terça-feira, 3 de setembro de 2024
O IMPÉRIO BRITÂNICO, COMO SE TORNOU IRRELEVANTE?
quarta-feira, 31 de maio de 2023
ARTIGO: «A EXTORSÃO DOS PAÍSES DEPENDENTES»
Retirado do jornalmudardevida.net , com autorização dos editores. Um muito obrigado de Manuel Banet.
A extorsão dos países dependentes
Editor / Xin Ping — 28 Maio 2023
O “mistério” da pobreza recorrente dos países dependentes, ou das suas sucessivas insolvências, fica mais claro quando se entende o mecanismo de extorsão sistemática praticada contra eles pelo capital imperialista. A grande finança tem neste processo um papel determinante. Debaixo da designação respeitável de “fundos de investimento” abrigam-se verdadeiras equipas de profissionais do crime organizado (dotadas de especialistas de toda a natureza: jurídica, financeira, política…) que avaliam as presas e decidem quando e como as atacar. Merecem por isso a designação mais justa de fundos abutres.
Conhecemos o caso da falência do BES e da entrega (uma compra a preço zero) do Novo Banco ao fundo de investimento Lone Star. Neste negócio, consumado em 2018, a Lone Star apoderou-se de 75% do capital do Novo Banco, ficando o Estado com 25%.
Mas, enquanto a Lone Star se comprometeu a financiar o NB com mil milhões de euros, o Estado português — pela mão do então primeiro-ministro Passos Coelho, da ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque, do governador do Banco de Portugal Carlos Costa e do ex-secretário de Estado dos Transportes Sérgio Monteiro, contratado pelo Banco de Portugal para operacionalizar a transacção — obrigou-se a injectar no NB até 3,9 mil milhões de euros. Isto, depois de outro tanto ter sido enterrado em 2014 aquando da falência do BES. Como se sabe, todos aqueles milhões foram reclamados pela Lone Star até ao último cêntimo e pagos sem piar pelo Estado.
Disse então Carlos Costa que a operação era “um marco importante para o sistema financeiro português”. A garantia de Coelho e de Albuquerque de que a resolução do BES não teria custos para os contribuintes foi, obviamente e esperadamente, letra morta.
Em países ainda mais vulneráveis que o nosso, a manobra dos fundos abutres tem outros contornos e consequências ainda mais desastrosas, abeirando da falência os próprios Estados. Foi o que aconteceu nos casos da Argentina e do Peru que o artigo de Xin Ping, publicado na Global Times, descreve em pormenor.
Curiosidade: a Elliott Capital Management referida no artigo é a mesma que intentou, em 2015, uma acção judicial contra o Banco de Portugal alegando perdas em consequência da resolução do BES, consumada em 2014. A causa foi defendida junto dos tribunais portugueses pelo escritório de advogados PLMJ, de que é sócio José Miguel Júdice — co-fundador, em maio de 1975, do MDLP, com Spínola e Alpoim Calvão, agora reconvertido em comentador político com assento televisivo semanal. Procurando dar uma imagem digna da Elliott, disse então a PLMJ que se tratava de “clientes institucionais que investem por conta de pensionistas, contribuintes e outros beneficiários”. Com sede em Nova Iorque, a ECM gere fundos no valor de 25 mil milhões de dólares.
A FOICE DA DÍVIDA: COMO O OCIDENTE CEIFA O MUNDO
Xin Ping, Global Times, 22 fevereiro 2023
“Foi uma situação de extorsão!”, queixou-se o então ministro argentino da Economia, Axel Kicillof.
A Argentina, que não pagou a sua dívida soberana a tempo à Elliott Capital Management, um fundo de investimento (hedge fund) dos EUA, foi levada à justiça em 2014. A Elliott, que adquirira cerca de 170 milhões de dólares em títulos do governo argentino por muito menos do que o seu valor original, exigiu um reembolso total de mais de 1,5 mil milhões de dólares [lucro superior a 780%]. As negociações entre a Elliott e o governo argentino acabaram por fracassar.
O fracasso de um acordo com a Elliott levou ao incumprimento da Argentina pela segunda vez desde 2001, resultando num duro golpe para a sua economia.
O mesmo aconteceu com o Peru. A mesma Elliott Investment Management comprou 11,4 milhões de dólares em títulos do governo peruano em 1996, depois rejeitou o acordo de reestruturação da dívida do governo peruano e avançou com uma acção legal. Em 2000, a empresa norte-americana ganhou o caso e recebeu 58 milhões de dólares, com um retorno sobre o investimento de mais de 400% [em apenas quatro anos].
Como disse Joseph E. Stiglitz, professor de economia da Universidade de Columbia, “temos tido muitas bombas lançadas pelo mundo fora, mas isto é a América a lançar uma bomba no sistema económico global”.
O fundo de investimentos Elliott e outros do tipo ganharam o título de “abutres” e são atacados pelos países em desenvolvimento como “financeiros sem escrúpulos”.
Em grande medida, o problema da dívida dos países em desenvolvimento resulta da “colheita” sistemática feita pelo Ocidente. Ou seja, os EUA e outras economias desenvolvidas têm usado a sua hegemonia económica para onerarem os países em desenvolvimento com pesados fardos de dívida através de vendas a descoberto mal intencionadas e empréstimos massivos.
Uma pesquisa do Eurodad [1] mostra que as instituições financeiras ocidentais detêm 95% dos títulos soberanos do mundo, totalizando mais de 300 mil milhões de dólares, tornando-as a maior fonte de pressão de pagamento da dívida para os países em desenvolvimento.
O ministério das Finanças da Zâmbia diz que a dívida dos credores comerciais ocidentais representa 46% da sua dívida externa. Em abril de 2021, a dívida externa total do Sri Lanka era de quase 35 mil milhões de dólares, dos quais cerca de 50% têm origem na Europa e nos EUA, de acordo com uma reportagem da Radio France Internacional.
Os credores comerciais ocidentais cobram taxas de juros mais altas e, na sua maioria, flutuantes. De acordo com o Banco Africano de Desenvolvimento, as taxas de juro das obrigações do Estado a 10 anos dos países africanos dominados pelo Ocidente variam entre 4% e 10%. Em comparação, como revelou o Debt Justice [2], a taxa média de juros dos empréstimos oficiais e comerciais da China à África é de 2,7%, muito abaixo das dos países ocidentais.
Os repetidos aumentos das taxas de juros do Fed [banco central dos EUA] e o rápido fortalecimento do dólar norte-americano levaram a um aumento no custo do serviço da dívida para títulos denominados em dólares, colocando enorme pressão sobre os países em desenvolvimento para pagarem as suas dívidas. Além disso, à medida que as altas taxas de juros atraem grandes quantidades de dólares de volta para os EUA, os países em desenvolvimento viram as suas moedas desvalorizarem-se, aumentando ainda mais os seus custos de serviço da dívida.
Uma economista americana nascida na Zâmbia, Dambisa Moyo, argumenta que, em vez de mudar a vida dos povos africanos, a atitude dominadora e paternalista dos países ocidentais em relação à ajuda à África colocou as sociedades africanas num status quo sem desenvolvimento, deixando os países africanos mergulhados na armadilha da dependência da ajuda externa.
De facto, o financiamento dos países ocidentais à África concentra-se principalmente em áreas não produtivas, e a maioria dos empréstimos inclui pré-condições políticas, como direitos humanos ou reformas judiciais. Infelizmente, tais programas de financiamento não promovem realmente o desenvolvimento económico, nem aumentam a receita tributária do governo ou melhoram a balança de pagamentos.
Além disso, os credores comerciais ocidentais e as instituições multilaterais, que representam a maior parte dos créditos, recusaram-se sistematicamente a participar em importantes acções de redução da dívida sob o pretexto de manterem as suas próprias taxas de crédito.
Nunca esqueceremos que os problemas de endividamento dos países em desenvolvimento são, no essencial, o legado de uma ordem económica e financeira mundial injusta e predatória, dominada pelos EUA e por outros países ocidentais ricos.
A dívida, efectivamente, transformou-se numa foice afiada para eles ceifarem o mundo.
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Tradução MV
Notas da tradução
(1) Eurodad, European Network on Debt and Development (Bruxelas). Rede de organizações não governamentais. Advoga o “controlo democrático” do sistema económico e financeiro.
(2) Debt Justice. Acção desenvolvida pelo Eurodad. Pretende combater os empréstimos “irresponsáveis, exploradores e corruptos, e cancelar dívidas injustas”.
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quinta-feira, 1 de setembro de 2022
O DINHEIRO DOS OUTROS ? ... DE QUAIS OUTROS?
«O problema com o socialismo, dizia Margaret Thatcher, é que no final esgota-se o dinheiro dos outros»
Eu não quero fazer aqui a refutação desta célebre frase, nem argumentar de alguma maneira se isto é «socialismo», se é a essência do socialismo. Obviamente, trata-se duma frase-choque, propagandística, que, no seu cinismo, tem sido utilizada «n» vezes pelos neoliberais para, supostamente, desfazerem todos os argumentos favoráveis ao socialismo.
Ora, o problema com esta frase é que, afinal, ela se ajusta muito bem para descrever o capitalismo parasitário, descabelado, mafioso, que tem predado os países ditos de democracia liberal, principalmente os países da Europa ocidental (Países da UE, Reino Unido) e América do Norte (EUA, Canadá).
Com efeito, nos cerca de 40 anos de contrarreformas «neoliberais», os sectores empresariais conseguiram situações de monopólio ou de oligopólio, como beneficiários de ondas sucessivas de privatizações. Esta entrega, pelos governos aos privados, abrangeu vários domínios tradicionalmente reservados à propriedade pública, administrada segundo o critério do interesse público e não seguindo a lógica empresarial, ou seja, a do lucro: Saúde pública, transportes públicos, escolas, pensões, até mesmo, prisões ... Tudo isso tem sido privatizado «a marchas forçadas» e sempre seguindo o «script» neoliberal.
Os resultados, como todos nós podemos constatar, em termos de qualidade, eficiência e universalidade destes serviços, piorou a olhos vistos, em vários sectores, senão em todos. Isto não é para surpreender alguém que tenha uma visão clara do funcionamento típico da empresa privada: Com efeito, esta funciona, em primeiro lugar, para obter rendimento para os seus acionistas. Se um hospital privatizado tem deficiências crónicas no pessoal auxiliar, enfermeiros e médicos, isso deve-se a uma política deliberada de baixos salários, de sobrecarga laboral, etc. Não admira que tal aconteça, num contexto em que a oferta pública não exista ou, se existe, é demasiado exígua, também ela sofrendo de vicissitudes várias.
Neste exemplo, tal como se verifica noutras empresas sujeitas a privatizações, a entidade privada, uma vez conseguida a situação de monopólio e perante reguladores estatais que não o são, irá fazer com que a rentabilidade do investimento seja maximizada, como em qualquer outro negócio.
Pois bem, as privatizações de empresas estatais ou de segmentos da administração pública, correspondem a privatizar algo que foi um investimento de longa duração, da sociedade no seu todo, que contribuiu, pelos seus impostos e pelo trabalho dedicado de gerações de seus próprios funcionários, à construção, desenvolvimento e manutenção destas instituições de interesse público. Portanto, o povo foi esbulhado, pela mão criminosa de governos corruptos, ao serviço da oligarquia, para servir esses interesses privados e sabendo muito bem que estava a ceder valiosas organizações e empresas públicas, «por um prato de lentilhas». Pior ainda, sabendo que, ao retirar do Estado a posse destas empresas públicas, estava a fazer com que ele perdesse controlo efetivo sobre serviços indispensáveis, fundamentais na vida coletiva, como saúde, escola, vias de comunicação, etc, etc.
O neoliberalismo foi uma contra-reforma à era de social-democracia, em que a economia e os Estados se encaminhavam em direção a economias «mistas», com um forte sector público e um sector privado também forte, mas regulado.
A desindustrialização, levada a cabo - em simultâneo - em quase todos os países ocidentais, permitiu a transferência de indústrias para os países do chamado Terceiro Mundo. Essa política, permitida e encorajada pelos neoliberais aos comandos dos vários governos, teve múltiplas consequências desastrosas:
- Aumentou o desemprego. Isto foi vantajoso somente para a classe capitalista (no curto prazo), pois exerceu pressão para baixo nos salários.
- Diminuiu a autonomia dos países, que se tornaram importadores líquidos de bens manufaturados e não exportadores, como tinham sido durante décadas e séculos!
- Potenciou a financeirização da economia, o que se traduziu pelo hiperdesenvolvimento do setor não-produtivo, mas especulativo, da finança. Por sua vez, face ao liberalismo dogmático reinante, os países tiveram de aceitar a «livre circulação de capitais», o que se traduziu numa sangria de capitais para paraísos fiscais, sobretudo, onde tinham maiores taxas de juro e menores (ou zero) impostos.
- Retirou aos Estados a sua base de impostos. A redução do número de empresas sediadas nestes países e capazes de gerar lucro, implica a perda de impostos para o Estado. A redução do número de trabalhadores também causa perda de impostos (impostos do trabalho).
Como se pode verificar, o que aconteceu com o triunfo do neoliberalismo, com as políticas concretas de privatização e de desregulamentação, assim como a aceitação (ou, mesmo, o convite!) da exportação da base industrial para os países do Terceiro Mundo, foi o equivalente a um enorme saque, uma transferência de riqueza dos pobres para os ricos e um empobrecimento geral duradouro destas sociedades.
As classes laboriosas de todos os países ditos ocidentais, deveriam pedir contas aos capitalistas e governantes, que são os responsáveis pelo estado deplorável e o recuo muito acentuado das condições de vida que estão experimentando.
A «justificação» do COVID, primeiro e da invasão da Ucrânia pela Rússia, depois, como responsáveis pelos males que assolam o planeta deve ser varrida como narrativa falsa, fabricada por aqueles que querem esconder sua responsabilidade na destruição económica dos seus próprios países ao longo de décadas e que se traduz no presente colapso.
Para mim e para quaisquer pessoas lúcidas, a frase célebre de Margaret Thatcher deveria ser reescrita assim:
«O problema com o capitalismo neoliberal, é que no final, esgota-se o dinheiro dos outros»
domingo, 27 de fevereiro de 2022
[Charles Hugh Smith] SISTEMA FINANCEIRO ESTÁ OTIMIZADO PARA OS SOCIOPATAS E A EXPLORAÇÃO
https://www.financialsense.com/contributors/charles-hugh-smith
Vivemos num momento particular da história, em que a verdade foi banida, como ameaça à maximização do lucro privado, ou seja, a híper-procura do interesse egoístico. As provas que apoiam uma cadeia causal foram substituídas por factos escolhidos a preceito, que apoiam a narrativa auto- justificadora: quer as provas, quer a narrativa, são construídas para servirem os interesses da pequena minoria à custa da imensa maioria.
Neste momento da história, as evidências são facilmente contestadas, porque o processo de fabricar provas auto- justificativas tem sido aperfeiçoado. As provas auto- justificativas são, agora, um produto que se pode comprar a preceito: Falseie o tamanho da amostra, manipule os dados com estatística, evoque um contexto para enquadrar as evidências de modo a que se incline para um dos lados (o seu), omita as evidências desinteressadas e polvilhe com matemáticas obscuras, e aí tem... As evidências e as narrativas são apresentadas como «factos», em vez do que realmente são, a trapaça elaborada, bem encenada, construída para maximizar os ganhos privados da ínfima minoria e explorar a imensa maioria.
Para que todo o sistema esteja ao serviço da ganância patológica duns poucos, o melhor é desvalorizar a verdade, relegá-la a uma mera opinião entre outras e as cadeias causais, a meras narrativas. Neste momento da História, a verdade foi rebaixada a simples quimera; existe apenas opinião e todas as opiniões são iguais. Todas as opiniões se reduzem a crenças e todas as crenças são iguais. Todas as narrativas se valem. Todas as questões se reduzem a valores: os valores são todos igualmente desenraizados, flutuando livremente, e valem todos o mesmo: zero.
Esta trapaça atingiu a perfeição no sistema financeiro, que está agora otimizado para a exploração em benefício dos sociopatas. Como explicou Nassim Taleb (com referência a Adam Smith), os mercados só funcionam se existirem regras, impostas por igual a todos os participantes. No presente sistema, há dois conjuntos de regras: um, que se pode resumir a «vale tudo» para os super-ricos e bem relacionados, e outro para todos os restantes.
Tosquie biliões às ovelhas, pagará uma multa modesta e, se todas as suas apostas saírem furadas, será resgatado porque o seu negócio é demasiado importante para falir. Desvie uma pequena soma dum banco, ou agência financeira e vai parar à prisão. Venda um produto financeiro que foi desenhado para fracassar , como se fosse de baixo risco. E então?! O cliente que tomasse mais atenção! Afinal, isto é o livre mercado a operar. Venda uma pequena quantidade de droga e vai parar ao inferno prisional.
- Dois conjuntos de regras: um simulacro de regras para os ricos - mais outra trapaça - e regras punitivas para todos os outros.
Visto que as evidências, as cadeias causais e os valores foram desprezados, já não existe o reconhecimento de que o desejo do ganho (a ganância) tanto pode desencadear exploração, como ser benéfica para o coletivo. Se o vosso desejo de ganhar leva a que façais um produto que é melhor, mais depressa, mais barato, com maior durabilidade e eficiência do que os produtos concorrentes disponíveis, o vosso ganho é o resultado de um avanço, que também serve os interesses da grande maioria.
Se o vosso desejo de ganho vos leva a construir algo - um objeto, ou um produto financeiro - defeituoso, desenhado para falhar (como as hipotecas fraudulentas ou os produtos-lixo que se destinam a encher os aterros), ou se subir o preço, simplesmente porque pode fazê-lo, a vossa ganância serve apenas os vossos interesses, à custa da maioria. Isto é a combinação perfeita da exploração. Cleptocratas e sociopatas, rejubilam neste ambiente!
Este sistema está otimizado para a exploração, pois os exploradores podem explorar as pessoas comuns, sem que elas percebam que foram saqueadas. Já não temos os meios para distinguir a fraude do facto, nem a exploração, de mercados baseados em regras.
Ezste contexto de generalizada exploração e degradação é o "Céu na Terra" para os sociopatas que não veem qualquer diferença entre ganhos obtidos esbulhando o próximo e obtidos por fornecer um produto/serviço de melhor qualidade. Eles prosperam, explorando o sistema e os seus participantes: assalariados, sócios, fornecedores, depositantes, devedores, credores e clientes.
Mas, na desoladora paisagem causada pela exploração e supremacia do interesse egoístico, algumas coisas continuam a ser verdadeiras e outras falsas. Algumas verdades permanecem evidentes por si próprias. Tal como tenho mostrado muitas vezes, podemos ver o salário/horário e o custo dos produtos e serviços essenciais em 1980, 1990, 2000, 2010 e no presente e fazer um cálculo de quantas horas de trabalho foram necessárias para pagar as despesas essenciais, como aluguer, cuidados de saúde, custos de educação das crianças, transportes, etc. Estes cálculos revelam que a capacidade aquisitiva dos salários tem vindo a descer durante as últimas décadas. Esta evidência não pode ser nulificada com declarações de que seja opinião, crença ou «um conjunto diferente de valores» --porque é um facto.
Se nós medirmos prosperidade pelo trabalho necessário para comprar as coisas básicas, todos, exceto os do topo da escala salarial, são menos prósperos hoje. Estes factos e esta cadeia causal são evidentes, por si próprios. Alguns dos que recolheram os ganhos produzidos na economia pelo trabalho da grande maioria, conseguem comprar a comunicação social mercenária, para manufaturar a ilusão de que a maioria está melhor, mas estas ditas «notícias» e «análises», só servem para nos distrair dos mecanismos de extorsão que operam "24/ 7".
Chamemos a este sistema financeiro aquilo que é, na realidade: O Metaperverso, a construção de um mundo de trapaças em benefício dos próprios, otimizado para a exploração, a perversão da justiça, o esbulhar dos muitos em benefício dos poucos, tudo isso protegido e ocultado por uma nuvem de confusão, onde tudo se equivale, na ausência de valor e onde a verdade já não existe. Tudo o que resta, são as baboseiras dos trapaceiros a competirem entre si.
quarta-feira, 26 de maio de 2021
A INFLAÇÃO AINDA AGORA COMEÇOU A LEVANTAR A CABEÇA...
Os países chamados «ocidentais», consumindo o seu excedente, cedo se aperceberam que não podiam continuar a manter a sua classe trabalhadora em situação de privilégio, não tanto por qualquer dificuldade na repartição dos rendimentos do trabalho, nem sequer por qualquer diminuição da produtividade dos seus trabalhadores.
A questão não se punha, nem se põe, deste modo para as classes dominantes (oligárquicas): o que está em jogo é mesmo a questão do domínio absoluto, incontestável, dos multibilionários, a oligarquia, sobre as restantes camadas da sociedade.
O verdadeiro problema para ela é manter o controlo num mundo instável e complexo, com pessoas que compreendem em que consiste a exploração e que desejam combatê-la.
Aquilo que a oligarquia precisa é de criar uma dependência estrutural, em todos e em cada um.
Quais são os instrumentos dessa dependência?
- A capacidade crítica, o raciocínio independente, não condicionado, a inteligência nos seus aspetos mais nobres, têm de ser suprimidos através de instrumentos que a oligarquia controla diretamente, ou através dos Estados: o ensino (um amestramento), a sociedade de consumo (condicionamento pela mercadoria), a média (que «faz a lavagem ao cérebro», na verdade - o contrário duma lavagem, pois ela «enche de merda os cérebros»).
- Mas também ela tem de criar uma dependência física, orgânica: as pessoas deixam de ter qualquer autonomia física, alimentar. Qualquer opção de vida autónoma, como o sonho ecologista duma agricultura autossustentada, é isso mesmo... um sonho. As pessoas estão fortemente condicionadas pelas poucas estruturas (hipermercados e grande distribuição, lojas «virtuais») que lhes fornecem tudo, a preço de monopólio.
- Muitas pessoas não produzirão realmente valor, os humanos serão redundantes a 80% (Fórum de Davos dixit). Muito mais eficientes serão os robots e com as vantagens de serem económicos a operar e de jamais se revoltarem... Segue-se que as pessoas receberão um «rendimento vital universal», que dará para elas subsistirem, sem se revoltarem. O rendimento será retirado à mínima manifestação de inconformismo, pelo que a sociedade será pacificada para todo o sempre (isto é o «sonho molhado» da oligarquia).
-Um primeiro ensaio desse estado de coisas surge com os lockdown (confinamentos), oficialmente por causa do COVID, mas, na realidade, como campo de ensaio sociológico à escala real. Aliás, está provado (ver aqui) que os lockdown não serviram para nada, em termos de prevenir a transmissão do coronavírus, o motivo oficial para os instaurar.
- Com os lockdown, praticou-se em grande escala o helicopter money, ou subsídio incondicional, para as pessoas estarem quietas, consumindo e não se manifestando.
- Como corolário da distribuição de dinheiro «urbi et orbi» a quantidade de dinheiro aumentou exponencialmente. Está-se agora a ver o princípio duma espiral de inflação, como nunca antes se presenciou. Sobretudo, porque é global, já não é somente uma Alemanha de Weimar, uma Argentina, uma Venezuela, etc.
- A destruição do valor das divisas fiat (de todas as divisas dos países submetidos ao imperialismo EUA) vai permitir instaurar um controlo absoluto, com base no dinheiro inteiramente digital, onde nada do que façamos com esse dinheiro será impossível de rastrear e onde qualquer transação, pequena ou grande, pode ser detetada.
- Assim, a propriedade será distribuída de um modo tão assimétrico, como descrito no livro de Klaus Schwab e Thierry Mallet, que as pessoas terão de alugar todos os meios de subsistência, não possuirão nada. É evidente que alguém ou alguma coisa deverá ter a posse desses bens: Se alguém aluga, haverá alguém que será o «senhorio».
Serão «senhorios» ... os banqueiros, os homens de negócios, proprietários de indústrias de telecomunicações, de inteligência artificial, de media, etc.
O capitalismo de nível familiar vai desaparecer por completo e, portanto, vai esfumar-se qualquer veleidade de uma pessoa ou duma família se emancipar economicamente das garras dos predadores que controlam a nossa subsistência.
Não é por acaso que o feudalismo do passado foi tão difícil de derrotar: Ele demorou muitos séculos, desde os alvores (desde a queda do Império Romano, no séc. Vº) até ao final do século XVIII e mesmo até mais tarde ... (as relações de tipo feudal subsistiram no século XIX, mesmo na Europa).
Torna-se vital equacionar os fenómenos num quadro mais vasto. Devemos compreender a lógica dos muito ricos e poderosos, sem acreditar nas ilusões por eles difundidas, tentando extrair um quadro coerente do que estamos a viver.
Só assim poderemos vogar nas águas cada vez mais agitadas da economia e política contemporâneas. Quem venha afirmar de que «não será afetado» por nada disto, está simplesmente a autoiludir-se.
domingo, 17 de maio de 2020
DEPUTADA ITALIANA: BILL GATES CRIMINOSO CONTRA A HUMANIDADE
Speech delivered to the Italian Parliament
PS1: A ficção do bilionário benfeitor é analisada neste vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=igx86PoU7v8
PS2: Onda de protestos na Alemanha, Polónia, Reino Unido e noutros países europeus. Protestam contra o confinamento, contra a perda das liberdades, contra a ameaça de vacinação em massa e forçada.
https://www.zerohedge.com/political/anti-lockdown-protests-accelerate-across-europe-second-coronavirus-wave-threat-emerges