Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.
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quinta-feira, 5 de maio de 2022

WHAT ARE YOU FIGHTING FOR? PARA O QUE ESTÁS A LUTAR?


É caso para perguntar a todos os que se dizem de esquerda e que fazem o papel de «idiotas úteis» dos imperialistas, agora, mesmo quando estes estão desmascarados como tendo preparado, equipado e enquadrado nazis ucranianos. Com efeito, tem vindo à tona um conjunto de factos, que  provam a colaboração da NATO e o treino, durante oito anos, das milícias de extrema-direita Azov e Aidar, na Ucrânia. Estas forças, inicialmente milícias, foram depois incorporadas nas fileiras do exército ucraniano. Em muitas unidades, um em dez militares, tem ligações à extrema-direita, quando a sua proporção, na população geral, é muito menor.  Hoje mesmo, soube que um general canadiano, tinha ficado encerrado junto com os restos do «Batalhão Azov», em Mariupol no complexo fabril de Azovstahl. Ele terá tentado escapar, mas foi intercetado e capturado pelos russos.  

As pessoas antifascistas no Ocidente, devem reconhecer que esta campanha militar é dobrada duma campanha de desinformação que ultrapassa tudo o que conhecemos até aqui. Sou capaz de me lembrar das campanhas dos EUA e seus aliados da NATO, para denegrir inimigos, quer movimentos de libertação, quer  forças nacionalistas  que lutavam contra os EUA e/ou aliados dos EUA. 

O nível de desinformação é muito superior, agora, sobre a guerra na Ucrânia. É uma campanha de mentiras quotidianas, dando falsas informações sobre o que se passa na frente de batalha, para dar a impressão que os russos estão em maus lençóis, que estão em dificuldades, que as tropas ucranianas conseguem dar duros golpes ao inimigo, etc.

 Estas campanhas da NATO, com todo o aparato de agências de «informação», são acompanhadas por uma ofensiva de silenciamento, de censura, de intimidação, sobre pessoas e organizações jornalísticas independentes. A campanha terrorista dos governos designa estas pessoas como «inimigas internas», porque querem dar uma informação não enviesada, querem ouvir o que o «outro lado» tem para dizer, querem discutir livremente as questões que se colocam. 

A censura é do nível mais elevado que eu conheci, desde os tempos da ditadura fascista. Aquando da libertação de Portugal dessa ditadura, em Abril de 74, eu tinha 19 anos, portanto, lembro-me bem e estava consciente do ambiente que se vivia nos últimos anos desse regime. 

Nunca vi, também, uma confusão tão grande no espírito de pessoas, que eu julgava serem mais perspicazes. Não venham insinuar que, se eu estou contra a NATO, é «porque sou a favor de Putin», as simplificações e as condenações apressadas são o que pavimenta o caminho para o ódio, a intolerância, o fascismo. 

Não preciso de mudar um iota da minha posição, a favor da paz. Verifico que o povo ucraniano está a ser sacrificado, pois ele é forçado a combater, quando não existe qualquer hipótese de reversão da situação militar. A eternização das operações de guerra tem como efeito muitos mais mortos, feridos e deslocados. O avanço russo vai tornar muito difícil recuperar o território perdido, à mesa de negociações. Quanto mais durar a guerra, pior para a Ucrânia, mais difícil será um pós-guerra, enquanto nação independente.

Infelizmente, o regime de Kiev está capturado por dois lados: Por um lado, os setores de extrema-direita têm um peso desproporcional (em relação aos seus votos), conseguem chantagear toda a classe política ucraniana (este regime é um dos mais corruptos do mundo). Por outro lado, o governo de Kiev, é refém do apoio dos EUA/NATO, que são quem dita diretamente a Zelensky o que deve ou não fazer*. São eles que estão a fornecer as armas, as dezenas de biliões de dólares, e que fazem 24h/24h a propaganda hostil à Rússia. Isto tem um objetivo muito concreto: pensam que assim enfraquecem a Rússia, obrigando-a a combater durante longo tempo, a empenhar mais esforços que os inicialmente previstos, etc. 

Finalmente, com esta guerra total (em todas as frentes) eles pretendem justificar (em termos de propaganda) as sanções que foram ao ponto do roubo das reservas do banco central russo, de expropriar cidadãos russos, só porque são russos, etc.

Estas sanções brutais não foram surpresa para o governo russo. Este tinha já tomado medidas para diminuir o seu impacto, anos antes da invasão de 24 de Fevereiro. Putin discutiu o assunto com Xi Jin Pin, aquando da cerimónia de encerramento dos jogos olímpicos de inverno de Pequim, a 4 de Fevereiro. Sem a «luz verde» do presidente chinês, provavelmente, PUTIN NÃO TERIA AVANÇADO.

 Estão, portanto, a fazer tudo de acordo com o planejado. Eu não tenho dúvida que os serviços secretos e os especialistas dos dois países, que se debruçam sobre as políticas do Ocidente, soubessem de antemão que a resposta a uma invasão russa seria de sanções muito severas.

Com efeito, as sanções são severas. Mas, algumas só na aparência, pois o bloco Sino-Russo está bem dotado de meios - desde energia, matérias-primas, capacidade industrial e agricultura - para as aguentar. Pelo contrário, os povos do «Ocidente» e em especial da Europa, são vítimas das decisões dos seus próprios governos. 

Mas, pior ainda, é a catástrofe que já está a abater-se nos países «do Sul», ainda mal refeitos das enormes perdas causadas pelos vários lockdown e pelo corte de meios de subsistência, nos dois anos de «pandemia de COVID». Estes países tiveram de pedir muitos empréstimos para enfrentar a situação e, agora, têm uma incapacidade ainda maior em enfrentar a generalizada subida de preços.  Mas isto não é manchete nos media ocidentais: Mais uma vez, ignoram os problemas que afetam cerca de metade da população do mundo. 

Aconselho as pessoas que me leem a descolar da propaganda de qualquer dos lados mas, sobretudo daquela onde vivem muitos dos meus leitores, nos países ocidentais. Não deixem de olhar criticamente o panorama, o clima que está criado. Sobretudo, não confiem que - qualquer das partes em conflito - transmita informação objetiva. Vejam, antes de mais, o que se passa no quotidiano, notem a repressão sobre todas as ideias e manifestações que vão contra as posições oficiais dos governos: Em tempo de guerra, o que eles chamam democracia, é roupagem dispensável, que é  dobrada, embalada e guardada num armário! 

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* Nota: Em finais de Março, a delegação ucraniana às conversações para um cessar-fogo, na Turquia, fez um volte-face brusco: recusou concessões feitas pouco tempo antes, o que fez com que um cessar-fogo ficasse indefinidamente adiado. Vários observadores pensam que esta mudança resultou de pressões americanas sobre o governo Zelensky. 

NB1: Um artigo de Pepe Escobar dá a dimensão dos desafios que  a Rússia tem de enfrentar. A não perder!

 https://www.strategic-culture.org/news/2022/05/06/megalopolis-x-russia-total-war/

segunda-feira, 21 de março de 2022

PREVISÕES ECONÓMICAS PARA O FUTURO PRÓXIMO

   



Com o cenário de crise internacional agravado pelo conflito militar Rússia-Ucrânia, as sanções têm sido o instrumento de guerra económica escolhido pelos ocidentais para punir a Rússia. Estas sanções têm a ver com aspetos financeiros e aspetos económico/comerciais.

VERTENTE FINANCEIRA

No aspeto financeiro, sobressaiem a expulsão de muitos bancos russos do sistema de pagamentos internacionais SWIFT, e o congelar das contas em divisas e do ouro, do banco central russo, que estavam -em parte - depositados em bancos dos países ocidentais.  

Quanto ao SWIFT, os russos estavam preparados para isso, desde há bastante tempo, tendo construído a sua alternativa interna de pagamentos interbancários, «MIR». Também muito antes desta crise, já havia em muitos bancos russos a conexão com o sistema chinês UNIONPAY que fornece serviço equivalente ao MASTERCARD e outros cartões de crédito ocidentais. Já havia muitos cidadãos russos que usavam este cartão de crédito chinês. De agora em diante, serão oferecidos sistematicamente aos clientes dos bancos russos cartões de crédito com ligação ao Unionpay. 

Graças às medidas tomadas pelo governo e pela banca, não houve nenhuma corrida aos depósitos, por parte do público. Houve até um ligeiro aumento dos depósitos. Como é que conseguiram isso? 

- Primeiro, deixou de haver possibilidade de levantamento em divisas estrangeiras, o que tinha sido possível até há bem pouco tempo. Muitos russos acumularam dólares e outras divisas ocidentais. Mas agora, devido aos controlos de capitais é difícil, senão impossível exportar divisas para fora da Rússia. 

As divisas estrangeiras são agora meio exclusivo de compra de ouro, prata, platina e palladium, que os bancos comerciais começaram agora a comercializar. Com esta decisão original, o governo russo evita fuga de divisas estrangeiras, a sua acumulação em mãos privadas e, simultaneamente está a favorecer os cidadãos. Os metais preciosos têm vindo a valorizar-se muito. 

Com todas as medidas de emergência tomadas, o rublo não sofreu o colapso que os falcões dos EUA/NATO esperavam. 

O roubo (não há outra maneira de chamar isto) ocidental das reservas do banco central russo (incluindo o ouro) que se encontravam no estrangeiro, foi algo inesperado e inédito para a Rússia. Lembro que, em períodos de grande tensão internacional, no passado, continuou a haver uma certa «imunidade diplomática» dos bancos centrais, mesmo entre países beligerantes. Esta ação criminosa poderá representar uma perda importante (30-40%) das reservas russas no estrangeiro.

 Mas, tem um efeito de longo prazo grave, pois afeta a confiança que países terceiros - países neutrais ou pró-russos, incluindo a Índia, a China, etc - poderão ter (ou deixar de ter) nas instituições bancárias do Ocidente. Os países não ocidentais registaram esta medida. Aliás, ela segue-se a «tomadas de posse» de ativos do Irão, da Venezuela, e recentemente, do Afeganistão. 

A confiança nas instituições ocidentais está definitivamente abalada. Nenhum país está ao abrigo duma tomada de ativos pelos ocidentais, se esses ativos não estiverem, estritamente, depositados nos bancos centrais respetivos. Note-se, esses ativos não são pertença de governos ou órgãos políticos: As reservas dos bancos centrais pertencem aos povos, às nações. Isto vai acelerar a desdolarização.


VERTENTE ECONÓMICA

No plano económico, o fluxo do gás russo mantém-se porque existe uma vontade política clara dos russos, de não dar pretexto a que considerem que há uma falta contratual, da parte deles. Isto vai ao ponto de - apesar do boicote e dificuldade de movimentação financeira - os russos, através de um banco americano, terem pago no passado dia 18 de Março, os juros de obrigações de Estado russas, perante a surpresa dos observadores financeiros no Ocidente. Todos pensavam que a Rússia iria fazer «default».

Gás e Combustíveis

No entanto, os contratos de fornecimento de gás e de petróleo irão caducar, alguns deles já no final de 2022. Não serão, com certeza, renovados. A quebra não é pequena, entre a Europa ocidental e a Rússia. 

Para a Europa (UE), não haverá realmente um fornecimento alternativo de gás natural. A hipótese de navios-tanques de gás liquefeito dos EUA virem abastecer a Europa pode ser excluída. É inviável, no curto prazo. Isto, porque o número de navios com estas características é muito pequeno e estão fretados para outros clientes, noutras partes do Globo. No total, o número de navios-tanque disponíveis para fornecer no imediato o mercado europeu é claramente insuficiente para as necessidades. 

Será que a Europa vai continuar a apostar num «unicórnio»? Será que julgam que as energias «renováveis» são a grande salvação? Atualmente, abastecem, uns poucos por cento das necessidades energéticas totais da Europa. Irão as energias solar e eólica sustituir (num ano? por magia?) a energia do gás natural? Dizem que as reservas atuais de gás natural não se extendem para além de Junho deste ano. Para lá disso, é a incerteza total. Poderão reabrir centrais nucleares ou centrais a carvão. Mesmo isso, não será instantâneo. Reabrir centrais a carvão, bastante poluidoras, será um recuo das políticas ditas de «descarbonização», levadas a cabo por todos os governos europeus.  Reabrir as centrais nucleares será sempre um risco, pois muitas delas estavam próximas do termo do seu «tempo de vida»... Poderá custar o governo ao chanceler Scholz na Alemanha e fazer cair governos doutros países. 

Matérias-primas industriais

Quanto a matérias-primas industriais diversas, nomeadamente os metais industriais em que a Rússia é líder, ou detém grande fatia das exportações globais, pode-se esperar um efeito ainda mais grave. Enquanto a substituição de uma fonte energética por outra, é possível, como fonte de produção de energia elétrica, já o mesmo não se passa ao nível dos metais. O Titânio, por exemplo, não pode ser substituído, nem o Níquel, nem as chamadas «terras raras». As produções industriais vão ficar muito mais caras: Os ocidentais terão de obter em sítios «exóticos» esses mesmos metais, cujo preço já disparou e ainda vai subir muito mais. 

Reorientação das exportações russas

Note-se que a China não irá ficar carente, nem de combustível russo, nem de metais, ou de outras matérias-primas. Ela terá capacidade de absorver grande parte das exportações, que agora são embargadas pelo Ocidente. A China poderá fornecer uma parte dos produtos industriais que a Rússia comprava aos países ocidentais, substituindo-se assim como um parceiro fiável e com estreitos laços de amizade. 

Cereais de exportação

O mesmo se passa em relação aos produtos agrícolas. Os russos, com os bielorussos asseguravam - antes da invasão da Ucrânia - cerca de um terço do trigo colocado no mercado mundial. A Ucrânia, que era outro país com excedente em cereais, terá de os importar, neste ano. Mas a Rússia continuará a fornecer os países não-ocidentais em trigo e outros cereais. Os europeus ocidentais, pelo contrário, não apenas não poderão comprar cereais, como não terão adubos em quantidade suficiente, pois muitos vêm da Rússia.


Situação da Europa

No Ocidente, em particular na Europa, a inflação disparou quando os bancos centrais começaram a emitir divisas (dollar, euro, pound...) sem parar, com o pretexto do COVID, mas realmente devido à incapacidade dos vários países conseguirem controlar suas dívidas soberanas (a dívida soberana da França, por exemplo, é já maior que a da Grécia). As tensões no abastecimento e as ruturas nas cadeias logísticas que se registam neste ano e no ano passado, antecederam a guerra russo-ucraniana. Agora, com o aumento do preço dos combustíveis, a escassez de matérias-primas, a dificuldade em obter materiais estratégicos, somam-se à deficiência industrial, herdada dos últimos 30 anos de deslocalizações (um «benefício» do neo-liberalismo globalista). A Europa ocidental vai pagar o preço económico mais pesado, devido ao estado de guerra total. Além de estar junto do palco da guerra localizada, com o seu cortejo de mortes, destruição e refugiados, vai ficar cortada de fontes de abastecimento em energia e matérias-primas. É possível que não consiga obter quantidade suficiente para suprir as necessidades básicas quer da população, quer da sua indústria. 

Situação previsível para os não diretamente implicados

1) Os EUA incitaram a que a NATO tomasse uma posição intransigente, para provocar a decisão russa. Lembro que Putin vinha avisando que havia «linhas vermelhas» a não ultrapassar, e isto, desde a célebre conferência sobre Segurança de Munique de 2007. Repetiu o aviso muitas vezes, desde então. Mas não foi tomado a sério. Nesta guerra, quem tem os custos principais - do lado ocidental - são justamente os Estados europeus da NATO. Os EUA têm a vantagem estratégica de criarem uma rutura profunda entre a Rússia e o ocidente europeu, o que significa, para eles EUA, manter e reforçar a situação de dependência dos seus parceiros (vassalos) da NATO.

2) Os europeus não ganham nada com a situação, pois terão que sofrer o «ricochete» das sanções, que irá dizimar, ainda mais, a sua capacidade industrial. A Europa não está preparada para ser auto-suficiente; ela abriu-se demasiado à globalização capitalista, às importações provenientes da China e doutros países asiáticos, desde os produtos de «baixa gama» (confeções, por exemplo), aos produtos sofisticados (por exemplo, computadores, smartphones).

3) Os chineses, como já tinha apontado noutros artigos, são os grandes beneficiários da situação. Primeiro, porque se tornaram vitais para a economia da Rússia. Também, consolidam sua aliança estratégica com a Rússia. Conseguem garantir os fornecimentos através de contratos de importação de energia, de matérias-primas e de produtos agrícolas. Vão reforçar as suas exportações industriais para a Rússia. O mercado russo-chinês, vai ser «oleado» por um mecanismo comum de pagamento, já existente, a nota de crédito em Yuan. Esta obrigação comercial de curto prazo, é remível em ouro, na bolsa de metais de Xangai. O sistema em vigor servirá como modelo para as relações comerciais destes dois gigantes com outros países, na Ásia Central, em África e na América Latina.

Nota: Aqui, neste texto, não referi diretamente o aspeto militar-estratégico, nem outros. Sei que estão imbricados aos aspetos comerciais, económicos e financeiros. Mas, quis manter este artigo facilmente legível. Fica para outra ocasião, a análise militar e geoestratégica. 

PS1: Decreto de Putin estabelecendo que os Estados hostis deverão a partir de agora usar rublos para pagar o petróleo e o gás que compram à Rússia. Isto é uma mudança qualitativa. Veja AQUI.

PS2: Alex Christoforu explica o alcance do decreto de Putin, obrigando países «não amigos» terão de usar rublos, para comprar as exportações russas (gás, petróleo, metais, cereais, etc)

sexta-feira, 11 de março de 2022

CRÓNICA (nº1) DA TERCEIRA GUERRA MUNDIAL - MÚLTIPLOS TIROS NO PÉ




Vivemos em tempos interessantes; interessantes, no sentido de algo inédito. Não é todos os dias que se observa um Império a desmoronar-se. Pois creio, sinceramente, que é este espectáculo que temos diante dos nossos olhos.

O gigante americano ficou ébrio da vitória sobre seu arqui-inimigo, a URSS. Desde então (1991), tem multiplicado as agressões. Começou depressa e em solo europeu. Lembremos que foi por sua iniciativa e com ajuda do governo vassalo da República Federal da Alemanha, que  começou o desmembramento da República Federativa da Jugoslávia. O Ocidente mostrou particular raiva contra os sérvios, que sempre foram russófilos. Toda a história da horrível guerra civil jugoslava está manchada pela ingerência «humanitária» (criminosa, na verdade) dos ocidentais, com ou sem a capa da ONU, até ao ponto máximo da guerra dita do Kosovo (1999), em que foi bombardeado pela NATO um país europeu, a Sérvia, que não estava a ameaçar nenhum membro daquela Aliança. Foi um crime de guerra, agravado pelo facto de terem efetuado bombardeamentos aéreos indiscriminados, matando e ferindo inúmeros civis, nomeadamente, em hospitais e noutros locais sem função militar, assim como na embaixada da China, um muito sério incidente diplomático. 

Mas, eles não se ficaram por aqui. Como vingança contra os Talibans, que afinal de contas, tinham dito apenas que queriam ver provas de que Osama Bin Laden estava implicado nos ataques do 11/9, para o entregar às autoridades americanas, decidiram fazer um ataque-relâmpago ao Afeganistão, com «carpet bombing», ou seja, um attaque aéreo com uma densidade de bombardeamento que não deixava pedra sobre pedra, nem qualquer sobrevivente. Foi assim que iniciaram a campanha. Depois, puseram no governo de Kabul,  fantoches por eles escolhidos:  Senhores da guerra, subsidiados pela CIA, que se dedicavam a proteger o cultivo do ópio e a traficá-lo na Ásia Central. Também tinham interesse num projetado gasoduto, que conduziria o gás natural da Ásia Central, para portos nas costas da Ásia do Sul e daí, para o resto do mundo (projeto da UNOCAL). 

Digo isto, porque as pessoas são bombardeadas pela falsa narrativa (fake news) de que «nunca tinha havido uma guerra no solo europeu desde 1945»! Com esta falsa narrativa, tipicamente orwelliana, a media mainstream está a tentar erradicar a memória do crime da chamada guerra do Kosovo. Continuam a fazer o jogo da superpotência americana e dos seus «gnomos» europeus. Quando referem a invasão e ocupação do Iraque, mostram-se falsamente objetivos, pois escondem que as causas desta invasão foram completamente diferentes. A superpotência americana não tolerava que Saddam Hussein (o ex-vassalo, que fez guerra por procuração contra o Irão Xiita, lembrem-se) se tivesse rebelado e iniciado a venda do petróleo noutras divisas (nomeadamente, o euro), que não o dólar. Isso custou-lhe a vida e de um milhão de civis iraquianos, que - supostamente - os americanos e seus aliados tinham vindo «libertar» ! 

Mas o monstro globalista entendeu que não era ainda chegado o momento de partilhar o poder, fosse com quem fosse. Obama e Hillary e os neocons que os apoiavam, fizeram a guerra da Líbia, outro Estado próspero. Era o Estado com mais elevado nível de vida, em toda a África. E tudo isto, porquê? Porque Kaddafi tinha tido a ousadia de propor, numa cimeira africana, uma moeda única africana (à semelhança do euro) para os africanos deixarem de entregar suas riquezas, a troco duma moeda sobre a qual não tinham qualquer controlo (em dólares e/ou euros). Para cúmulo, tinha proposto que o «novo dinar» fosse garantido pelas reservas de petróleo dos participantes e em ouro. Duram até hoje os efeitos da destruição da Líbia e sua transformação em campo de treino e ação para diversas fações da Jihad. Fizeram reverter à miséria total um país que foi rico. Foi transformado num Estado falido onde, nas praças centrais, se podem observar mercados de escravos (em pleno século XXI). Só quem está fanatizado, é que não vê os intuitos civilizacionais e democráticos do «Ocidente»!

A densidade e velocidade dos acontecimentos faz com seja difícil manter atualizada uma cronologia. Para mim, é ponto assente, que os que em 2013-14 incitaram e promoveram o golpe Neo-Nazi de «Euromaidan» (Victoria Nulan, o embaixador dos EUA na Ucrânia e o Presidente Barack Obama), deveriam sentar-se na bancada dos réus, dum tribunal penal internacional. Mas, tal tribunal teria de se guiar pelas regras do Direito Internacional para fazer justiça. Embora eu não acredite que tal aconteça, estou convicto que, para estes criminosos não haverá nunca perdão. São criminosos contra a humanidade. As pessoas que reviram os olhos e pensam que estou a exagerar, infelizmente, só "sabem" o preconceito, não sabem Direito Internacional, nem as Convenções de Genebra, nem a Jurisdição resultante dos Julgamentos de Nuremberga, nem os princípios e declarações vinculativas da ONU, etc.

Claro que nenhum dos povos-mártires vai esquecer. Só para falar dos últimos 25 anos: ex-Jugoslávia, Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria, Iémen. E, agora é a vez da Ucrânia, incitada pelos americanos a fazer a guerra nos territórios do Donbass, causa imediata da intervenção russa. Também não esquecerão, que têm sido objeto de bárbaras e ilegais sanções económicas, definidas (pela ONU) como actos de guerra. Têm sofrido sanções ilegais os seguintes países: Rússia, China, Irão, Venezuela, Coreia do Norte, Cuba, etc., países não alinhados com Washington. Lembro que as convenções internacionais consideram crime, o que os ocidentais fazem constantemente: Impor sanções unilaterais (ou seja, sem a aprovação do Conselho de Segurança da ONU), sabendo muito bem que, quem sofre é a população inocente dos crimes, supostos ou reais, cometidos pelos governos respetivos. 

A loucura dos chamados «líderes» do Ocidente, chegou ao ponto de diabolizarem e encorajar atitudes raivosas e histéricas de discriminação, quando não de agressão, contra cidadãos russos. Estes, para manterem seu posto de trabalho, teriam de vir a público e por escrito declarar que estão contra Putin e contra a invasão. Estes, que não se ajoelham, mesmo que estejam de acordo com ambas as afirmações, podem recear ser destituídos da nacionalidade russa, em consequência de declaração pública, assimilável a traição. Seja qual for o motivo da recusa, os recalcitrantes são corridos, enxotados, demitidos, expulsos dos empregos. Ah! Esta União Europeia, paladina dos Direitos Humanos, estamos realmente edificados pelo seu sentido de justiça, de equidade! Que belo exemplo estão dando ao Mundo!

Agora, com as loucas sanções, o senil Joe Biden e sua coorte de neoconservadores (disfarçados, ou não) pensa estar a dar o golpe mortal à economia russa, proíbindo a importação de petróleo russo. Este constituía cerca de 7% do petróleo total importado pelos EUA, muito pouco, mas o suficiente para impedir a operação de muitas refinarias que, durante décadas, estiveram adaptadas a processar petróleo «pesado» venezuelano e, depois das sanções impostas à Venezuela (e do roubo das suas contas e de seu ouro!), recorriam ao petróleo do Yukon (Rússia) com uma composição compatível com as ditas cujas refinarias. Seria surpreendente que Biden conseguisse a reviravolta do Congresso, para anular as sanções impostas. Mas, mesmo nesta eventualidade, para a Venezuela  iria demorar dois anos, responder à procura acrescida de «crude», porque teria de repor em funcionamento poços e meios para transportar o petróleo. O preço do crude e da gasolina refinada, aumentaram exponencialmente, nos EUA. Coisa que determina - em qualquer país - uma recessão económica, visto que com o preço da gasolina, sobem os preços de todas as mercadorias, dos alimentos aos produtos das indústrias que ainda lá restam. A medida recebeu um «não» da UE e dos países tradicionalmente aliados de Washington, pois atualmente dependem em 40% (petróleo e gás) em média, das importações vindas da Rússia.

 É notável que a Rússia, no meio de tantos atos hostis, de sanções contra o seu banco central (ação inédita, o congelar dos ativos do mesmo), da expulsão do sistema SWIFT de muitos bancos russos etc., não tenha decidido fechar a torneira do gás e não receber novas encomendas de crude, dos países que adoptaram tais sanções. 

Esta guerra é híbrida. No teatro da Ucrânia, há operações militares, com mortos e feridos,  deslocados, destruição de infraestruturas. Noutro plano, o da economia e finanças, há a outra guerra, de sanções e contra-sanções. A consequência é o que estamos a presenciar em todo o mundo (inclusive, em países neutrais): os preços dos combustíveis fósseis sobem em flecha; há escassez de matérias-primas, por não-produção, ou por falta de abastecimento, ou estrangulamentos nos transportes; há receio fundado de uma crise alimentar mundial, visto que os adubos precisam de componentes do petróleo. Além disso, a Rússia e a Ucrânia, juntas, asseguravam uma percentagem muito elevada das exportações de trigo (da ordem de 30% do total mundial, salvo erro). A Rússia não usou (até agora) a arma alimentar; caso o fizesse, as nações mais atingidas seriam as do Terceiro Mundo. Vão, os «mentirosos» dos governos e da média dizer que isto tudo «é culpa do Putin», etc., mas quem se deixa convencer por tais «argumentos», é a faixa da população mais desinformada e acrítica. 

A guerra contemporânea joga-se em múltiplos planos. Não falei aqui dos ciber-ataques, prefiro deixar o tópico para outra ocasião. Resumindo, a guerra contemporânea reveste-se, simultaneamente: 

- Da forma clássica, com tropas, armamento, etc. 

-De guerra diplomática, com nações não envolvidas, a serem capturadas e arrastadas para tomar posição. 

- Da guerra económica, que no presente atinge o auge, com sanções e contra-sanções, bloqueios e mudanças rápidas de parcerias comerciais.

- De guerra cibernética, com ações de «hackers», ao serviço das agências de espionagem, quer para obter informação do inimigo, quer para danificar seus ficheiros e dispositivos.

- Finalmente, a guerra «cognitiva» (ou guerra de propaganda), está dirigida tanto às populações inimigas, como amigas

Todos nós - queiramos ou não - estamos envolvidos; quer estejamos a milhares de quilómetros das operações militares ou muito próximos, vamos ter dificuldades económicas, devido à hiperinflação, a escassez de bens (quer por falta de produção ou de transporte, ou devido ao regime de sanções); seremos bombardeados por notícias ( tal como na pandemia do COVID), muitas falsas, distorcidas, fora do contexto, impondo uma «ortodoxia» sobre todos os assuntos relativos à guerra e a posição que seria «correto», «moral», «patriótico», tomar. 

Receio que a minha posição de condenar toda e qualquer guerra e de levantar a voz por conversações de cessar-fogo, seguidas de conversações de paz, não se faça muito ouvir, nestes tempos. A «bandeira» da liberdade de expressão, sem a qual não existe democracia liberal, já caíu das mãos dos que, ontém, se diziam seus defensores. Eles são, agora, defensores duma censura férrea!

A ruína do sistema mundial capitalista está em curso. A globalização está completamente posta em causa. O dólar está em apuros e não acredito que possa continuar durante muito tempo a ser a principal moeda de reserva do sistema bancário, ou até, em termos comerciais. 

As criptomoedas mostram a sua instabilidade inerente: Não terão, no futuro, capacidade para substituir o sistema monetário, dito de Bretton Woods, já muito abalado. Mas, a única forma dum mundo caótico funcionar, quando a paz voltar, quando for necessário estabelecer um novo sistema monetário, é a seguinte: 

- Haverá várias divisas, assim como ouro e petróleo (e, talvez, outras matérias-primas), formando um cabaz, parecido com o atual «SDR» (Special Drawing Rights) do FMI, mas com estatuto muito mais amplo. Com efeito, os SDR funcionam sobretudo como moeda contabilística interna do FMI, embora seja possível os governos fazerem empréstimos em SDR e podem também ter fundos em SDR. Mas, o dólar americano continua a ser a moeda de reserva mais usada, pelos bancos centrais do mundo inteiro. Ora, isto inclui a China, a qual possui perto de um trilião em bonds do tesouro dos EUA . Ela vai tirar as suas conclusões do comportamento do Ocidente, que rouba o ouro e as reservas dos bancos centrais. Foram os casos recentes, com a Venezuela e Afeganistão. Agora, também, com o roubo das reservas do Banco Central da Rússia. A ligação estratégica entre a Rússia e China vai-se reforçar e aprofundar. Um maior fluxo comercial existirá entre eles, os dois gigantes do Continente Euro-asiático. Uma fatia substancial do comércio, abrangendo também outras nações, vai fazer-se em rublos ou em yuan, ou até com troca de mercadorias por ouro (ou certificados-ouro). O ouro vai de novo, tal como fez durante milhares de anos, entrar por via das trocas comerciais, no sistema financeiro mundial. Isto equivale à morte do dólar, enquanto moeda de reserva. Pois, será claro para muitos países que, em vez de reservas em dólares, que podem ser congeladas, ou mesmo expropriadas por decisão de Washington, mais vale terem ouro em reserva, podendo facilmente transacionar bens de importação ou exportação, por ouro (os bonds em Yuan convertíveis em ouro, no mercado de Xangai, são para isso).

Os EUA e aliados da NATO e UE, têm estado a dar tiros no pé; as medidas que tomam contra a Rússia estão a «fazer boomerang». Estranhamente, eles próprios estão a precipitar a queda do Império do dólar, a perda de sua hegemonia mundial. Não perfilho os sistemas políticos e ideológicos vigentes na Rússia ou na China; porém, reconheço que seus governos estão a usar, com inteligência e astúcia, os instrumentos ao seu dispor, nesta guerra total e híbrida, característica da  IIIª Guerra Mundial.


PS1: Omiti a guerra biológica na panóplia da guerra híbrida: Talvez seja tão ou mais horrível que a guerra atómica. Os russos encontraram na Ucrânia laboratórios, financiados pelos EUA e cumprindo encomendas dos mesmos, dedicados ao fabrico e testagem de armas biológicas, perto da fronteira com a Rússia.  

PS2 : O «think tank» Rand Corporation é extremamente poderoso e influente na determinação da política externa e na geo-estratégia do governo dos EUA. Aqui, Manlio Dinucci dá-nos a análise impressionante dos seus planos em relação à Rússia, com particular destaque para o papel da Ucrânia.  

Overextending and Unbalancing Russia.

https://www.globalresearch.ca/rand-corp-how-destroy-russia/5678456

PS3: O fim do reino do dólar está próximo. Prova disso, é a proclamada vontade da Arábia Saudita em vender petróleo, recebendo yuans. Embora continue a vender uma maioria do petróleo em dólares, a outros clientes , o «tabu» está quebrado. O Emirato de Abu Dhabi já está a alinhar-se pela mesma posição. Se os produtores de petróleo começarem a aceitar outras divisas, que não o dólar, a base financeira do império americano fica ferida de morte. Saiba porquê no artigo seguinte: 

https://www.zerohedge.com/markets/petrodollar-cracks-saudi-arabia-considers-accepting-yuan-chinese-oil-sales


domingo, 20 de fevereiro de 2022

OS VERDADEIROS INIMIGOS DA EUROPA



    - Força britânica da NATO na Estónia

A crise ucraniana é muito pouco palatável, mas funciona como reveladora:
Desde a histérica campanha mediática, insuflada pelos anúncios alarmistas repetidos de Biden e sua administração, de que a invasão russa «estava iminente», que se verifica quão bajuladores os governos da maioria dos países da OTAN/NATO se têm mostrado, em relação ao Senhor feudal, o governo de Washington.
Esta maioria de governos não inclui dois, o da França e da Alemanha, que compreendem que seus países têm nenhum interesse em ver cortadas as relações diplomáticas e comerciais com a grande nação euroasiática.
Pelo contrário, compreendem que estão a ser empurrados (mais uma vez) a fazer uma guerra americana por procuração. Quem pagaria o preço de um corte total com a Rússia, já para não falar de uma verdadeira guerra, com armas e bombas, seriam obviamente os europeus.
François Mitterrand não se poderia chamar um político destituído de realismo: foi ele que disse, numa entrevista pouco antes de morrer, que existia um inimigo mortal da unidade europeia, e que esse inimigo disfarçado, era tido como nosso aliado: os EUA.
De facto, trata-se da grande paranoia dos estrategas que dominam em Washington, pelo menos desde a época do presidente Clinton.
O perigo soviético manteve a Europa ocidental debaixo do «chapéu-de-chuva» americano, como dissuasor. Era a proteção militar americana que jogava como fator poderoso em manter os governos ocidentais, a maioria das forças políticas e, por extensão, das opiniões públicas, favoráveis à hegemonia americana. Isto manteve-se, decénios depois do fim da IIª Guerra mundial.
O povo da República federal alemã, como o de leste, não tinha qualquer laivo de independência, visto que se encontrava ou sob ocupação americana, ou soviética (no caso da Alemanha de Leste). Mas, a unificação alemã veio transformar a geopolítica do continente europeu, «congelada» de 1945 a 1990.
As peripécias políticas e militares da NATO (e fora da NATO) dos diversos «parceiros» europeus, seria um tema demasiado longo para descrever aqui, embora seja muito útil e mesmo indispensável, para se perceber o que se está a passar neste preciso momento.
Assiste-se a uma manobra de desestabilização pelos EUA, ainda não plenamente conseguida e que pode também falhar. Como disse em artigo anterior de análise sobre a crise ucraniana, trata-se de causar um bloqueio do Nord Stream 2, um embargo do gás russo (e doutros bens de exportação), por sanções, cujo preço vai ser pago pelas economias europeias ocidentais.
Note-se a coordenação anglo-americana a este propósito, com Boris Johnson a fornecer armas e peritos para treino das tropas, enquanto faz reuniões com Zelensky, sem qualquer outro motivo que não seja aparentar uma «procura da paz».
Quanto a Biden, ou melhor, aos que puxam os cordéis em Washington, têm gritado «vem aí o lobo» da invasão russa, dia sim, dia sim. Estão realmente a fazer o papel que lhes é reservado, como atores profissionais ao serviço do lobby do armamento, o maior lobby dos EUA, aquele que tem tudo a ganhar dum renovo da guerra-fria.
Com efeito, se nós tivermos em conta análises, não enviesadas, sobre o peso das despesas de defesa nos orçamentos americanos, verificamos que o nível mais alto da Guerra Fria nº1, é ultrapassado no presente. A indústria de guerra, juntamente com a indústria farmacêutica e do entretenimento de Hollywood, são grandes exportadores dos EUA, mas a indústria bélica é - largamente - a maior.
Por conseguinte, estamos a assistir a um apodrecimento da situação na «frente leste», com as barragens de artilharia dum lado e de outro das linhas de demarcação das repúblicas do Donetsk e Lugansk, com a Ucrânia. Que isto seja prelúdio para uma guerra mais intensa, com batalhas nesses territórios, só o futuro o dirá, mas existe grande probabilidade que assim seja.
Zelensky com todo o seu aspeto simpático de ex-comediante, é refém dos americanos e do setor ultranacionalista ucraniano. Não sei se ele poderá desejar pessoalmente, evitar a guerra e obter uma forma de solução pacífica, através do processo dos acordos de Minsk. Mas, sei que a maioria dos partidos representados do parlamento de Kiev, têm a retoma - por quaisquer meios - das repúblicas separatistas e da Crimeia, como objetivo claro (o que não significa que as populações tenham o mesmo ponto de vista).
Assim, a população dos restantes países está refém das intrigas de Washington, que se relaciona com o governo de Kiev como o senhor feudal com os servos. Do lado russo, não há o mínimo interesse em intervir na Ucrânia, pelos motivos já amplamente descritos noutras crónicas minhas.
Porém, é perfeitamente compreensível que, ao nível humanitário, estejam a evacuar e dar realojamento às pessoas das repúblicas do Don (crianças, idosos, inválidos e mulheres em prioridade) perante a possibilidade de uma guerra no seu solo. É perfeitamente lícito ajudar a população largamente russófona, vítima de longos anos de guerra ativa ou larvar. Aliás, numerosos cidadãos dessas repúblicas têm dupla nacionalidade, ou seja, têm documentos de cidadania russa, além de serem cidadãos ucranianos e/ou das repúblicas separatistas.
Para além dos aspetos legais, é particularmente chocante ver-se que outros russos são discriminados, humilhados, quase remetidos para a clandestinidade, nas «democráticas» repúblicas bálticas que resultaram da decomposição da União Soviética: A Letónia, Estónia, Lituânia (membros da NATO, da União Europeia e doutras instituições). As minorias etnicamente russas, destes países estão sujeitas a tudo isso. Porém, delas não se fala nunca: «Russian lives DON'T MATTER».
De qualquer maneira, se sanções duras contra a Rússia se vierem a concretizar, prevejo que os grandes prejudicados serão os povos europeus.
Os alemãs, em particular, privados de gás natural a preço acessível, para seus lares e suas indústrias. Mas, também todas as outras nações europeias, que terão muito a perder economicamente, também pela perda de comércio. Desde os frutos e legumes, aos automóveis, e passando por produtos como perfumes, modas, vinhos etc. todos eles, produtos são exportados agora e poderiam vir a sê-lo ainda mais para o grande mercado russo. Uma enorme área de comércio ficaria fora do alcance das empresas europeias.
Os EUA ficarão contentes, pois irão manter e reforçar as suas partes de mercado, não apenas nos países da Europa ocidental, como terão, mundialmente, menos competição nos seus produtos tecnológicos, em particular.
Estamos, portanto, a assistir às primeiras salvas de uma guerra híbrida, cujo desfecho é incerto, mas que tem como objetivo implícito abaixar a capacidade de autonomia e de concorrência da Europa, nos mercados mundiais. Trata-se, sem dúvida, de uma guerra contra os Estados, os sistemas económicos e os povos europeus.
O seu sucesso ou insucesso depende, em larga medida, de que uma percentagem esclarecida da cidadania acorde e veja, para além de toda a propaganda, os golpes económicos associados a estes desenvolvimentos geopolíticos.

NB1: Um pouco de refrescar da memória, sobre como a NATO e o Império americano coagem os países a pertencer à aliança, que não é defensiva mas ofensiva e claramente orientada contra a Rússia. Leia AQUI.
NB2: Da página web de Paul Craig Roberts:
 In a televised address President Putin announced this morning a military operation to “demilitarize and denazify Ukraine.”

As it is impossible to learn anything factual from the fake news Western media, I will do my best to tell you what is happening.

As far as I can tell, at this time of writing there are no Russian troops involved. Russian troops don’t even seem to have been sent to the territory of the republics. Using precision weapons the Russian military has disabled Ukrainian military infrastructure facilities, air defenses, military airfields and aircraft. Putin has announced that Ukrainian soldiers who lay down their arms will not be attacked. Tass reports that “Ukrainian troops are leaving their positions in large numbers, dropping their weapons.” Clearly, the Ukrainian soldiers have more sense than their leaders.

https://www.paulcraigroberts.org/2022/02/24/breaking-news-russia-demilitarizes-ukraine/

quinta-feira, 6 de maio de 2021

UM MUNDO... UNIPOLAR? BIPOLAR? MULTIPOLAR?


ou UM MUNDO FRACTURADO...

Isto já não se pode chamar «guerra fria». Visto que as relações entre países estão ao mais baixo nível, com medidas de agressão económica (sanções, bloqueios, embargos, tarifas, proibições de exportação) que são assimiláveis a guerra (económica) não declarada formalmente, mas com efectivação muito concreta. Os tiros podem não ser de canhão ou míssil, porém, os efeitos directos e colaterais arriscam-se a ser ainda mais destruidores que os de uma guerra com tiros. Note-se que não é lícito dizer-se que «ao menos este tipo de guerra não causa vítimas». Pois é patente que as causa, e as mais inocentes, as crianças são as vítimas principais dos embargos de exportação de alimentos e medicamentos. Trata-se de algo absolutamente repelente, efectuado sem a mínima consideração pelos direitos humanos dos povos que são alvo destas sanções económicas. Estamos a falar de um número assustador de crianças que morrem de fome, de doenças evitáveis, de doenças facilmente tratáveis. No meio da histeria da crise do Covid, os EUA e UE não tiveram vergonha em bloquear a exportação das vacinas para países do Terceiro Mundo, que não são do seu agrado. 

Não há justificação pragmática sequer para isto. Eu pergunto; estes embargos e sanções têm efeito sobre os ditadores (ou supostos tais), sobre a elite que os sustenta, nas altas patentes militares? - Não, a verdade é que estes embargos e sanções enfraquecem... mas pela penúria que causam na subsistência da imensa maioria do povo, com exclusão das elites. Estas, estão ao abrigo de tais efeitos. 

Para mim, não há nada mais odioso do que uma punição colectiva. Algo que se abate sobre todo um povo ou uma grande parte do mesmo. Um povo, que pode ou não, apoiar os seus líderes. De qualquer maneira, não existe «culpa colectiva». 

«Culpa colectiva», eu não aceito isso, em nenhuma circunstância. Nenhuma pessoa com formação humanista (resultante das Luzes de que tanto o Ocidente se envaidece), o aceita.  Embargos, que não sejam de armas e material de guerra, são fortemente condenáveis, independentemente das «razões» alegadas para os impor.

No Ocidente existe uma visão enviesada, unilateral, dando como «normal», que os seus governos usem a retórica dos direitos humanos para imporem sanções. Eles estão, na realidade a violá-los, da maneira mais cínica e atroz. Porque sabem perfeitamente que, quem vai efectivamente sofrer, são pessoas indefesas, não culpadas dos males (reais ou fictícios, não importa) dos dirigentes desses países. 

Os intelectuais e académicos, os activistas e os políticos que se reclamam de correntes anti-imperialistas, todos eles deveriam erguer bem forte o seu protesto, contra essa violação constante, continuada e deliberada da Carta da ONU, de todas as convenções dos Direitos Humanos, assinadas pelos seus países.

É mesmo absurdo e grotesco que algumas potências aleguem violações dos direitos humanos, em certos países. Desacreditam-se no imediato, ao lhes imporem sanções, pois sabem perfeitamente que (além de ilegais face à lei internacional) são uma punição colectiva, brutal e totalmente imerecida das populações, não dos dirigentes.... E eles sabem-no. 

Estou convencido que a guerra económica implacável que os EUA, com seus súbditos (incluindo Japão, Austrália, Nova Zelândia, Israel, Coreia do Sul...além dos países da NATO), estão decididos a levar a cabo contra a Rússia, a China e todos os que desejam emancipar-se das garras imperialistas, vai conduzir a um mundo fraccionado, fracturado:

- Por um lado, um eixo Euro-asiático, com a China e Rússia como locomotivas principais, uma múltipla aliança de povos e nações que têm sido espoliados, explorados e  por vezes invadidos e subjugados, tanto na era colonial como na neo-colonial (que se prolonga até hoje). 

- Por outro lado, as potências ex-coloniais e também neo-coloniais, mantidas numa aliança sob hegemonia dos EUA e apoiante de regimes bárbaros (como o da Arábia Saudita), mas que estão do «lado bom» e portanto, não são inquietados...

Esta situação é muito menos estável que a «Guerra Fria nº1»:

- Não é raro a passagem de um campo para outro, quando um chefe de Estado deseja tirar vantagem de acordos de ambos os lados, para fazer o seu jogo próprio (por exemplo, a Turquia e outros). 

Esta situação, instável, arriscada para a paz mundial, é piorada pela captura dos principais órgãos dependentes da ONU por oligarcas globalistas (a OMS, financiada e controlada, em grande parte, pelos grandes grupos farmacêuticos e pela Fundação Bill e Melinda Gates).

Nem sequer o Secretário-Geral da ONU (António Guterres, neste momento), tem independência - e meios físicos - para impor algo que desagrade ao império e aos neo-conservadores. Estes, têm tomado conta das rédeas do governo americano, e conseguem também dominar a agenda de organizações multilaterais, regionais e mundiais. Por outras palavras, a ONU não pode ser vista como elemento capaz de dissipar os perigos resultantes da guerra-fria cada vez mais quente. 

As diplomacias dos países sob ameaça, sob chantagem, sob sanções, sabem-no perfeitamente. Na minha visão, eles tentaram tudo por tudo. Estender a mão a quem se coloca na postura de inimigo é difícil, mas fizeram-no, repetidas vezes. Estão a perder a esperança em conseguir que os seus países tenham paz e boas relações com os mais diversos parceiros, de que tanto necessitam. Renderam-se à evidência; perceberam que era inútil procurar alianças, pactos, acordos ou entendimentos. Porque, do outro lado (dos governos «ocidentais» e poderes não-eleitos que os controlam), essa vontade não existe.

Abaixo, deixo links para notícias, do dia 06 de Maio de 2021, que ilustram alguns dos pontos expostos acima. Infelizmente, notícias deste género têm-se multiplicado nos últimos tempos:

 https://www.zerohedge.com/geopolitical/russia-prepared-disconnect-swift-payment-system-foreign-ministry

https://www.zerohedge.com/political/china-indefinitely-suspends-economic-dialogue-australia-relations-worsen

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

EXPEDIÇÃO NÃO-TRIPULADA CHINESA: SONDA IRÁ COLHER ROCHAS LUNARES

 Se a China for bem sucedida nesta missão, será o terceiro país, depois da URSS e dos USA, a conseguir levar a cabo tal feito.

Veja o vídeo e consulte o artigo de Eduardo Baptista, no South China Morning Post:  «Chang’e 5» da China ultrapassa a primeira grande dificuldade depois de entrar em órbita lunar»

                                          

PS 1: Obviamente, a corrida espacial, na qual a China está definitivamente em posição de destaque, ao lado dos dois outros grandes, Rússia e Estados Unidos, tem também uma componente estratégica, de desenvolvimento de sistemas de controlo remoto, de detecção e transmissão de sinal, etc que têm muitas aplicações mormente no domínio militar. Também é de notar que a China, em resultado das últimas sanções colocadas pela administração Trump, decidiu aplicar sanções recíprocas ou simétricas, abrangendo a transferência de tecnologia de Inteligência Artificial e a exportação de «terras raras». Estes 17 elementos químicos da Tabela Periódica são estratégicos, pois a China produz 80% do seu consumo mundial anual, sendo muito moroso iniciar do zero mineração, purificação e refinação dos mesmos. Eles são cruciais para aviões a jacto, satélites, lasers, radares e sonares, entre outros... 
A medida de restrição destina-se a obrigar a próxima administração, seja ela Biden ou Trump II, a sentar-se à mesa de negociações para se chegar a um entendimento aceitável para ambas as partes.

quarta-feira, 11 de março de 2020

O PÂNICO DO CORONAVÍRUS ATINGE UM PAROXISMO

                              Image result for Vittorio-Emanuele

                            (galeria Vittorio-Emanuele de Milão, completamente deserta)

É verdade que esta crise é devida a um perigo bem real. 
O coronavírus, contrariamente ao que certos irresponsáveis nos querem fazer crer, não tem uma taxa de mortalidade semelhante à gripe (0.2% nas nossas sociedades) mas muito maior, pelo menos, dez vezes mais: o coronavírus é mortal para 3.6% dos pacientes contaminados, na população chinesa. 
Mas, também é verdade que as «elites» querem aproveitar o medo do coronavírus, para fazerem passar - sem contestação - as suas medidas de reforço da mundialização.
Enganam-se os que pensam (ainda!) que a mundialização é um processo globalmente positivo para a humanidade. 
O facto é que a fragilidade das nossas sociedades fica completamente aparente com esta epidemia, com a ruptura de cadeias de produção internacionais que - desde há alguns decénios - sustentavam o nosso consumo e nosso modo de vida. 
O exemplo pior é o dos medicamentos, fabricados na China numa percentagem tal, que é impossível relocalizar a produção, no curto prazo, na Europa e América do Norte. 
É socialmente mais grave essa dependência em medicamentos, que a paragem de produção dos telefones móveis (celulares), ou dos automóveis das marcas  europeias e americanas, montados a partir de peças fabricadas em quatro continentes.

Mas, prestem atenção ao que vem aí: não sabemos ao certo o que os «think-tanks» da mundialização estão cozinhando discretamente, em reuniões não publicitadas... mas podemos ter uma certeza; o que planearem será em proveito das oligarquias, dos multimilionários e bilionários. 

Tal como o 11 de Setembro de 2001 (que foi pretexto para o governo dos EUA lançar a sua «Guerra ao Terror», com guerras de agressão contra países frágeis, que não eram realmente a causa do terrorismo), também esta epidemia servirá de álibi para intensificar a guerra comercial e de sanções contra todos os que não aceitam a hegemonia USA
- A China, a Rússia, o Irão e outros, estarão sob pressão ainda maior e os países ocidentais estarão sob chantagem permanente, não podendo ter relações normais (diplomáticas e comerciais) com estes países unilateralmente sancionados pelos EUA ansiosos, ao perder a hegemonia no continente europeu e além dele. 

Oxalá me engane, mas devemos estar preparados para situações de arbitrária privação de liberdade, de controlo draconiano da informação e de perda completa de autonomia financeira, com a digitalização forçada e total do dinheiro.   

PS1: Brandon Smith escreve...«A finalidade disto é provocar o máximo de caos. 
Esta é a razão porque a media corporativa, a  Casa Branca, o CDC  e a OMS, têm sistematicamente minorado a ameaça de pandemia, até à semana passada. 
Por este motivo, as pessoas que se preparam para a situação de escassez são acusadas por eles de açambarcadoras»
PS2: o vídeo de Jeff Berwick (Dollar Vigilante), vem reforçar o que tenho afirmado neste blog: https://www.youtube.com/watch?time_continue=1&v=reHUDk0dTjg&feature=emb_logo
PS3: Charles Gave explica o «Krach»  https://www.youtube.com/watch?v=nc2vu4QfrZI