Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.
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domingo, 21 de abril de 2024

UCRÂNIA ESTÁ A ATINGIR O PONTO DE COLAPSO

 SCOTT RITTER: PERDEMOS O CONTROLO DO MUNDO PORQUE NOS RECUSAMOS A COMPREENDER O QUE SE PASSA


O nível dos chefes ocidentais é tal que, na Rússia e na China, não precisam de fazer grande coisa. A estupidez dos referidos dirigentes ocidentais apenas os enterra cada vez mais: São ridículos, desprezíveis e sobretudo criminosos (pensem em Gaza!).

Scott Ritter diz muitas verdades. Oiçam o que diz a propósito de
Stoltenberg
Scholz
Yellen
...
A estupidez não tem limites!
Zone contenant les pièces jointes

quarta-feira, 17 de abril de 2024

COMO SITUAR O CONCEITO DE «REVOLUÇÃO», NA HISTÓRIA?

 A história que nos é ensinada nas escolas, desde há gerações, segue uma vulgata marxista, o mesmo é dizer, que é algo ideológico.

No cerne dos preconceitos que enformam as gerações de estudantes formados após o 25 de Abril de 74, sobressai o de «revolução». Nenhum conceito poderia ser ensinado de modo mais confuso e mais ideológico. Fala-se de revolução a torto e a direito, a propósito de golpes de Estado e outros derrubes mais ou menos violentos, em contradição com os sistemas políticos instituídos.

Mas, na verdade, não houve senão duas revoluções, no sentido marxista (sem ironia!): pois a teoria marxista acentua o facto de uma revolução implicar profundas modificações no modo de produção, por sua vez, transformando as relações sociais, em profundidade e de modo duradoiro. A partir da consolidação da nova ordem, muitos aspetos super estruturais das sociedades, ficam profundamente modificados.

Para se aderir a esta visão do que seja «a revolução», teremos necessariamente de excluir as «revoluções políticas», as mudanças políticas, mesmo que elas nos pareçam muito significativas. De facto, o que é apontado como revoluções não o foram, por certo; mas foram antes epifenómenos de algo que estava a agir em maior profundidade.

A «revolução francesa», por exemplo, foi o derrube de uma ordem monárquica mas, nem por isso foi a transformação radical da forma produtiva, nem sequer da dominância das classes. A transição da sociedade agrária para a sociedade industrial estava muito avançada quando, a 14 de Julho de 1798, um grupo de populares parisienses tomou a Bastilha. As relações de produção continuaram as mesmas, antes e depois da «revolução», não foi pelo facto de um certo número de cabeças rolarem, nem de propriedades, que antes pertenciam a aristocratas, passarem a pertencer a burgueses, que se modificou em profundidade a relação entre as classes e nem sequer ao nível do poder político. Note-se que os cargos políticos, já antes da chamada revolução, eram largamente ocupados por elementos da alta burguesia, os quais exerciam esses cargos no poder central e provincial do Estado, muitas vezes relacionados com funções legislativas e da justiça. Mesmo nos altos postos das forças armadas, um campo supostamente reservado à nobreza, as classes não nobres iam progressivamente tomando conta de mais e mais postos. Não devemos ficar iludidos pelo facto do monarca enobrecer um alto funcionário ou uma alta patente do exército: era uma forma, por um lado, de mostrar confiança nesse indivíduo e, por  outro, demonstrar que, servindo o reino, se podia ascender aos cargos e privilégios mais elevados, independentemente da origem social. Napoleão, auto- coroando-se de imperador dos franceses, apenas acentuou essa tendência, que já vinha de longe, criando uma nova  aristocracia, desde barões a príncipes.

Não se encontra, no domínio  da política, nenhum aspeto de fundo que tenha modificado realmente a estrutura das relações sociais. Alguns burgueses tiveram oportunidade de enriquecer, tomando as propriedades das ordens religiosas. Note-se que, eles já pertenciam aos extratos elevados da burguesia, quando compraram (por bem pouco!) os bens das ordens religiosas, postos à venda pelo Estado «revolucionário». 

Poderíamos facilmente mostrar que, ao longo do período napoleónico, contrariamente à mitologia, as classes populares (operários, artesãos, camponeses), não só ficaram subjugadas pelos mesmos ou por outros senhores, como se acentuou a proletarização brutal. Foram colocadas pessoas de ambos os sexos, de todas as idades e incluindo crianças, numa relação de dependência e precariedade, que se traduziu em miséria para as classes populares urbanas. As pessoas esquecem muitas vezes a enorme sangria que foram as guerras revolucionárias e napoleónicas: Durou cerca de 25 anos, em várias partes da Europa. Foi um rasto de destruição «a ferro e a fogo», desde Lisboa  até Moscovo. Estas guerras forçaram comunidades rurais inteiras a migrarem para as cidades, visto que as suas explorações agrícolas tinham sido devastadas ou tinham perdido sua viabilidade económica. 

Do ponto de vista estritamente político, após as guerras napoleónicas reconstituiu-se rapidamente a aliança entre a alta burguesia e a aristocracia. Os governos e monarquias constitucionais que se formaram em quase toda a Europa, são o resultado disso. De fora, ficaram apenas elementos mais radicais, como os republicanos, que continuaram a ser perseguidos: não houve «liberdade de imprensa», nem liberdade de qualquer espécie, durante largos períodos do século XIX, tanto nos países onde tinha havido forte apoio às ideias revolucionárias, como nos que não se deixaram seduzir por elas.  

Na verdade, o fenómeno político, as revoluções liberais, anti autoritárias, anti monárquicas, que houve ao longo do século XIX, são sobretudo o epifenómeno duma profunda transformação na estrutura produtiva. A revolução industrial, que se tinha desenvolvido bem antes, desde o século XVIII, pelo menos, estava a transformar as relações entre classes em profundidade, mas de uma forma silenciosa, não em consequência de qualquer proclamação de princípios revolucionários. O que houve de revolucionário (sem aspas) ao nível da produção, foram, entre outros, a primeira mecanização, a utilização de máquinas a vapor e a concentração de trabalhadores em grandes manufaturas. Estes, eram frescamente saídos dos campos, onde seu trabalho deixou de ter viabilidade económica. 

A concentração de proletários nos centros urbanos, por sua vez, obrigou à transformação das práticas agrícolas: a utilização de processos mecânicos, a generalização dos adubos, os tratamentos fitossanitários, a maior racionalidade no uso dos solos e das culturas, produziram aumentos significativos da produtividade agrícola. Assim se criaram os excedentes que permitiram alimentar a massa humana cada vez maior, nas cidades industriais, porém utilizando muito menos braços nas tarefas agrícolas.  

Portanto, a revolução industrial é o grande motor das transformações. Estas, não se limitaram ao século XIX:

Obviamente, a «grande revolução russa» correspondeu à transformação do país essencialmente agrário, numa potência industrial moderna. Que esta transformação se tenha operado a partir de 1917 sob um governo despótico, totalitário, não impede que tal transformação tenha sido o principal aspeto estrutural da «revolução russa». Os bolcheviques, para efetivação da sua tomada de poder, souberam aproveitar as simpatias de partes do campesinato e do proletariado citadino, por determinadas ideias sociais, o socialismo, o comunismo e o anarquismo. Estes foram instrumentalizados, por vezes esmagados, para a transformação desejada pela «elite» soviética. Não esqueçamos a famosa fórmula de Lenine: «o comunismo consiste nos sovietes, mais a eletrificação do país».

É estranho, mas os que se dizem marxistas não conseguem fazer leituras objetivas dos fenómenos sociais e políticos, quando neles estão envolvidos partidos e correntes «comunistas». A mesma incompreensão dos fenómenos leva certos «revolucionários auto-proclamados » a fazerem uma leitura totalmente errada do  maoismo e do processo de emancipação da China, da sua passagem de uma sociedade atrasada, com características feudais, para uma grande potência industrial e tecnológica. 

Nós - porém - não estamos bloqueados por preconceitos ideológicos. Temos acesso  a um manancial de factos registados, pelo menos desde o início do século XIX, até hoje: não precisamos de distorcer a realidade, ou de fabricar «narrativas convenientes», para convencer os outros de que temos razão, que estamos na linha justa, etc. 

É necessário compreender que a revolução industrial continua, que ela não parou: não é como um comboio que parte dum ponto, para chegar à estação de destino final. A revolução industrial tem vários episódios, continua a modificar a infraestrutura produtiva, a transformar as relações sociais, a condicionar a vida das nações e dos indivíduos e (como epifenómeno) segrega ideologias, as quais são uma espécie de «secreção» que o tecido social produz, enquanto este vai sofrendo inúmeras micro transformações.

A outra grande revolução na história da humanidade, é a revolução agrária. Ela dura desde há cerca de 10 mil anos. No presente, também continua e as suas transformações estão interligadas com as transformações da revolução industrial. Talvez, um dia escreva sobre a revolução agrária. De qualquer maneira, está tão ligada com as primeiras civilizações, que seria necessário compulsar um número impressionante de dados, só para darmos conta da origem e do desenvolvimento desta revolução agrária. É como fazer a história da humanidade, excetuando o longo período paleolítico.

Não poderei pretender mais, neste pequeno texto, do que delinear as questões teóricas em relação com o conceito de revolução e expressar estranheza, perante a «cegueira voluntária» dos que se assumem como sábios, como sabendo em profundidade as coisas, mas que cometem as mais grosseiras falhas de lógica, de bom-senso, para já não falar de método científico. Não poderei convencer tais  indivíduos de que estão errados. Estão numa esfera do tipo crença religiosa, dentro dos seus casulos mentais, sem nenhuma abertura para a realidade... 

Assim constatei, em vários, ao longo da minha vida. Felizmente, existem espíritos mais abertos, que conseguiram aperceber-se das falsidades que lhes andaram a contar durante boa parte da sua vida. 

Mas, aos outros, que não estejam vinculados às falsas religiões das ideologias, digo-lhes: - Vejam este escrito como chamada de atenção e um apelo ao vosso espírito crítico. Não é por algo ser crença de muita gente à vossa volta, que isso é «verdade», nem tão pouco, que seja a verdade a versão oficial, canónica da História, ensinada desde a escola primária, à universidade! 

Eu não pretendo ser detentor da verdade. Apenas tento equacionar os dados do problema ... claro que posso também me enganar. Porém, espero que o meu comportamento desinibido desencadeie nalguns o desejo de inquirir estes assuntos por eles próprios.

terça-feira, 16 de abril de 2024

CRÓNICA (Nº26) DA IIIª GUERRA MUNDIAL... Desejada pelos neocons, entrou num novo patamar


Num certo sentido, a guerra mundial continua o seu curso. Ela não cessou desde que a URSS implodiu. Manifestou-se de forma ostensiva com o ataque - não motivado - das forças da OTAN, para esmagarem a ex-Jugoslávia, o país que não se conformava ao «diktat» neoliberal. A falsa bandeira - o tal 2º «Pearl Harbour», desejado pelos neocons no poder - do 11 de Setembro, foi pretexto para uma série de guerras de agressão, nas quais os EUA arrastaram os seus Estados-vassalos. Mas, apesar da força avassaladora e da (dita) «superioridade moral» ocidental («With God on our side»), foram escorraçados do Afeganistão e do Iraque; e falharam o derrube, através de proxies (Alquaida, Al Nousra e ISIS, criações do tipo «Frankenstein», do Império), do regime sírio.

Na faixa de Gaza falharam o objetivo declarado pelo estado sionista de Israel, seu governo e sua chefia militar: destruir por completo o Hamas. Não só não o conseguiram, como ficaram muito mais isolados na cena internacional, para não falar da eliminação do sonho, iniciado no consulado de Trump, dos «acordos de paz de Abraão» (com participação da Arábia Saudita e de outros atores vassalos dos EUA). Perante o falhanço, entraram em guerra direta com o Irão, com o objetivo de forçar a intervenção dos EUA, ao lado de Israel, para esmagar definitivamente o Irão. Também neste caso, falharam. O ataque criminoso ao consulado iraniano de Damasco será devidamente vingado pelo Irão, mas não o foi, por enquanto: O que o Irão fez, em vez de cair na ratoeira armada pelos sionistas, foi «mostrar os dentes»*. Fizeram a demonstração de que um futuro ataque maciço com drones e mísseis cruzeiro, não poderia ser eficazmente travado pelas defesas antiaéreas sionistas, nem mesmo com ajuda dos seus aliados.
Se a mensagem não foi claramente compreendida, se se efetivar uma «retaliação» israelita ao ataque do Irão, desta vez haverá nova onda de mísseis, mas já não previamente avisada e com alvos muito mais estratégicos incluindo, por exemplo, centrais elétricas e redes de distribuição de energia elétrica. Sem um fornecimento regular de eletricidade, a sociedade de Israel, sofisticada e demasiado segura de si própria, será confrontada com a realidade; será o desmoronamento dos mitos em que tem sido mantida pela extrema-direita no poder.

 

Creio que as grandes potências tutelando um e outro lado (China e Rússia, por um lado e EUA por outro), não deixarão que as hostilidades possam escalar até ao ponto em que o governo sionista seja tentado a pôr em prática o seu «plano Sansão»: A destruição completa de Israel, conjuntamente com seus inimigos, através da explosão de bombas nucleares (são mais de uma centena, guardadas na base de Dimona).

A atitude dos EUA tem sido muito ambígua; tem fingido que desaprova (fez isso em relação ao genocídio em Gaza, repetiu com o ataque ao consulado iraniano em Damasco), mas não faz rigorosamente nada para impedir que o governo de Israel continue na mesma senda. Porém, seria muito fácil; bastaria ameaçar com o corte do fornecimento de armas e munições ao seu aliado enlouquecido.
Mas não, a chefia dos EUA é do mesmo quilate que a de Israel. O governo dos EUA está dominado pelos neocons, ou seja, os que defendem a hegemonia («full spectrum dominance») dos EUA, a manutenção do seu poderio, das suas bases e das forças aliadas, o que inclui Israel, façam estes o que fizerem.
Espero que a realidade obrigue o bando de criminosos no poder em Washington, a manter-se sóbrio e perceber que não pode vencer esta partida pela força das armas: O melhor dos casos (para ele), seria conseguir o prolongamento do status quo mundial, utilizando diplomacia, não a força bruta.

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*O Irão agiu com medida e prudência para não desencadear o alastramento da guerra no Médio-Oriente, na sua retaliação, face ao crime de guerra israelita de bombardear instalações consulares iranianas em Damasco. Mas, ao mesmo tempo, deixou uma mensagem muito clara aos sionistas e a todos os inimigos que se atrevam a agredi-lo: - O Irão tem meios para causar muito mais danos do que causou agora. Somente danificou pistas de duas bases militares aéreas israelitas, mas tem capacidade técnica para atingir outros alvos, muito mais importantes, em Israel. Não foi uma vingança, efetuarem este ataque de aviso; os iranianos colocam-se num plano de superioridade militar e moral, face aos israelitas. https://www.moonofalabama.org/2024/04/iranian-missiles-hit-israel.html#more

segunda-feira, 4 de março de 2024

CRÓNICA (Nº24) DA IIIª GUERRA MUNDIAL - Alargamento dos perigos

 Nos últimos tempos, no cenário da Ucrânia, a rutura da frente do lado ucraniano, após a queda de Avdiivka veio expor a total incompetência da liderança política e militar da ditadura que governa a Ucrânia. Com efeito, foi devido ao facto de muitas das defesas fortificadas que deviam estar presentes na linha da frente não existirem, que a perda da vila estratégica de Avdiivka se transformou numa retirada desordenada, em pânico. Muitas dessas defesas só existiam no papel; a isso se resumia a aplicação das ajudas ocidentais. As somas colossais que a OTAN tem vertido no caldeirão ucraniano, têm servido sobretudo para  enriquecer ainda mais os muito ricos oligarcas que controlam o poder político, sendo este também possuidor de uma insaciável ganância como se pode verificar pelas mansões luxuosas, da Riviera até Miami, compradas por Zelensky. A imprensa ocidental parece estar a «descobrir» isso e muito mais, como as bases secretas da CIA, em território ucraniano, que desde 2014 espiam o território russo. Nada destas coisas é ao acaso. Estão a preparar a opinião pública para a derrota inevitável, que eles - no entanto - quiseram ocultar, depois de terem feito uma guerra de propaganda demente, enaltecendo as capacidades das forças militares ucranianas e diminuindo de forma grotesca as capacidades do lado russo. 

Mas, infelizmente, perante uma opinião pública, em  larga percentagem," lobotomizada" (castração mental), os sucessos e insucessos da guerra russo-ucraniana irão logo sumir-se no buraco negro de sua não-memória. 



Entretanto, na faixa de Gaza e nos restantes  Territórios Ocupados, o morticínio dos inocentes, das mulheres e crianças, assim como de não combatentes,  prossegue perante a hipócrita atitude dos países ocidentais, em primeiro lugar dos EUA. Seu presidente, embora fale em mitigar os sofrimentos das populações civis, vai fornecendo as bombas e outro material a Israel. No Conselho  de Segurança  da ONU, os EUA vão chumbando as resoluções (penso que já vai na 4ª, que chumbam) de cessar-fogo, nesta guerra cruel de Israel contra a população de Gaza.

Nos países da Europa, os tais que eram «civilizados», os  dirigentes multiplicam os sinais inquietantes de deriva militarista e autoritária: Macron, organiza uma cimeira, no fim da qual e sem dizer cavaco aos participantes, aventa a hipótese de serem colocadas tropas dos países da OTAN no teatro de guerra da Ucrânia, para evitar a derrota total do regime corrupto e fascista de Zelensky. Todos os participantes - numa reviravolta de ópera-bufa - apressaram-se a negar que tenham jamais concordado com tal hipótese.

Porém, dias depois, os serviços secretos russos gravaram e transcreveram uma conversa entre dois generais alemães, em que estes debatem a hipótese de bombardear (eles, alemães, diretamente) a ponte da Crimeia, ou - em alternativa - localidades em território russo, que nem sequer são internacionalmente disputadas. O chanceler Scholz veio confirmar a autenticidade do diálogo interceptado. Porém, a grande preocupação dele não era o seu conteúdo, mas o facto duma tal falha de segurança ter sido possível. Entretanto, é quase certo que os ucranianos já possuam os mísseis alemães Taurus, de longo alcance. 

Tudo está a postos, do lado ocidental, para que a guerra russo-ucraniana se estenda às potências europeias da OTAN, já não apenas em fornecimento de material de guerra, o que já se tem feito desde o princípio do conflito, como também agora com tropas especiais no terreno, com competência para manipular armamento sofisticado, que exigiria muito tempo de treino aos militares ucranianos. Esperemos que esses engenhos de morte de longo alcance não estejam disponíveis a tempo de adiar o final desta cruenta guerra. 

Os ucranianos, a partir de certo ponto, vão ficar incapazes de colocar no terreno, tropas - em quantidade e qualidade - mínimas para defender as suas posições. Nessa ocasião, não poderão continuar e terão de pedir negociações de paz. Alguns analistas calculam que este desfecho ocorra, o mais tardar, em Agosto deste ano.  

Quanto à campanha genocida de Israel, apoiada pelos EUA e países vassalos, será um massacre e uma crueldade sádica completamente inúteis, no que toca aos interesses dos sionistas e vai (indiretamente) colocar em risco Israel, enquanto Estado-nação.

Para avaliar a monstruosidade desta campanha genocida, leia ESTE artigo , de Mike Whitney.



No que toca ao campo imperialista, globalmente, será uma viragem que vai isolar os EUA e países alinhados com eles. 

Os BRICS estão cada vez mais sólidos: em termos de prestígio e de simpatia dos muitos países do Sul Global - coisa de que o público ocidental não se apercebe, devido a ocultação e deturpação nos media. Mas, também estão os BRICS em vésperas de lançar o seu novo sistema de moeda internacional, destinado a enterrar definitivamente o dólar. 

Entretanto, as entidades financeiras internacionais (FMI, Banco Mundial e o BIS), estão moribundas: Não só estão incapazes de lançar a tão propalada divisa digital emitida pelo banco central (CBCD), como já não conseguem capturar os países fracos. Estes sabem que podem obter empréstimos, em condições muito  mais favoráveis, junto do banco dos BRICS e/ou diretamente, em países poderosos (sobretudo, a China).

Alguns têm esperança de que a OTAN se afunde, se desfaça, uma vez que se perceba a sua inútil e antiquada maquinaria militar e a sua ainda mais antiquada doutrina estratégica (na continuidade da 1ª Guerra Fria). Parece-me que o sucesso do campo «multipolar» ultrapassa em muito o domínio militar, pois se verifica ao nível da tecnologia (civil ou militar), da produtividade e inovação, do comércio mundial, da economia (crescimento real do PIB dos seus diversos países) e da diplomacia (cimeiras dos BRICS e da OSX, cada vez mais participadas). 

Os estados-maiores do campo imperialista estão - de certeza - bem informados sobre isso. Não podem fazer nada de significativo em relação a muitos dos aspetos acima indicados. Apenas podem desencadear e acirrar guerras regionais. Não o fazem como etapa para uma guerra nuclear, mas estão a tornar cada vez maior a probabilidade desse «armagedão». 

Com efeito, os melhores especialistas consideram que uma guerra nuclear tem muitas probabilidades de se desencadear por engano, por deteção errada de um ataque nuclear pelo outro campo, sendo demasiado pouco o tempo para deliberar se tal é um ataque efetivo ou apenas um artefacto. 

Estamos assim, neste século tão sofisticado, à mercê de uma falha nos sistemas automáticos de deteção de mísseis balísticos.  

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Presidente Lula : Netanyahu e seu governo cometem crimes semelhantes aos dos nazis

[Israel bem pode declarar Lula da Silva «persona non grata»; eu e todos os lusófonos estamos gratos ao presidente do país irmão do Brasil, por dizer a verdade sem rodeios]




Transcrevo artigo de Lucas Leiroz:

Brasil e Israel vivem fortes tensões diplomáticas. Numa declaração recente durante uma visita à África, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva comparou as práticas de Israel em Gaza ao Holocausto contra os judeus cometido pela Alemanha Nazista. As suas palavras foram extremamente reprovadas pelo Estado Sionista e pelo Ocidente Coletivo, levando a uma crise diplomática.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou Lula persona non grata e convocou o embaixador brasileiro em Israel para esclarecimentos. Então, o governo brasileiro reagiu chamando de volta seu embaixador, deixando o Brasil sem representação diplomática em Tel Aviv.

O chefe da diplomacia israelense, Frederico Meyer, acusou Lula de cometer um grave “ataque antissemita” e prometeu “não perdoar nem esquecer” a declaração do político brasileiro. Muitos especialistas acreditam que a crise poderá culminar na ruptura total das relações diplomáticas entre Brasília e Tel Aviv.

Obviamente, o Brasil não está sozinho nas críticas a Israel. Vários países foram ainda mais duros contra Tel Aviv, chegando a uma ruptura completa. Contudo, o valor político da declaração de Lula é notório. Fundador dos BRICS e cumprindo seu terceiro mandato como Presidente do Brasil, Lula é atualmente um dos líderes mais respeitados do mundo, por isso o valor de seus posicionamentos é alto e relevante.

Na prática, isto poderá significar o início de uma nova onda entre as nações emergentes. A posição do Brasil poderia encorajar mais países a endurecerem as suas críticas a Israel, o que seria desastroso para a diplomacia sionista e minaria a influência ocidental no Sul Global. Não por acaso, a condenação a Lula tem sido forte entre os países ocidentais – e conta com o apoio das alas mais reacionárias e pró-Israel da política interna brasileira.

Na verdade, esta não é a primeira vez que o Brasil desafia Israel. Na década de 1970, durante o Regime Militar brasileiro, houve um impasse entre os dois países. Na época, sob o governo do general Ernesto Geisel, o Brasil planejava se tornar uma potência-chave entre os chamados “países não alinhados”, razão pela qual o Brasil assumiu uma postura cética em relação ao Ocidente, chegando a votar na ONU pelo reconhecimento da ideologia sionista como forma de racismo, manifestando apoio ao povo árabe na luta contra a ocupação israelense.

Há muitas suspeitas de que Israel tenha reagido às iniciativas brasileiras da época com operações complexas de espionagem e inteligência, incluindo sabotagem industrial e até suposto envolvimento no assassinato de José Alberto Albano do Amarante, então chefe do programa nuclear brasileiro. Nesse sentido, há temores de que Tel Aviv possa voltar a lançar uma campanha de “guerra secreta” contra o Brasil, mobilizando o seu aparato de inteligência para prejudicar setores estratégicos brasileiros.

Nos últimos anos, especialmente após a ascensão do ex-presidente direitista, Jair Messias Bolsonaro, o Brasil passou por um processo de profunda reaproximação com Israel, revertendo sua histórica política soberanista. Mesmo o próprio Lula até então estava sendo “bem equilibrado” em suas ações e pronunciamentos sobre a crise no Oriente Médio. Por exemplo, ele chegou a condenar a Operação Dilúvio Al Aqsa como um “ataque terrorista”, sendo fortemente criticado pela comunidade árabe no Brasil por tal posição.

No entanto, o agravamento da crise humanitária em Gaza impossibilitou que o Brasil continuasse neutro. Brasília tem uma tradição de política externa baseada na defesa da paz, dos direitos humanos e do direito internacional. Todos estes princípios elementares foram fortemente violados por Israel na sua campanha de agressão contra Gaza. O Brasil foi então forçado pelas circunstâncias a endurecer a sua posição e formalizar uma condenação aos crimes de Israel.

Com isso, Lula dá um passo importante para restabelecer a tradição diplomática brasileira, além de incentivar mais países emergentes a condenarem Israel. Porém, o presidente brasileiro precisa estar ciente das consequências que isso trará ao seu governo. Além das manobras secretas de inteligência por parte de Israel, o Ocidente Coletivo poderá reagir impondo sanções ao Brasil. O governo Lula deve ser forte o suficiente para administrar a situação e sobreviver às pressões externas.

Políticas de reindustrialização são vitais para que o Brasil supere, internamente, os desafios que virão sem enfrentar grandes problemas econômicos. No mesmo sentido, é necessária uma postura mais sólida do Brasil na política externa. O país tem hesitado muito entre posições pró-multipolares e pró-Ocidente. É preciso dar um “passo adiante” e colocar definitivamente o Brasil como um Estado interessado na transição geopolítica multipolar, consolidando um eixo de resistência contra o Ocidente ao lado de parceiros dos BRICS como Rússia, China e Irã.

Só assim será possível angariar apoio internacional suficiente para superar a pressão imposta sobre Brasília.

domingo, 11 de fevereiro de 2024

A RADICALIDADE DO PENSAMENTO DE FRANCIS COUSIN

 Acabei de visualizar um recente vídeo de entrevista do filósofo marxista radical Francis Cousin. Este inspirou-me a escrever algo novo.

                       

Na verdade, a atualidade não se pode entender, em profundidade, seja qual for a escola de pensamento a que se pertença, se não houver uma compreensão aprofundada do movimento da História.
Este movimento da História baseia-se, na visão de Francis Cousin, na evolução do valor de troca da mercadoria. Como marxista que é, defende que há uma diminuição inelutável, no longo período, da taxa de lucro, durante o processo produtivo e durante todo o circuito da mercadoria, enquanto tal. Tenho contestado a inelutabilidade dessa diminuição tendencial, essa «lei» do marxismo clássico. Já expliquei em detalhe, porque considerava que tal «lei» não existia, na verdade (ver: https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/03/sera-queda-da-taxa-geral-de.html) .

Mas, entendo a retórica de Francis Cousin e reconheço-lhe certo grau de coerência. Não sou marxista e, no entanto, não tenho complexos em considerar que os processos materiais, nomeadamente, a produção de utensílios, de géneros alimentares, etc., resultantes das indústrias humanas, desde os alvores da História - ou seja, desde o neolítico - tiveram um papel de grande importância, não apenas na geração de um excedente de alimentos facilmente estocáveis, como os cereais, mas também a definição de uma primeira separação de tarefas, a existência de agricultores, de pastores, de artesãos, de soldados, de sacerdotes. A perpetuação destes grupos ia de par com uma estratificação social e logo uma divisão assimétrica da riqueza (sob forma de excedentes) produzida.
Mas, a criação de valor de troca, em si mesma, o método de produção, a abundância com que é produzida, a utilização de instrumentos mecânicos ou outros, que multiplicam a capacidade produtiva dos indivíduos, não determina, só por si, a estrutura política e social na sociedade onde tal valor de troca é produzido. Penso que a apropriação privada dos excedentes, essa sim, tem a maior importância na definição das classes sociais; embora este aspeto seja necessário, não é suficiente. Com efeito, para existirem classes, é preciso que se dê a perpetuação de geração em geração das prerrogativas de agricultores e de artesãos, ou como guerreiros-defensores da casta no poder. Tanto o grupo dominante, como os dominados, sujeitos pela coação mais ou menos brutal, vão submeter-se a desempenhar o seu papel respetivo na estrutura social.
Acredito que não exista uma correlação total, unívoca, entre a infraestrutura produtiva e as diversas superestruturas: a divisão em classes, a organização política, a religião, a cultura, etc. Penso que existem muitas possibilidades de variação, em estádios bastante semelhantes do desenvolvimento das forças produtivas. Seriam assim tão diferentes, em termos de forças produtivas, processos de produção, de produtividade primária, a China e a Europa medieval, no período do ano 1000 A.D. a 1300 A. D.? Creio que não. Porém, havia grandes diferenças ao nível da estrutura de classes, do poder político, etc. O mesmo se pode dizer em relação às civilizações Maia ou Azteca, no mesmo intervalo de tempo, com a Europa medieval ou daquelas, com a civilização Chinesa.
A História é contingente e caótica, na minha visão: Pretender, como o faz Cousin, de que exista uma inelutável progressão conduzida pelo processo material, ou seja, um determinismo, como ele faz com a «evolução do valor de troca das mercadorias» (ou com outro fator singular), parece-me não corresponder à verdade da História. Sei que existe nas sociedades, ao longo dos séculos, uma acumulação de saber científico-técnico, que se traduz na facilidade cada vez maior em produzir excedentes; que estes permitem a existência de «classes ociosas», não envolvidas no processo produtivo, diretamente. Estas podem, no entanto, desempenhar um papel na estrutura da sociedade conducente á sua perpetuação, sendo por isso classificadas como úteis, socialmente.

Igualmente, a sua profecia de que o capitalismo estaria moribundo porque tem de «se negar a si próprio», através de esquemas que são - na verdade - destinados à «não-produção», parece-me exagerada.
Não é falso que a crise do COVID tenha sido largamente manufaturada para congelar a produção e diminuir a pressão do excedente de produtos (principalmente chineses) nos mercados. Também não é falso que as políticas de Zero Carbono, advogadas pelo FEM, pela ONU e por vários governos poderosos, sejam o meio de estabilizar a produção e o consumo a um nível mais baixo, permitindo assim uma «folga», que salvaria os mercados do congestionamento; sendo o «Aquecimento do Clima», uma explicação aberrante, para uso das massas.
Eu diria que o capitalismo pode transformar-se noutra coisa diferente, que não se viu antes. Mas, infelizmente, ela não terá que ver, prevejo, com modelos de socialismo que se implantaram no século passado e que (alguns) sobreviveram. Tenho uma visão pessimista de uma sociedade à «Huxley», onde a maioria está completamente alienada, com pequenos «brinquedos» e uma satisfação elementar, quer tenha  emprego, ou no desemprego, com rendimento mínimo, de miséria, para não se atrever à revolta.
Os processos produtivos vão-se tornando mais e mais automatizados, robotizados, utilizando Inteligência Artificial, chegando a invadir os domínios das profissões ditas intelectuais e antes consideradas ao abrigo de tais ingerências. Isto tornará possível uma acumulação de capital, sem ter que o repartir, seja de que forma se encare, com o trabalho. Daí, que eu esteja em total desacordo com Francis Cousin, que pensa que haverá uma limitação á mais-valia que é retirada ao trabalho humano. Ora, se houver um menor componente de trabalho humano, o rendimento que o capital irá  obter dessa produção, será maior; o lucro, ou mais-valia,  serão maiores. Por outro lado, o trabalho humano precarizado fica desvalorizado; o trabalhador será obrigado a vender-se bem abaixo do que são os custos  do processo automatizado, com utilização de  robots.
Estamos na via da eliminação progressiva do trabalho humano, mas como a mudança se faz sob o capitalismo, com estrita divisão de classes, os patrões poderão dispensar grande número de trabalhadores, que deixaram de ser indispensáveis ao processo produtivo. A questão do «rendimento mínimo universal», põe-se neste momento histórico, porque há que manter a capacidade de funcionamento do mercado, o escoamento das mercadorias e dos serviços:
- Se a classe trabalhadora estiver desempregada numa enorme proporção, ela não poderá consumir de modo significativo: Seria o próprio mercado capitalista que se iria desmoronar. Além disso, criar essa dependência relativa ao «rendimento mínimo» é o meio dos Estados gerirem as massas trabalhadoras em «subemprego crónico» e evitarem a revolta dos desapossados.


Quanto à sua interpretação dos Evangelhos, no sentido de fazer de Jesus um «comunista», não deixa de ser um anacronismo. Tanto Jesus, como as comunidades cristãs iniciais, banhavam e eram herdeiras de uma cultura em que o dinheiro era raro, não era o dinheiro que «mandava» em todos os domínios, como foi o caso desde o triunfo do capitalismo, até hoje.
A radicalidade do cristianismo primitivo envolvia a não aceitação da «lei temporal», a elevação das pessoas a «filhas e filhos de Deus»: estavam todas em igualdade diante de Deus. A partilha dos bens materiais e a Eucaristia, como Corpo e Sangue de Cristo, é literalmente o «corpo» da Eclésia (que quer dizer, em grego, Assembleia da Comunidade).
Se não considero correto designar Jesus, ou os primeiros cristãos como «comunistas», inversamente, reconheço que o cristianismo foi inspirador das várias tendências de libertação social que existiram. Entre muitos exemplos, vejam-se os movimentos dos camponeses alemães e holandeses, no século XVI; a missionação jesuíta no Novo Mundo (do séc. XVI a XVIII), catequizando os indígenas, etc.
O cristianismo foi, certamente, uma das inspirações das diversas vertentes de comunismos e socialismos, incluindo o socialismo libertário ou anarquismo.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

REFLEXÃO GEOESTRATÉGICA

Numa época de grande perturbação, como a que estamos vivendo, o facto de eu me atrever a fazer uma síntese, é - sem dúvida- um empreendimento temerário, da minha parte. Temerário, mas não impossível. Pois os meios fornecidos pela Internet e não controlados pelos poderes, multiplicam a capacidade de qualquer um. Temos acesso a muitas informações no que toca aos vários aspetos da cena internacional - economia, militares, diplomacia, etc.

Porém, a maior parte das pessoas não desenvolveu uma visão de conjunto, esta foi antes tornada opaca, pela enorme quantidade de «lixo informativo» que satura os diversos canais de informação.

           
             Navio de carga alvejado no Mar Vermelho

O meu propósito, aqui, é descrever com a maior franqueza o que tenho vindo a observar neste domínio da geoestratégia, ao longo dos últimos decénios. Deliberadamente, irei coibir-me de fazer prognósticos, sejam quais forem; o leitor que tire as suas conclusões. Eu irei, apenas, fazer o diagnóstico do que tem ocorrido no Mundo desde a implosão da URSS.

Com efeito, este é um marco muito importante para se compreender o que vem a seguir, embora a História contemporânea, o século XX, incluindo as duas Grandes Guerras Mundiais e todas as outras situações de guerra ou de conflito, que ocorreram quer entre as duas guerras mundiais, quer após a 2ª guerra mundial, sejam de primeiríssima importância para se compreender o mundo de hoje.

O marco da implosão da URSS é importante porque significou o desaparecimento de um Mundo dominado por duas superpotências. Mas, contrariamente à esperança ingénua de muitos (eu incluído), não houve paz verdadeira, na Europa e no Mundo: lembro as guerras desencadeadas pelo imperialismo triunfante contra o Iraque e a guerra civil que levou ao desmembramento da Jugoslávia, com os préstimos de uma Alemanha reunificada e força dominante da União Europeia.

Mas, no plano económico, a oligarquia do Mundo afluente deu passos de grande significado (e imprudência), nomeadamente, naquilo que chamam de «globalização». Este nome ocultou, na verdade, o propósito de domínio. Este termo de globalização escondia a ideologia subjacente: o neoliberalismo. Na Europa, principalmente, assistiu-se ao «enrolar» do cenário anterior, ou seja, o Estado Social-Democrático, ou Estado de Bem-Estar. Tratava-se de uma transitória repartição, menos assimétrica da riqueza na população, resultante dos superavits das economias, em crescimento rápido depois a IIª Guerra Mundial, permitindo assim manter satisfeitas as classes não-burguesas (assalariados, pequenos funcionários, campesinato) num consenso fabricado, afastando-as da atração exercida pelo socialismo, considerado por muitos ser a inevitável alternativa aos regimes capitalistas então vigentes. O processo de privatização das empresas estatais foi acompanhado pelo desmantelamento dos direitos sociais, conquistas de decénios de lutas populares. Mas este processo teve também como consequência que os grandes capitalistas já não tinham que enfrentar-se com governos que pretendessem obrigá-los a cumprir os objetivos gerais das sociedades, nas quais suas empresas operavam. Foi também possível essa transição graças ao arregimentar da casta política. Tratou-se de torná-la cativa através da corrupção ou, nos casos de tendências não-capitalistas, a marginalização, confinamento a um ghetto político. Além disso, datam dessa altura as discretas manobras visando ressuscitar a extrema-direita, pela primeira vez, desde o final da IIª Guerra Mundial, em muitos países europeus. Esta extrema-direita, aparecendo à luz do dia e concorrendo a eleições, cativou uma parte do eleitorado descontente. Grande parte do que refiro acima, decorreu durante a década de 1990; pelo menos, o desenrolar em grande escala da nova estratégia da oligarquia e os seus primeiros resultados práticos.

Uma primeira contradição que surgiu e foi-se acentuando: a desindustrialização do mundo capitalista mais afluente, realizada pela transferência de fábricas para zonas de não-respeito das regras do mercado laboral (ausência ou repressão dos sindicatos) e uma total indiferença à preservação do ambiente (indústrias depredadoras de recursos, poluição em grande escala ...). Os grandes capitalistas reconstituíam assim a capacidade de extraírem lucro, graças ao custo muito menor dos salários, à ausência de regulamentação, ou seu incumprimento, quer ao nível dos direitos laborais, quer da proteção do ambiente. Esses países tinham governos desejosos desses investimentos estrangeiros. Primeiro, foram as «maquiladoras» (perto da fronteira do México com os EUA), depois fábricas em países totalmente submetidos aos EUA, como o Haiti, as Filipinas, etc. Logo depois, ainda nos anos 80, a China «comunista» proporcionou uma força de trabalho disciplinada e diligente que permitiu a deslocalização das indústrias de eletrónica e de computadores, dos EUA e dos países mais avançados da UE (Reino Unido, Alemanha, França), para a China.

Entretanto, na ex-URSS, a Rússia estava sofrendo um processo de saque e desmantelamento, pelos oligarcas locais e por capitalistas abutres ocidentais. Quanto aos outros países, que antes faziam parte da URSS, reinavam oligarquias desejosas de vender os recursos nacionais (principalmente minerais) aos capitalistas do Ocidente; alguns desses governos eram formados por velhos burocratas do Partido Comunista que se reconverteram à pressa em vassalos do capitalismo globalizado, mantendo-se no poder através dos métodos autoritários de sempre. O desmantelamento da própria Rússia, era o desejo estratégico da tendência neoconservadora (chamada neocons) nos EUA, que se tinha entrincheirado nos postos chave dos ministérios e fazia parte de influentes «think-tanks». Este grupo, autêntico Estado dentro do Estado, considerava que a vitória na Guerra-Fria não estava completa. Para completá-la, era indispensável desmantelar a Rússia («balcanizar»), o maior país mundial, em termos de área, riquíssimo em recursos e escassamente povoado. Eles conseguiram influenciar a política de sucessivos presidentes dos EUA, desde Clinton, Bush Júnior, Obama, Trump, até Biden. A política externa foi sempre ditada pelos neocons, quer os presidentes fossem republicanos, quer democratas.


Esta situação, perigosa para a paz mundial e, em particular, para a paz europeia, teve o seu culminar com a guerra da Ucrânia. A estratégia, essencialmente a mesma durante mais de dois decénios, deve-se aos mais agressivos políticos e militares, que consideravam que os dirigentes dos EUA e da OTAN não tinham que honrar os compromissos assumidos com Gorbatchov, aquando do processo que levou à reunificação pacífica da Alemanha, em que os soviéticos se comprometeram a retirar suas tropas da Alemanha de Leste (DDR), a troco de não se efetuar o alargamento da OTAN, a países do ex-Pacto de Varsóvia. Este compromisso, assumido por Bush Sénior e - coletivamente - pelos líderes da OTAN, foi repetidamente negado ter existido, embora haja provas concludentes de que foi efetivamente assumido e por escrito .



Mas, os poderosos continuavam a fazer o que lhes apetecia, negando-se a qualquer diálogo sério com a Rússia. Note-se que esta, embora enfraquecida, continuava a ser a segunda maior potência mundial no armamento nuclear. As coisas só começaram a mudar, com a subida ao poder de Vladimir Putin, promovido por Ieltsin, nos seus últimos momentos de lucidez, depois de ter visto em que se transformara a Rússia.

A subida de Putin não se deveu a um golpe de Estado: foi uma evolução dentro dos marcos constitucionais e políticos da Rússia, na transição do milénio. Por mais que demonizem Putin, os propagandistas ocidentais não poderão ocultar o facto de que ele e seu governo propuseram que a Rússia se integrasse na OTAN. Esta proposta foi varrida com um revés de mão, como aconteceu a muitas outras iniciativas de «mão estendida» do governo da Rússia.

A última tentativa de diálogo sério entre gente adulta, tentada pela diplomacia russa, ocorreu no final do ano de 2021. Tratava-se de uma proposta de conversações ao mais alto nível, nos países europeus que - coletivamente - se reuniriam e encontrariam um modus vivendi, assegurando um sistema coletivo de segurança.

Nessa altura, os dirigentes da Europa e dos Estados Unidos já estavam, com o governo vassalo de Zelensky, a preparar o assalto final às repúblicas dissidentes do Don (República Popular de Lugansk e República Popular de Donetsk). Estas tinham-se separado do regime de Kiev, após o golpe de Maidan de 2014, porque não aceitavam serem oprimidas por Kiev, que queria impor-lhes a anulação do seu estatuto (constitucional) de regiões maioritariamente russófonas. Nesta situação, as repúblicas organizaram a sua autodefesa, contra as divisões e milícias (neonazis) de Kiev, apoiadas pelos países da OTAN: Durante 8 anos, foram treinadas, armadas e equipadas pelos ocidentais. Cerca de 14 mil mortes civis, durante esses oito anos (do início da guerra civil ucraniana, até à invasão russa) resultaram do constante bombardeamento, pelo exército do regime de Kiev, de centros de cidades e de outros locais com civis, nas duas repúblicas. Deve-se sublinhar, que Putin hesitou muito até vir em auxílio a este povo russo martirizado. Em Janeiro de 2022, os serviços de espionagem russos sabiam que a ofensiva de Kiev estava iminente. A opinião pública russa nunca lhe iria perdoar, se ele não fizesse nada, perante a ofensiva contra as repúblicas do Donbas: cerca de 70 mil tropas ucranianas de elite, bem treinadas e equipadas, preparavam-se para invadir estes territórios. Poucos dias antes da invasão da Ucrânia pela Federação Russa (24 de Fevereiro de 2022), as repúblicas dissidentes estavam a ser bombardeadas com maior intensidade, num crescendo que prenunciava a invasão iminente pelo exército ucraniano.

Dos desenvolvimentos e peripécias desta guerra, outros terão escrito com bastante rigor e pormenor. Eu contento-me em dizer que foi uma guerra cruel e inútil, que deixará marcas indeléveis nos povos da região, mas também implicará uma divisão duradoira entre europeus ocidentais e orientais.

Hoje, já se pode afirmar - sem parcialidade - que se está perante a derrota do exército ucraniano, após cerca de dois anos de guerra, uma guerra desejada e incentivada pela OTAN. Isto significa cerca de um milhão de baixas de militares ucranianos, além das baixas de civis e da destruição causada pela guerra. Do lado russo, não tenho dados precisos pois, desde o princípio, as fontes oficiais russas não fornecem números. O que dizem as fontes jornalísticas ocidentais tem sido - quase sempre - um exagero, elas são um mero instrumento de propaganda anti- russa.

Em definitivo, a guerra russo-ucraniana é um acontecimento trágico, também para os povos europeus ocidentais: ficaram sujeitos a uma oligarquia militarista e fascistoide, ela própria obedecendo aos imperialistas americanos. Estes, acentuaram o tratamento dos países europeus sob «proteção» da OTAN, como vassalos aos quais se pode mandar fazer tudo o que decida Washington DC.

No futuro, não haverá paz no continente europeu. Pelo menos, rapidamente, pois não se vislumbra tal vontade. Os russos não se sentem inclinados a negociar um acordo: têm experiência de que os dirigentes europeus e norte-americanos não cumprem os compromissos assumidos. Entre muitos factos graves, os dirigentes dos EUA deixaram caducar, não renovaram ou denunciaram os acordos relacionados com armas nucleares (com grande significado no continente europeu), negociados na década de 70 e nas duas décadas seguintes.

Por outro lado, não se pode esperar do lado ocidental uma viragem no sentido da distensão: os militaristas dominam a OTAN. Os governos na Europa ocidental são submissos aos EUA, cada vez mais imperiais. O mais recente caso, é significativo. A decisão americana unilateral de interromper* o envio de gás LNG aos países europeus, o qual era vendido por preço bem alto, aliás. O seu comportamento é mais uma facada nas costas da Europa, depois de terem promovido a destruição no Mar Báltico, dos gasodutos Nordstream I e II, que abasteciam de gás russo a Alemanha e outros países europeus. Os que governam os EUA, não são «amigos» da Europa.

Duvido que a destruição física da população de Gaza, com a complacência e ajuda material do «Ocidente», seja grande trunfo para exibir como prova do respeito pelos direitos humanos e da simples decência, aos olhos dos países do Sul Global (ver PS1).

O ponto a que se chegou, mostra que o momento unipolar da geopolítica mundial está a chegar ao fim. Isto ocorre mais depressa do que praticamente todos os observadores imaginaram.

Não apenas as bases dos EUA em território hostil, sírio ou iraquiano, estão à mercê de ataques por milícias, desejosas de expulsar os americanos. Também as frotas dos EUA e de dois ou três aliados, estacionadas à entrada do Mar Vermelho são «sitting ducks» (alvos fáceis). O mesmo, em relação aos porta-aviões americanos no Mediterrâneo, ao largo de Israel e do Líbano. As forças do Hezbollah têm mísseis com alcance (e com precisão) mais do que suficiente para atingir e afundar esses porta-aviões.

                                  Sitting Duck, em https://johnhelmer.net/

Então, para que se põem os EUA a fazer estas provocações? - Sem dúvida, querem mostrar que não se deixam intimidar e que continuarão a dar o seu apoio ao governo genocida de Netanyahu. Mas, tanto no Iémen como no Líbano, está fora de questão fazerem desembarques com marines, para conquistar posições dos Houthis, ou do Hezbollah. O espetáculo que dão é dum «gigante com os pés de argila». O Irão e todo o Eixo da Resistência (forças governamentais e milícias no Iraque, Síria, Líbano, Iémen e Palestina) aprenderam as táticas que resultam, nesta guerra assimétrica: estão agora a pôr isso em prática. Estão a flagelar o inimigo através de ataques simultâneos e causando baixas, mas não chegam ao ponto de provocar um ataque americano em larga escala, que só seria desencadeado em caso extremo, devido ao risco de fiasco. Esta tensão permanente obriga os americanos a verter cada vez mais reforços, a aumentar os ataques pela aviação e por mísseis; porém, sem vantagem decisiva, sem vitória. No final, terão de recuar, após terem perdido soldados, material de guerra valioso e prestígio.

Não sei o que o amanhã trará, por isso não faço conjeturas. Não me admira que, nos próximos tempos, a instabilidade aumente. Poderá haver novos focos de violência e de guerra.

A chamada «globalização» foi um enorme fiasco. Agora, o Globo está dividido: Dum lado, os herdeiros das potências coloniais e neocoloniais, o Ocidente; do outro, o Sul Global, com a locomotiva da aliança tríplice Rússia - China - Irão, em coordenação com os restantes Estados dos BRICS alargados. Ao todo, estes já perfazem a maioria da população mundial e cerca de metade do PIB mundial.

Murtal/ Parede, 31 de Janeiro de 2024




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* Parece inacreditável, mas esta medida, que prejudica os aliados/vassalos dos EUA, terá que ver com questões internas dos EUA, nomeadamente a «revolta» do governador do Texas e/ou com a luta contra «alterações climáticas». Veja:

PS1: A sentença do TIJ - que obrigava o Estado de Israel a tomar conta das situações humanitárias - foi sabotada pelo mesmo Estado de Israel, com o pretexto de que a UNRW era capa para ativistas do Hamas. Em consequência, os ocidentais decidiram de imediato suspender a sua contribuição financeira, no momento em que esta é absolutamente indispensável aos cerca de 1,7 milhão de refugiados. Se esta medida parece retaliação contra a população de Gaza, é porque é isso mesmo, de facto: 


PS2: Leia a notícia abaixo que confirma e reforça a nossa primeira informação sobre a «suspensão» do envio de LNG dos EUA para a Europa: https://www.zerohedge.com/geopolitical/russian-media-thrilled-bidens-lng-gift-putin

PS3: Como afirmei anteriormente ( ver AQUI) não há dúvida de que se está num momento em que a classe dominante, em desespero, vai fazendo erros atrás de erros, cada qual mais grave: https://www.moonofalabama.org/2024/02/screw-the-facts-europe-commits-itself-to-further-escalation.html#more

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

CRÓNICA (Nº23) DA III GUERRA MUNDIAL: Quando os Erros se Sucedem

    Localização do ataque à base americana «Tower 22» ver artigo em Zero Hedge

Em certos momentos, a classe no poder fica demasiado desorientada. É nestas ocasiões - que se podem verificar em diversas épocas históricas - que os poderes dirigentes são levados a fazer erro sobre erro. As tomadas de decisão desastrosas conduzem a um agravamento da situação, o que leva a que tomem medidas mais e mais brutais, mais e mais desesperadas, para assegurar o domínio sobre os adversários.
Nós estamos a verificar agora, no caso das guerras declaradas e não declaradas dos EUA e seus aliados,  uma sucessão catastrófica de erros, que apenas resultam no enfraquecimento da posição global destes, em relação às nações que ainda ontem eram aliadas do Império, ou que não o sendo, tentavam evitar o confronto direto, para não sofrer o peso esmagador das sanções, da subversão e da guerra, pela potência hegemónica.
Uma característica sobressai dos fracassos, quer de israelitas (nomeadamente, no 7 de Outubro passado), quer dos EUA e vassalos da OTAN: A excessiva confiança nos sistemas automatizados de controlo, deteção e riposta, quer no cenário de Gaza, quer no cenário da base americana (ilegal) «Tower 22» na fronteira jordano-síria. O ataque com drones a esta última base, por milícias xiitas baseadas no Iraque, foi bem sucedido porque as defesas aéreas automáticas que defendiam a base não funcionaram. Já em Outubro os militantes palestinianos conseguiram inativar os sistemas de monitorização e desencadear um ataque para fora do perímetro de Gaza, fortemente vigiado. Neste caso, também os sistemas automáticos de resposta não funcionaram. Nos subsequentes ataques com mísseis, quer no lado do Sul (HAMAS), quer do Norte (HEZBOLLAH), a chamada «Cúpula de Ferro» (iron dome), o sistema israelita de deteção e contra-ataque com misseis teleguiados que - supostamente - iria neutralizar os mísseis e drones que se aproximassem, também não funcionou com a eficácia que lhe era creditada. Os americanos decidiram punir o Iémen, em retaliação dos ataques dos Houthis contra navios da frota de guerra dos EUA, estacionados na entrada do Mar Vermelho. Este ataque não causou danos significativos ao dispositivo de mísseis dos Houthis: Menos de 24 h depois do ataque americano, eram disparados pelos Huthis salvas de mísseis em direção a navios de carga e de guerra americanos e aliados.
No Tribunal Internacional de Justiça (um órgão da ONU) Israel foi condenado em termos nada ambíguos como autor de massivas e flagrantes violações dos direitos humanos e das convenções internacionais de proteção dos civis, em tempo de guerra (convenções de Genebra). Mas, não só Israel, também o governo americano, desprezaram esta sentença, mostrando - mais uma vez - o que os imperialistas entendem por «respeito pela ordem internacional baseada em regras»: Não se trata da obediência ao direito internacional, mas sim da submissão aos interesses dos EUA.  A organização de apoio aos refugiados UNRWA, um organismo da ONU, foi-lhe seguidamente interrompido o financiamento, sob pretexto de que alguns (poucos) trabalhadores* deste organismo, em Gaza teriam alegadamente (sob tortura) confessado terem laços com o Hamas. Que este gesto dos poderes ocidentais apareça como vingança torna-se patente, pelo «timing» em que se ocorreu essa interrupção do financiamento: dias após a sentença do TIJ, mas semanas após terem sido conhecidas as alegadas ligações.
Veja-se, desde 2001, o percurso catastrófico das guerras no Médio-Oriente (Afeganistão, Iraque, Líbano, Síria Israel/Palestina), da guerra na Ucrânia, das provocações ao largo de Taiwan (legalmente e internacionalmente reconhecido como território chinês, não esqueçamos) e a intensificação da agressividade da potência que pretende ser hegemónica. Apesar deste crescendo, a sua posição estratégica global só diminuiu. 

                               Bases americanas na Ásia Ocidental

A guerra económica, com sanções, embargos, boicotes, tarifas punitivas, arresto de ativos financeiros e - mesmo - o confisco puro e simples destes, foi brutal, deitou abaixo muitas relações construtivas que se tinham tecido no pós-Guerra Fria. Isto conduziu à derrota do Ocidente, em termos da economia produtiva e  - claramente - a favor dos «inimigos», a Rússia, a China e outros. Ou seja, os EUA e restantes membros da OTAN, essencialmente, perderam em termos económicos, com as sanções e outras formas de guerra económica, que tomaram a iniciativa de desencadear. 
Há quem diga que os BRICS não precisam de tomar uma iniciativa agressiva contra a OTAN, basta se auto-desenvolverem, estreitarem laços de cooperação com projetos comuns entre eles e com outros, que queiram participar. Os tresloucados dirigentes ocidentais vão continuar a dar tiros nos pés, a se autopunirem, num jogo macabro e inútil, pois eles não podem já ditar as leis na arena internacional. Já estão completamente desmascarados; ninguém os vê como defensores da legalidade internacional. Agora, a verdade sobressai em todos os planos e ao nível global: São os EUA e os seus aliados (OTAN, Israel e alguns outros países aliados), quem estão - em permanência - fora da legalidade internacional; que não acatam resoluções da ONU, nem os veredictos de tribunais internacionais, quando lhes são desfavoráveis; são eles que multiplicam as ações de provocação, com o perigo destas induzirem o alargamento dos conflitos até ao nível global.
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NB:
* «That a dozen or less of the 30,000 UNRWA worker were probably involved in the October 7 events was known for weeks» Citado em MoA



                             DESENHO HUMORÍSTICO DE JOHN HELMER


Dois excelentes e detalhados artigos relativos às situações que enunciei acima, por John Helmer, e «Moon of Alabama»:


Este meu artigo acima, vem atualizar o ensaio em duas partes «As Quatro Fragilidades do Império»:
 



quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

O SÉCULO DE OURO, LITERALMENTE

 A de-dolarização* vai continuar ao longo do ano de 2024. Ela atinge agora um marco histórico. As reservas de ouro detidas pelos bancos centrais relativamente a Obrigações do Tesouro dos EUA, alcançaram a marca dos 50% pela primeira vez.

Gráfico nº1: Valor das reservas oficiais (Bancos Centrais) em ouro relativamente às Obrigações do Tesouro denominadas em dólares


Sendo a China a segunda maior detentora de dívida americana, sob forma de Obrigações do Tesouro dos EUA, a mudança na composição de suas reservas em ouro e em ativos denominados em dólares é muito significativa. Note-se que os valores oficiais em toneladas de ouro, contabilizadas no Banco Central Chinês (o PBC), são considerados por muitos observadores muito abaixo da realidade, pois existem grandes quantidades de ouro nas mãos do Estado, que não estão incluídas na contabilidade do referido banco central. 

Gráfico nº2:  China - o valor dos ativos em ouro em relação aos ativos de Obrigações do Tesouro dos EUA


A acumulação de ouro pelos BRICS, comparada com os ativos em ouro dos EUA e da União Europeia, vai aumentando, sem nenhum sinal de abrandamento. Alguns pensam que esta acumulação de ouro indica que será lançada no futuro próximo uma moeda comum, sustentada pelo ouro. Mas, outros observadores pensam que os BRICS, em vez de adotarem uma moeda comum, diretamente ancorada ao ouro, vão continuar as trocas em divisas nacionais respetivas, servindo o ouro como parâmetro de ajustamento nas trocas bilaterais. De qualquer maneira, o ouro nos BRICS  já desempenha um papel relevante no sistema monetário em construção.

Gráfico nº3: Ativos em ouro nos bancos centrais dos BRICS, em proporção com os ativos em ouro dos bancos centrais dos EUA e da União Europeia.

De uma forma ou de outra, o ouro está a ser reintroduzido no sistema monetário mundial. Os BRICS não são os únicos: o Banco de Compensações Internacionais estabeleceu, há vários anos, que o ouro iria ser considerado  como «Tier 1», em todo o sistema bancário (bancos centrais e comerciais). Isto significa que os Estados, as empresas e as pessoas podem usar o ouro como colateral, da mesma forma como usavam as obrigações soberanas.

(Gráficos copiados do site seguinte  

https://kingworldnews.com/eric-pomboy-what-is-happening-in-the-gold-market-is-stunning/   )

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* NB: A de-dolarização é sobretudo uma recusa em deter ou em comprar dívida do tesouro dos EUA («treasuries»). Quando um banco central vende «Treasuries», não importa por que motivo, está a adquirir dólares em troca dessas treasuries. Assim, a procura de dólares no mercado mundial das divisas aumenta pontualmente. Mas, como os EUA estão falidos, o que acontece direta ou indiretamente, é a emissão de mais dólares, para cobrir essa operação de resgate de treasuries. Ao fazê-lo, o banco central americano (a FED) está diluindo o valor do dólar. Por outro lado, ser possuidor de dólares, equivale a  ser sujeito a sanções e chantagens pelo governo dos EUA. Estas, apenas se podem efetivar através da manipulação do dólar e das contas denominadas em dólares, possuídas por entidades estrangeiras. Quem não esteja disposto a isso, mesmo sendo aliado dos EUA, vai evitar converter os seus excedentes em Treasuries e vai preferir algo que não possa ser instrumentalizado contra o próprio detentor: é o caso de barras de ouro.