação. O grau de corrupção, na política e nas sociedades em geral, nunca foi tão elevado, com os lançadores de alerta a serem completamente ignorados ou perseguidos e calados. A cidadania, semi-adormecida, está num ponto em que pode ser facilmente manipulada, pelos da maioria governamental, ou pelas oposições.
Mas tudo isto tem, como fenómeno subjacente, o colapso do modelo económico e financeiro que governou o Ocidente.

Este colapso é bem visível nos EUA, país emblemático deste capitalismo. A cidadania nos EUA está completamente fraccionada. Existe um total divórcio em relação a quaisquer valores, que poderiam ser identificadores comuns do povo dos EUA. A coesão existente, é em relação a factores de grupo, nos quais se contam «raça», «religião», «pertença social», «orientação sexual», etc, etc. Não existe futuro para um país assim: irremediavelmente dividido. Ainda é o mais poderoso, em termos militares e ainda detém o privilégio do dólar US ser a maior divisa de reserva ao nível mundial:
- Mas, no plano geo-estratégico está em situação de competição com 2 super-grandes (Rússia e China), que possuem armamento sofisticado e - mesmo - superior em domínios-chave, face a modelos mais antiquados, que equipam as forças armadas dos EUA e seus aliados da NATO. 
- E, no plano monetário, o dólar está sob grande pressão, com uma descida significativa em relação às moedas ocidentais concorrentes, nomeadamente, ao euro. Além disso, o dólar (e todas as divisas) estão constantemente a perder valor, em relação ao ouro e à prata
Isto significa claramente a fuga dos investidores mais lúcidos dos mercados das obrigações e das acções e outros activos financeiros em geral, que se expressam em moedas-papel, ou «fiat». 
Pelo contrário, existe um aumento de procura muito significativo, além dos metais preciosos, no imobiliário em vários países europeus. Tal se deve ao facto de muitas pessoas estarem a converter bens financeiros em bens imobiliários, estes menos sujeitos a volatilidade e, sobretudo, que poderão atravessar esta crise longa, conservando o seu valor, em termos reais, no final.

No meio da «grande reestruturação» («great reset»), na qual nos encontramos, as pessoas dominadas (sem o saberem) por uma media, inteiramente ao serviço dos poderosos, são susceptíveis de fazerem escolhas erradas. Tais erros e ilusões, induzidos pela media mentirosa, ainda irão agravar mais a sua fragilidade, em termos económicos. Muitas das que tinham algum bem-estar económico, irão perder tudo, tal como aconteceu em todas as crises anteriores.  
Mas, a perda de uns, é o ganho de outros. Haverá pessoas e entidades que irão enriquecer, que irão fazer negócios chorudos, capturando bens e negócios por «tuta e meia».
 Estes, estarão em força quando se der a retoma da economia produtiva. Uma vez que o pior da crise tiver passado, que um novo sistema monetário veja a luz do dia, esses capitalistas terão o terreno limpo para seus negócios avançarem nas melhores condições. 
Com efeito, a ausência de concorrência vai permitir situações de controlo ou monopólio do mercado, em sectores de actividade e largas regiões geográficas; isso vai multiplicar as possibilidades de lucro. 
No capitalismo monopolista, que é o do nosso tempo, os que planificam e executam as acções dos grandes grupos financeiros não são uns amadores. Eles próprios, têm formação e contam com apoio de especialistas, em todas as áreas necessárias, que garantem - não apenas os negócios correntes - mas também a prospectiva, a visão estratégica de longo prazo.

Sendo assim, nos tempos mais próximos, depois da onda de falências e de grande contracção da economia, fase que durará, pelo menos, até ao próximo Verão de 2021, vai verificar-se uma grande concentração e reestruturação em todos os sectores-chave:
- concentração da distribuição, estendendo as redes de pequenas lojas mas com «label» de um grande distribuidor. Destruição visível do comércio de proximidade, desaparecimento do pequeno comércio nas zonas habitacionais: a mercearia, a frutaria, a pequena loja de electro-domésticos, a papelaria-tabacaria, etc. 
- concentração da banca, com fusões e aquisições de pequenos bancos por gigantes. Mas também uma diminuição da rede de balcões e/ou a conversão de serviços para 100% on-line, o que fará com que o número de funcionários bancários em contacto directo  com o público diminua ainda mais. 
- A Inteligência Artificial e a robotização vão avançar em todos os domínios, desde a medicina, engenharia, arquitectura, etc.  até às tarefas pouco especializadas, como a colheita de frutas e legumes, até agora assegurada por uma mão-de-obra muito «barata», normalmente imigrante. 

Vai haver uma generalização do desemprego estrutural. Não vai ser possível encaixar nos sectores produtivos, as pessoas agora despedidas, pois haverá muito menos postos de trabalho, além de que a tendência será de substituir humanos pelos robôs, ou por sistemas de IA (Inteligência Artificial). 
Face a esta situação, a opção dos Estados será - provavelmente - de criar um «Rendimento Básico Universal» (RBU), com capacidade de manter as pessoas assistidas no limiar de subsistência, mas ainda assim, sem chegar à indigência. 
O RBU será saudado como «grande progresso social» por alguns desmiolados, mas será a forma prática de manter as pessoas sob controlo, sobretudo jovens, quando não existe possibilidade ou vontade de as canalizar para tarefas produtivas e reprodutíveis.

Porém, existem muitas instâncias em que o trabalho poderá ser aplicado de forma útil e produtiva, com verdadeiro emprego e com verdadeiro salário
Estou a pensar nas enormes tarefas que estão por fazer, nos campos, especialmente no interior deste país, com todo o efeito de arrastamento de indústrias conexas ao renascimento agrícola, baseado em energias renováveis e em conceitos ecológicos. 
Estou a pensar também no apoio domiciliário a muitas pessoas idosas e/ou com deficiência, que não deveriam ser armazenadas em «lares», instituições completamente inadequadas. Veja-se o que aconteceu aquando do surto de Covid-19: pense-se que apenas vimos a ponta do iceberg.  
Na educação, ao contrário da tendência para realizar tudo «on-line», acentuada com a recente epidemia, que confinou as crianças e jovens em casa, tem de se apostar numa diferente e criativa forma de educar. 
Têm de ser criados «centros de educação e excelência tecnológicos» que não sejam os «parentes pobres» do que é, ou era (como há mais de 50 anos!) considerado nobre: as vias que conduzem ao ensino superior. 
Poderia multiplicar exemplos, desde a marinha mercante e portos, à rede ferroviária e a todas as infraestruturas associadas... campos em que haveria trabalhos de estrutura a fazer-se e com grande utilidade para o país.
Porém, este esforço muito necessário é impossível sem a mobilização de energias, de vontades, sem a existência de um projecto nacional. Para que vingue, é preciso realismo, vontade e persistência. São estas as três características morais impossíveis de desenvolver e cultivar no marasmo actual, sonhando uns com utopias caducas, outros com «milagres» de ajudas vindas do exterior, etc. 
Há muitas maneiras de cairmos; para nos levantarmos, só há - basicamente - uma; dobrar as pernas, retesar os músculos, fazer força apoiando-se no chão, exercendo toda a força para cima, o corpo unido no gesto de se erguer, de retomar a vertical. No caso dos povos, é o mesmo! 
Onde está o essencial da questão? 
Na tomada de consciência de que a salvação não virá do exterior, mas de nós próprios, de fazermos o que seja preciso para nos pormos de novo, em pé!  


domingo, 28 de julho de 2019

OLHANDO O MUNDO DA MINHA JANELA (PARTE III)

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Para ver a parte 1 , ir para aqui
Para ver a parte 2, ir para aqui

Sem quaisquer pretensões em profetizar seja o que for, tenho de dizer - com toda a sinceridade - que fico surpreendido com a justeza e precisão das minhas previsões. Por exemplo, nunca duvidei que as divisas em papel (ditas «fiat») iriam sofrer uma erosão, tanto maior quanto o «quantative easing» e os juros zero ou negativos viessem distorcer os mercados, implicando que as pessoas, os negócios, os próprios Estados, já não poderiam - de todo - confiar no valor do dinheiro.
Perante a crise da dívida, o elefante na loja de porcelanas que tudo quebra, as entidades ditas «reguladoras», os bancos centrais, apenas têm duas «balas» para carregar a sua pistola: 
- uma delas, é a impressão ilimitada de divisas e sua distribuição aos bancos comerciais (o «quantitative easing»); ora, esta tendência é retomada após um interregno breve, menos de dois anos, pela FED (Reserva Federal Americana, o banco central, privado, dos EUA) e não tendo verdadeiramente parado, nos casos do ECB (Banco Central Europeu, emissor do Euro) e do BOJ (Banco central do Japão). 
- a outra, é a manutenção dos juros (das obrigações soberanas, isto é emitidas pelos Estados), a níveis que seriam «estimulantes» da economia. 
Embora estes juros não permitam qualquer investimento racional em poupança, por parte dos agentes económicos, visto que, em vários casos, já sejam negativos (os bancos cobram ao fim de um ano, uma quantia, em vez de dar um juro ao depositante), eles são defendidos pelos economistas ao serviço dos poderes, por duas razões: 
- são encorajadores do consumo, visto que muitas compras actualmente são feitas a crédito [argumento válido, em princípio, mas que implicaria que os salários tivessem uma subida moderada e real, pelo menos acompanhando a inflação, ora os salários não sobem, estagnam... em termos reais, o poder de compra das pessoas diminui]
- vão embaratecer a liquidação das dívidas, sobretudo dos Estados e grandes instituições privadas (banca e grandes empresas). Este argumento não é produzido frequentemente na imprensa mainstream, pois é realmente muito desfavorável à imagem dos poderes do dinheiro e dos Estados. É um facto que o pagamento dos compromissos, desde pensões de reforma, até aos empréstimos (as emissões de obrigações do tesouro, a dez, vinte, trinta ou mais anos) fica muito mais fácil, se o quantitativo dos ditos compromissos (o montante em dívida) ficar praticamente idêntico e a inflação tiver diminuído o valor real do dinheiro: com uma inflação de 2% anual, ao fim de 10 anos, uma pensão de reforma que se tenha mantido sem actualização (é exactamente o que acontece, em muitos países)  terá um poder de compra real de menos 20%... Se a inflação real não for de 2%, mas sim muito maior, de 10% (bem mais próximo da realidade, num país como Portugal) ao fim de 10 anos, a mesma pensão valerá cerca de 10 % apenas do valor inicial em termos de poder de compra, ou seja, a partir duma soma aceitável, passa-se para a indigência! 
Torna-se evidente que os bancos centrais e os governos, apenas querem safar-se, o melhor possível, da montanha de dívidas que foram fazendo nestes anos e que acelerou após a grande crise de 2007-2008. 
Como medidas de «combate» à crise, apenas fizeram uso das «duas balas» acima descritas e mesmo estas, usaram-nas somente para favorecer os já muito privilegiados (os 0,01%), que tinham a possibilidade de obter empréstimos tão baratos, quase gratuitos, não para favorecer a economia real, onde intervêm pequenos empresários, trabalhadores e suas famílias. O efeito foi que se formaram enormes bolhas nos mercados financeiros - acções e obrigações - acrescidas da bolha no imobiliário, que teve efeitos devastadores na gentrificação dos centros urbanos em todo o mundo, colocando a aquisição dum andar de preço médio, fora do alcance das famílias da classe média, seja em Londres, Paris, ou Nova York ...
Penso que a «elite» que nos desgoverna não vai evitar a crise que aí vem, a qual será com certeza de uma ordem de magnitude maior que a de 2008: a que rebentou há pouco mais de dez anos tinha como epicentro as hipotecas sobre imobiliário feitas a pessoas que não tinham as condições necessárias para as obterem («sub-prime» quer dizer isso). A crise que se desencadeou quase causou a derrocada do edifício bancário mundial e apenas foi «estancada» com a oferta de 26 triliões de dólares (ou o equivalente, noutras divisas) para que os bancos não ficassem a descoberto. Estas enormes somas não foram reabsorvidas, mas antes reforçadas com o constante fluxo de dinheiro (é isso o «quantitive easing»), dirigido às mesmas entidades bancárias. Entretanto, sabendo estas que «tinham as costas quentes» graças aos bancos centrais, em vez de emprestar aos empresários e às famílias, puseram uma parte destas quantias em reserva nos próprios bancos centrais, com um juro quase nulo, mas sem risco; a parte restante, serviu para jogos de auto-compra de acções nas bolsas, destinadas a fazer subir artificialmente as cotações das próprias acções... o que - por sua vez - ia aumentar os bónus que os administradores desses bancos recebiam!
Face a esta situação, pode-se afirmar que estamos pior, a nível do «Ocidente» pelo menos, relativamente à véspera da falência do Lehman Brothers, em Setembro de 2008. 
A «resposta» das elites do dinheiro e do poder foi a mais medíocre que se possa imaginar. Não admira que estejam somente a adiar o estoiro final dos vários esquemas de Ponzi (*), que eles próprios instauraram.

Entretanto, vão acelerando a corrida aos armamentos, com a estúpida e perigosa fantasia do «keynesanismo militar» uma teoria que aproveita a ideia de Keynes de que o Estado deve entrar em despesa para ajudar a arrancar a economia do marasmo, mas com a variante «militar», trata-se de despesa não-reprodutora de capital e logo dissipadora de riqueza, não criadora. Pois o armamento e despesas conexas, jamais poderão constituir uma base para enriquecimento global: o destino do armamento, ou é ser armazenado (o armazenamento tem custos); caso não seja usado, fica caduco e será preciso mais dinheiro para construir novas armas; ou, se for utilizado, significa destruição de pessoas e bens. Numa economia globalizada, a miséria dos vencidos também acaba por bater à porta dos «vencedores».
Para convencerem os cidadãos dos seus países de que é preciso acelerar a corrida aos armamentos, recorrem ao medo, ao papão da «ameaça» russa ou chinesa. Eles precisam de tornar a ameaça credível; então, inventam mil e uma situações de potencial conflito. Os estados maiores anglo-americanos tornaram-se especialistas em gerar e gerir o atrito em várias frentes: o Irão e estreito de Ormuz, mas também o Mar da China e as fronteiras russo-bálticas. 
Em todos os casos, estão a «brincar com o fogo», pois as provocações podem, num dado momento, ser confundidas com o desencadear duma ofensiva e, por sua vez, suscitarem contra-ataques, ou pode até haver respostas não desejadas pelos comandos superiores, causadas por subordinados demasiado enervados com estas danças e contra-danças. 
A criminalidade da NATO, dos governos dos países que dela fazem parte e de todas as hierarquias de altas patentes militares, é por demais evidente. 
A necessidade de se encarar esta organização como o factor de desestabilização nº1, em todo o mundo, não é exagerada da minha parte. Basta ver o que diz sobre o assunto Paul Craig Roberts, um ex-subsecretário de Ronald Reagan, que  preparou o terreno para o final da Guerra-Fria, por Reagan e Gorbatchov.   
Relativamente a tudo o que ouvimos e lemos nestes dias na media corporativa, aquilo que incide sobre reais questões candentes da actualidade, é muito pouco. A media continua a fazer seu papel ao atulhar os olhos e ouvidos das pessoas com «notícias» irrelevantes, satisfazendo a gula que muitas pessoas têm pelo sórdido, pelo escabroso, pelo indecente...  
As verdadeiras notícias, no melhor dos casos, são servidas descontextualizadas. Só os especialistas as compreendem realmente e colocam-nas no devido contexto. Outras vezes, são distorcidas e apresentadas de modo falsamente objectivo, são «fake news» produzidas pelas grandes organizações de media (CNN, BBC, NYT, The Guardian, Libération, Le Monde ...). Note-se que muitos títulos com passado glorioso, foram capturados pelo «politicamente correcto» e pela narrativa obsessiva, que coloca sempre os «outros» como «Império do Mal», não importando que seja em resultado de análises completamente distorcidas e dando crédito a «fontes» muito dúbias. Eles estão cumprindo o papel de instrumentos de propaganda, que lhes foi destinado, dentro do grande esquema da 3ª Guerra Mundial. 
Esta 3ª Guerra Mundial, já tem anos. Começou com o gigantesco ataque de falsa bandeira às Torres Gémeas e ao Pentágono, no dia 11 de Setembro de 2001. Desde então, não parou - não houve nenhum ano decorrido, sem acções militares desencadeadas pelos EUA sozinhos, ou com aliados seus da NATO. 
Por isso, é que temos a realidade que temos. 

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(*) Esquema de Ponzi: um especulador que inventou uma burla nos anos 1920 para captar incautos; dava juros altos, com os novos capitais que - entretanto- vinham afluindo.