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terça-feira, 17 de maio de 2022

DINHEIRO DIGITAL, INFLAÇÃO E OS MITOS ECONÓMICOS DO PRESENTE





Segundo Alasdair Mcleod, não existe nada mais difícil de explicar em economia, do que a subida dos preços. Vale a pena ler o seu artigo. Não irei repeti-lo ou resumi-lo, neste apontamento.

Apenas quero manifestar o meu estranhamento pela forma despreocupada como muitos cidadãos estão olhando para a presente vaga de inflação. 
Todos deveriam saber (mas não sabem) que a inflação é - em última análise - um fenómeno monetário. Ou seja, está correlacionada com a quantidade «excessiva» de moeda (papel/digital) em circulação dentro de um país e no mercado internacional. Essa massa monetária «anda à procura» de se investir em bens de consumo ou em ativos financeiros. A parte entesourada pode aumentar também (o dinheiro líquido, ou «cash») mas, este efeito não acontece em grande escala, no contexto atual. 
As pessoas são fortemente empurradas para investirem suas poupanças, quer em ações ou obrigações, quer em índices ETFs, como se estes ativos financeiros tivessem a propriedade «mágica» de superar crises e de serem capazes de conservar o seu valor, quando tudo estiver a ruir à sua volta. Não conseguem. 
O que acontece, é retornarem ao seu valor intrínseco, ou próximo dele: o valor do papel-moeda, nesta situação é zero, ou próximo de zero. Assim é com todos os ativos avaliados em termos de moedas «fiat».

 A única possibilidade de escapar ao efeito triturador da inflação sobre os ativos, é convertê-los em bens cuja existência seja independente dos acasos da finança especulativa: os terrenos, o imobiliário, os metais preciosos, os objetos de arte e coleção. 
Todos os outros estão sujeitos a que seu valor se reduza a zero. De que serve ser-se «trilionário» em dólares do Zimbabwé, se isto significa ter a capacidade aquisitiva para comprar três ovos de galinha?

A mudança em curso é desejada pelos bancos centrais. Não pensem que eles estão a fazer as coisas pelo melhor, mas que são «desastrados» ou «estúpidos» e sai-lhes tudo ao contrário! 
- Não, quem pensa assim é que está a ser estúpido! 
- Se analisarmos informação pública vinda do BIS (Banco Central dos Bancos Centrais), dos Bancos centrais principais (FED, BCE, Bank of England, PBC, etc.) e de governos, vemos claramente que estão numa corrida para DESTRUIR O VALOR DAS SUAS RESPECTIVAS DIVISAS. Isto parece absurdo, à primeira vista. Mas o contexto é tudo; é que se acumulou dívida, toda a espécie de dívida - pública, privada, corporativa, soberana, etc.
Estão desesperados por encontrar uma saída para esta dívida monstruosa, que já começa seriamente a afetar os seus negócios e portanto a sua taxa de acumulação. Encontraram a digitalização do dinheiro a 100 %, como fórmula mágica, que irá fazer «desaparecer» o problema. Na teoria, essa dívida nunca desaparece; mas na prática sim, porque quem não tiver capacidade para pressionar o sistema judicial e político, para reaver o que lhe devem, ficará espoliado, na prática. 

Por isso, fazem tudo para tornarem inadiável, impossível de evitar, a tal introdução das DIVISAS DIGITAIS EMITIDAS PELOS BANCOS CENTRAIS. Esta é a razão pela qual a oligarquia está freneticamente comprando terrenos, casas, bens diversos e ouro, muito ouro; porque ela sabe perfeitamente o risco de manter o grosso da sua fortuna em papéis sujeitos a especulação. 
Sabe perfeitamente que apenas se deve atribuir pequena fração dos ativos a investimentos muito arriscados. Nestes, também se inclui o bitcoin e todas as criptomoedas emitidas fora do controlo dos Estados. 
Isto porque, no momento que os governos e bancos centrais decidirem (de repente), esse instrumento deixará de possuir qualquer valor: basta que seja interdito ser transacionado por «moeda digital estatal», entretanto instaurada pelos Estados e Bancos Centrais. 
Neste momento, o detentor de criptomoedas «livres» pode usar essas, apenas e somente, como quando usa «notas de banco do Monopoly» só possuindo valor dentro desse jogo.

Neste momento,  já alguns compreenderam o jogo, fazem tudo para empurrar as pessoas da classe média empobrecida para o precipício das bolsas, dos índices, os hedge funds, das criptomoedas
Eles sabem que estão a arrastar as pessoas honestas e crédulas para algo muito mau, mas eles não fazem isso por maldade pura e gratuita. 
Fazem-no porque é a maneira deles próprios se «desencravarem», de vender tais ativos, que estão na «estratosfera» agora e ainda irão mais alto, isto é, até desaparecerem como fumo. 
Perguntem sempre a vocês próprios se alguém tem, ou não, interesse próprio («skin in the game» Nassim Taleb) ao fazer uma determinada projeção, ao sugerir esta ou aquela estratégia.



O meu interesse é simplesmente avisar os meus concidadãos. Sei que a crise será profunda, duradoura e destruidora. Talvez algumas pessoas amigas, conhecidas ou desconhecidas, me leiam e compreendam que eu não tenho motivação de lucro pessoal, para dizer o que estou a dizer. Tão pouco tenho motivação ideológica deste tipo. 
Apenas sei que quanto mais miséria, violência, destruição houver no mundo e - também - à minha roda, mais miserável vai ser a minha vida e a vida dos que eu amo.

Voltando ao artigo de A. Mcleod, penso que o título é irónico, pois a dificuldade de compreender a questão da inflação, é nula. A questão é que os interesses colocam todo um jogo de espelhos e de nevoeiro, para tornar incompreensível a questão da inflação ao «não-iniciado». Com efeito, é com a ignorância alheia que os trapaceiros conseguem manter seus «esquemas de Ponzi» a funcionar, é assim que continuam a enriquecer à custa da falência alheia.

domingo, 28 de novembro de 2021

A GRANDE REINICIALIZAÇÃO, OS "SDR" E O OURO



O domínio da grande finança sobre a economia e a política mundiais, não são de hoje. Esta grande tendência pode se fazer remontar à véspera da 1ª Guerra Mundial, com a «Round Table», para não irmos até ao pós-Waterloo, em que o triunfador foi o império Rothschild, tanto ou mais que o império Britânico.
O processo de tomada de controlo dos grandes bancos transnacionais é um processo constante, mas entrecortado por períodos paroxísticos. Um exemplo disso é a constante desvalorização em termos reais das divisas como o dólar, ou outras divisas ditas «fortes». Desde a criação da Reserva Federal, em 1913, o dólar perdeu 98% do seu valor em relação ao seu poder aquisitivo, nomeadamente, em relação ao ouro. Este, no longo prazo, tem-se valorizado, mantendo a paridade de poder de compra, ao contrário das divisas.
Mas, como estamos num período charneira, as medidas longamente congeminadas em fóruns ou em reuniões da oligarquia, vêm à superfície, como se fossem grandes novidades.
Por exemplo, a indexação das divisas ao ouro podia fazer-se ao integrar este nos SDR (Special Drawing Rights = Direitos de Saque Especiais, «moeda contabilística» do FMI).
Os SDR são unidades formadas por um cabaz de 5 moedas (o dólar, o euro, o yen, a libra e o yuan), mas seria possível alargar esta "moeda contabilística" para aí incluir o ouro. Ou seja, a cotação do ouro entraria no cálculo do valor da unidade SDR. Assim, os valores das moedas contidas no cabaz estariam adossados (ou com uma indexação flexível) ao ouro. Note-se que também as restantes moedas estariam adossadas ao ouro, indiretamente, através de sua taxa de câmbio com aquelas presentes no cabaz.
Por que motivo esta mudança pode ter significado para a resolução da crise monetária?
- Porque, contrariamente a quaisquer divisas («dinheiro-fiat») o ouro é uma entidade física; está em quantidade limitada, a sua abundância em termos de mineração rentável vai diminuindo; a mineração, refinação e todas as operações conexas, implicam dispêndio de muito trabalho, muita energia. Não é comparável com o carregar de um botão, num banco central, para criar tantas unidades de «moeda-digital» que se queira.
Aliás, o projeto de instaurar moedas digitais («cripto-moedas») pelos bancos centrais, enferma dessa grande debilidade que é manter-se, exatamente como agora, a possibilidade de criar tantas unidades monetárias quanto se queira, ou quanto os que controlam o banco central queiram.
No caso deste cabaz de moedas do FMI incluir o ouro, a situação de flutuarem demasiado umas em relação às outras, não se poderia verificar como agora se verifica. Por exemplo, os empresários que importam ou exportam têm de ter um seguro cambial, para o caso de terem negociado a compra ou venda de matéria-prima ou produto, sendo este preço rentável apenas num determinado intervalo cambial. Grandes oscilações de câmbios ocorrem, especialmente em contratos que são firmados para o longo prazo. Tudo somado, a estabilidade cambial de longa duração entre divisas, vai beneficiar a indústria, o comércio e também as pessoas comuns, visto ser um fator estabilizador dos preços.
Porém, a grande reinicialização («great reset») está desenhada por oligarcas, por muito ricos, que não querem abrir mão do controlo das riquezas e do poder (lembram-se da frase «programática» de Schwab: «não possuirás nada e serás feliz»?). O que eles estão a fazer é tomar controlo de tudo o que é rentável ou potencialmente rentável. Os Estados serão espoliados das últimas «joias da coroa» não apenas empresas nacionais (construídas e mantidas ao longo dos anos com o dinheiro dos contribuintes) mas também obras de arte, monumentos, recursos naturais.
Os Estados ficarão inteiramente capturados pela grande finança e pelos gigantes «tecnológicos» (Google, Apple, Amazon, etc). Os pequenos comércios e indústrias desaparecerão, pelo menos enquanto entidades autónomas (podem manter-se com «franchising», ou outras formas dependentes). Os impostos vão subir, para satisfazer o reembolso da dívida monstruosa criada nestes últimos 20 anos. Os grandes da finança nunca irão «perdoar» um cêntimo dessa dívida aos Estados, ou seja, a nós. Toda esta dívida será cobrada e com juros.
Para dar a ilusão de que se «resolveu» o problema da dívida, vai-se fazer uma grande operação publicitária, fazendo crer que ela desaparece com o aparecimento do dinheiro 100% digital. Tal será mais um truque para adormecer as pessoas. Elas serão estreitamente controladas e mesmo empurradas a consumir certos produtos e a não consumir outros, através de taxações diferenciadas. Tudo isso vai ser fácil de realizar quando todas as pessoas tiverem os seus porta-moedas e contas conectados ao banco central. Será uma ditadura, pois será impossível qualquer transação fora deste sistema.
Nessa altura, quando a oligarquia tiver em mãos o sistema monetário com um grau de controlo muitíssimo maior que agora, então não terá problema em revalorizar o ouro (e a prata) ao seu justo valor. Porque, nessa altura, a quase totalidade desses metais preciosos estarão ou nos cofres dos bancos centrais, ou em cofres de multimilionários riquíssimos. Se o valor do ouro subir a cerca de 10 vezes o seu valor atual em dólares, ele estará na mesma proporção, em relação à massa monetária total, como estava em 2007. É fácil de se calcular esta proporção: há estimativas bastante rigorosas tanto da quantidade de dinheiro total existente, como da quantidade total de ouro em stock (em cofres de bancos centrais ou privados). O ouro apenas aumenta, em quantidade, menos de 1% anualmente, devido às atividades mineiras. Este pequeno aumento é insuficiente para cobrir o aumento da procura do ouro, ao nível mundial.
Por muito que suprimam o valor dos metais preciosos (ouro e prata) cotados nas praças internacionais, através dos contratos de futuros, por mecanismos há muito demonstrados por vários autores e entidades, o facto é que não existe outra alternativa, senão repor o ouro no centro do sistema, para lhe dar estabilidade. As grandes fortunas, que sabem o que realmente se passa, ultimamente têm-se enchido de bens não financeiros, comprando terrenos, imobiliário, obras de arte, ouro, matérias-primas, usando o dinheiro (divisas fiat) cujo valor vai decrescendo. Este decréscimo, primeiro é progressivo e depois brusco. Nos últimos tempos duma divisa, o que acontece é que ela é «queimada», por uma crise hiperinflacionária. Estamos agora no princípio desta etapa.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

[28-29 /02/2020] A MAIOR CRISE MONETÁRIA/SISTÉMICA DA HISTÓRIA

                     (As fotos abaixo são relativas à grande depressão dos anos 1929-33)

                                 Image result for 1929 depression

Sim, estamos perante o início de uma crise cujas dimensões são tais, que ninguém ou quase, se apercebe do abismo que se está a desenhar em frente «dos olhos financeiros» do mundo inteiro.
Explicação: perante a descida vertiginosa dos mercados de acções e obrigações, maiores do que as descidas da grande crise de 2007/2008 e das outras, de que o sistema guarda memória, qual será a reacção dos bancos centrais? Aposto, com toda a confiança, que estão agora (28-29 Fev. 2020) reunidos, sob a batuta do BIS (Bank of International Settlements) para decidir de uma coordenada política de impressão monetária, com vista a «salvar» a economia da catástrofe.
Evidentemente, não vão salvar nada, pois mesmo que os mercados por magia (falsa) subam vertiginosamente do mesmo modo que desceram, vão fazê-lo com dinheiro impresso e cedido pelos bancos centrais, «resgatando» assim a economia financeirizada em que temos vivido. 
Mas, muitos actores do mundo económico real vão receber os dólares, ou yens, ou euros, etc. suplementares, não com entusiasmo, mas com apreensão, pois todo e qualquer activo que detenham, vai sofrer diluição equivalente do valor. 

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O público em geral vai também ver a aceleração da inflação, inevitável numa situação de inundação dos mercados com divisas que não correspondem a nada, a nenhum valor/trabalho. Como noutras situações históricas conhecidas, desde a Alemanha da República de Weimar (1920-23), à Rússia de Ieltsin (finais dos anos 90), à Argentina (de 2000) ou ainda outros episódios de hiperinflação contemporâneos, como na Venezuela e Zimbabwe, o início parece ser uma inflação apenas um pouco mais intensa, depois haverá uma descida enorme dos salários reais e aí as pessoas começam a entrar em pânico, sendo depois questão de pouco tempo (meses) até o dinheiro deixar de ter qualquer valor.  
Escusado será dizer que as pessoas mais afectadas são as que ficam impossibilitadas de sobreviver neste contexto: em geral, os assalariados, os pensionistas, as pessoas de posses modestas, ficam na miséria. 
O sistema global não poderá continuar neste estado por muito tempo. Daí que as «elites» já tenham preparado um «reset» ou seja, uma forma de mudar o que tem de ser mudado para que tudo (o que é essencial) fique na mesma
É muito provável o lançamento dum sistema monetário baseado em cripto-moedas, mas com emissão estatal ou por bancos centrais. Esta «solução» não será uma verdadeira solução, porque o conteúdo do valor das criptomoedas ou moedas digitais será sempre sujeito a manobra dos governos e bancos centrais, tal como têm sido - até agora - as moedas em papel, as «divisas fiat», que apenas existem porque os Estados obrigam os cidadãos a fazerem todos os seus pagamentos nestas e só nestas divisas, para que as transacções sejam consideradas válidas, para todos os efeitos legais.

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Ora, os Estados estão sempre a desvalorizar suas moedas para conseguirem fazer mais despesas, que não teriam hipótese de fazer, somente com dinheiro dos impostos. Mas fazem-nas, no entanto, devido ao seu endividamento, junto de entidades financeiras, como bancos, fundos especulativos, etc. (os compradores de dívidas estatais ditas «dívida soberana»). 
Uma grande parte do colapso a que começamos a assistir agora, deveu-se a essa arquitectura defeituosa do sistema monetário e do poder político, aproveitando e abusando dessa possibilidade  de endividamento, para se auto-perpetuar à custa do futuro dos seus próprios países e povos. 
Mas, como as populações respectivas não compreendem patavina do esquema de Ponzi que tem sido mantido mundialmente pelos governos e finança, eles têm continuado, ao longo de décadas, o seu comportamento criminoso, de forma continuada, descarada e impunemente.

Só haverá mudança real do sistema monetário se e quando o mesmo não permitir os golpes ou esquemas de Ponzi, que têm sido o apanágio destas castas financeira e governante. 
Quando o trabalhador tiver a garantia da conservação do valor do fruto do seu trabalho, qualquer que seja a unidade em que é pago, ao contrário de hoje, em que o poder de compra dos salários se deteriora mais ou menos rapidamente. 
Hoje em dia, o assalariado não consegue manter o seu poder de compra, simplesmente porque o dinheiro está «desenhado» para ir perdendo valor ao longo do tempo, mas isso ninguém (ou quase) lhe explica! 
Só uma transformação profunda, não violenta, que aborde as questões sem demagogia e no interesse da imensa maioria, poderá resolver as questões... 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

FALSA CIÊNCIA CLIMÁTICA E FALSA CIÊNCIA ECONÓMICA


Qual a lógica comum que está subjacente à histeria do «Aquecimento Global», ao «Green New Deal» e à «Modern Monetary Theory» ou MMT?

Por muito que se tenha em conta a contribuição dos gases de efeito de estufa, o mais importante dos quais é - sem dúvida - o vapor de água, o certo é que o calor que mantém a temperatura da Terra é proveniente do Sol. A quantidade vinda do próprio interior da Terra, é considerada desprezível. As variações da atividade solar, as manchas solares e os seus ciclos de 11 anos, são da maior importância. São igualmente importantes os ciclos de Milankovitch, um cientista sérvio, que descreveu as oscilações do eixo terrestre em relação ao plano de translação com ciclos da ordem de 40 mil anos, assim como outros movimentos relacionados com a excentricidade da órbita terrestre, que varia em ciclos da ordem de centenas de milhares de anos.
O desencadear de uma fase glaciar é um fenómeno relativamente curto à escala geológica. Por contraste, a fase de reaquecimento (os períodos interglaciares) é muito mais progressiva. Nós estamos num período interglaciar, que se iniciou por volta do final do paleolítico, há cerca de 15-14 mil anos. Não existe uma certeza matemática em relação aos inícios e fins das etapas dos ciclos climáticos de aquecimento e arrefecimento, mas sabe-se que são fenómenos periódicos que a Terra experimentou durante longuíssimos períodos de tempo. Sabemos isso, nomeadamente, pelos sedimentos e rochas sedimentares, que resultam da acumulação dos restos de seres vivos que se depositam no fundo dos oceanos. Logicamente, a composição dessas faunas planctónicas, assim como a sua abundância, vão variar em função da temperatura do oceano.
Temos de ter em conta a existência de múltiplos factores, cuja escala e efeitos são muito difíceis de avaliar, até mesmo pelos especialistas. As pessoas leigas em climatologia – por muito que tenham uma formação científica de base – não estão conceptualmente equipadas para intervirem no debate científico.

Porém, ao nível da media social de massas e ao nível político, o que se observa é uma histeria com um propósito claro de empurrar para a «green new deal», a indústria de «energias renováveis» (as quais têm impactos ambientais muito sérios, pois estes não se limitam à «pegada-carbono»), sobretudo, um interesse muito grande em fazer avançar uma «taxa carbono» planetária, que seria gerida pelos grandes bancos, com a bênção da ONU e das instituições globalistas mundiais. 
Também tem como efeito desviar as pessoas dos problemas graves, originados na finança e causadores da grande crise anterior (2007-2009, na fase aguda) que se prolonga até hoje, com a não-resolução e fuga para a frente da impressão monetária constante. 

A Modern Monetary Theory é um avatar dessa fuga para a frente, pois admite que os governos podem imprimir dinheiro a preceito, para satisfazerem os mais diversos programas, sem que isso implique um disparar da inflação. Tal não é mais do que uma falácia, pois o que se passou e passa com o Zimbabwe, a Venezuela e Argentina, nos dias de hoje, e com a República de Weimar em 1923, entre outros exemplos, mostra o que acontece sempre, quando um governo se põe a imprimir dinheiro de modo irrestrito: o colapso da confiança do público começa com os credores externos ou internos, depois com o comércio e acaba por ser geral… no final, há sempre a destruição total e integral do valor da moeda-papel, sendo vítimas as pessoas pobres e da classe média, aquelas mesmo que não tiveram culpa, que não participaram nos desmandos da oligarquia financeira e dos seus fantoches políticos.   

O vídeo abaixo, de Fernando Ulrich, dá-nos uma ideia sobre essa teoria monetária moderna (MMT) e ajuda a colocar em questão a especulação pseudo-científica de muitos «economistas»: 


Na realidade, existe uma forma de corrigir ou prevenir os desmandos dos governos e bancos centrais mas, os que estão ao comando, não gostariam de a adoptar: trata-se do regresso ao padrão-ouro. 
Esta evolução é desejada por cada vez maior número, por razões económicas e racionais, não por fetichismo em relação ao ouro: isso seria tão ridículo como o fetichismo em relação ao dinheiro-papel. 
Com efeito, o ouro é uma matéria-prima rara, além de muito estável, tendo propriedades naturais adequadas para conservar o valor, ao longo de gerações (e mesmo, de milénios). A sua raridade é um factor importante de estabilidade para o sistema, pois é impossível, de um momento para o outro, inundar de ouro o mercado mundial, ao contrário das moedas-papel. A mineração aumenta o ouro existente na economia, numa proporção mínima, anualmente. 
Que interesse tem isso para a economia mundial? 
- Se todas as moedas estiverem indexadas ao ouro (se forem convertíveis numa determinada quantidade deste metal) os governos não poderão gastar mais do que uma certa quantidade, não poderão entrar numa orgia de despesa pública. Sabemos que o fazem por demagogia, para serem reeleitos, ou numa corrida aos armamentos com potências rivais. Isto acontece, frequentemente, porque é fácil produzir divisas que não têm por detrás qualquer garantia, além da palavra do governo. Com efeito, as «moedas-fiat», «em papel» ou sua versão digital, têm, realmente, custo zero de fabricação. 

No famoso «reset» ou reforma monetária global, a grande questão será - no curto prazo - saber até que ponto a elite globalista conseguirá gerir a crise, que ela própria engendrou. Para obter ainda maior fatia de riqueza e poder, está disposta a tudo. No imediato, ela tem necessidade de desviar a atenção das pessoas, sobre o que está a ocorrer no presente: a grande transferência de activos financeiros (de riqueza e de poder), que essencialmente passa para as mãos privadas, sendo espoliados os cofres públicos, o dinheiro dos nossos impostos. É «a privatização dos lucros e da socialização dos prejuízos», mas que se quer acelerar e exacerbar, sob pretexto de «urgência climática». 

Por isso mesmo, a manipulação das mentes atinge um grau muito sofisticado. Poucas são as pessoas que resistem e guardam a cabeça fria e serena, de forma que não se deixam enganar por  políticos e financeiros corruptos e sedentos de poder.
Os Clinton, os Bush, George Soros, os Rockefeller, os Rothchild etc, etc. são alguns dos políticos e multimilionários mais conhecidos. 
Que é que nós -cidadãos normais- temos em comum com eles? Um bando de multimilionários ou bilionários, cuja agenda é de manter o controlo das suas imensas fortunas acumuladas. 
O problema é que muitas pessoas deixaram de pensar pela sua própria cabeça; cederam ao «politicamente correcto», ao «group think», ou seja, a pensar dentro do rebanho.

terça-feira, 15 de outubro de 2019

O VALOR-FÉTICHE DO DINHEIRO-PAPEL E A RAZÃO ÚLTIMA DA SUBIDA DO OURO



         
Considero irónico que seja alguém como Egon Von Greyerz, um gestor de armazenamento de ouro de grandes fortunas, na Suiça, que nos venha mostrar de forma clara e inequívoca, no artigo «Num mundo ilusório, é o ouro que fala verdade», a inanidade do pensamento económico contemporâneo, a criminalidade dos que gerem os nossos destinos e a obscuridade em que nos deixa a media corporativa!

A realidade é a coisa mais difícil de se reconhecer, especialmente quando se tem sido toda a vida condicionado por um conjunto de crenças, alicerçadas em práticas sociais, em pseudo-ciência, em coação também; em suma... a pensar-se dentro do rebanho.
Porém, há verdades evidentes que acabam por furar a redoma de ilusão na qual é mantida a sociedade, para benefício de alguns poucos e para grave prejuízo da imensa maioria.
Uma das ficções mais persistentes que a nossa sociedade tem suportado, e que está agora a ruir, é a do valor do papel-moeda.
Com efeito, as moedas de todos os países, estão (desde há cerca de 45 anos) adossadas em nada mais que à promessa do governo respetivo que a emitiu, em reconhecer e aceitar esse papel impresso, como forma válida dos cidadãos pagarem as suas dívidas, nomeadamente ao Estado, sob forma de impostos, taxas, etc.
Estão hoje em dia à vista os malabarismos decorrentes deste extraordinário postulado, que seria extravagante, não fosse ele suportado pelos muito reais e materiais meios de coerção que os Estados possuem para obrigar os cidadãos a cumprir com as suas obrigações fiscais.

No entanto, os que estão a destruir a moeda-papel, são - nada mais, nada menos - que os próprios bancos centrais e os Estados respectivos. 
Com efeito, a impressão monetária (quer se chame QE = quantitative easing, ou outro nome) constante e em grandes quantidades, vai parar às contas da banca, supostamente «demasiado grande para ir à falência», não da economia comum, do dia-a-dia. Este dinheiro é também responsável pelo inflacionar de bolhas, sobretudo nas bolsas e no sector financeiro, embora as pessoas comuns possam notar mais isso no imobiliário, pois vai inviabilizar o seu acesso à habitação, sob forma de casa própria, ou de aluguer.

Como é evidente, o papel-moeda em si mesmo, vale - na medida e somente na medida - em que as pessoas lhe atribuem e reconheçam valor. O valor facial ou nominal de uma nota bancária não é mais do que uma unidade de contabilidade. O valor reside na capacidade ou potencialidade desse bocado de papel ser trocado por outras coisas. 
Ora, as pessoas trabalham por esses bocados de papel porque sabem que estes lhes permitem comprar os bens e serviços indispensáveis para si e para suas famílias, sem o que é evidente que não se incomodariam a trabalhar longas e penosas horas, cinco dias por semana (ou mais) para «um papel sem valor». É aqui que nasce o duplo paradoxo:
- a atribuição (universal) de valor a algo que não tem intrinsecamente nenhum; algo que pode ser fabricado a custo zero pelo Estado; o dinheiro-papel é um símbolo.
- mas símbolo de quê, da equivalência ao trabalho, directamente ou indirectamente, investido na obtenção desse tal papel colorido?
Afinal, essa era a tese de Marx, de que o dinheiro é apenas uma forma «congelada» e condensada  de capital, resultante do trabalho. Com efeito, esse tipo de relação com o dinheiro está inegavelmente presente nas sociedades contemporâneas. A imensa maioria precisa de trabalhar para obter a quantidade suficiente dessas unidades, às quais é atribuído valor (é quase magia) para aquisição de bens e serviços.
Porém, a esta forma de obter dinheiro, por transformação de trabalho em mercadoria ou serviço (a essência da economia capitalista), sobrepõe-se outra, que atingiu um volume deveras monstruoso e não tem nada que ver com a progressão das forças produtivas, com produção de mercadorias ou serviços. 
Refiro-me ao dinheiro criado «ex nihilo» pelos bancos centrais e pela banca comercial. Este dinheiro serve, directa ou indirectamente, para alimentar a especulação. 
Fortunas, baseadas nesta economia de casino, têm esta origem: a riqueza, como a matéria e a energia, não se destrói...transforma-se.
Quando vemos mansões que são autênticos palácios, iates, carros de luxo, ou grandes edifícios de grandes companhias multinacionais, muitos deles, obras de arte dos melhores arquitectos, recheadas de equipamento e decoração dispendiosos, sabemos que estes correspondem a um excedente, que não foi resultante do trabalho árduo e honesto dos proprietários (ou dos accionistas, no caso das multinacionais), mas de uma qualquer manigância ou duma soma de manigâncias, que permitiu amassar uma fortuna. 
Esta fortuna, embora tenha uma componente de exploração directa do trabalho assalariado de outrem, é - sobretudo - resultante da especulação, do acesso a empréstimos a custo zero (ou quase), aos quais certos indivíduos e empresas têm acesso, como privilégio da sua proximidade ao poder. 
A obtenção a custo zero, por uma pequeníssima oligarquia, do dinheiro «fiat» (= não tem suporte, senão a palavra do governo) constitui um fenómeno totalmente novo no capitalismo, ao qual nem Marx, nem outros depois dele (incluindo vários contemporâneos) podiam ter sequer imaginado. No século XIX a especulação existia, nas bolsas e noutros domínios da economia mas, no tempo de Marx (e mesmo bem mais tarde), era um fenómeno marginal. 
Quando Marx explicou o início dos empórios capitalistas através da ACUMULAÇÃO PRIMITIVA, sobre os despojos coloniais, não podia prever que outras e novas formas de acumulação teriam lugar, século e meio depois de sua morte! 
Hoje em dia, a acumulação de capital que permite amontoar de fortunas colossais é obtida por meios bem diferentes dos séculos passados. Hoje, trata-se simplesmente de obter dos Estados e dos respectivos bancos centrais, empréstimos de elevadas somas, com juros a praticamente zero. 
Estas benesses, porém, não estão ao alcance de qualquer pessoa, nem mesmo de capitalistas de média dimensão. Apenas as multinacionais, a grande banca, os fundos bilionários e as esferas mais próximas do poder, possuem este privilégio. 
Por exemplo, ao postular que um banco «não pode ir à  falência»... o que se está a proporcionar? 
- Que todas as apostas, mesmo as mais arriscadas e as mais idiotas, que a direcção desse banco faça, terão a cobertura do respectivo Estado: lá estará ele para «amparar», «limpar», «reparar», os estragos feitos!

Mas afinal, o Estado obtém o dinheiro dos impostos, os quais são pagos pelos cidadãos. Estes, de uma forma ou de outra, contribuíram com o seu trabalho para criar valor e foram remunerados em dinheiro. É apenas devido à ocultação de todo o esquema fraudulento,  que esse dinheiro, resultante do trabalho, vai impunemente parar às contas das empresas, da banca e dos fundos que se portaram mal... mas que o Estado - supostamente- não poderia deixar falir! É um autêntico ataque em forma, um saque, feito às pensões de reforma  e aos salários dos assalariados, levado a cabo a partir do Estado e governo, pelos dirigentes que choram lágrimas de crocodilo...
Uma media ao serviço dos poderosos encarrega-se de ocultar e baralhar os factos - insofismáveis - que emergem duma análise rigorosa das políticas económicas e financeiras.


domingo, 18 de agosto de 2019

A CRISE VIRÁ DO LADO DA DÍVIDA SOBERANA, DOS TÍTULOS DA DÍVIDA PÚBLICA


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Sabe-se que o grave problema que afecta o sistema económico e financeiro ocidental é a enormidade da dívida. Dívida dos Estados, dívida das empresas e dívida das famílias... tudo somado, a quantidade de dívida é muito maior do que a existente nas vésperas do colapso de Lehman Brothers!

O processo de um Estado se ver livre da dívida pública é somente um, na prática. Embora, em teoria, um governo pudesse decretar insolvência, reconhecendo estar falido e portanto não pagar aos seus credores, isso é demasiado penoso e politicamente suicida. Portanto, os governos irão fazer aquilo que sempre fizeram, ou seja, inflacionam a sua moeda nacional (no caso do Euro, será antes a moeda comum de uma série de Estados da União Europeia).

Um dos casos mais graves de acentuado crescimento da dívida pública, sem fim à vista e com tendência para se agravar, é o dos EUA. Obama conseguiu o «glorioso feito» de duplicar, durante os seus dois mandatos, a dívida pública acumulada antes dele, desde o início da existência dos EUA.
Nada menos fiável do que os EUA. Se decidirem que algum país está com exigências excessivas, podem simplesmente obliterá-lo do mapa... veja-se o caso da Líbia! 
Mesmo os aliados não estão a salvo de serem «esfolados»: como clausula secreta dos acordos que instituíam o sistema do petro-dólar (em 1973), os sauditas foram obrigados a fornecer muitos biliões em treasuries, que provinham do petróleo, para os seus protectores de Washington disporem dessas somas colossais. Não estão nominalmente na posse do Tesouro, mas é como se estivessem: as tais treasuries servem como «fundo de estabilização» do Tesouro. Quando os mercados variam bruscamente ou quando algo vai num sentido desfavorável aos interesses de Washington, esse fundo gigantesco intervém, discretamente. Os especialistas dos mercados conhecem bem as intervenções do referido fundo.    
É basicamente o medo, a impressionante máquina militar, que impõe «respeito» pelo dólar US, com o qual os EUA compram tudo o que precisam, dando em troca... esses papéis verdes impressos! 

A China foi acumulando, em resultado do seu comércio com os EUA e outras partes do mundo, a gigantesca soma de 1,3 triliões de dólares, que estão sob forma de obrigações do Tesouro dos EUA («treasuries»).
Há quem diga que esta constitui uma arma poderosa da China, que poderá despejar no mercado fazendo baixar subitamente o valor dos referidos treasuries. Mas, isso é falso. Não só não é possível eles desfazerem-se de tal soma bruscamente, como teria um efeito oposto ao desejado. Ainda por cima, poderia desencadear uma guerra, por os EUA se sentirem acossados naquilo que é fundamental para eles, a sustentabilidade da sua dívida...

Os russos, há algum tempo, desfizeram-se de quase todas as suas treasuries. Mas eles tinham muito menos, do que a China tem. O que eles fizeram foi genial: Eles deram os treasuries como aval a vários bancos europeus, para garantia de empréstimos aos mesmos bancos. Depois, fizeram default sobre as dívidas a esses bancos e estes tomaram posse das treasuries, dadas como aval. Assim, não colocaram no mercado essas treasuries e obrigaram a outra parte a aceitá-los. Não me parece que se possa repetir isso.

Os Chineses fizeram a Belt and Road: é - além de outras coisas - um processo lento de se desfazerem de treasuries. Com esses dólares, eles financiam grandes obras, portos, aeroportos, caminhos de ferro, etc. nos países mais diversos, com os quais têm acordos. Ficam aliviados do excedente em dólares e tornam-se credores de vários países, sendo possível que recebam em pagamento géneros (matérias-primas), ou notas de crédito denominadas em Yuan.

Segundo uns analistas, os americanos têm de comprar a si próprios (a FED compra ao Tesouro, o qual emite dívida) cerca de 70% da dívida emitida e têm de fazer malabarismos, usando derivados (credit default swaps), para criar a ilusão de procura de treasuries e assim sustentar seu preço. 
Também conseguem procura porque têm uma taxa ligeiramente acima de zero, enquanto muitas das obrigações europeias (como os bunds alemães) estão com juros negativos, ou seja, o emprestador tem - ao fim de x anos - a soma investida, MENOS uma determinada soma y, correspondente ao juro negativo. 

A dívida excessiva a nível mundial não poderá ser aliviada por uma espécie de «jubileu», pois haverá países que ficam a perder imenso com isso por comparação com outros que até incluem os mais ricos, pois estes têm tido um comportamento irresponsável de acumulação de dívida, sem contrapartida em criação de riqueza. Quando uma pessoa ou uma empresa ou um Estado se endividam pode ser uma coisa boa e sensata ou o contrário: se for para investir em algo que por sua vez irá gerar rendimento, irá produzir algo (bens ou serviços), irá traduzir-se por um acréscimo de rendimento (ao nível dos Estados, maior receita de imposto), então é provável que tal investimento seja sensato e produtivo. Mas um empréstimo gasto em despesa não reprodutível, que não vai gerar capital que o pague no médio/longo prazo, é somente um peso suplementar que incide sobre as economias, sobretudo das gerações futuras. 

Num contexto de sobre-endividamento, a inflação é desejada por bancos centrais e por governos, porque vai «comer» parte da dívida acumulada, ou seja, é como um «default» suave, a uma taxa de uns pouco por cento ao ano, que o público não compreende e atribui à ganância dos comerciantes ou às reivindicações excessivas dos assalariados, etc... mas, não aos verdadeiros culpados.

Perante um aumento descontrolado da dívida, a tentação é desvalorização correspondente do dinheiro, o que tem sido feito, de forma sistemática, sem que as pessoas percebam o que se está a passar: se a inflação registada nas estatísticas ao longo de um ano, for de 2%, por hipótese mas - na verdade -  sendo esta de 4 ou 5 %, como se tem verificado, é muito difícil alguém contrariar o discurso oficial. Seria preciso um instrumento independente, de recolha e tratamento estatístico, algo como um Instituto de Estatística alternativo, ou algo parecido, com credibilidade igual ou superior aos institutos do Estado. 

Portanto, a aceleração da impressão monetária, ou seja,  «Quantitive Easing» e as taxas de juro próximas de zero ou negativas  anunciadas pelos bancos centrais ocidentais, irão apenas contribuir para manter durante algum tempo (quanto?) as bolhas das bolsas de acções, das obrigações, do imobiliário... em que se tem vivido. 
Mas, chegará o momento em que as pessoas compreenderão que estão a ser aldrabadas, que números crescentes não representam aumento de valor, não correspondem a nada de sólido. 

A perda de confiança numa divisa, nas divisas «em papel», é um processo muito rápido: compreende-se que os bancos centrais dos países do Oriente se previnam disso, comprando todo o ouro que podem nos mercados. Alguns financeiros, gerindo fundos bilionários, também compreendem o que se está a passar e também estão a aconselhar os seus clientes a fazer o mesmo.

A subida dos metais preciosos, em especial do ouro (e isto é notável) faz-se, apesar da existência confirmada de conluio entre bancos centrais ocidentais e grandes bancos, emissores de contratos de futuros (um tipo de derivado) sobre o ouro e a prata. Eles despejam no mercado, em momentos especiais, quantidades abismais de contratos. É assim que o preço do ouro e da prata têm sido reprimidos, ao ponto de, em paridade do poder de compra, a prata nunca ter estado tão barata! Se estes contratos correspondessem - de facto - a ouro físico, seria necessária várias vezes a produção anual minerada. Evidentemente, trata-se duma fraude, mas fraude consentida pelas entidades ditas supervisoras dos mercados e pelos bancos centrais.
O sistema de emissão de dinheiro ilimitado e controlado pelas entidades globais, é inviável: dentro de um prazo (não determinável exactamente, pois dependerá da duração e profundidade da crise vindoura), terá de haver uma profunda reforma do sistema monetário.  
Mas, entretanto, é bem provável que haja guerras, revoluções, fomes, transferências de riqueza, fenómenos que se verificaram no passado, em associação com as crises económicas mais graves.

sábado, 3 de agosto de 2019

GREAT RESET: OPERAÇÃO ENCOBERTA DOS BANCOS CENTRAIS

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Um longo período da história económica e financeira aproxima-se do fim. Iniciou-se aquando da retirada (em 1971) por Nixon do dólar da janela de convertibilidade com o ouro, a cláusula de Bretton Woods, que ancorava todas as moedas ao dólarmantinha este convertível em ouro. A partir desse momento, as moedas passaram a flutuar, sem âncora, umas em relação às outras e a inflação disparou. 

Quer se meça a inflação actual pelos índices habituais, quer pelo valor do ouro nas várias moedas «fiat» (ou seja, todas, visto que não existem moedas baseadas em metais preciosos), o facto é que a espiral inflacionista já se desencadeou. Pese embora a aversão da media económica mainstream em relação ao ouro, o que mostra a sua subida espectacular em relação a todas as divisas, mesmo as mais «fortes», como o franco suíço, o dólar, ou o euro... é que os mercados já começaram a perceber para onde se dirige o sistema monetário. Agora, já não são apenas os bancos centrais do Oriente (sobretudo Rússia, China, índia, e outros países asiáticos), existem também famosos gestores de «hedge funds» a apelarem aos seus clientes para investir em metais preciosos, detendo uma percentagem deles no seu portefólio.   
De facto, o BIS (Bank of International Settlements), de Basileia, tem estado discretamente a orientar os bancos centrais para uma «reestruturação» ou reset do sistema monetário. 
Há quem pense que este será baseado num cabaz de moedas, os «Direitos de Saque Especiais» (ou SDR em sigla inglesa) do FMI. Porém, este cabaz é, de facto, um cabaz de moedas «fiat» e apenas seria «sol de pouca dura». Pois, o problema com estes arranjos é que, uma vez perdida a confiança, não é fácil captá-la de novo. 

Há quem aposte nas criptomoedas, mas estas estão sujeitas aos mesmos vícios que o dinheiro existente: já são electrónicas, as somas em circulação actualmente nos mercados internacionais. Mesmo na economia corrente, muitas transacções - talvez 70% - são já  com cartões de débito ou de crédito ou por transferências bancárias. Portanto, o público pode ser permeável à modernidade, mas não irá sentir a situação como diferente da habitual. A existência de uma criptomoeda não muda nada de fundamental, seja ela emitida por um banco central (a Rússia, está seriamente estudando essa possibilidade, mas não é a única), seja ela uma criptomoeda descentralizada, como o «bitcoin». 
Para que uma criptomoeda tenha hipótese de se firmar no domínio das trocas do dia-a-dia, ela deverá possuir uma grande estabilidade. Com efeito, as divisas que existem, actualmente, não variam de um dia para o outro, de mais do que uma fracção de 1 por cento; isso significa que, aquele que aceita uma divisa em pagamento, pode confiar, no curto prazo, no valor da mesma. Pelo contrário, instabilidade das criptomoedas, sendo factor que atrai os especuladores, é também o factor que impede que sejam mais do que esporádicos veículos de transferência de dinheiro. Em países, como a China, com controlos de capitais instalados, será bastante interessante para alguém usar criptomoedas, para poder exportar dinheiro para o exterior, sem que as autoridades possam interferir. 

Restam portanto os metais preciosos, o ouro e a prata, que foram dinheiro durante um período de cerca de 6000 anos. A sua inter-conversão com moeda de papel pode fazer-se pelo simples cálculo da soma total de moeda-papel em circulação (incluindo a moeda electrónica, claro) dividido pelo ouro existente em todos os bancos centrais. O ouro teria de subir dos 1450 dólares a onça, actualmente, para cerca de 10 mil dólares a onça. Talvez isso seja possível em etapas, neste período de transição em que já estamos: o tal «reset». 
Remonetizar o ouro equivale a tornar possível que a moeda-papel seja trocada por ouro a uma taxa fixa, ou com uma flutuação mínima. Isso iria estabilizar o valor do dinheiro, manteria os preços, minimizava a inflação. A economia - em geral - iria beneficiar com isso.  
O efeito da desmonetização do ouro - um fenómeno recente, em termos históricos -  não foi benéfico para as economias. Os Estados endividaram-se sem restrições. A dívida pública, das empresas e das famílias, todas elas cresceram de forma exponencial, neste período de menos de meio século. 
Hoje, as moedas em circulação devem ter perdido 97%, no mínimo, do seu valor, relativamente a 1971, sendo esta a percentagem da perda do dólar: a principal moeda de reserva é, com certeza, das mais fortes, em termos relativos. As outras serão ainda mais fracas que o dólar.
O que os economistas da treta não dizem (mesmo quando o praticam em segredo) é que a garantia da conservação do valor - para o pobre, o rico e o remediado - é ter uma parte dos activos em moedas/barras de ouro e/ou prata. 
Assim, no momento em que houver um colapso financeiro, com uma situação de híper-inflação, não só não ficarão seus activos financeiros destruídos, como poderão ver o seu capital aumentar, em termos relativos. 
Quem se mantiver exclusivamente na economia de casino das bolsas, jogando em acções, obrigações, derivados (ETFs, etc.) está condenado (condena-se a si próprio) a ficar com o valor dos investimentos reduzido a quase nada
O imobiliário está muito inflacionado também, em todos os países. Não é uma boa forma de preservar capital, investir nele agora: não faz sentido comprar, com preços inflacionados, antes da bolha ter rebentado. Dentro de pouco tempo, como já se verifica nos mercados do imobiliário do outro lado do Atlântico, os preços irão descer, tão vertiginosamente como subiram. 
Depois da fase de transição, em que nos encontramos, quem tiver maior quantidade de capital disponível, poderá comprar activos muito abaixo do seu valor real, em consequência da crise profunda que se avizinha. É uma questão de aproveitar as oportunidades, que surgem sempre. 

O capital, que não é equivalente a dinheiro, permanece, globalmente. 
O capital é criado pelo trabalho; uma crise, não o destrói, mas é transferido de uns actores para outros.