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domingo, 9 de junho de 2019

O «SONHO AMERICANO» ESTÁ MORTO...

Quem o diz e demonstra claramente é Michael Snyder  num artigo impressionante, em que descreve a outrora vibrante e orgulhosa L.A. (Hollywood está na vizinhança).

                 
Há lixo por todo o lado. No meio dele, pragas de ratos banqueteiam-se. Crescem as «cidades de tendas», por todo o lado. Não se pode andar no centro de L.A. ou de outras cidades sem ver pedintes ou sem-abrigo, a cada esquina. A epidemia de opióides tem feito uma devastação que já nem a media mainstream tenta ocultar. 
Mas a sociedade, em geral, apesar dos sinais evidentes de decadência, está em denegação
Isto, apesar da descida nítida dos índices, tais como cotações de materiais industriais - o cobre, o zinco e a madeira para construção - que não podem ser facilmente manipulados. Tudo o resto, que pode ser manipulado, tem estado a sê-lo: desde os índices bolsistas, à taxa de inflação e de desemprego. Mas, nem será necessário procurar números indicadores da economia. Pois, tudo que o se vê - fora das zonas de condomínios de luxo - tem a aparência duma descida rápida para níveis do Terceiro ou Quarto Mundos
A degradação de todos os aspectos da vida urbana não é exclusiva de Los Angeles, como Michael Snyder indica: o mesmo se constata em San Francisco, Portland, Seattle, Denver, Minneapolis, Chicago, Detroit, St. Louis, Memphis, Cleveland, Baltimore, Philadelphia e noutras cidades, de menor dimensão. 
Estas situações ocorrem, note-se, quando a crise ainda não rebentou, embora esteja iminente e com todos os ingredientes para que seja duma gravidade e profundidade extremas.

               

Através deste artigo, podemos ver até que ponto nos querem impingir uma imagem falseada da América e da sua economia, quotidianamente, através da media mainstream, do lado de cá do Atlântico. Isto não é nada inocente: trata-se de manter a ilusão de que as coisas estão a compor-se, de que a «economia está a crescer», de que as sinetas de alarme que disparam por todo o lado são somente «alarmismos» orquestrados por «teóricos da conspiração», etc, etc...
Os EUA irão fazer tudo para transferir o grosso da crise vindoura para o dorso das economias europeias. Não esqueçamos que foi através dos hedge funds americanos que se gerou a crise das obrigações soberanas europeias em 2010-2011, da qual resultaram o agravamento dramático das economias dos «PIIGS» e as políticas de austeridade.
 Também se torna cada vez mais verosímil que inventem um pretexto para desencadear mais uma guerra. É provável que a próxima aventura militar dos EUA seja com o Irão ou, talvez, noutro ponto do globo. 
Nesta fase, o imperialismo dos EUA apenas consegue obter destruição e pilhagens nestas guerras assimétricas (Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria...). Mas, é isso mesmo que procura, de facto. As únicas indústrias florescentes nos EUA, são as de fabrico de armas e doutro equipamento bélico. 
No plano político internacional, os EUA contam com a força bruta militar para intimidar os países, cada vez em maior número, rebeldes à sua ordem mundial e para forçar as potências europeias, numa vassalagem, também ela, cada vez mais problemática.

Se Michael Snyder se preocupa legitimamente com o estado de denegação em que se encontra uma boa parte das pessoas, que as impede de tomar medidas de precaução, financeiras e outras, na aproximação de uma grande crise ... então que dizer do público da Europa? 
Este, está completamente anestesiado, incapaz de ver as questões para além do imediato e, mesmo estas, apenas sob o prisma criminosamente distorcido da media corporativa. 
Pessoalmente, estou convencido de que a grande crise em preparação irá trazer muito maior sofrimento ao continente europeu, pelo menos, nas suas etapas iniciais, do que à América. 
As precauções apontadas por Snyder ao público americano são totalmente apropriadas e mais urgentes ainda, para o público europeu.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

NOTAS SOBRE «QUANTITATIVE EASING» DO BCE

                                            

Acima, uma nota de cem biliões de dólares do Zimbabué. 
Na realidade, embora esteja lá escrito «one hundred trillion», nas línguas latinas, os nomes que se dá aos números são diferentes das anglossaxónicas. 
A partir dos nove zeros, os anglo falantes usam o «billion» (por influência norte-americana, os brasileiros adotaram também esta convenção), enquanto os europeus continentais dizem «um milhar de milhões». 
Quanto ao poder aquisitivo desta nota: parece que, nos mercados deste país, ainda se pode comprar um par de ovos com ela!
                                           
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Principais riscos e consequências do «Quantitative Easing» 
do Banco Central Europeu são:

. A distorção dos mercados de dívida
Não é somente a dívida soberana (obrigações do tesouro, etc.) dos diversos países que está cotada de maneira artificial, é todo o mercado. Há uma distorção de toda a estrutura dos juros, do preço do dinheiro. No capitalismo, esta distorção tem efeitos gravosos, porque leva a investimentos mal direccionados, a estimativas de rentabilidade de negócios fora da realidade, etc…

. A impossibilidade dos PIIGS se livrarem da dívida.
Se a taxa de juro para pedir novos empréstimos for muito baixa, não haverá governo que resista a continuar a gastar mais do que o seu respectivo país produz, pela simples razão de que, se fizesse o contrário (ou seja, uma verdadeira contenção orçamental), perderia o poder, nas próximas eleições (ou mais cedo!). Continuará a haver endividamento destes países, com reestruturações das respectivas dívidas, mais cedo ou mais tarde.

. A hiperinflação

                       

A moeda única significa que o sistema é tão forte, quanto o seu elo mais fraco. Se um país do Euro entrar em espiral inflacionária, os restantes sofrerão logo o contágio; não haverá possibilidade de evitar que a desconfiança se repercuta sobre todo o espaço do Euro, em conjunto. 
O BCE aponta uma meta de 2% de inflação, na zona Euro. Esta meta é irrealizável, a não ser através de manipulações das estatísticas. Há uma inflação escondida, muito mais elevada, que se exprime nos aumentos do imobiliário, da bolsa e noutros mercados (arte, metais preciosos, etc.). 
Nenhum governo jamais conseguiu manter a inflação a um nível determinado. Simplesmente, é um fenómeno que escapa aos mecanismos de moderação que governos e bancos centrais possuam. A inflação vai acelerando, até se tornar hiper-inflação. Os políticos optam, mesmo assim, por inflacionar, porque o público não compreende o fenómeno e não os identificará como sendo os seus causadores. 

. O marasmo económico
O BCE está na origem das bolhas especulativas no imobiliário e nas bolsas. Criou um clima de euforia artificial, em que os investidores são atraídos a fazer investimentos com risco, porque «têm as costas quentes», com as compras sistemáticas do BCE. Com efeito, estas compras, baixando artificialmente o custo do crédito, são responsáveis pela subida das bolsas e de todos os ativos financeiros. Por contraste, nos diversos países, a economia real (de bens e serviços) não recuperou sequer os níveis anteriores à crise de 2007/2008. 
Ao tornar tão apetitoso - para os especuladores - jogar nos mercados de ações, de obrigações e de produtos derivados, o BCE está a provocar uma enorme drenagem de capitais financeiros, desviados do investimento na economia real, para a economia de casino. O marasmo económico actual, com o seu cortejo de sofrimento social, elevado desemprego, emigração, etc. deriva, em grande parte, dessa drenagem de capitais.

. O Banco Central Europeu fica afogado em papel
Ao comprar ativos financeiros num mercado totalmente artificial, o BCE (ECB) sabe que não tem hipótese de se ver livre, algum dia, destes mesmos ativos. No mercado, logo que acabe o programa de compra de 60 biliões mensais de activos pelo BCE,  estes mesmos ativos passarão a valer quase nada, ou uma pequena fracção do valor de sua compra aos bancos. 
Afogado em papel invendável e sem valor, o ECB não poderá esperar que o Euro seja fortalecido, internacionalmente.

. A desvalorização face a metais preciosos, dólar e criptomoedas
Tal como em 2010/2011 - quando estalou a crise das dívidas soberanas da Irlanda, Grécia, Portugal e Itália -  na próxima crise, os capitais irão refugiar-se nos metais preciosos, no dólar (nas obrigações do tesouro americano) e agora também nas cripto-moedas. Mas a dívida actual acumulada na Eurolândia é ainda maior do que em 2011. Os juros das obrigações soberanas denominadas em Euros irão subir e o valor do Euro, face às outras divisas, irá descer acentuadamente.

.A ampliação dos efeitos de uma crise económica 
Ao nível internacional, a sobrevalorização das cotações bolsistas, das obrigações e de toda a espécie de activos financeiros, atingiu uma dimensão assustadora. 
Muitos especialistas consideram que uma crise de grandes dimensões virá, certamente. Nem o BCE, nem os estados-membros, estão preparados para tal crise: erradamente, estimam que poderão «diluir» seus efeitos. 
Mas esta diluição chama-se, na realidade, «criação monetária»: 
- A criação monetária tem um limite, o da perda de confiança total numa divisa, e que se traduz pelo disparar incontrolável da inflação!