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sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

ENFERMEIRAS/OS CONTRA A DESTRUIÇÃO DOS SISTEMAS DE SAÚDE



Quando enfermeiros/as em todo o Reino Unido fizeram greve, os/as camaradas portugueses publicaram uma carta aberta em solidariedade com os/as seus/suas camaradas britânicos/as, lembrando aos leitores e pacientes que o seu próprio sistema de saúde encontra-se perante muitos dos problemas que perturbam o Serviço Nacional de Saúde britânico.
Mário André Macedo, um enfermeiro especializado, um dos primeiros subscritores da carta aberta, disse ao «People’s Health Dispatch» que a sua iniciativa tinha sido inspirada por solidariedade e por urgente necessidade de denunciar os estrangulamentos que poderiam colocar de joelhos o Serviço Nacional de Saúde português. De facto, o serviço português tem muitas semelhanças com o seu equivalente britânico, visto que se inspirou no modelo que Beveridge introduziu no Reino Unido.


Embora ainda conserve a associação positiva com o financiamento público e com o acesso universal, as coisas têm piorado para o sistema de saúde pública português ao longo dos anos. Se virmos a situação de enfermeiros/as no sistema, os seus problemas são tão prementes como os dos trabalhadores de saúde no Reino Unido. Os profissionais que assinaram a carta aberta estimam que na década passada, em Portugal os/as enfermeiras/os tiveram uma perda salarial de 20 por cento - o dobro do que os sindicatos de enfermeiros/as do R. U. indicaram.
Durante o mesmo período, milhares de enfermeiros/as emigraram de Portugal para outros países, sendo o Reino Unido um dos países preferidos. Muitas/os enfermeiras/os emigradas/os estão agora também em greve, salienta Macedo, porque estão conscientes das suas responsabilidades em lutar por serviços de saúde de boa qualidade e acessíveis a todos.
Os/as enfermeiros/as que emigraram de Portugal para o Reino Unido estão muito familiarizados com os processos que são pano de fundo da sabotagem dos serviços de saúde pública, colocando os direitos das pessoas à saúde em perigo.


Divisão e Lucros


O sistema de saúde em Portugal, tal como o NHS britânico, tem sido um objeto de interesse para o setor privado desde há bastante tempo. Em ambos os casos, o objetivo dos fornecedores privados é de quebrar os sistemas, privatizar as partes rentáveis e deixar o que resta para um orçamento público reduzido.
Os principais perdedores neste cenário são, obviamente, os pobres e a classe trabalhadora, que não têm alternativa senão procurar cuidados no setor público, qualquer que seja o seu estado.
Mas seria errado pensar que os trabalhadores de saúde não ficam afetados por este processo. Pois, a insistência na austeridade e nos cortes orçamentais que acompanham as tentativas de mercantilizar os sistemas de saúde, faz com que os direitos dos trabalhadores de saúde sejam cerceados, deixando muitos com uma sobrecarga de trabalho e com «burn out».
Em Portugal, a incapacidade do governo atender adequadamente as reivindicações sobre salários e progressões na carreira, levaram à primeira greve nacional nesta profissão, desde o princípio da pandemia de Covid-19.
«Os sindicatos não forçaram a uma ação grevista no cume da pandemia, mas as propostas do governo para a regulação dos nossos salários e de progressão nas carreiras, conduziram a uma grande onda de apoio para este tipo de ação: pelo menos 75% dos/das enfermeiros/as foi favorável a que se fizesse greve» referiu Macedo.


Custo de Vida



Protesto contra a austeridade em Lisboa, Portugal, 
Fevereiro de 2010 (E10ddie, CC 3.0, Wikimedia Commons)


A progressão na carreira pode parecer um motivo abstrato para se entrar em greve. Na prática, a ausência dum sistema adequado, traz consequências sérias. “Suponha que é uma enfermeira que vai reformar-se amanhã. No caso de não haver uma mudança no sistema atual, a sua pensão seria cerca de 600 euros mais elevada do que a de uma enfermeira que está a trabalhar há pouco tempo e que irá acumular a mesma experiência e horas de trabalho, que você tem agora.” afirmou Macedo.
Ele reconhece que a seguir à greve, o governo concordou em introduzir certas medidas para valorizar a progressão na carreira. Mas decidiram implementar estas decisões a partir de Janeiro de 2023, sem fazer pagamentos retroativos - o que significa a perda de milhares de euros.
A questão dos aumentos salariais nos/nas enfermeiros/as de acordo com a progressão na carreira, tornou-se mais difícil de ignorar por causa da crescente inflação e do aumento do custo de vida. Por não haver um aumento salarial, em paralelo com a experiência acumulada, cerca de 80 % dos enfermeiros em hospitais e centros de cuidados primários de saúde, têm um salário bruto de cerca de 1500 euros. Após impostos, o seu rendimento fica em cerca de 1000 euros.
Na mesma altura, o arrendamento dum andar com um único quarto de dormir, em Lisboa e em regiões turísticas, como o Algarve, tem um preço mínimo de 700-800 euros. Não é surpreendente que estas regiões sofram duma carência de enfermeiros. É impossível um/a enfermeiro/a viver com este salário.
Alguns dos sindicatos permanecem timidamente satisfeitos com o conteúdo das promessas do governo, esperando que sejam suficientes para recuperar o que foi perdido, em anos anteriores. Outros - nomeadamente o Sindicato de enfermeiros/as (SEP) que liderou a greve de Novembro - já anunciaram que irão continuar a lutar por um acordo mais justo.
Ao fazerem isto, também estão a lutar por um sistema de saúde melhor. Segundo Macedo, “Enquanto trabalhadores da saúde, deveríamos proteger o caráter universal do nosso sistema de saúde. Visto que as/os enfermeiras/os são o grupo mais numeroso dentro do sistema, temos a oportunidade de ter um impacto especial».
Os objetivos dos/das enfermeiros/as é de conseguir uma mudança ao nível local, mas também construir relações mais sólidas com os trabalhadores equivalentes doutros países.
“Só podemos ganhar se tivermos solidariedade recíproca e aprendermos uns com os outros. Nalguns países, a situação dos/as enfermeiras/os é melhor porque o país investe mais no sistema de saúde. Mas, na maioria dos países, são as lutas laborais que realmente fazem a diferença e só nos podemos fortalecer conectando-nos entre nós.” conclui Macedo.


Ana Vracar é correspondente para Peoples Dispatch


«People’s Health Dispatch» é um boletim do People’s Health Movement e de «Peoples Dispatch». Para mais artigos e para subscrever o «People’s Health Dispatch», clicar aqui.
Artigo retirado de Peoples Dispatch.




Tradução de Manuel Banet a partir de:

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

A «RELIGIÃO» DO NOSSO TEMPO

Conto sobre um culto nada cristão, nesta quadra natalícia 

Era uma vez... Um mundo que estava organizado de acordo com uma religião muito em voga nos círculos de economistas «mainstream». 

Nesta fé, o dinheiro era o suporte mágico para fazer funcionar a economia. Mágico, porque podia fabricar-se tanto quanto se quisesse, sem que houvesse consequências de maior. 

Apenas umas oscilações cíclicas, que davam oportunidade aos mais lestos traders, de ficarem  ricos (e  de muitos outros se arruinarem!). 

Houve um aumento muito moderado de preços, durante mais de uma década. Também, havia sempre superavit de bens de consumo, importados em larga proporção da China e de países do Terceiro Mundo.

A quantidade de trabalhadores nos países do Terceiro Mundo, era praticamente inesgotável. Havia que dar trabalho a toda essa gente (paga a um dólar por dia) e pôr no desemprego (pago pela segurança social) os operários do mundo rico, sempre a reivindicar mais, ameaçando com greves e aumentando os custos de produção. 

Penso que já todos ouviram falar desta fé, chamada neoliberalismo. O seu culto é hegemónico nos círculos de poder. 

O seu «credo», no que toca à política monetária, é designado por «MMT» (Modern Monetary Theory). Esta teoria postula que não importa a quantidade de dinheiro que é imprimida pelos bancos centrais e que o aumento do dinheiro em circulação estimula a economia.

Ora, para grande espanto dos «sábios» economistas neoliberais, o sistema todo está a desmoronar-se (*) diante dos nossos olhos. Uma enorme recessão está a abater-se, uma inflação fora do controlo dos bancos centrais e o pior ainda não se fez sentir. Isto ocorre, apesar do mundo ter sido sujeito à ortodoxia mais pura da religião neoliberal, durante décadas.

Mas, se queres saber realmente como se chegou a este ponto, graças à tal religião neoliberal e da MMT, consulta autores com espírito  crítico, que não sejam duma das numerosas seitas que professam o neoliberalismo. 

Alguns autores, têm escritos esclarecedores (não demagógicos) sobre o keysenianismo, a MMT e o neoliberalismo: Alasdair Mcleod    Charles-Hugh Smith     Egon Von Greyerz

Todos eles têm sido citados por mim neste blog, assim como outros. Não tenho nenhuma filiação em qualquer escola teórica de economia. Embora saiba que muitas pessoas olham primeiro o perfil político-ideológico duma pessoa, antes de ouvirem ou lerem suas palavras, eu não faço isso. Eu tenho aproveitado elementos de informação destes e de muitos outros autores, marxistas, keynesianos, escola austríaca, escola de Chicago, etc., sem ter a pretensão de saber mais do que eles. Porém, sem deixar de notar as suas fraquezas. 

Cada um deveria procurar ler, não apenas os autores correntes na sua «igreja», mas também outros, em especial, aqueles com os quais não esteja de acordo. Só assim, poderá desenvolver o espírito crítico e lucidez necessárias para construir uma visão própria.

                              Edifício da Bolsa de Nova Iorque



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(*) Teremos de sofrer ou 1) uma implosão global dos ativos financeiros e das economias; ou 2) uma capitulação perante a inflação através de mais uma dose de «QE» destruidora do valor das moedas-papel. Venha o diabo e escolha!

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Causas da inflação: Pelo lado da procura ou pelo lado da oferta?

 Quando observamos a situação atual da economia e mercados nos países ocidentais, depara-se-nos uma situação estranha. 

As causas da inflação podem ser esquematicamente atribuídas a um excesso da procura (quando há mais dinheiro disponível do que bens consumíveis); ou a uma escassez da oferta, quando a produção não consegue satisfazer a procura dos consumidores (há menos produtos do que compradores dos mesmos).

Todos nós sabemos que a «crise do COVID» desencadeou uma resposta coordenada mundial de lockdown (confinamento) durante o mês de Março de 2020, tendo havido uma redução muito grande de toda a espécie de atividades económicas e de trocas comerciais, no mundo inteiro. As restrições draconianas supostamente necessárias para combater o vírus, foram muito pouco eficazes* no combate à epidemia. Porém, foram «eficazes» em perturbar gravemente a logística, o aprovisionamento das cadeias de produção, montagem e distribuição, de toda a espécie de bens manufaturados. 

Quem conhece o funcionamento de quaisquer empresas industriais sabe que elas - mesmo as maiores - tiveram imensas dificuldades. Algumas tiveram de interromper a produção - por exemplo, nalguns modelos de eletrodomésticos ou de carros - porque tinham esgotado os stocks de «chips» e de outras componentes essenciais e não facilmente substituíveis. Isto passou-se nos anos de 2020-2021.

 O sistema de produção industrial montado nos últimos decénios, adoptou a estratégia industrial do «Just In Time», ou seja, as componentes são produzidas à medida das necessidades de incorporação destas no produto final. Assim, os fabricantes evitam a existência de grandes stocks de componentes, a sua gestão complexa, os espaços de armazém a que obrigam, etc. Mas, por outro lado, é um sistema muito frágil, suscetível de ficar paralisado por causa de uma secção da empresa, ou de um fornecedor externo, que estejam a funcionar mal, ou estejam paralisados, por qualquer razão. 

As ruturas nas cadeias de produção foram um dos fatores que levaram a uma situação inédita, nos tempos recentes: Haver nítida escassez da oferta dos bens, em relação à procura. 

Depois, a situação não voltou inteiramente ao normal, pois as estruturas mais frágeis tiveram imensas dificuldades, que não foram colmatadas pelas ajudas dos Estados. Estas ajudas foram canalizadas para dois setores: a banca e as grandes empresas e o «dinheiro de helicóptero», as ajudas diretas para as pessoas, numa espécie de antevisão de um «rendimento universal» em certos países. As repercussões desta rutura ainda hoje se notam na estrutura produtiva, principalmente nos países do Ocidente, pois houve demasiados elos da cadeia de produção que foram interrompidos. Como sabemos, há muita externalização de serviços no funcionamento concreto das economias dos países afluentes. São estas, em geral empresas pequenas ou médias, as mais afetadas pela crise desencadeada pela resposta ao COVID. Quantas ficaram debilitadas? Quantas acabaram por fechar? Todos estes casos vão traduzir-se numa «escassez da oferta», que - muitas vezes - tem efeitos de desorganização noutros setores. Ao nível dos preços, houve uma subida não motivada pelo aumento da massa monetária em circulação (ou independente disso).

Por outro lado, criou-se um ambiente de «Guerra Fria nº2», com as sanções drásticas contra a Rússia e a criação de dificuldades nas relações com a China. As consequentes dificuldades dos países ocidentais, no abastecimento de gás natural e de petróleo, fizeram com que houvesse - a partir de Março de 2022 - uma subida muito grande dos preços  da energia. Esta inflação também é causada pela «falta de oferta», por escassez dos combustíveis: Aqui, trata-se de escassez autoinfligida, pois a Rússia não utilizou a «arma do petróleo» como contraposição às sanções muito duras dos países da NATO, em consequência da invasão da Ucrânia, em Fevereiro de 2022. Temos aqui uma segunda causa, muito importante, de inflação. O preço da energia não descerá facilmente para níveis semelhantes aos que vigoravam há apenas três anos atrás. O efeito direto é no consumo das famílias, afetadas pelas faturas bruscamente crescentes do gás, da eletricidade e de gasolina. Porém, muitas atividades económicas são severamente castigadas pelo aumento da componente energética nos seus custos de produção: A maior parte das empresas fica no dilema de aumentar os preços dos seus produtos devido ao aumento da fatura energética, ou de manter os preços para não perder clientes e ficar afetada no seu rendimento, podendo mesmo ter de decretar falência.

Uma subida das taxas de juro vai encarecer o crédito e logo, em muitos casos, vai «arrefecer» a procura. Por exemplo, juros mais altos = menos crédito à habitação = menos compradores de casas. Mas, tais subidas de taxas de juros funcionam para situações em que haja maior disponibilidade das empresas e dos particulares para consumirem mais. Ou seja, a subida da taxa de juros, só tem efeito se e somente se houver um excesso de capital disponível no sistema. Não se trata disso, no caso atual, mas da escassez ao nível da produção, da oferta de produtos. Logo, os «remédios» que os bancos centrais - a pedido dos governos - aplicam, são totalmente ineficazes para minorar a crise. Pior: são prejudiciais, pois limitam o crédito à produção das empresas, quando justamente, era preciso aumentar tal produção. As medidas levadas a cabo pelos governos e bancos centrais ocidentais não servem, porque é a capacidade produção em variados setores que está a ser afetada. As economias ocidentais sofreram uma retração - brutal nalguns casos - da oferta: A única política económica eficaz passará por criar condições materiais, concretas, para acabarem os estrangulamentos artificiais da produção. 

Um levantamento das sanções absurdas contra a Rússia impõe-se. Aliás, estas sanções são causadoras do maior dano aos próprios países que as decretaram. A Rússia tem-se mostrado capaz de lhes fazer frente. Tem mostrado possuir uma economia muito mais resiliente do que os políticos do ocidente julgavam. Sobretudo, não sofreu de isolamento ao nível internacional, como aqueles esperavam. Tem alargado as relações a todos os níveis com a China, a Índia e os países da Ásia do Sul e do Médio Oriente.

Há quem pense que a política monetária e financeira seguida no Ocidente está a precipitar os países  para o colapso. Porém, será um colapso desejado, procurado, pois vem tornar possível, aquilo que em circunstâncias «normais» não o era. Refiro-me à digitalização a 100%, ou seja, os únicos instrumentos monetários legais seriam as divisas digitais emitidas pelos bancos centrais. A economia seria mais controlável pelos governantes,  mas isso não implica melhorias para as pessoas comuns, antes pelo contrário. Mas, tal como na saga da pandemia de COVID, uma psicose de medo pânico pode levar as pessoas a fugirem para «soluções» que vão ao contrário da sua autonomia. As pessoas trocam, com demasiada facilidade, as parcas liberdades de que AINDA gozam, pela segurança (FALSA) que lhes promete um Estado todo poderoso, em união com as grandes corporações**. 

A definição do fascismo - segundo o próprio Mussolini - está a ser realizada, agora, em frente dos nossos olhos, pela plutocracia e  governos «ocidentais»: A união do Estado com as corporações.

 


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(*) sabemos que as poucas nações (como a Suécia, mas não é caso único) que não entraram numa política mais estrita de confinamentos, tiveram taxas de morbilidade e de mortandade causadas pelo vírus Sars-Cov-2, da mesma ordem de grandeza e não superiores, às que fizeram confinamentos estritos.

(**) pense-se nos setores de AI, robótica, comunicação massificada, redes sociais cujos proprietários são magnates, redes de distribuição mundiais, etc. 


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Para saber mais sobre o assunto, consultar:

https://www.goldmoney.com/research/winter-in-central-europe-and-for-the-dollar

https://goldswitzerland.com/in-the-end-the-goes-to-zero-and-the-us-defaults/

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/11/crise-sistemica.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/09/colapso-progrmado.html


quinta-feira, 3 de novembro de 2022

CRISE SISTÉMICA


Os grandes banqueiros estão muito à frente da maioria de nós nas jogadas dos mercados, porque estão a jogar no «tabuleiro principal», enquanto nós apenas temos uma ideia - a posteriori - do que se passa no jogo. Sim, em tempos «normais», eles, banqueiros têm o tempo do seu lado. Têm na mão as rédeas de empréstimo do dinheiro, sempre com base em garantias ou colateral, que está bem seguro. Assim, as desgraças de uns são as oportunidades de outros. 

Só que a subida rápida das taxas de juro de referência dos principais bancos centrais traz consigo a subida correlativa de todo o tipo de obrigações no mercado, as quais constituem grande parte do colateral de vários negócios. A subida do juro duma obrigação, equivale a esta valer menos em absoluto; o valor duma obrigação desloca-se no sentido inverso do juro associado a ela. 

Igualmente, os maiores bancos têm elevada exposição à enorme quantidade de derivados chamados OTC («over the counter»). São os bancos que detém, normalmente, uma das partes do contrato, ou são os seus garantes. Ora, a maioria dos derivados está correlacionada com taxas de juros. Se as taxas se tornam repentinamente diferentes do que está previsto nos contratos, os seus detentores podem acionar cláusulas de salvaguarda. Aí, a outra parte, ou os que se ofereceram como garantes, estão na obrigação de «resolver» estes contratos. A crise recente, que obrigou à intervenção de urgência do Banco Central no Reino Unido, distribuindo biliões de libras aos fundos de pensões britânicos, para estes não se afundarem,  foi devida a estes se terem lançado nos negócios perigosos com derivados, para assegurar os pagamentos das pensões aos seus pensionistas. O risco deste mercado global de derivados é incalculável. Estima-se que estão investidos mais de 2 quadriliões de dólares, ao nível global, em derivados. 

Para a banca, um negócio que foi durante muitos anos seguro, o dos empréstimos sobre hipotecas para compra de residência, foi agora afetado pelas subidas das taxas LIBOR que, por sua vez, determinam o montante dos juros das hipotecas. Isto, além da quebra do mercado do imobiliário, traduz-se em situações de não-pagamento e em renovadas ondas de despejos. Pense-se nos numerosos dramas de famílias despejadas por alturas de 2008. 

A destruição massiva de riqueza, seja ela devida à inflação, bem acima dos 10% dos números «oficiais», seja por haver uma onda de falências e desemprego, vai fazer com que a crise de 2008 se assemelhe a «um passeio no parque». 

Muitas pessoas, com mais credenciais do que eu, avisaram sobre o desfecho que as coisas iriam tomar, pouco tempo após a crise de 2008. O rumo observado desde então, foi o resultado da determinação dos governos e bancos centrais em pouparem os privilegiados com as sucessivas ondas de «QE», ou seja, de impressão monetária. O resultado, previsível, é a espiral de inflação que já está fora de controlo das autoridades financeiras e monetárias. As consequências serão muito mais graves do que na crise de 2008, porque nenhum banco central ocidental, nem sequer todos eles juntos, têm «a varinha de condão» que lhes permita afastar o mal que eles próprios causaram.

Desde 2017 que, sem sensacionalismos, pude fazer o diagnóstico das disfunções deste sistema e do seu provável desfecho. Fui buscar a informação aos mais sérios analistas dos mercados, a economistas que não são do «mainstream», na sua maioria, e analisei criticamente todas as informações que me chegavam. Globalmente, não errei nos meus diagnósticos. As decisões que  tomei, em boa altura (o timing é sempre muito importante!), foram as mais apropriadas e permitem-me que enfrente com serenidade o «Grande Tsunami». 

Verifico porém que, nos últimos tempos, muito do que se pode ler ou ouvir, tem o objetivo de precipitar as pessoas na ilusão de que «agora há grandes oportunidades de investimento», quando - afinal - tudo está a desmoronar-se. De facto, os que fazem estas sugestões são irresponsáveis, pois, neste momento, qualquer investimento, seja em que área for, deve ser visto com imenso cuidado. 

Penso que a atitude correta é a de preservar o que já se tem, sem ter a veleidade de fazer apostas, sejam elas «prudentes» ou «arriscadas»: Imagine-se uma situação, em que tem de se defender com um número restrito de balas da sua arma: - Vai desperdiçar balas, disparando contra qualquer sombra que julgue ser a do inimigo? - Ou vai poupar as balas, para quando houver maior probabilidade de acertar no alvo?  

O bom senso fundamental deveria ditar-nos o seguinte comportamento: Do momento, manter uma certa capacidade de investimento, quando se está no início de uma gravíssima crise, de que não sabemos ao certo a duração, para que, depois no final desta, possamos investir com segurança e garantirmos um retorno positivo do investimento.

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PS1: Leia o brilhante e profundo artigo de Mike Whitney, AQUI: Ele fornece o contexto geopolítico, que eu não abordei no meu artigo acima. Noutros artigos, tenho analisado os problemas enunciados por Mike Whitney.

PS2: Lynette Zang explica tudo! Dos derivados, ao "Shadow Banking", da crise de 2008 à crise atual...



PS3: Como referi, a Arábia Saudita está a virar completamente de aliança, hoje encontro entre Xi Jin Pin e MbS.


PS4: A grande bolha de tudo, está rebentando. Porém, os gestores dos fundos especulativos, para fazer durar a «festa» da especulação um pouco mais, decidiram lançar a narrativa de que a FED iria mudar brevemente de orientação, só que isto não tem qualquer base real. Verifica-se mais uma vez que, para os que estão por fora, a bolha irá rebentar-lhes na cara, enquanto os que estão por dentro, irão retirar discretamente as «castanhas do lume»!

sábado, 8 de outubro de 2022

A CRISE FINANCEIRA MUNDIAL JÁ COMEÇOU

Matthew Piepenburg e Egon von Greyerz 



A indiferença com que muitas pessoas , aparentemente, reagem a esta situação inédita nas suas vidas, deixa-me de boca aberta.  
- O que induzirá esta atitude, quando a crise já está a bater em pleno? 
- Tenho notado que na media «mainstream» quando analistas hipócritas falam da crise financeira, descrevem-na como algo no "futuro", como uma probabilidade. Assim, muitas pessoas vão perpetuando  seus comportamentos de antes da crise. Outras, que se julgam muito espertas, aproveitam-se da descida das bolsas, para investirem suas poupanças no casino globalista. Quanto aos falsos analistas, estes não deixam de «fazer o frete» aos seus patrões, aos que provocaram e tiram partido do colapso. O que eles, os globalistas, chamam uma oportunidade, para nós é uma descida aos infernos.  
Oiçam o diálogo acima e tirem as vossas conclusões.

 

quinta-feira, 14 de julho de 2022

A INJUSTIÇA DA TAXA CARBONO



 Lembram-se das medidas a favor do ambiente, de luta contra o aquecimento climático, produzidas e reiteradas nas sucessivas COP

Eu aposto que, no concreto, quase ninguém se lembra doutras «medidas urgentes», além das famosas taxas carbono, como se fossem a salvação da humanidade. Em boa hora, avisei os bem intencionados ecologistas de que esta taxa carbono era apenas um esquema perverso dos grandes empórios financeiros, os bancos «sistémicos» e dos governos ao seu serviço, para se capitalizarem, à nossa custa. Impostos carbono, geridos por bancos «sistémicos», capitais disponíveis para distribuir em projetos de «energias verdes» (verdes como as notas de dólar, entenda-se), entre amigos. Isto tudo, sobre o dorso dos pobres.

Desde logo se compreendia que as famosas taxas carbono não tinham logicamente a ver com qualquer redução efetiva da emissão de CO2, mas antes com mais outra forma dos muito ricos extraírem renda da sociedade. 

Agora, vem o próprio símbolo e líder da política económica neoliberal, o Banco Mundial afirmar no seu blog que existem razões sensatas e lógicas para os governos não quererem implementar taxas carbono:

“There are good reasons why governments may not want to use carbon taxes, and one of them relates to their welfare impacts. For example, a carbon tax on fossil fuels is often regressive in its impact- hurting poorer people relatively more than richer ones. Even when it might be progressive, poorer people still suffer a welfare loss when prices rise, making their consumption basket more expensive.”
(Tradução: existem boas razões pelas quais os governos podem não querer implementar as taxas carbono e uma delas relaciona-se com os impactos sociais. Uma taxa carbono sobre combustíveis fósseis é frequentemente regressiva, no seu impacto - atingindo mais os pobres, em termos relativos, que os ricos. Mesmo quando ela seja progressiva, as pessoas mais pobres irão sofrer maior perda de poder aquisitivo, quando os preços  sobem, tornando o seu cabaz de compras mais caro.)
Notável, não é ?
 ... Como passado cerca duma década e meia, o Banco Mundial chega, agora, às mesmas conclusões a que tinham chegado os verdadeiros militantes ecológicos, que nos tinham publicamente alertado. 
Vamos acabar com as paródias de «luta» climática, como as encenações obscenas de «Extinction Rebellion», de Greta Thunberg e doutras formas de desviar pessoas da verdadeira luta. Vamos olhar a realidade em frente e compreender o que se está a passar. Todos temos a capacidade de o fazer, se nos distanciarmos das máquinas de propaganda, chamadas órgãos de «informação», incluindo tudo o que passa por «defender» o ambiente, mas «omitindo» o principal e mais grave poluidor e destruidor dos recursos:- O capitalismo, a plutocracia riquíssima, que quer sempre mais, seja por que meio for.


domingo, 3 de julho de 2022

sexta-feira, 3 de junho de 2022

O PIOR SINAL: «FOGOS-DE-ARTIFÍCIO» DAS AÇÕES NAS BOLSAS

                
                    Figura: um sem-abrigo, algures, numa urbe afluente.


Como muito bem diz Alasdair Mcleod, um surto inflacionário é sempre um fenómeno monetário. Ou seja, não são os preços que aumentam, na realidade, mas o poder aquisitivo do dinheiro que desce.

Esta distinção pode parecer especiosa, mas na verdade não o é. Porque os monetaristas e os keynesianos apresentam sempre o problema como de uma falta de oferta e/ou excesso de procura, nomeadamente dos bens correntes, o que não é quase nunca o caso, aliás. Ou, pelo menos, não é este o motor principal da crise inflacionária. O principal é sempre a falta de confiança nos ativos financeiros, a começar pela própria divisa (dinheiro «cash»), assim como nos instrumentos financeiros, contabilizados nessa (s) divisa(s).
Por que razão se experimenta (como agora) uma subida espetacular nas bolsas, ou em ativos não-financeiros, durante um processo inflacionário?
- Porque, o que se compra, na aquisição de ações, é não-financeiro, na verdade: é uma fatia de propriedade duma empresa. Se esta empresa tem viabilidade e dá lucro, o detentor das ações irá receber dividendos.
- Quando a economia entra em descalabro, em crises inflacionárias, como, por exemplo, na Alemanha em 1920-23, o que acontece? As pessoas com poder de compra e visão a longo prazo, investiram em ações das empresas que estavam muito sub-cotadas, nessa altura, e ficaram ricas. Outras, compraram quarteirões inteiros de prédios, nas zonas centrais das cidades, e também ficaram ricas.
- O Zimbabwé e a Venezuela são outros exemplos de países cujas divisas foram destruídas pela inflação. Numa fase da crise, muitos pequenos investidores  compravam ações nas bolsas respetivas desses países, pois era a única forma de se verem livres de Bolivares ou de Dólares do Zimbabwe, que - a cada dia que passava - perdiam valor.
Eles esperavam que algumas das empresas cotadas em bolsa resistissem e se valorizassem. Talvez assim pudessem recuperar parte dos investimentos feitos. Por isso, assistia-se à subida espetacular nas bolsas de Caracas ou de Harare, com ganhos muito maiores que nas bolsas dos grandes centros financeiros.
Em muitas outras ocasiões históricas, tanto nas bolsas de valores, como no imobiliário, a crise inflacionária tem sido assinalada por subidas exponenciais de certos ativos. É o que os economistas da Escola Austríaca (Von Mises, Hayek...) designaram de «crack-up boom».
Num contexto de instabilidade e de inflação crescente, os alimentos e matérias-primas industriais (metais industriais como o ferro, o cobre, o alumínio, etc.) aumentam brutalmente de preço. O mais notório é o petróleo, condicionando a subida dos restantes produtos. Os combustíveis são indispensáveis, não só para os transportes, como para processos industriais, aquecimento, fabrico de adubos, de plásticos, etc. Praticamente tudo, na nossa civilização, depende dos combustíveis fósseis. Mas, na verdade, quando o preço dos combustíveis aumenta, é o poder aquisitivo do dólar ou das outras divisas, que está a ser erodido.
A confiança da sociedade nas divisas, que se depreciam em relação às mercadorias, é cada vez mais baixa, na proporção inversa da inflação experimentada. As pessoas começam a querer desfazer-se do dinheiro, enquanto este guarda algum valor, pois sabem que no dia seguinte, apenas terá uma fração do mesmo.
Mas estas crises de confiança não são despoletadas por movimentos irracionais das multidões: Elas apercebem-se, de forma intuitiva - algumas de forma refletida - que o valor do dinheiro vai decrescendo.
O «método garantido» para sabotar o valor do dinheiro, é fazer uma impressão excessiva do mesmo. É coisa que os governos e bancos centrais têm feito em grande escala, principalmente após o colapso de 2008. Decidiram imprimir quantidades astronómicas de unidades monetárias e comprar com elas «papeis sem valor» (invendáveis), mas pelo seu valor «nominal». Estes, estavam na posse dos bancos. Foi assim que fizeram para resgatar os mesmos bancos. Infelizmente, estas operações continuaram durante doze anos, sempre com o pretexto de «salvar a economia». Agora, as economias ocidentais estão de rastos, em consequência das políticas dos bancos centrais e dos governos.
No capitalismo, a falência faz parte das ocorrências possíveis para as empresas: Quando isso ocorre, em geral, trata-se de empresas mal geridas, mal dimensionadas, ou que ficaram para trás na competição.
Se, pelo contrário, as empresas (incluindo os bancos comerciais) são protegidas da falência, então, não importa se cometem erros, se os investimentos são mal dimensionados, ou que haja perda de competitividade. Estas empresas têm sempre a "mão caridosa" do Estado ou do Banco Central, para vir em seu socorro.
Muitas grandes empresas e bancos ditos sistémicos, tornaram-se, de facto, parasitas da economia produtiva. São mastodontes ou «elefantes brancos» que acumulam perdas, nunca gerando lucro e sem capacidade para funcionar normalmente. Seria melhor, para a economia do país, elas fecharem as portas. Outras empresas, mais dinâmicas, com maior potencial, irão preencher as partes de mercado deixadas vagas. É esta a dinâmica do capitalismo «clássico». Digo isto, para sublinhar que aquilo a que assistimos nestes 12 anos, é muito diferente.
O efeito Cantillon explica isso. Trata-se do efeito obtido por alguns intervenientes no mercado, devido ao facto de estarem em «primeira fila» para receberem crédito. Se têm acesso fácil, a um juro baixo, terão vantagem competitiva, em relação aos outros, com maior dificuldade de acesso e que só consigam taxas de juro mais elevadas.
Imaginem uma grande empresa de tecnologia (Apple, Microsoft, etc.) e, em comparação, um pequeno negócio. Este último pode ser gerido com prudência, de forma inteligente, fornecendo produtos ou serviços de real utilidade para os consumidores. De qualquer maneira, terá muito maior dificuldade em obter crédito: Se o conseguir, será com juros bem mais elevados que aquelas grandes empresas. 
Mas, além disso, as grandes empresas, para manter artificialmente suas ações sempre elevadas, utilizam o crédito barato para a auto compra das suas ações. Os dirigentes executivos dessas empresas também ganham, pois obtêm bónus mais generosos, pelo facto das suas empresas «levitarem» nas bolsas. O efeito Cantillon, previsivelmente, vai enriquecer os que já são muito ricos e vai tornar a economia menos competitiva, pois impede que pequenas empresas com potencial consigam «descolar».
Tudo o que os bancos centrais fazem, resume-se a falsear a concorrência, adiando o inevitável. Quanto mais se continuar neste processo, mais o valor remanescente do dinheiro vai ser menor. Haverá uma espiral descendente, que destruirá o valor das divisas, mesmo as que parecem «muito sólidas».
A colocação artificial - em valores ridículos - dos juros de referência (obrigações soberanas, a juro negativo!) e a impressão monetária «non stop» em quantidades absurdas, pelos Bancos Centrais, não são apenas uma «arma apontada» às empresas produtivas: São uma arma apontada à cabeça da sociedade no seu todo, porque as dívidas que se acumulam, são, em grande parte, dívidas dos Estados, dívidas que são, já hoje, impossíveis de reduzir.
O mecanismo é simples de compreender: Se a quantidade de juros que os Estados têm de pagar for superior às possibilidades de o fazer, entram em insolvência. Se os mesmos juros fossem deixados variar de acordo com o mercado, atingiriam valores da ordem de 5 a 6 % ou mais. Devido às somas que seria necessário incluir nos orçamentos, estas taxas são incomportáveis para os Estados.
Na realidade, as «curas de austeridade», «congelando» ordenados de funcionários e pensões, quando a inflação é de dois dígitos, é o equivalente a faltar às suas obrigações. O valor nominal pago pelo Estado mantém-se, mas o valor aquisitivo do ordenado ou da pensão, desce a um ritmo brutal.
Os que detêm «dívida soberana» ou obrigações estatais, são as instituições financeiras, os bancos nacionais e estrangeiros. Estes vão receber, durante algum tempo, os juros respectivos. Estas instituições capitalistas são muito menos penalizadas que os assalariados: Poderão ter alguma dificuldade em vender as obrigações nos mercados. Mas os Estados, vão fazer os possíveis para continuar a «honrar» as suas dívidas, quando os seus detentores são capitalistas ou instituições. Têm muito menos preocupação em «honrar» as dívidas ou compromissos assumidos em relação aos cidadãos comuns. São sempre estes que pagam as crises.
Os dirigentes políticos sabem que esta dívida nunca será paga. Eles fingem que não o sabem e continuam a pedir (e obter) empréstimos. Deste modo, levam os seus países à bancarrota. São os causadores das maiores misérias aos seus próprios povos. A revolta e a revolução, são eles que as provocam, afinal!

terça-feira, 17 de maio de 2022

DINHEIRO DIGITAL, INFLAÇÃO E OS MITOS ECONÓMICOS DO PRESENTE





Segundo Alasdair Mcleod, não existe nada mais difícil de explicar em economia, do que a subida dos preços. Vale a pena ler o seu artigo. Não irei repeti-lo ou resumi-lo, neste apontamento.

Apenas quero manifestar o meu estranhamento pela forma despreocupada como muitos cidadãos estão olhando para a presente vaga de inflação. 
Todos deveriam saber (mas não sabem) que a inflação é - em última análise - um fenómeno monetário. Ou seja, está correlacionada com a quantidade «excessiva» de moeda (papel/digital) em circulação dentro de um país e no mercado internacional. Essa massa monetária «anda à procura» de se investir em bens de consumo ou em ativos financeiros. A parte entesourada pode aumentar também (o dinheiro líquido, ou «cash») mas, este efeito não acontece em grande escala, no contexto atual. 
As pessoas são fortemente empurradas para investirem suas poupanças, quer em ações ou obrigações, quer em índices ETFs, como se estes ativos financeiros tivessem a propriedade «mágica» de superar crises e de serem capazes de conservar o seu valor, quando tudo estiver a ruir à sua volta. Não conseguem. 
O que acontece, é retornarem ao seu valor intrínseco, ou próximo dele: o valor do papel-moeda, nesta situação é zero, ou próximo de zero. Assim é com todos os ativos avaliados em termos de moedas «fiat».

 A única possibilidade de escapar ao efeito triturador da inflação sobre os ativos, é convertê-los em bens cuja existência seja independente dos acasos da finança especulativa: os terrenos, o imobiliário, os metais preciosos, os objetos de arte e coleção. 
Todos os outros estão sujeitos a que seu valor se reduza a zero. De que serve ser-se «trilionário» em dólares do Zimbabwé, se isto significa ter a capacidade aquisitiva para comprar três ovos de galinha?

A mudança em curso é desejada pelos bancos centrais. Não pensem que eles estão a fazer as coisas pelo melhor, mas que são «desastrados» ou «estúpidos» e sai-lhes tudo ao contrário! 
- Não, quem pensa assim é que está a ser estúpido! 
- Se analisarmos informação pública vinda do BIS (Banco Central dos Bancos Centrais), dos Bancos centrais principais (FED, BCE, Bank of England, PBC, etc.) e de governos, vemos claramente que estão numa corrida para DESTRUIR O VALOR DAS SUAS RESPECTIVAS DIVISAS. Isto parece absurdo, à primeira vista. Mas o contexto é tudo; é que se acumulou dívida, toda a espécie de dívida - pública, privada, corporativa, soberana, etc.
Estão desesperados por encontrar uma saída para esta dívida monstruosa, que já começa seriamente a afetar os seus negócios e portanto a sua taxa de acumulação. Encontraram a digitalização do dinheiro a 100 %, como fórmula mágica, que irá fazer «desaparecer» o problema. Na teoria, essa dívida nunca desaparece; mas na prática sim, porque quem não tiver capacidade para pressionar o sistema judicial e político, para reaver o que lhe devem, ficará espoliado, na prática. 

Por isso, fazem tudo para tornarem inadiável, impossível de evitar, a tal introdução das DIVISAS DIGITAIS EMITIDAS PELOS BANCOS CENTRAIS. Esta é a razão pela qual a oligarquia está freneticamente comprando terrenos, casas, bens diversos e ouro, muito ouro; porque ela sabe perfeitamente o risco de manter o grosso da sua fortuna em papéis sujeitos a especulação. 
Sabe perfeitamente que apenas se deve atribuir pequena fração dos ativos a investimentos muito arriscados. Nestes, também se inclui o bitcoin e todas as criptomoedas emitidas fora do controlo dos Estados. 
Isto porque, no momento que os governos e bancos centrais decidirem (de repente), esse instrumento deixará de possuir qualquer valor: basta que seja interdito ser transacionado por «moeda digital estatal», entretanto instaurada pelos Estados e Bancos Centrais. 
Neste momento, o detentor de criptomoedas «livres» pode usar essas, apenas e somente, como quando usa «notas de banco do Monopoly» só possuindo valor dentro desse jogo.

Neste momento,  já alguns compreenderam o jogo, fazem tudo para empurrar as pessoas da classe média empobrecida para o precipício das bolsas, dos índices, os hedge funds, das criptomoedas
Eles sabem que estão a arrastar as pessoas honestas e crédulas para algo muito mau, mas eles não fazem isso por maldade pura e gratuita. 
Fazem-no porque é a maneira deles próprios se «desencravarem», de vender tais ativos, que estão na «estratosfera» agora e ainda irão mais alto, isto é, até desaparecerem como fumo. 
Perguntem sempre a vocês próprios se alguém tem, ou não, interesse próprio («skin in the game» Nassim Taleb) ao fazer uma determinada projeção, ao sugerir esta ou aquela estratégia.



O meu interesse é simplesmente avisar os meus concidadãos. Sei que a crise será profunda, duradoura e destruidora. Talvez algumas pessoas amigas, conhecidas ou desconhecidas, me leiam e compreendam que eu não tenho motivação de lucro pessoal, para dizer o que estou a dizer. Tão pouco tenho motivação ideológica deste tipo. 
Apenas sei que quanto mais miséria, violência, destruição houver no mundo e - também - à minha roda, mais miserável vai ser a minha vida e a vida dos que eu amo.

Voltando ao artigo de A. Mcleod, penso que o título é irónico, pois a dificuldade de compreender a questão da inflação, é nula. A questão é que os interesses colocam todo um jogo de espelhos e de nevoeiro, para tornar incompreensível a questão da inflação ao «não-iniciado». Com efeito, é com a ignorância alheia que os trapaceiros conseguem manter seus «esquemas de Ponzi» a funcionar, é assim que continuam a enriquecer à custa da falência alheia.

segunda-feira, 11 de abril de 2022

A INFLAÇÃO VAI DEVORAR A CLASSE MÉDIA





A classe média europeia, da Europa ocidental sobretudo, habituou-se a viver num certo desafogo, a gastar uma fração dos seus rendimentos em consumo não essencial, ou sumptuário, etc. Ora, no contexto atual e com perspetiva de se perpetuar por longos anos, entra-se numa fase de contração, de recessão e estagnação, mas com inflação elevada, embora, talvez nunca se chegue a deslizar para o patamar da hiperinflação. Mas como se chegou a este ponto?

Antes de mais, há uma coincidência bastante rara de escassez na oferta e dum excesso de liquidez. Ou seja, a crise despoletada em Setembro de 2019 (portanto erroneamente atribuída ao «COVID») e os episódios subsequentes, em 2020/2o21 incluindo os lockdowns ou confinamentos, induziram em todo o Mundo, mas sobretudo nos países produtores e exportadores, como a China, uma escassez, quer dos bens acabados, quer de componentes (como os microchips): Isto foi-se repercutir nas cadeias de abastecimento de todo o Ocidente.

Quanto ao excesso de liquidez, ele resulta da política de impressão monetária, cujos protagonistas são governos e bancos centrais ocidentais. Seria fastidioso retraçar para os leitores os episódios chamados de QE (Quantitive Easing), designação eufemística para aquilo que é, de facto, impressão monetária. Limito-me a dizer - aqui - que a diluição do valor das unidades monetárias foi o causador principal do despoletar da inflação. Foi esta tal política deliberada de criação monetária pelos bancos centrais ocidentais, a que tem sido seguida desde a crise de 2008.

A guerra entre a Rússia e a Ucrânia e as sanções (guerra económica) impostas à Rússia pelo Ocidente, tiveram um efeito muito menos grave na economia russa, do que os poderes ocidentais esperavam. Mas, tiveram um efeito «boomerang» gravíssimo, sobretudo na economia dos países da U.E. Estes, que já estavam a recuperar dos dois anos de lockdown e de restrições de toda a ordem, com pretexto do COVID, viram-se (devido às decisões intempestivas dos seus governos) numa situação catastrófica. Desde a restrição severa de energia, de adubos, ao trigo de importação, a Europa ocidental está mergulhada num ciclo de escassez, numa espiral de subida de preços, de quebra de cadeias de abastecimento que afetam, não só consumos correntes da população, mas a própria capacidade produtiva das empresas. As roturas nas cadeias de abastecimento são apenas um aspeto da questão, pois existe em simultâneo, um brutal aumento de preços de matérias-primas industriais e agrícolas. Está-se, portanto, num ponto de extrema vulnerabilidade, em variadas vertentes da economia da Europa ocidental. Infelizmente, a perspetiva de que a guerra se venha a resolver e que se volte ao «normal», é completamente irrealista, no curto prazo. Vamos ter um cenário de prolongada guerra económica.

Ao CONTRÁRIO da Rússia e da China, que tomaram diversas medidas de precaução ANTES do rebentamento desta crise, a Europa da NATO comportou-se, durante este tempo todo, como se tivesse «o mundo a seus pés», como se fosse o centro de um vasto império colonial, abastecido em toda a espécie de produtos de que precisasse.

Nada foi feito, apesar de ter sido ela a tomar a iniciativa da onda de sanções que já estavam planeadas, mesmo antes da invasão da Ucrânia, a um dos seus parceiros comerciais mais importantes, a Rússia, tanto do ponto de vista da energia (carvão, petróleo, e gás natural), como dos cereais (1/4 das exportações de cereais mundiais são russas) e das matérias-primas estratégicas, de que a Rússia é grande exportadora mundial.

Coloco duas hipóteses para explicação desta política, aparentemente suicidária:

- ou os governantes são completamente estúpidos e incompetentes,

- ou então, este processo é intencional. Neste caso, teríamos uma tentativa de causar o caos, para poder melhor impor a Nova Ordem Mundial, com menor resistência social, face a um cenário de catástrofe.

Seria o VELHO PROCESSO DE «PROBLEMA-CHOQUE-SOLUÇÃO»: O problema, neste caso, é como levar cabo o «Great Reset». Haverá uma solução «necessária», a que convém às «elites». E, graças ao efeito de choque, ao colapso das economias e do caos decorrente, os potenciais opositores não estarão em condições de fazer uma resistência eficaz. Note-se que, neste cenário, é conveniente para as elites que o público acredite tratar-se da conjunção de fatores infelizes, completamente imprevisíveis e alheios à vontade dos dirigentes.
No contexto da dívida astronómica, que ocorre dum e outro lado do Atlântico (nos EUA e na UE) há duas soluções teóricas possíveis:
- Ou os governos põem um freio às despesas orçamentais crescentes e um freio à impressão monetária. Isso significa austeridade e colapso da bolsa. Esta hipótese, sendo impopular, é quase certo que os governos irão evitá-la.
A outra possibilidade, é ir imprimindo mais e mais divisas, aparentemente saldando as contas do Estado, mas socavando o valor das divisas, pelo que a inflação é despoletada e acelerada, até as divisas ficarem como papel sem valor, como no Zimbabué ou na Venezuela. Infelizmente, é quase certo que os governos vão optar por isso. Esta opção implica um empobrecimento geral. A economia entrará em colapso. 

domingo, 14 de novembro de 2021

BRINCANDO COM O FOGO, ou como se liberta o génio mau da inflação

 É da natureza dos bancos centrais, em especial da FED, estarem sempre numa posição inadequada, contra-cíclica, em relação à economia. Por exemplo, agora estão com um atraso de muitos meses a tentar a viragem na política de «dinheiro fácil» através de «tapering», que é a desaceleração da impressão monetária, mas não a supressão da mesma. Esta impressão monetária não resolve nenhum problema real, verdadeiro da economia. Com efeito, o aumento da massa monetária total, ou em circulação, vai estimular a perceção dos intervenientes nos mercados, de que há maior riqueza, maior disponibilidade para gastar. Mas não se produziram mais bens nem serviços, não houve acréscimo de autêntica riqueza. É um mecanismo essencialmente psicológico, como, aliás, são de base psicológica muitas das movimentações que ocorrem nas economias. 

A razão pela qual os bancos centrais, em especial os «ocidentais», fazem sistemáticos erros de avaliação da situação económica mundial, é que funcionam com modelos lineares. Baseiam-se nestes modelos e numa visão teórica neokeynesiana. Assim projetam eles as tendências e baseiam o fundamental das suas decisões. O problema com isto, é que tais projeções não colam com a realidade. Se a economia fosse uma verdadeira ciência (não é!), estaria sempre a reavaliar a validade de seus modelos, de suas projeções, incluindo os fundamentos e pressupostos sobre os quais se construíram tais modelos e projeções. 

A realidade é outra: A FED e todos os bancos centrais ocidentais, que lhes seguem as passadas, vão dar sempre prioridade aos conceitos teóricos, sobre a realidade dos factos no terreno. Em todas as crises, especialmente as mais graves,  pode-se notar esse desfasamento. Isso significa que os bancos centrais, em vez de criarem condições para o retorno à normalidade, suas intervenções têm o efeito oposto, o de aumentar a amplitude dos ciclos económicos. 

A recente afirmação de Jerome Powell, de que o surto de inflação era transitório e que, portanto, não haveria nada de fundamental a mudar no rumo decidido pela FED, ilustra claramente a inadequação da política da FED, a qual só pode ter por base uma inadequada visão da realidade, ela própria devida a modelos não apropriados, baseados em teorias parciais, ou defeituosas no fundamental. 

Veja como Mohamed El Erian, numa curta entrevista AQUI, destrói a narrativa emanada da FED e do seu presidente, ao dizer que esta crise foi logo caracterizada por inflação devida a escassez da oferta. Referia as disrupções dos mercados de matérias-primas, bens acabados e, mesmo, de mão-de-obra, resultantes da crise estrutural e de conjuntura - os lockdown a pretexto do COVID - que a exacerbou. Os elementos que El Erian refere estavam patentes, não eram elementos ocultos que somente podiam ser detetados após muitos meses. 

Porém, o que a FED e outros bancos centrais fizeram, com a sua impressão monetária levada ao extremo, foi exacerbar o problema, criando um efeito inflacionário do lado da procura, além e por cima do existente, devido à escassez na oferta. 

A inundação de liquidez nos mercados não veio salvar coisa nenhuma na economia produtiva. Veio apenas insuflar ainda mais as já muito grandes bolhas nas bolsas e em todos os ativos. 

Além disso, houve um súbito aumento de dinheiro disponível, na economia do dia-a-dia, com o dinheiro distribuído às pessoas para compensar as paragens de trabalho forçadas («helicopter-money»). Foi uma medida tornada necessária pelos lockdown, mas os lockdown não eram necessários! 


Assim se destapou a lâmpada de Aladino e deixou-se o génio malévolo da inflação surgir e crescer, com o risco de tudo devorar na onda hiperinflacionária.

A conclusão a que chego é que os bancos centrais são estruturas de poder que se têm pautado por uma política claramente favorável aos muito ricos, os multibilionários, embora tenham o discurso de cuidar da economia para o bem do maior número. 

Isto não pode surpreender alguém convicto da natureza depredadora, parasitária do capitalismo de hoje, com as enormes disparidades de riqueza, logo de poder. 

O diálogo AQUI entre Slavoj Zizek e Yanis Varoufakis demonstra-o: Não há capitalismo, no sentido clássico. Há um domínio dos muito poderosos donos de plataformas (Facebook, Amazon, Google, etc.) que possuem literalmente o campo todo, o chamado «mercado». Este deixou de ser propriamente um mercado, no sentido clássico do termo. Por isso, Varoufakis utiliza a expressão «tecno-feudalismo», outros usam outras expressões, mas vem a dar no mesmo: A realidade é que estamos numa nova era, onde nada é favorável aos pequenos capitalistas e aos trabalhadores, onde tudo está nas mãos de corporações gigantes, monopólios ou oligopólios, que tudo controlam.


quinta-feira, 14 de outubro de 2021

MÚLTIPLAS CAUSAS PARA UM EFEITO


NOTA PRÉVIA: Não sou adepto de indústria e transportes baseados em combustíveis fósseis. Estes combustíveis são responsáveis por imensos danos ambientais, a começar pelos locais de onde são extraídos e a acabar nos pulmões dos citadinos, que povoam as cidades, fortemente dependentes destes combustíveis e cujo ar é de fraca qualidade.

1- Porém, a escassez de combustíveis fósseis desde o carvão, com particular incidência na China*, até ao petróleo e a gasolina utilizados para aquecimento, transportes individuais e, sobretudo, para transportes de mercadorias, passando pelo gás natural, cuja escassezafeta gravemente a rentabilidade de muitas empresas, especialmente na Alemanha, está correlacionada com os lockdowns longos, que causaram interrupções na extração dos referidos combustíveis e uma paragem nos esforços de prospeção. Pontualmente, houve o absurdo preço negativo dos contratos de futuros de barris de petróleo, consequência de um excesso momentâneo da oferta de petróleo no mercado mundial, na primavera do ano passado. Mas, aquando do retomar das atividades económicas diversas, o consumo de energia, em particular da energia elétrica, disparou. Os preços também dispararam, pois a produção tinha ficado parcialmente emperrada ou, pelo menos, incapaz de fazer face a tais oscilações do consumo, nada normais ou habituais. 

2- A frenética campanha do «tudo elétrico» (carros movidos a baterias elétricas que, por sinal, têm uma pegada ecológica superior aos carros movidos a gasolina), pode enriquecer Elon Musk e dar uma certa euforia aos acionistas da Tesla mas, no cômputo geral, a caminhada para uma energia «renovável», capaz de se bastar a si própria e proporcionar uma satisfação das necessidades de consumo dos cidadãos e das indústrias, está longe de ter chegado ao momento, não de fruição, mas somente de se ver, por fim, a luz ao fundo do túnel. 

Com efeito, os planos absolutamente voluntaristas dos dirigentes mundiais e suas promessas de eliminação de emissões de CO2, oriundas dos combustíveis fósseis, são apenas promessas, feitas para mostrar empenho aos verdes eleitores ("verdes", no sentido de imaturos). Na realidade, precisamos de todas as formas de obtenção de energia, conquanto as possamos gradualmente sujeitar à substituição faseada e não brusca, conquanto tenhamos em conta que também a energia nuclear, por mais riscos potenciais que se lhe possam atribuir, tem que fazer parte da equação, se quisermos manter os confortos a que nos habituámos, no Ocidente.

Com efeito, os ecologistas políticos, com um coração grande (talvez), mas com pouco discernimento, têm feito um grande barulho em torno do «efeito de estufa», supostamente causado pelas emissões humanas**. Têm pressionado os governos para tomar medidas drásticas. Estes, por sua vez, ficam encantados pela oportunidade para mais regulações e impostos, com aceitação, ou mesmo, aprovação dos eleitores. 

3- Obviamente, a escassez leva ao encarecimento dos produtos, sejam matérias-primas industriais, cuja extração supõe consumo importante de energia, seja de bens alimentares, também fortemente dependentes de energia, sobretudo nos países exportadores e nas estufas (vejam o caso paradigmático das estufas holandesas). Um aumento nos preços finais teria de se verificar. 

Deu-se a conjugação seguinte para uma «tempestade perfeita»: a) Desorganização no ponto de origem - fabrico, extração ou cultivo. b) Desorganização do transporte (ex: transportes marítimos num caos nos portos da China, transportes rodoviários com sérias deficiências, em Inglaterra) e, finalmente, c) A renovada apetência de consumo dos cidadãos, depois de prolongadas e artificiais paragens, causadas pelos «lockdowns». 

4- Agora, querem fazer-nos crer que a subida da inflação é transitória. Pois bem; o que eu vejo, é que existem várias causas envolvidas nesta subida dos preços. Muitas pessoas pensam em termos lineares, mas a realidade não é assim; a realidade é formada de causas e efeitos imbrincados, de grande complexidade e com variação no tempo. O mundo é caótico, pela sua própria natureza; o Homem apenas o torna um pouco mais, apenas fabrica situações suplementares, ou acentua as existentes. 

5- Por que motivos os preços continuarão a subir?

- A energia subiu e não vai descer, de modo significativo: O mundo ainda depende, numa enormíssima percentagem, das energias fósseis; estas estão a atingir, ou já atingiram, o famoso «pico de Hubbert». Os preços não podem descer; escasseia a oferta e a procura também não desce, pelo menos, ao nível global.

- Os impostos sobre o consumo, apresentados como «taxas carbono», significam que os cidadãos terão maior carga de impostos. Significa também, que terão menos dinheiro disponível, a rentabilidade das empresas será menor. Tudo isto é antieconómico, irá traduzir-se em escassez, artificialmente causada pela mão pesada do Estado. Isto resume-se à gula dos políticos; sabendo eles que a «moda é o verde», pensaram que isso os beneficiaria eleitoralmente. Também vão carregando a nota das regulamentações, causadoras de maiores custos, repercutidos pelas empresas nos preços ao consumidor. 

- A escassez de mão-de-obra, em certos sectores-chave, só será suprida se houver acréscimo substancial dos salários. Parece-me pouco provável isso acontecer, no curto prazo. O que vai haver é uma estagnação-inflação, que os anglo-saxónicos chamam «stagflation». Será muito dura: os trabalhadores terão falta de trabalho, quando há aumento do custo de vida, quando têm menos entradas de dinheiro para o seu sustento. 

- Finalmente, a contínua impressão monetária, sem fim à vista, apesar de anúncios de «abrandamento», pelos dirigentes da FED. Com efeito, a subida dos juros da dívida pública, sabendo nós que a dívida pública anda em torno de 140 % do PIB, para muitos países do chamado «1º Mundo», vai tornar absolutamente impossível a paragem da impressão monetária, do «quantative easing». No momento em que houvesse tal paragem, a subida brusca dos juros das obrigações estatais levaria os Estados diretamente à falência, por falta de capacidade de pagamento de juros de obrigações, por eles emitidas. Sendo este o cenário que todos querem evitar, a espiral inflacionária vai continuar e acentuar-se, com o risco de se transformar em hiperinflação.


Gráficos com comentários de Charles Hugh Smith

É muito simples, se há triliões que são impressos, em face duma produção de bens materiais constante - no melhor dos casos - haverá maior número de unidades monetárias, para um mesmo número de produtos. O preço destes tem de aumentar, pela própria «lei da oferta e da procura».  

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A situação tornou-se tão dramática, que a China teve de reverter seu embargo de importação de carvão australiano, apesar de estar de candeias às avessas com a Austrália, por esta ter sugerido uma comissão de inquérito internacional às atividades do Instituto de virologia de Wuhan. Esta atitude desencadeou a retaliação por parte da China, banindo a importação, desde a lagosta até ao carvão australianos. 

** Uma realidade não tão nítidapara mim, que me tenho debruçado seriamente sobre o assunto (desde os anos noventa do século passado!)



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PS1 (15-10-2021): Se não tens grande confiança na minha palavra, compreendo, sou apenas um «Zé Ninguém»! Mas - ao menos - tem em consideração o artigo que Jim Rickards acaba de publicar: «The Revenge Of The Fossil Fuels», que vai totalmente ao encontro daquilo que escrevi acima.

PS2 (17-10-2021) - Um artigo que explica as causas da crise de escassez global (com tendência a agravar-se), tanto nas matérias-primas como nos produtos acabados: https://www.rt.com/op-ed/537664-supply-chains-shortage-crisis/