sexta-feira, 19 de junho de 2020

A HISTÓRIA RIMA OU ECOA?

                                 Mark Esper opposes the use of Insurrection Act


Diz-se da História, que não se repete, mas que rima. Mais do que rimar, parece-me que ecoa.

São ecos de um passado histórico, que se desenvolveu em determinadas circunstâncias e são estas que não se repetem. Não existem já as circunstâncias que originaram um determinado complexo de factos, que vieram a desencadear tal ou tal acontecimento histórico. 

Mas a história é feita por homens e mulheres, por seres de paixões, de razão e sentimento: as suas tomadas de decisão, abertas ou ocultas, têm uma lógica, mas não será uma lógica causal linear - as mais das vezes - será um enovelado de causas, difícil de destrinçar.

Tudo isto para dizer que a presente situação mundial se parece com certas outras épocas: podemos encontrar «ecos» desta, em várias situações da história do século XX. 

No contexto de crise profunda actual, vem-nos à memória aquilo que sabemos da grande depressão de 29-33 e das suas funestas consequências. Muitos pensadores consideram que existe uma ligação forte do presente, com certos aspectos daquela época. 

- Em 1929, a fase aguda iniciou-se com um «crash» na bolsa, depois disso houve uma falsa retoma. Seguiu-se uma crise de falências, com deflação, paralisia do tecido produtivo e do comércio, um retraimento do investimento, desemprego massivo. 

- Em 2020, houve uma enorme quebra das bolsas em Março, seguida por uma falsa subida em Junho.

- A «resposta» política de então foi, por um lado, a subida do nazismo ao poder, a Alemanha de Hitler e, por outro, o «New Deal» nos EUA, com Roosevelt, mas, sobretudo, a subida das tensões bélicas, das guerras «limitadas», do reactivar dos nacionalismos e o «balão de ensaio», a tragédia da guerra de Espanha, dita «civil», mas também e sobretudo banco de ensaio para as potências da altura fazerem guerra por procuração e experimentarem os armamentos novos em teatros de guerra reais.

- As oligarquias que dominam hoje, não estarão interessadas em um novo fascismo puro e duro, mas estão empenhadas em esvaziar as democracias liberais de todas as liberdades significativas. Por isso, esmagam as classes médias, um suporte fundamental esta democracia liberal. 
Estão a pensar num novo «New Deal», mas onde uma pequeníssima classe dos mais afortunados continuará usufruindo dos privilégios do poder. 
As tensões e guerras por procuração -nos dias de hoje -entre as principais potências, multiplicam-se. Vigora, há pelo menos 20 anos, desde a guerra da Ex-Jugoslávia, um estilo de guerra híbrida: os EUA e aliados por um lado, contra o «eixo Russo-Chinês» e aliados, por outro. 

- Nos anos 30 do século passado, um império em decadência (o britânico) tinha dificuldade em manter um semblante do extenso poderio que possuiu durante século e meio. Tinha um aliado-competidor, os EUA, a maior potência industrial mundial que recebera, ao longo da Primeira Guerra Mundial as encomendas e cobrou as dívidas -literalmente- a peso de ouro aos impérios coloniais britânico e francês. 

- Hoje em dia, o império em decadência é os EUA e o seu competidor, a China. Esta transformou-se no motor da produção industrial mundial. Tornou-se a nação com o maior comércio de exportação. Os dólares obtidos neste comércio mundial são, em grande parte, convertidos em ouro. A quantidade de ouro que acumulou a China, no Banco Central de Estado e nas mãos de particulares, seria de cerca de 20 mil toneladas, segundo opinião de muitos especialistas. 
O ouro -supostamente - 8 mil toneladas, armazenadas pelos EUA em Fort Knox, além de não ser sujeito a auditoria desde os anos 50, estaria implicado em operações obscuras e roubos, atribuídos aos clãs Bush e Clinton. 

Podia-se alongar o rol de casos e de circunstâncias presentes que evocam, ecoam, o que se passou entre as duas Guerras Mundiais do séc. XX. 
Porém, estou convencido que agora é muito diferente, a um nível mais profundo, porque - agora - o capitalismo atingiu o seu grau de expansão máxima. Antes, ele tinha os mercados coloniais ou neo-coloniais, para extrair as matérias-primas, os países pobres da periferia do capitalismo que estavam obrigados a comprar equipamentos, produtos de consumo corrente e mesmo alimentos, aos países dominantes.
Desde há mais de trinta anos, há praticamente uma estagnação da produção industrial no mundo ocidental, não apenas porque o capitalismo já não consegue expandir-se, como também porque não consegue extrair lucro suficiente da manufatura dos bens industriais.
A globalização foi uma fuga para a frente, para conseguir extrair mais alguma mais-valia, super-explorando a mão-de-obra do mundo em desenvolvimento.
Agora, a globalização está morta e não há qualquer possibilidade de ela reviver. O que se perfilha -no imediato - é um período muito duro para as classes laboriosas em todo o mundo, quer nos países «pobres», quer nos países ex-«ricos». 
Porém, a guerra generalizada não é uma saída real, pois a elite sabe que esta iria degenerar em guerra nuclear, onde só haveria vencidos, não haveria vencedores reais. 
Por isso, a oligarquia está a pôr em marcha uma sociedade de controlo total, servindo-se da pandemia viral, como pretexto para instalação dum estado de vigilância generalizado, dum controlo totalitário sobre os corpos (quem não ficar vacinado, não terá direito a quase nada), com suspensão de qualquer veleidade de ordem constitucional e de «Estado de Direito». Ela arroga-se, sob pretexto de «pandemia», acionar a bel prazer «estados de emergência ou de calamidade pública», ou outros eufemismos de lei marcial. 

            
Especialmente, irão recorrer a isso nos pontos do globo onde surjam grandes tensões, resultantes das condições criadas: restrições, brutal empobrecimento, perda das liberdades concretas. 

As grandes ruturas sociais já se estavam a desenvolver há décadas, tal como falhas tectónicas, onde vai aumentando a tensão, paulatinamente, apenas com uma pequena agitação, uma sacudidela pequena... de vez em quando. Mas, se crescem demasiado estas forças telúricas ao nível das falhas, dá-se um tremor de terra. Sabe-se que, quanto maior for a tensão acumulada, maior a violência do tremor de terra. 
Penso que a analogia sísmica é adequada, não porque a sociedade se mova por forças mecânicas, mas porque o grau de frustração decorrente duma opressão demasiado grande, provoca nas massas uma transformação:
- Elas deixam de ter confiança nos dirigentes habituais. Percebem que poderão sair da situação de aperto apenas por elas próprias. Sabem, confusamente, que a resolução dos problemas que as afligem não pode vir do alto. No final, vão agir e derrubar a ordem vigente, para construir a nova sociedade. 
Não estamos ainda neste ponto, mas a hipótese do despertar revolucionário não é de excluir. 
Os oligarcas tudo têm feito para desviar e enganar as pessoas revoltadas, que se atiram contra símbolos do poder (destroem estátuas de personagens históricas) ou pequenos comércios, de outras pessoas tão vítimas como elas. Não têm tido como alvo o próprio poder, os quartéis-generais da ordem que os oprime, os governos, os ministérios, as mega-corporações, os bancos, os bancos centrais e as instituições do globalismo... 

Neste caso, a História que se está desenrolando sob nosso olhar, rima ou ecoa a convulsões passadas. Espero que não continue assim. Pois isso significaria que, passado o tumulto da insurreição, o entusiasmo da revolução, volta tudo ao mesmo: apenas mudam as coisas, «na medida necessária para que fique tudo na mesma». 

Oxalá que desta vez, a História, ela não rime, nem ecoe... Pois, se tudo for diferente, significa que se está dando a verdadeira transformação da sociedade. 
Uma transformação profunda, que ocorre uma vez por milénio...

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