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sexta-feira, 6 de junho de 2025

A FALSIFICAÇÃO DA HISTÓRIA DOS HEBREUS COM OBJETIVOS POLÍTICOS



Uma das maiores mentiras dos sionistas no poder em Israel, é a da sua ligação «de sangue» com os povos judeus dos tempos bíblicos.

Para sustentar essa mentira e justificar a teoria do «retorno», toda uma série de falsidades são produzidas para dar crédito a uma certa versão da Bíblia Hebraica. Não está em causa a escritura bíblica, em si mesma, mas sua interpretação redutora, aliás em contradição flagrante com os factos estabelecidos pela arqueologia moderna. 
Criou-se uma pseudo-científica «arqueologia bíblica», que pretendia encontrar, a todo o custo, evidências no subsolo de Israel/Palestina, em apoio aos vários livros da Bíblia. Esta «arqueologia bíblica» conseguiu iludir muitos, no passado; porém, agora está desacreditada, graças aos avanços da arqueologia moderna.

Por outro lado, a técnica de sequenciação do ADN tornou possível o retraçar das genealogias. Foram gastas somas consideráveis - de fundações privadas e de universidades e institutos de investigação - para encontrar os supostos «genes judaicos»: Fez-se muito alarido em torno de tal pesquisa.
Porém, quer as populações Sefarditas (Judeus da Europa Ocidental e Norte de África), quer Askenases (Centro e Leste da Europa), não possuem genes que os diferenciem das populações não-judaicas dos seus respectivos entornos. Não se identificaram genes particulares, que fossem «marcadores exclusivos» das populações judaicas, para grande decepção dos patronos destes estudos.
De facto, este é o resultado mais provável. A História não fantasiada é reforçada pela Genética das Populações: Foram numerosos os cruzamentos entre judeus e não judeus e houve conversões ao judaismo, ao longo de mais de 2000 anos de história dos judeus na Europa.
Mas, existe uma comunidade poderosa de sionistas ricos que tem pressionado para serem refeitos e reinterpretados aqueles estudos genéticos, em puro desperdício de meios humanos e financeiros: O que procuram é uma «cobertura científica» para o seu racismo. Querem que a genética «prove» a existência de genes específicos à população judaica. Isto, para que possam afirmar que as populações judaicas são «uma raça à parte».
No entanto, a religião judaica pode existir e ser cultivada, tal como as outras religiões, com a participação de várias etnias. Porém, os sionistas têm um arreigado complexo racista. Eles têm de afirmar sua superioridade genética, enquanto relegam os palestinianos à categoria de «infra-humanos».*

Como geneticista, não posso senão denunciar como uma fraude, que se continue na senda dum racismo disfarçado, agora com utilização das técnicas de ADN, para falsificar a realidade e perpetuar o mito do povo judaico como uma «raça».

Como esclarece o etnólogo do vídeo abaixo, os mais diretos descendentes dos habitantes da Palestina de há 2000 anos, são as atuais populações palestinianas.
Nestas, existem cristãos, muçulmanos e judeus. Os  membros das três religiões viveram em comunidades separadas mas em vizinhança pacífica, no passado. O mesmo ocorreu na Península Ibérica, antes dos reis de Espanha e de Portugal (finais do séc. XV- princípios de séc. XVI) terem forçado os mouros e os judeus a converterem-se ao cristianismo. Os que não aceitaram, foram expulsos.

Atualmente, em Israel, a maioria da população judaica é proveniente ou descendente de colonos, em sucessivas vagas após a IIª Guerra Mundial, sobretudo vindos da Europa Central e do Leste.

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* É o que querem dizer, quando usam a expressão «animais humanos».

                                              


domingo, 25 de maio de 2025

OS MITOS DO PASSADO E DO PRESENTE

 Os mitos atravessam as épocas,  rejuvenescidos pelas narrativas que os sustentam. São uma forma de criação coletiva, que podem ser registados por este ou aquele autor, o qual vai inspirar-se e justificar-se com a respetiva narrativa  original.

Se são  produtos de uma cultura, de uma sociedade, como é possível que eles transcendam as épocas e geografias para se elevarem a mitos globais da humanidade?

- Esta questão pode receber respostas divergentes, mas que não se excluem mutuamente:

A UNIVERSALIDADE resulta de constantes culturais profundas, ou seja, expressões  dos arquétipos profundos da psique humana, existentes nas mais diversas culturas e épocas. 

A expansão dos mitos deriva da ASSIMILAÇÃO  DE MODELO CULTURAL, que é trazido para novos territórios e respectivos povos, por conquista seguida de assimilação cultural ou por absorção  da cultura tecnológica mais avançada pela menos avançada. 

No presente, tal como em relação  a outros aspetos das civilizações (como sejam as religiões), os mitos constituintes das diversas etnias podem estar esquecidos do grande público nalgumas regiões, porém nas zonas que não estão tomadas pela cultura "ocidentalizada", as narrativas mitológicas mantêm- se vivas. 

Quanto às outras sociedades, as industralizadas, que são hoje a grande maioria, estas experimentam uma profusão de mitos análogos ou sucedâneos  dos tradicionais:  Os ídolos do desporto e da cultura "pop", nestes países,  desempenham o mesmo papel de identificadores  tribais e de coesão de grupo que as narrativas míticas de origens nas sociedades agrárias, ou nas de caçadores-recoletores.

Porquê estudar os mitos, em especial os mitos que são forjados e cuja narrativa é reforçada na media? Porque é com narrativas, em especial as que são emitidas pelos poderes, que é justificado para as «massas», o que estes mesmos poderes ordenam. 

Ora nas narrativas correntes surgem, explicitamente ou não, as dicotomias «civilizado/bárbaro», «progressivo/ primitivo», e outras. 

Estas expressões estão omnipresentes desde os textos de há dois ou três séculos, que pretendiam legitimar a «acção civilizadora» do Ocidente, ou seja, dos poderes coloniais. Uma grande parte da antropologia, no século XIX, assimilou estas «evidências», naturalizando e dando assim um estatuto «nobre», «civilizacional» aos empreendimentos brutais de pilhagem e destruição de culturas não-europeias, incluindo os vestígios de diversas civilizações milenares. Para «legitimar» esta colonização, era preciso que o «não-europeu», de uma «raça» diferente da «caucasiana», fosse tipificado como «inferior», «não civilizado», devendo ser tomado a cargo «pelo homem branco, do mesmo modo como um adulto se responsabiliza por uma criança»...

Logo se vê que o mito da superioridade do «homem branco» foi parte integrante da mentalidade colonial e legitimador, «em nome do progresso», das hecatombes, os crimes contra a humanidade, os genocídios e os etnocídios.

Que esta mentalidade colonial ainda esteja profundamente enraízada no substrato ideológico, é dolorosamente patente hoje. Veja-se a indiferença (quando não a aprovação entusiasta) por parte de uma parte do público dito «civilizado», perante o martirizado povo da Palestina, sujeito a genocídio, empurrado para fora do seu território. 

A sua natural resistência, por contraste, é vista como «terrorismo», mas não são assim classificados os atos terroristas, em grande número e constantes, cometidos, por ordem  do governo, pelas forças armadas de Israel. 

Note-se que esta situação está imbrincada com o maior falhanço histórico da ONU, que avançou com uma «solução» ao problema de dar uma pátria aos judeus, à custa de desapossar o povo palestiniano de suas terras e aceitando que estes estivessem sujeitos a uma situação colonial, quer nas zonas designadas como territórios palestinianos (Faixa de Gaza, Território da Cis-Jordânia e Jerusalém- Leste), quer nas zonas territoriais israelitas.

Aqui, não é meu objetivo analisar a complexa situação do conflito Israelo-Palestiniano, mas pretendo ilustrar até que ponto as questões de «raça», de nacionalidade, do estatuto legal, da legalidade internacional, se interconectam entre si e com o não dito, mantido na penumbra. Nos países  «ocidentais», a herança da mentalidade colonial não se extinguiu. Permanece o mito da superioridade civilizacional dos brancos, quando não mesmo da «superioridade» da chamada raça branca ou caucasóide. 

É na monstruosidade disto, que radica o absurdo de se permitir (contra todo o direito e legalidade internacional),  que um povo colonize outro, que o subjugue, o expolie das suas terras, das suas casas, da sua vida... E quem dá a cobertura? - Os tais «civilizados» Estados, que apoiam com armamentos e ao nível diplomático a campanha sionista de extremínio do povo mártir palestiniano. 

Na nossa época, uma série de mitos foram construídos: a ONU, a legalidade internacional, os Estados modernos defensores dos direitos humanos, o direito dos povos à auto-determinação... Tudo isto desaparece, agora, nas situações em que os grandes poderes favorecem uma posição ou outra. Não agem segundo os princípios do Direito ou Legalidade Internacional, mas recobrem suas ações e omissões com narrativas ocas, em contradição direta com os seus atos. 

quinta-feira, 22 de maio de 2025

O MAIOR CRIME CONTRA A HUMANIDADE

 



É bastante preocupante o processo psicológico que leva grande número (não sei as percentagens) de cidadãos de Israel a desprezar a vida humana, quando se trata de palestinianos, fazendo afirmações públicas (na televisão, em sites do YouTube, em jornais, etc) de uma enorme brutalidade e indiferença, face ao sofrimento de um povo, especialmente exibindo total indiferença ao sofrimento e morte de milhares de crianças, em Gaza e noutros  pontos da Palestina. Quando vimos estas manifestações de racismo descarado, ficámos incrédulos no primeiro instante, para depois nos convencermos, dadas as abundantes provas - fornecidas pelos próprios - de ódio visceral em relação aos palestinianos e, em especial, à resistência palestiniana e ao Hamas. 

Creio que estamos perante uma forma de racismo supremacista, do mesmo tipo da que ocorria na Alemanha Nazi, mas com a agravante de - no caso de Israel - haver conivência internacional com o genocídio em curso. 
É como se a comunidade internacional, através dos governos e representantes por eles nomeados (embaixadores, altos funcionários,  altas patentes militares...) tivesse assim decretado que o Estado de Israel beneficiava duma (inexistente) "cláusula de exceção", no que toca à «solução final» para o «problema palestiniano», podendo impunemente cometer os crimes contra a humanidade que são o genocídio, a deportação em massa, a limpeza étnica e um sem número de atrocidades cometidas contra civis indefesos. 
Sabemos que existem cidadãos judeus que não podem ser identificados com o sionismo, que repudiam a utilização da sua religião e etnia para fins contrários à dignidade humana e aos valores espirituais e morais das religiões (incluindo a Judaica). Mas, estes cidadãos do Estado de Israel estão duplamente isolados: a sua pertença a Israel, faz com que sejam considerados «traidores», por israelitas sionistas e «do campo dos opressores» por certos palestinianos.
Os Estados membros da ONU têm uma responsabilidade grande, sobretudo os que têm assento no Conselho de Segurança, por se negarem a exercer a máxima pressão legal possível, para obrigar o governo de Netanyahu a acabar com o cerco cruel e desumano, em que o número de camiões de ajuda humanitária autorizados é demasiado escasso intencionalmente e sujeito a nova interrupção pelo governo criminoso de Netanyahu.
É uma inércia internacional que não tem nada de natural, pois, apesar do «blackout» informativo da média corporativa, não é possível ignorar o que se tem estado a passar na Faixa de Gaza. Mais de dois milhões de civis são sujeitos a bombardeamentos, ocupação militar, cerco e corte de víveres, destruição de todas as infraestruturas como reservatórios de água, estradas, edifícios públicos, bairros inteiros, hospitais, escolas, etc. Note-se que esta destruição é dirigida especificamente contra a população civil. Este facto é perfeitamente conhecido de todas as chancelarias do mundo. 
Se um governo doutro país cometesse um décimo ou vigésimo dos crimes que as tropas de Israel cometem (sob o comando dos seus generais), este país já estaria sujeito às sanções mais severas, não apenas a «apelos» para poupar os civis. Em condições desta gravidade, noutro ponto do mundo, medidas concretas seriam tomadas por todos os governos, tais como a proibição de fornecimento de armas, o isolamento diplomático, e outras medidas. Deviam ser ativados os procedimentos do Tribunal de Justiça Internacional, para que rapidamente houvesse uma sentença em relação ao governo genocida. 
Tudo aquilo que não foi feito e que deveria ser feito, recai - em última instância - sobre os responsáveis políticos dos países representados na ONU e suas agências. 
O sistema da ONU, onde alguns países têm o privilégio de veto no Conselho de Segurança (membros permanentes), permite que, neste caso concreto, graças ao veto sistemático dos EUA, não sejam aplicadas sanções justas e necessárias para poupar dezenas ou centenas de milhares de vidas humanas. 
Não é a primeira vez que isto ocorre, tanto em relação a Israel e EUA, como noutras situações. A ONU não pode fazer valer a sua legalidade, nem aplicar a sua jurisprudência nas situações de gravidade extrema, se houver um bloqueio sistemático e ilegítimo das suas resoluções. 
Se o fim do sofrimento do povo palestiniano não é colocado em primeira prioridade, não só pela ONU, como pelos governos e as agências humanitárias internacionais, estão a mostrar conivência, portanto, uma parte de culpabilidade, pois tinham os meios e obrigação moral e jurídica de impedir a continuação do genocídio em Gaza, que se arrasta há cerca de 1 ano e 9 meses.
Não admira que o poder atual de Washington não se preocupe com o respeito pelas decisões da ONU, visto que é formado a partir da facção MAGA do partido republicano, anti-globalista e nacionalista. Além disso, Trump tem boas relações pessoais com Netanyahu e com dirigentes sionistas. Mas, perante a monstruosidade do comportamento das autoridades israelitas e perante o sofrimento do povo palestiniano, os governos das outras nações deveriam (apesar dos vetos dos EUA) tudo fazer para inverter a situação.
Como este crime vai provavelmente ficar impune, dada a correlação de forças mundial, isso dará alento às forças mais retrógradas em todos os países, para agirem apenas de acordo com os seus interesses. Quando estiverem no poder não se sentirão obrigadas a respeitar minorias, sejam elas políticas, étnicas ou religiosas. A frágil construção de uma legalidade internacional, está a sofrer um enorme abalo. 
Se não houver uma tomada de consciência e uma mudança de rumo, também as legalidades constitucionais dos Estados poderão ser liquidadas, pelas punhaladas de alguns e pela ausência de reação de muitos outros.

Quando escrevia - há vários anos atrás - que estávamos a entrar numa nova «Era das Trevas», não imaginava que os acontecimentos internacionais viessem tão cedo  confirmar a minha previsão. Mas, infelizmente, é o que temos diante dos olhos.

PS1: De todos os governos da U.E., que «acordaram» agora, em relação ao genocídio e aos planos de «limpeza étnica» de Netanyahu a respeito de Gaza, apenas o governo de Sanchez, em Espanha, tomou a iniciativa de proibir qualquer exportação de armas para Israel e de apelar para que os outros membros de U.E. tudo façam para pôr termo ao genocídio em Gaza.

sexta-feira, 11 de abril de 2025

PHYLLIS BENNIS: TRUMP, NETANYAHU E A LÓGICA GENOCIDA DE ISRAEL



Phyllis Bennis é uma lutadora, lúcida e assumidamente contra o imperialismo dos EUA.

A sua firmeza permite-nos distinguir as pessoas como ela, presentes na esfera anglo-americana, com o mais elevado sentido moral e intelectual, e que contrastam com o colonialismo dos poderes.

Na Palestina sob mandato britânico, foram autorizados pelos britânicos o massacre e a expulsão (Nakba) do povo autóctone da Palestina. Estes crimes horrendos, perpetrados antes e depois da independência de Israel, pela Irgun e outros grupos sionistas, foram seguidos por quase 80 anos de apartheid e atos genocidários do Estado de Israel.

Nos EUA, Austrália, África do Sul, entre outros, o poder colonial anglossaxónico também se apropriou violentamente dos territórios, escravizando, expulsando e massacrando as populações autóctones respectivas (limpeza étnica, genocídio).




domingo, 6 de abril de 2025

REFLETINDO SOBRE CULTURA, SABEDORIA E SABER TÉCNICO-CIENTÍFICO

 

Se fosse tão fácil medir a concentração de sabedoria, como a concentração de riqueza num país, veríamos que certos países, desprezados como «atrasados», estão muito melhor equipados nesta qualidade - a sabedoria - que outros.

 Infelizmente, a dissociação entre sabedoria e saber, entre sabedoria e poder, tem vindo a aumentar. 

As zonas europeias, cujo desenvolvimento científico e técnico se adiantou ao resto do Mundo, a partir do Século XVI, formando o núcleo da modernidade, com suas descobertas, invenções e aplicações técnicas,  produziram a 1ª Revolução Industrial (desde cerca de 1700, até ao presente). 

Igualmente, produziram armamento mortífero em quantidade e qualidade superiores às doutros povos, incluíndo civilizações florescentes e requintadas, como a China ou a Índia. 

A partir daqui e até agora, a dominação económica, política e militar foi mantida pelo chamado «Ocidente». Este, passou a incluir países que - embora na órbita geopolítica anglo-americana (como a Austrália, a Coreia do Sul, o Japão) - não são ocidentais do ponto de vista da Geografia.  

Porém, em termos de civilização, os países ocidentais possuem uma enorme fragilidade. Apesar de traços muito negativos, como a colonização, o tráfico de escravos e sua exploração, manifestavam-se outros traços, como a abertura, modernidade, tolerância relativa, os avanços científicos e tecnológicos, que foram e são ainda o motivo principal para outros povos  - mesmo não aceitando o seu domínio - reconhecerem e admirarem vários dos seus frutos. Igualmente, verificou-se que elites governantes em nações não-ocidentais, foram educadas com valores semelhantes ou idênticos aos das elites do Ocidente. 

A incapacidade de muitas pessoas comuns - e mesmo dos intelectuais - nos países ocidentais, se elevarem acima de uma visão do mundo centrada nas suas próprias raízes, tradições e valores, deve-se a uma arreigada visão racista do que seja a cultura, o valor do intelecto, da espiritualidade, etc. É frequente pensarem em termos semelhantes aos de seus antepassados, quando estes colonizavam povos e nações noutros continentes (África, Ásia, América Latina), sendo a extensão desses impérios coloniais múltiplas vezes a da área geográfica da própria metrópole colonial. Depois destes países terem perdido as suas colónias, alguns ficaram com uma espécie de «orgulho ferido», por terem «sido roubados» esses territórios coloniais à sua nação. No caso de Portugal, a incapacidade em compreender a inevitabilidade da independência das colónias africanas (Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angol, Moçambique) e asiáticas (Macau, Timor-Leste), constatei-a em contactos tidos com várias pessoas. 

É surpreendente que Portugal, um país tão atrasado, tão cheio de analfabetos, tivesse tanto orgulho em «possuir» estes territórios, que supostamente lhe pertenciam porque os «conquistou»... Na verdade, o espírito do colonialismo mais atrasado, mais retrógado, que sacrificou o próprio desenvolvimento da metrópole para manter essas colónias durante a longa guerra colonial, sem qualquer esperança de ser ganha pelo exército colonial, não desapareceu inteiramente de certos indivíduos, incluindo de membros de gerações que não conheceram o tempo da guerra colonial. 

A perpetuação desta visão, completamente distorcida da realidade, tem permitido que uma extrema-direita autóctone, com óbvios laivos racistas, se pavoneie nas ruas (e agora também no parlamento), na indiferença dos «democratas» arrumados, endinheirados, que hoje e amanhã são capazes de fazer coligações com esta extrema-direita. Isto, porque existe muita incultura, mesmo nas pessoas com diplomas universitários: Existe um vazio enorme - um quase silêncio - sobre o que foram, verdadeiramente, para os povos colonizados, os séculos em que Portugal foi a potência colonial. Há mesmo (falsos) intelectuais que se dedicam a branquear a imagem do colonialismo português, supostamente «mais brando» que o dos outros potentados europeus. 

Este complexo colonial tem efeitos graves na mentalidade de muitas pessoas. Estas, não são cultas mesmo que o aparentem: Exibem um complexo de superioridade racial, óbvio ou semi-disfarçado; uma ignorância total das contribuições dos outros povos e das personalidades notáveis destes outros povos para o desenvolvimento espiritual, científico e artístico, da humanidade no seu todo; incapacidade prática em dialogar com pessoas oriundas doutras culturas; o desprezo pela humanidade dos 4/5 da população mundial; uma total contradição com a matriz espiritual do cristianismo, a religião e berço cultural da qual esses indivíduos, quase todos, se reivindicam.  

A persistência deste complexo tem relação com a forma deturpada como lhes é ensinada a História do seu país, assim como das regiões colonizadas pelos portugueses. Tem também relação com o dogmatismo característico dos ignorantes; aqueles que menos sabem sobre um assunto, são os que falam mais sobre ele, que dão a ilusão (aos ingénuos) de possuírem uma vasta cultura e de terem estudado aprofundadamente o assunto! 

É minha convicção de que será necessário as gerações mais jovens descolarem das narrativas efabuladas e enganadoras sobre o passado do seu país, que aprendam os factos, buscando em boas e diversas fontes.  Só assim estes jóvens podem ter um papel construtivo no Mundo de hoje/amanhã. 

Os que estiverem bem equipados cientificamente, mas não do ponto de vista da sabedoria, terão menos hipóteses de ser aceites e apreciados, em trabalhos de equipa. Pelo contrário, os que tiverem abertura maior às outras culturas, a outras espiritualidades, todas elas dignas e representativas da riqueza da humanidade, não serão marginalizados, serão bem acolhidos e terão experiências gratificantes, como muitos de nós tivemos. 

domingo, 19 de fevereiro de 2023

A PROPÓSITO DE UMA FRASE DE D. H. LAWRENCE

Aplica-se, hoje, o dito de D. H. Lawrence, de há um século atrás: “O essencial da alma americana é sua dureza, isolada, estoica, de assassino. Ela nunca chegou a derreter-se.” Citação retirada de artigo de Ed Curtin: https://off-guardian.org/2023/02/19/the-world-wants-to-be-deceived/
Não tenho dúvidas da justeza* de D. H. Lawrence, há um século atrás, como não duvido da justeza* do diagnóstico dececionado de Edward Curtin no excelente artigo: «O Mundo Quer Ser Enganado».

Mas, na realidade, não há assassino sem vítima. Quem se coloca na posição de vítima, são aqueles mesmos que ficam impressionados com «as luzes da ribalta», com retórica humanitária e a imagem totalmente falsa da maior «democracia» do Mundo, que estes assimilam, não vendo que estão a engolir em pequenas doses de veneno, o engano destinado a apresentar o «típico» americano como alguém muito decente, crente, bonacheirão, firme na defesa da «democracia» e respeitoso do poder, seja ele o do dinheiro ou o político.  

Para ilustrar este facto, irei descrever algumas experiências pessoais, embora eu saiba que não têm qualquer significado em termos estatísticos:

1) Há muitos anos, no metro, casualmente, encetei conversa com uma jovem americana. Não me lembro de que conteúdo falámos, só sei que a certa altura, a conversa resvalou para a política, em especial a americana. Não pude evitar falar-lhe das guerras sujas que os EUA estavam a fazer ou a apoiar fações, como no caso da Nicarágua (o diálogo passava-se quando Ronald Reagan era presidente). Ela abriu muito os olhos de espanto e dizendo, com voz ofendida, que a América era uma Nação pacífica, que ajudava os povos mais fracos. 

2) Num cemitério situado na Coreia do Sul, sob bandeira das Nações Unidas, repousam os soldados americanos e da coligação liderada pelos americanos que combateram na guerra da Coreia. Eu mostrei-me surpreendido ao guia, que a Coreia do Norte e a China não estivessem representadas, pois estávamos num pedaço de território que pertencia (legalmente) à ONU e não à Coreia do Sul. Ele não teve argumentos para me contrariar, mas também que os tivesse, não iria entrar em discussão comigo, visto que ele tinha de ser amável com os turistas. 
Mas a todos os sul-coreanos a quem contei o episódio e a minha perplexidade, não houve um que tivesse respondido o óbvio (para mim): A coligação que combateu as forças da Coreia do Norte e da China Popular, embora nominalmente sob bandeira da ONU, na realidade, eram tropas americanas e das nações que contribuíram com «voluntários». 
Há diferenças até na morte; eles (americanos) não esquecem, nem perdoam nunca. Se és inimigo, nem após a morte, te reconhecem a dignidade de ser humano.   

3) Num curso de Verão, num cantão da Suíça para aprender língua alemã, conheci uma jovem americana. Ela tinha talento musical e preparava-se para frequentar um curso superior de música na Suíça. Eu esteva no curso de Verão para poder beneficiar duma bolsa de investigação dada pela embaixada suíça. Ora, esse curso de língua alemã era frequentado por variados estudantes de ambos os sexos. Não sei por que motivo, a referida jovem, meteu-se-lhe na cabeça ensinar aos colegas dos outros países (ele era a única cidadã dos EUA) o seu hino nacional. As pessoas fizeram-lhe a vontade, não por submissão ou por convicção, mas porque quiseram mostrar-lhe que não tinham nada de pessoal contra ela (nem contra o seu país). Mas, eu fiquei a pensar no que aconteceria, se um Iraniano ou um Chinês (eram vários), tivesse a mesma ideia de querer ensinar aos companheiros de curso, o seu hino nacional? Tal não seria possível, porque nem eu nem os membros das outras nações,  estávamos interessados em manifestar um nacionalismo que ia ao ponto de obrigar os colegas, por cortesia, a aprenderem um hino que não lhes dizia nada.

4) Uma estudante, fazendo mestrado ou doutoramento em Coimbra, de origem curda e de nacionalidade turca, contou-me que, nas zonas curdas sob «proteção» americana, os diversos grupos étnicos, curdos, turcos, cristão sírios, árabes, etc. vivem em comunidades separadas e que cada comunidade tinha seus representantes, «em democracia». Mas isto era exatamente o modelo importado dos EUA (não sei se ela tinha consciência disso), em que as comunidades vivem separadas, têm uma organização comunitária separada por etnias e/ou por religiões: Os representantes políticos locais e regionais, são dum dos grupos étnicos mais fortes na zona, ou têm acordos que asseguram que os interesses dos vários grupos étnicos serão tidos em conta. Não existe nos EUA, qualquer «mistura» de pessoas vindas dos diversos cantos do globo (quanto aos que lá sempre estiveram, os sobreviventes do genocídio, estes foram «aparcados» em reservas e aí continuam). É por isso que, nos EUA, há periodicamente explosões de violência. Por as pessoas se definirem pela cor ou tom da pele: «brancos», «amarelos», «negros» e «latinos». Ou melhor, os poderes tudo fizeram para que as pessoas tenham sua representação mental da sociedade, dividida em comunidades por raças. Assim, a realidade fundamental da identidade de interesses entre oprimidos (seja qual for sua etnia) contra opressores (seja qual for a sua, também) é diluída.

5) Eu tive frequentes contactos com cidadãos dos EUA, enquanto estudante ou como recém-formado. Podia-se falar sobre política de modo civilizado, sendo eu cuidadoso para que não se sentissem ofendidos. Com efeito, mesmo alguém de elevado nível cultural, poderia confundir meu anti-imperialismo com uma forma de exprimir antipatia pessoal pelos americanos. Porém, o que sobressaia era que, os que estavam dentro do espectro político «mainstream», tinham uma abordagem simplista. Por contraste, as pessoas não-académicas, ativistas sociais ou sindicais dos EUA, que encontrei em vários momentos da minha vida, eram pessoas com originalidade; tinham interessantes pontos de vista sobre vários assuntos de política internacional.  

Não se pode generalizar, mas confesso que esta vivência acaba por influenciar o meu modo de ver o povo americano. Tenho lido muitos textos - os de Edward Curtin, Howard Zinn, Noam Chomsky e outros - sobre o modo como têm sido condicionados, nos EUA, geração após geração. 
Sei que a minha abordagem pode parecer simplista; de facto, não vivi nunca nos EUA. Gostava que os americanos não se tomassem pelo povo «excecional», isso - além de ridículo - é mesmo ofensivo para as restantes nações.
Pessoalmente, compreendo o forte sentimento de identidade que se possa ter, em relação à nação onde se viveu a maior parte da vida, da qual são os nossos pais e mães. Sei que o sistema educativo e político acaba por ter muita influência no moldar da mentalidade individual e coletiva. 
Mas, a questão é, simplesmente, de não se colocar numa postura de «superioridade» falsa, pois repousa sobre o poderio, a riqueza e força militar de uma potência, sobre as outras.  
A multipolaridade não vai eliminar as desigualdades entre as nações. Não vai anular diferenças culturais e políticas óbvias. Penso que vai permitir que não haja nenhuma nação hegemónica que dite às outras por que parâmetros políticos, morais, etc. estas outras se devem reger.  Para não falhar, não poderá ser apenas um projeto de força económica, militar, política, etc.: Tem de haver o suporte dum conjunto de regras ou leis internacionais, que permitam os povos viverem e desenvolverem-se, sem colonialismo, neocolonialismo, nem imperialismo. 

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* Não duvido da justeza de D.H. Lawrence e de Edward Curtin porque assumo naturalmente que ao falarem de «assassinos americanos» referem-se aos líderes, os que têm real poder, no Governo, na Administração e nos Negócios.



terça-feira, 3 de janeiro de 2023

A QUESTÃO NACIONAL: PASSADO E PRESENTE

 


Foto: Trabalho forçado de «indígenas» nos caminhos de ferro do Ghana, enquanto colónia britânica.

A «questão nacional» é das que se vem arrastando desde os mais recuados momentos da História. Ela - ou melhor, a sua confusão com outros conceitos - ensombrou as sociedades, com guerras de conquista e/ou de resistência e pela autonomia perante poderes autocráticos. 

Além disso, a forma como a nacionalidade é percebida, não é a duma simples constatação das diferenças étnicas, com aspetos genéticos, culturais, linguísticos, etc. Porque, a estas constatações, somam-se sistematicamente elementos valorativos, quer subindo, quer baixando, um vasto conjunto de pessoas, dentro das sociedades. Trata-se portanto de afirmar ou reforçar uma desigualdade. Este aspeto da questão é porventura o mais grave, pois funciona como terreno propício comum aos racismos e xenofobias. Ou seja, é o esteio de todas as indignidades e crueldades, que seres humanos têm infligido a outros seres humanos.

Ultimamente, vários povos inseridos em nações, que são sempre conjuntos multiétnicos, têm sofrido (de novo!) as consequências catastróficas da visão racista das etnias, a que gerou as ondas que vieram desembocar na Iª e IIª Guerras Mundiais. 

As pessoas esquecem, demasiado facilmente, que a ciência instituída afirmava, por volta de 1900, como estando provada a superioridade de certa(s) «raça(s)» em relação a outras. Considerava-se que era natural países imperialistas e colonialistas, dominarem os outros. Que povos «indígenas» não-europeus, precisavam de ser «civilizados» pelos europeus. 

Os revolucionários do passado não eludiram as questões da nação e da pátria. Porém, que eu saiba, os autores socialistas, comunistas e anarquistas do século XIX nunca teorizaram a nação num sentido nacionalista. Pode dizer-se que estiveram muito atentos aos fenómenos do nacionalismo e às rebeliões contra a opressão colonial. 

Na visão «ocidental» dominante, pelo contrário, trata-se de fazer passar um discurso de autoabsolvição. Os seus autores, ou quem os encomenda, são, obviamente, os mesmos que levaram os povos das sedes coloniais às guerras e à destruição de etnias e nações, na imensa maioria do que hoje se chama «3º Mundo».

A desmontagem e exposição do conceito de superioridade racial de certas nações, como sendo falso e ideológico, nunca foram efetuadas seriamente na Europa junto do grande público. Isto, apesar das catástrofes que foram a Iª e IIª Guerras Mundiais. Com efeito, nos países ditos do 1º Mundo, não se fez nunca uma correção, nunca se expôs os crimes do colonialismo e imperialismo. Não são os povos em si mesmos, dos países coloniais e imperiais, quem têm a principal responsabilidade: São as classes dirigentes, que ocultam ou deformam, pois nunca quiseram considerar-se culpadas. 

Os estudos aprofundados que instituições académicas possam produzir, apesar do seu mérito, não se traduzem - nos países outrora metrópoles coloniais - numa pedagogia para a generalidade do povo. Pelo contrário, nas camadas populares desses países, pode notar-se, por vezes, um nacionalismo agressivo, com a identificação com as «gestas», que foram as guerras e conquistas. Tal não nos deveria admirar, pois as formas ideológicas e caricaturais do ensino da História, têm sido um dos pilares do obscurantismo e da propaganda. 

A classe dominante não pode sê-lo, senão à custa do engano e da ausência propositada de pensamento crítico no ensino. Não é por acaso que tal acontece, quer no ensino, quer na media e no «entretenimento». Os «bons e os maus», é assim que são construídos todos os enredos, em especial, nas ficções que envolvam  guerra. 

A minha convicção, neste campo, é que as pessoas deveriam ser educadas sobre as origens da nossa espécie. Deveriam perceber, profundamente, que a origem comum da humanidade, não é mais assunto «de opinião»: Transformou-se numa das poucas certezas que a ciência nos pode dar.

A maioria das grandes religiões (cristianismo, islamismo, budismo e outras), são «não-étnicas». Existe predominância desta ou daquela religião, em certas partes do Globo e em determinados países. Porém, salvo manipulação e distorção da religião, não há um assumir de que existam origens separadas, «criações separadas», dos grupos humanos, na base da sua diversidade. O que já é um progresso; nem sempre foi assim. 

Hoje, as narrativas de criação separada são tidas como míticas pelos antropólogos e outros cientistas e são explicitamente tratadas como tal. Ideologias que postulavam origens independentes umas das outras, de facto, não apenas estavam cientificamente erradas, mas também serviram como doutrinas de pseudo ciência, com consequências graves. Tal aconteceu com o regime nazi, com o apartheid na África do Sul e com outros regimes.

A questão nacional está muito claramente codificada na Carta das Nações Unidas e noutros documentos, assinados pelos Estados-membros da ONU, que proíbem a discriminação dos indivíduos com base na sua etnia, religião e cultura de origem. Não só isso, como é reconhecido o direito duma minoria étnica ou nacional, ver respeitadas as tradições e as vivências culturais próprias, como parte integrante e inalienável dos seus direitos humanos. Além disso, é explicitamente reconhecido o direito à autodeterminação: O direito a qualquer população se emancipar da tutela dum Estado, no qual se encontra e construir as suas próprias instituições. 

Ao nível dos princípios e do seu significado, é possível que especialistas em Direito Internacional se ponham de acordo, mas quanto a políticos, mesmo dizendo respeitar os textos com força legal, não fazem mais, por vezes, do que demagogias e sofismas.

A vontade popular deveria ser expressa diretamente através de referendos. No entanto, isso é impedido - na prática - em muitos casos. Aquilo que impede essa expressão por referendo, é geralmente um contexto de conflito aceso, que pode chegar à guerra civil. Frequentemente, este conflito é acirrado ou provocado pelos próprios governos dos Estados. Por isso, as questões de cunho étnico, têm estado na origem de guerras civis, muito violentas e onde são cometidos graves crimes, de parte a parte.  

Nesta pequena discussão, quis enfatizar o que é o conceito de nação, como afirmação de «superioridade» de um povo em relação a outro(s) e que este conceito está na origem de conflitos. 

Por contraste, a nação enquanto conjunto político multiétnico, é caracterizada por igual respeito pelos vários grupos étnicos e pessoas que os compõem. Este conceito é compatível com um modo de vida pacífico, tolerante, apropriado à nossa época. 

A visão mitificada da nação, como uma espécie de «super tribo», ou seja, baseada somente na origem étnica dos indivíduos, não apenas é racista, também é contrária ao entendimento contemporâneo da ciência biológica e antropológica. 

É uma construção ideológica, um instrumento de dominação de classe que é infundido nas várias camadas do povo, para que considere como seu «dever» oprimir os outros, que podem até ser seus vizinhos e familiares. 

Importa compreender que, na panóplia ideológica neocolonial e imperial, as narrativas nacionalistas têm um conteúdo totalmente diferente e falso, das abordagens contemporâneas da sociologia, da antropologia ou da história. 

PS:  ​O que é ​«nacionalismo étnico»​?​ 

Desde logo, deve ser visto como radicalmente distinto dum nacionalismo​ ​​POLÍTICO, onde a nação é reconhecida como uma construção política à qual pode pertencer qualquer indivíduo de qualquer origem étnica, na condição de aceitar a constituição e leis pela qual se rege. Esta visão da nação como uma construção política, vem da Revolução Francesa, do conceito de nação dos republicanos franceses, que inclusive aceitaram como nacionais e portanto elegíveis para a Assembleia Nacional, cidadãos da Polónia e da Irlanda, e outros, pois estavam com o regime republicano instaurado.


​Quanto ao caso triste e trágico do nacionalismo OUN, trata-se de algo completamente distinto: A organização terrorista ucraniana OUN nascida nos anos 1920, começa por ser um movimento anti-polaco na região de Lvov, que correspondia à província da Galícia do Império Austro-Húngaro, para derivar para um movimento de apoio ao nazismo na IIª Guerra Mundial, responsável por dezenas de milhares de mortes de civis polacos, judeus e ucranianos soviéticos. São criminosos de guerra, sem qualquer dúvida e realmente torna-se muito preocupante que os poderes ocidentais, em particular, os da U.E. estejam a branquear a origem assumida dos partidos no poder em Kiev e a darem uma ideia falsa, intencionalmente (pois sabem a verdade), ocultando o seu racismo e colaboração com o nazismo, como se eles fossem «democratas» e «patriotas»...
Consultem estes links:





domingo, 30 de maio de 2021

TEORIA CRÍTICA DA RAÇA («CRITICAL RACE THEORY»)

A «teoria crítica da raça», é uma forma extrema de racismo, pois ela está constantemente a querer avivar as contradições e conflitos entre pessoas pertencentes a etnias diferentes. Quando uso o termo «etnias», estou a falar em termos cientificamente aceites, quando estou a falar em raças, se o que está em causa é a espécie humana atual, então estou simplesmente a introduzir um conceito racista.

Explicitando melhor: durante séculos, houve uma noção de que as diferenças físicas entre etnias traduziam (segundo a visão então dominante) níveis de aptidão, moral e intelectual, diferentes. No século XVI, houve mesmo um debate entre teólogos para se saber em relação aos recém descobertos ameríndios, que não vinham mencionados na Bíblia, se eram ou não «humanos», se tinham ou não «alma».

Este debate teve repercussões muito concretas na legalização da escravatura, em primeiro lugar dos ameríndios, os quais eram capturados e depois forçados a trabalhar nas minas e plantações como animais, pelos seus proprietários brancos. Depois de epidemias dizimarem a população ameríndia a -talvez- um décimo da população anterior à descoberta da América pelos europeus, os colonos brancos tiveram de recorrer à importação de escravos negros, vindos do continente Africano. Note-se que o circuito da escravatura incluía reis e potentados negros, no interior de África, que vendiam escravos (negros) a mercadores árabes e também portugueses.

Tudo isto é bem conhecido. É a história trágica e violenta da acumulação primitiva nas Américas e noutras partes do mundo não europeu, que esteve na base do capitalismo. Mas isso não justifica que um espírito, com moral não distorcida, possa fazer pesar sobre os atuais «brancos», a «culpa» coletiva do passado.

Se todos concordam que seria grotesco e infame que um filho / filha fosse condenado/a em tribunal por crime cometido por seu/sua pai/mãe, porque não consideram ainda mais absurdo e contra toda a justiça que - coletivamente - os «brancos» atuais sejam acusados de «racismo estrutural», de «beneficiários de privilégios», etc. ???

Na ordem jurídica internacional, qualquer discriminação contra uma etnia é considerada inaceitável. Não existe nenhuma legitimidade para querer o «reconhecimento privilegiado» de uns, como vítimas eternas e eternamente merecedoras de «reparações», enquanto os supostos descendentes dos opressores seriam automaticamente considerados opressores e merecedores das mais severas discriminações, de vergonha e de pagamento de compensações.

Querer ou tolerar isso, é reviver um racismo -seja ele anti branco, ou anti outra etnia - porque o racismo é isso mesmo. É intolerância para com as diferenças, que têm certos grupos em relação a outros, em virtude do seu nascimento, dos seus genes.

Os verdadeiros anti racistas não podem senão repudiar esta amálgama de teorias e práticas racistas.

Um verdadeiro anti racista, reconhece que o termo raça não se aplica à espécie humana atual, pois ele tem um significado outro em biologia.

Com efeito, há raças quando se formam subespécies e estas derivam para formas cuja miscinegação, ou entrecruzamento, é cada fez mais difícil, ou seja, não se formam híbridos (isolamento reprodutivo completo) ou, quando se formam, estes possuem características pouco favoráveis, face aos não híbridos.

Os cientistas consideram que Homo neanderthalensis e Homo sapiens contemporâneos formavam duas subespécies, que esporadicamente se entrecruzaram, mas a subespécie Homo neanderthalensis acabou por desaparecer, há cerca de 24 mil anos. Desde então até hoje, a espécie Homo sapiens é a única do género Homo que existe à face da Terra. Todas as etnias atuais da espécie humana são entrecruzáveis e formam híbridos sem nenhum «handicap» e estes, por sua vez, são  capazes de se cruzar, sem perda de qualquer propriedade, física ou intelectual, pelo facto de serem híbridos.

Do ponto de vista da teoria da luta de classes, da qual o marxismo é defensor (embora existam outras teorias e correntes não-marxistas que assumem a existência de classes e de luta entre elas), a forma como operam estes racistas do século XXI, difusores da «teoria crítica da raça», não é somente uma visão equivocada da ciência biológica contemporânea. É - sobretudo - um meio de dividir as pessoas oprimidas, tornando mais fácil o domínio dos ricos e poderosos, o velho truque de «dividir para reinar».

Ainda por cima, uma grande parte da media tem favorecido estes racistas, dando-lhes designações que são autênticas fraudes, como «marxistas» ou «neo-marxistas»: a confusão mental é procurada pelos plumitivos que dão essas designações, quando não existe nada de mais anti-marxista do que a «teoria crítica da raça», não existe nada mais anti luta de classes do que a «luta» desses grupos que somente atacam «símbolos», quer sejam estátuas, nomes de instituições ou de ruas. Quanto aos verdadeiros marxistas (e revolucionários, em geral), estes têm como prioridade unir os oprimidos em torno de reivindicações e lutas concretas contra os opressores e contra os instrumentos reais da opressão. Certamente que a media mainstream, propriedade de grandes magnates, de bilionários, nunca iria fazer uma VERDADEIRA apologia da luta de classes.

As pessoas que vão atrás da «teoria crítica da raça» estão a ser enganadas (1). A sua energia, o seu idealismo estão a ser desviados.

Os promotores desta «teoria crítica da raça» são também financiadores de BLM (Black Lives Matter): bilionários como Soros, ou agências do próprio Estado, que esta BLM, ou outras organizações, dizem combater.

De facto, a «teoria crítica da raça», não passa dum chorrilho de afirmações racistas e obscurantistas. Não deve ser considerada como «teoria», mas como ideologia. Não tem um grama de espírito crítico, é mesmo o contrário disso, pois apela ao irracional. Finalmente, faz cavalo-batalha do conceito de «raça», conceito sem sustentação na ciência, quando aplicado à espécie humana atual.

Digo a todos/todas os/as leitores/as, seja qual for a sua etnia, nação, religião ou filosofia: se querem ver-se livres da opressão terão de procurar aliança junto de outros oprimidos, quaisquer que sejam. Tudo o que divide provém, consciente ou inconscientemente, do campo contrário, do campo dos opressores.

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(1) Há cem anos atrás (a 31 de Maio de 1921), ocorreu o massacre de Tulsa (Oklahoma):
Durante muito tempo, os poderes estatais nos EUA ocultaram os horrores dessa época, em que os negros eram linchados, aterrorizados, confinados em ghettos, etc. 
O facto de se fazer a devida homenagem às vítimas do brutal racismo branco, não contradiz em nada que se repudie a falsa teoria, chamada de «critical race theory». Aliás, uma visão aprofundada do fenómeno racista nos EUA, permite que as jovens gerações não caiam noutras derivas semelhantes. Ora, a chamada teoria crítica da raça, ao fazer uma amálgama de conceitos e ideologias, apenas vai perpetuar os ódios raciais. Compreender a fundo o fenómeno racista, é compreender os instrumentos de propaganda e de coação que os capitalistas e o Estado usam contra os povos.

terça-feira, 20 de outubro de 2020

A 250 ANOS DO NASCIMENTO DE BEETHOVEN

                   Valentina Lisitsa - Sonata nº17 Op. 31 No.2 «A Tempestade»  [*]


 A 250 anos do nascimento de Beethoven, estou um bocado triste. Porque me parece que a cultura europeia, da qual ele é um expoente, está em franca involução, para não dizer que se tornou um pálido e fantasmagórico reflexo da civilização centrada no continente europeu. 

Se isto significasse que a mesma civilização está a definhar, mas que outras civilizações se ergueram entretanto e tomaram a dianteira, óptimo! Não sou eurocêntrico, nem na cultura, nem no resto.

Mas, para grande pena minha, verifico que existe uma preocupação maior em cultivar a música europeia, dita clássica ou erudita, nos países do extremo-oriente asiático, do que -propriamente - em países ditos «ocidentais». Estes incluem EUA,  Canadá, Austrália, Brasil... ex-colónias britânicas, espanholas, francesas e portuguesas. 

O movimento de destruição dos vestígios do passado, a que se tem assistido nos EUA, impulsionado por forças obscuras, em franca contradição com supostas filiações ideológicas (**), não nos deixa agoirar nada de bom para o futuro deste país e doutros. Muitos têm estado sob influência e tentam imitar tudo o que vem dos EUA. 

Durante mais de meio século, nos EUA e na Europa Ocidental, foi-se propagando, porque convinha aos poderes, uma cultura de irresponsabilidade, de promoção/sedução da juventude, com intensa propaganda comercial de toda a ordem, da música mais abastardada, aos adereços de moda, erigidos em padrão identitário geracional. Com isso, os senhores do poder, não apenas reservavam lucros fáceis, como alimentavam a ilusão dos jovens estarem a manifestar  irreverência, revolta, e não a consumir determinados produtos

A promoção dessa «cultura jovem» pelos mesmos que eles odiavam e desprezavam, enquanto burgueses exploradores... deveria tê-los feito sobressaltar. Mas, estas formas inócuas de manifestar suas diferenças, estavam radicadas somente num sentimento de frustração, sem uma análise das causas profundas das disfunções sociais, na sua base.

O triunfo, além Atlântico, da visão anti-classista, anti-progressista, que consiste em arrumar as pessoas em categorias estanques, faz o jogo dos poderosos. Além de dividir o povo em inúmeras categorias identitárias (falsas), impede-os de ver a realidade em frente: muito poucos se interrogam «em que consiste realmente a opressão e que origem tem essa mesma opressão?»

 Os que dominam o discurso da media, querem que as pessoas, incluindo as mais esclarecidas, fiquem confusas.  Impõem o discurso deles, a narrativa deles, excluindo ou distorcendo - até à caricatura - qualquer outra visão e análise que entre em contradição com a sua propaganda. 

Estamos já num universo totalitário. O totalitarismo dito «soft» da nossa época, consiste em deixar os dissidentes discursar no quase vazio, na ausência de meios para difundir sua mensagem: bem podem falar no «Speakers Corner» de Hyde Park, ou algo equivalente, no universo da Internet, mas... o grande público nunca os ouvirá, pois está colado/condicionado ao que consideram «bonito» (cool), ou na moda (trendy). Estão condicionados pelos que controlam as «redes sociais» (social networks) e grandes empresas de comunicação (media mainstream). Ambas são propriedade de um número muito pequeno de multi bilionários.

Estar «fora de moda», gostar realmente de Beethoven e de outros, é - hoje - uma forma real de dissidência. Porque, para se apreciar música clássica, deve-se ter aperfeiçoado a sua instrução musical e continuar a fazê-lo. Além disso, é preciso cultivar o conhecimento, não apenas dos sons, como do contexto civilizacional que os produziu. Ter este comportamento durante a vida inteira, não é um capricho de seguir uma moda. 

As pessoas ignorantes do passado, em todos os sentidos, são as mais manipuláveis, pois os poderes podem facilmente iludi-las. O aligeirar da história, da filosofia e mesmo da língua, enquanto expressão rigorosa e subtil dos pensamentos e sentimentos, tem-se verificado nos programas do ensino básico e secundário.   Isto é demonstrativo de que a cultura, a verdadeira, a viva ... é correctamente percebida como um perigo pelos poderosos.

Se eu fosse compositor, escreveria uma sinfonia: Uma sinfonia que começasse com um instrumento solo, por exemplo uma flauta, para se irem juntando outros instrumentos, variando  e transformando, até ao infinito, o tema do início. 

Faria empréstimos a grandes compositores do passado: não disfarçaria a utilização dos seus temas, evocando-os enquanto homenagem aos mestres do passado e às épocas em que viveram. 

Num tempo destes, é revolucionário preservar o passado, sob todas as formas, em todas as artes!

Manuel Baptista

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[*] Para mim, é impossível escolher uma peça de Beethoven, sem sentir que estou a fazer injustiça a várias outras, que são, no meu gosto subjectivo, tão notáveis e tão preciosas como a que escolhi. 

(**) Nem Martin Luther King, nem Malcom X, nem Franz Fanon, nem Marx, nem Bakunin, nem Malatesta, nem Gramsci...etc. nada têm a ver com isso!


sexta-feira, 14 de setembro de 2018

SOMOS TODOS HÍBRIDOS - FALSIDADE DO RACISMO

A propósito da recém-descoberta dum híbrido entre neandertal e denisovano na caverna de Denisova e comunicado em Agosto deste ano.



O género Homo evoluiu ao longo de muitos milhares de anos; se apenas considerarmos o referido género Homo, ele surge há mais de 2,5 milhões de anos, com Homo habilis (o primeiro da série).

                     Una de las propuestas de árbol evolutivo de los hominidos bipedos.

Quando passamos para o Homo sapiens antigo, com cerca de 300 mil anos (segundo reavaliação de fósseis descobertos em Marrocos), verifica-se que efectuou desde muito cedo migrações para fora de África, quer pela travessia do estreito que separa a África Oriental da Península da Arábia, quer pela ligação terrestre entre o Egipto e a Palestina, ou ainda pelo Norte de África, através do Estreito de Gibraltar, para a Península Ibérica.
Ora, em vários períodos, houve encontros, fecundos - no sentido literal - entre os vários representantes do género Homo, incluindo a nossa própria espécie.
Houve hibridação há 50 mil anos entre neandertais e denisovanos (estas duas espécies surgiram entre 500 e 400 mil anos relativamente ao presente): é bastante provável que tenha havido também cruzamentos de H. erectus com denisovanos. Os diversos representantes do género Homo cruzaram-se entre si e com humanos modernos, Homo sapiens, saídos do berço africano em várias migrações.

A construção da espécie humana é, portanto, o resultado de uma partilha de genes entre várias estirpes, raças e espécies que se cruzaram e produziram híbridos. Muitos deles eram portadores de variantes vantajosas de determinados genes, pelo que essas mesmas variantes foram conservadas e difundidas, pelo mecanismo  da selecção darwiniana
As variantes neandertais de certos genes presentes nas populações de origem europeia ou asiática, mas não nos africanos negróides, foram estudadas. O facto destas partes do genoma neandertal terem sido conservadas no nosso genoma, mas não outras, mostra que a sua conservação teve e tem um papel importante, em termos de selecção natural. 
As populações africanas subsarianas actuais não possuem genes de origem neandertal. Porém, sabe-se que nos seus ancestrais também houve hibridações com raças ou espécies hoje desaparecidas, cujos vestígios se podem retraçar em certos genes destas populações sub sarianas.
Um dos grupos actuais com maior percentagem de ADN denisovano é a população nativa da Papua-Nova-Guiné, o que mostra que não existe população, hoje em dia, que apesar de bastante isolada, não tenha tido uma contribuição de hibridação vinda de outras raças ou espécies.

Está, assim, validado um modelo polifilético de evolução  da humanidade: ou seja, em que os ancestrais provêm de vários filos ou origens genéticas. Isto não exclui, evidentemente, que tenha havido uma série de adaptações decorrentes da selecção natural. Mas, a «matéria-prima», os genes sobre os quais esta selecção se exerceu, teve várias origens.

O racismo é falso, completamente. Contudo, não foram precisos estudos com o ADN neandertal e denisovano, recentemente, para o demonstrar: já os estudos de genética «clássica» utilizando plantas ou animais, nos inícios do século passado tinham demonstrado que as raças ou linhagens ditas «puras» (obtidas experimentalmente) eram as mais deficientes ou frágeis, em termos de sobrevivência, enquanto os híbridos eram dotados de maior vigor e robustez. 

Infelizmente, uma versão ideológica da Teoria da Evolução que não era propriamente devida a Darwin, atribuía uma "escala de evolução" às diversas etnias humanas, designando-as de «grupos raciais». 
Esta visão totalmente falsa da biologia humana serviu como «justificação» para os maiores crimes contra a humanidade: o Colonialismo, o Apartheid, o Nazismo, etc.     

Em termos populacionais, a existência simultânea de várias versões de um mesmo gene é vantajosa, pois tal população terá maiores hipóteses de sobrevivência em circunstâncias de grande fragilidade para a maioria, para os portadores da versão mais comum do mesmo gene. Nomeadamente, se um determinado gene conferir resistência a um agente infeccioso, ele será conservado na população, mesmo que tenha ligeiras desvantagens para os portadores desse gene, quando o referido agente infeccioso não esteja presente. Mas, de tempos a tempos, pode haver uma epidemia e os portadores do gene ficarão em vantagem, relativamente aos restantes. 

As ciências biológicas, em particular a biologia evolutiva, devem ser ensinadas com rigor, mesmo que esse ensino se faça dum modo adaptado à idade dos alunos. É grotesco que sejam os professores de História, no nosso sistema de ensino, a ter a incumbência de ensinar aos adolescentes as primeiras etapas da evolução humana, um assunto de biologia humana, de paleo-antropologia, não de história ou pré-história. 
Os alunos portugueses, salvo excepções, saem do ensino secundário com um grau de conhecimentos em Biologia Evolutiva muito baixo, por comparação com outros temas de Biologia. 
Mas a Biologia, toda ela, só faz sentido hoje em dia à luz da Evolução: compreende-se que eu me tenha batido (e continue a bater-me) para que haja uma mudança de visão nos programas do ensino básico e do secundário. 
Acresce que poucos alunos vão ter uma «exposição» a um estudo mais aprofundado da Evolução, pois isso somente poderá acontecer nos 3 anos do secundário, para aqueles que escolheram áreas/ramos onde a Biologia é matéria obrigatória. Todos os outros não têm aulas de Biologia no secundário: Ficam estes com os conceitos que aprenderam até ao 9º ano; isto é muito pouco, de facto.

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Um esquema-resumo muito bem construído, no link abaixo: 
https://www.nytimes.com/2018/03/20/science/david-reich-human-migrations.html







DISPLACING THE NEANDERTHALS
As modern humans moved through Eurasia, they eventually displaced the Neanderthals, who were extinct by around 40,000 years ago.
EUROPE
European
hunter-
gatherers
NEANDERTHAL
RANGE
MIXING WITH NEANDERTHALS
Dr. Reich helped prove that a wave of modern humans leaving Africa interbred with Neanderthals, likely in the Near East 54,000 to 49,000 years ago. Living humans outside Africa still carry traces of Neanderthal DNA.
AFRICA
BANTU EXPANSION
A migration from West Africa beginning about 4,000 years ago spread agriculture to southern Africa. Bantu-speaking farmers displaced some hunter-gatherers and mixed with others, such as central African pygmies and the San in southern Africa.
DENISOVANS
A finger bone from a Siberian cave yielded the genome of a previously unknown lineage of humans called Denisovans, a diverse group who split from Neanderthals roughly 400,000 years ago.
Denisova
Cave
TO THE AMERICAS
Genetic evidence suggests there were at least four prehistoric migrations into North America, with the first at least 15,000 years ago and the last around 1,000 years ago.
CHINA
ASIA
East Asian
hunter-
gatherers
Ancient
shorelines
INTO AUSTRALASIA
Modern humans had arrived in Australia by at least 47,000 years ago.
Aboriginal
Australians
Dr. Reich helped show that this group interbred with a branch of Denisovans, probably somewhere in Southeast Asia, 49,000 to 45,000 years ago.
AUSTRALIA