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quinta-feira, 9 de maio de 2024

INTEGRAL DOS «IMPROMPTUS» DE FRANZ SCHUBERT ( Chloe Jiyeong Mun)

AS BELEZAS HARMÓNICAS E MELÓDICAS DESTAS DUAS SÉRIES DE «IMPROMPTUS» (SIGNIFICA IMPROVISOS) SÃO PARA SER OUVIDAS NA ÍNTEGRA, OU UMA PEÇA DE CADA VEZ, MAS SEMPRE COM O MÁXIMO DE CONCENTRAÇÃO.

São peças de música transcendente - não se comparam com nada que tenha sido composto anteriormente. Não por o estilo ou  sua construção serem  impossíveis de classificar. Na realidade, podem servir como exemplo do piano romântico no seu auge. Aquilo que é único, é o seu discurso íntimo e sincero que convida a uma interiorização. 
Aconselho-vos portanto, se não tiverem tempo ou paciência, a não ouvir estas peças! 
Caso contrário, dediquem a vossa atenção totalmente. Não é tempo perdido, mas inteiramente ganho!


Chloe Jiyeong Mun atinge - de chofre - o «top» das interpretes, pela sensibilidade e perfeição técnica conjugadas. 

Ela oferece as condições para usufruímos da plena sensualidade auditiva e da beleza suprema: O que não é de pouca monta, pois estas peças, ditas «de improviso», são de uma elaboração subtil e de muita exigência técnica. A sua interpretação é, pelo menos, tão excelente como a de outros grandes interpretes que tenho ouvido. 

Um prodígio de maestria, para o prodígio da composição de Schubert!  



F. Schubert 
4 Impromptus, D.899 (1827) 
No.1 in C minor 
No.2 in E flat Major
No.3 in G flat Major 
No.4 in A flat Major

4 Impromptus, D.935 (1827) 
No.1 in F minor 
No.2 in A flat Major 
No.3 in B flat Major 
No.4 in F minor

domingo, 24 de abril de 2022

F. LISZT: «UN SOSPIRO» [VALENTINA LISITSA]

                                           



                                             https://www.youtube.com/watch?v=oHBul0bc55o

«Un Sospiro»: Quem deu este título (em italiano) ? Não foi o autor da peça.
Liszt, já bastante adiantado na idade, compôs algo que é impossível definir; um «noturno»? um «estudo»?

-Afinal, não se trata de um suspiro, mas de respiração ampla, oceânica.
A paisagem musical/poética descreve as ondulações do mar, a brisa salgada que nos enche os pulmões.

A maleabilidade e leveza de Valentina Lisitsa, resultam na interpretação perfeita de «Un Sospiro»


quarta-feira, 10 de novembro de 2021

WAGNER E O NAZISMO

Estas notas são um comentário após leitura do muito bem documentado ensaio de Brenton Sanderson: 

Evil Genius - Constructing  Wagner As Moral Pariah


Aprecia o belo, naquilo que ele tem de mais espiritual.

Despreza a pequenez, a necessidade dos medíocres em rebaixar o génio humano, de o transportar para a trivialidade de suas paixões «de cozinha». 

Como sabemos, existem inúmeras obras-primas da escultura, arquitetura, ou doutras artes, das quais não sabemos - nem teremos jamais conhecimento -  sobre quem as fez, muito menos que vida levou e quais os seus pensamentos. Mas, nós apreciámo-las sem nos preocupar com outra coisa senão com a estética. 

Por que motivo, temos de apensar o cunho, o ferrete, de uma ideologia, às obras de autores que viveram em tempos não muito recuados? 

Sabemos muitos detalhes biográficos sobre artistas que viveram há duzentos anos, ou há menos tempo. É natural que muito tenha permanecido, que os eruditos tenham conseguido desenterrar vários documentos sobre génios ou talentos celebrados. 

Temos curiosidade em conhecer as biografias dos nossos compositores preferidos. Construímos uma imagem das personalidades que estiveram na origem das obras-primas que mais apreciamos. Não são imagens reais; são apenas imagens que satisfazem os estereótipos, que permitem reforçar o mito em torno de tal ou tal artista. 

Através de tais biografias, os seus autores contemporâneos (ou não), dos artistas cuja vida eles descrevem, vão tentar moldar os acontecimentos para se coadunarem melhor com a imagem que eles próprios possuem dos tais ídolos. 

Também surgem casos de personagens biografados, quase sempre, de um modo negativo. Um caso extremo, é o de Wagner e do seu (real) antissemitismo

«Hitler foi o grande inspirador de Wagner» seria tentado a dizer ironicamente, para caracterizar as inúmeras biografias que enfatizam Wagner como um «precursor» do nazismo. 

Nada mais idiota, não mostram uma mínima compreensão da ideologia antissemita, tão disseminada e tão evidente, em grande parte dos meios intelectuais e de elite no século XIX. É um anacronismo absurdo, um erro crasso, se nós quisermos acreditar na boa-fé dos autores. 

Porém, tal não é possível, na verdade. Não podemos ingenuamente «perdoar» os tais críticos. Pois, realmente, para estes, trata-se de afirmar o «politicamente correto» de uma forma  bem pouco arriscada, indo ao encontro do preconceito, reforçando-o. 

Por exemplo, que a música de Wagner era «adorada» pelos nazis, é falso, totalmente. E depois, mesmo que tal fosse o caso, que culpa teria Wagner disso, tendo ele vivido no século XIX e morrido em 1883? 

Aquilo que me cansa é a constante etiquetagem que outros fazem e as pessoas aceitam como sendo «cultura», quando afinal não é mais do que transposição de preconceitos, ódios e amores, frustrações e desejos, pessoais do próprio crítico, para o campo da crítica de arte. 

As opiniões de certos críticos sobre tal ou tal artista do passado ou presente, são muito reveladoras, mas da personalidade de quem emite estes juízos críticos!

Eu adoro Wagner, em particular, as canções a Wesendonck , a abertura da ópera de «Die fliegende Hollaender/ The Flying Dutchman» e o prelúdio a «Tristão e Isolda»

Isso faz de mim, um nazi? Só totalitários, afinal (quaisquer que sejam as ideologias que afixem) podem pensar tal coisa!

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

MISSA ALEMÃ DE SCHUBERT D.872




 Em memória dos entes queridos que partiram e que permanecem no meu coração. Abençoados sejam! 


Uma peça arque-conhecida, muito popular na Áustria, embora inicialmente mal recebida pelas autoridades da Igreja católica. Mas, o público apoderou-se destes hinos devocionais. Na realidade, são uma coletânea de textos devocionais, e não uma missa: O seu texto afasta-se bastante do texto da missa. Mas, sobretudo, tem a qualidade da musicalidade posta ao serviço de devoção. Está ao nível doutras grandes obras sacras, como o Requiem de Mozart. 
Cada hino desta sequência tem uma estrutura muito simples, bastante fácil de memorizar, tal como os corais luteranos. Esta simplicidade, unida à perfeita harmonização, fazem destas peças joias musicais, pondo em relevo o texto*. 
Vale a pena ouvir esta «Missa» alemã de Schubert, com a máxima atenção e na íntegra!

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segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

[Seong-ji Cho] LISZT: SONATA EM SI BEMOL MENOR


Talvez o mais precioso legado da Pátria Húngara à modernidade seja a música composta por Ferénc Liszt. 
Esta, não é «música fácil». Se ela entra facilmente no ouvido, não cai em facilitismos, escapa assim ao cliché de que a música romântica seria sinónima de «lamecha». É uma classificação completamente infundada. Basta, para se convencer disto, escutar com atenção a presente Sonata.
Não eram lamechas Chopin, Berlioz, ou Liszt... nem os tardo-românticos, Tchaikovsky ou Rachmaninoff, nenhum deles pode ser acusado de tal falta de bom-gosto. 
O preconceito e a ignorância colaram a etiqueta de «romântica» à música lamecha - que, efectivamente, se compôs nessa época e em todas as épocas - para logo repudiar tudo o que pertença à grande corrente estética do Romantismo, como sendo o sub-produto de uma sensibilidade doentia, mal-conjugada com o pior convencionalismo musical. 
Mas, o romantismo de Beethoven a Wagner, a Brahms e, mesmo, o de compositores mais tardios, não tem pinga disso! Tem que ver com a figuração dos sentimentos, através do discurso musical. Tem que ver com uma clara opção pelo rigor, se necessário, derribando as formas tradicionais e tratando de criar formas novas, adequadas às exigências expressivas. Para os românticos, o piano foi, sem dúvida, o instrumento de eleição e Liszt foi um dos seus maiores intérpretes. 

Ouvir-se - hoje em dia - a grande Sonata em Si bemol menor de Liszt, pelo jovem Seong-ji Cho, é um prazer raro. Espero que o partilhem comigo, leitores do meu blog!

0:07 Beginning - Lento assai (Very slowly)

0:54 Allegro energico (Energetically fast)
3:34 Grandioso (Grandly)
5:52 Cantado espressivo (Singing expressively)
9:03 Incarzando (Getting quicker)
10:15 Recitativo (Recitatively)
12:25 Andante sostenuto
(very legato in a sustained manner - Just like taking a walk while thinking deeply)
13:22 Quasi Adagio (Like slowly)
19:49 Allegro energico
22:00 Piu mosso (More quickly)
23:57 Cantando espressivo senza slentare - Stretta quasi presto
(Singing expressively without slowing down - quickening the speed very fast)
25:51 Presto - Prestissimo (Very fast - Very very fast)

26:57 Andante sostenuto
28:11 Allegro moderato (moderately quick)
29:36 Lento assai

terça-feira, 20 de outubro de 2020

A 250 ANOS DO NASCIMENTO DE BEETHOVEN

                   Valentina Lisitsa - Sonata nº17 Op. 31 No.2 «A Tempestade»  [*]


 A 250 anos do nascimento de Beethoven, estou um bocado triste. Porque me parece que a cultura europeia, da qual ele é um expoente, está em franca involução, para não dizer que se tornou um pálido e fantasmagórico reflexo da civilização centrada no continente europeu. 

Se isto significasse que a mesma civilização está a definhar, mas que outras civilizações se ergueram entretanto e tomaram a dianteira, óptimo! Não sou eurocêntrico, nem na cultura, nem no resto.

Mas, para grande pena minha, verifico que existe uma preocupação maior em cultivar a música europeia, dita clássica ou erudita, nos países do extremo-oriente asiático, do que -propriamente - em países ditos «ocidentais». Estes incluem EUA,  Canadá, Austrália, Brasil... ex-colónias britânicas, espanholas, francesas e portuguesas. 

O movimento de destruição dos vestígios do passado, a que se tem assistido nos EUA, impulsionado por forças obscuras, em franca contradição com supostas filiações ideológicas (**), não nos deixa agoirar nada de bom para o futuro deste país e doutros. Muitos têm estado sob influência e tentam imitar tudo o que vem dos EUA. 

Durante mais de meio século, nos EUA e na Europa Ocidental, foi-se propagando, porque convinha aos poderes, uma cultura de irresponsabilidade, de promoção/sedução da juventude, com intensa propaganda comercial de toda a ordem, da música mais abastardada, aos adereços de moda, erigidos em padrão identitário geracional. Com isso, os senhores do poder, não apenas reservavam lucros fáceis, como alimentavam a ilusão dos jovens estarem a manifestar  irreverência, revolta, e não a consumir determinados produtos

A promoção dessa «cultura jovem» pelos mesmos que eles odiavam e desprezavam, enquanto burgueses exploradores... deveria tê-los feito sobressaltar. Mas, estas formas inócuas de manifestar suas diferenças, estavam radicadas somente num sentimento de frustração, sem uma análise das causas profundas das disfunções sociais, na sua base.

O triunfo, além Atlântico, da visão anti-classista, anti-progressista, que consiste em arrumar as pessoas em categorias estanques, faz o jogo dos poderosos. Além de dividir o povo em inúmeras categorias identitárias (falsas), impede-os de ver a realidade em frente: muito poucos se interrogam «em que consiste realmente a opressão e que origem tem essa mesma opressão?»

 Os que dominam o discurso da media, querem que as pessoas, incluindo as mais esclarecidas, fiquem confusas.  Impõem o discurso deles, a narrativa deles, excluindo ou distorcendo - até à caricatura - qualquer outra visão e análise que entre em contradição com a sua propaganda. 

Estamos já num universo totalitário. O totalitarismo dito «soft» da nossa época, consiste em deixar os dissidentes discursar no quase vazio, na ausência de meios para difundir sua mensagem: bem podem falar no «Speakers Corner» de Hyde Park, ou algo equivalente, no universo da Internet, mas... o grande público nunca os ouvirá, pois está colado/condicionado ao que consideram «bonito» (cool), ou na moda (trendy). Estão condicionados pelos que controlam as «redes sociais» (social networks) e grandes empresas de comunicação (media mainstream). Ambas são propriedade de um número muito pequeno de multi bilionários.

Estar «fora de moda», gostar realmente de Beethoven e de outros, é - hoje - uma forma real de dissidência. Porque, para se apreciar música clássica, deve-se ter aperfeiçoado a sua instrução musical e continuar a fazê-lo. Além disso, é preciso cultivar o conhecimento, não apenas dos sons, como do contexto civilizacional que os produziu. Ter este comportamento durante a vida inteira, não é um capricho de seguir uma moda. 

As pessoas ignorantes do passado, em todos os sentidos, são as mais manipuláveis, pois os poderes podem facilmente iludi-las. O aligeirar da história, da filosofia e mesmo da língua, enquanto expressão rigorosa e subtil dos pensamentos e sentimentos, tem-se verificado nos programas do ensino básico e secundário.   Isto é demonstrativo de que a cultura, a verdadeira, a viva ... é correctamente percebida como um perigo pelos poderosos.

Se eu fosse compositor, escreveria uma sinfonia: Uma sinfonia que começasse com um instrumento solo, por exemplo uma flauta, para se irem juntando outros instrumentos, variando  e transformando, até ao infinito, o tema do início. 

Faria empréstimos a grandes compositores do passado: não disfarçaria a utilização dos seus temas, evocando-os enquanto homenagem aos mestres do passado e às épocas em que viveram. 

Num tempo destes, é revolucionário preservar o passado, sob todas as formas, em todas as artes!

Manuel Baptista

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[*] Para mim, é impossível escolher uma peça de Beethoven, sem sentir que estou a fazer injustiça a várias outras, que são, no meu gosto subjectivo, tão notáveis e tão preciosas como a que escolhi. 

(**) Nem Martin Luther King, nem Malcom X, nem Franz Fanon, nem Marx, nem Bakunin, nem Malatesta, nem Gramsci...etc. nada têm a ver com isso!


domingo, 5 de maio de 2019

SYMPHONIE FANTASTIQUE - HECTOR BERLIOZ




  1. Rêveries – Passions (Reveries – Passions) – C minor/C major
  2. Un bal (A Ball) – A major
  3. Scène aux champs (Scene in the Fields) – F major
  4. Marche au supplice (March to the Scaffold) – G minor
  5. Songe d'une nuit du sabbat (Dream of a Night of the Sabbath) – C major


Escrita em 1830, mostra a enorme distância estética percorrida nos primeiros decénios do século 19, desde o classicismo - que ainda triunfava nas últimas sinfonias de Haydn - até à libertação dos moldes clássicos, que representam tanto as sinfonias de Beethoven, como esta, de Berlioz.
Berlioz era realmente o que nós figuramos hoje em dia como o «romântico típico», apaixonado, excessivo, idealista, sensível. Mas, afinal de contas, o que mais surpreende é a imensa popularidade que esta obra teve ao longo dos séculos, mostrando que a música figurativa  ou programática consegue chegar muito mais facilmente às profundezas emotivas, subjectivas, dos indivíduos. Excertos desta sinfonia têm sido usados inúmeras vezes, para os mais diversos fins... desde o cinema até à publicidade.
Pessoalmente, tenho uma relação muito subjectiva com esta peça, que ouvi sempre com imenso prazer. Consigo descolar do aspecto descritivo, com tanto maior facilidade, quanto a primeira vez que a ouvi, era uma criança e não tinha a mínima ideia de que esta sinfonia «contava uma história». Apenas achava que era «fantástica», porque, de facto, as ondas sonoras imensamente variadas suscitavam, na minha imaginação, imensas sensações associadas, mantendo sempre a minha tenra alma desperta pela sucessão de temas, cada qual mais empolgante que o outro. Na sua sucessão de movimentos - cada qual entrelaçando variados temas, revestidos de timbres contrastados da orquestra - esta peça musical, na sua procura permanente de surpresa e de «pathos», é ainda hoje, para mim, um verdadeiro «banquete sonoro». 
É interessante conhecer a génese da obra e dos factos na vida passional do compositor, intrinsecamente ligados à Symphonie fantastique. Embora esteja convencido que isto não acrescenta nada à fruição da obra, em si mesma, este saber revela a componente humana do compositor. 

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

PAVANE DE GABRIEL FAURÉ


Peça escrita inicialmente para piano, depois adaptada pelo autor para pequena orquestra, esta jóia musical é merecidamente uma das peças mais conhecidas de Gabriel Fauré. 

A pavana é uma dança de origem italiana, muito popular no século XVI e mais tarde. O baixo obstinado indica o ritmo básico da dança. As variações sobre o tema são frequentemente retomadas em diversas vozes. 

Nesta pavana, sobressai o tema cortesão e nostálgico, que nos faz imaginar um baile na corte real ou de algum grande nobre. O tema é tratado de forma criativa, em variações que mostram bem que estamos perante uma peça pós-romântica, em particular, pela sua estrutura harmónica. 

Gabriel Fauré é importante como «charneira» entre o segundo romantismo (Tchaikovsky)  e o modernismo (Debussy, Ravel...). A sua obra continua a ser muito apreciada e executada em concertos, nomeadamente, o Requiem, a música de câmara e a música para piano