A partir de agora, a situação económica começa a «apertar» no Ocidente (falo da Europa e América do Norte, principalmente).
Mas, o Ocidente não é homogéneo do ponto de vista económico e da exposição a situações causadoras de extrema desorganização e do acentuar da pobreza. Existem clivagens muito grandes entre países como, por exemplo, o Norte e o Sul da União Europeia:
- Com a Alemanha, a Áustria, a Holanda e a Escandinávia, contrastando em desafogo económico e capacidade de suavizar uma situação prolongada de crise, com um Sul, incluindo Grécia, Itália, Espanha e Portugal, todos eles em situação muito mais frágil perante a crise profunda, pois estão muito dependentes do turismo para sobreviverem e não possuem diversificação suficiente para aguentar o embate e o marasmo prolongado no sector, que era o seu principal «ganha-pão».
Mas, também estamos perante a crise interna dos Estados e regimes, visto que a inadequada e autoritária resposta à epidemia de Covid-19 (um problema sanitário real), veio desencadear reflexos de medo e uma contracção da vida nas suas vertentes sociais.
Isto pode ser conveniente para a oligarquia que governa estes países, no curto prazo. Porém, vão servir-se do mesmo pretexto da pandemia e de mais que duvidosas «segundas e terceiras» ondas, para retomar o controlo de todas as alavancas do poder, sem contestação. O grau de corrupção, na política e nas sociedades em geral, nunca foi tão elevado, com os lançadores de alerta a serem completamente ignorados ou perseguidos e calados. A cidadania, semi-adormecida, está num ponto em que pode ser facilmente manipulada, pelos da maioria governamental, ou pelas oposições.
Mas tudo isto tem, como fenómeno subjacente, o colapso do modelo económico e financeiro que governou o Ocidente.
Este colapso é bem visível nos EUA, país emblemático deste capitalismo. A cidadania nos EUA está completamente fraccionada. Existe um total divórcio em relação a quaisquer valores, que poderiam ser identificadores comuns do povo dos EUA. A coesão existente, é em relação a factores de grupo, nos quais se contam «raça», «religião», «pertença social», «orientação sexual», etc, etc. Não existe futuro para um país assim: irremediavelmente dividido. Ainda é o mais poderoso, em termos militares e ainda detém o privilégio do dólar US ser a maior divisa de reserva ao nível mundial:
- Mas, no plano geo-estratégico está em situação de competição com 2 super-grandes (Rússia e China), que possuem armamento sofisticado e - mesmo - superior em domínios-chave, face a modelos mais antiquados, que equipam as forças armadas dos EUA e seus aliados da NATO.
- E, no plano monetário, o dólar está sob grande pressão, com uma descida significativa em relação às moedas ocidentais concorrentes, nomeadamente, ao euro. Além disso, o dólar (e todas as divisas) estão constantemente a perder valor, em relação ao ouro e à prata.
Isto significa claramente a fuga dos investidores mais lúcidos dos mercados das obrigações e das acções e outros activos financeiros em geral, que se expressam em moedas-papel, ou «fiat».
Pelo contrário, existe um aumento de procura muito significativo, além dos metais preciosos, no imobiliário em vários países europeus. Tal se deve ao facto de muitas pessoas estarem a converter bens financeiros em bens imobiliários, estes menos sujeitos a volatilidade e, sobretudo, que poderão atravessar esta crise longa, conservando o seu valor, em termos reais, no final.
No meio da «grande reestruturação» («great reset»), na qual nos encontramos, as pessoas dominadas (sem o saberem) por uma media, inteiramente ao serviço dos poderosos, são susceptíveis de fazerem escolhas erradas. Tais erros e ilusões, induzidos pela media mentirosa, ainda irão agravar mais a sua fragilidade, em termos económicos. Muitas das que tinham algum bem-estar económico, irão perder tudo, tal como aconteceu em todas as crises anteriores.
Mas, a perda de uns, é o ganho de outros. Haverá pessoas e entidades que irão enriquecer, que irão fazer negócios chorudos, capturando bens e negócios por «tuta e meia».
Estes, estarão em força quando se der a retoma da economia produtiva. Uma vez que o pior da crise tiver passado, que um novo sistema monetário veja a luz do dia, esses capitalistas terão o terreno limpo para seus negócios avançarem nas melhores condições.
Com efeito, a ausência de concorrência vai permitir situações de controlo ou monopólio do mercado, em sectores de actividade e largas regiões geográficas; isso vai multiplicar as possibilidades de lucro.
No capitalismo monopolista, que é o do nosso tempo, os que planificam e executam as acções dos grandes grupos financeiros não são uns amadores. Eles próprios, têm formação e contam com apoio de especialistas, em todas as áreas necessárias, que garantem - não apenas os negócios correntes - mas também a prospectiva, a visão estratégica de longo prazo.
Sendo assim, nos tempos mais próximos, depois da onda de falências e de grande contracção da economia, fase que durará, pelo menos, até ao próximo Verão de 2021, vai verificar-se uma grande concentração e reestruturação em todos os sectores-chave:
- concentração da distribuição, estendendo as redes de pequenas lojas mas com «label» de um grande distribuidor. Destruição visível do comércio de proximidade, desaparecimento do pequeno comércio nas zonas habitacionais: a mercearia, a frutaria, a pequena loja de electro-domésticos, a papelaria-tabacaria, etc.
- concentração da banca, com fusões e aquisições de pequenos bancos por gigantes. Mas também uma diminuição da rede de balcões e/ou a conversão de serviços para 100% on-line, o que fará com que o número de funcionários bancários em contacto directo com o público diminua ainda mais.
- A Inteligência Artificial e a robotização vão avançar em todos os domínios, desde a medicina, engenharia, arquitectura, etc. até às tarefas pouco especializadas, como a colheita de frutas e legumes, até agora assegurada por uma mão-de-obra muito «barata», normalmente imigrante.
Vai haver uma generalização do desemprego estrutural. Não vai ser possível encaixar nos sectores produtivos, as pessoas agora despedidas, pois haverá muito menos postos de trabalho, além de que a tendência será de substituir humanos pelos robôs, ou por sistemas de IA (Inteligência Artificial).
Face a esta situação, a opção dos Estados será - provavelmente - de criar um «Rendimento Básico Universal» (RBU), com capacidade de manter as pessoas assistidas no limiar de subsistência, mas ainda assim, sem chegar à indigência.
O RBU será saudado como «grande progresso social» por alguns desmiolados, mas será a forma prática de manter as pessoas sob controlo, sobretudo jovens, quando não existe possibilidade ou vontade de as canalizar para tarefas produtivas e reprodutíveis.
Porém, existem muitas instâncias em que o trabalho poderá ser aplicado de forma útil e produtiva, com verdadeiro emprego e com verdadeiro salário.
Estou a pensar nas enormes tarefas que estão por fazer, nos campos, especialmente no interior deste país, com todo o efeito de arrastamento de indústrias conexas ao renascimento agrícola, baseado em energias renováveis e em conceitos ecológicos.
Estou a pensar também no apoio domiciliário a muitas pessoas idosas e/ou com deficiência, que não deveriam ser armazenadas em «lares», instituições completamente inadequadas. Veja-se o que aconteceu aquando do surto de Covid-19: pense-se que apenas vimos a ponta do iceberg.
Na educação, ao contrário da tendência para realizar tudo «on-line», acentuada com a recente epidemia, que confinou as crianças e jovens em casa, tem de se apostar numa diferente e criativa forma de educar.
Têm de ser criados «centros de educação e excelência tecnológicos» que não sejam os «parentes pobres» do que é, ou era (como há mais de 50 anos!) considerado nobre: as vias que conduzem ao ensino superior.
Poderia multiplicar exemplos, desde a marinha mercante e portos, à rede ferroviária e a todas as infraestruturas associadas... campos em que haveria trabalhos de estrutura a fazer-se e com grande utilidade para o país.
Porém, este esforço muito necessário é impossível sem a mobilização de energias, de vontades, sem a existência de um projecto nacional. Para que vingue, é preciso realismo, vontade e persistência. São estas as três características morais impossíveis de desenvolver e cultivar no marasmo actual, sonhando uns com utopias caducas, outros com «milagres» de ajudas vindas do exterior, etc.
Há muitas maneiras de cairmos; para nos levantarmos, só há - basicamente - uma; dobrar as pernas, retesar os músculos, fazer força apoiando-se no chão, exercendo toda a força para cima, o corpo unido no gesto de se erguer, de retomar a vertical. No caso dos povos, é o mesmo!
Onde está o essencial da questão?
Na tomada de consciência de que a salvação não virá do exterior, mas de nós próprios, de fazermos o que seja preciso para nos pormos de novo, em pé!
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