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segunda-feira, 10 de julho de 2017

TUDO A POSTOS PARA UM COLAPSO DA ECONOMIA MUNDIAL

Como tenho apontado repetidas vezes (ver aqui, aqui e aqui), aquilo que nos é vendido pela media corporativa, reproduzindo acriticamente o discurso dos governos e bancos centrais e os factos da economia real, que é ressentida pelas famílias e pelas empresas, estão em total dissociação.

Porém, não se pode atribuir facilmente o ponto de início para a presente crise, pois – se examinarmos com atenção os dados – vemos que não houve verdadeira recuperação da crise de 2008. Diria que se trata do prolongamento de uma doença terminal, passando de uma situação aguda, para uma situação crónica.

Os empregos não retomaram os níveis de 2007, os salários médios são muito mais baixos: há uma descida em termos absolutos devido a muitas pessoas serem empregadas em trabalhos temporários, sazonais ou a tempo parcial. 

Os volumes de endividamento das famílias não diminuíram e portanto estas ficam mais expostas - que em 2008 - a serem atiradas para a pobreza.

Quanto aos Estados, eles têm vindo a endividar-se cada vez mais, o que só tem sido possível apenas pela conjuntura de juros excepcionalmente baixos (artificialmente criada pelos bancos centrais), mas isto poderá mudar bruscamente. Eles não conseguirão obter empréstimos, senão a um juro bem maior.

Os valores das cotações bolsistas são – em si mesmo – uma «aldeia Potemkin» visto que a bolha é nutrida pela auto compra de acções das empresas, pela compra discreta de biliões por parte dos bancos centrais de vários países ocidentais e pela repressão sobre os juros dos depósitos bancários, forçando a investir nos mercados com maior risco…

Muitas empresas, sobretudo as que dependem da capacidade do público em gastar dinheiro, como o comércio de retalho, estão a sofrer dificuldades. Muitos centros comerciais estão com um número elevado de lojas vazias, mesmo centros comerciais situados nos bairros «chiques», para não falar dos que estão nas periferias urbanas (nas cidades dormitório das classes laboriosas), que apresentam um aspecto confrangedor.

Aquilo que não nos dizem os governantes e os media é que os «instrumentos» utilizados para supostamente monitorizar e  «regular» a economia, não são senão pseudo instrumentos, como é o caso do PIB, o qual serve sobretudo para fazerem política (pró ou anti-  governo) dando um ar de «cientificidade».

 O PIB é um mau instrumento e -sobretudo - não é compreendido como aquilo que ele é: mede as transacções que se efectuaram dentro de um mercado nacional, num ano. Não diz nada sobre a qualidade das mesmas, além de que vai reflectir mecanicamente o aspecto demográfico: 
- num país em rápido crescimento demográfico, o PIB pode dar a ilusão de uma economia «a crescer»; 
- num país cuja população está em declínio demográfico, a contracção do PIB não significa necessariamente que a economia individual das pessoas tenha piorado.

Muito importante, mas raramente tratado pelos que se arvoram em «comentadores económicos» (compreende-se porquê…), é o afastamento entre as camadas mais pobres e mais ricas da população, no que toca à distribuição de riqueza. Os estudos que se têm debruçado sobre este afastamento são unânimes em considerar que, nestas últimas décadas, o fosso entre muito ricos e pobres vai alargando, na generalidade do «Ocidente». Pelo contrário, a quantidade de pessoas da classe média que passam para a classe pobre tem vindo a aumentar.

Como este sistema não é sustentável, provoca cada vez mais contradições internas e estas tornam-se cada vez mais agudas. Com efeito, a resposta inflacionária voluntarista de criar triliões a partir de nada, supostamente para criar um efeito de «miragem de crescimento» falhou redondamente, maciçamente em todos os recantos onde foi ensaiada, nos EUA, na Europa, no Japão. 
No entanto, os Bancos Centrais dessas regiões apenas se preparam para fazer mais do mesmo, aquando de um súbito agravamento da presente crise. 
Estamos certamente mergulhados numa crise mundial de depressão, em que os índices do PIB não precisam de ser necessariamente negativos, mas que são demasiado fracos para reconstituir a capacidade produtiva passada, destruída pela grande crise de 2008. É exactamente aquilo que se está a verificar.

As pessoas bem informadas, «por dentro dos negócios», já começaram há algum tempo a resguardar-se, saindo discretamente das áreas de investimento onde têm crescido as bolhas especulativas. 
Vejam-se as vendas de acções em grande escala por «hedge funds» por exemplo, ou como os grandes fundos do imobiliário estão a vender parte do seu capital imobiliário às empresas de menor dimensão ou a particulares.

Tudo isto que escrevi acima é conhecido dos grandes bancos e grandes investidores, mas não é patente para o público em geral, mesmo o que acompanha a actualidade económica. 
O resultado é que os primeiros se têm estado a aproveitar das baixas cotações dos metais preciosos (ouro e prata) transitórias, que ocorrem. Salvaguardam agora os lucros realizados nos mercados mais especulativos e esperam obter mais lucros quando estes mercados descerem acentuadamente e os  pequenos investidores, em pânico, forem comprar ouro ou prata, por um preço muito mais elevado .

As pessoas menos atentas, ou que se deixam embalar pelas canções de sereia da media ao serviço do grande capital, verão as suas poupanças subitamente reduzidas a metade ou menos, além de que ficarão impossibilitadas de viver apenas do salário ou da pensão, porque - entretanto - a inflação disparou. 
Basta um instante para que se instale o caos, o pânico, na economia real a partir do colapso nos mercados!

Os bens mais expostos a desvalorização brusca são os financeiros... acções, obrigações, fundos, derivados, depósitos a prazo. 
Os bens que podem conservar ou aumentar o seu valor, no contexto de uma crise, são os bens físicos facilmente transaccionáveis (ouro e prata, antiguidades, ou objectos de colecção), ou património com valor seguro (o imobiliário, susceptível de ser alugado; terrenos agrícolas, a produzir ou com possibilidade de serem produtivos a curto prazo).

 A constatação do perigo iminente não resulta de quaisquer fantasias ideológicas, mas da observação fria dos factos da economia real, por um lado e, por outro, de ver o que os muito ricos têm feito nos últimos tempos.


quinta-feira, 6 de julho de 2017

O PROBLEMA COM AS ALDEIAS POTEMKIN


Potemkin era primeiro-ministro da Tsarina Catarina da Rússia, que reinou na segunda metade do século XVIII.
 As aldeias Potemkin eram estruturas de madeira, pintadas com cores vistosas, reproduzindo as fachadas de casas, ao longo das estradas que atravessavam aldeias, pelas quais a Tsarina e sua comitiva passavam, de coche ou de trenó. Eram apenas cenários postiços, não deixando ver a miséria das choupanas por detrás, escondendo a realidade da vida nos campos.
A partir desse momento, começou a utilizar-se a expressão «aldeia Potemkin» para designar, num sentido mais ou menos metafórico, quaisquer esquemas mediáticos que pintem de cores risonhas as realidades da sociedade e sobretudo da economia, num determinado país.
Isto vem a propósito da constante degradação em termos económicos reais da situação de vários países ditos do «Ocidente» (nos quais se inclui também o Japão) acompanhada de uma barragem de propaganda pelos diversos media convencionais, a propalar o mito de que existe um «crescimento» económico, de que há significativa diminuição do desemprego, tanto nos EUA como na Europa, que os problemas com a dívida, não são inultrapassáveis, etc. etc.

A realidade, porém, é outra:
- O «Quantitive Easing»(QE), ou seja, a impressão monetária, que os diversos bancos centrais do «campo ocidental» têm realizado, tem estado a distorcer toda a estrutura do crédito: os países mais endividados e com problemas económicos estruturais, graças à compra sistemática da sua dívida pelos bancos centrais (nomeadamente, os países do sul da Europa, cujas emissões de dívida são compradas em larga escala pelo ECB) beneficiam de um juro baixo, irrealmente baixo.
- Os países mais fortes emitem obrigações com taxa de juro NEGATIVAS (cerca de 30% DO MERCADO EUROPEU), coisa nunca vista: emprestar dinheiro e pagar à entidade devedora…e não ao contrário!
- A compra discreta de acções, é efectuada pelos bancos centrais (os maiores compradores são o Japão e a Suíça). Esta importante e constante compra pelos bancos centrais de acções, que antes apenas eram transaccionadas entre privados, mantém e aumenta a enorme bolha especulativa nas principais bolsas mundiais. O maior accionista da «Facebook» … é o Banco Nacional Suíço!
- As companhias de seguros, os fundos de pensões, os bancos, são - muito justamente -obrigados pelas legislações e por regras internas a possuírem uma dada percentagem dos seus activos em produtos financeiros com baixo risco. Sendo assim e dada a supressão quase total de rendimento nestes activos, têm de arriscar mais e mais nas bolsas e nos mercados de derivados, para manterem a sua rentabilidade global, o que aumenta exponencialmente o seu risco de falência. Ela já se perfila em vários fundos de pensões, do outro lado do Atlântico.
- Os países ocidentais acordaram em 2014, em Brisbane (Austrália), numa série de procedimentos prevendo a «resolução» de bancos endividados, em que as entidades públicas apenas em última instância têm de entrar com o dinheiro dos contribuintes, sendo estabelecido uma hierarquia de credores. Nesta, os depositantes ficam nos últimos lugares, pois são considerados «credores não garantidos». A existir uma crise, ela será mundial e sistémica, vários bancos entrarão em falência, em simultâneo. Os ditos fundos de «garantia» do Estado para nada servirão: não chegam a cobrir 5% do montante total de contas bancárias.
- As estatísticas estão falseadas, como se pode ver muito claramente no caso dos números do desemprego: se subtrair a população com emprego à população total em idade de trabalhar, dos respectivos países, verá que cerca de metade dessa população (50%!) não trabalha. Isto não se deve a uma opção deliberada destas pessoas, na sua imensa maioria: muitas são pessoas que foram despedidas do seu trabalho, não conseguem novo emprego e acabam por desistir de o procurar. O desemprego jovem atinge níveis de rotura social, pondo mesmo em causa a continuidade das gerações (os casais jovens, não tendo estabilidade financeira mínima, não querem ter filhos, o que é lógico).
- Vários índices que poderiam ser úteis para os atores económicos (caso do VIX) não dão o alerta como deveriam, pois há um excesso de confiança nos mercados, nas bolsas. Pelo contrário, as cotações do ouro e da prata, que são valores-refúgio tradicionais e cuja cotação aumenta quando a situação financeira é menos boa, são suprimidos por agentes dos bancos centrais através da venda em vazio (naked-short-selling) de contratos futuros (biliões de dólares de contratos vertidos instantaneamente, nas horas mortas dos mercados), anulando assim a sua potencialidade de «canário na mina» destes metais.



- O nível de endividamento dos Estados (ver quadro acima), das corporações e das famílias é absolutamente ingerível. A única maneira que banqueiros e governos têm de «resolver» esta situação – além de declarar falência, claro! – é atirar os problemas, que se vão avolumando, para as futuras gerações, ao mesmo tempo que vão desvalorizando a sua própria divisa, emitindo tanta quanto for necessário para fazer «rolar» a dívida, para pagar os juros, etc.  Julgam que, com o tempo, a desvaloziração da moeda reduz a quase nada o valor do capital em dívida… Têm conseguido manter a ilusão de normalidade, mas é impossível fazê-lo sempre pois os juros e o próprio capital em dívida se têm vindo a acumular; basta um «cisne negro» para deitar tudo a perder.
- Entretanto, os que vivem dum salário ou pensão de reforma (a imensa maioria) serão castigados pela inflação: salários e pensões têm (nominalmente) ficado constantes nas últimas duas décadas, no melhor dos casos; porém, a inflação verdadeira, não os valores fictícios dos governos, ronda os 10% nos EUA e na Europa.
- Os contrastes entre ricos e pobres não param de crescer, em especial nos países mais afluentes, o que prova a total falência do modelo económico e social do liberalismo, para o qual não haveria nenhuma alternativa (dizem) dum qualquer tipo de socialismo ou social-democracia.
- Mesmo as propostas menos arrojadas são imediatamente sabotadas, difamadas, o que torna ainda mais prováveis as insurrecções: os governos sabem-no bem, pois têm equipado as polícias de choque, como se se tratasse de verdadeiros exércitos e paulatinamente decretam legislação liberticida,  eliminando todas as garantias de defesa dos cidadãos contra o arbítrio do poder.  

- Tudo o que a casta política - ajudada pela media prostituta - tem feito perante o agravar da crise terminal do capitalismo é erguer novas «aldeias Potemkin» ou, nas já existentes, reforçar os cenários de tela e repintá-los com cores mais vistosas, para que a plebe não-consciente,  alienada e conformada…    permaneça na escravidão.


O problema com as «aldeias Potemkin» é que, ao menor choque, se abrem buracos nas telas de cartão prensado, deixando ver a paisagem verdadeira. 
Aliás, de pouco serve remendar tais buracos: uma rabanada de vento mais forte acaba sempre por derrubar o cenário todo!