quarta-feira, 10 de julho de 2019

SE O MUNDO FOSSE UM TABULEIRO DE XADREZ...

Se o mundo for visto como um enorme e multidimensional xadrez....

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Os EUA serão, obviamente, jogadores principais, detentores de um império, chamemos-lhe grupo «N» (NATO e associados).
No lado oposto, está um consórcio de nações poderosas, tanto geo-estrategicamente como economicamente, a Rússia, a China e também a Índia, que agora fez uma viragem decidida para o lado euro-asiático, afastando-se dos cantos de sereia anglo-americana (ver aqui a tradução de artigo de Pepe Escobar). 
Mas também o Irão, assim como um enorme conjunto de nações, mais de 60, que já participam em projectos das Novas Rotas da Seda (chamemos a esse grupo X, da Organização para a Cooperação de Xangai).

No campo N, encontram-se os parceiros dos EUA, mas essas parcerias são cada vez mais problemáticas.
- Por exemplo, Doha (Qatar) fez uma viragem decisiva há alguns anos, em direcção ao Irão (visto que têm interesse comum em explorar o gás natural que se encontra em jazida comum por debaixo das águas territoriais de ambos). O Qatar recebeu auxílio da Turquia, quando a Arábia Saudita fez um autêntico cerco, tentando curvar o emir de Qatar à disciplina do Conselho dos Estados do Golfo, entidade que agrupa os emirados e monarquias que bordejam o Mar Vermelho.

- Outro exemplo, a Turquia, embora se possa considerar este país o mais estratégico da NATO - com uma posição de extensa fronteira com a Rússia e uma localização de «pivot» na Ásia Central - está realmente em rota de colisão com os americanos e com a NATO, ao adquirir o sistema de mísseis S-400 russo. 
Mas esta aquisição é afinal a consagração da inversão de alianças, após a tentativa falhada de golpe de Gülen, eminência parda dos Irmãos Muçulmanos, inicialmente um dos promotores de Erdogan. O golpe contava com apoio encoberto da CIA e da NATO. Aliás, Gülen refugiou-se nos EUA e estes têm repetidamente recusado extraditá-lo, apesar de existirem provas inequívocas da conspiração e de ele ter prosseguido actividades contra o regime turco no exílio americano. 
Só a ajuda da Rússia, então uma potência «quase» inimiga, permitiu que as forças leais a Erdogan fizessem abortar o golpe em curso. Muitos mortos, feridos e presos resultaram da sangrenta aventura inspirada ou, pelo menos, aprovada por Langley (o quartel-general da CIA, nos EUA).

- Os países que experimentaram a brutal agressão e ocupação pelos EUA, o Afeganistão e o Iraque, não estão dispostos a servir como rampa de lançamento de um qualquer ataque contra o vizinho Irão. As grandes manifestações de agressividade dos EUA no mês passado, contra o Irão, acabaram com um «rabo entre as pernas», pois qualquer ataque teria de ser efectuado à distância, sem possibilidade de uma invasão, por terra ou por mar. Isto porque as relações dos EUA com muitos países árabes e da Ásia Central se têm deteriorado nos últimos tempos.

- Outra carta que tem sido jogada pelos EUA, além da ameaça militar, é a das sanções. 
Estas sanções, «urbi et orbi», estão a deslocar completamente o puzzle das alianças e acordos entre países, incluindo  os que estão no «coração» da Aliança Atlântica. 
Quer os europeus, que já não alinham com os EUA para sancionar o Irão e montaram um sistema de pagamentos alternativo, por forma a terem a possibilidade de continuar a comerciar com a república islâmica, sem terem de sofrer sanções, quer a Turquia, muito interessada no petróleo iraniano e que tem feito uma troca directa de petróleo por ouro, torneando assim as sanções impostas pelos EUA... quer ainda, os próprios britânicos que - no afã de garantirem uma posição vantajosa para a sua banca, na internacionalização da moeda chinesa (o  Yuan) - estão a participar em projectos dos BRICS. 
Este grupo (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), representa cerca um quarto das trocas comerciais mundiais. Nele existem muitas diferenças, como seria de esperar. Porém, a aliança Rússia-China está cada vez mais consolidada em múltiplos planos, desde o financeiro  ao militar. Porém, a Índia fez recentemente um passo decisivo em direcção a um compromisso maior com os dois colossos, Rússia e China.

Isto são apenas exemplos. De facto, as Novas Rotas da Seda são essencialmente imbatíveis, se se mantiverem dentro dos princípios saudáveis da não-intervenção nos assuntos internos dos Estados e das trocas com vantagens mútuas. Este projecto é imbatível porque não se trata de um projecto militar, ou imperialista, o que implicaria a conquista de territórios, a ocupação de nações. 
Trata-se de um projecto genuinamente comercial. É a versão contemporânea da ideia liberal do livre comércio, do comércio sem obstáculos políticos ou institucionais e que vai enriquecer todos os intervenientes (estratégia «win-win»). 

Evidentemente, o poderio militar americano não desapareceu, até pode reforçar-se em múltiplos aspectos. Também o anúncio do destronar do dólar como principal moeda de reserva bancária e das trocas comerciais, é prematuro. 

Mas, projectando a situação presente no futuro não muito distante, verificamos que os EUA estão com maior dificuldade em impor pela força (ou ameaça dela) a sua vontade, quer aos adversários, quer aos aliados (ou vassalos). A doutrina oficial dos EUA é de que tem de exercer a hegemonia, de que não pode tolerar que outra potência seja capaz de desafiar a sua vontade (doutrina Brzezinski).

Diria que, se não é ainda um «xeque mate» para o império globalista, é certamente um ponto em que fica claro para todos, que o melhor que pode esperar o «eixo Atlântico» (EUA e aliados da NATO, etc) será uma situação de empate, ou seja, um mundo multipolar onde é necessário contar com o eixo Euro-asiático (os BRICS, a OCX - Organização de Cooperação de Xangai). 

Para mais pormenores sobre o tema, recomendo as leituras seguintes:



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