É caso para perguntar a todos os que se dizem de esquerda e que fazem o papel de «idiotas úteis» dos imperialistas, agora, mesmo quando estes estão desmascarados como tendo preparado, equipado e enquadrado nazis ucranianos. Com efeito, tem vindo à tona um conjunto de factos, que provam a colaboração da NATO e o treino, durante oito anos, das milícias de extrema-direita Azov e Aidar, na Ucrânia. Estas forças, inicialmente milícias, foram depois incorporadas nas fileiras do exército ucraniano. Em muitas unidades, um em dez militares, tem ligações à extrema-direita, quando a sua proporção, na população geral, é muito menor. Hoje mesmo, soube que um general canadiano, tinha ficado encerrado junto com os restos do «Batalhão Azov», em Mariupol no complexo fabril de Azovstahl. Ele terá tentado escapar, mas foi intercetado e capturado pelos russos. As pessoas antifascistas no Ocidente, devem reconhecer que esta campanha militar é dobrada duma campanha de desinformação que ultrapassa tudo o que conhecemos até aqui. Sou capaz de me lembrar das campanhas dos EUA e seus aliados da NATO, para denegrir inimigos, quer movimentos de libertação, quer forças nacionalistas que lutavam contra os EUA e/ou aliados dos EUA.
O nível de desinformação é muito superior, agora, sobre a guerra na Ucrânia. É uma campanha de mentiras quotidianas, dando falsas informações sobre o que se passa na frente de batalha, para dar a impressão que os russos estão em maus lençóis, que estão em dificuldades, que as tropas ucranianas conseguem dar duros golpes ao inimigo, etc.
Estas campanhas da NATO, com todo o aparato de agências de «informação», são acompanhadas por uma ofensiva de silenciamento, de censura, de intimidação, sobre pessoas e organizações jornalísticas independentes. A campanha terrorista dos governos designa estas pessoas como «inimigas internas», porque querem dar uma informação não enviesada, querem ouvir o que o «outro lado» tem para dizer, querem discutir livremente as questões que se colocam.
A censura é do nível mais elevado que eu conheci, desde os tempos da ditadura fascista. Aquando da libertação de Portugal dessa ditadura, em Abril de 74, eu tinha 19 anos, portanto, lembro-me bem e estava consciente do ambiente que se vivia nos últimos anos desse regime.
Nunca vi, também, uma confusão tão grande no espírito de pessoas, que eu julgava serem mais perspicazes. Não venham insinuar que, se eu estou contra a NATO, é «porque sou a favor de Putin», as simplificações e as condenações apressadas são o que pavimenta o caminho para o ódio, a intolerância, o fascismo.
Não preciso de mudar um iota da minha posição, a favor da paz. Verifico que o povo ucraniano está a ser sacrificado, pois ele é forçado a combater, quando não existe qualquer hipótese de reversão da situação militar. A eternização das operações de guerra tem como efeito muitos mais mortos, feridos e deslocados. O avanço russo vai tornar muito difícil recuperar o território perdido, à mesa de negociações. Quanto mais durar a guerra, pior para a Ucrânia, mais difícil será um pós-guerra, enquanto nação independente.
Infelizmente, o regime de Kiev está capturado por dois lados: Por um lado, os setores de extrema-direita têm um peso desproporcional (em relação aos seus votos), conseguem chantagear toda a classe política ucraniana (este regime é um dos mais corruptos do mundo). Por outro lado, o governo de Kiev, é refém do apoio dos EUA/NATO, que são quem dita diretamente a Zelensky o que deve ou não fazer*. São eles que estão a fornecer as armas, as dezenas de biliões de dólares, e que fazem 24h/24h a propaganda hostil à Rússia. Isto tem um objetivo muito concreto: pensam que assim enfraquecem a Rússia, obrigando-a a combater durante longo tempo, a empenhar mais esforços que os inicialmente previstos, etc.
Finalmente, com esta guerra total (em todas as frentes) eles pretendem justificar (em termos de propaganda) as sanções que foram ao ponto do roubo das reservas do banco central russo, de expropriar cidadãos russos, só porque são russos, etc.
Estas sanções brutais não foram surpresa para o governo russo. Este tinha já tomado medidas para diminuir o seu impacto, anos antes da invasão de 24 de Fevereiro. Putin discutiu o assunto com Xi Jin Pin, aquando da cerimónia de encerramento dos jogos olímpicos de inverno de Pequim, a 4 de Fevereiro. Sem a «luz verde» do presidente chinês, provavelmente, PUTIN NÃO TERIA AVANÇADO.
Estão, portanto, a fazer tudo de acordo com o planejado. Eu não tenho dúvida que os serviços secretos e os especialistas dos dois países, que se debruçam sobre as políticas do Ocidente, soubessem de antemão que a resposta a uma invasão russa seria de sanções muito severas.
Com efeito, as sanções são severas. Mas, algumas só na aparência, pois o bloco Sino-Russo está bem dotado de meios - desde energia, matérias-primas, capacidade industrial e agricultura - para as aguentar. Pelo contrário, os povos do «Ocidente» e em especial da Europa, são vítimas das decisões dos seus próprios governos.
Mas, pior ainda, é a catástrofe que já está a abater-se nos países «do Sul», ainda mal refeitos das enormes perdas causadas pelos vários lockdown e pelo corte de meios de subsistência, nos dois anos de «pandemia de COVID». Estes países tiveram de pedir muitos empréstimos para enfrentar a situação e, agora, têm uma incapacidade ainda maior em enfrentar a generalizada subida de preços. Mas isto não é manchete nos media ocidentais: Mais uma vez, ignoram os problemas que afetam cerca de metade da população do mundo.
Aconselho as pessoas que me leem a descolar da propaganda de qualquer dos lados mas, sobretudo daquela onde vivem muitos dos meus leitores, nos países ocidentais. Não deixem de olhar criticamente o panorama, o clima que está criado. Sobretudo, não confiem que - qualquer das partes em conflito - transmita informação objetiva. Vejam, antes de mais, o que se passa no quotidiano, notem a repressão sobre todas as ideias e manifestações que vão contra as posições oficiais dos governos: Em tempo de guerra, o que eles chamam democracia, é roupagem dispensável, que é dobrada, embalada e guardada num armário!
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* Nota: Em finais de Março, a delegação ucraniana às conversações para um cessar-fogo, na Turquia, fez um volte-face brusco: recusou concessões feitas pouco tempo antes, o que fez com que um cessar-fogo ficasse indefinidamente adiado. Vários observadores pensam que esta mudança resultou de pressões americanas sobre o governo Zelensky.
NB1: Um artigo de Pepe Escobar dá a dimensão dos desafios que a Rússia tem de enfrentar. A não perder!
https://www.strategic-culture.org/news/2022/05/06/megalopolis-x-russia-total-war/