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segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

CRÓNICA (Nº23) DA III GUERRA MUNDIAL: Quando os Erros se Sucedem

    Localização do ataque à base americana «Tower 22» ver artigo em Zero Hedge

Em certos momentos, a classe no poder fica demasiado desorientada. É nestas ocasiões - que se podem verificar em diversas épocas históricas - que os poderes dirigentes são levados a fazer erro sobre erro. As tomadas de decisão desastrosas conduzem a um agravamento da situação, o que leva a que tomem medidas mais e mais brutais, mais e mais desesperadas, para assegurar o domínio sobre os adversários.
Nós estamos a verificar agora, no caso das guerras declaradas e não declaradas dos EUA e seus aliados,  uma sucessão catastrófica de erros, que apenas resultam no enfraquecimento da posição global destes, em relação às nações que ainda ontem eram aliadas do Império, ou que não o sendo, tentavam evitar o confronto direto, para não sofrer o peso esmagador das sanções, da subversão e da guerra, pela potência hegemónica.
Uma característica sobressai dos fracassos, quer de israelitas (nomeadamente, no 7 de Outubro passado), quer dos EUA e vassalos da OTAN: A excessiva confiança nos sistemas automatizados de controlo, deteção e riposta, quer no cenário de Gaza, quer no cenário da base americana (ilegal) «Tower 22» na fronteira jordano-síria. O ataque com drones a esta última base, por milícias xiitas baseadas no Iraque, foi bem sucedido porque as defesas aéreas automáticas que defendiam a base não funcionaram. Já em Outubro os militantes palestinianos conseguiram inativar os sistemas de monitorização e desencadear um ataque para fora do perímetro de Gaza, fortemente vigiado. Neste caso, também os sistemas automáticos de resposta não funcionaram. Nos subsequentes ataques com mísseis, quer no lado do Sul (HAMAS), quer do Norte (HEZBOLLAH), a chamada «Cúpula de Ferro» (iron dome), o sistema israelita de deteção e contra-ataque com misseis teleguiados que - supostamente - iria neutralizar os mísseis e drones que se aproximassem, também não funcionou com a eficácia que lhe era creditada. Os americanos decidiram punir o Iémen, em retaliação dos ataques dos Houthis contra navios da frota de guerra dos EUA, estacionados na entrada do Mar Vermelho. Este ataque não causou danos significativos ao dispositivo de mísseis dos Houthis: Menos de 24 h depois do ataque americano, eram disparados pelos Huthis salvas de mísseis em direção a navios de carga e de guerra americanos e aliados.
No Tribunal Internacional de Justiça (um órgão da ONU) Israel foi condenado em termos nada ambíguos como autor de massivas e flagrantes violações dos direitos humanos e das convenções internacionais de proteção dos civis, em tempo de guerra (convenções de Genebra). Mas, não só Israel, também o governo americano, desprezaram esta sentença, mostrando - mais uma vez - o que os imperialistas entendem por «respeito pela ordem internacional baseada em regras»: Não se trata da obediência ao direito internacional, mas sim da submissão aos interesses dos EUA.  A organização de apoio aos refugiados UNRWA, um organismo da ONU, foi-lhe seguidamente interrompido o financiamento, sob pretexto de que alguns (poucos) trabalhadores* deste organismo, em Gaza teriam alegadamente (sob tortura) confessado terem laços com o Hamas. Que este gesto dos poderes ocidentais apareça como vingança torna-se patente, pelo «timing» em que se ocorreu essa interrupção do financiamento: dias após a sentença do TIJ, mas semanas após terem sido conhecidas as alegadas ligações.
Veja-se, desde 2001, o percurso catastrófico das guerras no Médio-Oriente (Afeganistão, Iraque, Líbano, Síria Israel/Palestina), da guerra na Ucrânia, das provocações ao largo de Taiwan (legalmente e internacionalmente reconhecido como território chinês, não esqueçamos) e a intensificação da agressividade da potência que pretende ser hegemónica. Apesar deste crescendo, a sua posição estratégica global só diminuiu. 

                               Bases americanas na Ásia Ocidental

A guerra económica, com sanções, embargos, boicotes, tarifas punitivas, arresto de ativos financeiros e - mesmo - o confisco puro e simples destes, foi brutal, deitou abaixo muitas relações construtivas que se tinham tecido no pós-Guerra Fria. Isto conduziu à derrota do Ocidente, em termos da economia produtiva e  - claramente - a favor dos «inimigos», a Rússia, a China e outros. Ou seja, os EUA e restantes membros da OTAN, essencialmente, perderam em termos económicos, com as sanções e outras formas de guerra económica, que tomaram a iniciativa de desencadear. 
Há quem diga que os BRICS não precisam de tomar uma iniciativa agressiva contra a OTAN, basta se auto-desenvolverem, estreitarem laços de cooperação com projetos comuns entre eles e com outros, que queiram participar. Os tresloucados dirigentes ocidentais vão continuar a dar tiros nos pés, a se autopunirem, num jogo macabro e inútil, pois eles não podem já ditar as leis na arena internacional. Já estão completamente desmascarados; ninguém os vê como defensores da legalidade internacional. Agora, a verdade sobressai em todos os planos e ao nível global: São os EUA e os seus aliados (OTAN, Israel e alguns outros países aliados), quem estão - em permanência - fora da legalidade internacional; que não acatam resoluções da ONU, nem os veredictos de tribunais internacionais, quando lhes são desfavoráveis; são eles que multiplicam as ações de provocação, com o perigo destas induzirem o alargamento dos conflitos até ao nível global.
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NB:
* «That a dozen or less of the 30,000 UNRWA worker were probably involved in the October 7 events was known for weeks» Citado em MoA



                             DESENHO HUMORÍSTICO DE JOHN HELMER


Dois excelentes e detalhados artigos relativos às situações que enunciei acima, por John Helmer, e «Moon of Alabama»:


Este meu artigo acima, vem atualizar o ensaio em duas partes «As Quatro Fragilidades do Império»: